sábado, 26 de novembro de 2022

Dory Winemaker Choice Touriga Nacional 2017

 

Merecemos o que há de melhor na vida! Isso é fato! E na realidade dos vinhos, no universo vasto e inexplorado do vinho não foge à regra. Nós que trafegamos, viajamos na nave da enofilia, busca, garimpa, ler tudo sobre o vinho e não é meramente por interesse, um estímulo à leitura e o conhecimento, mas a busca incessante pelo prazer da degustação.

Mas não se enganem esses aspectos se complementam, se relacionam, se harmonizam. A leitura, a busca pelo conhecimento pode sim melhorar a qualidade na nossa degustação, abrir um leque imenso de possibilidades.

E em um momento de minha humilde, mas adorável trajetória de enófilo decidi uma coisa na vida: Degustar um varietal português! Hoje pode parecer um tolo sonho, um tolo projeto ou aspiração, afinal temos uma quantidade razoável de opções de varietais lusitanos à disposição, sobretudo das principais cepas daquele abundante país.

Mas quando tracei esse propósito para mim, as opções de compras e logo de rótulos eram um tanto quanto escassos ou os meus caminhos de compras eram escassos, não sei dizer ao certo. O fato é que, há cerca de 10, 15 anos atrás, o “e-commerce” não era tão atuante como nos dias de hoje.

Enfim, tracei esse propósito em minha enófila vida! E há de se comentar também que os rótulos portugueses são dominados pelos blends, pelos cortes, pelas “misturas” como o seu povo costuma dizer e por conta disso, acredito, o estímulo nasceu.

Alguns rótulos surgiram ainda poucos, mas castas importantes, emblemáticas de Portugal, tais como: Castelão e Touriga Nacional e até mesmo as francesas que rendem bem naqueles terroirs como a Syrah, por exemplo.

Entretanto o rótulo de hoje é especial! Primeiro porque é a casta exportação de Portugal, Touriga Nacional, um 100%, e segundo é da região de Lisboa! Sim! Lisboa, uma das minhas mais novas preferidas regiões lusitanas! Não tão nova assim, pois já figuraram alguns especiais e surpreendentes rótulos em minhas taças.

Será o meu primeiro Touriga Nacional de Lisboa, mais precisamente da sub-região de Alenquer, umas das mais proeminentes regiões de Lisboa para o cultivo da vinha e do vinho. Não preciso dizer que estou animado para degustar esse rótulo e ainda tem outro ponto mais do que animador: É da AdegaMãe! Precisa dizer algo mais?

Ele, quando o comprei, um verdadeiro achado e por um preço surpreendente, guardei por um tempo na adega, pensei em até deixa-lo por mais alguns anos, mas a ansiedade falou mais alto e o momento de degusta-lo chegou!

E que vinho senhores! Que vinho complexo, estruturado, mas macio e elegante como tem de ser a Touriga Nacional, mas com as expressões marítimas lisboetas. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio de Alenquer, Lisboa, em Portugal e se chama Dory Winemaker Choice, um 100% Touriga Nacional da safra 2017. Para manter a tradição, antes de tecer detalhados comentários acerca do vinho, vamos às histórias.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Lisboa

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambas naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levaram à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como, por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

Alenquer

Alenquer é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Lisboa, região Centro e sub-região do Oeste, com perto de 9 000 habitantes. É banhada pelo rio do mesmo nome. É sede de um município com 304,22 km² de área e 43 267 habitantes (2011), subdividido em 11 freguesias. O município é limitado a norte pelo município do Cadaval, a leste pela Azambuja, a sudeste por Vila Franca de Xira, a sul por Arruda dos Vinhos, a sudoeste por Sobral de Monte Agraço e a oeste por Torres Vedras.

Alenquer de "Alen Ker" significa "A vontade de Alão". O Cão alano, uma raça conhecida pelas suas qualidades na caça e combate, continua a proteger a vila de Alenquer no seu brasão. Alenquer foi fundada por muçulmanos e conquistada por D. Afonso Henriques. Recebeu foral em 1212 da infanta D. Sancha, filha de Sancho I de Portugal, esta é uma das versões outras autores preferem referir sobre a etimologia de Alenquer referir que a vila de origem romana, dizendo que então se chamara Jerabrica, querem outros que fosse fundação dos alanos, no ano de Cristo de 418, e que estes a denominaram Alan Kerke, na sua língua “Templo dos Alanos”.

O concelho divide-se em 11 Freguesias e Uniões de Freguesia: União de Freguesias de Abrigada e Cabanas de Torres, União de Freguesias Aldeia Galega da Merceana e Aldeia Gavinha, União de Freguesias de Alenquer, União de Freguesias Carregado e Cadafais, União de Freguesias de Ribafria e Pereiro de Palhacana e Freguesias de Carnota, Meca, Olhalvo, Ota, Ventosa e Vila Verde dos Francos.

A tradição do cultivo da vinha e da produção do vinho em Alenquer é antiga, por isso o vinho aqui produzido tem uma Denominação de Origem Controlada (DOC). Alenquer tornou-se uma das mais influentes zonas produtoras de vinho da região de Lisboa. Produz mais de metade do vinho certificado pela Comissão Vitivinícola da região de Lisboa e tem mais de 40 produtores de vinhos certificados. Esses vinhos ocupam o 1º lugar na lista internacional de produtores premiados! O sucesso dos vinhos de Alenquer resulta da combinação do saber e do trabalho dos homens, com o terroir, ou seja, as características naturais da região.

A Serra de Montejunto protege as vinhas de Alenquer dos ventos fortes, garantindo uma temperatura ideal para o seu desenvolvimento. No caso dos vinhos brancos, a distância ao mar dá-lhes uma frescura ligeiramente salgada, e a brisa da manhã seca o orvalho da noite. Para os vinhos tintos, estas condições garantem um bom amadurecimento e desenvolvimento das uvas.

A variedade de vinhos resulta das castas, isto é, dos diferentes tipos de uva e da maneira como são produzidas e combinadas entre si. Na história do vinho existe mais variedade de uva de vinho tinto do que de vinho branco. Os vinhos tintos de Alenquer são ricos em taninos, uma substância natural responsável, por exemplo, pela cor, aroma e estrutura dos vinhos. São vinhos muito aromáticos. Diz-se por isso que são vinhos “elegantes”! Estes vinhos são capazes de envelhecer, ou seja, ser guardados, alguns anos em garrafa.

Os melhores vinhos tintos DOC produzidos nesta zona usam as castas Castelão, Aragonez, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Tinta Miúda e Trincadeira, às vezes misturadas com outras variedades, como a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah.

Os vinhos brancos são frescos e cítricos, isto é, têm sabor a limão e a outras frutas dessa categoria. Normalmente os vinhos brancos usam as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com halos granada, um tanto quanto caudaloso, com lágrimas finas e em abundância que tingem as bordas do copo.

No nariz aromas de frutas pretas maduras em profusão, como amora, cereja preta, mas que divide o protagonismo com as notas amadeiradas, graças aos 11 meses em barricas de carvalho, que entrega algo como baunilha, menta, estrebaria, talvez. Traz também toques florais e de terra molhada.

Na boca é seco, de marcante personalidade, de média estrutura, mas macio e elegante, mostrando versatilidade e equilíbrio. É cheio, volumoso, alcoólico, mas sem ser agressivo, com as notas frutadas que o frescor do atlântico dos vinhos lisboetas, com taninos presentes, mas finos, com acidez média, que o torna saboroso, com a madeira em evidência, sobressaindo ao paladar café, torrefação, couro, tabaco. As especiarias conferem toques de pimentão e o final é de persistência agradável e frutada.

Mais um apoteótico momento de degustação! E muitos motivos foram responsáveis por uma sinergia mais do que especial: A casta Touriga Nacional, emblemática, talvez a mais importante cepa lusitana, um varietal desta casta e de um produtor que, a cada rótulo degustado, vem me cativando, a AdegaMãe, jovem, mas significativa na produção de seus vinhos que expressam de forma veemente o terroir de Lisboa, que é outro grande motivo de encarar este rótulo como especial. A “escolha do enólogo” (Winemaker Choice) que dá nome ao vinho, também se tornou a minha escolha para hoje. Fantástico. Tem 14% de teor alcoólico.

Ah aqui vale uma curiosidade sobre o significado do termo “Dory”:

Ao entrar na vinícola, que é um exuberante projeto de arquitetura, uma edificação muito bonita e moderna, e foi construída de forma gravitacional e com acessibilidade em todas as áreas (cadeiras de rodas e carrinhos de bebê, portanto, são bem-vindos), com equipamentos e tecnologia de ponta, tem de cara uma embarcação de pesca de bacalhau chamada “Dóri” (pertencente ao bacalhoeiro NTM Creoula, hoje navio escola da Marinha Portuguesa, e outrora pertencente à família Bensaúde) que deu nome aos principais rótulos da vinícola, Dory.

A AdegaMãe tem essa relação com o mar e com a pesca, produzindo, vinificando seus produtos, seus vinhos com o intuito de harmonizar com o bacalhau que é uma iguaria típica e tradicional, em todas as suas propostas, com o povo português.

Sobre a AdegaMãe:

 A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves.

Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante.

A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.




 










quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Aurora Reserva Merlot Rosé 2022

 

Há uma frase, um tanto quanto machista e depreciadora, de que vinhos rosés é para mulheres! Homem que é homem não pode degustar vinhos rosés. Uma coisa é não se identificar com determinados vinhos, isso é natural, mas deixar de degustar um vinho por mero preconceito, é no mínimo inaceitável.

Confesso que não sou um degustador assíduo de rosés, mas atualmente tenho investido nesses vinhos, sobretudo nos dias de sol, de verão, onde são a pedida mais do que ideal. E é nisso que temos de apostar: harmonizar com o momento!

Vinho não pede apenas alimento, mas mantém uma sinergia extremamente agradável com o dia, com o tempo. Nada como degustar um bom espumante, um bom vinho verde, um bom branco, um bom rosé em dias de sol, dias quentes, em uma praia, sim!

Mas desta vez o investimento não veio de meu bolso, mas um convite de um grande e velho amigo que decidiu retomar a nossa simples, mas significativa confraria e nos presenteou com um rótulo de um rosé brasileiro, da Serra Gaúcha, mais precisamente falando.

E de um produto a quem tenho um profundo respeito e carinho, de degustações especiais e arrebatadoras: A Aurora! Tida como uma das vinícolas mais premiadas no Brasil e no mundo, conseguem, com maestria, aliar qualidade, reverência e bom preço, um preço justo e acessível para todos, indistintamente.

E ainda tinha mais uma grata novidade, pelo menos para mim. Além de ser um rótulo da Aurora e um rosé, trazia a casta Merlot. Um Merlot rosé que eu nunca havia degustado. Então será uma degustação com algumas novidades sensoriais.

Eu já havia degustado a “versão” tinta do Aurora Merlot, das safras 20152017 e, claro, estavam exuberantes, mostrando a força do cultivo e produção dessa cepa em nossos terroirs, que vem despontando como um dos grandes centros e que vem crescendo a olhos vistos.

Então sem mais delongas vamos às formais apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, no Sul do Brasil, e se chama Aurora Merlot Rosé e a safra é do ano atual, de 2022!

E antes de falar do vinho, para não perder o costume falemos um pouco da Serra Gaúcha, talvez uma das principais regiões brasileiras da produção de vinhos, sobretudos dos bons e maravilhosos Merlots.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Bento Gonçalves

Em 1875 inicia a imigração italiana na Encosta Superior do Nordeste, originando as colônias de Dona Isabel, Conde D’Eu e Nova Palmira. A colônia de Dona Isabel originou a cidade de Bento Gonçalves. Conde D’Eu originou a cidade de Garibaldi. Nova Palmira se tornou a cidade de Caxias do Sul.

A Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves), criada em 1870, já era conhecida como “Região da Cruzinha” devido a uma cruz rústica cravada sobre a sepultura de um possível tropeiro ou traçador de lotes coloniais. Era época do escambo, da troca de mercadoria por mercadoria. A Colônia Dona Isabel sediava um pequeno comércio, no qual os tropeiros faziam paradas para descanso.

Bento Gonçalves

Em 24 de dezembro de 1875, os núcleos do Planalto começaram a receber novos imigrantes. Em março de 1876, o Presidente do Estado José Antonio de Azevedo Castro anunciava a existência de 348 lotes medidos e demarcados e uma população de 790 pessoas, sendo 729 italianos. Os pioneiros, vindos do Tirol Austríaco e Vêneto chegaram à esplanada onde hoje está situada a Igreja Matriz Cristo Rei.

A troca, compra e venda de produtos era feita na sede da colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas (trilhas abertas no meio da mata) demarcadas pelos próprios imigrantes. Entre os imigrantes havia ferreiros, sapateiros, marceneiros, alfaiates, carpinteiros, entre outros profissionais que estabeleceram seus negócios dentro de suas especialidades, atendendo às necessidades locais.

O surgimento das construções das casas, os instrumentos de trabalho e o mercado foram acompanhando o desenvolvimento de Colônia Dona Isabel e também as exigências que se apresentavam. Frente ao desenvolvimento, as condições das estradas foram melhorando e surgiram as primeiras carretas. Em cinco anos, houve um acréscimo de quatro mil habitantes, entre nascimentos e novos imigrantes.

Em 1881, inicia a abertura da primeira estrada de rodagem, ligando a Colônia Dona Isabel a São João de Montenegro (hoje Montenegro). O início do povoamento foi marcado por inúmeras dificuldades. Em 1877 a Colônia Dona Isabel sediava três casas comerciais, duas padarias, uma fábrica de chapéus e um total de 40 casas comerciais, que ofereciam serviços e produtos diversos em todo o território da colônia.

O desmembramento da Colônia Dona Isabel do município de Montenegro foi oficializado pelo ‘Acto’ 474, de 11 de outubro de 1890, assinado por Cândido Costa, o que constituiu o município de Bento Gonçalves. O nome foi dado em homenagem ao general Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul de 1835 a 1845.

Bento Gonçalves deu seu primeiro impulso de progresso com a vinda da agência do Banco Nacional do Comércio e Banco de Pelotas. Entre os anos de 1919 e 1927, foi feita a instalação da luz elétrica e da estação transformadora e da rede de distribuição. Na foto a raça Walter Galassi em 1922, quando era chamada de Praça Centenário. O local foi inaugurado durante as comemorações do centenário da independência do Brasil.

E 1924 foi fundado o Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. Na época o Dr. Barthomoleu Tacchini, médico vindo da Itália, era um dos principais médicos do Estado, com enorme prestígio especialmente junto à população de origem italiana. Em 1950, a população era de 22.600 habitantes. As principais atividades econômicas eram as do setor agrícola. Contudo, começaram a surgir várias indústrias, como de acordeões, laticínios, móveis, curtume, fábrica de sulfato e vinícolas.

Em 1967 Bento Gonçalves passa por uma grande transformação, considerada um marco histórico. Com a colaboração de dinâmicas lideranças e a ajuda de toda a comunidade, surge a I Fenavinho, a Festa Nacional do Vinho. O município foi visitado pela primeira vez por um Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco visitou Bento Gonçalves e a I Fenavinho no dia 25 de fevereiro de 1967. O principal produto e a força da economia de Bento Gonçalves foram divulgados em todo o Brasil, tornando a cidade conhecida nacional e internacionalmente. O município descobre a sua vocação para o turismo de negócios e começa a sediar eventos de grande porte.

A cidade de Bento Gonçalves é conhecida como a ‘Capital Brasileira da Uva e do Vinho’, é reconhecida pela força de sua economia e como um importante pólo industrial e turístico do sul do Brasil.

Além de ser uma cidade com perfil empreendedor e povo trabalhador, a cidade se destaca na área turístia. Atividades ligadas à área do enoturismo, turismo de negócios e de eventos oferece cada vez mais opções ao visitante. A cidade oferece uma diversidade de rotas turísticas. Os indicadores de desenvolvimento e renda da cidade colocam Bento Gonçalves em destaque no Estado e no país quanto à qualidade de vida.

A cidade de Bento Gonçalves é um polo moveleiro e vitivinícola conhecido nacional e internacionalmente. Dentro do segmento indústria, o setor moveleiro é a grande força da economia. No segmento turístico são inúmeros os atrativos ligados à uva e ao vinho, o que torna Bento Gonçalves uma cidade de visita obrigatória na conhecida Região Turística “Uva e Vinho” situado na Serra Gaúcha.

Bento Gonçalves é pioneira no Brasil no desenvolvimento do Enoturismo. A cada ano Bento Gonçalves vem se consolidando como destino turístico nacional. O Vale dos Vinhedos é o principal destino enoturístico do Brasil, sendo o roteiro mais visitado desde 2008. Foi a primeira região do país reconhecida como Indicação Geográfica, obtendo para seus produtos a Indicação de Procedência, e a seguir a Denominação de Origem ‘Vale dos Vinhedos’ para os vinhos e espumantes ali produzidos. O Vale dos Vinhedos integra oficialmente o patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio Grande do Sul desde 29 de junho de 2012 (Projeto de Lei 44/2012).

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e envolvente rosado salmão, com tons brilhantes e de incrível intensidade, denotando quase um vermelho rubi.

No nariz a predominância é de um delicado floral com notas agradáveis de frutas vermelhas frescas como morango e framboesa, além de um leve e discreto adocicado, mas sem ser enjoativo.

Na boca traz a jovialidade, a fruta e o frescor típico de um rosé que é corroborado com uma bela acidez acentuando toda essa leveza e refrescância. Apesar de ser delicado no palato traz alguma personalidade, tem certo volume de boca, com um final de boca persistente e um retrogosto frutado.

O vinho se torna especial quando harmonizado com o momento, com um bom alimento que ressalte ambos, claro. Contudo o momento com os amigos, reforçado pela confraria torna qualquer rótulo único e especial e este Aurora Merlot Rosé harmonizou perfeitamente com queijos leves que degustamos e uma agradável tarde de sol que brilhou neste momento especial de degustar um delicado, fresco e leve rosé brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:

A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul. Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra fundamental da empresa.

Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para desmitificar as oito décadas da empresa.

No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os 232 rótulos da empresa.

Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco.

Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta.

A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolaaurora.com.br/br

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Bento Tur”: https://bento.tur.br/nossa-historia-bento-goncalves/














terça-feira, 22 de novembro de 2022

Autoritas Pinot Grigio 2020

 

Falei, por muitas vezes, até de forma, confesso, demasiada que sou um incondicional fã da casta Pinot Grigio. Além de ter predicados que muito me atrai ela, por esses mesmos predicados, ou diria, características, tem tudo a ver com o clima tropical brasileiro.

É aquela famosa frase que costumamos dizer: “É um vinho para piscina”! Mas não precisa ser necessariamente para piscina, mas para uma praia. Uma praia? Sim para a praia! Se podem levar, no isopor, cerveja, por que não levar a sua garrafa de Pinot Grigio?

E eu lembro como se fora ontem, o meu primeiro contato com a cepa. Em um dia de calor, um verão daqueles! Tinha uma confraternização com amigos do trabalho em um restaurante famoso em minha cidade, queria pedir algo que não fosse cerveja, mas o meu bom e velho vinho.

Tomei em minhas mãos o cardápio e de imediato eu não consegui achar nenhum rótulo interessante. Decidi olhar novamente, agora com a atenção redobrada, quem sabe apareça algum que chame a atenção.

E vi um branco, brasileiro, de uma casta estranha para mim, trazia o “Pinot” no nome e lembrei da tinta Pinot Noir, que já conhecia e muito gostava, mas trazia outro nome: “Grigio” e era uma casta branca.

Pensei: Calor intenso, o desejo único de degustar um vinho, então vamos de branco dessa, até então nova casta Pinot Grigio. A única coisa que eu conhecia era o produtor que sempre esteve comigo em minhas degustações: Miolo. Então deve ser bom.

Degustei e gostei verdadeiramente e o dia quente ajudou, complementou o meu momento tão particularmente singular naquele dia. Estava delicioso. Era frutado, leve, fresco, acidez gostosa.

Saí daquele restaurante com o desejo quase que incontrolável de degustar novamente um vinho da casta Pinot Grigio e ao longo do tempo fui tendo algumas experiências, diria únicas, com rótulos dessa casta.

Degustei rótulos do Vêneto, da Sicília, ambas regiões emblemáticas italianas, da África do Sul também, alguns poucos do Brasil e também do Chile e a valores bem competitivos! Claro que os vinhos estão inflacionando e está cada vez mais difícil encontrar vinhos com valores justos, além dos tributos também, mas, tentando consegue encontrar alguns vinhos dessa casta a preços atraentes.

E hoje eu retornarei ao Chile, mais precisamente ao Vale Central, para degustar mais um Pinot Grigio. Tenho degustado alguns deste país e tem me surpreendido por demais da conta e vale lembrar um, da gigante Luis Felipe Edwards, que degustei e gostei que se chama Alto Los Romeros 2018 que, pasmem, custou, à época, R$18,90!

E o de hoje também é da Luis Felipe Edwards, de uma linha que eu verdadeiramente adoro: Autoritas! Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio do Vale Central, Chile, e se chama Autoritas da casta Pinot Grigio da safra 2020. Antes de falar do vinho, falemos um pouco da região chilena e da cepa tão querida.

Valle Central: o centro vitivinícola do Chile        

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume.

Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah.

A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes.

O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Vale Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor.

Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha.

Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária.

O Vale Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco.

A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

Pinot Grigio

Se você nunca ouviu falar na uva Pinot Grigio, talvez já tenha degustado um vinho produzido com a Pinot Gris. É possível encontrar a casta sendo chamada pelos dois nomes diferentes, a depender da origem do vinho, podendo ser italiano ou francês, respectivamente. A diferença na forma como chamamos a uva passa pelo próprio significado das duas palavras: o nome Grigio significa cinza em italiano e Gris, cinza em francês – sendo referência à cor da casca da fruta. A coloração da uva é um resultado natural do cruzamento entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc.

A Pinot Grigio surgiu na região da Borgonha, contudo foi em outra região francesa que ela ganhou um lar e ganhou notoriedade também, a Alsácia. Onde era conhecida por outro nome famoso, Tokay, mas que causava muita confusão. Tokay é um termo utilizado para os vinhos mais famosos (e caros) da Hungria, os longevos Tokaji, que nada tem a ver com a Pinot Grigio.

A origem da Pinot Grigio foi descoberta a poucas décadas, onde constatou-se ser um cruzamento genético natural entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc. Embora seja de origem francesa, foram os italianos que tornaram esse varietal mundialmente conhecido e passaram a dominar a sua produção global. Isso faz com que muitos acreditem que a uva seja originária do fantástico "país da bota".

Os vinhos produzidos com a Pinot Grigio são muito influenciados pelos fatores ambientais e humanos envolvidos no processo, o que chamamos de terroir. Nas regiões frias são encontrados vinhos com maior intensidade aromática e acidez vibrante, além de serem tipicamente mais leves e delicados, normalmente denotando aromas frutados, florais e com a sutil presença de especiarias.

Bons exemplos disso são os aromas de pêssego, limão, tangerina, pera, maçã verde, complementados por flores silvestres, mel, tomilho, orégano e erva-cidreira. Já as regiões mais quentes produzem exemplares mais viscosos, aumentando a percepção de corpo da bebida, que, dependendo do solo, pode apresentar um caráter mineral, lembrando pedras e a areia molhada.

Agora, se compararmos o perfil dos vinhos franceses e italianos, as características sensoriais serão gritantes. Na França, esses vinhos costumam ser mais encorpados, amarelados e com uma presença picante. Já na Itália, os exemplares são mais refrescantes, versáteis e fáceis de beber. Dependendo do estilo do produto, vinícola e vindima, são vinhos brancos com aptidão ao envelhecimento.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo e brilhante amarelo palha com reflexos esverdeados com algumas lágrimas finas e rápidas.

No nariz as notas de frutas brancas, cítricas e tropicais, tais como lima, pera, abacaxi, maçã-verde, protagonizam nos aromas, de forma intensa e agradável, com toques florais e um quê de mineralidade e muito, muito frescor.

Na boca traz um paladar leve, com muita frescura e leveza, mas com muito sabor, trazendo um ótimo volume de boca, capitaneados pela fruta branca, cítrica, conferindo-lhe alguma personalidade. Traz um pouco de álcool, atípico para um Pinot Grigio, mas que entrega a tal da personalidade identificada. Tem uma ótima acidez e um final longo e persistente.

Um vinho surpreendente! Um vinho especial! Mais uma vez a Pinot Grigio me deixa de joelhos e gosto dessa doce “subserviência”. Um vinho surpreendente pelo que valeu, em torno de R$ 29,90, entregando muito além do que foi pago, fazendo dele uma relação excepcional de custo X benefício. Quando degusto um Pinot Grigio sempre me faço uma pergunta: Será que estou sugestionado? Será que o que sobressai é a definição de um fã da cepa? Confesso que sinto essa existencial dúvida, mas o fato é de que temos de deixar o coração falar por nós. A Pinot Grigio é definitivamente uma das castas brancas mais queridas para mim e se bobear atingirá o posto de mais querida de todas as brancas. Até a próxima experiência! Tem 13% de teor alcoólico.

Curiosidade:                              

A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade. Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados ​​de geração em geração e expressos em cada copo da Autoritas. Esse prestígio é a assinatura desse produtor que, graças aos seus rótulos, independente de valores e propostas, foi conquistado ao longo desses anos.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE.

De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação.

O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país.

Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-pinot-grigio/

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/pinot-grigio-conheca-suas-principais-caracteristicas/

“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente

 

 

 




quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Quimay Malbec e Cabernet Sauvignon 2020

 

Muito se fala em terroir! Claro que nomenclaturas como essas, dentro do universo do vinho, precisa ser discutida, pois é a partir do seu entendimento que construímos, entre outros fatores, as nossas identificações com os vinhos que costumamos degustar.

Porém infelizmente o uso da palavra parece ter como intuito apenas para a manipulação de um marketing perverso, como a engrenagem de uma máquina apenas para venda de produtos e não a disseminação de uma filosofia, de um conceito.

Mas essa (des) construção parece ruir quando degustamos um vinho e percebemos, apesar da particularidade de quem o aprecia, e não conseguimos identificar a tipicidade da bebida. Sabe quando degustamos, e isso se caracteriza pela “litragem”, e percebemos que o vinho não tem caráter? Ninguém pode com as manifestações sensoriais, quando, claro, bem exercitadas.

Mas ainda temos, por sorte, produtores que, abnegados, contra tudo e contra todos, seguem, bravamente, a engarrafarem o terroir, explorando tudo que a terra pode oferecer, aliado à cultura do povo e do saber fazer que decisivamente influencia o processo que vai da vindima à mesa do enófilo.

E quando falamos em terroir nos vem à mente, mesmo que de uma forma menos instintiva, a tradição, mas nem sempre a tradição nos obriga a ser tão linear. Muitos produtores promovem, com base na tradição, alguns “movimentos” mais arrojados sem abdicar do... terroir.

E alguns países produtores de vinho pode se dar ao luxo de enveredar nessas gratas aventuras e países como a Argentina e o Chile, por exemplo, por sua extensão, ampla latitude e diversidade geológica, convertem-se em um infinito conjunto de microclimas esperando ser descobertos por audaciosos enólogos e produtores que buscam não apenas um sistêmico padrão.

E alguns argentinos estão se mexendo e promovendo alguns rompimentos de paradigma para entregarem vinhos contemporâneos, arrojados, mas com caráter, com terroir. O vinho de hoje traz um produtor novo, com novas ideias e novo para mim: Manos Negras! O nome é muito sugestivo e seus produtores preconizam que o enólogo tem de meter a mão na massa, promover o contato com a terra e entender que os autênticos enólogos têm que sujar as suas mãos para explorar os limites da sua profissão que vai desde a vindima até o engarrafamento da poesia líquida.

E eles estão fazendo algo bem interessante que os uruguaios já costumam fazer há algum tempo, por exemplo: a combinação de terroirs com uma mesma variedade. Isso já, logo de cara, te estimula, te excita a degustar o vinho! Vinhos com terroirs conhecidos de Mendoza, mas com a aposta do diferente e assim,  E com muito arrojo, trazer a originalidade enaltecendo a tradição das microrregiões. E o melhor ou, diria, surpreendente: recebi esse rótulo de um clube de vinhos, de um importante clube de vinhos de um gigante de vendas no Brasil! O vinho que degustei e gostei veio da tradicional Mendoza e se chama Quimay com um corte da Cabernet Sauvignon e Malbec, da igualmente icônica Mendoza, safra 2020.

Esse corte, de castas que que deram muito certo em Mendoza, Cabernet Sauvignon e Malbec, traz uma novidade para mim e nem preciso dizer o quão estou animado para degusta-lo. É uma mistura de 2 vinhos diferentes, mas são provenientes da mesma vinha. A Cabernet Sauvignon oferece estrutura, taninos e boca longa. É o corpo do vinho. Já a Malbec oferece sedosidade, taninos suaves e aromas florais. A mistura de Cabernet Sauvignon e Malbec é algo típico da Argentina. Onde eu estava que não degustei esse corte antes? Mas antes tarde do que nunca! E convém lembrar que eu já degustei um vinho, da mesma linha de rótulos e que gostei e se chama Quimay Malbec 2020!

E vale aqui uma curiosidade sobre a origem do nome do vinho: “Quimay”! Quimay, em dialeto indígena argentino, significa oásis, locais sagrados em meio aos desertos dos pampas argentinos. Hoje muitos dos vinhedos estão nessas regiões desérticas antigas, como nos arredores de Mendoza.

Falemos também de Valle de Uco, uma região, encrustada na velha Mendoza que a cada dia vem se aperfeiçoando, investindo fortemente em tecnologia e ganhando visibilidade e respeitabilidade.

Valle de Uco, a grande produtora de vinhos da Argentina

Foi possível confirmar a presença de aborígenes que povoaram o vale de Uco muitos anos antes de Cristo. Nos petróglifos encontraram seu modo de vida: eram pessoas que se dedicavam à agricultura e à caça de animais, graças aos benefícios que o lugar lhes oferecia. No século XVI, a chegada dos conquistadores espanhóis das terras chilenas e peruanas marca as primeiras explorações em terras habitadas por dóceis e laboriosas famílias indígenas: os huarpes. Daquela época vem a palavra "Uco", que se refere ao nome do cacique Cuco. Além disso, é traduzido como uma nascente de água, elemento fundamental da região.

Um século depois, os padres jesuítas se estabeleceram no vale. Eles constituíram a primeira cidade organizada e fundaram o Curato de Uco, dando início à evangelização. O general José de San Martín governou Cuyo com sede em Mendoza entre 1814 e 1816, enquanto organizava os preparativos para empreender a travessia dos Andes e libertar o Chile e o Peru. Em várias ocasiões, ele se encontrou com nativos na área antes da expedição de libertação. Também com o militar argentino Manuel de Olazábal quando retornou à sua terra natal pelo desfiladeiro El Portillo, no que hoje é conhecido como Manzano Histórico.

Jose de San Martin

Por sua vez, a história da viticultura na região tem suas referências. Na década de 1880, Juan Giol, Bautista Gargantini e Pascual Toso chegaram de suas terras europeias e se associaram e se dedicaram à produção de vinhos. Três apelidos famosos que deram origem à San Polo Winery and Vineyards no início dos anos 1930, que tem a honra de ter, até hoje, cinco gerações de enólogos.

Juan Giol

Bautista Gargantini

Pascual Toso

O Vale do Uco foi “descoberto” pela indústria vitivinícola nos anos 1990. Localizado no sudoeste da cidade de Mendoza, bem aos pés dos Andes, seus vinhedos estão plantados em uma zona de clima temperado, com invernos rigorosos e verões quentes com noites frescas. Pode-se dizer que Uco é uma área realmente fria da região de Mendoza – e também de grande amplitude térmica (pode chegar a até 16o C), em parcelas que variam entre 850 e 1.700 metros de altitude.

Os solos são predominantemente pedregosos, com seixos rolados misturados à areia grossa, de boa permeabilidade, boa drenagem e pouco férteis. Em algumas zonas, observa-se argila ou calcário e até áreas com depósitos de cálcio, estas últimas mais raras e valorizadas, e também de onde vêm saindo alguns dos melhores vinhos lá produzidos atualmente. O índice pluviométrico é baixo e a irrigação dos vinhedos é normalmente feita por gotejamento com água de degelo das montanhas.

O Vale estende-se por três departamentos (segundo nível de divisão administrativa nas províncias argentinas): Tupungato, Tunuyán e San Carlos. A altitude e a grande amplitude térmica constante que os três departamentos compartilham exercem influência na qualidade das uvas produzidas, uma vez que torna a fase de amadurecimento da fruta mais longa, permitindo que o caráter varietal de cada cepa cultivada desenvolva-se por completo, ao mesmo tempo em que um teor agradável de acidez seja preservado.

Valle de Uco

O sucesso do vale é tamanho que, no início da década de 2010, a área de vinhedos plantados chegava a quase 26.000 hectares, praticamente o dobro do que havia no local no início dos anos 2000. O desenvolvimento da região é inconteste, assim como a sua crescente reputação dentro da vitivinicultura argentina, haja vista que um grande número de vinícolas estabelecidas em outras áreas de Mendoza busca adquirir vinhedos no vale e também construir novas plantas na região.

Aproximadamente 75% dos vinhedos são de uvas tintas, especialmente Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, com destaque para a vedete nacional nos últimos anos, a Cabernet Franc. Dentre as brancas, brilham a Chardonnay, a Sémillon e a Sauvignon Blanc, mas também há vinhos com Viognier e Torrontés.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, quase escuro, brilhantes, com discretos halos violáceos, com lágrimas finas, lentas e em média quantidade.

No nariz uma profusão de frutas vermelhas, pretas, com destaque para morangos, ameixas e cerejas, que enredam uma explosão aromática que, no início estava contido, com toques florais delicados e de especiarias, com a madeira trazendo uma textura mais complexa, com baunilha, chocolate.

Na boca é seco, de corpo mediano, alguma estrutura que lhe confere um bom volume de boca, graças também ao álcool proeminente, mas sem agredir, ao mesmo tempo, é macio, fácil de degustar. A fruta protagoniza, como no aspecto olfativo, tornando o vinho equilibrado. Traz taninos marcados, presentes, mas domados, com acidez instigante e a madeira em evidência, graças aos 6 meses em carvalho. Final curto.

Vinhos contemporâneos, com novas propostas, arrojadas, técnicas de cultivo novas, conceitos sustentáveis, todos esses quesitos vislumbra um único e precioso resultado: vinhos autênticos, castas que reflitam o seu terroir. O conceito de terroir não deve ser levado em conta de uma forma apenas, tão somente voltada para marketing, mas que seja de fato efetivada e que entregue o máximo de tipicidade na bebida e que ela chegue de fato à mesa do enófilo e que este entenda, não importa a forma, que esse vinho é de Mendoza, que é um Malbec distintamente argentino, pois sintetiza o chão, a terra a qual fora concebido. Tem 13,8% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Manos Negras:

Os verdadeiros produtores de vinho sujam as mãos, ou seja, ficam com as mãos pretas de vinho, e é disso que se trata o Manos Negras. Arregaçando as mangas e sujando as mãos, é assim que fazemos esses vinhos artesanais.

Manos Negras concentra-se na vinificação em latitude, e sendo assim as regiões vinícolas da Argentina e do Chile se estendem por 1.500 milhas de norte a sul ao longo dos Andes. Cada latitude possui um terroir único com combinações singulares de solo e temperatura que são decerto ideais para diferentes variedades.

Manos Negras, fundada em 2009, usa as habilidades únicas de dois imigrantes neozelandeses Duncan Killiner e Jason Mabbett, e o educador de vinhos americano Jeff Mausbach, bem como o renomado viticultor argentino Alejandro Sejanovich para criar vinhos com base em emocionantes combinações terroir-varietais.

Mais informações acesse:

www.manosnegras.com.ar

Referências:

“Welcome Argentina”: https://www.welcomeargentina.com/valle-de-uco/historia.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-o-vale-do-uco-local-que-reune-grandes-vinhos-argentinos_11401.html

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2015/07/vinicola-manos-negras/

 

 

 

 








segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Hill & Dale Merlot 2018

 

Não me canso de dizer, de exaltar as minhas predileções pela Merlot. Vai além, confesso, de uma simples predileção, mas algo afetivo que, de uma certa forma, fomenta a preferência. Não consigo esquecer a Merlot porque foi principalmente ela que me iniciou no universo dos vinhos finos, das castas vitis viníferas.

Então trata-se de uma reverência, trata-se de algo verdadeiramente afetivo! Mas é claro que a casta tem os seus predicados. A Merlot consegue agradar a todos os paladares e exigências e abrange os iniciantes e mais tarimbados no mundo do vinho.

Ela, a Merlot, é capaz de unir a todos os enófilos, a todas as propostas de vinhos, de maneira indistinta, sem preconceitos ou coisa que o valha. Por isso que nunca faltará um bom Merlot na adega. Seria, sem medo de dizer, uma temeridade não ter um Merlot na adega, independente de país, de terroir.

E por mais que ela esteja em minha enófila vida há alguns anos, desde os primórdios, diria, a Merlot ainda é capaz de proporcionar algumas gratas e impactantes novidades, exatamente pelo terroir, no que tange às novidades de regiões. É sabido que a Merlot é facilmente cultivável em várias regiões no planeta, inclusive no Brasil, onde, a mer ver, vem ganhando destaque, o que favorece, e muito, a possibilidade de desbravar “novos” Merlots de outras regiões.

E graças a um clube de vinhos a qual fazia parte, há alguns anos atrás, eu tive o prazer de “conhecer” um Merlot sul africano. Talvez eu esteja sendo um tanto quanto desinformado, mas nunca pensei encontrar ou sequer degustar um Merlot da terra de Mandela. A conhecemos pela sua emblemática cepa, a Pinotage, mas não esperava um varietal de Merlot.

Bem a Merlot sempre apareceu em alguns blends de rótulos sul africanos que degustei, pelo menos em grande parte, mas nunca reinando absoluta, então foi o ápice quando recebi, justamente de um clube de vinhos essencial, um rótulo desses. Digo justamente de um clube de vinhos, devido a alguns questionamentos quanto ao mesmo e a sua credibilidade.

O rótulo descansou por algum tempo, esperando ser degustado e com a compra de outro rótulo que encontrei de Merlot sul africano, decidi degustar o que eu já tinha adegado. E lá vamos nós! Estou pronto para reviver momentos sublimes com a casta que me “trouxe ao mundo”, enofilamente falando.

O vinho que degustei e gostei veio da tradição região vinícola sul africana Stellenbosch e se chama Hill & Dale Merlot da safra 2018. E antes de falar do vinho, e estou ansioso para isso, falemos um pouco da importância de Stellenbosch para a história do vinho na África do Sul.

Stellenbosch

Stellenbosch, a segunda cidade mais antiga da África do Sul, encontra-se a menos de 45 minutos da Cidade do Cabo. A região é rodeada pelas majestosas montanhas Stellenbosch, vinhedos e pomares, criando um dos cenários mais pitorescos da África do Sul. Seu nome e existência se devem ao antigo governador do Cabo, Simon van der Stel, que estabeleceu um povoado à beira do rio Eerste em 1679, fazendo dela a segunda cidade mais antiga da África do Sul.

Está situada a cerca de 50 km da Cidade do Cabo, e no ano 2000 contava com cerca de 90 mil residentes com habitação formal, portanto sem contar estudantes e outras pessoas com habitação informal. A cidade, historicamente preservada, abriga um dos mais bonitos exemplos do estilo holandês do Cabo, Georgiano e Vitoriano de arquitetura. Desfrutando de um ambiente exuberante, as ruas de Stellenbosch são repletas de restaurantes, bistrôs, cafés e monumentos que transmitem o orgulho do passado histórico importante da região.

Hoje, é uma linda cidade caracterizada por ruas ladeadas de carvalhos e casas brancas, muitas das quais de origem Cape Dutch (cabo-holandesa), e fica entre a suntuosa montanha Simonsberg e a mais modesta Papegaaiberg (“Montanha do Papagaio”).

Juntamente com Paarl e Franschhoek, Stellenbosch forma a mundialmente conhecida e renomada região vinícola de Cape Winelands. Stellenbosch possui a rota de vinho mais antiga do país e é conhecida por produzir alguns dos melhores vinhos do mundo em fazendas como Spier, Fairview, Tokara, Delaire Graff, Waterford, Rustenerg e muitas outras.

Os tours na região satisfazem os visitantes com experiências únicas como visitas às caves originais de armazenamento (onde os primeiros agricultores do Cabo experimentavam os primeiros vinhos produzidos na região). Stellenbosch também proporciona outras atrações que agradam todas as idades, como caminhadas, cavalgadas, pescaria, passeios de balão e de helicóptero, e colheita de morangos.

Logo que chegaram os primeiros colonos, particularmente os Huguenotes franceses, teve início a cultura da vinha nos vales férteis em torno de Stellenbosch, que rapidamente se tornou o centro da indústria vinícola sul-africana. Até há pouco tempo, a concentração de riqueza trazida por esta indústria fez com que a área tivesse um elevado coeficiente de Gini, embora esta situação esteja a mudar.

Stellenbosch possui uma rica história vinícola e é lar de alguns dos vinhos mais famosos do país. Além disso, a uva Cabernet Sauvignon é a variedade mais cultivada na região, utilizada muitas vezes ao lado da casta Merlot.

Situada a apenas 40 quilômetros ao leste da Cidade do Cabo, Stellenbosch é separada pelas montanhas de Simonsberg e Paarl. Seus vinhedos cobrem as colinas da região sul-africana que vão desde Helderber, no sul, até as inclinações mais baixas de Simonsberg, no norte. Este terreno proporciona uma grande variação nos estilos de vinho produzidos, bem como microclimas ideais para o cultivo de inúmeras variedades encontradas entre as colinas e os vales de Stellenbosch.

Stellenbosch

Os solos da região são compostos predominantemente de arenito e granito, onde é possível encontrar também um alto teor de argila, responsável por garantir uma melhor retenção da água. O clima de Stellenbosch é quente e seco, embora receba uma influência marítima do sul, proveniente de False Bay. A refrescante brisa que as vinhas recebem à tarde e a incidência solar pela manhã possibilita que as uvas concentrem melhor seus aromas e sabores, dando origem a vinhos com características únicas e peculiares.

Em decorrência dessa variação de terroir, Stellenbosch é dividida em inúmeras áreas produtoras de vinho diferentes, entre elas, Bonghoek, Papegaaiberg, Devon Valley e Polkadraai Hills. Além disso, a região sul-africana é o segundo assentamento mais antigo do país, ficando atrás apenas de Cape Town. As principais variedades cultivadas em Stellenbosch são as uvas Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Shiraz. Além disso, a fama da região se deve também por ser o berço da casta Pinotage, resultado de um cruzamento das uvas Cinsaut e Pinot Noir em 1924.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi brilhante, intenso, escuro, profundo, com lágrimas grossas, lentas e em profusão que desenham o bojo do copo.

No nariz explodem em aromas de frutas negras maduras, tais como ameixas, cerejas pretas, que traz uma gostosa e agradável sensação adocicada, com a rusticidade do couro, do herbáceo e as notas amadeiradas que entregam torrefação e o café, graças aos 11 meses em barricas de carvalho que 50% do lote do vinho estagiou.

Na boca é complexo, tem médio corpo, a marcante personalidade é evidente, mas, por outro lado, o aveludado e a elegância equilibram graças a característica da Merlot. As frutas pretas também protagonizam, como no aspecto olfativo, dando ao vinho frescor e vivacidade. As notas amadeiradas têm destaque, também garantindo o toque de baunilha, de terra molhada. Tem taninos presentes e acidez média, com um final longo e persistente.

Mesmo a Merlot sendo a minha longa e fiel companheira por longos anos em minha agradável caminhada no universo dos vinhos, ainda é capaz de me surpreender, de trazer novidades gratas, positivas para as minhas sensações, aos meus sentidos. E o Hill & Dale definitivamente me trouxe todas as características essenciais da Merlot, personalidade e elegância, mas o frescor, graças as notas frutadas, e a estrutura, garantida pela sua complexidade, muito típico das terras sul africanas. Um vinho que ficará guardado para todo sempre em minha lembrança que, espero muito em breve, me aventurar, quem sabe, em uma nova safra! Belo produtor, belo Merlot. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Hill & Dale:

A história da Hill & Dale Wines remonta a 2001, quando os primeiros vinhos Hill & Dale foram feitos e introduzidos no mercado em 2003.

É o delicado equilíbrio entre a paixão da equipe e a obtenção das melhores uvas da emblemática região de Stellenbosch que permitem que seus vinhos sejam modernos e despretensiosos, mas clássicos e autênticos.

Mais informações acesse:

https://www.hillanddale.co.za/#!/up

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/stellenbosch#:~:text=Situada%20na%20%C3%A1rea%20costeira%20do,ao%20lado%20da%20casta%20Merlot.

“Portal South Africa”: https://www.southafrica.net/br/pt/travel/article/stellenbosch-uma-das-joias-da-regi%C3%A3o-vin%C3%ADcola

“Wikipedia”: em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stellenbosch

“Safari 365”: https://www.safari365.com/pt/travel-destinations/south-africa/cape-winelands/stellenbosch