Não há como negar que degustar novidades é sempre muito
gratificante. Fugir da famosa e silenciosamente temida zona de conforto é a
personificação da liberdade, de se permitir novas e intensas experiências
sensoriais.
Novos rótulos, novos produtores, novas castas, novas regiões
torna-se necessário, urgente, diria, sem exageros, para ampliarmos, além da já
dita experiência sensorial, como também o nosso portfólio de degustação, de
conhecimento, afinal, não é só do vinho degustado que faz que constrói, a meu
ver, o conceito de enófilo.
De alguns anos para cá
venho acompanhando com interesse a ascensão, o notório sucesso e reconhecimento
do terroir mineiro, das Minas Gerais, com vinhos de excelência e de alguns
prêmios conquistados.
Mas para mim, apesar de acompanhar, com alguma veemência, o
crescimento da região, com o trabalho bem feito de abnegados profissionais e
amantes do vinho, sempre pareceu ser um tanto quanto intransponível o contato
com algum rótulo das Minas Gerais. Talvez pelo preço, sempre pelo preço, que
ainda parece ser um entrave para o cidadão comum e assalariado como eu.
Para a minha alegria em maio de 2017 eu participei de um
evento de degustação de vinhos brasileiros e observei um estande da Vinícola
Luiz Porto das Minas Gerais e tive o privilégio de degustar alguns rótulos,
poucos estavam disponíveis, infelizmente, mas ainda sim, foi maravilhoso e
melhor: Consegui levar comigo um rótulo!
Os rótulos eram de uma linha que hoje é reconhecida
nacionalmente chamada “Dom de Minas”, nome mais do que adequado. Degustei o
Merlot e o Cabernet Franc, mas o que me encantou foi o Dom de Minas Cabernet Franc 2014 que redigi uma resenha que pode por aqui ser lida.
Foi assim o meu primeiro contato com os vinhos mineiros. Mas
não parou por aí, para minha sorte. Ganhei de um amigo um Prosecco, a famosa
casta italiana Glera, das Minas Gerais, de uma região, pelo menos para mim,
nova em produção de vinhos chamada Andradas. Ele havia degustado e decidiu,
carinhosamente, me presentear com um.
Então diante desse especial presente decidi degusta-lo no
natal, tornar o momento mais especial ainda com as iguarias típicas
gastronômicas desse período do ano e de antemão antecipo que a harmonização foi
ótima, o Prosecco, muito versátil, harmonizou com quase todas as comidas
natalinas. E o calor que fazia compactuou com o frescor da Glera.
Então não preciso dizer muito que o vinho agradou, na
realidade direi sim! O vinho que degustei e gostei veio da região mineira de
Andradas e se chama Casa Geraldo Prosecco e era safrado: 2017. Mas antes de
falar desse belo espumante falemos um pouco de Andradas.
Andradas, Minas Gerais
Uma cidade que seduz não só pela tradição na produção de
vinhos, mas por vários atrativos que tem a oferecer aos visitantes. Essa é
Andradas (MG), localizada aos pés da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas
Gerais. Com pouco mais de 39 mil habitantes, é conhecida como "terra do
vinho" e oferece diversos atrativos para os amantes da natureza, da
culinária mineira e italiana, da cultura e do ecoturismo.
A história de Andradas começou em 1790 com a ocupação de suas
terras pelo fazendeiro Felipe Mendes e o Guarda-Mor Antônio Rabelo de Carvalho
e em 1888 teve início a relação da cidade com a vitivinicultura. Neste ano, o
Coronel José Francisco de Oliveira plantou em duas propriedades vinte
variedades de parreiras provenientes da França. Após realizar experimentos e
obter êxito no plantio, o Coronel passou a produzir vinhos.
Mas foi no final do século XIX que a cidade passou a ganhar
maior representatividade. Nessa época, passaram a chegar a terras andradenses
imigrantes italianos - mais de 500 famílias - e com eles se intensificou a
cultura da uva e do vinho, que mudariam para sempre o destino do município.
As primeiras videiras plantadas por italianos em Andradas
datam de 1892, quando as famílias Marcon e Piagentini, recém-chegados ao país,
se instalaram na cidade e iniciaram seus parreirais. Nos anos seguintes,
diversas outras famílias vindas da Itália também se mudaram para a cidade,
fazendo crescer a cultura vinífera.
Com pouco dinheiro no bolso, mas com muita vontade de
construir um futuro próspero, o patricarca da família Marcon, Sr. João
Maximiano Marcon, dividiu as experiências com o filho Geraldo Marcon. Em
parceria com a família Piagentini, deram início aos primeiros parreirais na
cidade. A sociedade foi encerrada anos depois, mas mesmo assim, Geraldo Marcon
não deixou a tradição morrer. Hoje a família dele é detentora da maior produção
de uvas da região que figura como uma das maiores vinícolas de Minas Gerais.
Sucessor do pai, Geraldo adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim. Foi então, que teve início a produção de vinho para vendas apenas à granel. Com a morte de Geraldo Marcon, em 1978, a vinícola foi assumida pelo filho dele, Luiz Carlos Marcon, que, posteriormente, passou a paixão para a 5ª geração da família: os filhos Carlos, Luiz e Michel.
Com um clima privilegiado por sua localização, o município se
tornou referência na vitivinicultura, chegando a seu auge, a ter mais de 50
vinícolas. A crise no setor em meados do século XX fez com que várias delas
fechassem as portas, mas algumas sobreviveram e ainda hoje mantêm viva a
tradição. E mais, elevaram a qualidade de seus vinhos, colocando a cidade entre
os maiores polos produtores do país, rendendo o apelido de “Terra do Vinho”.
Dessa tradição italiana que criou raízes em Andradas se
originou também uma atração cultural na cidade: a Festa do Vinho. Criada em
1954, teve sua 1ª edição em junho do mesmo ano.
Seu início se deve à atuação do Dr. Pedro de Barros Duarte,
chefe da subestação de enologia local e idealizador do evento, e Ivo Nohra,
coordenador da primeira edição da festa. Os festejos foram realizados em um
barracão de sapé construído no largo do Mercado Municipal para sediar o evento.
Nos dias de festa, a cidade recebeu o então governador de Minas Gerais,
Juscelino Kubitschek, responsável, inclusive, por coroar a primeira rainha da
Festa do Vinho, Ana Maria de Oliveira. Além disso, em uma exposição no Mercado
Municipal, os Irmãos Bertoli ficaram com o título de melhor vinho do evento.
Desde então a Festa do Vinho cresceu e teve ao longo de sua
história fatos marcantes, ficando nacionalmente conhecida. Entre os destaques
estão a presença do rei da música brasileira, Roberto Carlos, em 1968, e os
tradicionais desfiles pelas ruas da cidade ao longo dos anos 1970.
Do Mercado Municipal em sua primeira edição, a Festa do Vinho
de Andradas teve diversas mudanças de endereços, passando pelo Pavilhão do
Vinho, pelas ruas centrais da cidade, pelo Poliesportivo Risoleta Neves, Clube
Campestre e pelo Estádio Municipal JK, onde inclusive acontece em 2019, quando
chega a sua 54ª edição.
Tradicionalmente contando com as vinícolas e associações da
cidade, a Festa do Vinho reúne milhares de pessoas e, além disso, ajuda a
divulgar aquela que é a grande marca da história andradense, o vinho.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um lindo amarelho palha, translúcido, com
discretos rflexos violáceos, bem brilhantes, com uma profusão de perlages finos
e consistentes.
No nariz explode as notas frutadas, frutas de polpa branca,
como maçã-verde, pera, toques cítricos como abacaxi e um floral que traz a
sensação real de frescor e leveza típica da cepa.
Na taça é leve, fresco, saboroso, mas que enche a boca,
entregando alguma personalidade, a fruta protagoniza como no aspecto olfativo,
com uma média acidez e um bom final, prolongado e frutado.
Vinho espumante tem cara de festa, alegria e descontração. O
prosecco nos últimos anos vem conquistando o mundo com um sucesso fácil de
decifrar e que cabe dentro de uma taça: qualidade, preço e forte identidade. O
sabor frutado e leve faz com que o prosecco seja um vinho versátil, que pode ser
consumido com diversos tipos de pratos, sobremesas ou simplesmente como um
aperitivo. E esse da região de Andradas, tradicionalmente uma conhecida região,
que ainda não tinha inundado a minha taça, trouxe um toque a mais, especial
que, espero que se repita que o vinho mineiro esteja sempre na minha rota de
intenções e que se efetivem trazendo alegria às minhas expressões sensoriais!
Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre a Casa Geraldo:
Mil novecentos e sessenta e oito é o ano da fundação. De
origem bem mais recente quando comparada a outras vinícolas de Andradas, a
Vinhos Campino e Casa Geraldo teve início com o descendente de italianos
Geraldo Marcon, que adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim, onde
passou a cultivar uvas para produção de vinhos.
Desde então, a família tem se dedicado à elaboração de
vinhos, em um trabalho transmitido de geração a geração. "A história
começa com Geraldo Marcon, que fundou outras duas vinícolas na cidade como
sócio e depois fundou essa vinícola pra ele. Depois veio o filho, Luiz Carlos,
e deu continuidade ao trabalho até 2010. Depois disso ele saiu da empresa e a
nova geração, Michel e Luiz, veio a administrar a empresa.
Inicialmente com uma produção para vendas apenas à granel,
não demorou para que seus produtos fossem ao mercado, com os vinhos Campino.
Durante anos, essa foi a marca da adega, que mais recentemente lançou a linha
de vinhos finos, a Casa Geraldo, que tem rendido reconhecimento internacional
ao trabalho.
Pioneira na produção de uvas da espécie vitis vinifera na
cidade, a Casa Geraldo é também responsável pela elaboração do "vinho do
padre", um vinho litúrgico ou canônico que tem produção autorizada pela
Diocese de São João da Boa Vista, em São Paulo e segue normas do Vaticano. Além
disso, a adega aposta em um alto investimento para atrair o turista, com um
moderno Complexo Turístico Enogastronômico erguido na propriedade.
A empresa vem conquistando vários certificados, vários
prêmios. Ano passado foram 35, mais de 20 só de ouro. Esse ano, nos dois mais
importantes prêmios que se dão no começou do ano, em Londres, conseguiram 15
medalhas.
Mais informações acesse:
Referências:
“Portal da Cidade de Andradas”: https://andradas.portaldacidade.com/noticias/turismo/andradas-mais-de-um-seculo-de-tradicao-em-vinhos-2559
Vinho degustado em 2018.
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