domingo, 8 de novembro de 2020

Vinho Verde Wine Experience 2020

 

No dia 7 de novembro de 2020 aconteceu mais um “Vinho Verde Wine Experience”, o festival de degustação de vinhos oriundos de uma das mais tradicionais, queridas e emblemáticas regiões lusitanas de vinho: a Região dos Vinhos Verdes, no noroeste de Portugal e que faz divisa com a Espanha. Por mais uma vez o evento ocorreu no Museu de Arte Moderna na Avenida Infante Dom Henrique, no Parque do Flamengo, Rio de Janeiro.

Esse ano algumas adaptações foram feitas para seguir o protocolo de segurança em virtude da pandemia do COVID-19, como álcool em gel nos estandes dos produtores, cuspideiras para cada enófilo e horários diferentes com um número reduzido de convidados para evitar aglomerações.

Apesar do protocolo de segurança sanitária sendo rigorosamente feito, o risco é sempre iminente em se tratando de um vírus com um alto índice de contaminação, mas decidi arriscar para participar de mais um evento de degustação que, sem sombra de dúvida, para enófilos como eu, é imprescindível para o escambo de conhecimento, além, é claro de conhecer novos rótulos, novas propostas e a degustação, cerne desses eventos.

Sou um grande fã dos Vinhos Verdes! Acho que os vinhos verdes são uma unanimidade no Brasil, haja vista que são vinhos, na sua predominância, leves, frescos, descomplicados, informais e sobretudo acalentadores, ótimos para celebrar com amigos e reunir a família junto à mesa. Sem contar que tem a cara do Brasil, do clima tropical do Brasil e o espírito descontraído do brasileiro.

Quando adentrei o salão do MAM observei os estandes dos produtores, dos principais da Região dos Vinhos Verdes, e vi que tinham tantos rótulos: eram brancos, tintos, rosés, espumantes, leves, frescos, barricados, estruturados, eram várias propostas, um passeio na história dessa tradicional região de Portugal. Segundo os organizadores, a instituição que regimenta e defende os interesses dos produtores e difunde os seus vinhos, que eram mais de 100 rótulos. Não duvido, afinal eram muitos mesmo, acredito que tinham mais, muito mais, para deleite de todos os enófilos que lá estavam.

Mas antes de falar dos vinhos, dos rótulos que degustei, falemos um pouco da história dos vinhos verdes e de sua importante região. Você sabe por que são chamados de Vinhos Verdes? Então vamos lá!

O Vinho é verde?                                                            

Vinho Verde é o vinho do Minho, região localizada no norte de Portugal. Estendendo-se pelo litoral até a fronteira com a Espanha, o Minho é a região de cidades históricas, vilas pitorescas, e do Vinho Verde. Não é tipo de vinho. Também não é cor, já que pode ser branco, tinto, rosé, ou espumante. Vinho Verde é simplesmente a Denominação de Origem de toda a região.

Região dos Vinhos Verdes

Como assim, Denominação de Origem? Grosso modo, se o vinho é feito no Dão, e segue as regras da comissão local, ele recebe Denominação de Origem (DOC) Dão. Analogamente, se é feito no Alentejo, ele pode receber a DOC Alentejo. Feito no Douro, DOC Douro. E feito no Minho, ele pode ter DOC Vinho Verde. O caso do Vinho Verde é uma exceção, em que o nome da DOC não é o nome da região, e isso ajuda a causar um pouco de confusão.

E por que escolheram este nome? A versão preferida pelos produtores de Vinho Verde é de que faz referência ao verde da paisagem da região. Mas a verdade é que o nome é derivado da oposição a maduro, pois as uvas na região, no passado, eram tradicionalmente colhidas ‘verdes’, ou melhor, um pouco antes do ponto ideal de maturação. Ainda hoje, muitos restaurantes do país ainda exibem cartas de vinhos separando os ‘verdes’ dos ‘maduros’.

Hoje em dia isso não é mais verdade, e as uvas são colhidas em seu ponto ideal de maturação. De qualquer maneira, esta herança é responsável pelas características do vinho: leve, de muita acidez, levemente efervescente (como se diz em Portugal, tem agulha), e geralmente de baixo teor alcoólico. E estas características fazem deles vinhos muito gastronômicos, fáceis de harmonizar com pratos muito diversos; e também refrescantes, gelados, à beira da piscina.

As principais uvas cultivadas em Vinho Verde

O clima de Vinho Verde é propício para o cultivo de castas brancas, como a Alvarinho, a Arinto, a Azal, a Loureiro e a Trajadura.

Apesar de a produção vitivinícola ser majoritariamente de vinhos brancos, também são feitos vinhos tintos e rosés. As castas tintas possuem dificuldade de amadurecer na região porque há pouca luminosidade. O pigmento das uvas funciona como bloqueador de raios solares, de forma que só há o cultivo de castas tintas na sub-região de Monção e Melgaço, onde há menos chuva e as temperaturas são mais elevadas.

As principais variedades de uvas tintas cultivadas na região são a Alvarelhão, a Amaral, a Borraçal, a Espadeiro, a Padeiro, a Pedral, a Rabo de Anho e a Vinhão.

As características dos vinhos de Vinho Verde

O clima influencia bastante nas características do vinho, de forma que é relativamente fácil identificar as produções de Vinho Verde de outras regiões portuguesas. A característica mais marcante destes vinhos é a acidez. Como são colhidas antes do seu ponto máximo de maturação, as uvas estão mais possuem menor quantidade de açúcar, o que garante um teor alcoólico mais baixo na bebida. O clima frio e a baixa amplitude térmica (diferença entre a temperatura máxima e mínima em um só dia) da região, por sua vez, explica a acidez e o frescor dos vinhos de Vinho Verde. Além de encorpados, os vinhos são muito aromáticos e bastante frutados, o que é perfeito para a harmonização gastronômica. A região de Vinho Verde produz vinhos leves, com baixa graduação alcoólica, muito frescor e borbulhas.

E agora vamos aos principais rótulos do evento!

Para começar comecei a noite, que estava muito agradável e propícia para a degustação de bons vinhos verdes, com os rótulos da tradicional Adega de Monção com os seus principais rótulos: Adega de Monção branco e os excepcionais vinhos da linha Muralha de Monção, branco e rosé. O Adega de Monção é um vinho mais fresco, leve, com uma bela acidez e um final super frutado. Um vinho frutado, lembrando frutas brancas e cítricas, bem como também a linha Muralha de Monção, sobretudo o seu rosé, muito frutado e o branco um pouco mais estruturado, com alguma complexidade.



Em seguida pulei para o estande da linha básica e de ótimo custo X benefício da Chapeleiro, com as suas versões branca e rosé, seguindo também a linha de vinhos jovens, diretos e fáceis de degustar.


Depois dei um salto na proposta degustando um belíssimo Alvarinho reserva que, embora não tendo passagem por madeira, era um vinho muito estruturado, poderoso, pungente na boca, rico e complexo. E, segundo o representante do produtor, conta com um enorme potencial de guarda para um vinho verde, com 8 a 10 anos de vocação de guarda! Incrível!


E tinha até espumante de vinho verde! No Brasil temos poucos e ou quase nada de ofertas no mercado de vinhos de um espumante de vinho verde, então quando surge a oportunidade de degustar um, não podemos desperdiçar, não é? E que vinho, prezados leitores enófilos, que vinho! Um 100% Alvarinho com uma acidez envolvente e poderosa com muita fruta e perlage. Demais!

Tinha também vinho verde oriundo de vinhas velhas. Esse rótulo abaixo é parte de vinhas velhas e conta com uma especial complexidade, mas fácil de degustar e agradável final com muita persistência. Um vinho para se degustar com calma e reverência.

A linha Azevedo, bem conhecida nas terras do Minho, também marcaram presença e o destaque ficou para o corte das principais castas dessa região: Loureiro e Alvarinho. Que vinhaço! E também o Alvarinho Reserva que não ficou atrás.


O evento teve espaço também para o tradicional Gazela que, muito leve e fresco, ganhou um espaço no meu coração. Para alguns o Gazela é muito ralo, sem expressão e fraco. Mas não o considerei como tal, a rejeição não justifica. É apenas uma proposta de vinho que é ideal para receber amigos e degustar despretensiosamente na beira da piscina ou na praia.

Outra linha importante da Região dos Vinhos Verdes é da Campelo. Nessa edição contou com os varietais Alvarinho e a minha preferida da região, a Loureiro. Mas gostei mais do Alvarinho desse produtor me decepcionando um pouco o seu Loureiro.


Mas o que não decepcionou foi o Loureiro Quinta da Calçada. Guardem o nome desse rótulo: Quinta da Calçada Loureiro! Ele é simplesmente excelente! Especial! Para mim foi o melhor Loureiro que degustei no evento! Fez jus a história da casta e da região: um vinho com alguma estrutura, frutado, redondo, com um bom volume de boca, um senhor vinho! Não ficou atrás também o rosé, o Portal da Calçada, com muita fruta e expressividade.


O evento nos ofereceu alguns vinhos verdes tintos, que são raros, difíceis de encontrar e que vinhos, senhores leitores. Todos com base na famosa casta Vinhão, outros 100% da casta, tinham como ponto forte o bom volume de boca, a excelente acidez e o sabor excepcional! Entre eles podemos destacar os da Adega Cooperativa Ponte da Barca e o Tapada dos Monges, o Terra de Felgueiras e o Arca Nova, todos 100% da cepa Vinhão.





A linha “ABCDarium” também marcou presença e o destaque ficou para o seu excepcional Arinto que é considerada a Riesling portuguesa. E merece essa comparação. São vinhos eloquentes, fáceis de degustar, frutados, equilibrados e muito, mas muito elegante. Muito bom também é o seu Alvarinho e rosé.



O destaque e a curiosidade da noite ficou para o Vinhão Naked branco. A casta tinta em versão branca é bem interessante, pois na vinificação as cascas da cepa são retiradas garantindo a sua versão branca. A mim agradou, com uma bela acidez garantindo o seu destaque. Mas eu prefiro a sua versão tinta.

E já que eu mencionei o Quinta da Calçada Loureiro como o melhor Loureiro do evento, tenho que falar do melhor Alvarinho que degustei na noite desse excelente festival, com passagem por barricas de carvalho. Estruturado, potente, mas deixando revelar a sua fruta, o seu equilíbrio e a sua elegância. Belíssimo Alvarinho! Correndo por fora também o ótimo Valados de Melgaço.

Então foi assim a minha noite com os vinhos verdes! Se eu já amava os vinhos dessa abençoada região nas terras dos nossos amigos patrícios, o Vinho Verde Wine Experience corroborou a minha condição de amor incondicional pelos Vinhos Verdes que amadureceram em meu coração.












































segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Aurora Reserva Merlot 2015

 

Ah o Merlot! Ao começar a redigir esse texto eu me lembrei, com muita alegria, da minha primeira vez degustando um vinho cultivado, produzido com uvas vitiviníferas. E a essa experiência foi com a casta Merlot, a minha primeira cepa. Como todo brasileiro que tem contato com o vinho, comecei com aqueles vinhos de uvas americanas, de vinhos de mesa, os famosos vinhos de garrafão. É um começo natural para nós brasileiros, faz parte da nossa história e cultura. Assim começou a história da vitivinicultura brasileira com os imigrantes italianos que, dada as condições difíceis e estruturais, cultivava os vinhos com as uvas de mesa, que eram mais resistentes ao clima tropical brasileiro. Até hoje esses vinhos representam uma fatia grande do mercado brasileiro. Mas eu senti a necessidade de seguir novos caminhos, novas percepções e experiências e assim surgiu, como primeira experiência o Merlot, a casta que, além de seus predicados, tem um efeito sentimental em minha vida de enófilo, de apreciador de vinhos. Ele deu o “start” definitivo nessa caminhada. E claro que nessa caminhada o Merlot continua na minha pauta de degustações, sobretudo os produzidos no Brasil. Não se enganem, amigos leitores, os vinhos dessa casta produzidos no Brasil são excelentes! O Merlot brasileiro ganhou uma cara própria, aquela famosa tipicidade. São vinhos vibrantes, frescos, frutados, mas com aquela personalidade que, independente do país e proposta, é característico do Merlot.

Então vos apresento o vinho que degustei e gostei e que veio da região emblemática de Bento Gonçalves e é o Aurora Reserva Merlot da safra 2015. Antes de expor a análise deste rótulo eu gostaria de fazer uma breve explanação sobre a região de Bento Gonçalves. Segundo o site do Município, Bento Gonçalves é a Capital Brasileira da Uva e do Vinho e também a primeira região do Brasil a obter a Indicação de Procedência e Denominação de Origem, pelo Vale dos Vinhedos, certificado que qualifica a origem do produto em nível mundial. Caso queira conhecer um pouco mais sobre o potencial vitivinícola da região, acesse:

http://www.bentogoncalves.rs.gov.br/a-cidade/economia-local/setor-vinicola

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos. Tem lágrimas finas e abundantes que lindamente desenha as paredes do copo.

No nariz tem uma explosão de frutas vermelhas, aromas agradáveis de cerejas, amoras e diria um toque floral, de violetas incríveis.

Na boca é seco, delicado e elegante, com as notas frutadas percebidas no olfato sendo sentidas também no paladar. Tem um bom corpo, o vinho, apesar de fresco, mas com personalidade marcante, com taninos domados, mas presentes e uma moderada acidez que o torna, como disse, fresco e agradável. Um toque discreto da madeira, bem integrada ao vinho, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho e um final frutado e persistente.

Um vinho excepcional, que sempre me fará lembrar dos meus primeiros contatos com os vinhos de cepas vitiviníferas e da minha transição, há mais de vinte anos atrás, e que tem sido responsável pela minha agradável caminhada pelo universo do vinho. Mas também não posso me esquecer do motivo pela qual esse rótulo chegou até mim. Claro que, primeiramente, foi pela história da Vinícola Aurora, mas também pelos inúmeros e importantes prêmios que esse rótulo, em especial, tem conquistado, em todos as suas safras. Um vinho de bom custo X benefício (já foi mais barato, é verdade), que expressa toda a tipicidade da terra e cultura brasileira, do sul do Brasil, em especial, e que tem conquistado o enófilo brasileiro, a começar por mim. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:

A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul. Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra fundamental da empresa.

Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para desmitificar as oito décadas da empresa.

No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os 232 rótulos da empresa. Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco. Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta. A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolaaurora.com.br/br

Degustado em: 2016

 

 





sábado, 31 de outubro de 2020

Adega Grande Reserva Castelão 2017

 

Sempre falarei em alto e bom som ou, neste caso, textualizarei de forma incansável que nada mais importante na degustação de um vinho do que o apelo regionalista traduzido é claro, nas suas castas autóctones e Portugal sintetiza com fidelidade a tipicidade de seus vinhos. A cultura e o terroir personificados em uma garrafa que, embora seja pequena e um simples objeto é significativa e gigante na história de um povo, de um país que reflete na cultura vitivinícola. E já que falamos em Portugal e das suas cepas, temos que destacar que o país é conhecido pelos seus “blends”, pelos seus cortes e, como costumo dizer, quando temos a oportunidade de degustar um vinho varietal, ou seja, com uma casta, temos de aproveitar, afinal, não é todo dia!

E uma casta, em especial, sempre me chamou a atenção e sempre me suscitou um ávido interesse e dizia: Ainda vou degustar um vinho 100% Castelão. A Castelão é uma das mais populares e importantes uvas portuguesas. Sintetiza a história da vitivinicultura daquele país. Mas daqui a pouco falarei um pouco sobre ela, pois antes, falarei como o meu interesse em degustar a mesma surgiu. E esse interesse surgiu por conta dos inúmeros blends que degustei ao longo do tempo. E sempre reparava que a Castelão estava lá, em menor ou maior percentual, ela sempre estava nos cortes dos vinhos lisboetas, de Setúbal, do Alentejo e isso me despertou o interesse. Mas no mercado de vinhos brasileiro a oferta de vinhos portugueses 100% Castelão é muito baixa, quase um desafio encontrar. Mas empreendi um esforço para procurar, garimpar, mas infelizmente nada. Até que um dia encontrei, por acaso, como sempre, um rótulo, da emblemática região de Setúbal, berço da Castelão, um vinho chamado Vinhas do Silvado Castelão 2016 e, apesar de ser um vinho básico me chamou muito atenção e isso fez com que eu me entusiasmasse, ainda mais, pelos vinhos dessa cepa e eis que surgiu, mais uma vez, a oportunidade de degustar a Castelão.

O vinho que degustei e gostei veio do Tejo, um vinho regional do Ribatejo, e se chama Adega Grande, um reserva, 100% Castelão, da safra 2017. A oportunidade veio novamente e com outra proposta em relação ao meu primeiro vinho degustado da Castelão, outra oportunidade para conhecer a casta em outra roupagem. Mas, por falar nela, conforme prometido, vamos um pouco falar da história da Castelão.

Castelão, o DNA de Portugal

A uva Castelão é uma variedade de uva de casca escura que é usada no processo de fabricação de vinho tinto e encontrada mais exclusivamente em Portugal. Ela é utilizada para a produção não só de vinhos varietais, mas também vinhos mistos. A  Castelão é extremamente popular graças à sua robustez. Essa uva tende a crescer bem em solos arenosos e inférteis e resiste à maioria das doenças. Embora essa uva prefira os climas mais quentes, ela produz qualidade decente de vinho, mesmo a partir de uvas cultivadas em partes mais frias e úmidas do país. A Castelão é conhecida, na região de Setúbal, como “Periquita”, também chamada João de Santarém ou Castelão Francês. Embora seja cultivada por todo o país, destaca-se, sobretudo nas regiões costeiras a sul e por vezes entra na constituição do Vinho do Porto. O Termo “Periquita” está associado ao emblemático vinho, de mesmo nome, criado por José Maria da Fonseca, da vinícola de mesmo nome lá na região de Setúbal. A vinícola, fundada em 1834, tinha a alcunha de “Periquita” por causa do local onde estava instalado, conhecido como “Cova da Periquita”, nome dado pelos moradores da região.

José Maria da Fonseca

Na costa sul de Portugal, onde os solos são arenosos, as vinhas de Castelão produzem vinhos que não são apenas tânicos, mas também encorpados e extremamente rústicos, com um toque de sabor frutado que parece o sabor de uma fruta silvestre. Estes vinhos são frequentemente envelhecidos no carvalho por um período de cinco a dez anos e uma vez feito; o vinho produzido é de qualidade extremamente premium. No caso dos vinhos produzidos a partir de uvas cultivadas na parte central de Portugal, devido à natureza calcária do solo, produz vinhos mais leves e frutados, que não precisam ser envelhecidos devido ao sabor equilibrado e podem ser consumidos precocemente. Este vinho é frequentemente misturado com variedades como Tinta Roriz e Touriga Nacional. Quando misturado com outros vinhos, as bordas ásperas do Castelão tendem a amolecer um pouco, tornando o vinho muito mais acessível, principalmente quando não passa pelo processo de envelhecimento.

E agora finalmente falemos do vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi intenso, com tons e reflexos violáceos com lágrimas finas e abundantes que desenham as paredes do copo.

No nariz oferece uma explosão de frutas vermelhas maduras como morango, cereja, framboesa, frutas vermelhas em compota, com notas de especiarias, diria também um toque de baunilha.

Na boca é seco, de corpo médio, alguma estrutura, mas macio, elegante, fácil de degustar, com taninos presentes, mas domados, com acidez moderada, que lhe confere algum frescor e um toque amadeirado, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, mas muito bem integrado ao conjunto do vinho. Um final frutado e agradável.

É óbvio que os melhores vinhos da casta Castelão estão na região de Setúbal ou ligados, de forma positiva, nos tradicionais vinhos do Porto, mas esse Castelão do Ribatejo é surpreendentemente bom! Um Castelão como deve ser: encorpado, de personalidade marcante, frutado, imponente, a Portugal líquido, derramado nas paredes do meu copo. A experiência foi maravilhosa, mas que espero que sejam contínuos, que se prolonguem em várias facetas, estilos, propostas, rituais e momentos, momentos únicos e variados. Um vinho eloquente, de perfil regionalista, a tipicidade, o DNA de Portugal. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Benfica do Ribatejo:

Sendo a mais antiga do concelho, a Adega Cooperativa de Benfica do Ribatejo, foi fundada em 1957, com o apoio das extintas, Junta Nacional do Vinho e Junta de Colonização Interna, numa altura em que a região atingiu o seu expoente máximo em área de vinha.

Inserida nos concelhos de Almeirim e de Salvaterra de Magos, tem a maioria das vinhas implantadas em solos de origem calcária e argilosa, pouco produtivos, denominados de Charneca e uma pequena parte em solos de aluvião, muito férteis, na lezíria do rio Tejo. Após décadas de vendas de vinho a granel, passou desde a última, a apostar nos engarrafados, tendo hoje, graças á plantação de novas vinhas e castas, modernização tecnológica e comercial, bem como o grande salto qualitativo da marca TEJO, toda a sua produção destinada a vinhos engarrafados de qualidade. Hoje a Adega Cooperativa de Benfica do Ribatejo, conta com os vinicultores associados, que exploram cerca de 500 hectares de vinha distribuídos por 70% de castas brancas e 30% de castas tintas. As castas brancas predominantes são a incontornável Fernão Pires, seguida da Boal de Alicante, Arinto,Tália e Vital. Nas tintas predominam a Castelão e Tinta Roriz e em menor escala, a Syrah, Cabernet Sauvignon, Alicante Boushet, Tinta Barroca e Touriga Nacional. O empenho dos associados na produção de uvas de qualidade, a determinação da Direção e a dedicação dos colaboradores, contribuíram para um desenvolvimento sadio da Adega. A Adega é hoje uma empresa voltada para as relações maduras e duradouras com os seus clientes e fornecedores, relações baseadas na confiança, respeito e excelência profissional. O seu futuro depende de estar sempre preparada para os desafios que ele lhe coloca.

Mais informações acesse:

https://www.adegadebenfica.pt/

Fontes de pesquisa:

Portal “Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Castel%C3%A3o_(uva)

Portal “Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/castelao

Portal “House of Wine”: http://houseofwine.com.br/por-dentro-vinho/castelao/

Portal “Correio Braziliense”: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/turismo/2016/01/06/interna_turismo,513036/conheca-a-historia-do-rotulo-periquita-vinho-pioneiro-do-norte-de-por.shtml

 




sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Portal de S. Braz Branco

 


Eu já comentei em outros textos e inspirações com rótulos agradáveis que tenho dado prioridade a vinhos com um forte apelo regionalista principalmente no quesito “castas”. Nada como degustar um vinho que entrega, com fidelidade, as características mais intensas da sua região, da sua terra, onde a tipicidade se mostre forte e presente, o famoso “terroir”. Populares em seus países, mas não tão conhecidas ao redor do mundo, algumas castas, sejam brancas ou tintas, sobretudo em Portugal, merecem a nossa atenção e o meu rótulo de hoje revela, mesmo diante da sua simplicidade, a nobreza do regionalismo de uma região que tanto amo, que foi a minha porta de entrada para os vinhos lusitanos: Alentejo. Independentes das classificações que os vinhos carreguem, independente de nomes impactantes que esteja no rótulo, os brancos alentejanos sempre foram os meus preferidos na terra dos patrícios e os blends, os cortes, entregam o melhor destes vinhos: frescor, leveza e tipicidade. E não se enganem amigos leitores, vinho não é status, não deve ser encarados como posição social ou poder econômico, mas ligado a celebração, ao prazer da degustação simplesmente, ligado, a quem quiser, a educação cultural.

Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que, como disse, veio do Alentejo e se chama Portal de S. Braz, um branco das castas Arinto, Antão Vaz e Roupeiro, sem informação de safra. E já que falamos de regionalismo arraigado, de história e cultura, falemos um pouco das castas que compõe esse rótulo: Antão Vaz, Arinto e Roupeiro.

Arinto

Uma das mais clássicas castas brancas portuguesas, a Arinto é originária da região de Bucelas, mas seu cultivo se expandiu para diversas áreas, como a Bairrada e Vinho Verde. É uma casta versátil, presente na maioria das regiões vitícolas portuguesas, sendo reconhecida pelo nome Pedernã na região dos Vinhos Verdes.

Concelho de Loures e Bucelas ao norte

Dona de ótima acidez, a uva branca Arinto produz vinhos muito frescos, com atraentes aromas de frutas cítricas. Os melhores exemplos de vinhos elaborados com a casta ostentam mineralidade e possui fermentação realizada em baixas temperaturas, o que garante a alta qualidade dos vinhos da uva. Sendo considerada uma das melhores variedades portuguesas, a uva Arinto é utilizada na elaboração de rótulos nobres, inclusive os com maior grau de envelhecimento. Possuindo maturação tardia, a uva é facilmente reconhecida no vinhedo por suas características estruturais. Com bagos pequenos e cor verde amarelada, a uva Arinto possui difícil vinificação, além de possuir sensibilidade a falta de umidade em solos de cultivo. Seus vinhos possuem ótima acidez e podem ser achados vinificados no estilo varietal e em corte, com as uvas Chardonnay e a casta Verdelho. Com complexidade e elegância, acredita-se que a uva Arinto foi levada para a região de Bucelas na época das cruzadas, após o retorno de alguns cavalheiros para a região próxima de Lisboa.

Antão Vaz

Pouco se sabe sobre as origens da casta Antão Vaz. Apesar da aura misteriosa que a rodeia, uma coisa se conhece: a sua filiação alentejana. E também que viajou pouco. Fora do seu Alentejo natal, apenas a Península de Setúbal a planta com alguma expressão, e não se encontram sinonímias para ela noutras regiões – como acontece com tantas outras castas –, comprovando-se assim a sua falta de apetência emigrante. Consensual, amada igualmente por viticultores e enólogos, a Antão Vaz é indiscutivelmente o “ex-libris” das castas brancas alentejanas, o orgulho e alma dos produtores locais. Particularmente bem adaptada ao clima soalheiro da grande planície, apresenta excelente resistência à seca e doença. Mais: é consistente, produtiva, e amadurece de forma homogénea. Tudo condições mais do que suficientes para torná-la incontornável no cenário dos vinhos brancos alentejanos. Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados, embora por vezes lhe falte acidez refrescante e revigorante. Daí a associação comum com as castas Roupeiro e Arinto, que contribuem com uma acidez mais viva. Se vindimada cedo, pode dar origem a vinhos vibrantes no aroma e a acidez firme; se deixada na vinha, pode atingir grau alcoólico elevado e aromas fragrantes, o que a torna boa candidata ao estágio em madeira. Os vinhos de Antão Vaz apresentam por regra aromas exuberantes, apresentando-se estruturados e densos no corpo.

Roupeiro

Roupeiro é uma das castas brancas mais utilizadas no Alentejo. Noutras regiões tem o nome de Síria ou Códega. Casta de uva branca muito utilizada em Portugal é recomendada nas regiões da Beira Interior com o nome de Codo ou Síria, no Douro com o nome de Códega e em todo o Alentejo com o nome de Roupeiro. Produz vinho com aromas primários muito interessantes a flor e a fruto, mas é sensível à oxidação e o seu vinho deve ser consumido nos anos imediatamente seguintes à colheita. Em geral, produz vinhos básicos para serem consumidos jovens, mostrando aromas de frutas cítricas e de caroço, além de notas florais. Quando bem feito, seu vinho apresenta aromas perfumados de frutas cítricas, pêssego, melão, loureiro e flores silvestres. Entretanto, perde rapidamente estes aromas, tornando-se bastante neutra após alguns meses em garrafa. Pode também oxidar rapidamente, sendo uma opção para vinhos jovens, de grande saída. Outros sinônimos: Síria, Malvasia Grossa, Dona Branca, Códega etc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo dourado e brilhante, um reluzente e bonito brilhante.

No nariz explode aromas de frutas brancas e cítricas, esta última garantida pela casta Arinto no corte, tais como maracujá, pera, maçã verde, abacaxi, além de notas florais.

Na boca é seco, elegante, com bom volume de boca, alguma expressividade e até mesmo estrutura, entregue pela Antão Vaz, com uma bela acidez que lhe confere jovialidade e frescor, com um final curto.

Esse passeio pelas histórias das castas, as suas características corroboram o que é o vinho que degusto: fresco, jovial, mas de personalidade e que ostenta a cultura de forma veemente e fiel do Alentejo e as suas castas mais tradicionais e populares, algumas delas que são cultivadas apenas nessa região, que sintetizam, personificam o apelo regionalista que faz do vinho especial. Simples sim, básico sim, mas especial. A polêmica fica para o nome “Private Collection” que, para muitos enófilos mais exigentes poderia colocar em xeque a qualidade do vinho: Será um equívoco um vinho básico levando um título, em seu rótulo com o nome de um vinho de alta gama? Talvez seja uma forma, um tanto quanto torta, de impulsionar o rótulo com um marketing exacerbado, mas é inegável que o vinho é surpreendentemente bom, um belo rótulo alentejano branco de que tanto gosto. Tem teor alcoólico de 13%.

Sobre a Adega Cooperativa da Granja (Granja Amareleja):

A Adega Cooperativa da Granja, com mais de 60 anos de história, beneficia das excelentes condições que o Alentejo oferece para a produção de vinhos de altíssima qualidade, apreciados em todo o mundo. O grande reconhecimento da qualidade dos vinhos aqui produzidos aconteceu em 1989 com a distinção de um vinho “Campeão do Mundo” num concurso que se realizou em Ljubljana, na ex-Jugoslávia e, desde 2007, a Adega tem vindo a evoluir com a modernização de toda a linha de produção, mantendo as tradições da região, nomeadamente com a produção de vinho de talha – tradição herdada do Império Romano – e a utilização das castas tão características da região.

Mais informações acesse:

https://www.granjaamareleja.pt/

Fontes de pesquisa:

Sobre a Arinto:

Portal “Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/arinto

Portal “Wikivinha”: https://www.vinha.pt/wikivinha/section/casta-vinho/arinto/

Sobre a Antão Vaz:

Portal “Revista de Vinhos”: https://www.revistadevinhos.pt/beber/antao-vaz

Sobre a Roupeiro:

Portal “Dfj Vinhos”: https://dfjvinhos.com/v/roupeiro

Portal “Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uvas-de-alentejo-em-portugal_11821.html

Portal “Enogourmet”: https://enogourmet.ne10.uol.com.br/posts/as-principais-castas-brancas-do-alentejo

 

 

 




Lo Tengo Torrontés 2012

 


Definitivamente a Malbec na Argentina é a casta tinta mais emblemática. Embora não seja uma “filha” natural, biológica, foi adotada e lá se perpetuou e até hoje a história se escreve a cada dia com rótulos emblemáticos. Mas não se enganem caros leitores, há espaço para as cepas brancas e uma, em especial, certamente ganhou notoriedade na terra dos Hermanos e também na minha mesa e no meu paladar: a Torrontés. Oriunda da Espanha, a Torrontés, foi amplamente cultivada na região da Galícia ganhou o terroir argentino ganhando lá a fama que hoje é cultivada pelos mais entusiasmados enófilos a começar por mim. A casta começou a ganhar destaque no início da década de 1970. Mas há indícios de que ela chegou na Argentina muitos anos antes. Algumas fontes citam que foi em 1500 com as missões jesuítas, outras relatam que foi em 1800 com os conquistadores espanhóis, mas a data exata é uma incógnita. O nome Torrontés é utilizado como uma referência para um grupo de uvas brancas, entre as mais conhecidas estão a Torrontés Riojano, a Torrontés Sanjuanino e a Torrontés Mendocino. Mas muitas vezes, apesar da diversidade, encontramos apenas o nome “Torrontés” nos rótulos dos vinhos. Bem, diante dessa ficha técnica da história da Torrontés, eu também tenho a minha história com essa incrível casta branca. Foi com a Torrontés que eu entendi e assimilei o conceito mais pleno de que uma casta branca pode ter personalidade, leve, fresca e com uma bela acidez. Ah a acidez, definitivamente tem tudo a ver com as cepas brancas, pois ela traz a jovialidade e o frescor de que esperamos destas. E a descobri graças as minhas pesquisas, as minhas inquietações e avidez por aprender e conhecer sobre a bebida de que amo tanto: o vinho. Pensei: Será que só existe a Malbec na Argentina? E pesquisei e vi e li muitas referências sobre essa casta: a Torrontés. Descobri alguns rótulos, me enamorei pela cepa e agora sigo nas minhas degustações com essa casta que não falta na minha adega.

E um vinho, claro, da casta Torrontés, me chamou muito a atenção, um vinho que definitivamente eu degustei e gostei e veio da emblemática região argentina Mendoza, e da tradicional Bodega Norton e se chama Lo Tengo, da safra 2012. Um vinho que, já no rótulo, enaltece a cultura da Argentina: o tango. Essas ligações e sinergias com a cultura se reflete fortemente com a vitivinicultura também, isso o argentino faz e muito bem. A Torrontés virou um “produto” que exporta os vinhos argentinos para o mundo, juntamente com a Malbec.

Então vamos ao vinho!

Na taça apresenta um lindo e brilhante amarelo dourado com reflexos esverdeados.

No nariz o destaque fica para as notas frutadas, frutas cítricas também é evidente, notas de limão, de abacaxi, damasco, pera e outro quesito que faz da Torrontés maravilhosa é o toque floral, flores brancas fazem desse vinho agradavelmente aromático e delicado.

Na boca é redondo, elegante, com uma personalidade marcante, com a reprodução das frutas brancas amplamente percebidas no aspecto olfativo, mostrando um equilíbrio entre ela, a fruta e a acidez que está em evidência, mas que não agride ou incomoda, revelando todo o seu frescor e jovialidade.

Um vinho que personifica com fidelidade a casta, que entrega com qualidade as características mais marcantes da Torrontés: personalidade, frescor, leveza, sabor. Essa simbiose faz da casta uma das mais importantes, versáteis e emblemáticas entre as cepas brancas catalogadas no mundo do vinho. São tão versáteis que podem ser degustadas sem acompanhamento, de forma descontraída, mas com comidas leves e até massas. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Norton:

Em 1895 o engenheiro Edmund James Palmer Norton chega à Argentina para ajudar na construção de uma ferrovia através dos Andes e se apaixona pelo terroir de Mendoza. Fazendo uma mudança drástica em sua vida, ele decide fundar sua própria vinha em Luján de Cuyo com vinhas importadas da França. Em 1919 começam as obras da adega que conhecemos hoje. Em 1951 os vinhos tintos e brancos finos de Norton são aclamados nacionalmente.

Edmund James Palmer Norton

Em 1989 o empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski se maravilha com a beleza de Mendoza e vê potencial no desenvolvimento dos vinhos argentinos. Ele decide comprar a Bodega Norton, a única vinícola tradicional da região cercada por vinhedos próprios. Sob a direção de Michael Halstrick, filho de Gernot Langes-Swarovski, começa uma nova era na vinha, com investimentos e expansão, tornando a Bodega Norton uma das primeiras a desenvolver um mercado de exportação. Em 1994 a Bodega Norton passa a ser sinônimo de Malbec argentino e é reconhecida com a classificação DOC (denominação de origem controlada). O renomado enólogo Jorge Riccitelli apresenta o Malbec Norton DOC ao mercado. Em 2000 a Bodega Norton torna-se uma das primeiras vinícolas do país a produzir espumante branco com sua linha Norton Sparkling. Em 2014 Norton lança sua linha Single Vineyard de vinhos de alto padrão chamada LOTE, um conceito inovador que permite ao consumidor desfrutar dos diversos terroirs de cada propriedade. A Bodega Norton se torna uma das vinícolas de exportação mais importantes da Argentina, exportando vinhos de alta qualidade para mais de 60 países. Em 2017 procurando uma forma de refletir melhor os vinhos de qualidade e profissionalismo que a Bodega Norton representa, sem falar na sua equipe de trabalhadores com espírito familiar, a vinícola leva sua marca para um novo rumo. Uma reforma para celebrar uma longa história como pioneiro do vinho argentino. A frase manuscrita "Signature Winemaking" denota a qualidade e a herança da Bodega Norton, inspirada pelo próprio Edmund Norton e continuada por mais de 125 anos.

Mais informações acesse:

http://www.norton.com.ar/en/

Degustado em: 2014


 


sábado, 24 de outubro de 2020

Alandra tinto 2019

 

Nós, simples enófilos, costumamos falar, em profusão, em termos como tipicidade, DNA do vinho, terroir, a terra que o vinho é produzido, a região tem muito ou pelo menos deveria ter entre nós grande importância na escolha de um vinho, por exemplo, e nos nossos conceitos de preferência de rótulos. E quando falamos em região, não podemos negligenciar, é claro, das suas cepas, das suas castas. Atualmente eu estou imergindo fundo no garimpo de novas regiões e principalmente de novas castas, castas essas com um grande apelo regionalista, o que consequentemente reforça o conceito de terra, de terroir, de tipicidade, de cultura, de história, do comportamento de um povo, de uma sociedade com vocação para a feitura, para a produção dessa bebida poética e inspiradora chamada VINHO.

E esse vinho que degustei e gostei vem de um país e região que dispensam maiores comentários pela sua importância e história para a vitivinicultura mundial, mas que, sim, vale e muito ser contada com requintes de detalhes para enaltecer e estimular a degustação do vinho que, mesmo dentro de uma garrafa, na limitação de uma garrafa, expressa e sintetiza a gigante cultura de um país e uma região como Portugal e o Alentejo, respectivamente. E esse vinho, apesar de uma proposta básica, de um vinho básico, de entrada, entrega, com fidelidade, essas características que me agrada e que aqui foram mencionadas, pois tem um forte apelo regional, mesmo não apresentando nenhuma classificação como o “vinho regional” ou o famoso “DOC”, tem inserido em sua proposta esse aspecto tão marcante, nos vinhos portugueses: a força regionalista e cultural. Falo do Esporão Alandra tinto, composto pelas castas autóctones Moreto (15%), Castelão (40%) e Trincadeira (45%). Então já que estamos falando de regionalismos e castas autóctones, por que não falemos sobre as cepas que compõe este vinho?

Moreto

A casta Moreto é característica da zona do Alentejo, sendo bastante cultivada nas zonas de Reguengos, Redondo e Granja-Amareleja. Pensa-se que terá sido introduzida na região, por volta do século XIX, quando se assistiu a um grande desenvolvimento da vitivultura no Alentejo. Esta casta apresenta cachos de tamanho pequeno e bagos de tamanho médio e arredondados. É uma casta bastante produtiva e de maturação tardia. Os vinhos produzidos com a casta Moreto são normalmente pouco encorpados e apresentam pouca cor, por isso é utilizada em vinhos de lote. Normalmente é lotada com as castas Trincadeira, Aragonez e Tinta Caiada. Casta produtiva, de maturação tardia, com baixos teores de açúcares, pelo que é geralmente a última casta a ser vindimada. Casta de elevada robustez e produtividade, indicada para zonas de calor extremo.

Castelão

Uma das formadoras da identidade dos vinhos portugueses, a Castelão é de suma importância para a vinicultura de Portugal. Esta cepa está entres as variedades mais amplamente cultivadas, estando entre as 250 uvas nativas de Portugal.

Periquita?

O mundo do vinho é repleto de confusões de ordem taxonômicas. Uma uva tem nomes diferentes dependendo da época ou localidade, mas no caso da uva Castelão, o fato é ainda mais curioso. Esta confusão acontece na relação entre Castelão e Periquita: muitas fontes (incluindo a Wikipédia) parecem pensar que Periquita é simplesmente um sinônimo de Castelão, mas isso está errado. Periquita é um nome do produto (ou marca, se assim você preferir), propriedade da vinícola José Maria da Fonseca. As misturas de Periquita sempre contiveram a uva Castelão, mas a maioria também contém quantidades variadas de outras uvas (aparentemente, apenas o vinho da Vinícola Fonseca chamada Periquita Clássica é 100% Castelão). A Castelão também já foi amplamente conhecida como Castelão Francês, mas quando Portugal reforçou suas leis do vinho, o nome oficial tornou-se simplesmente Castelão. Os melhores vinhos feitos com uva Castelão são oriundos da região de Setúbal, ao sul de Lisboa. Lá, especificamente, existe um terroir excelente para a produção de vinhos mais concentrados. É no sul de Portugal, abarcando também o Alentejo, aonde a maior parte da produção da uva Castelão é feita. Apesar disso, uma pequena parcela é plantada na parte central, na região do Douro, e estas são utilizadas no vinho do Porto. Nos vinhedos onde nascem as uvas Castelão, encontram-se cachos pequenos com bagos escuros, e com a casca grossa e em grande quantidade, principalmente se comparada à polpa. É sabido que em Portugal os vinhos varietais são raros. Então é mais comum serem encontrados cortes de Castelão misturados com Aragonês e Trincadeira, os quais permitem que o vinho resultante seja mais acessível e suave.

Trincadeira

A Trincadeira pode não ser muito conhecida, mas é outra uva da família das Vitis vinifera, cultivada essencialmente no Alentejo, na região do Douro e no Ribatejo. Também é conhecida como Trincadeira Preta ou Tinta Amarela (principalmente na região do Douro), e está presente principalmente nas regiões secas e quentes. Embora seja uma das pérolas da vitivinicultura portuguesa, a Uva Trincadeira é frequentemente evitada pelos produtores e enólogos por ser uma uva de difícil trato, por assim dizer. Suas cepas são de uma delicadeza tal que qualquer mínima demora em colhê-la na hora certa pode resultar no apodrecimento de seus cachos e em uma enorme perda de safra. Não é algo estranho que as uvas assumam características diferentes quando cultivadas em terroir distintos. Mas, a Trincadeira possui um temperamento ainda mais peculiar e isso reflete até nas diferentes nomenclaturas que pode assumir. Por exemplo, quando cultivada em Tejo e Alentejo, é chamada de Trincadeira Preta. Já, pelas paragens emolduradas do rio Douro, é chamada de Tinta-amarela. É Mortágua em Torres Vedras, em Arruda é Preto Martinho e Cravo Preto em Algarve. Ironicamente, a quantidade de nomes que possui a uva Trincadeira parece convergir com seu perfil instável, frágil e seu constante transtorno de personalidade. Se por um lado a prematuridade da colheita a deixa sem sabor, a mínima demora reflete na falta de acidez ou rápido apodrecimento dos cachos. É uma uva com bastante potencial para o amadurecimento, especialmente quando no apreciadíssimo barril de carvalho francês. Sua relação com o estágio em madeira é extremamente positiva, podendo revelar vinhos de alta complexidade e qualidade.

E finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo vermelho rubi escuro, intenso, com reflexos violáceos que garante um reluzente brilho, com poucas lágrimas finas e de média persistência.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas vermelhas como amora, framboesa e morango, com muito frescor.

Na boca é seco, com nuances frutadas, com boa presença de boca, um bom volume de boca que faz desse vinho, apesar de jovem, expressivo e exuberante, com taninos aveludados e macios, com uma baixa acidez e um final de média persistência.

Um vinho de estilo jovem, um cara de moderno, despretensioso e que certamente pode agradar aos paladares mais inexperientes, que está começando no universo do vinho e para aqueles mais calejados que quer um vinho mais informar ou receber amigos. Digo-lhes que é um vinho saboroso, gostoso e revisitando os meus arquivos de degustação, lembrei que degustei o Alandra tinto a três anos atrás, da safra 2015 e tenho na memória que sempre foi essa a proposta do rótulo: simples, mas nobre na sua proposta e importante no aspecto regional e cultural. Tem teor alcoólico de 13%.


Sobre a Herdade do Esporão:

A Herdade do Esporão está localizada em Reguengos de Monsaraz, cidade situada no Alentejo, região do centro-sul de Portugal que, apesar de ter uma produção bastante recente, com pouco mais de 40 anos, é a maior exportadora de vinhos de Portugal e uma das maiores do mundo. A Herdade tem 700 hectares de vinhas e olivais, além de alguns pomares e hortas. As cerca de 40 castas produzem uma variada gama de brancos, rosés e tintos, além de um excelente espumante e uma peculiar colheita tardia. Já as 4 variedades de azeitona dão origem a um dos mais famosos e prestigiados azeites no mercado internacional.

A Herdade conta com uma vastíssima programação de enoturismo, especialmente interessante no verão (junho a setembro), mas suficientemente variada para atrair novos fãs em qualquer época do ano. Aliás, o refinado restaurante da vinícola conta com cardápios distintos para cada estação. São duelos entre o Douro e o Alentejo, verticais, elaboração do próprio blend, refeições harmonizadas, até passeios de um dia inteiro entre as maravilhas naturais da linda propriedade. 

Mais informações acesse:

https://www.esporao.com/pt-pt/

Fontes:

Sobre a casta Moreto:

Site Vida Rural: https://www.vidarural.pt/insights/castas-portugal-moreto/

Site Vinho Virtual: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-209-Moreto

Sobre a casta Castelão:

Site Enologuia: https://www.enologuia.com.br/uvas/250-uva-castelao-portuguesa-com-certeza

Sobre a casta Trincadeira:

Site Enologuia: https://enologuia.com.br/uvas/232-uva-trincadeira-delicada-e-temperamental

Site Blogs dos Vinhos: https://blogdosvinhos.com.br/conheca-a-uva-trincadeira/