quinta-feira, 7 de abril de 2022

Casa Geraldo Prosecco 2017

 

Não há como negar que degustar novidades é sempre muito gratificante. Fugir da famosa e silenciosamente temida zona de conforto é a personificação da liberdade, de se permitir novas e intensas experiências sensoriais.

Novos rótulos, novos produtores, novas castas, novas regiões torna-se necessário, urgente, diria, sem exageros, para ampliarmos, além da já dita experiência sensorial, como também o nosso portfólio de degustação, de conhecimento, afinal, não é só do vinho degustado que faz que constrói, a meu ver, o conceito de enófilo.

 De alguns anos para cá venho acompanhando com interesse a ascensão, o notório sucesso e reconhecimento do terroir mineiro, das Minas Gerais, com vinhos de excelência e de alguns prêmios conquistados.

Mas para mim, apesar de acompanhar, com alguma veemência, o crescimento da região, com o trabalho bem feito de abnegados profissionais e amantes do vinho, sempre pareceu ser um tanto quanto intransponível o contato com algum rótulo das Minas Gerais. Talvez pelo preço, sempre pelo preço, que ainda parece ser um entrave para o cidadão comum e assalariado como eu.

Para a minha alegria em maio de 2017 eu participei de um evento de degustação de vinhos brasileiros e observei um estande da Vinícola Luiz Porto das Minas Gerais e tive o privilégio de degustar alguns rótulos, poucos estavam disponíveis, infelizmente, mas ainda sim, foi maravilhoso e melhor: Consegui levar comigo um rótulo!


Os rótulos eram de uma linha que hoje é reconhecida nacionalmente chamada “Dom de Minas”, nome mais do que adequado. Degustei o Merlot e o Cabernet Franc, mas o que me encantou foi o Dom de Minas Cabernet Franc 2014 que redigi uma resenha que pode por aqui ser lida.

Foi assim o meu primeiro contato com os vinhos mineiros. Mas não parou por aí, para minha sorte. Ganhei de um amigo um Prosecco, a famosa casta italiana Glera, das Minas Gerais, de uma região, pelo menos para mim, nova em produção de vinhos chamada Andradas. Ele havia degustado e decidiu, carinhosamente, me presentear com um.

Então diante desse especial presente decidi degusta-lo no natal, tornar o momento mais especial ainda com as iguarias típicas gastronômicas desse período do ano e de antemão antecipo que a harmonização foi ótima, o Prosecco, muito versátil, harmonizou com quase todas as comidas natalinas. E o calor que fazia compactuou com o frescor da Glera.

Então não preciso dizer muito que o vinho agradou, na realidade direi sim! O vinho que degustei e gostei veio da região mineira de Andradas e se chama Casa Geraldo Prosecco e era safrado: 2017. Mas antes de falar desse belo espumante falemos um pouco de Andradas.

Andradas, Minas Gerais

Uma cidade que seduz não só pela tradição na produção de vinhos, mas por vários atrativos que tem a oferecer aos visitantes. Essa é Andradas (MG), localizada aos pés da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas Gerais. Com pouco mais de 39 mil habitantes, é conhecida como "terra do vinho" e oferece diversos atrativos para os amantes da natureza, da culinária mineira e italiana, da cultura e do ecoturismo.


A história de Andradas começou em 1790 com a ocupação de suas terras pelo fazendeiro Felipe Mendes e o Guarda-Mor Antônio Rabelo de Carvalho e em 1888 teve início a relação da cidade com a vitivinicultura. Neste ano, o Coronel José Francisco de Oliveira plantou em duas propriedades vinte variedades de parreiras provenientes da França. Após realizar experimentos e obter êxito no plantio, o Coronel passou a produzir vinhos.

Mas foi no final do século XIX que a cidade passou a ganhar maior representatividade. Nessa época, passaram a chegar a terras andradenses imigrantes italianos - mais de 500 famílias - e com eles se intensificou a cultura da uva e do vinho, que mudariam para sempre o destino do município.

As primeiras videiras plantadas por italianos em Andradas datam de 1892, quando as famílias Marcon e Piagentini, recém-chegados ao país, se instalaram na cidade e iniciaram seus parreirais. Nos anos seguintes, diversas outras famílias vindas da Itália também se mudaram para a cidade, fazendo crescer a cultura vinífera.

Com pouco dinheiro no bolso, mas com muita vontade de construir um futuro próspero, o patricarca da família Marcon, Sr. João Maximiano Marcon, dividiu as experiências com o filho Geraldo Marcon. Em parceria com a família Piagentini, deram início aos primeiros parreirais na cidade. A sociedade foi encerrada anos depois, mas mesmo assim, Geraldo Marcon não deixou a tradição morrer. Hoje a família dele é detentora da maior produção de uvas da região que figura como uma das maiores vinícolas de Minas Gerais.

Sucessor do pai, Geraldo adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim. Foi então, que teve início a produção de vinho para vendas apenas à granel. Com a morte de Geraldo Marcon, em 1978, a vinícola foi assumida pelo filho dele, Luiz Carlos Marcon, que, posteriormente, passou a paixão para a 5ª geração da família: os filhos Carlos, Luiz e Michel.

Com um clima privilegiado por sua localização, o município se tornou referência na vitivinicultura, chegando a seu auge, a ter mais de 50 vinícolas. A crise no setor em meados do século XX fez com que várias delas fechassem as portas, mas algumas sobreviveram e ainda hoje mantêm viva a tradição. E mais, elevaram a qualidade de seus vinhos, colocando a cidade entre os maiores polos produtores do país, rendendo o apelido de “Terra do Vinho”.

Dessa tradição italiana que criou raízes em Andradas se originou também uma atração cultural na cidade: a Festa do Vinho. Criada em 1954, teve sua 1ª edição em junho do mesmo ano.

Seu início se deve à atuação do Dr. Pedro de Barros Duarte, chefe da subestação de enologia local e idealizador do evento, e Ivo Nohra, coordenador da primeira edição da festa. Os festejos foram realizados em um barracão de sapé construído no largo do Mercado Municipal para sediar o evento. Nos dias de festa, a cidade recebeu o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, responsável, inclusive, por coroar a primeira rainha da Festa do Vinho, Ana Maria de Oliveira. Além disso, em uma exposição no Mercado Municipal, os Irmãos Bertoli ficaram com o título de melhor vinho do evento.

Desde então a Festa do Vinho cresceu e teve ao longo de sua história fatos marcantes, ficando nacionalmente conhecida. Entre os destaques estão a presença do rei da música brasileira, Roberto Carlos, em 1968, e os tradicionais desfiles pelas ruas da cidade ao longo dos anos 1970.

Do Mercado Municipal em sua primeira edição, a Festa do Vinho de Andradas teve diversas mudanças de endereços, passando pelo Pavilhão do Vinho, pelas ruas centrais da cidade, pelo Poliesportivo Risoleta Neves, Clube Campestre e pelo Estádio Municipal JK, onde inclusive acontece em 2019, quando chega a sua 54ª edição.

Tradicionalmente contando com as vinícolas e associações da cidade, a Festa do Vinho reúne milhares de pessoas e, além disso, ajuda a divulgar aquela que é a grande marca da história andradense, o vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelho palha, translúcido, com discretos rflexos violáceos, bem brilhantes, com uma profusão de perlages finos e consistentes.

No nariz explode as notas frutadas, frutas de polpa branca, como maçã-verde, pera, toques cítricos como abacaxi e um floral que traz a sensação real de frescor e leveza típica da cepa.

Na taça é leve, fresco, saboroso, mas que enche a boca, entregando alguma personalidade, a fruta protagoniza como no aspecto olfativo, com uma média acidez e um bom final, prolongado e frutado.

Vinho espumante tem cara de festa, alegria e descontração. O prosecco nos últimos anos vem conquistando o mundo com um sucesso fácil de decifrar e que cabe dentro de uma taça: qualidade, preço e forte identidade. O sabor frutado e leve faz com que o prosecco seja um vinho versátil, que pode ser consumido com diversos tipos de pratos, sobremesas ou simplesmente como um aperitivo. E esse da região de Andradas, tradicionalmente uma conhecida região, que ainda não tinha inundado a minha taça, trouxe um toque a mais, especial que, espero que se repita que o vinho mineiro esteja sempre na minha rota de intenções e que se efetivem trazendo alegria às minhas expressões sensoriais! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Geraldo:

Mil novecentos e sessenta e oito é o ano da fundação. De origem bem mais recente quando comparada a outras vinícolas de Andradas, a Vinhos Campino e Casa Geraldo teve início com o descendente de italianos Geraldo Marcon, que adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim, onde passou a cultivar uvas para produção de vinhos.

Desde então, a família tem se dedicado à elaboração de vinhos, em um trabalho transmitido de geração a geração. "A história começa com Geraldo Marcon, que fundou outras duas vinícolas na cidade como sócio e depois fundou essa vinícola pra ele. Depois veio o filho, Luiz Carlos, e deu continuidade ao trabalho até 2010. Depois disso ele saiu da empresa e a nova geração, Michel e Luiz, veio a administrar a empresa.

Inicialmente com uma produção para vendas apenas à granel, não demorou para que seus produtos fossem ao mercado, com os vinhos Campino. Durante anos, essa foi a marca da adega, que mais recentemente lançou a linha de vinhos finos, a Casa Geraldo, que tem rendido reconhecimento internacional ao trabalho.

Pioneira na produção de uvas da espécie vitis vinifera na cidade, a Casa Geraldo é também responsável pela elaboração do "vinho do padre", um vinho litúrgico ou canônico que tem produção autorizada pela Diocese de São João da Boa Vista, em São Paulo e segue normas do Vaticano. Além disso, a adega aposta em um alto investimento para atrair o turista, com um moderno Complexo Turístico Enogastronômico erguido na propriedade. 

A empresa vem conquistando vários certificados, vários prêmios. Ano passado foram 35, mais de 20 só de ouro. Esse ano, nos dois mais importantes prêmios que se dão no começou do ano, em Londres, conseguiram 15 medalhas.











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