domingo, 7 de março de 2021

El Misionero Crianza Tempranillo 2015

 

Sempre tive dificuldades para encontrar bons vinhos espanhóis. Não sei dizer exatamente o motivo, talvez pelo fato de que eu não tinha conhecimento dos lugares certos, ideais para compra-los ou desconhecia alguns fatores como região, castas autóctones ou coisas que o valham, confesso que o meu interesse por esses quesitos dos vinhos era praticamente nulo. O meu leque aumentou e consequentemente a minha adega com vinhos espanhóis se deram graças a incessante busca, de minha parte, por novas regiões, novas castas, novos pontos de compra. Claro! Era tudo isso que gerava a minha dificuldade para comprar bons rótulos espanhóis com preços mais convidativos e qualidade atestada para o meu humilde palato.

E graças a esse empenho descobri, muito tardiamente, que há uma legislação que regem alguns vinhos, ou melhor, os vinhos espanhóis nas suas mais diversas propostas. E no que tange a proposta, um termo que sempre faço questão de enfatizar, a Espanha delimita esse quesito com honra, com um requinte de detalhe simplesmente incrível! E são vinhos jovens, crianza, reserva, gran reserva, cada um com suas particularidades, seus terroirs na mais pura e evidente essência, regido por uma lei que foi sancionada recentemente, pasmem, no início dos anos 2000. Veja em classificação dos vinhos espanhóis.

E o melhor que essas nomenclaturas são as propostas dos vinhos: amadeirados, complexo nos aromas, no paladar, estruturados, elegantes.... Muitos deles com vocação para guarda, vinhos evoluídos, do jeito que eu gosto, sou um réu confesso dos vinhos evoluídos: penso que tem história para contar, são singulares, diferentes e interessantes. Vinhos espetaculares de um país que é um verdadeiro polo de produção de vinhos.

Hoje, com a cortesia de meu grande e estimado amigo Paulo, meu confrade amigo, teremos um contato imediato com um “crianza”, da casta emblemática da Espanha, Tempranillo, que escreverá uma humilde página em nossa humilde vida de enófilos. O vinho que degustei e gostei veio da região de Castilla La Mancha, um DO, da Espanha, um “crianza” chamado El Misionero, 100% Tempranillo, da safra 2015. Agora o que significa “crianza”? Não se enganem que tenha haver com algo relacionado a “criança”, em uma tradução literal. Então desvendemos.

Crianza

O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos imaginam, a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.

Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.

Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza são vinhos com maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.


Castilla La Mancha

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora o grande momento: Sobre o vinho!

Na taça goza de um intenso vermelho rubi, mas com entornos violáceos e uma grande concentração de lágrimas finas que teimavam em se dissipar das paredes da taça.

No nariz a predominância de frutas negras era latente, tais como ameixa, amora e cereja negra, com notas de tabaco, de couro e estrebaria. Não é tão aromático, mas um vinho perfumado, elegante ao olfato.

Na boca é redondo, equilibrado, seco e elegante. Percebe-se também as notas de especiarias, a percepção de pimentão e baunilha é notável, bem como discretas notas amadeiradas, graças aos 10 meses de passagem por barricas de carvalho e mais 15 meses evoluindo na garrafa antes de ser comercializado, conferindo-lhe taninos domados e uma boa acidez revelando um vinho fresco e vivo, além de uma marcante personalidade. Um final de média persistência e retrogosto frutado.

Estudos, cultura, conhecimento, degustações de vinho, novas experiências sensoriais, o vinho é uma múltipla celebração, celebração em todos os seus aspectos, em tudo que essa poesia líquida pode proporcionar, em todos os seus âmbitos. El Misionero Tempranillo, está no auge, vivo, pleno com seus 6 anos de safra, 6 anos de vida, característico desses grandes vinhos, especiais e singulares. A busca incessante pelos vinhos espanhóis me brindou com esses vinhos ricos em aromas, complexos no paladar e com marcante personalidade. Grandioso! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre as Bodegas Fernando Castro:

As Bodegas Fernando Castro foi fundada em 1850, é a vinícola mais antiga de Castilla La Mancha sob a direção da mesma família. A família Castro começou a produzir vinhos brancos e tintos a partir de uvas das suas próprias vinhas em Santa Cruz de Mudela, utilizando os métodos artesanais e tradicionais inerentes à região. Desde 1895, a Bodegas Fernando Castro está presente nos pontos mais importantes do território nacional, graças ao conhecido “Comboio do Vinho”, e posteriormente através da sua rede de transportes própria, conquistando a confiança dos grandes centros de compras. Com uma situação geográfica imbatível, estando no centro de Espanha e centro nevrálgico da Denominação de Origem Valdepeñas, os seus produtos chegam a qualquer ponto da geografia. Esta localização facilitou a expansão de seu mercado para mais de 70 países. Atualmente, duas gerações da família Castro trabalham em conjunto, contando com o inestimável apoio de profissionais de referência que têm contribuído na vinificação, envelhecimento e comercialização dos nossos vinhos, dispondo para o efeito de instalações modernas, sólidas e funcionais. Bodegas Fernando Castro está localizado no coração da Denominação de Origem Protegida Valdepeñas . Situada no extremo sul do planalto ibérico e claramente delimitada pelas planícies de La Mancha ao norte, os campos de Montiel a leste, os de Calatrava a oeste e a Serra Morena a sul, Santa Cruz de Mudela preserva a cultura patrimônio e as tradições culinárias de La Mancha. Nesta região, existem solos calcários abundantes, franco-arenoso e argiloso vermelho-amarelado. Essas terras de clima continental podem ultrapassar as temperaturas máximas de 40 ° C e as mínimas de -10 ° C, e ainda mais baixas, com uma média anual de 16 ° C. Viticultores de tradição familiar, Bodegas Fernando Castro possui 380 hectares de vinhedos, localizados no entorno da Finca Los Altos, supervisionados pessoalmente pela Família Castro. Os seus vinhos expressam a personalidade de uma região única. Localizados a 705 metros acima do nível do mar, os solos são pobres em matéria orgânica e baixa fertilidade, circunstância ideal para o cultivo da uva. Com mais de 2.500 horas de sol por ano, estas características climáticas potenciam o amadurecimento da uva, resultando numa produção de vinho com maior intensidade de cor, ótima estrutura e poder aromático.

Mais informações acesse:

https://bodegasfernandocastro.es/en/

Referências de pesquisa:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

Blog “VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

 






Um comentário:

  1. Belo vinho meu amigo! Obrigado por me proporcionar esse agradável momento. Parabéns pela escolha do rótulo! Salud!

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