sábado, 3 de julho de 2021

La Sogara Bardolino 2018

 

“Degustar” história e se deleitar com conhecimento é único. E nada melhor que fazê-lo da forma mais prazerosa possível, não forçosamente. O que eu quero dizer é que o vinho, o simples ato de abrir uma garrafa e servir a sua taça de vinho, simples para alguns, pode se tornar um transborde de aprendizado, de cultura, de um intenso processo cognitivo.

E seguindo para o simples, mas nobre caminho da degustação, ter acesso aos rótulos com aquele aspecto regionalista traz também todo o charme e o entusiasmo para que esse processo cultural, da busca pela história seja prazerosa e interessante também, afinal, um complementa o outro, são convergentes.

E a Itália, sem sombra de dúvida, te entrega tudo isso com maestria. Regiões e os seus mais diversos terroirs, peculiaridades de todo o tipo que faz de um país, embora pequeno, geograficamente falando, gigante e significativo na sua representatividade histórica na vitivinicultura mundial.

Um vinho, de uma pequena comuna ou município, como é chamado na Terra da Bota, na emblemática região do Vêneto, é muito importante e relativamente conhecida e reverenciada no mundo, mas que, no meu humilde “currículo” de enófilo, saiu poucas degustações, sempre me chamou a atenção e quando avistei em um famoso site especializado de compras, a um atrativo valor, me fez automaticamente comprar, principalmente pelo caráter frutado, simples, jovial e muito direto, quase informal, ao se degustar. Falo do Bardolino.

Fazemos tanta questão de degustar vinhos voluptuosos, carnudos e complexos que hoje decidi explorar na minha adega um vinho mais frutado, elegante e saboroso, descomplicado de degustar. E achei, achei um que completasse os meus anseios e, ao degusta-lo, abraçou todos os meus iniciais desejos. O vinho que degustei e gostei veio da pequena e significativa região de Bardolino, no Vêneto, Itália, e se chama La Sogara composto pelas tradicionais castas da região Corvina (70%), Rondinella (20%), e Molinara (10%) da safra 2018.

Bem já que falamos tão demasiadamente de história, conhecimento e cultura, para não perder o costume vamos seguir, antes de falar do vinho, com um pouco de, adivinhe, história! Do Vêneto, de Bardolino, das suas castas típicas e de tudo o mais que merecer.

Vêneto

O nordeste da Itália deve menos à tradição e mais ao desenvolvimento moderno que o restante do país. Mesmo assim as origens do vinho ali remontam à antiguidade, quando os etruscos dominavam a região e praticavam a agricultura e o cultivo da vinha, por volta de 600 anos a.C.

Sua história posterior é semelhante a muitas outras regiões italianas: grande desenvolvimento com a dominação romana, quase destruição da atividade vinícola com a invasão dos bárbaros e retomados na era medieval. No Vêneto, esse renascimento se deu ao redor do ano 1.000, sob a proteção da Sereníssima República di Venezia. Mais perto de nossos dias, a produção de vinhos na região sofreu grande influência austríaca.

A propósito, não se pode falar do vinho do Vêneto sem que se ressalte o importante papel desempenhado pela República de Veneza na atividade mercantil européia. Com enormes vantagens naturais, debruçada sobre o Adriático e voltada para o Oriente, desenvolveu um vibrante comércio de mercadorias – e dentre elas o vinho estava em primeiro lugar – por todo o Mediterrâneo, singrado por sua veloz frota de modernos barcos. Traziam para o Ocidente os vinhos da Grécia e também os bons vinhos que o Oriente Médio (Síria, Líbano, Palestina) produzia, sem se importar com o domínio militar muçulmano por esses mares.

Outra grande contribuição veneziana para a vinicultura aconteceu por volta do ano de 1300, quando resgataram a antiga arte romana de fabricar vidros transparentes, que os venezianos buscaram na Síria e implantaram na ilha de Murano. Assim, já no século XVI, apenas os vinhos de excelente qualidade eram guardados em garrafas, prática que toda a Europa imitou.

Verona, Veneza, Vicenza e Padova são as principais cidades do Vêneto. A região vinícola de Veneza faz fronteira ao norte com a Áustria, à nordeste com o Friuli-Venezia Giulia, à noroeste com o Trentino Alto-Ádige, à oeste com a Lombardia e ao sul com a Emilia- Romagna. As altitudes variam desde as bem elevadas, próximas aos Alpes, até as planícies que bordejam o mar Adriático, sendo o terreno normalmente ondulado. Muitos lagos, como o de Garda, são encontrados em sua área, além de rios, como o Pó e o Piave, propiciando grande desenvolvimento agrícola. O clima é continental, no interior, e de influência mediterrânea, nas regiões próximas ao mar e ao lago de Garda.

Vêneto e suas sub-regiões

Bardolino DOC

Bardolino está localizado na margem oriental do Lago de Garda, a 30 km de Verona, em uma área montanhosa espremida entre o lago a oeste e a colina moraina que separa o lago do vale de Adige a leste e o Vale do Pó. O território municipal tem uma área de 5.428 hectares dos quais cerca de 1.574 hectares de terras e 3.836 hectares de lago; administrativamente faz fronteira ao norte com Garda, a leste com Costermano, Affi Cavaion e Pastrengo; ao sul com Lazise; a oeste com a província de Brescia.

Bardolino

A origem da cidade é muito remota e certamente remonta à civilização itálica de moradias; vestígios de uma aldeia habitada por pilhas estão presentes em Cisano (bem como em outros municípios ao sul de Bardolino). O nome deriva do lombardo "bardus" ou "Lombard". Para Bardus, o sufixo olus é adicionado para Bardolus ao qual o segundo sufixo de relevância é adicionado, inus [divus + inus = divinus ou deus]. Esse é o "pequeno lugar dos lombardos".

Os vinhos de Bardolino são produzidos com as mesmas castas do Valpolicella (Corvina, Molinara e Rondinella) sendo, no entanto, mais leve. Simplicidade, frescor e boa fruta são suas principais características. A lei permite a adição de até 15% de outras uvas regionais como a Negrara, Sangiovese, Barbera, Rossignola e Garganega.

A região de plantio circunda a cidade de Bardolino, à beira do belo lago de Garda, e pode ser de dois tipos: Bardolino Classico, elaborado com uvas oriundas da zona clássica ou histórica, e o Bardolino Classico Superiore, feito também com uvas da zona histórica, mas com teor alcoólico superior a 12,5%.

Outro vinho da região é o Novello, uma versão italiana do Beaujolais Nouveau, elaborado também por maceração carbônica, é um vinho para ser bebido ainda mais jovem do que o Bardolino, assim como seu congênere francês.

As castas

Corvina

A Corvina é a principal uva usada no grandioso vinho tinto Amarone della Valpolicella e no vinho Valpolicella, combinada com parcelas de uva Rondinella e casta Mollinara. Uma uva autóctone da região de Verona é particularmente indicada à passificação – processo em que as uvas são secas para perderem água e aumentar a concentração de açúcar e proporção de matéria seca. Os bagos da uva Corvina são de tamanho médio, ovais e de cor azulado escuro, formando cachos na forma piramidal.

O seu nome, inclusive, foi conferido graças a sua cor escura. Corvina em italiano significa corvo, a uva é “escura como as penas de um corvo”. A uva Corvina confere aos vinhos produzidos com a casta aromas de cerejas e um toque amendoado, além do frescor conferido por sua ótima acidez. Quando os rendimentos são mais altos (maior produção por vinhedo), os vinhos tintos produzidos com a uva Corvina podem ser mais leves, frescos e frutados, como nos exemplos mais clássicos de Valpolicella e Bardolino.

Molinara

A uva Molinara é nativa da Itália e recebe esse nome por ter seus bagos envolvidos em uma fina camada branca, com uma aparência que sugere terem sido salpicados de farinha branca, tal como um indivíduo recém-saído de um moinho. Por isso, “molinara”, que significa “moinho” ou “moleiro”.

Acredita-se que essa variedade de uva tenha surgido em Verona, na região de Vêneto, e grande parte de seu cultivo ainda se dá na região norte da Itália. Mesmo no interior do país, mas sobretudo fora dele, a uva Molinara pode receber outros nomes, como Rossara, Mullinari, Salata, Vespone, Rossanella, Brepon Molinario, entre outros.

Com coloração roxa azulada, a uva Molinara é famosa pela qualidade e excelência com que elabora os vinhos de corte nas regiões de Valpolicella e Bardolino, levando mais acidez e frescor às variedades de rótulos locais. Com bagos médios e cachos em formato de pirâmides alongadas, esse tipo de uva tem caráter mineral, floral e frutado, que dá origem a vinhos pouco encorpados e muito aromáticos, com leves tons de cereja, tabaco, pimenta preta e amora.

Rondinella

A uva Rondinella é encontrada com maior facilidade na região italiana do Vêneto, e raramente é cultivada fora dali. Trata-se de uma variedade de uva tinta empregada na composição dos prestigiados vinhos italianos de Valpolicella e Bardolino.

As vinhas da Rondinella são responsáveis por rendimentos prolíficos, embora a uva seja raramente utilizada na produção de vinhos varietais. A casta é empregada em blends ao lado da uva Corvina, adicionando sabor marcante aos vinhos tintos produzidos na região do Vêneto.

Com cachos de dimensões médias e formatos cilíndricos, a uva Rondinella é considerada uma variedade rústica e adapta-se facilmente a solos que contenham alta quantidade de argila. Além disso, essa variedade é perfeitamente adaptada para a secagem, especialmente, quando provém de vinhas cultivadas em colinas.

Os vinhos produzidos a partir da uva Rondinella apresentam coloração rubi intensa, e são marcados por aromas delicados e sabores frutados. Os vinhos Rondinella possuem poucos taninos, no entanto, são bem estruturados.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rubi com reflexos violáceos envoltos em um reluzente brilho com boa formação de lágrimas finas que logo se dissipam.

No nariz traz notas de frutas vermelhas frescas que entrega muita leveza e um floral que me remete a flores vermelhas, a violeta.

Na boca é elegante, macio, delicado e com muita fruta, frutas vermelhas, como morango e framboesa, com taninos finos e quase imperceptíveis com uma belíssima acidez que lhe confere frescor e jovialidade. Final de média persistência e frutado.

Simplicidade sempre foi para mim um ponto de alta nobreza, ser nobre é ser simples, e nobreza a meu ver é ter um vinho saboroso na taça e respirar um pouco de cultura e saber o motivo pelo qual o vinho que tanto apreciamos tem determinadas nuances, características ou especificidades. Essa é a melhor das harmonizações! O La Sogara Bardolino, diante da sua simplicidade, da sua concepção mais direta e descompromissada expressa, com extrema fidelidade, a região a qual foi concebida, expressa o caráter da terra que foi concebida, o conceito mais fiel e preciso de terroir, termo tão comumente mencionado entre os amantes dessa poesia líquida. Um vinho elegante, delicado, frutado, fresco, ideal para se degustar despretensiosamente, com a alegria de se celebrar o momento mais sublime que o vinho pode nos proporcionar: alegria e leveza de espírito, sem amarras, simplesmente o vinho por ele mesmo, você e o vinho e a história tão viva e latente quanto essa bebida. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a La Sogara:

A adega moderna e sustentável foi renovada em 1995 e está orientada para a redução do impacto ambiental. Ainda hoje é um dos mais ecológicos da Itália. Dos 20 hectares iniciais, hoje a família tem 140 hectares, aos quais se somam 240 hectares sob manejo direto. A gestão sempre fez com que os enólogos seguissem um protocolo qualitativo estabelecido pela família Cottini. A produção é acompanhada em todas as etapas pela família Cottini com a máxima atenção na proteção da qualidade e na fidelidade da tradição.

La Sogara redescobre e valoriza os vinhos mais clássicos da tradição veronesa. São vinhos ideais para partilhar com os amigos, pela sua frescura e simplicidade. Versáteis para cada ocasião tornam cada dia especial.

Dedicados a quem pretende qualidade, farão com que fique bem se os levar a um jantar com amigos ou família. Tão sincero quanto uma risada que vem do coração. São vinhos que respeitam o meio ambiente e a tradição.

Sobre a Vinícola Cottini:

Em 1925, Carlo Cottini fundou a primeira empresa familiar dedicada ao cultivo da vinha e da fruta, como se usava naquela época. Nos anos 50 seu filho Raffaello focou seus negócios exclusivamente na produção de vinhos.

Chega então a vez de Diego, filho de Raffaello, que demonstrou ambição e coragem para concretizar novos projetos de pesquisa e melhoria constante no cultivo de vinhas familiares juntamente com a aquisição de novas. Em seguida, ele criou vinhos inovadores, bem como definiu os históricos.

Hoje a empresa envolve toda a família: Diego, sua esposa Annalberta, seus filhos Michele e Mattia. Cada um tem seu próprio papel, personalidade e habilidades que renovam a cada dia a herança de seu bisavô Carlo e de seu avô Raffaello com um misto de compromisso, ambição e coragem.

Mais informações acesse:

http://www.lasogara.com/it/home/

https://www.cottinivini.com/en/intro-2/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/terra-de-vinheteiros-e-mercadores_8613.html

“Município de Bardolino”: https://comune.bardolino.vr.it/turismo/storia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/corvina

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/molinara

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/rondinella

 

 






sábado, 26 de junho de 2021

Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 2010

 

Um misto de grandes experiências sensoriais e culturais! É o que eu tenho vivido nesses últimos e gloriosos tempos enquanto um simples e humilde enófilo. A incessante busca, o garimpo pelas novidades se torna necessário e diria, sem soar dramático, urgente, quando mencionamos o vasto e inexplorado universo dos vinhos. Nunca pensei, quando comecei a me enamorar pelos vinhos há cerca de 20 e poucos anos o quanto aprendi e aprendo, simplesmente degustando uma garrafa de vinho. São culturas, comportamentos, história pitoresca além é claro, do prazer em ter a minha taça cheia de vinho e me regozijar de cada gota.

Tenho me interessado, de forma latente nos vinhos evoluídos, em tempos mais recentes, lendo sobre o assunto, buscando novos rótulos com essa característica e entendendo o que eles podem nos proporcionar. Como são especiais! E pensar que, revendo o que degustei no passado, as fotos que registrei como se fora um livro de fotos de família com registros do passado, observei, com uma alegria incontida que já degustava, de forma tímida, claro, alguns vinhos com alguma longevidade, sem saber de sua importância e a sua proposta. Era muito cru nas histórias dos vinhos que hoje valorizo grandemente.

E essas novidades requer trabalho, pesquisa, tempo e, sobretudo dinheiro, afinal, ser enófilo no Brasil é padecer com os altos valores dos rótulos em todas as suas escalas de propostas, mas, em prol do nosso amor, estamos dispostos a tudo, apesar de ser prudente ter retidão, em alguns momentos. E esse minha incessante busca chegou a terras brasileiras! Sim, em terras brasileiras! Quem disse que o Brasil não produz grandes vinhos longevos?

Nessa busca em cheguei na Serra Catarinense. Claro que já conhecia essa proeminente região produtora de vinho, mas nunca pensei no ápice de minha ignorância que os vinhos daquelas bandas tivessem um bom potencial de guarda. Sabia de seus altos valores para a realidade da maioria da população brasileira, alguma coisa sobre a sua relevância para o cenário vitivinícola nacional, mas não sabia de sua vocação para a longevidade. Mas é aí que entra o conceito histórico-cultural da coisa. As características climáticas, as propostas dos vinhos, tudo influencia para os vinhos longevos. É o famoso terroir que fala mais alto.

Então com essa trajetória toda cheguei a um vinho com um ótimo custo X benefício em relação a muitos outros rótulos da Serra Catarinense e me senti na obrigação de tê-lo em minha adega. Talvez fosse a minha chance e eu precisava agarrá-la com esmero. Comprei e não levei muito tempo para degusta-lo. O vinho que degustei e gostei veio da região de São Joaquim, na Serra Catarinense, no Brasil, e se chama Sanjo Núbio da casta Cabernet Sauvignon e a safra: 2010! Um vinho com seus 11 anos de vida! Momento único e admito para poucos! Precisava usufrui-lo respeitosamente e da melhor maneira possível. Mas antes de falar do vinho e olha que estou ansioso para isso, falarei um pouco da história dessa região de São Joaquim e a sua importância para o cenário vinícola brasileiro.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias. Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar osmunicípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Rota do Vinho - Serra Catarinense

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo rubi intenso, escuro, com a já manifestação de discretas tonalidades atijoladas denunciando os seus 11 anos de safra, com lágrimas em grande profusão finas e que mancham a parede do copo.

No nariz um buquê aromático que entrega frutas vermelhas como framboesa, ameixa e cereja, com notas amadeiradas, de chocolate, baunilha, couro e um toque terroso e pimentão. O conceito entre fruta, madeira e especiarias em pleno equilíbrio.

Na boca é austero, quente, complexo e estruturado, mas macio e elegante, as frutas dão o ar da graça em harmonia com as notas amadeiradas, com toques de chocolate e baunilha e as especiarias,  graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho (cerca de 50% do vinho) e também pelo tempo de safra, com taninos presentes, porém finos e domados com uma incrível acidez que certamente garantiria ao vinho mais tempo de vida, de uma evolução plena e decente. É o que representa o vinho: plenitude e vivacidade aos 11 de vida! Tem um final persistente e retrogosto frutado.

A busca por novas experiências sensoriais, o garimpo por novidades, uma nova vida de enófilo sendo descortinada diante de nossos olhos, a fuga da zona de conforto, tudo isso é sim possível. Como sempre costumo dizer: o universo dos vinhos é vasto e inexplorado, há muito a ser degustado e essa sensação de infinidade é que mais me estimular a buscar mais e mais, mesmo que tardiamente em muitos casos. Nunca é tarde quando se tem um propósito. E os vinhos da Serra Catarinense estavam em minha rota havia algum tempo. O Núbio Sanjo Cabernet Sauvignon, no auge dos seus 11 anos de vida, no ápice de sua longevidade, saciou a minha avidez por conhecer os vinhos de altitude e que abriu as portas para trilhar o caminho, a estrada dessa proeminente região brasileira que, a cada dia, vem se tornando o novo expoente da vitivinicultura de nossas terras. Toda a história dessa região converge com as características mais marcantes do Núbio Sanjo Cabernet Sauvignon, em todas as suas minúcias, o que corrobora a tipicidade deste vinho tão peculiar e particular. Um vinho longevo, intenso, complexo, mas delicado, elegante e austero e fácil de degustar, afinal o tempo lhe foi gentil e o deixou harmonioso e equilibrado. 1.250 metros de altitude faz desse vinho, ainda vivo e pleno, grandioso no topo mais alto de sua tipicidade. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.


Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/comecando-por-cima_8143.html

“O Turismo e a Produção de Vinhos Finos na Região de São Joaquim (SC): Notas Preliminares”: https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/O%20Turismo%20e%20a%20Producao%20de%20Vinhos%20Finos%20na%20Regiao%20de%20Sao%20Joaquim.pdf

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2010/02/21/nubio-2005-um-bom-cabernet-sauvignon-de-sao-joaquim-santa-catarina/

 






sexta-feira, 25 de junho de 2021

Rosé Day

 

Origem

Na Grécia Antiga, era considerado civilizado diluir o vinho. A crença era que só os bárbaros, bêbados e assassinos bebiam o vinho puro. O rei espartano Cleômene I afirmou que o consumo do vinho puro causou a decadência dele, que foi preso e se suicidou.

As uvas, naquela época, eram colhidas e prensadas juntas, brancas e tintas, e eram pisadas e colocadas em ânforas para a fermentação. Esse processo de ânfora, que fazia com que evaporasse um percentual do líquido por causa da porosidade, os deixava com a característica oxidativa e mais tânicos. Os originais vinhos naturais, eis a receita.

Com a evolução natural da curiosidade e tentativas, pois no mundo do vinho não se para, mas sim se continua criando, separaram as uvas brancas das tintas. Gregos e romanos conhecem os brancos e os tintos, mas, os tintos eram muito tânicos e robustos e a preferência ficou para o rosé. O rosé do momento era apenas tinto diluído em água! E beberam durante séculos.

Os Foceios trouxeram vinhas da Grécia para Marselha e utilizavam o mesmo processo, uvas tintas e brancas misturadas. Os rosés do sul da França, em Provença, ficaram conhecidos em todo o Mediterrâneo. Quando os romanos chegaram, eles já sabiam desta fama e, com suas habilidades comerciais, espalharam pelo resto do Mediterrâneo este vinho muito apreciado no verão, especificamente. Por isso que, ainda hoje, a Provença é considerada o epicentro do vinho rosé.

Na Idade Média circulava um boato que Bordeaux tinha feito um vinho violeta, o famoso clarete. Clarete é uma especialidade de Bordeaux que vem conquistando popularidade. Ele homenageia o vinho que era exportado ao Reino Unido na Idade Média e inspirou o termo inglês claret, usado para descrever o Bordeaux tinto. Como Bordeaux estava sobre o domínio inglês, entre os anos 1152 e 1453, o vinho logo foi exportado pra lá e virou a nova coqueluche. Até meados de 1900, os ingleses e o clarete eram inseparáveis. No século XIX os franceses começaram a viajar para o sul da França e, depois de um belo banho de mar, um dia na praia, tomavam um rosé refrescante, e o local virou símbolo de glamour, prazer e verão. Et voilà!

Curiosidade: O nome claret ainda é amplamente usado na Grã-Bretanha e aplica-se a todos Bordeaux tintos, enquanto clairet passou a ser o nome dos vinhos de estilo rosé dessa região.

Como nasce o vinho rosé?

A carne das uvas é basicamente da mesma cor: um verde claro translúcido. E isso independe de sua espécie, se escuras ou verdes. Porém também sabemos que há vinhos tintos e brancos. E, na enologia, é pecado mortal usar corantes ou qualquer tipo de pigmento estranho às uvas. E então? Por que há essa distinção de cores entre os tintos e brancos? E o que seria, nessa questão, o vinho rosé? A coloração e matização dos tintos dão-se pelo contato do mosto com as cascas da uva. Quanto maior as permanências, mais encorpadas e escuras serão.

Assim, por essa lógica, o vinho rosé tem um contato curto com as cascas. Não passa de algumas horas. A transferência de coloração ocorre de modo brando, e há leve mudança estrutural. Justamente por isso esse vinho recebe este nome: trata-se de uma bebida fina, fresca, mas com tanicidade ainda presente. Sua coloração varia do raso alaranjado até tons um tanto mais presentes. Salmão e, mesmo, tom de cereja são encontrados em versões mais tânicas.

Quais métodos para se fazer um vinho rosé?

Saignée: sangria, pela tradução. É quando se tira, logo após o inicio da fermentação, por volta de 10% do líquido em contato com as cascas das uvas tintas para que, este fique mais concentrado. E com mais antocianos e ácidos fenólicos, para quem tem interesse em vinhos com mais antioxidantes (sempre bom!). Todos os de apelação Côtes des Provence tem que ter no mínimo 20% de saignée, por lei.

Contato com a casca: neste, as uvas ficam em contato com o suco por horas ou dias. Esse é o método clássico.

Blending: misturar vinho branco e tinto. Não gera vinhos muito interessantes e era proibido fazer em Champanhe, na Provença, até 2009.

Provence: A terra dos rosés

Embora a Provence seja o berço do vinho rosé no mundo e sua história remonte há muitos anos antes de Cristo, foi apenas no século XIV que ganhou prestígio mundial, quando se tornou residência papal e mais do que nunca o vinho rosé passou a ser sinônimo de elegância.

No sudeste da França, ao redor do que os franceses chamam de Côte d’Azur, não muito distante do principal balneário do país, quase que de Montpellier até Nice, passando por cidades como Marselha, e praias como Saint-Tropez, fica essa região espetacular.

Provence

A Provence produz cerca de 150 milhões de garrafas de rosés por ano, 42% da produção nacional da Franca e 6% dos vinhos rosés do mundo. Cerca de 90% da produção local é de rosés. Seus rosados são feitos não por blend de vinhos tintos com brancos, mas por maceração, ou seja, o contato das cascas das uvas tintas com o mosto durante o processo de produção.

A Provence é dividida em três grandes denominações com sub-regiões: Côtes de Provence (que responde por mais de 70% do vinho local), Coteaux d’Aix em Provence (16%) e Coteaux Varois em Provence (10%). Dentro de Côtes de Provence, algumas das regiões mais famosas são: Sainte Victoire, Fréjus, La Londe e Pierrefeu. Há outras seis denominações: Les Baux-de-Provence, Pierrevert, Bandol, Cassis, Bellet and Palette.

Existe uma lista de propriedades “Cru Classés” de Provence de 1955, quando 23 produtores foram condecorados como sendo “Crus” entre os cerca de 300 que havia na região na época. No entanto, atualmente, cinco dessas propriedades já não produzem mais vinho, então sobraram apenas 18 da “classificação original”. Mais recentemente, alguns produtores criaram o “Club des Crus Classés de Côtes de Provence” com alguns dos membros “originais” e também outros.

Existem duas áreas principais. A oeste e norte, encontramos colinas e socalcos de calcário esculpidos pela erosão, em um ambiente de matagal (montanha de Sainte-Victoire, maciço Sainte-Beaume). A leste, de frente para o Mediterrâneo, os maciços cristalinos Maures e Tanneron tem um relevo mais suave com mais maquis. Os solos são geralmente pobres, bem drenados e rasos, sem excesso de umidade. Quanto ao clima, o vento Mistral traz um ar refrescante a uma das regiões mais quentes da França, com poucas chuvas, mas intensas.

Mais de uma dúzia de variedades de uvas são utilizadas na fabricação de vinhos da Provence. Entre as brancas, encontramos: Rolle, Ugni Blanc, Clairette, Sémillon, Grenache Blanc, Bourboulenc etc. Entre as tintas: Grenache, Cinsault, Syrah, Mourvèdre, Tibouren, Carignan, Cabernet Sauvignon etc.

Curiosidade: os vinhos rosés da Provence também são famosos por suas garrafas lindas. Aliás, a região é precursora na inovação do uso de garrafas, o que também reflete um estilo mais alegre e moderno de produzir vinhos. As garrafas são, de fato, um chamariz e diferencial do vinho provençal.

O rosé pelo mundo

Não é só na Provence que esses vinhos têm espaço; em países europeus como Itália, Portugal e Espanha, os rosados ou rosatos também têm importância.

Na França mesmo se pode encontrar ótimos rosés produzidos da apelação controlada (AOC) em Cotes de Rhône, principalmente de Tavel, uma apelação controlada dedicada aos rosés. Na Provence, temos, além dos mais cobiçados Rosés da Côtes de Provence, os deliciosos Bandol nas cercanias da belíssima Toulon. Ainda na França, o Languedoc-Roussillon vem despontando na produção de deliciosos rosés a excelentes preços. De todo o Languedoc, Minervois é a região que mais coloca no mercado rosés de qualidade. Em todas essas regiões ao sul da França, as uvas que têm destaque são a Grenache (a mais importante de todas), a Cinsault e a Mourvedre. Podemos encontrar bons vinhos rosés em Bordeaux e no vale do Loire. Nessas regiões, as uvas mais utilizadas são os Cabernets (Sauvignon e Franc) e a Merlot. Mais raros e de excelente qualidade são os pouquíssimos rosés da Borgonha, produzidos a partir da Pinot Noir.

Na Itália, o vinho rosé está consagrado e tem seu lugar garantido na tavola. A produção de rosés é forte no sul da bota, mas quando falamos de qualidade três regiões devem ser destacadas na produção de rosés de qualidade. A Toscana vem produzindo a cada dia melhores vinhos rosados a partir Sangiovese. A região do Lago de Garda tem na uva Gropello um ícone para produção de rosés especiais. Por último, no norte da Itália, mais especificamente no Alto Ádige, há excelentes rosés à base das uvas locais Moscato Rosa e Lagrein.

Em Portugal, os rosés deliciosos estão por toda a parte. Os destaques são os rosados do Douro, Estremadura e Ribatejo. Normalmente os rosés apresentam pouca intensidade aromática, o que, aliás, faz com que seja mais fácil apreciá-los gelados e sem muito compromisso. Em relação à variedade de uvas utilizadas nos vinhos rosados portugueses encontram-se muitos à base de blends, bem como varietais de Touriga Nacional, por exemplo.

Na Espanha, os rosados são quase uma religião. Talvez o país tenha sido o que menos sofreu com o preconceito do rosé. O consumo deste vinho sempre esteve em alta. As regiões de destaque são Rioja, Navarra e Penèdes. Assim como na França, quem comanda por aqui é a Garnacha (nome da Grenache na Espanha), seguida das Tempranillo e Merlot.

Os nossos vizinhos, Chile e Argentina, produzem cada vez mais rosés à base de vários tipos de uvas, tais como Cabernet Sauvignon e Malbec. Normalmente, esses vinhos são de cor e corpo mais intensos se compararmos aos delicados vinhos da França.

No Brasil apesar dos vinhos rosés representarem a categoria de vinhos que tem crescido mais rapidamente ao redor do mundo nos últimos anos. E os números não mentem, entre 2002 e 2018, o consumo mundial de rosés cresceu um acumulado de cerca de 40%. Porém, ao mesmo tempo em que ganham maior espaço, estes vinhos ainda sofrem com certo preconceito.

Talvez o principal fator seja o histórico dos vinhos rosé. Por muito tempo vinho rosé no Brasil era quase sinônimo de vinho simples, barato e, ainda pior, um vinho mal elaborado. Para muita gente, vinho rosé virou sinônimo de vinho de piscina, aquele que só presta para ficar no baldinho de gelo, para matar a sede. Ou ainda pior, para receber uns cubinhos de gelo, para ficar ainda mais refrescante.

Em um certo sentido, esta experiência pode ser comparada com a do vinho alemão no Brasil, que por muito tempo foi quase sinônimo de vinho branco doce e enjoativo. Por conta de anos de importação dos vinhos Liebfraumilch, em sua esmagadora maioria doces e de qualidade discutível, todos os vinhos alemães acabaram sendo penalizados. Felizmente, hoje em dia, porém, a qualidade dos vinhos alemães já é de conhecimento da maioria.

Ajudar o consumidor a compreender melhor os vinhos e mostrar alternativas diferentes resolveu esta questão. Da mesma forma, isso precisa ser feito com os vinhos rosé. Assim como qualquer vinho, a qualidade do vinho rosé varia bastante. Há rosés ótimos e rosés muito ruins, da mesma forma como acontece com brancos ou tintos.

O que harmoniza com vinho rosé?

Para pensar na harmonização do vinho rosé, se pode seguir dois caminhos:

1 - Observar a tradição de seus criadores;

2 - Analisar friamente suas características.

E, claro, seguir os dois caminhos. Porque, por mais que enologia seja ciência, a sabedoria popular tem sempre seu papel de importância. Quanto à tradição, a regra é clara: o vinho rosé é perfeito para frutos do mar. Seu frescor e vitalidade harmonizam perfeitamente com esses alimentos.

E sequer há debate: em todo restaurante costeiro europeu, o vinho rosé ocupa a esmagadora maioria das mesas. Há, inclusive, quem o nomeie “vinho de laranja”, embora seja puramente de uvas. Verdade seja dita: o gosto popular, muitas vezes, nos entrega maravilhas. E este é o aporte comum, com relação ao vinho rosé.

Já na enologia, o esse vinho brilha por sua versatilidade. Combina com pratos leves, como saladas e carnes brancas e magras. Mas, por sua vez, também merece espaço em outros ambientes. Isso ocorre por conta da leve adstringência que promove. É como dissemos: nem branco nem tinto. Ele possui o melhor de dois mundos.

Dessa forma, o ressecamento tânico do vinho rosé o torna único. Ele consegue ocupar espaços que o vinho branco não poderia. E, apesar disso, não perde seu lugar, nas refeições leves. De petiscos a carnes mais pesadas; das saladas tropicais ao churrasco; do mexilhão ao porco, o vinho rosé pode e deve ser provado.

Essa qualidade versátil, que o torna coringa, dá, a ele, o sobrenome de “vinho do verão”. Encorpado ao ponto de agradar os fãs do tinto; leve e frutado na medida certa.

Dia internacional do rosé: Rosé Day

Os rosés ganharam uma data para comemoração própria: toda quarta sexta-feira do mês de junho. Neste ano de 2021, portanto, o Dia Internacional do Rosé é celebrado no dia 25. A data teria sido idealizada pela proprietária dos Châteaux Roubine e Sainte Béatrice, ambos localizados na região de Provence, na França, o berço do vinho rosé.

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/rose-o-vinho-tipico-do-verao_6679.html

“Forbes”: https://forbes.com.br/colunas/2021/03/carolina-schoof-centola-a-origem-dos-vinhos-roses/

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2012/02/15/voce-sabe-e-um-vinho-clarete/

“Master Vinho”: https://mastervinho.com.br/vinho-rose/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=vinho-rose

“O Globo”: https://gq.globo.com/Shopping/noticia/2021/06/dia-internacional-do-rose-7-rotulos-para-brindar-data.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/provence-um-guia-rapido-sobre-regiao-dos-roses_12975.html

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vinho-rose-consumo-cresce-mas-preconceito-continua-no-brasil/

 

 

 

 


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos 2016

 

É flagrante a minha predileção e diria amor pelos rótulos da região de Lisboa em Portugal. Confesso que me torno, as vezes, redundante com os meus comentários que são textualizados em minhas resenhas sobre os vinhos dessa região que degustei e gostei, mas, convenhamos é melhor ser redundante do que omisso! Nada melhor do que expressar em palavras o que sente quando tem vinhos de Lisboa disponível em nossa taça, para o nosso deleite.

E, mais uma vez, é chegado o momento de degustar mais um vinho dessa região e um rótulo que aguardei por muito tempo para tê-lo em minhas mãos. Foi um vinho particularmente difícil de encontrar e os poucos sites especializados que o ofertam, claro, estão em um valor demasiadamente alto, claro, estamos em um país que não privilegia a cultura do vinho em todos os seus aspectos.

Mas enfim consegui encontrar em um site um valor minimamente atraente para compra-lo e o fiz. E como sou ávido por conhecimento, busquei alguma informação, na página oficial do produtor, Quinta do Gradil (Parras Wines), e li algo muito importante e que reflete a importância da vinícola preocupada em entregar rótulos para enófilos que expresse o terroir, com tipicidade, a busca da melhor relação qualidade X preço. E fala algo que considero de suma importância e que faz com que apreciadores de vinhos da região, como eu, a tenha no coração, consolidando o tal vínculo afetivo que mencionei no início: “A afirmação dos vinhos de Lisboa” ou ainda “Lisboa em garrafa”.

E é com esse intuito, com essa filosofia que os vinhos lisboetas atravessam os tempos e se reafirma, a cada dia, como uma das mais proeminentes, arrojadas e modernas regiões vitivinícolas de Portugal, pois retratam a cultura de sua terra, do seu povo e que expressa, lá vem ele de novo, o seu terroir. Mas apesar dessa introdução com um caráter meio conclusivo eu falo do vinho que degustei e gostei que veio, claro, de Lisboa, Portugal e que se chama Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos em um blend composto pelas castas Touriga Nacional (50%), Syrah (30%) e Tinta Roriz ou Tempranillo na Espanha (20%) da safra 2016. 

E para ser, com todo o prazer, redundante, ou melhor, amoroso, enamorado por Lisboa, falarei sobre a região expondo, de forma retumbante, a sua gloriosa história e contribuição para a vitivinicultura lusitana e que o mundo agradece.

Lisboa

A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. Os vinhos feitos em Lisboa, em grande parte, pertencem a cooperativas, com uma grande variedade de estilos e qualidade. Esta região, onde o "vinho regional Lisboa" é predominante, tem nove DOC´s (Denominações de Origem). O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. O conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a partir do século XIX com a industrialização e recentemente pelo sistema viário que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades de espaço designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do vinho.

A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada para recuperar a produção vinícola.

Lisboa

A região dispõe de grande pluralidade de condições de cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação, regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica, espumantes e de uso na mesa.

A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte central e Encostas D’Aire ao norte.

É surpreendente que duas históricas denominações da região de Lisboa estejam diminuindo com o tempo, Na região denominada Carcavelos, muito famosa por seus vinhos doces, a maioria das vinhas deram lugar a edifícios. Na denominação Colares, que fica próxima a Cascais, e produz praticamente sobre dunas de areia protegidas por quebra-ventos, encontram-se cada vez menos vinhedos, embora produza vinhos cuja alta acidez lhe permite uma guarda muito longa. Sua uva principal é a Ramisco tânico, dificilmente encontrada hoje em outra região.

A DOC Bucelas é a terceira menor e possui uma longa história na produção de vinhos. A região tem crescido nos últimos anos e ficado mais em evidência pela melhoria de qualidade de seus produtos, especialmente os brancos, considerados dos melhores de Portugal.

Ao norte de Bucelas, ainda no interior, encontra-se a pequena região de Arruda. É como se fosse um delicioso país de conto de fadas: montanhas, um antigo castelo em ruínas, antigas estradas romanas, moinhos históricos (hoje em dia equipados com modernas turbinas eólicas), e vinhedos, principalmente de uvas tintas. Desde 2002, os vinhos DOC Arruda podem incluir uvas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, assim como algumas uvas de classe de outras regiões de Portugal como a Touriga Nacional e Touriga Franca. O mesmo vale para as outras regiões DOC na parte central da área do Vinho Regional Lisboa: Alenquer, Torres Vedras e Óbidos. Neste clima ameno, as uvas podem amadurecer com tranquilidade e produzir muito bons vinhos com boa concentração e acidez.

Ao norte de Arruda, a DOC Alenquer está protegida dos ventos atlânticos pelos montes calcários da Serra de Montejunto. Os produtores altamente motivados, conscientes da qualidade do micro clima único de Alenquer. Na DOC Torres Vedras, é mais frio para o lado do mar da Serra de Montejunto, especialmente no flanco ocidental da região, onde a brisa do mar é mais forte. Esta é uma fonte de vinhos brancos secos, incluindo o de baixo teor alcoólico conhecido como Vinho Leve. Ao norte de Alenquer a área DOC Óbidos, possui uma bela cidade medieval ainda murada na sua face norte. A região produz vinhos brancos e alguns dos melhores espumantes em Portugal, alem de alguns tintos leves e elegantes.

A oeste de Óbidos e tocada pela brisa atlântica, a DOC Lourinhã é uma região montanhosa, onde peras, maçãs , pêssegos e figos disputam espaço com os vinhedos. A região envolve a bela cidade de Leiria, o famoso centro de peregrinação de Fátima e os mosteiros fabulosos da Batalha e Alcobaça, ambos eleitos como Patrimônio Mundial da UNESCO. Seus vinhos brancos e tintos são leves, frescos e pouco alcoólicos.

Lisboa e suas sub-regiões

O clima é temperado em virtude da influência atlântica e não apresenta grandes amplitudes térmicas. Os verões são frescos e os invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. As vinhas localizadas junto à linha da costa sofrem uma forte e decisiva influência do Atlântico, enquanto as vinhas plantadas no interior, protegidas da influência marítima pelos diversos sistemas montanhosos, beneficiam de um clima mediterrânico. O relevo não é muito elevado, exceto o sul, onde aparecem alguns estratos de basalto e de granito, assentando a região, quase na sua totalidade, em formações argilo-calcárias e argiloarenosas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rubi intenso, quase escuro e com entornos violáceos, com uma boa formação de lágrimas, finas e que mancham as bordas do copo.

No nariz protagonizam as frutas vermelhas tais como groselha, cereja e framboesas, trazendo um aroma jovial e pleno, além das notas de madeira, couro e baunilha bem discretas, graças aos 3 meses que passou por madeira.

Na boca é intenso, saboroso, redondo, untuoso, preenche bem a boca, com as notas amadeiradas na dosagem certa, para que a fruta ganhe destaque como no aspecto olfativo. Taninos presentes, mas domados, acidez vivaz que garante frescor ao vinho e um agradável picante. Um final persistente e frutado.

“Castelo do Sulco surge como resposta a uma tendência cada vez maior para o consumo de vinhos de qualidade por consumidores cada vez mais informados e em busca de propostas com a melhor relação qualidade-preço. A marca aposta na afirmação dos vinhos de Lisboa, tendo mesmo assumido a assinatura “Lisboa em Garrafa”, como selo de qualidade e reforçando um hype que a capital tem vindo a registrar internacionalmente. É uma marca democrática, uma oferta para jovens, turistas, amantes de boa gastronomia, da movida Lisboeta, de convívios entre amigos. É um pouco de Lisboa dentro de uma garrafa”.

E com essas palavras sobre a proposta do vinho delineado pela vinícola não podemos dizer muita coisa apenas da personificação do amor que temos por Lisboa e seus vinhos, os seus rótulos que cada vez mais expressam com fidelidade a tipicidade às características dessas terras em todas as suas nuances, entregando as mais diversas propostas para o nosso deleite. O Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos personifica muito da versatilidade dos vinhos lisboetas: personalidade e a marcante austeridade dos vinhos portugueses com a fruta que traz o frescor e a maciez que atende aos mais diversos anseios e paladares. Um belo vinho que nos faz persistir e trilhar o caminho de novas experiências, com novos rótulos dessa tão importante região. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Parras Wines:

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Portugal by Wine”: https://www.portugalbywine.com/pt/regioes/info/lisboa_80/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Wines of Portugal”: https://www.winesofportugal.com/br/vinhos-e-turismo/wine-regions/lisboa/overview/

 

 

 

 

 

 

 

 

 






domingo, 20 de junho de 2021

Domaine de Cibadiès Pegasus Sauvignon Blanc 2019

Como sempre costumo dizer e o farei até o fim dos meus dias: Vinho é celebração, é estar com os melhores amigos para uma boa conversa informal e descontraída, é conhecimento, é a degustação na sua mais fiel e genuína concepção. Um grande amigo, de longa data, de uns tempos para cá, aderiu ao universo da vinho de uma forma intensa e incondicional e quando tomei conhecimento de sua decisão, fui tomado por uma incontida alegria. Além de nossas edificantes conversas sobre vários assuntos do cotidiano, iremos incluir o universo do vinho em nossas realidades.

E não contente apenas com a sua inserção no mundo do vinho e seus rótulos, decidimos consolidar com encontros regados a bebida de Baco e Dionísio e muitas conversas. A solidificação da nossa amizade e as viagens mais do que prazerosas nas histórias que permeiam os vinhos que degustamos e certamente gostamos. Nasce a “Confraria Marginal”. Somos apenas nós dois, um pequeno e discreto número, mas significativo na sua relevância e mais contundente, forte e que será eterno enquanto durar, já dizia o trecho daquela música tupiniquim. E agora vem aquela pergunta que o nobre leitor deve se perguntar neste momento: Mas por que “Confraria Marginal”?

Não somos convencionais, não usamos vinho para escorar status econômico, não usamos o vinho como fator de subjugação, amamos o vinho pelo que ele é, pelo fator cultural, pela busca do conhecimento e sobretudo pelo fator sensorial e as suas gratas experiências, então somos marginais, estamos à margem desses conceitos tortos e posturas lamentáveis, mas sonhamos com uma quebra de paradigmas nessa triste cultura.

E depois da especial degustação inaugural da primeira e estabelecida Confraria Marginal, o Domainde Cambos Cuvée Jean D’Augergne da safra 2017, vem agora, para fechar com honraria e dignidade um vinho de uma das minhas mais novas regiões favoritas: Languedoc-Roussillon, não poderia faltar um rótulo desse especial pedaço de terra da França. Uma região que não tem a badalação de Bordeaux ou Vale do Rhône, por exemplo, inclusive tem vinhos cujo valor é baixo em comparação a essas regiões, o que pode minimizar a sua relevância para a vitivinicultura francesa, mas são vinhos altamente competitivos em relação aos grandes e tradicionais terroirs franceses com vinhos de atraentes custo X benefício.

O vinho que degustei e gostei, como disse, com alegria e orgulho veio do Languedoc-Roussillon, na França e se chama Domaine de Cibadiès Pegasus da casta Sauvignon Blanc da safra 2019. Não quero, pelo menos ainda, falar sobre o vinho, mas quando o desarrolhei fui tomado por uma atônita revelação: Um Sauvignon Blanc totalmente diferente, totalmente atípico dos que costumamos degustar do Chile ou da Nova Zelândia, por exemplo, cujos vinhos são mais ácidos ou com alguma estrutura. Mas falemos um pouco da velha e necessária Languedoc-Roussillon, afinal, nunca é redundante falar do que gostamos.

“Pays D’Oc” ou simplesmente os vinhos do Languedoc-Roussillon

Com vinhedos cultivados desde o ano 125 a.C., Languedoc-Roussillon é uma das regiões vinícolas mais importantes da França, responsável por ¼ de todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários autores, como a inglesa Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores relações qualidade e preço de toda a França. Boa parte da produção é dedicada aos famosos e saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC (Apelação de Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du Langedoc. Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de fruta e sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional, perfeitos para acompanhar as refeições. Languedoc-Roussillon é uma vasta área vitivinícola, que traz um acentuado toque mediterrâneo e um rico histórico de cultivo de vinhas e produção de vinhos, um ciclo que teve início há mais de 2.000 anos com as colônias gregas e romanas.

Languedoc-Roussillon

Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos, originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet, entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação, outras estão conquistando aos poucos seu espaço perante o mundo do vinho. Com um solo bastante fértil, as uvas tintas encontradas com maior facilidade na região francesa são a Syrah, Grenache, Cinsault, Carignan, Merlot e Cabernet Sauvignon. Entre as variedades brancas, encontram-se Rolle, Clairette, Terret, Boubolenc, Muscat, Maccabéo, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Picpoul, Marsanne e Viognier. A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os exemplares tintos vãos desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos. Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados. A tradição de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de constante evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada produtora, dando origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo. Atualmente o Languedoc vem se tornando tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados a preços convidativos. De trinta anos para cá vinicultores pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos vinhos populares. No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos apimentados da Grenache.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo brilhante e reluzente tendendo para um dourado com discretas formações de finas lágrimas que logo se dispersam.

No nariz sente-se uma explosão aromática de frutas brancas, cítricas e tropicais e um curioso e interessante dulçor, talvez pêssego em calda, com notas de pera, maçã verde e abacaxi.

Na boca é jovem, fresco e saboroso, as notas frutadas se reproduzem no paladar como no aspecto olfativo, um bom volume de boca, uma acidez agradável, que traz a sensação de leveza e elegância, com um bom final de boca e retrogosto frutado.

A nossa primeira confraria estabelecida e temática foi fantástica! Fizemos uma pequena viagem por algumas das mais emblemáticas terras francesas por intermédio de generosas taças de vinhos, contemplando agradáveis rótulos. Languedoc-Roussillon continua me surpreendendo positivamente com seus belíssimos rótulos com seu excepcional custo X benefício comprovando definitivamente que vinho francês para ser bom não precisa necessariamente ser caro! O Languedoc-Roussillon nos brinda com essa máxima. E além do fator monetário esse rótulo me surpreendeu de uma forma inacreditável. Esta fora da realidade dos Sauvignon Blanc que degustamos no Chile, tido como os melhores do mundo. Tem um aroma e paladar adocicado sem soar enjoativo, uma acidez instigante que quando preenche pela boca se faz presente, se intensifica, mas quando engolimos o vinho se fecha, dando lugar a um final persistente e frutado. Um belo vinho diferente! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vignobles  Bonfils:

Localizada no Sul da França, a Vinhedos Bonfils é resultado de uma história de lutas e conquistas de homens e mulheres que há 5 gerações, trabalham pela paixão de promover a excelência do bom vinho. Uma família unida pela determinação e paixão por desafios desde o século XVII. Tudo começou em 1870 com o jovem professor Joseph Bonfils quando ao participar do “Commune Paris” – movimento contrário ao regime político francês da época – foi exilado na Argélia. Lá ele conheceu Honorine Duvaux, que veio a tornar-se sua esposa e a ser a primeira mulher a receber uma medalha de honra ao mérito agrícola. É Honorine que monta uma fazenda agrícola com muitas vinhas e planta incansavelmente, iniciando uma plantação de mais de 6 hectares de vinhas. A fazenda gerou resultado até a declaração da independência da Argélia, quando a propriedade do casal foi nacionalizada e foram forçados a voltar para a França.

Joseph e Honorine recomeçaram a plantação de vinhedos aos pés do Mont Ventoux e Dentelles de Montmirail, sem saber que estavam começando uma história que seria perpetuada por gerações. O filho do casal, Abel, desde criança continuou a tradição da família e logo passou a introduzir o filho Jean Michel Bonfins, nas vinhas e adegas da família. Jean seguiu os passos dos avôs e de seu pai, que se instalaram perto de Béziers, onde se deu a construção da Vignobles Bonfils, que trazia a marca da força da fabricação artesanal de vinhos. Depois disso, Jean Bonfins, aproveitando todas as oportunidades que surgiam, fez crescer o patrimônio da família e comprou de volta as vinhas de Languedoc, que no passado pertenciam aos seus avôs, somando assim 10 hectares de plantação de uvas bem selecionas e especiais. Em 1978 comprou os terrenos do Domaine de Cibadiés e Capestang No Hérault, atual sede da Vignobles Bonfils. Logo depois, em 1990, o filho de Jean Bonfins, Laurent Bonfins, com apenas 25 anos de idade e recém-formado, assumiu o comando do Cibadiés Domain. Com a ajuda de seus irmãos Olivier e Jerome, um na supervisão e auxiliando na administração das vinícolas e outro na direção e gerência de marketing da Vignobles Bonfils, uniram experiência e competência para tomarem as principais decisões e impulsionarem ainda mais os negócios.

As vinhas da família Bonfils estão localizadas em terrenos que oferecem ótimas condições de solo e clima que favorece a qualidade das uvas atendendo as exigências do mercado, mas principalmente a marcante preocupação da família. As videiras são cultivadas seguindo rigorosos padrões que vão desde analise das condições do solo até a seleção de tamanho e estado de maturação da fruta. Sendo feita a colheita manual em algumas áreas, há também a preocupação que os frutos não recebam excessivo calor do sol e onde são observados todos os cuidados com os impactos ambientais. As adegas são equipadas com equipamentos modernos de ultima geração que contrastam com arquitetura original. Todos estes cuidados dão origem a vinhos autênticos, de excelente qualidade, de sabor exótico e incomparável. Os vinhos da Bonfils são orgânicos, ou seja, não recebem adição de produtos químicos ou influencia de maquinário pesado sendo distribuídos em 35 países e tendo reputação premiadíssima. O que provém da ideia impressa nas palavras do próprio Jean Michel Bonfils: “Não há nenhum grande vinho sem um bom vinhedo e sem respeito pela terra que a alimenta”.

Atualmente, os vinhedos Bonfils são constituídos por mais 1800 hectares distribuídos em 23 vinícolas (incluindo 3 castelos) e oferecem 16 castas diferentes de uvas especiais e selecionadas garantindo a alta qualidade dos vinhos. À frente da vinícola hoje estão: Olivier, Jerome, Laurent e Christian Bonfils, membros da 5ª geração da família, formados em Borgonha/França, onde adquiriram vasta experiência em viticultura e enologia. Conseguem mesclar castas e aproveitas as expressões minerais dos solos onde cultiva de forma memorável, o que leva seus vinhos a exprimirem sabores únicos. Eles se valem da paixão e respeito incondicional pela terra, passada de geração em geração, levando em mente a ideia de cultivar vinhas com uvas da mais alta qualidade, respeitando o terroir em sua máxima expressão.

Mais informações acesse:

https://bonfilswines.com/fr/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vignobles-bonfils-tradicao-e-amor-pela-terra/

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/o-que-e-vin-de-pays/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/o-vinho-de-languedoc_8053.html

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/languedoc-roussillon