sábado, 16 de abril de 2022

Couveys Les Petits Greniers Malbec 2018

 

Em 17 de abril comemora-se o “Malbec World Day”! A representatividade desta variedade é evidente e importante para o universo vitivinícola, haja vista que tem um dia para chamar de seu e, claro, que esta semana não poderia faltar a degustação de um exemplar desta cepa que merece todas as reverências possíveis.

Claro que para alguns é uma casta já manjada e para outros já está até saturada. Sou um entusiasta das novas experiências sensoriais, da busca de novos rótulos, novas regiões, novas castas, mas não podemos negligenciar as clássicas, as suas histórias.

A da Malbec é digna de uma cepa que passou por provações, pela temida praga da Filoxera e que passou a reinar em outros terroirs se tornando a rainha das uvas tintas e um desses lugares é a Argentina, onde reina absoluta, embora encontre na França o seu berço natural.

E Cahors, no sul da França, bem próxima a emblemática região de Bordeaux, foi que surgiu a Malbec e que logo pereceu por conta da praga da Flioxera que afetou toda a Europa no século XIX e que migrou para Mendoza, na Argentina, encontrando seu novo terreno, sua nova morada.

Mas o vinho que escolhi para homenagear a Malbec não vem de Mendoza, que seria uma escolha natural e certa, não vem de Cahors, que está crescendo em qualidade e retomando a sua produção, mas de uma região francesa que, a cada dia, vem ganhando notoriedade e importância dentro do cenário vitivinícola francesa: Languedoc-Roussillon.

Sim! Jamais esperaria encontrar um Malbec dessas regiões e quando, como por acaso, encontrei esse rótulo à venda não hesitei em compra-lo, apesar de pouco ter de referência sobre o mesmo na grande rede. Eu precisava viver essa experiência que tinha, em meu íntimo, de ser especial.

 E foi! Ah como foi! Que vinho interessante! Que vinho pouco atípico fazendo um paralelo com o Malbec famoso de Mendoza! Mas é isso que estimula aquele que busca novas aventuras sensoriais! Quando compramos, garimpamos vinhos diferentes, inusitados, pouco usuais, queremos, evidentemente, novas experiências sensoriais. Algo novo é a tônica!

O vinho que degustei e gostei, como disse veio do Languedoc-Roussillon, da França, e se chama Couveys Les Petits Greniers, da casta Malbec, safra 2018. Não esperem sequer semelhanças com o Malbec de Cahors, onde quase não se nota as frutas. Neste exemplar do Languedoc percebe-se as frutas vermelhas, bastante frutado, que traz mais sabor, um equilíbrio agradável em boca e no nariz, sem aquele corpo e estrutura que notamos nos Malbecs argentinos. Mas antes de falar diretamente do vinho falemos um pouco do “Malbec Day” e consequentemente da história gloriosa da casta e a sua importância para o universo do vinho e, claro, de Languedo-Roussillon.

Malbec Day

Comemorado pela primeira vez em 17 de abril de 2011, o Dia Mundial do Malbec, conhecido como “Malbec World Wine” é uma iniciativa global criada pela Wines of Argentina que busca posicionar o Malbec argentino como um dos mais importantes do mundo e comemorar o sucesso da indústria vinícola nacional. Esse evento histórico e cultural que promove, globalmente, contou, na sua primeira edição, com a participação de mais de 72 eventos, em 45 cidades de 36 países diferentes.

Embora a Malbec tenha conquistado a Argentina foi na França que nasceu. Abrangendo uma região que se estende de Bergerac aos Pirineus (cordilheira que separa a França da Espanha), essa porção de terra, conhecida também como Gasconha, possui a maior diversidade de castas vitivinícolas de todo o território francês. Além da Malbec - mais conhecida por Auxerrois e Côt Noir - encontram-se por lá a Tannat, a Fer Servadou, a Negrette, a Duras, a Petit Manseng, a Gros Manseng, a Mauzac e várias outras. Isso se citarmos apenas as uvas tintas, que representam 80% da produção regional. Os vinhedos se espalham pelas subregiões de Madiran (Tannat principalmente), Tursan, Bergerac, Côtes de Bergerac, Côtes du Marmandais, Monbazillac, Gaillac, Fronton, Cahors e outras menos importantes. Por elas, correm os rios Lot, Cahors, Bergerac, Gaillac, Fronton, Puzat e Marmandais, a maioria deles tributários do estuário do rio Gironda.

Cahors

Seus vinhedos acompanham o caminho desses rios. Parte do sudoeste francês e bem próxima à Bordeaux, Cahors sofreu forte influência de seu poderoso vizinho em sua dramática história. O vinhedo foi criado pelos romanos e, durante a Idade Média, seu prestígio teve expressivo crescimento. O casamento de Eleanor de Aquitânia com Henrique II, rei da Inglaterra, abriu as portas do grande mercado consumidor inglês, antes dominado pelos vinhos de Bordeaux.

No entanto, os poderosos produtores e comerciantes bordaleses, sentindo-se ameaçados, mobilizaram-se para pressionar Londres e conseguiu arrancar do rei da Inglaterra alguns privilégios exorbitantes, o que resultou num duro golpe para os produtores gascões. Além de sofrerem pesada taxação, os vinhos do sudoeste só podiam chegar à capital inglesa depois que toda a produção bordalesa estivesse vendida.

Tal regra durou cinco séculos (foi interrompida apenas em três curtos períodos) e o vinho da região sentiu o golpe. Esta conduta só foi abolida em 1776, pelo liberal ministro de finanças de Luís XVI, Jacques Turgot, quando se iniciou um novo ciclo dourado dos fermentados de Cahors. Apesar da Revolução Francesa e das guerras do Império já no século XIX, 75% do vinho da região era exportado e um terço das terras agricultáveis era dedicado à vinha, que cobria a impressionante área de 40 mil hectares. A região enfrentou bem a praga do oídio (de 1852 a 1860) e a superfície plantada subiu ainda mais, chegando a 58 mil ha. Para se ter uma ideia da queda que viria mais tarde, a área do vinhedo de Cahors hoje é de apenas 4.200 ha. Mas o território teve pior sorte ao enfrentar a filoxera no final do século XIX. Como se sabe, todos os vinhedos atacados no mundo tiveram de ser replantados, desta vez, de forma enxertada.

Então, as vinhas de Malbec reagiram muito mal a esta nova situação, dando origem a fermentados medíocres, com qualidade muito abaixo da que tinha anteriormente. Apenas no final dos anos 1940, depois de muita pesquisa, chegou-se ao clone 587 da Malbec, que teve muito boa adaptação. Assim se retomou, então, sua marcha ascendente até chegarmos a 1971, quando Cahors é declarada região AOC (Appellation d'Origine Contrôlée, denominação de origem controlada). A região está renascendo.

Assim como no Brasil, os primeiros exemplares de vitis vinifera, a uva própria para produção de vinho, chegaram à Argentina no início do século XVI junto com os seus colonizadores. No entanto, foi só em 1551 que o cultivo da uva se espalhou por toda a região. As condições climáticas e o solo dos arredores dos Andes favoreceram muito a agricultura dos vinhedos e, impulsionada pelos monastérios que precisam produzir vinho para a celebração das missas.

Junto com a cultura espanhola desembarcou na Argentina uma forte tradição católica, e a vitivinicultura se beneficiou enormemente de ambas. No século XIX chegou à região uma nova onda de imigrantes europeus que trouxeram em suas bagagens novas cepas estrangeiras e muita tradição na produção de vinhos, como os italianos. Os europeus recém-chegados encontraram em Los Andes e no Vale de Rio Colorado os locais ideais para começar o seu próspero cultivo, e ali se estabeleceram. Entre 1850 e 1880 a produção de vinhos argentinos começou a mudar de forma. Com a integração do país à economia mundial, a chegada da industrialização e a abertura de múltiplas ferrovias cortando a região, o que antes era uma agricultura voltada para a produção de vinhos tomou forma de uma indústria do vinho.

Em 1853 foi criada a Quinta Normal de Agricultura de Mendoza, a primeira escola de agricultura do país, por meio da quais novas técnicas de cultivo de vinhedos foram implementados na região, como o uso de máquinas e modernas metodologias científicas. O seu fundador foi, claro, um francês, chamado Michel Aimé Pouget, conhecido também por Miguel Amado Pouget.

Michel Aimé Pouget ou Miguel Amado Pouget nasceu na França em 1821. O engenheiro agrônomo emigrou primeiro para o Chile e depois para Mendoza, na Argentina. No Chile trabalhou em Villuco, na propriedade de José Patricio Larraín Gandarillas, que apresentou todas as notícias europeias e americanas em questões agrícolas em sua terra natal. Sua fazenda chamada Peñaflor era um verdadeiro livro de amostra aplicado ao trabalho da terra. Já em 1844, ele teve a glória de trazer de Milão (Itália), vinte e cinco colmeias, das quais apenas duas chegaram com abelhas. Este estabelecimento escasso foi a base da apicultura chilena e depois da Mendocina. Gandarillas contratou os serviços do especialista apicultor D. Carlos Bianchi para restaurar seu apiário punido e colocar o sábio agricultor Miguel Amado Pouget à frente de suas plantações. Pouget realizou milagres nas propriedades de Larraín Gandarillas, Santiago do Chile e Villuco. Ele fez extensas plantações de acordo com os mais recentes avanços da ciência francesa e introduziu inúmeras variedades em horticultura, jardinagem e arboricultura.

Miguel Amado Pouget

Em 1852, o presidente da Argentina à época, Domingo Faustino Sarmiento se estabeleceu em Mendoza e propôs ao governador Pedro Pascual Segura a contratação do engenheiro agrônomo francês Michel Aimé Pouget. Ele próprio aceitou a proposta e se estabeleceu em Mendoza, em 1853. Modelada na França, a iniciativa propunha a adição de novas variedades de uvas como um meio de melhorar a indústria vinícola nacional. Em 17 de abril de 1853, com o apoio do governador de Mendoza, foi apresentado um projeto ao Legislativo Provincial, com o objetivo de estabelecer uma Escola Agrícola e Quinta Normal.

Este projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 6 de setembro do mesmo ano. Portanto, Pouget plantou em Mendoza com Justo Castro inúmeras variedades de uvas originárias de seu país de origem: entre elas estava o Malbec, uma variedade que os antigos viticultores gostaram muito pelo seu alto rendimento, sua saúde, e a boa cor de seus vinhos e o Cabernet Sauvignon, Merlot, Semillon, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling e outros.

No final do século XIX, com a ajuda de imigrantes italianos e franceses, a indústria do vinho cresceu exponencialmente e, com ela, a Malbec, que rapidamente se adaptou aos vários terroirs e se desenvolveu com resultados ainda melhores do que em sua região de origem. Assim, com o tempo e com muito trabalho, surgiu como a principal uva da Argentina.

Para se ter uma ideia do crescimento da produção de vinho argentino nessa época, em 1873 o país contava com apenas 2.000 hectares de vinhedos, enquanto em 1990 a área cultivada chegou a 210.371 hectares. O sucesso exponencial da cepa aconteceu também após o início da década de 1990, sendo que em um período de 20 anos, até 2009, suas áreas de cultivo cresceram 173%, passando de 10 mil hectares para 28 mil hectares (hoje já são 33 mil). Do total, 26 mil hectares marcam presença em Mendoza, principal região vitivinícola do país, seguido por San Juan (1,9 mil hectares), Salta (702 hectares), Neuquén (587 hectares), La Rioja (523 hectares) e outras. Presente em praticamente todo o país, a uva emblemática da Argentina produz vinhos de diferentes estilos e com características que variam a cada terroir. Via de regra, pode esperar aromas de ameixas maduras e o frescor de folhas de menta de um típico exemplar. A Malbec também é famosa por seus vinhos encorpados, repletos de taninos potentes (usualmente amaciados pelo estágio em carvalho).

A região de Luján de Cuyo foi a primeira a ter uma denominação de origem controlada (DOC) nas Américas para a casta Malbec. Embora vigore há décadas a denominação de origem foi reconhecida oficialmente em 2005. Os vinhos produzidos sob esse rótulo são elaborados com Malbec, e procedentes da zona de Luján de Cuyo, na província de Mendoza. De cor muito intensa e escura, vermelho cereja, o Malbec Luján de Cuyo pode chegar a parecer quase preto, e tem aromas de frutas negras e de especiarias doces, com forte expressão mineral. Como o conceito de denominação de origem não é tão forte na produção de vinhos do Novo Mundo, onde o que costuma dominar é o conceito de classificação de vinhos conforme a composição, e não conforme o terroir, ainda são poucas as vinícolas que produzem vinhos rotulados como Malbec Luján de Cuyo.

O dia 17 de abril é, para Vinhos da Argentina, não apenas um símbolo da transformação da indústria vinícola argentina, mas também o ponto de partida para o desenvolvimento desta uva, um emblema para o nosso país em todo o mundo.

Languedoc-Roussillon

A região de Languedoc-Roussillon localiza-se no sul da França. Com um acentuado toque mediterrâneo e vinhedos que existem desde o ano 125 a.C., a vinicultura está presente em Languedoc-Roussillon há mais de 2.000 anos.

Languedoc-Roussillon é uma das regiões vinícolas mais importantes da França, responsável por ¼ de todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários autores, como a inglesa Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores relações qualidade e preço de toda a França.

Ela faz fronteira com a Espanha e é também chamada apenas de Languedoc. A origem do seu nome é curiosa. “Oc” era a forma de se dizer “sim” no sul francês, enquanto no norte se dizia “oïl”. Então o nome da localidade ficou Langue d’Oc, “língua do oc”.

Languedoc-Roussillon

Boa parte da produção é dedicada aos famosos e saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC (Apelação de Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du Langedoc. Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de fruta e sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional, perfeitos para acompanhar as refeições.

Por muito tempo, os vinhos produzidos no Languedoc eram para o consumo interno, a preços baixos. O prestígio veio depois, por volta dos anos 1980, quando os produtores elevaram a qualidade, chegando a exemplares de tipos variados, com destaque para tintos frutados e robustos, com excelente relação custo e benefício, o melhor da França.

Hoje Languedoc-Roussillon é responsável por um terço da produção de vinhos da França. Os vinhedos da região têm vista para o Mediterrâneo, com o clima perfeito para o cultivo, de verões ensolarados, poucas chuvas, ventos quentes e inverno ameno.

Com clima mediterrâneo, verões extremamente quentes e chuvas escassas, Languedoc-Roussillon é a região com maior incidência solar de toda a França: cerca de 325 dias de sol por ano. Além disso, os ventos quentes aceleram o período de maturação das uvas, adicionando características únicas e marcantes aos vinhos.

Tradicionalmente, a Carignan é a uva de destaque, mas atualmente muitas outras têm brilhado. Grenache, Mourvèdre, Syrah, Merlot, Cinsault e Cabernet Sauvignon, entres as tintas. Picpoul, Muscat, Maccabéo, Clairette, Rollet, Bouboulenc, Sauvignon Blanc, Viognier, Marsanne e Chardonnay, entre as brancas.

A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os exemplares tinto vão desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos. Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados.

A tradição de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de constante evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada produtora, dando origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhante, com lindos reflexos violáceos e lágrimas grossas e lentas.

No nariz traz aromas com predominância nas frutas vermelhas, tais como ameixas, cerejas, morango e framboesa, com um toque terroso, algo de especiarias, como tabaco também.

Na boca é redondo, equilibrado, saboroso, frutado, tem um curioso adocicado, sem ser enjoativo, de leve para média estrutura, mais para leve, não traz a estrutura dos mendocinos e a rusticidade de Cahors, com boa acidez, taninos polidos e final persistente e retrogosto frutado.

Sobre a LGI Wines:

Criada em 1999, em Carcassonne, sul da França, a LGI Wines foi a visão de Alain Grignon dos mercados internacionais de exportação em relação à região vinícola de Languedoc. Ele queria agregar valor aos vinhos mais flexíveis da França, oferecendo uma excelente relação qualidade/preço, sejam marcas sob medida ou conceito.

Em 2013, quando Alain Grignon se aposentou, Xavier Roger e Cédric Duquenoy assumiram o comando, Xavier tornando-se Diretor Geral e Cédric Diretor de Vendas. Ambos se juntaram à LGI Wines no início de sua aventura, seu conhecimento dos clientes e parceiros de vinho os levou a substituir Alain e continuar criando vinhos franceses exclusivos com a equipe da LGI Wines.

Quase 20 anos depois, exploram toda a ciência da confecção de vinhos e conceitos de elaboração. A grande flexibilidade e agilidade os tornaram o principal criador francês de vinhos sob medida, entregando ótimos vinhos em todo o mundo.

Abençoados pela localização, no coração do Languedoc, trabalham em uma das maiores regiões produtoras de vinho do mundo. É um laboratório de vinhos fabuloso devido à sua incrível diversidade de climas, terroirs e parceiros de vinho, oferecendo uma gama completa de variedades de uvas locais a internacionais, desde técnicas de vinificação tradicionais até modernas. Ao longo dos anos, a LGI Wines criou uma forte parceria com muitos parceiros locais da Gasconha até a região de Languedoc.

A ampla variedade de variedades de uvas, climas e terroirs locais e internacionais nos permitiram criar quase todos os estilos de vinho; desde vinhos frescos, estaladiços, picantes, encorpados, de carvalho, a vinhos elegantes e minerais, procurando sempre a qualidade do vinho e a consistência gustativa, garantindo que os produtos finais se adequam perfeitamente aos gostos dos clientes. Os valores centrais dessas parcerias são compreender e compartilhar as preocupações de cada um seja sobre mudanças climáticas, experiência de vinificação ou conselhos diários. Estar perto dos produtores tem sido a chave para garantir o volume de vinho, consistência de qualidade e alcançar padrões internacionais de qualidade.

Mais informações acesse:

https://www.lgiwines.com/

Site Wines of Argentina: https://www.winesofargentina.org/en/about-us/marketing/mwd/

Site El Malbec: http://elmalbec.com.ar/michel-pouget-el-exiliado-frances-que-introdujo-el-malbec-en-nuestro-pais/

Site Vinos y Vides: https://www.devinosyvides.com.ar/nota/383-como-comenzo-la-vitivinicultura-en-argentina

Sites Mulheres Empreendedoras: http://www.mulheresempreendedoraspi.com.br/site/artes-e-cultura/por-que-malbec-por-marly-lopes/

Site Grand Cru: https://blog.grandcru.com.br/a-historia-do-vinho-na-argentina/

Site Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/um-renascimento-em-cahors_10037.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/cahors-outra-terra-da-malbec_439.html

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/languedoc-roussillon

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/10/languedoc-roussillon/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/languedoc-roussillon

 

 

 












quinta-feira, 14 de abril de 2022

Castelo de Borba Antão Vaz 2018

 

Sigo o meu prazeroso caminho pelo “descobrimento” das castas novas para mim e confesso, de forma escancarada e animada, de que essa trajetória está me trazendo revelações para lá de satisfatórias e quando elas são oriundas de Portugal, melhor ainda.

Não há como negligenciar que Portugal nos entrega uma profusão de castas autóctones que nuances extremamente peculiares. Me parece que a expressão regional, o apelo regionalista é colocado de forma veemente nas castas e o terroir é a prova contundente disso.

Embora o termo terroir traga complexidade nas informações e que requer, consequentemente, um estudo aprofundado para compreensão na produção dos vinhos, quando degustamos um rótulo de uma casta do Douro, do Tejo, de Setúbal, de Lisboa, temos a exata percepção de suas origens.

E foi assim que Portugal foi entrando na minha vida enófila e aprendizado vem se consolidando não apenas degustando o vinho, o que convenhamos é o ápice, a intenção de tudo isso, mas o estímulo ao aprendizado, a busca da informação que edifica o conhecimento e o entendimento do blend típico, das castas que fizeram e fazem a história de cada região lusitana que as torna um mundo, um universo à parte.

E a degustação de hoje é um exemplo vivo das minhas linhas redigidas até o momento e ela vem de uma região que praticamente abriu as cortinas da Portugal visto pelo olhar do vinho! Sim! Do Alentejo! Talvez seja, junto com o Porto, com os seus vinhos licorosos, as regiões mais conhecidas e amadas pelo mercado consumidor brasileiro e pelo mundo.

Então por uma questão mercadológica a região alentejana tenha sido a primeira que me cativou! Mas não apenas por um prisma de mercado, mas porque ela é uma das melhores mesmo e isso não é uma opinião meramente calcada na afeição! É um fato! Região banhada pelo sol, quente, vinhos de estrutura, frutados, de personalidade!

Mas o de hoje é um branco, de uma casta que, pelas informações que obtive, só existe no Alentejo, somente nessa região em Portugal! Um privilégio para mim degusta-lo. E para meu deleite, que surpresa maravilhosa!

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio da ensolarada Alentejo, Portugal, e se chama Castelo de Borba da casta Antão Vaz e a safra é 2018. Já degustei alguns alentejanos com a Antão Vaz em blends, mas protagonizando é a primeira vez e que contato inicial satisfatório. Mas antes de falar do vinho falemos da história da Antão Vaz e sempre da região do Alentejo e sua sub-região, que leva o nome do vinho e da vinícola: Borba.

Antão Vaz

A uva Antão Vaz é uma das variedades brancas de Portugal e é cultivada principalmente em torno da região do Alentejo, com clima quente e seco. É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo.

É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo. A variedade é utilizada por inúmeros produtores, visto que se adapta e consegue expressar muito bem suas características no terroir de Alentejo. Os bagos da Antão Vaz são bem agrupadas e apresentam pele espessa, aumentando sua resistência contra doenças, bem como em regiões de seca.

Assim como a uva Chardonnay, a Antão Vaz é uma variedade extremamente versátil, dando origem a diferentes estilos de vinho. O tempo da colheita é um importante fator nesse contexto: se as bagas forem colhidas mais cedo, os vinhos originados apresentarão notas cítricas e boa acidez; se deixadas na videira por mais tempo, dão origem a exemplares com excelente capacidade de envelhecimento. De um modo geral, a Antão Vaz gera vinhos com notas cítricas e de frutas tropicais maduras, além de toques minerais (às vezes, alguma salinidade).

A maior parte dos vinhos são produzidos para consumo imediato, no entanto, alguns dos melhores vinhos Antão Vaz podem ser envelhecidos durante anos, permitindo que as notas e aromas florais evoluam da melhor maneira, tornando-se exemplares complexos e únicos.

Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados. Os vinhos estremes anunciam aromas exuberantes, com notas de fruta tropical madura, casca de tangerina e sugestões minerais, estruturados e densos no corpo.

Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados. Os vinhos estremes anunciam aromas exuberantes, com notas de fruta tropical madura, casca de tangerina e sugestões minerais, estruturados e densos no corpo. A uva Antão Vaz também é permitida na elaboração dos vinhos do Porto brancos.

Alentejo

A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente à 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Alentejo

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

Borba

Borba possui um longo passado histórico, como nome incontornável do vinho alentejano e português. As referências apontam para a existência de produção de vinho neste concelho em 1345, no entanto, é muito provável que já na época romana isso acontecesse, devido à influência marcante que este povo teve no desenvolvimento da cultura vínica alentejana.

A arquitetura tradicional reflete a cultura do vinho, com a existência de inúmeras casas de viticultores com tipologia arquitetônica característica dos séculos XVII e XVIII, constituídas por um piso superior para habitação e um piso térreo para a tradicional adega. Por outro lado, existe um riquíssimo património edificado, composto por solares e casas apalaçadas, que resultou da riqueza gerada pela produção de vinho desde o século XVIII.

Borba é a segunda maior sub-região do Alentejo (DOC – Denominação de Origem Controlada), alastrando-se ao longo do eixo que une Estremoz a Terrugem, estendendo-se por Orada, Vila Viçosa, Rio de Moinhos e Alandroal. A sub-regiões de Borba, uma das mais dinâmicas do Alentejo, detém solos únicos de mármore que marcam de forma permanente e determinante o temperamento dos vinhos. Borba possui uma área de vinha de cerca de 3500 ha e uma produção de aproximadamente 155.000 hl.

Borba

O microclima especial de Borba garante índices de pluviosidade levemente superior à média, bem como níveis de insolação ligeiramente inferiores à média alentejana, proporcionando vinhos especialmente frescos e elegantes. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um amarelo intenso, quase um dourado, com muito brilho e algumas formações de lágrimas finas e rápidas.

No nariz traz aromas calibrados de frutas de polpa branca bem madura, onde se destacam pêssego, maçã-verde, pera e algo cítrico como lima da pérsia, limão e um toque floral discreto e delicado.

Na boca é intenso, encorpado com as frutas brancas ainda em evidência, apesar dos seus 4 anos de safra, já em uma curva de quase decréscimo de evolução, mas ainda com uma boa drincabilidade, sobretudo pela acidez ainda vívida, com um álcool em evidência, mas que não desequilibra o conjunto e um final persistente e longo.

Talvez o Castelo de Borba seja um legítimo alentejano! Um vinho maduro, com aquelas frutas brancas maduras que lhe confere a já personalidade que precede os rótulos do velho Alentejo, que de velho nada tem, pois nos entregam vinhos contemporâneos que inundam as taças mais versáteis, dos que gozam de uma vasta litragem, os exigentes e aqueles que se aventuram a pouco tempo no universo cativante do vinho. Trata-se de um privilégio degustar a Antão Vaz, a casta das terras alentejanas, como já o fiz em outras situações quando ele se entrelaçou às demais castas típicas da região, mas agora ela protagonizando. Que venham mais alentejanos no sentido mais genuíno da palavra e concepção. Que venham mais Antão Vaz! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Borba:

Fundada em 1955, as raízes da Adega de Borba remontam a um passado ainda mais longínquo no qual Portugal não era considerado reino.

A vinha está presente no Alentejo há mais de 3.000 anos. Foi a partir do século XVIII que a produção de vinho em Borba floresceu, contribuindo para um acentuado crescimento econômico e social da região. Desde então, vários acontecimentos marcaram o setor vitivinícola: uns de forma positiva, como a implementação de técnicas mais modernas de produção, e outros de forma negativa, nomeadamente a destruição provocada pela Guerra da Restauração e Invasões Napoleônicas.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares.

Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Independentemente destas oscilações, a importância da vinha em Borba nunca se dissipou e foi sempre a grande cultura agrícola da região.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares. Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Cada um dos viticultores distingue-se pela oferta de um produto de qualidade, envergando na sua essência uma história que nos faz recordar as verdadeiras raízes do cultivo da vinha. É com base em cada um dos seus legados, da sua partilha de conhecimentos e da sua união que a Adega de Borba consegue hoje em dia colocar em prática o real conceito de Cooperativa.

Mais informações acesse:

https://adegaborba.pt/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/antao-vaz

“Vinha”: https://www.vinha.pt/wikivinha/section/casta-vinho/antao-vaz/

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/antao-vaz

“Mesa Completa”: https://www.mesacompleta.com.br/descubra-a-antao-vaz/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

 

 






sábado, 9 de abril de 2022

Família Silotto Cabernet Sauvignon 2019

 

Eu comecei a me interessar mais ferozmente, de forma mais veemente, pelos vinhos de pequenos produtores recentemente e o meu olhar para eles, para os seus rótulos, se deu graças aos vinhos brasileiros! Sim! Os vinhos brasileiros!

E não apenas pelo aspecto romântico da coisa, ou seja, por serem produtores familiares, de poucos recursos, de produções limitadas, mas para desmistificar o conceito de que vinho idôneo é aquele produzido por grandes, gigantes vinícolas com características de indústria.

Acredito, depois dos meus primeiros contatos com esses vinhos, de que sim, é possível degustarmos grandes e surpreendentes vinhos de produtores pequenos e artesanais, de vinhos de qualidade, que possa te trazer positivas surpresas, agradáveis e inesquecíveis.

E em um passado não muito distante tive o privilégio, a alegria de degustar um vinho artesanal, que jamais esperava ter degustado em minha vida de enófilo, de uma região que não é tida como um polo de produção vitivinícola do Brasil, chamada Serra Negra, que ficou no interior de São Paulo.

Então sem mais delongas vamos às apresentações desse rótulo que, já de imediato, digo que é especial: O Silotto da casta Cabernet Sauvignon da safra 2019, da região de Serra Negra, São Paulo. O vinho pertence a uma pequena adega pertencente a Família Silotto, considerada sim, como tradicional em Serra Negra.

Eu vou contar, brevemente, a história de como cheguei a esse produtor, cuja experiência eu já tive com a variedade Merlot, o Silotto Merlot 2019. Eu estava navegando pelas redes sociais e, como sempre, por acaso, visualizei uma publicação de uma pessoa que havia degustado o Silotto Merlot 2019 e tecendo ótimos comentários a respeito do mesmo. Nesta publicação vi a informação de que o vinho era artesanal. Isso me chamou a atenção.

Li também o site que o sortudo degustador obteve o Silotto Merlot: A Pemarcano Vinhos. Claro o acessei para conferir detalhes do vinho. Tive a grata surpresa de que o vinho estava com um valor muito atraente para o meu bolso, na faixa dos R$ 40,00! O comprei com outros rótulos e o degustei e gostei e muito!

O dono do site, o amigo Luciano, leu em minhas redes sociais a descrição do Silotto Merlot e, carinhosamente decidiu me presentear com o Cabernet Sauvignon na versão “seco” e, mais uma vez, me surpreendi positivamente com o rótulo da Família Silotto! Espero que o amigo Luciano continue me presenteando com os rótulos da Silotto (risos)!

Antes de falar do Silotto Cabernet Sauvignon 2019, falemos um pouco da região inusitada para a produção de vinhos, Serra Negra, bem como da breve história do Brasil vitivinícola e do conceito de vinho artesanal.

Serra Negra, o circuito das águas.

Encravada na Serra da Mantiqueira a 150 quilômetros da capital, em uma região de 927 metros de altitude com picos de até 1.300metros está localizada a Estância Turística Hidromineral de Serra Negra.

A cidade é cercada por montanhas da Serra da Mantiqueira, a vegetação é exuberante, compondo um cenário de extraordinária beleza natural. Em meio ao Circuito das Águas Paulista, Serra Negra possui um ambiente seguro e agradável. Aqui a tranquilidade e qualidade de vida estão presentes por meio da boa estrutura turística.

Serra Negra

A cidade possui uma das maiores redes hoteleiras da região do Circuito das Águas Paulista e por isso pode abrigar milhares de pessoas que fazem a população de visitantes aumentar durante as férias e feriados oferecendo total comodidade e conforto.

Além da exuberante riqueza natural, a cidade possui diversidade e amplos tesouros culturais, como a produção rural e a produção artesanal de queijos e bebidas.

Quem procura uma experiência única a Rota do Café, do Queijo e do Vinho excelente e rica opção de passeio. São 8 km de extensão, a estrada leva os visitantes para conhecer as delícias tradicionais e artesanais produzidas na cidade. Cada sítio é especializado em um produto, seja ele café, queijos ou vinhos.

Cidade de Serra Negra vista de cima

Breve história do Brasil vitivinícola e o conceito de vinho artesanal

O Brasil foi descoberto pelos Portugueses em 1500, e em 1532 Martim Afonso de Souza chegou com as primeiras mudas de videiras vitis viníferas que foram plantadas na Capitania de São Vicente, porém sem sucesso em função do clima e do solo. Mas Brás Cubas membro da expedição de Martim Afonso de Souza transfere as plantações do litoral para o Planalto Atlântico e em 1551 consegue elaborar o primeiro vinho brasileiro, mas sem muito sucesso, sua iniciativa não teve sequência devido as condições de solo e clima não serem adequados ao cultivo das videiras.

Em 1626 os Jesuítas chegaram à região das Missões e impulsionam a vitivinicultura no Sul do Brasil. O Padre Roque Gonzales de Santa Cruz recebeu os créditos pela introdução das videiras no Rio Grande do Sul, com ajuda dos Índios foi elaborado vinho utilizado nas celebrações religiosas.

Em 1640 foi promovida a primeira degustação no Brasil. A intenção foi de melhorar os vinhos comercializados no país. Em 1732, os Portugueses da Região do Açores, povoaram o litoral do Rio Grande do Sul e formaram-se colônias em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, plantaram mudas de videira provenientes do Açores e da Ilha da Madeira, mas as plantações não se desenvolveram adequadamente.

Em 1789 a corte portuguesa percebeu o grande interesse do Brasil pela vinicultura e proibiu o cultivo de uva no país, como forma de proteger a sua produção em Portugal. A medida inibiu a comercialização da bebida nas colônias e restringiu a atividade ao âmbito familiar.

Em 1808, quando da transferência da coroa portuguesa para o Brasil é derrubada à proibição ao cultivo da uva e são estimulados os hábitos no entorno do vinho, inclusive degusta-lo junto às refeições, encontros sociais e festas nas comunidades religiosas.

Em 1817, os gaúchos são considerados pioneiros na vinicultura e esse pioneirismo se materializa no lendário Manoel Macedo, produtor da cidade de Rio Pardo, até o ano de 1835 todo o vinho que produzia era documentado, em um dos anos ficou registrado a elaboração de 45 pipas, o que lhe rendeu a primeira carta patente para a produção da bebida no país.

Em 1824 tem início a colonização alemã e os mesmos tinham muito interesse em vinhos. Na mesma época o italiano João Batista Orsi se estabelece na Serra Gaúcha e recebe de Dom Pedro I a concessão para o cultivo de uvas europeias, torna-se um dos precursores do ramo na região.

Em 1840 pelas mãos do inglês Thomas Messiter, são introduzidas no Rio Grande do Sul as uvas Vitis Lambrusca e vitis Bourquina, de origem americana que são mais resistentes a doenças. Inicialmente foram plantadas na Ilha dos Marinheiros, na lagoa dos Patos e logo se espalharam pelo Estado.

Em 1860 a uva Isabel, uma das variedades americanas introduzidas no Rio Grande do Sul, ganha rapidamente a simpatia dos agricultores. Há registros de que, por volta de 1860 a uva Isabel formava vinhedos nas cidades de Pelotas, Viamão, Gravataí, Montenegro e municípios do Vale dos Sinos.

Em 1875 ocorre o grande salto na produção nacional de vinhos em função da chegada em massa dos imigrantes italianos, pois, trouxeram de sua terra natal o conhecimento técnico de elaboração dos vinhos e a cultura do consumo, os italianos elevaram a qualidade da bebida e conferem importância econômica à atividade.

Em 1881 foi elaborado 500 mil litros de vinho na cidade de Garibaldi no Rio Grande do Sul, este número consta em um relatório feito em 1883 pelo cônsul da Itália, Enrico Perrod, após sua visita à região. Em 1928 é criado o Sindicato do Vinho, essa iniciativa foi articulada por Oswaldo Aranha, então secretário estadual do Governador Getúlio Vargas.

Em 1929 o associativismo é adotado pelos agricultores e em um período de 10 anos, 26 cooperativas são fundadas, algumas como a Cooperativa Garibaldi atuam até hoje. O modelo da competitividade entre os pequenos produtores os direciona a uma situação de equilíbrio, tal equilíbrio é alcançado na década seguinte.

Em 1951 a vinícola Georges Aubert é transferida da França para o Brasil e marca o início de um novo ciclo. O interesse de empresas estrangeiras no país se consolida na década de 70 e trouxe novas técnicas para os vinhedos e para as cantinas, além de ampliar as áreas de cultivo da uva.

Em 1990 temos as vinícolas melhoradas, pois ao longo da década de 80 os vinhedos passaram por uma tremenda reconversão, e à partir da abertura econômica do Brasil a produção de vinho ganha impulso. O acesso a diferentes estilos de vinhos e a concorrência com os importados levaram os produtores a melhorar a qualidade.

Em 2002 a vitivinicultura está consolidada em diferentes regiões, do Sul ao Nordeste do país, cada zona produtiva investe no desenvolvimento de uma identidade própria. O pioneiro é o Vale dos Vinhedos, que conquista a Indicação de Procedência em 2002.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, com reflexos arroxeados, com lágrimas grossas e em profusão que desenham, marcam as paredes do copo.

No nariz explodem em aromas de frutas pretas e vermelhas bem maduras, onde se destacam cereja preta, amora e framboesas. A madeira figura discretamente, graças ao estágio de 6 meses em barricas de carvalho.

Na boca é seco, jovem, com média estrutura, a fruta madura em evidência, como no aspecto olfativo, tem taninos presentes, ótima acidez que saliva a boca e estimula a degustação, notas de terra molhada e madeira bem integrada, com final prolongado e frutado.

Sempre quis degustar um vinho artesanal! Esse longa distância se encurtou com o esforço, o interesse que, mesmo diante de olhar pessimista que nutri, ele veio de forma despretensiosa, de uma formal atípica, mas que construí com base no interesse que sempre pautou a minha enófila. A história desse rótulo, da Família Silotto é a personificação da rica, da prolífica história do Brasil dos imigrantes, do Brasil sofrido, de seu povo batalhador que, em um intercâmbio histórico, edificou a sua história vinífera. Degustar o Família Silotto Cabernet Sauvignon é como se estivéssemos degustando a história do Brasil e seus desdobramentos vínicos, mas com os pés calcados no presente, vislumbrando um olhar no futuro. Há sim lugar para os vinhos artesanais, para os vinhos produzidos por pequenos produtores que, apesar de pequenos, são gigantes para a construção de uma indústria do vinho em ascensão. Família Silotto Cabernet Sauvignon entregou as características mais essenciais da cepa, com os aromas de frutas vermelhas e pretas bem maduras, as notas especiadas, taninos presentes, boa acidez, um vinho redondo, equilibrado, porém com certa personalidade que a casta confere. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Silotto:

A História da família Silotto em Serra Negra começou quando o italiano da região de Treviso, Pietro Silotto, comprou suas terras no bairro das Três Barras, pois achou muita semelhança com as terras da Itália.

Neste bairro se iniciou a cidade de Serra Negra (O bairro das Três Barras seria inicialmente o centro de Serra Negra, porém pela região extremamente montanhosa, subiram a serra até chegar a um local mais plano, onde é o centro atual).

Veio acompanhado de seus irmãos, Fortunato, Ângela e Henrique. Aqui construiu sua família com treze filhos, dez homens (Basílio, Ermínio, José, Olívio, Quinto, Atílio, aqui todos lavoravam. Cada filho criou sua família, sempre juntos morando na casa acima construída em 1934 por Pietro Silotto. Já mais velho resolveu dividir suas terras entre seus filhos, sendo assim, cada um teve seu sítio e sua casa. Continuou aqui onde tudo começou Quinto Silotto, seu 5º filho.

Pietro viveu aqui até o final de seus dias, deixando a sede para Quinto Silotto. Quinto também trabalhou muito, teve dez filhos, sete mulheres (Nera, Maria Inês, Dalva, Maria Alice, Elza, Julietta, Bertina) e três homens (Décio, mais conhecido como Neno, Alfeu e José Carlos);

Dois de seus filhos começaram a trabalhar na lavora com sete anos e continuam até os dias de hoje. Cuidam das terras com muito amor, pois foi esse amor que veio desde o começo.

Aqui cuidam da videira centenária plantada por Pietro Silotto, do cultivo da cana e do café e da produção de bebidas artesanais, com a mesma tradição e dedicação de seus antepassados. Tudo isso com muito suor e orgulho.


Mais informações acesse:










quinta-feira, 7 de abril de 2022

Casa Geraldo Prosecco 2017

 

Não há como negar que degustar novidades é sempre muito gratificante. Fugir da famosa e silenciosamente temida zona de conforto é a personificação da liberdade, de se permitir novas e intensas experiências sensoriais.

Novos rótulos, novos produtores, novas castas, novas regiões torna-se necessário, urgente, diria, sem exageros, para ampliarmos, além da já dita experiência sensorial, como também o nosso portfólio de degustação, de conhecimento, afinal, não é só do vinho degustado que faz que constrói, a meu ver, o conceito de enófilo.

 De alguns anos para cá venho acompanhando com interesse a ascensão, o notório sucesso e reconhecimento do terroir mineiro, das Minas Gerais, com vinhos de excelência e de alguns prêmios conquistados.

Mas para mim, apesar de acompanhar, com alguma veemência, o crescimento da região, com o trabalho bem feito de abnegados profissionais e amantes do vinho, sempre pareceu ser um tanto quanto intransponível o contato com algum rótulo das Minas Gerais. Talvez pelo preço, sempre pelo preço, que ainda parece ser um entrave para o cidadão comum e assalariado como eu.

Para a minha alegria em maio de 2017 eu participei de um evento de degustação de vinhos brasileiros e observei um estande da Vinícola Luiz Porto das Minas Gerais e tive o privilégio de degustar alguns rótulos, poucos estavam disponíveis, infelizmente, mas ainda sim, foi maravilhoso e melhor: Consegui levar comigo um rótulo!


Os rótulos eram de uma linha que hoje é reconhecida nacionalmente chamada “Dom de Minas”, nome mais do que adequado. Degustei o Merlot e o Cabernet Franc, mas o que me encantou foi o Dom de Minas Cabernet Franc 2014 que redigi uma resenha que pode por aqui ser lida.

Foi assim o meu primeiro contato com os vinhos mineiros. Mas não parou por aí, para minha sorte. Ganhei de um amigo um Prosecco, a famosa casta italiana Glera, das Minas Gerais, de uma região, pelo menos para mim, nova em produção de vinhos chamada Andradas. Ele havia degustado e decidiu, carinhosamente, me presentear com um.

Então diante desse especial presente decidi degusta-lo no natal, tornar o momento mais especial ainda com as iguarias típicas gastronômicas desse período do ano e de antemão antecipo que a harmonização foi ótima, o Prosecco, muito versátil, harmonizou com quase todas as comidas natalinas. E o calor que fazia compactuou com o frescor da Glera.

Então não preciso dizer muito que o vinho agradou, na realidade direi sim! O vinho que degustei e gostei veio da região mineira de Andradas e se chama Casa Geraldo Prosecco e era safrado: 2017. Mas antes de falar desse belo espumante falemos um pouco de Andradas.

Andradas, Minas Gerais

Uma cidade que seduz não só pela tradição na produção de vinhos, mas por vários atrativos que tem a oferecer aos visitantes. Essa é Andradas (MG), localizada aos pés da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas Gerais. Com pouco mais de 39 mil habitantes, é conhecida como "terra do vinho" e oferece diversos atrativos para os amantes da natureza, da culinária mineira e italiana, da cultura e do ecoturismo.


A história de Andradas começou em 1790 com a ocupação de suas terras pelo fazendeiro Felipe Mendes e o Guarda-Mor Antônio Rabelo de Carvalho e em 1888 teve início a relação da cidade com a vitivinicultura. Neste ano, o Coronel José Francisco de Oliveira plantou em duas propriedades vinte variedades de parreiras provenientes da França. Após realizar experimentos e obter êxito no plantio, o Coronel passou a produzir vinhos.

Mas foi no final do século XIX que a cidade passou a ganhar maior representatividade. Nessa época, passaram a chegar a terras andradenses imigrantes italianos - mais de 500 famílias - e com eles se intensificou a cultura da uva e do vinho, que mudariam para sempre o destino do município.

As primeiras videiras plantadas por italianos em Andradas datam de 1892, quando as famílias Marcon e Piagentini, recém-chegados ao país, se instalaram na cidade e iniciaram seus parreirais. Nos anos seguintes, diversas outras famílias vindas da Itália também se mudaram para a cidade, fazendo crescer a cultura vinífera.

Com pouco dinheiro no bolso, mas com muita vontade de construir um futuro próspero, o patricarca da família Marcon, Sr. João Maximiano Marcon, dividiu as experiências com o filho Geraldo Marcon. Em parceria com a família Piagentini, deram início aos primeiros parreirais na cidade. A sociedade foi encerrada anos depois, mas mesmo assim, Geraldo Marcon não deixou a tradição morrer. Hoje a família dele é detentora da maior produção de uvas da região que figura como uma das maiores vinícolas de Minas Gerais.

Sucessor do pai, Geraldo adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim. Foi então, que teve início a produção de vinho para vendas apenas à granel. Com a morte de Geraldo Marcon, em 1978, a vinícola foi assumida pelo filho dele, Luiz Carlos Marcon, que, posteriormente, passou a paixão para a 5ª geração da família: os filhos Carlos, Luiz e Michel.

Com um clima privilegiado por sua localização, o município se tornou referência na vitivinicultura, chegando a seu auge, a ter mais de 50 vinícolas. A crise no setor em meados do século XX fez com que várias delas fechassem as portas, mas algumas sobreviveram e ainda hoje mantêm viva a tradição. E mais, elevaram a qualidade de seus vinhos, colocando a cidade entre os maiores polos produtores do país, rendendo o apelido de “Terra do Vinho”.

Dessa tradição italiana que criou raízes em Andradas se originou também uma atração cultural na cidade: a Festa do Vinho. Criada em 1954, teve sua 1ª edição em junho do mesmo ano.

Seu início se deve à atuação do Dr. Pedro de Barros Duarte, chefe da subestação de enologia local e idealizador do evento, e Ivo Nohra, coordenador da primeira edição da festa. Os festejos foram realizados em um barracão de sapé construído no largo do Mercado Municipal para sediar o evento. Nos dias de festa, a cidade recebeu o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, responsável, inclusive, por coroar a primeira rainha da Festa do Vinho, Ana Maria de Oliveira. Além disso, em uma exposição no Mercado Municipal, os Irmãos Bertoli ficaram com o título de melhor vinho do evento.

Desde então a Festa do Vinho cresceu e teve ao longo de sua história fatos marcantes, ficando nacionalmente conhecida. Entre os destaques estão a presença do rei da música brasileira, Roberto Carlos, em 1968, e os tradicionais desfiles pelas ruas da cidade ao longo dos anos 1970.

Do Mercado Municipal em sua primeira edição, a Festa do Vinho de Andradas teve diversas mudanças de endereços, passando pelo Pavilhão do Vinho, pelas ruas centrais da cidade, pelo Poliesportivo Risoleta Neves, Clube Campestre e pelo Estádio Municipal JK, onde inclusive acontece em 2019, quando chega a sua 54ª edição.

Tradicionalmente contando com as vinícolas e associações da cidade, a Festa do Vinho reúne milhares de pessoas e, além disso, ajuda a divulgar aquela que é a grande marca da história andradense, o vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelho palha, translúcido, com discretos rflexos violáceos, bem brilhantes, com uma profusão de perlages finos e consistentes.

No nariz explode as notas frutadas, frutas de polpa branca, como maçã-verde, pera, toques cítricos como abacaxi e um floral que traz a sensação real de frescor e leveza típica da cepa.

Na taça é leve, fresco, saboroso, mas que enche a boca, entregando alguma personalidade, a fruta protagoniza como no aspecto olfativo, com uma média acidez e um bom final, prolongado e frutado.

Vinho espumante tem cara de festa, alegria e descontração. O prosecco nos últimos anos vem conquistando o mundo com um sucesso fácil de decifrar e que cabe dentro de uma taça: qualidade, preço e forte identidade. O sabor frutado e leve faz com que o prosecco seja um vinho versátil, que pode ser consumido com diversos tipos de pratos, sobremesas ou simplesmente como um aperitivo. E esse da região de Andradas, tradicionalmente uma conhecida região, que ainda não tinha inundado a minha taça, trouxe um toque a mais, especial que, espero que se repita que o vinho mineiro esteja sempre na minha rota de intenções e que se efetivem trazendo alegria às minhas expressões sensoriais! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Geraldo:

Mil novecentos e sessenta e oito é o ano da fundação. De origem bem mais recente quando comparada a outras vinícolas de Andradas, a Vinhos Campino e Casa Geraldo teve início com o descendente de italianos Geraldo Marcon, que adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim, onde passou a cultivar uvas para produção de vinhos.

Desde então, a família tem se dedicado à elaboração de vinhos, em um trabalho transmitido de geração a geração. "A história começa com Geraldo Marcon, que fundou outras duas vinícolas na cidade como sócio e depois fundou essa vinícola pra ele. Depois veio o filho, Luiz Carlos, e deu continuidade ao trabalho até 2010. Depois disso ele saiu da empresa e a nova geração, Michel e Luiz, veio a administrar a empresa.

Inicialmente com uma produção para vendas apenas à granel, não demorou para que seus produtos fossem ao mercado, com os vinhos Campino. Durante anos, essa foi a marca da adega, que mais recentemente lançou a linha de vinhos finos, a Casa Geraldo, que tem rendido reconhecimento internacional ao trabalho.

Pioneira na produção de uvas da espécie vitis vinifera na cidade, a Casa Geraldo é também responsável pela elaboração do "vinho do padre", um vinho litúrgico ou canônico que tem produção autorizada pela Diocese de São João da Boa Vista, em São Paulo e segue normas do Vaticano. Além disso, a adega aposta em um alto investimento para atrair o turista, com um moderno Complexo Turístico Enogastronômico erguido na propriedade. 

A empresa vem conquistando vários certificados, vários prêmios. Ano passado foram 35, mais de 20 só de ouro. Esse ano, nos dois mais importantes prêmios que se dão no começou do ano, em Londres, conseguiram 15 medalhas.











sábado, 2 de abril de 2022

Dark Horse Cabernet Sauvignon 2017

 

Sempre foi muito difícil, sobretudo para aqueles desprovidos de algum dinheiro, degustar os vinhos californianos, os vinhos dos Estados Unidos. Admitamos que ainda é complicado degusta-los por conta do alto valor, então quando surge uma oportunidade para tê-los em nossa adega e consequentemente em nossa taça, sem dúvida é um momento único, importante.

Oportunidade! Acredito ferozmente que essa palavra tem de ser efetivada no universo dos vinhos. Não temos que comprar vinhos por demanda, por modismos ou qualquer coisa que seja, mas por oportunidade.

Digo isso porque estamos em um período obscuro, mais complicado, principalmente para nós enófilos. Os vinhos estão aumentando, vertiginosamente, de preço. O dólar alto, o custo Brasil, tarifas, burocracias que só travam a disseminação da cultura do vinho em nossas terras e os californianos, os rótulos dos Estados Unidos não ficam atrás dessa realidade difícil.

E esse vinho que degustei e gostei, da Califórnia, foi o que chamei à época de uma oportunidade singular. Embora o rótulo seja, de acordo com os altos preços dos vinhos dessa região, barato, abaixo dos 3 dígitos de valor! Mas ainda assim muito caro para os padrões de consumo do brasileiro, do cidadão comum.

De um valor na faixa dos R$ 85, com alguns descontos e os famosos “cashbacks” que tinham à disposição eu o comprei à época por, pasmem, 34,90! Sim! R$ 34,90! Por isso que sempre compartilhei da questão da oportunidade para comprar uma garrafa de vinho e isso exige paciência, tranquilidade e serenidade para esperar. Às vezes você tem aquela vontade para comprar aquele vinho que há tempos está de olho, mas a oportunidade precisa ter como diria aquele Jedi famoso.

Então sem mais delongas façamos as devidas apresentações: o vinho que degustei e gostei veio da ensolarada Califórnia, nos Estados Unidos, e se chama Dark Horse da casta Cabernet Sauvignon da safra 2017. E apesar de ser uma casta já, diria, “corriqueira” nas mesas dos enófilos, a Cabernet Sauvignon, é sempre um prazer degusta-la, nas suas mais diversas facetas, nos mais diversos terroirs e da Califórnia traz o frescor das frutas vermelhas maduras, com a personalidade marcante e esse não foi diferente.

Mas antes de falar do Dark Horse, falemos um pouco da região emblemática da Califórnia, uma das localidades para a produção de vinho mais importante do Novo Mundo.

Califórnia

A Califórnia é o maior produtor de vinhos entre os estados americanos e sua vinicultura remonta a meados do século 19. Uma das maiores e melhores regiões produtoras de vinhos no Novo Mundo, assim é tida a Califórnia por especialistas e amantes da bebida dos deuses.

Depois dos três países mais tradicionais na vitivinicultura internacional, França, Itália e Espanha, o estado americano é o maior produtor de vinho no mundo, isto é, a quarta potência no que se refere ao cultivo, produção e comercialização da bebida em todo o planeta.

Os números são impressionantes: o ensolarado estado da costa oeste norte-americana é responsável por mais de 90% da produção vinícola dos Estados Unidos, e, todo o ano, recebe a visita de cerca de 20 milhões de pessoas em suas principais regiões produtoras, que além de tudo oferecem ótimas alternativas de turismo para os apreciadores do vinho.

Mas a importância da Califórnia no universo vinícola não está apenas nesses grandes números; os vinhos californianos são conhecidos, respeitados e prestigiados por serem de extrema qualidade, tintos complexos e encorpados, e brancos deliciosos produzidos a partir de uva bem maduras. O clima mediterrâneo, o frescor do vento constante, o sol imponente que às vezes dá lugar a chuvas bem localizadas, aliado às particularidades privilegiadas do solo em território cortado por pequenos vales dão à região um valor qualitativo muito alto para os vinhos lá produzidos.

Seu território é uma sucessão de pequenos vales, cada um com particularidades de clima e solo, criando um celeiro de terroirs propícios ao desenvolvimento de vinhos de qualidade.

As regiões californianas mais importantes são Napa Valley e Sonoma Valley, seguidas por Mendoncino e Lake Counties, situadas em direção norte a partir da cidade de São Francisco. Outras regiões californianas de destaque são Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley, Alexander Valley, San Luis Obispo, Santa Barbara, Santa Clara Valley, Lodi e Woodbridge.

Califórnia

Napa é conhecida mundialmente pela qualidade de seus vinhos. Ali se encontram mais de 500 vinícolas, tornando-a a mais densa região vinícola do mundo! Várias delas realizam trabalhos reconhecidos de enologia, produzindo vinhos ícones de prestígio mundial. O território de Napa é estreito, ladeado por colinas vulcânicas baixas.

Sonoma é um núcleo de 50 x 50 km, marcado por amplas planícies, colinas suaves e partes da costa do Pacífico, encontrando-se ali mais de 300 vinícolas. Aqui a vinicultura é de menor escala, com os principais produtores fornecendo uvas para vinícolas de alto nível. O clima é mais fresco que o de Napa, com variações a cada micro-região. As brisas marinhas e neblinas são características das áreas costeiras.

Napa Valley e Sonoma Valley são as duas principais regiões de produção vinícola na Califórnia, somente nelas existem mais de 800 vinícolas. A região da Napa concentra o maior numero de vinícola no mundo, e produz vinhos de categoria elevada; a região de Sonoma, por sua vez, é conhecida por fornecer uvas de grande qualidade para a produção de vinhos em outras regiões. Mendocino, Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley, Alexander Valley também são regiões vitivinicultoras bastante conhecidas na Califórnia.

História

As primeiras videiras plantadas na Califórnia foram trazidas por missionários franciscanos espanhóis no século XVIII, e, até o século XIX, foram eles que continuaram a cultivar uvas na região, produzindo vinhos para serem utilizados em seus ritos. Aos poucos, durante esse quase um século de plantio ligado à Igreja, a viticultura foi se espalhando em todo o estado, transformando-o no reduto da produção de vinho no país.

Na segunda metade do século XIX, com a chamada Corrida do Ouro, a costa oeste dos Estados Unidos teve um aumento populacional significativo e a demanda por vinho acompanhou esse crescimento. Não demorou para que a área para o plantio e cultivo das uvas aumentasse exponencialmente, assim como os investimentos nos vinhedos, que fez com o que a produção de vinhos se estabelecesse definitivamente na região. Em 1870, as principais vinícolas da Califórnia hoje conhecidas mundialmente já existiam, e produzindo vinhos de qualidade.

Devido à ligação com os missionários da Igreja Católica, a primeira variedade de uva cultivada na Califórnia ficou conhecida como Mission Grape.

Mission San Gabriel

A vinícola mais antiga da Califórnia, que remonta a 1771, é este pequeno edifício, na foto acima, na parte traseira da antiga Missão de San Gabriel no sul da Califórnia. Sob este abrigo, índios supervisionados pelos Padres da Missão pressionavam uvas em pisos de pedra ainda intactos.

Ainda no final do século XIX, por volta de 1890, a praga conhecida como Phylloxera Vastatrix, que devastou grande parte dos vinhedos ao redor do mundo, chegou à Califórnia, e freou a indústria vinícola na região. Logo em seguida, no começo do XX, com a proibição legal de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, muitas vinícolas foram obrigadas a fechar, os números que antes eram promissores decaíram de forma significativa. Mas, apesar de alguns anos de recessão, esses dois problemas sérios que tiveram impacto negativo na produção de vinhos na Califórnia foram superados e já no período da segunda grande guerra, a produção de vinhos se recuperou.

De maneira geral, o clima na Califórnia pode ser classificado como tipicamente mediterrâneo com dias ensolarados e noites frescas, mas grande parte dessas regiões tem seu micro clima específico, o que facilita o cultivo de uvas ou produção de tipo de vinhos também de forma muito específica e particular; cada região acaba se especializando em uma determinada variedade de uva ou vinho por causa disso. A região de Santa Barbara, por exemplo, é conhecida por suas tintas Pinot Noit e Syrah, apesar de cultivar a branca Chardonnay de forma bem sucedida.

A Califórnia vem construindo grande prestígio para seus vinhos tintos ricos e encorpados e brancos barricados feitos com uvas bem maduras. As principais uvas tintas utilizadas são Cabernet Sauvignon, Merlot e Zinfandel - esta tida como parente próxima da Primitivo italiana e considerada patrimônio nacional - mas ultimamente a Syrah e a Cabernet Franc têm crescido em resultados.

A variedade de uva branca dominante é a Chardonnay, quase um ícone dos vinhos americanos, mas vale citar a presença da White Zinfandel, que produz vinhos leves e simples.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com lágrimas finas, numerosas e que se dissipam vagarosamente, marcando o bojo.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas negras bem maduras: ameixa, amora, groselha negra são os destaques, com notas amadeiradas, trazendo chocolate e baunilha, além de especiarias, tabaco, diria, pimenta.

Na boca é seco, volumoso, cheio, estruturado, mas é cadenciada pela maciez das notas frutadas, as notas de madeira em destaque, mas muito bem integrado ao conjunto do vinho, sendo equilibrado e macio, com toques de torrefação, café. Tem taninos polidos, aveludados, boa acidez e um final untuoso, prolongado, persistente.

Um privilégio degustar um vinho californiano depois de muito tempo sem fazê-lo. Um vinho com uma tipicidade única, que evidencia, em sua garrafa, o que entrega a emblemática região da Califórnia com seus micro climas específicos, com as suas castas volumosas, corpulentas, mas frutadas e cheias de vida, de plenitude. E com tudo isso ainda degustar um vinho concebido por uma enóloga, por uma mulher chamada Beth Liston, mostrando que a mulher pode sim, com sua sensibilidade, se emancipar e trazer novas percepções ao mercado vitivinícola.

Beth Liston

Um vinho que vai guardar grandes e memoráveis lembranças pela sua drincabilidade, pela sua personalidade, pela sua versatilidade, pela sua importância de representar uma tradicional e emblemática região de produção de vinho. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Dark Horses Wines:

Primeiramente, Dark Horse Wine é uma marca de vinhos da Califórnia, propriedade da gigante das bebidas e maior exportadora de vinhos da Califórnia, a E. & J. Gallo. Dessa forma, ela faz uma série de vinhos tintos e brancos de variedades populares da   Califórnia, como Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay.

a essência da vinícola Dark Horse é ter uma coleção de vinhos ousados ​​e saborosos produzidos na Califórnia, nos Estados Unidos, que quebram a regra de que “se não for caro, não é um bom vinho”.

O sucesso dos produtos tem por trás uma enóloga renomada, que tem como princípio a qualidade: Beth Liston que cresceu em localidades onde vinhedos praticamente fazem parte do caminho. E sendo assim, o envolvimento com a vitivinicultura acabou se tornando um caminho natural.

A inovação sempre fez parte do DNA da Dark Horse, pois foi com ela que originou a venda de vinhos em lata no Brasil, por exemplo, e embora a forma de consumir a bebida já faça sucesso entre os jovens americanos há algum tempo, foi por intermédio do Dark Horse em lata que os brasileiros passaram a conhecer e ter acesso a esses produtos.

Mais informações acesse:

https://www.darkhorsewine.com/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CALIFORNIA

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/california-o-paraiso-dos-vinhos-no-novo-mundo/