sexta-feira, 25 de junho de 2021

Rosé Day

 

Origem

Na Grécia Antiga, era considerado civilizado diluir o vinho. A crença era que só os bárbaros, bêbados e assassinos bebiam o vinho puro. O rei espartano Cleômene I afirmou que o consumo do vinho puro causou a decadência dele, que foi preso e se suicidou.

As uvas, naquela época, eram colhidas e prensadas juntas, brancas e tintas, e eram pisadas e colocadas em ânforas para a fermentação. Esse processo de ânfora, que fazia com que evaporasse um percentual do líquido por causa da porosidade, os deixava com a característica oxidativa e mais tânicos. Os originais vinhos naturais, eis a receita.

Com a evolução natural da curiosidade e tentativas, pois no mundo do vinho não se para, mas sim se continua criando, separaram as uvas brancas das tintas. Gregos e romanos conhecem os brancos e os tintos, mas, os tintos eram muito tânicos e robustos e a preferência ficou para o rosé. O rosé do momento era apenas tinto diluído em água! E beberam durante séculos.

Os Foceios trouxeram vinhas da Grécia para Marselha e utilizavam o mesmo processo, uvas tintas e brancas misturadas. Os rosés do sul da França, em Provença, ficaram conhecidos em todo o Mediterrâneo. Quando os romanos chegaram, eles já sabiam desta fama e, com suas habilidades comerciais, espalharam pelo resto do Mediterrâneo este vinho muito apreciado no verão, especificamente. Por isso que, ainda hoje, a Provença é considerada o epicentro do vinho rosé.

Na Idade Média circulava um boato que Bordeaux tinha feito um vinho violeta, o famoso clarete. Clarete é uma especialidade de Bordeaux que vem conquistando popularidade. Ele homenageia o vinho que era exportado ao Reino Unido na Idade Média e inspirou o termo inglês claret, usado para descrever o Bordeaux tinto. Como Bordeaux estava sobre o domínio inglês, entre os anos 1152 e 1453, o vinho logo foi exportado pra lá e virou a nova coqueluche. Até meados de 1900, os ingleses e o clarete eram inseparáveis. No século XIX os franceses começaram a viajar para o sul da França e, depois de um belo banho de mar, um dia na praia, tomavam um rosé refrescante, e o local virou símbolo de glamour, prazer e verão. Et voilà!

Curiosidade: O nome claret ainda é amplamente usado na Grã-Bretanha e aplica-se a todos Bordeaux tintos, enquanto clairet passou a ser o nome dos vinhos de estilo rosé dessa região.

Como nasce o vinho rosé?

A carne das uvas é basicamente da mesma cor: um verde claro translúcido. E isso independe de sua espécie, se escuras ou verdes. Porém também sabemos que há vinhos tintos e brancos. E, na enologia, é pecado mortal usar corantes ou qualquer tipo de pigmento estranho às uvas. E então? Por que há essa distinção de cores entre os tintos e brancos? E o que seria, nessa questão, o vinho rosé? A coloração e matização dos tintos dão-se pelo contato do mosto com as cascas da uva. Quanto maior as permanências, mais encorpadas e escuras serão.

Assim, por essa lógica, o vinho rosé tem um contato curto com as cascas. Não passa de algumas horas. A transferência de coloração ocorre de modo brando, e há leve mudança estrutural. Justamente por isso esse vinho recebe este nome: trata-se de uma bebida fina, fresca, mas com tanicidade ainda presente. Sua coloração varia do raso alaranjado até tons um tanto mais presentes. Salmão e, mesmo, tom de cereja são encontrados em versões mais tânicas.

Quais métodos para se fazer um vinho rosé?

Saignée: sangria, pela tradução. É quando se tira, logo após o inicio da fermentação, por volta de 10% do líquido em contato com as cascas das uvas tintas para que, este fique mais concentrado. E com mais antocianos e ácidos fenólicos, para quem tem interesse em vinhos com mais antioxidantes (sempre bom!). Todos os de apelação Côtes des Provence tem que ter no mínimo 20% de saignée, por lei.

Contato com a casca: neste, as uvas ficam em contato com o suco por horas ou dias. Esse é o método clássico.

Blending: misturar vinho branco e tinto. Não gera vinhos muito interessantes e era proibido fazer em Champanhe, na Provença, até 2009.

Provence: A terra dos rosés

Embora a Provence seja o berço do vinho rosé no mundo e sua história remonte há muitos anos antes de Cristo, foi apenas no século XIV que ganhou prestígio mundial, quando se tornou residência papal e mais do que nunca o vinho rosé passou a ser sinônimo de elegância.

No sudeste da França, ao redor do que os franceses chamam de Côte d’Azur, não muito distante do principal balneário do país, quase que de Montpellier até Nice, passando por cidades como Marselha, e praias como Saint-Tropez, fica essa região espetacular.

Provence

A Provence produz cerca de 150 milhões de garrafas de rosés por ano, 42% da produção nacional da Franca e 6% dos vinhos rosés do mundo. Cerca de 90% da produção local é de rosés. Seus rosados são feitos não por blend de vinhos tintos com brancos, mas por maceração, ou seja, o contato das cascas das uvas tintas com o mosto durante o processo de produção.

A Provence é dividida em três grandes denominações com sub-regiões: Côtes de Provence (que responde por mais de 70% do vinho local), Coteaux d’Aix em Provence (16%) e Coteaux Varois em Provence (10%). Dentro de Côtes de Provence, algumas das regiões mais famosas são: Sainte Victoire, Fréjus, La Londe e Pierrefeu. Há outras seis denominações: Les Baux-de-Provence, Pierrevert, Bandol, Cassis, Bellet and Palette.

Existe uma lista de propriedades “Cru Classés” de Provence de 1955, quando 23 produtores foram condecorados como sendo “Crus” entre os cerca de 300 que havia na região na época. No entanto, atualmente, cinco dessas propriedades já não produzem mais vinho, então sobraram apenas 18 da “classificação original”. Mais recentemente, alguns produtores criaram o “Club des Crus Classés de Côtes de Provence” com alguns dos membros “originais” e também outros.

Existem duas áreas principais. A oeste e norte, encontramos colinas e socalcos de calcário esculpidos pela erosão, em um ambiente de matagal (montanha de Sainte-Victoire, maciço Sainte-Beaume). A leste, de frente para o Mediterrâneo, os maciços cristalinos Maures e Tanneron tem um relevo mais suave com mais maquis. Os solos são geralmente pobres, bem drenados e rasos, sem excesso de umidade. Quanto ao clima, o vento Mistral traz um ar refrescante a uma das regiões mais quentes da França, com poucas chuvas, mas intensas.

Mais de uma dúzia de variedades de uvas são utilizadas na fabricação de vinhos da Provence. Entre as brancas, encontramos: Rolle, Ugni Blanc, Clairette, Sémillon, Grenache Blanc, Bourboulenc etc. Entre as tintas: Grenache, Cinsault, Syrah, Mourvèdre, Tibouren, Carignan, Cabernet Sauvignon etc.

Curiosidade: os vinhos rosés da Provence também são famosos por suas garrafas lindas. Aliás, a região é precursora na inovação do uso de garrafas, o que também reflete um estilo mais alegre e moderno de produzir vinhos. As garrafas são, de fato, um chamariz e diferencial do vinho provençal.

O rosé pelo mundo

Não é só na Provence que esses vinhos têm espaço; em países europeus como Itália, Portugal e Espanha, os rosados ou rosatos também têm importância.

Na França mesmo se pode encontrar ótimos rosés produzidos da apelação controlada (AOC) em Cotes de Rhône, principalmente de Tavel, uma apelação controlada dedicada aos rosés. Na Provence, temos, além dos mais cobiçados Rosés da Côtes de Provence, os deliciosos Bandol nas cercanias da belíssima Toulon. Ainda na França, o Languedoc-Roussillon vem despontando na produção de deliciosos rosés a excelentes preços. De todo o Languedoc, Minervois é a região que mais coloca no mercado rosés de qualidade. Em todas essas regiões ao sul da França, as uvas que têm destaque são a Grenache (a mais importante de todas), a Cinsault e a Mourvedre. Podemos encontrar bons vinhos rosés em Bordeaux e no vale do Loire. Nessas regiões, as uvas mais utilizadas são os Cabernets (Sauvignon e Franc) e a Merlot. Mais raros e de excelente qualidade são os pouquíssimos rosés da Borgonha, produzidos a partir da Pinot Noir.

Na Itália, o vinho rosé está consagrado e tem seu lugar garantido na tavola. A produção de rosés é forte no sul da bota, mas quando falamos de qualidade três regiões devem ser destacadas na produção de rosés de qualidade. A Toscana vem produzindo a cada dia melhores vinhos rosados a partir Sangiovese. A região do Lago de Garda tem na uva Gropello um ícone para produção de rosés especiais. Por último, no norte da Itália, mais especificamente no Alto Ádige, há excelentes rosés à base das uvas locais Moscato Rosa e Lagrein.

Em Portugal, os rosés deliciosos estão por toda a parte. Os destaques são os rosados do Douro, Estremadura e Ribatejo. Normalmente os rosés apresentam pouca intensidade aromática, o que, aliás, faz com que seja mais fácil apreciá-los gelados e sem muito compromisso. Em relação à variedade de uvas utilizadas nos vinhos rosados portugueses encontram-se muitos à base de blends, bem como varietais de Touriga Nacional, por exemplo.

Na Espanha, os rosados são quase uma religião. Talvez o país tenha sido o que menos sofreu com o preconceito do rosé. O consumo deste vinho sempre esteve em alta. As regiões de destaque são Rioja, Navarra e Penèdes. Assim como na França, quem comanda por aqui é a Garnacha (nome da Grenache na Espanha), seguida das Tempranillo e Merlot.

Os nossos vizinhos, Chile e Argentina, produzem cada vez mais rosés à base de vários tipos de uvas, tais como Cabernet Sauvignon e Malbec. Normalmente, esses vinhos são de cor e corpo mais intensos se compararmos aos delicados vinhos da França.

No Brasil apesar dos vinhos rosés representarem a categoria de vinhos que tem crescido mais rapidamente ao redor do mundo nos últimos anos. E os números não mentem, entre 2002 e 2018, o consumo mundial de rosés cresceu um acumulado de cerca de 40%. Porém, ao mesmo tempo em que ganham maior espaço, estes vinhos ainda sofrem com certo preconceito.

Talvez o principal fator seja o histórico dos vinhos rosé. Por muito tempo vinho rosé no Brasil era quase sinônimo de vinho simples, barato e, ainda pior, um vinho mal elaborado. Para muita gente, vinho rosé virou sinônimo de vinho de piscina, aquele que só presta para ficar no baldinho de gelo, para matar a sede. Ou ainda pior, para receber uns cubinhos de gelo, para ficar ainda mais refrescante.

Em um certo sentido, esta experiência pode ser comparada com a do vinho alemão no Brasil, que por muito tempo foi quase sinônimo de vinho branco doce e enjoativo. Por conta de anos de importação dos vinhos Liebfraumilch, em sua esmagadora maioria doces e de qualidade discutível, todos os vinhos alemães acabaram sendo penalizados. Felizmente, hoje em dia, porém, a qualidade dos vinhos alemães já é de conhecimento da maioria.

Ajudar o consumidor a compreender melhor os vinhos e mostrar alternativas diferentes resolveu esta questão. Da mesma forma, isso precisa ser feito com os vinhos rosé. Assim como qualquer vinho, a qualidade do vinho rosé varia bastante. Há rosés ótimos e rosés muito ruins, da mesma forma como acontece com brancos ou tintos.

O que harmoniza com vinho rosé?

Para pensar na harmonização do vinho rosé, se pode seguir dois caminhos:

1 - Observar a tradição de seus criadores;

2 - Analisar friamente suas características.

E, claro, seguir os dois caminhos. Porque, por mais que enologia seja ciência, a sabedoria popular tem sempre seu papel de importância. Quanto à tradição, a regra é clara: o vinho rosé é perfeito para frutos do mar. Seu frescor e vitalidade harmonizam perfeitamente com esses alimentos.

E sequer há debate: em todo restaurante costeiro europeu, o vinho rosé ocupa a esmagadora maioria das mesas. Há, inclusive, quem o nomeie “vinho de laranja”, embora seja puramente de uvas. Verdade seja dita: o gosto popular, muitas vezes, nos entrega maravilhas. E este é o aporte comum, com relação ao vinho rosé.

Já na enologia, o esse vinho brilha por sua versatilidade. Combina com pratos leves, como saladas e carnes brancas e magras. Mas, por sua vez, também merece espaço em outros ambientes. Isso ocorre por conta da leve adstringência que promove. É como dissemos: nem branco nem tinto. Ele possui o melhor de dois mundos.

Dessa forma, o ressecamento tânico do vinho rosé o torna único. Ele consegue ocupar espaços que o vinho branco não poderia. E, apesar disso, não perde seu lugar, nas refeições leves. De petiscos a carnes mais pesadas; das saladas tropicais ao churrasco; do mexilhão ao porco, o vinho rosé pode e deve ser provado.

Essa qualidade versátil, que o torna coringa, dá, a ele, o sobrenome de “vinho do verão”. Encorpado ao ponto de agradar os fãs do tinto; leve e frutado na medida certa.

Dia internacional do rosé: Rosé Day

Os rosés ganharam uma data para comemoração própria: toda quarta sexta-feira do mês de junho. Neste ano de 2021, portanto, o Dia Internacional do Rosé é celebrado no dia 25. A data teria sido idealizada pela proprietária dos Châteaux Roubine e Sainte Béatrice, ambos localizados na região de Provence, na França, o berço do vinho rosé.

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/rose-o-vinho-tipico-do-verao_6679.html

“Forbes”: https://forbes.com.br/colunas/2021/03/carolina-schoof-centola-a-origem-dos-vinhos-roses/

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2012/02/15/voce-sabe-e-um-vinho-clarete/

“Master Vinho”: https://mastervinho.com.br/vinho-rose/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=vinho-rose

“O Globo”: https://gq.globo.com/Shopping/noticia/2021/06/dia-internacional-do-rose-7-rotulos-para-brindar-data.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/provence-um-guia-rapido-sobre-regiao-dos-roses_12975.html

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vinho-rose-consumo-cresce-mas-preconceito-continua-no-brasil/

 

 

 

 


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos 2016

 

É flagrante a minha predileção e diria amor pelos rótulos da região de Lisboa em Portugal. Confesso que me torno, as vezes, redundante com os meus comentários que são textualizados em minhas resenhas sobre os vinhos dessa região que degustei e gostei, mas, convenhamos é melhor ser redundante do que omisso! Nada melhor do que expressar em palavras o que sente quando tem vinhos de Lisboa disponível em nossa taça, para o nosso deleite.

E, mais uma vez, é chegado o momento de degustar mais um vinho dessa região e um rótulo que aguardei por muito tempo para tê-lo em minhas mãos. Foi um vinho particularmente difícil de encontrar e os poucos sites especializados que o ofertam, claro, estão em um valor demasiadamente alto, claro, estamos em um país que não privilegia a cultura do vinho em todos os seus aspectos.

Mas enfim consegui encontrar em um site um valor minimamente atraente para compra-lo e o fiz. E como sou ávido por conhecimento, busquei alguma informação, na página oficial do produtor, Quinta do Gradil (Parras Wines), e li algo muito importante e que reflete a importância da vinícola preocupada em entregar rótulos para enófilos que expresse o terroir, com tipicidade, a busca da melhor relação qualidade X preço. E fala algo que considero de suma importância e que faz com que apreciadores de vinhos da região, como eu, a tenha no coração, consolidando o tal vínculo afetivo que mencionei no início: “A afirmação dos vinhos de Lisboa” ou ainda “Lisboa em garrafa”.

E é com esse intuito, com essa filosofia que os vinhos lisboetas atravessam os tempos e se reafirma, a cada dia, como uma das mais proeminentes, arrojadas e modernas regiões vitivinícolas de Portugal, pois retratam a cultura de sua terra, do seu povo e que expressa, lá vem ele de novo, o seu terroir. Mas apesar dessa introdução com um caráter meio conclusivo eu falo do vinho que degustei e gostei que veio, claro, de Lisboa, Portugal e que se chama Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos em um blend composto pelas castas Touriga Nacional (50%), Syrah (30%) e Tinta Roriz ou Tempranillo na Espanha (20%) da safra 2016. 

E para ser, com todo o prazer, redundante, ou melhor, amoroso, enamorado por Lisboa, falarei sobre a região expondo, de forma retumbante, a sua gloriosa história e contribuição para a vitivinicultura lusitana e que o mundo agradece.

Lisboa

A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. Os vinhos feitos em Lisboa, em grande parte, pertencem a cooperativas, com uma grande variedade de estilos e qualidade. Esta região, onde o "vinho regional Lisboa" é predominante, tem nove DOC´s (Denominações de Origem). O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. O conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a partir do século XIX com a industrialização e recentemente pelo sistema viário que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades de espaço designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do vinho.

A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada para recuperar a produção vinícola.

Lisboa

A região dispõe de grande pluralidade de condições de cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação, regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica, espumantes e de uso na mesa.

A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte central e Encostas D’Aire ao norte.

É surpreendente que duas históricas denominações da região de Lisboa estejam diminuindo com o tempo, Na região denominada Carcavelos, muito famosa por seus vinhos doces, a maioria das vinhas deram lugar a edifícios. Na denominação Colares, que fica próxima a Cascais, e produz praticamente sobre dunas de areia protegidas por quebra-ventos, encontram-se cada vez menos vinhedos, embora produza vinhos cuja alta acidez lhe permite uma guarda muito longa. Sua uva principal é a Ramisco tânico, dificilmente encontrada hoje em outra região.

A DOC Bucelas é a terceira menor e possui uma longa história na produção de vinhos. A região tem crescido nos últimos anos e ficado mais em evidência pela melhoria de qualidade de seus produtos, especialmente os brancos, considerados dos melhores de Portugal.

Ao norte de Bucelas, ainda no interior, encontra-se a pequena região de Arruda. É como se fosse um delicioso país de conto de fadas: montanhas, um antigo castelo em ruínas, antigas estradas romanas, moinhos históricos (hoje em dia equipados com modernas turbinas eólicas), e vinhedos, principalmente de uvas tintas. Desde 2002, os vinhos DOC Arruda podem incluir uvas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, assim como algumas uvas de classe de outras regiões de Portugal como a Touriga Nacional e Touriga Franca. O mesmo vale para as outras regiões DOC na parte central da área do Vinho Regional Lisboa: Alenquer, Torres Vedras e Óbidos. Neste clima ameno, as uvas podem amadurecer com tranquilidade e produzir muito bons vinhos com boa concentração e acidez.

Ao norte de Arruda, a DOC Alenquer está protegida dos ventos atlânticos pelos montes calcários da Serra de Montejunto. Os produtores altamente motivados, conscientes da qualidade do micro clima único de Alenquer. Na DOC Torres Vedras, é mais frio para o lado do mar da Serra de Montejunto, especialmente no flanco ocidental da região, onde a brisa do mar é mais forte. Esta é uma fonte de vinhos brancos secos, incluindo o de baixo teor alcoólico conhecido como Vinho Leve. Ao norte de Alenquer a área DOC Óbidos, possui uma bela cidade medieval ainda murada na sua face norte. A região produz vinhos brancos e alguns dos melhores espumantes em Portugal, alem de alguns tintos leves e elegantes.

A oeste de Óbidos e tocada pela brisa atlântica, a DOC Lourinhã é uma região montanhosa, onde peras, maçãs , pêssegos e figos disputam espaço com os vinhedos. A região envolve a bela cidade de Leiria, o famoso centro de peregrinação de Fátima e os mosteiros fabulosos da Batalha e Alcobaça, ambos eleitos como Patrimônio Mundial da UNESCO. Seus vinhos brancos e tintos são leves, frescos e pouco alcoólicos.

Lisboa e suas sub-regiões

O clima é temperado em virtude da influência atlântica e não apresenta grandes amplitudes térmicas. Os verões são frescos e os invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. As vinhas localizadas junto à linha da costa sofrem uma forte e decisiva influência do Atlântico, enquanto as vinhas plantadas no interior, protegidas da influência marítima pelos diversos sistemas montanhosos, beneficiam de um clima mediterrânico. O relevo não é muito elevado, exceto o sul, onde aparecem alguns estratos de basalto e de granito, assentando a região, quase na sua totalidade, em formações argilo-calcárias e argiloarenosas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rubi intenso, quase escuro e com entornos violáceos, com uma boa formação de lágrimas, finas e que mancham as bordas do copo.

No nariz protagonizam as frutas vermelhas tais como groselha, cereja e framboesas, trazendo um aroma jovial e pleno, além das notas de madeira, couro e baunilha bem discretas, graças aos 3 meses que passou por madeira.

Na boca é intenso, saboroso, redondo, untuoso, preenche bem a boca, com as notas amadeiradas na dosagem certa, para que a fruta ganhe destaque como no aspecto olfativo. Taninos presentes, mas domados, acidez vivaz que garante frescor ao vinho e um agradável picante. Um final persistente e frutado.

“Castelo do Sulco surge como resposta a uma tendência cada vez maior para o consumo de vinhos de qualidade por consumidores cada vez mais informados e em busca de propostas com a melhor relação qualidade-preço. A marca aposta na afirmação dos vinhos de Lisboa, tendo mesmo assumido a assinatura “Lisboa em Garrafa”, como selo de qualidade e reforçando um hype que a capital tem vindo a registrar internacionalmente. É uma marca democrática, uma oferta para jovens, turistas, amantes de boa gastronomia, da movida Lisboeta, de convívios entre amigos. É um pouco de Lisboa dentro de uma garrafa”.

E com essas palavras sobre a proposta do vinho delineado pela vinícola não podemos dizer muita coisa apenas da personificação do amor que temos por Lisboa e seus vinhos, os seus rótulos que cada vez mais expressam com fidelidade a tipicidade às características dessas terras em todas as suas nuances, entregando as mais diversas propostas para o nosso deleite. O Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos personifica muito da versatilidade dos vinhos lisboetas: personalidade e a marcante austeridade dos vinhos portugueses com a fruta que traz o frescor e a maciez que atende aos mais diversos anseios e paladares. Um belo vinho que nos faz persistir e trilhar o caminho de novas experiências, com novos rótulos dessa tão importante região. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Parras Wines:

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Portugal by Wine”: https://www.portugalbywine.com/pt/regioes/info/lisboa_80/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Wines of Portugal”: https://www.winesofportugal.com/br/vinhos-e-turismo/wine-regions/lisboa/overview/

 

 

 

 

 

 

 

 

 






domingo, 20 de junho de 2021

Domaine de Cibadiès Pegasus Sauvignon Blanc 2019

Como sempre costumo dizer e o farei até o fim dos meus dias: Vinho é celebração, é estar com os melhores amigos para uma boa conversa informal e descontraída, é conhecimento, é a degustação na sua mais fiel e genuína concepção. Um grande amigo, de longa data, de uns tempos para cá, aderiu ao universo da vinho de uma forma intensa e incondicional e quando tomei conhecimento de sua decisão, fui tomado por uma incontida alegria. Além de nossas edificantes conversas sobre vários assuntos do cotidiano, iremos incluir o universo do vinho em nossas realidades.

E não contente apenas com a sua inserção no mundo do vinho e seus rótulos, decidimos consolidar com encontros regados a bebida de Baco e Dionísio e muitas conversas. A solidificação da nossa amizade e as viagens mais do que prazerosas nas histórias que permeiam os vinhos que degustamos e certamente gostamos. Nasce a “Confraria Marginal”. Somos apenas nós dois, um pequeno e discreto número, mas significativo na sua relevância e mais contundente, forte e que será eterno enquanto durar, já dizia o trecho daquela música tupiniquim. E agora vem aquela pergunta que o nobre leitor deve se perguntar neste momento: Mas por que “Confraria Marginal”?

Não somos convencionais, não usamos vinho para escorar status econômico, não usamos o vinho como fator de subjugação, amamos o vinho pelo que ele é, pelo fator cultural, pela busca do conhecimento e sobretudo pelo fator sensorial e as suas gratas experiências, então somos marginais, estamos à margem desses conceitos tortos e posturas lamentáveis, mas sonhamos com uma quebra de paradigmas nessa triste cultura.

E depois da especial degustação inaugural da primeira e estabelecida Confraria Marginal, o Domainde Cambos Cuvée Jean D’Augergne da safra 2017, vem agora, para fechar com honraria e dignidade um vinho de uma das minhas mais novas regiões favoritas: Languedoc-Roussillon, não poderia faltar um rótulo desse especial pedaço de terra da França. Uma região que não tem a badalação de Bordeaux ou Vale do Rhône, por exemplo, inclusive tem vinhos cujo valor é baixo em comparação a essas regiões, o que pode minimizar a sua relevância para a vitivinicultura francesa, mas são vinhos altamente competitivos em relação aos grandes e tradicionais terroirs franceses com vinhos de atraentes custo X benefício.

O vinho que degustei e gostei, como disse, com alegria e orgulho veio do Languedoc-Roussillon, na França e se chama Domaine de Cibadiès Pegasus da casta Sauvignon Blanc da safra 2019. Não quero, pelo menos ainda, falar sobre o vinho, mas quando o desarrolhei fui tomado por uma atônita revelação: Um Sauvignon Blanc totalmente diferente, totalmente atípico dos que costumamos degustar do Chile ou da Nova Zelândia, por exemplo, cujos vinhos são mais ácidos ou com alguma estrutura. Mas falemos um pouco da velha e necessária Languedoc-Roussillon, afinal, nunca é redundante falar do que gostamos.

“Pays D’Oc” ou simplesmente os vinhos do Languedoc-Roussillon

Com vinhedos cultivados desde o ano 125 a.C., Languedoc-Roussillon é uma das regiões vinícolas mais importantes da França, responsável por ¼ de todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários autores, como a inglesa Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores relações qualidade e preço de toda a França. Boa parte da produção é dedicada aos famosos e saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC (Apelação de Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du Langedoc. Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de fruta e sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional, perfeitos para acompanhar as refeições. Languedoc-Roussillon é uma vasta área vitivinícola, que traz um acentuado toque mediterrâneo e um rico histórico de cultivo de vinhas e produção de vinhos, um ciclo que teve início há mais de 2.000 anos com as colônias gregas e romanas.

Languedoc-Roussillon

Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos, originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet, entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação, outras estão conquistando aos poucos seu espaço perante o mundo do vinho. Com um solo bastante fértil, as uvas tintas encontradas com maior facilidade na região francesa são a Syrah, Grenache, Cinsault, Carignan, Merlot e Cabernet Sauvignon. Entre as variedades brancas, encontram-se Rolle, Clairette, Terret, Boubolenc, Muscat, Maccabéo, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Picpoul, Marsanne e Viognier. A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os exemplares tintos vãos desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos. Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados. A tradição de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de constante evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada produtora, dando origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo. Atualmente o Languedoc vem se tornando tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados a preços convidativos. De trinta anos para cá vinicultores pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos vinhos populares. No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos apimentados da Grenache.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo brilhante e reluzente tendendo para um dourado com discretas formações de finas lágrimas que logo se dispersam.

No nariz sente-se uma explosão aromática de frutas brancas, cítricas e tropicais e um curioso e interessante dulçor, talvez pêssego em calda, com notas de pera, maçã verde e abacaxi.

Na boca é jovem, fresco e saboroso, as notas frutadas se reproduzem no paladar como no aspecto olfativo, um bom volume de boca, uma acidez agradável, que traz a sensação de leveza e elegância, com um bom final de boca e retrogosto frutado.

A nossa primeira confraria estabelecida e temática foi fantástica! Fizemos uma pequena viagem por algumas das mais emblemáticas terras francesas por intermédio de generosas taças de vinhos, contemplando agradáveis rótulos. Languedoc-Roussillon continua me surpreendendo positivamente com seus belíssimos rótulos com seu excepcional custo X benefício comprovando definitivamente que vinho francês para ser bom não precisa necessariamente ser caro! O Languedoc-Roussillon nos brinda com essa máxima. E além do fator monetário esse rótulo me surpreendeu de uma forma inacreditável. Esta fora da realidade dos Sauvignon Blanc que degustamos no Chile, tido como os melhores do mundo. Tem um aroma e paladar adocicado sem soar enjoativo, uma acidez instigante que quando preenche pela boca se faz presente, se intensifica, mas quando engolimos o vinho se fecha, dando lugar a um final persistente e frutado. Um belo vinho diferente! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vignobles  Bonfils:

Localizada no Sul da França, a Vinhedos Bonfils é resultado de uma história de lutas e conquistas de homens e mulheres que há 5 gerações, trabalham pela paixão de promover a excelência do bom vinho. Uma família unida pela determinação e paixão por desafios desde o século XVII. Tudo começou em 1870 com o jovem professor Joseph Bonfils quando ao participar do “Commune Paris” – movimento contrário ao regime político francês da época – foi exilado na Argélia. Lá ele conheceu Honorine Duvaux, que veio a tornar-se sua esposa e a ser a primeira mulher a receber uma medalha de honra ao mérito agrícola. É Honorine que monta uma fazenda agrícola com muitas vinhas e planta incansavelmente, iniciando uma plantação de mais de 6 hectares de vinhas. A fazenda gerou resultado até a declaração da independência da Argélia, quando a propriedade do casal foi nacionalizada e foram forçados a voltar para a França.

Joseph e Honorine recomeçaram a plantação de vinhedos aos pés do Mont Ventoux e Dentelles de Montmirail, sem saber que estavam começando uma história que seria perpetuada por gerações. O filho do casal, Abel, desde criança continuou a tradição da família e logo passou a introduzir o filho Jean Michel Bonfins, nas vinhas e adegas da família. Jean seguiu os passos dos avôs e de seu pai, que se instalaram perto de Béziers, onde se deu a construção da Vignobles Bonfils, que trazia a marca da força da fabricação artesanal de vinhos. Depois disso, Jean Bonfins, aproveitando todas as oportunidades que surgiam, fez crescer o patrimônio da família e comprou de volta as vinhas de Languedoc, que no passado pertenciam aos seus avôs, somando assim 10 hectares de plantação de uvas bem selecionas e especiais. Em 1978 comprou os terrenos do Domaine de Cibadiés e Capestang No Hérault, atual sede da Vignobles Bonfils. Logo depois, em 1990, o filho de Jean Bonfins, Laurent Bonfins, com apenas 25 anos de idade e recém-formado, assumiu o comando do Cibadiés Domain. Com a ajuda de seus irmãos Olivier e Jerome, um na supervisão e auxiliando na administração das vinícolas e outro na direção e gerência de marketing da Vignobles Bonfils, uniram experiência e competência para tomarem as principais decisões e impulsionarem ainda mais os negócios.

As vinhas da família Bonfils estão localizadas em terrenos que oferecem ótimas condições de solo e clima que favorece a qualidade das uvas atendendo as exigências do mercado, mas principalmente a marcante preocupação da família. As videiras são cultivadas seguindo rigorosos padrões que vão desde analise das condições do solo até a seleção de tamanho e estado de maturação da fruta. Sendo feita a colheita manual em algumas áreas, há também a preocupação que os frutos não recebam excessivo calor do sol e onde são observados todos os cuidados com os impactos ambientais. As adegas são equipadas com equipamentos modernos de ultima geração que contrastam com arquitetura original. Todos estes cuidados dão origem a vinhos autênticos, de excelente qualidade, de sabor exótico e incomparável. Os vinhos da Bonfils são orgânicos, ou seja, não recebem adição de produtos químicos ou influencia de maquinário pesado sendo distribuídos em 35 países e tendo reputação premiadíssima. O que provém da ideia impressa nas palavras do próprio Jean Michel Bonfils: “Não há nenhum grande vinho sem um bom vinhedo e sem respeito pela terra que a alimenta”.

Atualmente, os vinhedos Bonfils são constituídos por mais 1800 hectares distribuídos em 23 vinícolas (incluindo 3 castelos) e oferecem 16 castas diferentes de uvas especiais e selecionadas garantindo a alta qualidade dos vinhos. À frente da vinícola hoje estão: Olivier, Jerome, Laurent e Christian Bonfils, membros da 5ª geração da família, formados em Borgonha/França, onde adquiriram vasta experiência em viticultura e enologia. Conseguem mesclar castas e aproveitas as expressões minerais dos solos onde cultiva de forma memorável, o que leva seus vinhos a exprimirem sabores únicos. Eles se valem da paixão e respeito incondicional pela terra, passada de geração em geração, levando em mente a ideia de cultivar vinhas com uvas da mais alta qualidade, respeitando o terroir em sua máxima expressão.

Mais informações acesse:

https://bonfilswines.com/fr/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vignobles-bonfils-tradicao-e-amor-pela-terra/

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/o-que-e-vin-de-pays/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/o-vinho-de-languedoc_8053.html

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/languedoc-roussillon






 

Domaine Cambos Cuvée Jean D'Augergne 2017

 

Como sempre costumo dizer e o farei até o fim dos meus dias: Vinho é celebração, é estar com os melhores amigos para uma boa conversa informal e descontraída, é conhecimento, é a degustação na sua mais fiel e genuína concepção. Um grande amigo, de longa data, de uns tempos para cá, aderiu ao universo da vinho de uma forma intensa e incondicional e quando tomei conhecimento de sua decisão, fui tomado por uma incontida alegria. Além de nossas edificantes conversas sobre vários assuntos do cotidiano, iremos incluir o universo do vinho em nossas realidades.

E não contente apenas com a sua inserção no mundo do vinho e seus rótulos, decidimos consolidar com encontros regados a bebida de Baco e Dionísio e muitas conversas. A solidificação da nossa amizade e as viagens mais do que prazerosas nas histórias que permeiam os vinhos que degustamos e certamente gostamos. Nasce a “Confraria Marginal”. Somos apenas nós dois, um pequeno e discreto número, mas significativo na sua relevância e mais contundente, forte e que será eterno enquanto durar, já dizia o trecho daquela música tupiniquim. E agora vem aquela pergunta que o nobre leitor deve se perguntar neste momento: Mas por que “Confraria Marginal”?

Não somos convencionais, não usamos vinho para escorar status econômico, não usamos o vinho como fator de subjugação, amamos o vinho pelo que ele é, pelo fator cultural, pela busca do conhecimento e, sobretudo pelo fator sensorial e as suas gratas experiências, então somos marginais, estamos à margem desses conceitos tortos e posturas lamentáveis, mas sonhamos com uma quebra de paradigmas nessa triste cultura.

Então o primeiro vinho veio de uma região nova para mim. Que especial! Além de nossa humilde, mas querida confraria que se estabelece, vem as gratas e incríveis novidades que o universo do vinho, inexplorado e surpreendente, insiste em nos revelar e, a tira colo, vem a novidade das castas também. A celebração enfim estava completa de tudo que precisávamos! O vinho que degustei e gostei veio da região da Gasconha, de Côtes de Gascogne, e se chama Domaine Cambos Cuvée Jean D’Auvergne, um blend composto pelas castas Colombard (70%) e Gros Manseng (30%) da safra 2017.

Côtes de Gasconha: A bela Gasconha

Côtes de Gascogne é o distrito vinícola da Gasconha que produz principalmente vinho branco. Ele está localizado principalmente no departamento de Gers, na antiga região de Midi-Pyrénées (agora parte da região Occitanie), e pertence à região vinícola do sudoeste da França. A designação Côtes de Gascogne é usada para um Vin de Pays ("vinho do campo") produzido na área de Armagnac. O decreto de 13 de setembro de 1968 criou a diferença entre um Vin de Pays e um vinho de mesa mais simples, o chamado Vin de Table, hoje conhecidos como “Vin de France”. A designação Côtes de Gascogne obriga os produtores a respeitarem as regras e padrões de produção mais rígidos, que foram adotados com o decreto de 25 de janeiro de 1982.

Gasconha (Côtes de Gascogne)

A Associação de Produtores das Vins de Pays Côtes de Gascogne foi fundada em 15 de março de 1979. Defende os interesses dos associados, determina os padrões de produção e zela pelo respeito dessas regras. A associação conta neste momento com cerca de 1.400 produtores de vinho. Destes, 1.300 são sócios de adegas de cooperativas, as chamadas cooperativas de cavernas.

Com uma produção permitida de 830.000 hectolitros por ano, a Gers é a maior produtora francesa de Vin de Pays branco , com um potencial de produção de mais de 100 milhões de garrafas por ano, das quais 75% são para exportação. Em Gers, os volumes de produção são mais ou menos os seguintes: 91% vinho branco, 8% tinto e 1% vinho rosé. Isso é muito atípico para o sudoeste da França, porque nos departamentos vizinhos é produzido principalmente vinho tinto. Os tipos de uvas para vinho tinto e rosé são Abouriou , Merlot , Cabernet sauvignon , Cabernet franc , Duras , Fer , Négrette , Portugias bleu , Malbec e Tannat. Os tipos de uvas para vinho branco são Colombard, Petit Manseng, Gros Manseng, Len de l'El, Sauvignon blanc, Sémillon, Muscadelle e Ugni blanc.

A casta Colombard

A uva Colombard é famosa por estar na composição de excelentes vinhos de corte, entre eles os tradicionais Cognac e Armagnac, ao lado das uvas Ugni Blanc e Folle Blanche. A Colombard é conhecida por sua excelente neutralidade, tornando-a uma das principais variedades utilizadas na composição de blends. Com o decorrer nos anos, contudo, a uva Colombard está sendo utilizada também para adicionar luz e frescor aos vinhos brancos, tanto em regiões do sudoeste da França, quanto em áreas vinícolas do Novo Mundo, como na Califórnia e na África do Sul.

Apesar de não ser uma variedade dona de uma grande popularidade, a uva Colombard é uma das cepas brancas mais cultivadas em diversas regiões vinícolas da França. No entanto, tal notoriedade diminuiu consideravelmente ao longo dos anos, para que outras variedades mais tradicionais fossem cultivadas e a Colombard passasse a ser mais utilizada, principalmente, na produção de aguardentes viníferas.

O sucesso dos vinhos brancos Colombard franceses aumentou consideravelmente com o decorrer dos últimos anos, sendo elaborados, principalmente, ao lado, da tradicional uva Sauvignon Blanc, rotulados sob a denominação IGP Cotes de Gascogne. Além disso, em regiões vinícolas australianas a Colombard também é amplamente utilizada, assim como na Tailândia e em Israel.

A casta Gros Manseng

A Gros Manseng é uma das principais uvas brancas cultivada em Juraçon, região localizada no sudoeste da França. Essa variedade de uva é tradicionalmente associada a elaboração de vinhos doces, no entanto, atualmente a Gros Manseng é utilizada também na produção de vinhos secos, extremamente aromáticos e com nítidos sabores.

Possuindo pele grossa, elevado nível de açúcar e de acidez, essa variedade é excelente para a produção de vinhos doces – conforme o tempo de permanência da uva na videira aumenta, ocorre o desenvolvimento elevado da doçura, responsável por manter a acidez da fruta, além da casca grossa contribuir para a proteção da uva. Apesar de ainda existir alguns vinhos elaborados com a uva Gros Manseng colhida tardiamente, tais exemplares estão sendo substituídos por versões secas, produzidos a partir de uvas colhidas antes que o período de maturação completa seja alcançado. Estes vinhos são caracterizados pela marcante acidez e aromas florais que possuem.

Dando origem, principalmente, a vinhos varietais, a uva Gros Manseng participa também de blends com a casta internacional Sauvignon Blanc e a uva local Petit Manseng, outra variedade de elevada importância para o cenário vinícola de Juraçon.

A uva Petit Manseng e a Gros Manseng compartilham da mesma nomenclatura que a distinguem apenas pelo tamanho dos bagos. Isto é, “gros” e “petit” significam “grandes” e “pequenos”, respectivamente. A variedade Gros Manseng é cultivada em maior volume do que a uva Petit Manseng e normalmente, a Gros é utilizada na produção de vinhos secos, enquanto e Petit dá origem a bons vinhos doces.

A uva Gros Manseng não é cultivada em muitas regiões vinícolas além do sudoeste da França, no entanto, fora de Jurançon a variedade é permitida a participar dos vinhos brancos de Pacherenc du Vic-Bilh e Bearn, além de ser utilizada com alta frequência nos vinhos IGP Cotes de Gasgogne.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um lindo e envolvente amarelo ouro com reflexos esverdeados com uma discreta concentração de lágrimas finas e dispersas.

No nariz é extremamente aromático, explode em notas de frutas cítricas e brancas como melão, abacaxi, maçã verde, pera e um agradável toque floral, de flores brancas, que traz a nítida sensação de leveza, delicadeza e frescor.

Na boca é seco, saboroso, intenso, vívido e expressivo que preenche bem a boca, mas por outro lado é fácil de degustar, harmonioso e delicado, logo versátil e gastronômico. Acidez excelente que o torna ainda pleno e vivo, apesar dos 4 anos de safra. Final persistente e frutado.

Um vinho diferente e especial para literalmente brindar nossa querida confraria. Uma região nova para mim se descortinou diante dos meus olhos, novas e diferentes castas, regionais, que ajudou a construir a cultura da Gasconha, de seu povo. E que essa seja a tônica: confrarias e amizades, rótulos e novas experiências sensoriais. Um vinho intenso e expressivo como a intensidade de nossa enofilia, mas delicado e especial como a amizade. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Les Vignobles Fonacalieu:

Les Vignobles Foncalieu são uma união de cooperativas ancoradas no coração do Languedoc: se estende do maciço dos Corbières às margens do Mediterrâneo, das encostas varridas pelo Mistral às planícies acariciadas pelo sol, entre Carcassonne e Béziers. É no coração destas paisagens, entre o mar e a montanha, que todos os viticultores trabalham diariamente os nossos 4000 hectares de vinha, para oferecer a Foncalieu uvas de elevada qualidade que produzem vinhos excepcionais.

Cooperativa com fortes valores desde 1967, nossos 650 viticultores cultivam o espírito de equipe, autenticidade, inovação e uma paixão comum: todos os elementos que permitiram à Foncalieu ser considerada uma das 50 marcas de vinho mais reconhecidas do mundo pela revista profissional Drinks International em 2017.

Os vinhedos de Foncalieu se estendem por 4000 hectares entre a cidade de Carcassonne e o Canal du Midi, dois destinos listados como Patrimônio Mundial pela Unesco. Este vasto território caracterizado por um mosaico de terroirs e denominações, tem permitido o desenvolvimento de uma ampla gama de vinhos na maioria dos DOP do Languedoc, bem como IGP.

A maior e mais antiga região vinícola do mundo é também uma terra de cultura, arte e gastronomia, caracterizada por invernos amenos e verões quentes. A sua multiplicidade de terroirs varridos pelo Tramontana e pelo vento marinho, estende-se dos Pirenéus ao Mediterrâneo, oferecendo uma grande variedade de castas, da Carignan à Malbec, de Roussanne a Sauvignon.

De geração em geração, a paixão pela vinha não se enfraquece, a transmissão às novas gerações está no centro das preocupações para perpetuar os magníficos territórios. A força da Vignobles Foncalieu reside na combinação das competências de todos os viticultores e dos vários polos de especialistas franceses e internacionais.

Mais informações acesse:

http://www.foncalieu.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/colombard

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gros-manseng

“Wikipedia” https://en.wikipedia.org/wiki/C%C3%B4tes_de_Gascogne




quinta-feira, 17 de junho de 2021

Chaminé tinto 2013

 

Talvez seja uma pergunta manjada e, para alguns, irrelevante ou boba, mas me parece muito complexa dependendo do tema a ser abordado: É possível aliar tradição e contemporaneidade? Para muitos são como água e vinho, não há sinergia, não há convergência, outros é possível aliar os dois pontos em uma espécie de atemporalidade ou uma linha do tempo e que ainda há os mais carismáticos que dizem que um não vive sem o outro.

Digo que, no universo do vinho, isso seja sinônimo de novas experiências sensoriais! Ah e isso definitivamente entrou nas minhas perspectivas de degustação! E ouso dizer que isso impulsione não apenas as nossas experiências, mas o nosso campo de conhecimento, de cultura e, sobretudo um excelente exercício sensorial, a gente pode adquirir a capacidade de analisar os vinhos, os novos vinhos e ter grandes momentos. A tradição e o contemporâneo podem nos proporcionar sim grandes momentos, grandes experiências, grandes e surpreendentes rótulos que poderá evitar, entre outros males, a tal e temível zona de conforto, que nos ameaça com aqueles vinhos de sempre, embora especiais.

Eu sou notoriamente um fã incondicional dos vinhos do Alentejo, em Portugal, não há como não se render a personalidade marcante e poderosa de seus vinhos que ganhou o mundo com os seus vinhos de tipicidade e de apelo regionalista. E isso se conquista com tradição, com respeito a cultura de seu povo, da vinificação e sobretudo do respeito ao seu inigualável terroir.

Quando eu descobri os vinhos de um produtor chamado “Cortes de Cima” eu me rendi por completo, uma espécie de arrebatamento. E tudo começou com um rótulo em especial que fez abrir o olho para o novo Alentejo, sem deixar de olhar para a estrada que foi pavimentada no passado daquelas terras. E o vinho que degustei e gostei veio, claro, da minha querida Alentejo, e se chama Chaminé, com um blend composto pelas castas Aragonez, a Tempranillo no Alentejo (35%), Syrah (35%), Touriga Nacional (15%) e Trincadeira (15%) da safra 2013.

Eu não quero ainda descrever essa verdadeira poesia líquida, claro que o farei em breve, mas não há como negligenciar esse corte interessante com a Syrah, casta francesa, como “intrusa” nesse blend, o que me parece ser uma casta bem apreciada pela Cortes de Cima que tem no seu mais complexo rótulo, o “Incógnito”, essa casta como protagonista. Só nesse quesito podemos identificar um arrojo contemporâneo! Mas não podemos esquecer as tradições e dizer, como curiosidade, o motivo pelo qual o vinho, o rótulo se chama “Chaminé”. “Chaminé” ao nome de uma das parcelas da vinha, onde eram originalmente produzidas as uvas usadas neste vinho: “Chaminé de Gião”. E agora, em respeito ao Alentejo, falemos de sua grande história.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3.000 anos atrás. Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Alentejo

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseada na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural. Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos. Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta aquele típico vermelho rubi intenso, poderoso, com brilhantes reflexos violáceos dos tintos alentejanos com uma boa concentração de lágrimas finas que desenham as paredes do copo.

No nariz explode em aromas frutados, de frutas vermelhas tais como framboesa, cereja, ameixa. Aromas frescos de frutas e muito perfumado, talvez um agradável toque floral que entrega um vinho fresco.

Na boca é redondo, macio, mas marcante e expressivo, entregando versatilidade, a fruta se reproduz de forma vibrante no paladar também. Os taninos presentes, mas delicados e em pleno equilíbrio com uma correta acidez. Ótimo final e persistência.

Ah o Alentejo, suas terras tão conhecidas, seu terroir expostos nos mais diversos rótulos que, em um apelo regionalista, se tornou globalizado, nas mesas de todos os enófilos espalhados por todo o canto deste mundo. E mesmo que tenham austeridade, tradição exacerbada temos o Chaminé que nos traz a perspectiva de um Alentejo moderno, arrojado, que ainda tem uma estrada de grandes perspectivas pela frente. Um vinho saboroso, mas intenso, fresco, mas de personalidade, tradicional, mas moderno. Um viva ao Alentejo! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Cortes de Cima:

Em 1988, um casal americano-dinamarquês partiu num veleiro para encontrar um lugar onde constituir uma família e plantar uma vinha. Chegaram ao Alentejo, e numa terra de castas brancas plantaram variedades tintas. E assim começa a história dos vinhos Cortes de Cima.

“Gazelle la Goelette” era o nome do veleiro que trouxera Hans e Carrie Jorgensen numa longa viagem desde o outro lado do mundo, pela Baía da Biscaia e em redor da Finisterra.

Em 1988 Hans e Carrie atracaram em Portugal e, no coração do Alentejo, descobriram “Cortes de Cima”. Era apenas terra improdutiva e algumas construções abandonadas, mas lembravam Carrie da sua terra natal: a Califórnia. Hans, que nascera na Dinamarca, ficou simplesmente encantado pelo sol mediterrânico.

Era o lugar perfeito para assentar, formar uma família e plantar uma vinha. Vidigueira era a terra das castas brancas, mas eles acharam que era o clima ideal para a Syrah, uma variedade do Ródano. Mas a Syrah não era aprovada pelas regras da Denominação de Origem. Hans e Carrie não quiseram saber - eles tinham um sonho.

Começaram a trabalhar o campo, e Hans, um engenheiro, construiu uma barragem. Enquanto a vinha crescia, plantaram girassóis, tomates e melões para pagar as contas. As crianças nasceram – Thomas em 1991 e Anna em 1993.

A história continua com Anna que assume o projeto, a sua visão de futuro compreende valores como a sustentabilidade, inovação, qualidade e respeito pela natureza envolvente, em que a vinha deverá ser a protagonista dos vinhos. Toda a propriedade está em conversão para o modo de produção biológico.

Mais informações acesse:

https://cortesdecima.com/


Degustado em: 2017





sábado, 12 de junho de 2021

Miolo Family Vineyards Touriga Nacional 2019

 

Já pensou em um degustar um vinho cuja casta é ícone em Portugal e no mundo inteiro, produzido em terras brasileiras? Confesso que jamais esperaria passar por esse sublime momento, ainda mais levando a assinatura de uma das minhas vinícolas brasileiras preferidas e logo uma das melhores do Brasil e do mundo: A vinícola Miolo! Ela é preferida ou uma das minhas preferidas não apenas pela qualidade de seus rótulos, mas também pelo fato de ter um forte apelo sentimental com esse produtor. Lembro-me, com afeto e carinho, que quando comecei a flertar com os vinhos de uvas vitis viníferas, aquela famosa transição com os vinhos de mesa, lá estavam os vinhos da Miolo para me ajudar e consolidar esse momento muito importante na vida de um jovem enófilo.

E além desse momento especial da vinícola Miolo em minha vida tive também à relevância de se degustar um Touriga Nacional legitimamente brasileiro! A Touriga Nacional sempre esteve presente em minhas degustações, representados pelos rótulos portugueses e majoritariamente em blends, em cortes. Mas dessa vez veio em varietal! Que momento especial para mim que jamais esperaria encontrar um Touriga Nacional 100% e brasileiro! Mas que fique claro que antes desse vinho especial eu havia degustado um, mas de Portugal, da emblemática região do Dão, um Touriga Nacional bem interessante chamado Cova do Frade da safra 2015 e agora um tupiniquim!

Então o especial vinho que degustei e gostei veio da Campanha Gaúcha, do Brasil, é da Vinícola Miolo e é uma edição especial e limitada de uma parceria da vinícola com o e-commerce Wine, uma das mais representativas do Brasil, e se chama Miolo Family Vineyard 30 anos da casta Touriga Nacional da safra 2019. E, diante da improvável degustação de um vinho brasileiro da casta Touriga Nacional, há um trabalho de quase 10 anos da Miolo que foi a primeira vinícola a implantar o cultivo dessa cepa em nossas terras.

A Touriga Nacional foi plantada em 2002, em espaldeira, no vinhedo Seival, na Campanha Gaúcha, região que se destaca pelo grande potencial no setor vitivinícola, em especial aos vinhos tintos, tendo recebido a Indicação geográfica ainda em 2020. A Vinícola Seival está localizada em Candiota/RS, na região da Campanha Meridional reconhecida como uma das regiões mais promissoras para o cultivo de uvas por estar no paralelo 31° - faixa do planeta onde se encontram algumas das melhores regiões vitivinícolas do mundo. A peculiaridade do terroir encontrado no Seival se tornou marcante para os vinhos produzidos na região com o plantio de variedades portuguesas emblemáticas e, claro, inclui-se a Touriga Nacional, que agregam diferentes características para os vinhos brasileiros e para o portfólio de rótulos do Grupo Miolo. E já que estou falando da Touriga Nacional e das promissoras regiões que compõe a Campanha Gaúcha, nada mais prudente do que falar sobre elas.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul. A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

Touriga Nacional: A rainha portuguesa

Sua baixa produtividade natural quase lhe custou a sobrevivência no território quando uma praga chamada filoxera arrasou com as plantações europeias em meados do século XIX. Nesse momento, muitos produtores portugueses decidiram replantar seus vinhedos com variedades que produzissem mais. Felizmente para a vitivinicultura mundial, a Touriga Nacional sobreviveu em regiões como o Douro e o Dão e, em tempos de moderna vitivinicultura, já na segunda metade do século XX, ganhou novo vigor, com os enólogos e agrônomos tendo maior entendimento de suas características e trabalhando para, pouco a pouco, melhorar sua produtividade sem descaracterizá-la.

Uma das referências mais antigas à Touriga Nacional está no livro “O Portugal Vinícola”, lançado no século XIX pelo renomado agrônomo português Cincinnato da Costa, onde ele diz que nos anos de 1800, quase todos os vinhedos do Dão eram plantado com esta variedade, a porcentagem chegava a 90% do total das terras plantadas.

Suas qualidades, no entanto, só foram ser reconhecidas nacional e internacionalmente há pouco tempo. Por ser uma uva nobre, e, portanto, de produção reduzida, até 1980 ela era preterida por outras castas portuguesas de maior produção. Só quando os consumidores e produtores de vinho em Portugal começaram a exigir uma produção de qualidade superior em vez da primazia da quantidade em larga escala é que a Touriga ganhou novo status. A Touriga Nacional também é conhecida como Tourigo, Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Preto de Mortágua é o nome de uma pequena e antiga vila na zona do Dão. Isso combinado com o fato de outro vilarejo da região ser chamado de Tourigo reforça a ideia de que essa casta existe por lá há muitos séculos.

O que os cientistas são capazes de comprovar com maior facilidade é que dela são derivadas as variedades conhecidas como Touriga Fina e Touriga Macho. No entanto, seu parentesco com a Touriga Franca (conhecida como Touriga Francesa até a virada deste século) é impreciso. Não se sabe se a Franca é uma subvariedade (ou mutação) da Nacional ou uma combinação da Nacional com outra uva.

Os cachos da Touriga Nacional são delicados e compactos. Seus bagos são pequenos, com formato arredondado, bem definido e coloração negro azulada. Sua pele tem boa espessura, o que ajuda na obtenção de cores intensas. Sua polpa é rígida e suculenta. Seu aroma é profundo, variando entre o floral e o frutado, mas característico, e inconfundivelmente nobre. Assim, em poucas palavras, pode-se definir os aspectos físicos da nobre uva portuguesa.

Roda de aromas da Touriga Nacional

Apesar de fértil, ou seja, se adapta bem a diversos terrenos, a Touriga tem baixa produtividade devido ao seu caráter de elevado vigor fisiológico. Seu cultivo exige cuidados especiais, já que sua maturação é intermediaria; virtudes como rusticidade e forte resistência a pragas, entretanto, fazem dela uma casta especial.

A Touriga Nacional é versátil e produz vinhos diversos, mas sempre elegantes. Bom teor alcoólico, ótima concentração de cor, elevada complexidade, taninos finos, sabores intensos, volume, equilíbrio e aromas florais distintos são características comuns a vinhos elaborados com esta cepa. Espumantes, tintos secos finos, vinhos licorosos – são variados os gêneros da bebida dos deuses que essa uva é capaz de resultar. O potencial de guarda das bebidas produzidas com a uva símbolo de Portugal é excelente, elas evoluem em garrafa com bastante desenvoltura. O estágio em madeira de carvalho, por outro lado, lhe dá mais qualidades aromáticas e melhora sua estrutura, além de arredondar seus taninos com maior velocidade, o que torna a bebida pronta para consumo em pouco tempo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um intenso rubi escuro, mas brilhante, com tons arroxeados, com uma grande formação de lágrimas que mancham e desenham lindamente as paredes do copo.

No nariz traz aromas de frutas negras tais como ameixa, amora e cereja preta, com toques amadeirados, graças a passagem por 6 meses em barricas de carvalho, com discretas notas de pimentão e de flores, típico da Touriga.

Na boca é seco, de corpo médio a estruturado, mas muito equilibrado e redondo apesar de ser um vinho jovem, com taninos presentes e domados, acidez vivaz trazendo um caráter de frescor ao vinho, além das notas amadeiradas e um toque de baunilha. Final de média persistência.

O passado e presente não precisam se dissipar, vivem de mãos dadas e em plena convergência, não precisamos viver de nostalgias e virar o rosto para o presente e temer o futuro. Não precisamos negligenciar o passado, esquecê-lo somente pelo fato de ter, como discurso, o futuro. A Miolo sempre foi uma referência para mim enquanto enófilo e foi e tem sido e sempre será muito importante para a minha formação, para o que entendo como um apreciador de vinhos. O Miolo Family Vineyard é resultado de novos tempos em que o vinho nacional cresce vertiginosamente, apesar de todos os entraves que vigoram nesse país, proporcionando um momento ímpar para a minha vida, para os meus sentidos, para a minha experiência sensorial: degustar um Touriga Nacional pela primeira vez! Um vinho untuoso, imponente, mas fácil de degustar mostrando versatilidade nas harmonizações e muito equilíbrio entre taninos, acidez e graduação alcoólica. Um vinho jovem, de dois anos de safra, a personalidade se faz presente, mas que, muito bem feito, se revela harmonioso. Mais um ponto para o vinho brasileiro. Tem 14% de teor alcoólico. Ah não me sentindo satisfeito resolvi explorar um pouco mais a Touriga Nacional brasileira e decidi adquirir, em um estágio diferenciado, mais um Miolo Touriga, agora o Single Vineyard.

Miolo Single Vineyard Touriga Nacional 2019

Mas essa é outra história que certamente irei contar em outro capítulo das minhas degustações...

Sobre a Vinícola Miolo:

A história da família Miolo no Brasil começa em 1897. Entre os milhares de imigrantes italianos que vieram ao país em busca de oportunidades, estava Giuseppe Miolo, um jovem que já tinha nas veias a paixão pela uva e pelo vinho, vindo da localidade de Piombino Dese, no Vêneto. Ao chegar ao Brasil, Giuseppe foi para Bento Gonçalves, município recém-formado por imigrantes italianos. Entregou suas economias em troca de um pedaço de terra no vale dos vinhedos, chamado Lote 43. Já em 1897, o imigrante começou a plantar uvas, dando início a tradição vitícola da família no Brasil.

Na década de 70, a família foi pioneira no plantio de uvas finas, fazendo com que os netos de Giuseppe Miolo, Darcy, Antônio e Paulo, ficassem muito conhecidos na região pela qualidade de suas uvas. No final da década de 80, uma crise atingiu as cantinas dificultando a comercialização de uvas finas e forçando a família Miolo, a partir de 1989, a produzir o seu próprio vinho para a venda a granel para outras vinícolas. Surge a Vinícola Miolo, com apenas 30 hectares de vinhedos. Em 1992 a primeira garrafa assinada pela família foi um Merlot safra 1990, que na partida inicial teve 8 mil garrafas produzidas. Em 1994 é lançado o Miolo Seleção, que logo se torna o vinho mais distribuído da Miolo.

A paixão pela vitivinicultura e o desejo de levar mundo afora o vinho fino brasileiro foi o que inspirou a família Miolo a tomar a decisão de expandir o negócio. Inicia-se em 1998 o Projeto Qualidade. Desde então o crescimento da empresa foi significativo: com investimentos constantes na terra, tecnologia, recursos humanos e no próprio consumidor, iniciou-se também o Projeto de Expressão do terroir brasileiro.

Instalado na Estância Fortaleza do Seival, localizada no Sul do Brasil, no município de Candiota, próximo à divisa com o Uruguai, o “Projeto Seival”, nos anos 2000. Em 2001 a Família Miolo juntamente com a família Benedetti (Lovara) iniciam o projeto Terranova no Vale do São Francisco, adquirindo a antiga propriedade do Sr. Mamoro Yamamoto chamada Fazenda Ouro Verde. Em 2009 a Família Miolo, juntamente com a família Benedetti e a família Randon, adquirem a Vinícola Almadén pertencente a Pernod Ricard. Sendo também uma das mais importantes do segmento de vinhos no mercado nacional, introduzindo a colheita mecânica, pioneira no Brasil.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/touriga-nacional-o-tesouro-nacional-portugues_11850.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/touriga-nacional-a-nobre-uva-portuguesa/