Sempre falarei em alto e bom som ou, neste caso,
textualizarei de forma incansável que nada mais importante na degustação de um
vinho do que o apelo regionalista traduzido é claro, nas suas castas autóctones
e Portugal sintetiza com fidelidade a tipicidade de seus vinhos. A cultura e o
terroir personificados em uma garrafa que, embora seja pequena e um simples
objeto é significativa e gigante na história de um povo, de um país que reflete
na cultura vitivinícola. E já que falamos em Portugal e das suas cepas, temos
que destacar que o país é conhecido pelos seus “blends”, pelos seus cortes e,
como costumo dizer, quando temos a oportunidade de degustar um vinho varietal,
ou seja, com uma casta, temos de aproveitar, afinal, não é todo dia!
E uma casta, em especial, sempre me chamou a atenção e sempre
me suscitou um ávido interesse e dizia: Ainda vou degustar um vinho 100%
Castelão. A Castelão é uma das mais populares e importantes uvas portuguesas.
Sintetiza a história da vitivinicultura daquele país. Mas daqui a pouco falarei
um pouco sobre ela, pois antes, falarei como o meu interesse em degustar a
mesma surgiu. E esse interesse surgiu por conta dos inúmeros blends que
degustei ao longo do tempo. E sempre reparava que a Castelão estava lá, em
menor ou maior percentual, ela sempre estava nos cortes dos vinhos lisboetas,
de Setúbal, do Alentejo e isso me despertou o interesse. Mas no mercado de
vinhos brasileiro a oferta de vinhos portugueses 100% Castelão é muito baixa,
quase um desafio encontrar. Mas empreendi um esforço para procurar, garimpar,
mas infelizmente nada. Até que um dia encontrei, por acaso, como sempre, um
rótulo, da emblemática região de Setúbal, berço da Castelão, um vinho chamado Vinhas do Silvado Castelão 2016 e, apesar de ser um vinho básico me chamou
muito atenção e isso fez com que eu me entusiasmasse, ainda mais, pelos vinhos
dessa cepa e eis que surgiu, mais uma vez, a oportunidade de degustar a
Castelão.
O vinho que degustei e gostei veio do Tejo, um vinho regional
do Ribatejo, e se chama Adega Grande, um reserva, 100% Castelão, da safra 2017.
A oportunidade veio novamente e com outra proposta em relação ao meu primeiro
vinho degustado da Castelão, outra oportunidade para conhecer a casta em outra
roupagem. Mas, por falar nela, conforme prometido, vamos um pouco falar da
história da Castelão.
Castelão, o DNA de Portugal
A uva Castelão é uma variedade de uva de casca escura que é
usada no processo de fabricação de vinho tinto e encontrada mais exclusivamente
em Portugal. Ela é utilizada para a produção não só de vinhos varietais, mas
também vinhos mistos. A Castelão é
extremamente popular graças à sua robustez. Essa uva tende a crescer bem em
solos arenosos e inférteis e resiste à maioria das doenças. Embora essa uva
prefira os climas mais quentes, ela produz qualidade decente de vinho, mesmo a
partir de uvas cultivadas em partes mais frias e úmidas do país. A Castelão é
conhecida, na região de Setúbal, como “Periquita”, também chamada João de
Santarém ou Castelão Francês. Embora seja cultivada por todo o país,
destaca-se, sobretudo nas regiões costeiras a sul e por vezes entra na
constituição do Vinho do Porto. O Termo “Periquita” está associado ao
emblemático vinho, de mesmo nome, criado por José Maria da Fonseca, da vinícola
de mesmo nome lá na região de Setúbal. A vinícola, fundada em 1834, tinha a
alcunha de “Periquita” por causa do local onde estava instalado, conhecido como
“Cova da Periquita”, nome dado pelos moradores da região.
Na costa sul de Portugal, onde os solos são arenosos, as
vinhas de Castelão produzem vinhos que não são apenas tânicos, mas também
encorpados e extremamente rústicos, com um toque de sabor frutado que parece o sabor
de uma fruta silvestre. Estes vinhos são frequentemente envelhecidos no
carvalho por um período de cinco a dez anos e uma vez feito; o vinho produzido
é de qualidade extremamente premium.
No caso dos vinhos produzidos a partir de uvas cultivadas na parte central de
Portugal, devido à natureza calcária do solo, produz vinhos mais leves e
frutados, que não precisam ser envelhecidos devido ao sabor equilibrado e podem
ser consumidos precocemente. Este vinho é frequentemente misturado com
variedades como Tinta Roriz e Touriga Nacional. Quando misturado com outros
vinhos, as bordas ásperas do Castelão tendem a amolecer um pouco, tornando o
vinho muito mais acessível, principalmente quando não passa pelo processo de
envelhecimento.
E agora finalmente falemos do vinho!
Na taça apresenta um lindo vermelho rubi intenso, com tons e
reflexos violáceos com lágrimas finas e abundantes que desenham as paredes do
copo.
No nariz oferece uma explosão de frutas vermelhas maduras
como morango, cereja, framboesa, frutas vermelhas em compota, com notas de
especiarias, diria também um toque de baunilha.
Na boca é seco, de corpo médio, alguma estrutura, mas macio,
elegante, fácil de degustar, com taninos presentes, mas domados, com acidez
moderada, que lhe confere algum frescor e um toque amadeirado, graças aos 6
meses de passagem por barricas de carvalho, mas muito bem integrado ao conjunto
do vinho. Um final frutado e agradável.
É óbvio que os melhores vinhos da casta Castelão estão na
região de Setúbal ou ligados, de forma positiva, nos tradicionais vinhos do
Porto, mas esse Castelão do Ribatejo é surpreendentemente bom! Um Castelão como
deve ser: encorpado, de personalidade marcante, frutado, imponente, a Portugal
líquido, derramado nas paredes do meu copo. A experiência foi maravilhosa, mas
que espero que sejam contínuos, que se prolonguem em várias facetas, estilos,
propostas, rituais e momentos, momentos únicos e variados. Um vinho eloquente,
de perfil regionalista, a tipicidade, o DNA de Portugal. Tem 13,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Adega Cooperativa de Benfica do Ribatejo:
Sendo a mais antiga do concelho, a Adega Cooperativa de
Benfica do Ribatejo, foi fundada em 1957, com o apoio das extintas, Junta
Nacional do Vinho e Junta de Colonização Interna, numa altura em que a região
atingiu o seu expoente máximo em área de vinha.
Inserida nos concelhos de Almeirim e de Salvaterra de Magos,
tem a maioria das vinhas implantadas em solos de origem calcária e argilosa,
pouco produtivos, denominados de Charneca e uma pequena parte em solos de
aluvião, muito férteis, na lezíria do rio Tejo. Após décadas de vendas de vinho
a granel, passou desde a última, a apostar nos engarrafados, tendo hoje, graças
á plantação de novas vinhas e castas, modernização tecnológica e comercial, bem
como o grande salto qualitativo da marca TEJO, toda a sua produção destinada a
vinhos engarrafados de qualidade. Hoje a Adega Cooperativa de Benfica do
Ribatejo, conta com os vinicultores associados, que exploram cerca de 500
hectares de vinha distribuídos por 70% de castas brancas e 30% de castas
tintas. As castas brancas predominantes são a incontornável Fernão Pires, seguida
da Boal de Alicante, Arinto,Tália e Vital. Nas tintas predominam a Castelão e
Tinta Roriz e em menor escala, a Syrah, Cabernet Sauvignon, Alicante Boushet,
Tinta Barroca e Touriga Nacional. O empenho dos associados na produção de uvas
de qualidade, a determinação da Direção e a dedicação dos colaboradores,
contribuíram para um desenvolvimento sadio da Adega. A Adega é hoje uma empresa
voltada para as relações maduras e duradouras com os seus clientes e
fornecedores, relações baseadas na confiança, respeito e excelência
profissional. O seu futuro depende de estar sempre preparada para os desafios
que ele lhe coloca.
Mais informações acesse:
https://www.adegadebenfica.pt/
Fontes de pesquisa:
Portal “Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Castel%C3%A3o_(uva)
Portal “Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/castelao
Portal “House
of Wine”: http://houseofwine.com.br/por-dentro-vinho/castelao/
Portal “Correio Braziliense”: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/turismo/2016/01/06/interna_turismo,513036/conheca-a-historia-do-rotulo-periquita-vinho-pioneiro-do-norte-de-por.shtml
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