Sempre foi muito difícil, sobretudo para aqueles desprovidos
de algum dinheiro, degustar os vinhos californianos, os vinhos dos Estados
Unidos. Admitamos que ainda é complicado degusta-los por conta do alto valor,
então quando surge uma oportunidade para tê-los em nossa adega e
consequentemente em nossa taça, sem dúvida é um momento único, importante.
Oportunidade! Acredito ferozmente que essa palavra tem de ser
efetivada no universo dos vinhos. Não temos que comprar vinhos por demanda, por
modismos ou qualquer coisa que seja, mas por oportunidade.
Digo isso porque estamos em um período obscuro, mais
complicado, principalmente para nós enófilos. Os vinhos estão aumentando,
vertiginosamente, de preço. O dólar alto, o custo Brasil, tarifas, burocracias
que só travam a disseminação da cultura do vinho em nossas terras e os
californianos, os rótulos dos Estados Unidos não ficam atrás dessa realidade
difícil.
E esse vinho que degustei e gostei, da Califórnia, foi o que
chamei à época de uma oportunidade singular. Embora o rótulo seja, de acordo
com os altos preços dos vinhos dessa região, barato, abaixo dos 3 dígitos de
valor! Mas ainda assim muito caro para os padrões de consumo do brasileiro, do
cidadão comum.
De um valor na faixa dos R$ 85, com alguns descontos e os
famosos “cashbacks” que tinham à
disposição eu o comprei à época por, pasmem, 34,90! Sim! R$ 34,90! Por isso que
sempre compartilhei da questão da oportunidade para comprar uma garrafa de
vinho e isso exige paciência, tranquilidade e serenidade para esperar. Às vezes
você tem aquela vontade para comprar aquele vinho que há tempos está de olho,
mas a oportunidade precisa ter como diria aquele Jedi famoso.
Então sem mais delongas façamos as devidas apresentações: o
vinho que degustei e gostei veio da ensolarada Califórnia, nos Estados Unidos,
e se chama Dark Horse da casta Cabernet Sauvignon da safra 2017. E apesar de
ser uma casta já, diria, “corriqueira” nas mesas dos enófilos, a Cabernet
Sauvignon, é sempre um prazer degusta-la, nas suas mais diversas facetas, nos
mais diversos terroirs e da Califórnia traz o frescor das frutas vermelhas
maduras, com a personalidade marcante e esse não foi diferente.
Mas antes de falar do Dark Horse, falemos um pouco da região
emblemática da Califórnia, uma das localidades para a produção de vinho mais
importante do Novo Mundo.
Califórnia
A Califórnia é o maior produtor de vinhos entre os estados
americanos e sua vinicultura remonta a meados do século 19. Uma das maiores e
melhores regiões produtoras de vinhos no Novo Mundo, assim é tida a Califórnia
por especialistas e amantes da bebida dos deuses.
Depois dos três países mais tradicionais na vitivinicultura
internacional, França, Itália e Espanha, o estado americano é o maior produtor
de vinho no mundo, isto é, a quarta potência no que se refere ao cultivo,
produção e comercialização da bebida em todo o planeta.
Os números são impressionantes: o ensolarado estado da costa
oeste norte-americana é responsável por mais de 90% da produção vinícola dos
Estados Unidos, e, todo o ano, recebe a visita de cerca de 20 milhões de
pessoas em suas principais regiões produtoras, que além de tudo oferecem ótimas
alternativas de turismo para os apreciadores do vinho.
Mas a importância da Califórnia no universo vinícola não está
apenas nesses grandes números; os vinhos californianos são conhecidos,
respeitados e prestigiados por serem de extrema qualidade, tintos complexos e
encorpados, e brancos deliciosos produzidos a partir de uva bem maduras. O
clima mediterrâneo, o frescor do vento constante, o sol imponente que às vezes
dá lugar a chuvas bem localizadas, aliado às particularidades privilegiadas do
solo em território cortado por pequenos vales dão à região um valor qualitativo
muito alto para os vinhos lá produzidos.
Seu território é uma sucessão de pequenos vales, cada um com
particularidades de clima e solo, criando um celeiro de terroirs propícios ao
desenvolvimento de vinhos de qualidade.
As regiões californianas mais importantes são Napa Valley e
Sonoma Valley, seguidas por Mendoncino e Lake Counties, situadas em direção
norte a partir da cidade de São Francisco. Outras regiões californianas de
destaque são Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley,
Alexander Valley, San Luis Obispo, Santa Barbara, Santa Clara Valley, Lodi e
Woodbridge.
Napa é conhecida mundialmente pela qualidade de seus vinhos.
Ali se encontram mais de 500 vinícolas, tornando-a a mais densa região vinícola
do mundo! Várias delas realizam trabalhos reconhecidos de enologia, produzindo
vinhos ícones de prestígio mundial. O território de Napa é estreito, ladeado
por colinas vulcânicas baixas.
Sonoma é um núcleo de 50 x 50 km, marcado por amplas
planícies, colinas suaves e partes da costa do Pacífico, encontrando-se ali
mais de 300 vinícolas. Aqui a vinicultura é de menor escala, com os principais
produtores fornecendo uvas para vinícolas de alto nível. O clima é mais fresco
que o de Napa, com variações a cada micro-região. As brisas marinhas e neblinas
são características das áreas costeiras.
Napa Valley e Sonoma Valley são as duas principais regiões de
produção vinícola na Califórnia, somente nelas existem mais de 800 vinícolas. A
região da Napa concentra o maior numero de vinícola no mundo, e produz vinhos
de categoria elevada; a região de Sonoma, por sua vez, é conhecida por fornecer
uvas de grande qualidade para a produção de vinhos em outras regiões.
Mendocino, Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley,
Alexander Valley também são regiões vitivinicultoras bastante conhecidas na
Califórnia.
História
As primeiras videiras plantadas na Califórnia foram trazidas
por missionários franciscanos espanhóis no século XVIII, e, até o século XIX,
foram eles que continuaram a cultivar uvas na região, produzindo vinhos para
serem utilizados em seus ritos. Aos poucos, durante esse quase um século de
plantio ligado à Igreja, a viticultura foi se espalhando em todo o estado,
transformando-o no reduto da produção de vinho no país.
Na segunda metade do século XIX, com a chamada Corrida do
Ouro, a costa oeste dos Estados Unidos teve um aumento populacional
significativo e a demanda por vinho acompanhou esse crescimento. Não demorou
para que a área para o plantio e cultivo das uvas aumentasse exponencialmente,
assim como os investimentos nos vinhedos, que fez com o que a produção de
vinhos se estabelecesse definitivamente na região. Em 1870, as principais
vinícolas da Califórnia hoje conhecidas mundialmente já existiam, e produzindo
vinhos de qualidade.
Devido à ligação com os missionários da Igreja Católica, a
primeira variedade de uva cultivada na Califórnia ficou conhecida como Mission
Grape.
A vinícola mais antiga da Califórnia, que remonta a 1771, é
este pequeno edifício, na foto acima, na parte traseira da antiga Missão de San
Gabriel no sul da Califórnia. Sob este abrigo, índios supervisionados pelos
Padres da Missão pressionavam uvas em pisos de pedra ainda intactos.
Ainda no final do século XIX, por volta de 1890, a praga
conhecida como Phylloxera Vastatrix, que devastou grande parte dos vinhedos ao
redor do mundo, chegou à Califórnia, e freou a indústria vinícola na região.
Logo em seguida, no começo do XX, com a proibição legal de bebidas alcoólicas
nos Estados Unidos, muitas vinícolas foram obrigadas a fechar, os números que
antes eram promissores decaíram de forma significativa. Mas, apesar de alguns
anos de recessão, esses dois problemas sérios que tiveram impacto negativo na
produção de vinhos na Califórnia foram superados e já no período da segunda
grande guerra, a produção de vinhos se recuperou.
De maneira geral, o clima na Califórnia pode ser classificado
como tipicamente mediterrâneo com dias ensolarados e noites frescas, mas grande
parte dessas regiões tem seu micro clima específico, o que facilita o cultivo
de uvas ou produção de tipo de vinhos também de forma muito específica e
particular; cada região acaba se especializando em uma determinada variedade de
uva ou vinho por causa disso. A região de Santa Barbara, por exemplo, é
conhecida por suas tintas Pinot Noit e Syrah, apesar de cultivar a branca
Chardonnay de forma bem sucedida.
A Califórnia vem construindo grande prestígio para seus
vinhos tintos ricos e encorpados e brancos barricados feitos com uvas bem
maduras. As principais uvas tintas utilizadas são Cabernet Sauvignon, Merlot e
Zinfandel - esta tida como parente próxima da Primitivo italiana e considerada
patrimônio nacional - mas ultimamente a Syrah e a Cabernet Franc têm crescido
em resultados.
A variedade de uva branca dominante é a Chardonnay, quase um
ícone dos vinhos americanos, mas vale citar a presença da White Zinfandel, que
produz vinhos leves e simples.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com lágrimas
finas, numerosas e que se dissipam vagarosamente, marcando o bojo.
No nariz traz uma explosão aromática de frutas negras bem
maduras: ameixa, amora, groselha negra são os destaques, com notas amadeiradas,
trazendo chocolate e baunilha, além de especiarias, tabaco, diria, pimenta.
Na boca é seco, volumoso, cheio, estruturado, mas é
cadenciada pela maciez das notas frutadas, as notas de madeira em destaque, mas
muito bem integrado ao conjunto do vinho, sendo equilibrado e macio, com toques
de torrefação, café. Tem taninos polidos, aveludados, boa acidez e um final
untuoso, prolongado, persistente.
Um privilégio degustar um vinho californiano depois de muito
tempo sem fazê-lo. Um vinho com uma tipicidade única, que evidencia, em sua
garrafa, o que entrega a emblemática região da Califórnia com seus micro climas
específicos, com as suas castas volumosas, corpulentas, mas frutadas e cheias
de vida, de plenitude. E com tudo isso ainda degustar um vinho concebido por
uma enóloga, por uma mulher chamada Beth Liston, mostrando que a mulher pode
sim, com sua sensibilidade, se emancipar e trazer novas percepções ao mercado
vitivinícola.
Um vinho que vai guardar grandes e memoráveis lembranças pela
sua drincabilidade, pela sua personalidade, pela sua versatilidade, pela sua
importância de representar uma tradicional e emblemática região de produção de
vinho. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Dark Horses Wines:
Primeiramente, Dark Horse Wine é uma marca de vinhos da
Califórnia, propriedade da gigante das bebidas e maior exportadora de vinhos da
Califórnia, a E. & J. Gallo. Dessa forma, ela faz uma série de vinhos
tintos e brancos de variedades populares da Califórnia, como Cabernet Sauvignon, Pinot
Noir, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay.
a essência da vinícola Dark Horse é ter uma coleção de vinhos
ousados e saborosos produzidos na Califórnia, nos Estados Unidos, que quebram
a regra de que “se não for caro, não é um bom vinho”.
O sucesso dos produtos tem por trás uma enóloga renomada, que
tem como princípio a qualidade: Beth Liston que cresceu em localidades onde
vinhedos praticamente fazem parte do caminho. E sendo assim, o envolvimento com
a vitivinicultura acabou se tornando um caminho natural.
A inovação sempre fez parte do DNA da Dark Horse, pois foi
com ela que originou a venda de vinhos em lata no Brasil, por exemplo, e embora
a forma de consumir a bebida já faça sucesso entre os jovens americanos há
algum tempo, foi por intermédio do Dark Horse em lata que os brasileiros
passaram a conhecer e ter acesso a esses produtos.
Mais informações acesse:
https://www.darkhorsewine.com/
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CALIFORNIA
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/california-o-paraiso-dos-vinhos-no-novo-mundo/
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