sábado, 19 de dezembro de 2020

Vielas tinto 2019

 

Ah os vinhos de Lisboa! Os vinhos que são a personificação de Portugal, da identidade cultural deste país que, apesar de ser tão pequeno geograficamente, mas que se mostra gigante na sua diversidade de terroirs e de vinhos nas suas propostas e personalidades. Mas os vinhos lisboetas ganharam o meu coração e afeto de forma infinita. Há se caminhar e ter que explorar sobre esse chão, sobre essa região, sobre essa história que foi e está sendo escrita e enraizada nas vinhas e na alma desse povo que respira e sintetiza o que há de melhor no vinho, o que há de significativo nessa bebida sagrada que retrata cada canto, cada manifestação cultural de um país, de uma região, de um povo. E por mais que eu soe redundante no que tange aos meus comentários da região de Lisboa e de seus vinhos, não hesitarei em fazê-los, pois, o que pode se tornar um mero elogio, pode se tornar um mantra, entoado com muito respeito e reverência.

E eu falei de região, de história, de terroir, de geografia e não é que o meu rótulo de hoje abrange um pouco de tudo? E mostra isso de forma significativa e evidente aos olhos e paladar. As expectativas que alimentei saciaram minhas sensações, a minha taça se encheu de prazer e como exaltei cada gole, cada degustação. Um vinho surpreendente, um vinho simples, mas nobre, correto e delicioso, mas não quero começar falando do desfecho. Preciso mostrar o rótulo, apresentar o vinho que degustei e gostei e que vem, é claro, de Lisboa, em Portugal, e que se chama Vielas, um IG Lisboa, uma Indicação Geográfica, com um blend tipicamente lusitano das castas Castelão, Aragonez e Trincadeira e safra 2019. E por que disse que esse vinho, esse rótulo engloba história, geografia e cultura? Porque o vinho promove esses momentos sempre, mas dessa vez o faz de forma eloquente porque leva no seu nome uma região tradicional de Lisboa: As suas vielas ou os seus becos e, para variar, não podemos deixar de falar um pouco de cada canto, de cada rua que sintetiza a história de Lisboa e que a Parras Wines decidiu homenagear e que falarei um pouco aqui além do conceito de Indicação Geográfica (IG) e das regiões demarcadas com essa classificação, não só em Lisboa, como em outros lugares de Portugal.

As Vielas de Lisboa

Lisboa conta com 153 Becos, sendo que no decorrer dos séculos alguns deles ganharam o estatuto de travessa por via de alterações urbanísticas ou por solicitação dos residentes. O Beco é uma rua estreita e curta, muitas vezes sem saída, ou se quisermos numa só palavra, é sinónimo de viela. A toponímia empregue nos becos lisboetas caracteriza-se pelo uso das suas peculiaridades, do tipo de artesãos que lá trabalhavam, das referências geográficas próximas como igrejas ou outras instituições passíveis de rápida identificação e dos nomes dos seus moradores.

Primeiro, falemos da exceção que confirma a regra enunciada no parágrafo anterior: o Beco Pato Moniz, em Benfica, que homenageia um escritor (1781-1826) que faleceu no desterro a que o condenaram após a Vilafrancada por ser liberal. Atribuído pelo Edital municipal de 18/06/1926, foi acompanhado na mesma zona com a atribuição em Travessas e Largos dos também escritores José Agostinho de Macedo e Curvo Semedo, de três intervenientes no 31 de Janeiro de 1891 – Abade Pais, Sargento Abílio e Miguel Verdial – e do também republicano General Sousa Brandão, para além do compositor Marques Lésbio e do pintor Francisco Resende.

Dos outros 152 Becos alfacinhas, encontramos 32 relativos às características do próprio local: Beco do Norte (Carnide); Beco do Casal, Beco da Pedreira da Caneja (Campo de Ourique); Beco da Galheta por corruptela de Calheta junto ao Tejo, Beco do Olival, Beco do Tremoceiro (Estrela); Beco do Sabugueiro (Alcântara); Beco dos Aciprestes, Beco da Boavista do Alto de Santa Catarina (Misericórdia); Beco da Achada, Beco do Alfurja, Beco do Funil, Beco da Amendoeira, Beco do Azinhal, Beco das Barrelas, Beco das Canas, Beco Cascalho, Beco do Forno junto ao Largo da Severa, Beco da Lapa, Beco do Loureiro, Beco da Oliveira, Beco do Pocinho, Beco do Quebra Costas por ser tão íngreme e dois Becos do Jasmim (todos em Santa Maria Maior); Beco da Bombarda, Beco do Monte de S. Gens (Arroios); Beco da Laje (São Vicente e Santa Maria Maior); Beco da Bica do Sapato, Beco da Era, Beco do Mirante (São Vicente); Beco das Taipas  (Marvila). Referindo as profissões neles exercidas temos 23: Beco dos Ferreiros (Santa Clara); Beco da Mestra (Carnide); Beco da Botica (São Domingos de Benfica); Beco do Fogueteiro (Campo de Ourique); Beco da Bolacha, Beco dos Contrabandistas, Beco do Funileiro (Estrela); Beco dos Armazéns do Linho, Beco do Carrasco (Misericórdia); Beco do Almotacé, Beco da Atafona, Beco das Atafonas, Beco dos Cortumes por curtumes, Beco das Farinhas,  Beco do Imaginário pelo escultor de imagens de santos, Beco das Olarias,  Beco do Surra, Beco dos Surradores, Beco dos Três Engenhos (Santa Maria Maior); Beco dos Agulheiros, Beco da Mó, Beco dos Vidros (São Vicente); Beco dos Toucinheiros (Beato).

Com referências próximas são 38: Beco do Vintém das Escolas (Benfica); Beco da Enfermaria por referência a um pequeno hospital que ali existiu no séc. XIX para os criados da Casa Real (Belém); Beco das Fontaínhas (Alcântara); Beco do Paiol da pólvora, Beco de Santa Quitéria por referência à Travessa do mesmo nome para substituir o Beco dos Mortos (Campo de Ourique); Beco dos Apóstolos que queria dizer jesuítas (Misericórdia); Beco da Cruz pela proximidade à Rua da Cruz dos Poiais, Beco do Forno a São Paulo, Beco da Moeda por estar junto à Casa da Moeda (Misericórdia); Beco do Colégio dos Nobres, Beco de Santa Marta do Convento da mesma invocação que hoje vemos como Hospital (Santo António); Beco do Arco Escuro, Beco do Benformoso junto à Rua do Benformoso, Beco da Caridade por via da Ermida do mesmo nome, Beco do Castelo e Beco do Forno do Castelo de São Jorge, Beco dos Cavaleiros para substituir o Beco do Forno junto à Rua dos Cavaleiros, Beco das Cruzes em Alfama, Beco do Espírito Santo da Ermida da mesma invocação que depois passou a ser dos Remédios, Beco do Forno da Galé junto à Rua da Galé, Beco das Gralhas pela proximidade ao Largo das Gralhas para substituir o Beco do Jasmim, Beco da Guia por mor de um oratório embutido numa parede, Beco do Outeirinho da Amendoeira, Beco do Penabuquel por proximidade ao Arco do Penabuquel da muralha fernandina, Beco de Santa Helena pelo Palácio seiscentista conhecido pelo mesmo nome, Beco de São Francisco por estar junto ao Terreirinho de São Francisco que depois passou a Largo da Achada, Beco de São Miguel pela proximidade à igreja da mesma invocação, Beco do Recolhimento de Nossa Senhora da Encarnação (Santa Maria Maior); Beco de São Lázaro junto à Rua do mesmo nome, Beco de São Luís da Pena por mor da Igreja da mesma invocação (Santa Maria Maior e Arroios); Beco do Forno do Sol junto à Rua do Sol à Graça, Beco do Hospital de Marinha, Beco dos Lóios pela proximidade ao Largo dos Lóios e para substituir o Beco das Cabras, Beco dos Peixinhos por proximidade à Quinta dos Peixinhos, Beco do Salvador da Ermida de Jesus Salvador da Mata, Beco da Verónica pela proximidade à Ermida de Santa Verónica (São Vicente); Beco do Grilo dos Conventos dos Agostinhos Descalços (Beato) e Beco da Mitra (Marvila).

Com nomes ou alcunhas de moradores e/ou proprietários temos 36 : Beco do Chão Salgado do Palácio do Duque de Aveiro arrasado e salgado o seu chão, Beco de Domingos Tendeiro (Belém); Beco da Ferrugenta, Beco dos Galegos, Beco de João Alves (Ajuda); Beco de Estêvão Pinto (Campolide); Beco do Batalha,  Beco do Julião ( Campo de Ourique ); Beco do Machadinho  do Tabaco (Estrela); Beco do Caldeira por estar próximo da Travessa do Caldeira e substituir o Beco do Esfola Bodes, Beco de Francisco André ( Misericórdia ); Beco do Alegrete por estar junto ao Palácio dos Marqueses do Alegrete, Beco da Barbadela,  Beco do Belo, Beco da Cardosa, Beco do Chanceler de D. Dinis de seu nome Pedro Salgado, Beco dos Clérigos, Beco da Corvinha, Beco dos Fróis, Beco do Garcês, Beco do Guedes, Beco do Maldonado, Beco do Maquinez, Beco de Maria da Guerra, Beco do Marquês de Angeja, Beco do Melo, Beco do Mexias, Beco da Ricarda, Beco do Rosendo que seria Resende, Beco do Vigário (Santa Maria Maior); Beco dos Birbantes que esmolavam, Beco do Borralho de António de Moura Borralho, Beco do Félix, Beco de Maria Luísa, Beco do Petinguím  (Arroios) e Beco da Amorosa (Beato). Outros de ainda indefinida génese e alvo de discussão entre os olisipógrafos são 23: Beco da Ré por ser uma arguida ou um termo naval?(Belém); Beco do Viçoso por ser alcunha ou um local verdejante, Beco do Xadrez por ser alcunha ou um padrão na arquitetura local? (Ajuda); Beco do Monteiro por ser alcunha ou sítio de montado? (Campolide); Beco dos Capachinhos por alcunha ou local de feitura de capachos, Beco das Pirralhas por alcunha ou pela presença de crianças? (Estrela); Beco da Rosa por ser nome de moradora ou pela presença da flor? (Misericórdia); Beco da Bicha por ser alcunha ou um animal, Beco do Bugio por se cravarem estacas no chão ou por haver um macaco, Beco do Carneiro por ser apelido ou alcunha ou animal, Beco dos Cativos por ter escravos ou presos, Beco das Flores por ser inócuo ou por ter mesmo flores, Beco da Formosa por uma mulher ou por uma paisagem bonita, Beco do Leão por alcunha ou por símbolo, Beco das Mil Patacas por uma lenda ou por uma comunidade macaense, Beco dos Paus em sentido literal ou figurado, Beco dos Ramos em sentido literal ou um apelido, Beco de São Marçal por um azulejo do santo ou por um oratório dessa invocação? (Santa Maria Maior); o Beco da Bempostinha por alcunha ou outra coisa, o Beco do Índia, o Beco da Índia aos Anjos uma alcunha ou alguém que esteve na Índia?(Arroios); Beco das Beatas e o Beco dos Beguinhos (São Vicente).

IG (Indicação Geográfica)

Indicação Geográfica (IG) é um selo que reconhece uma área de vinha determinada dentro de um país pela sua qualidade diferenciada. Esse selo garante que os produtos daquela região apresentam características específicas devido a sua origem. Denominação de Origem (DO) é uma subdivisão mais restritiva dentro da IG. A regulamentação dessas áreas é extremamente rigorosa. No entanto, não existe uma regulamentação global para as IGs. Cada país utiliza regras próprias e define suas normas para que uma área seja Indicação Geográfica. As normas estabelecem as metodologias de produção e também características dos vinhos, como doçura e teor alcoólico. Esses selos não apenas delimitam a área de cultivo como também impõe regras de viticultura e vinificação. Por exemplo, quantidade de videiras permitidas e rendimento de cada uma delas, castas autorizadas, teor alcoólico. No geral, os selos protegem os produtores e tornam o consumidor mais consciente sobre o produto. Para que o vinho seja rotulado com algum desses selos, a produção anual é submetida a provas e testes para assegurar que a qualidade e características daquela região estão presentes na bebida. As áreas de plantio e as vinícolas também são inspecionadas anualmente para garantir que as normas de cultivo e produção estão sendo seguidas. Leia mais sobre como os vinhos são feitos. Não ter um selo desses não significa que o produto é ruim. Apenas que ele não segue regras predefinidas ou não está em uma área delimitada. A qualidade de produtos com selos de procedência acaba sendo alta, pois os produtores têm de seguir a riscas as especificações, garantindo assim o padrão da região. Ter conhecimento sobre as características dos vinhos produzidos em cada IG é muito importante na hora de escolher ou harmonizar um vinho. Mas essa não é uma tarefa tão simples. Um especialista pode indicar o que se espera obter de um vinho apenas sabendo sua origem.

IG em Portugal e outras denominações

Cada uma das 14 regiões vinícolas demarcadas de Portugal corresponde a uma Indicação Geográfica (IG), dentro das quais se encontra disposta ao menos uma DOC. Existem hoje 31 DOCs em Portugal e outras dezenas de Indicações de Proveniência Regulamentada aguardando para tornarem-se DOC.

Cada região vinícola possui sua própria identitade. Contudo, para iniciar o processo de estudo, podemos agrupá-las em três grandes perfis: Atlântico, Continental e Mediterrâneo. Primeiro tem o “Perfil Atlântico”, com as seguintes regiões: Vinho Verde (Minho), Bairrada (Beira Atlântico) e Lisboa. As suas características são: Vinhos com pouco açúcar e por isso o teor alcoólico varia de baixo a médio. Possuem acidez natural elevada e alto frescor, com efeito “crispy”, que os tornam bem apelativos e agradáveis ao consumidor. O corpo vai de ligeiro a médio e os tintos são marcantes. Mesmo assim, são vinhos mais diluídos em sabor e textura. São bem aromáticos, com notas florais. O segundo é “Perfil Montanhoso ou Continental”, com as regiões do Douro, Dão, Beira Interior e Alentejo Norte. As características são de vinhos com acidez que varia de média a alta; no geral, são encorpados, mas há alguns exemplares mais jovens que têm corpo médio. Os taninos são intensos, mas redondos e possuem alto grau alcoólico, que está integrado à bebida. São vinhos com alto potencial de envelhecimento e que valorizam o terroir. É comum a utilização de Vinhas Velhas para a produção. Como em muitos casos não há distinção de castas plantadas nessas vinhas velhas, a importância e características estão ligadas ao terroir. E por fim o terceiro, o “Perfil Mediterrâneo ou Planície”, das regiões do Tejo, Península de Setúbal, Alentejo Sul e Algarve e as características são de vinhos com maior indicie de açúcar e com álcool que vai de médio a alto. A acidez é media/baixa, graças a correção feita durante a vinificação. Os taninos são suaves e pouco marcantes. São vinhos frutados, macios, com corpo médio e boa concertação e fáceis de beber. A produção é em grande volume, mecanizada e moderna. Muitas vinícolas seguem os parâmetros do Novo Mundo, tanto na característica do vinho quanto na produção.

E agora finalmente o vinho!

Na taça conta com um vermelho rubi intenso, pleno, brilhante, mas com lindos reflexos violáceos, com uma boa aglomeração de lágrimas.

No nariz tem um toque frutado, de frutas negras maduras, como ameixa e amora, com um toque floral muito agradável, que traz um frescor e delicadeza ao olfato.

Na boca é seco, leve, redondo, muito equilibrado, macio e fácil de degustar, mas mostrando a personalidade de um vinho tipicamente lisboeta, tendo taninos polidos e sedosos, com acidez mediana e um final de média persistência com retrogosto frutado.

Dos cantos e recantos da região de Lisboa estão sendo transitadas história e tradição e que são personificadas nesse rótulo. Um vinho, como disse no início desse texto, simples, mas nobre, pois revela toda a sua tipicidade, parece que a geográfica abençoa esse vinho, o mar atlântico traz frescor e certa personalidade a esse Vielas, um vinho com o DNA de Lisboa com seus vinhos informais e despretensiosos, com a máxima expressão da fruta, das características mais marcantes das cepas autóctones que entregam com fidelidade a região na sua cultura vitivinícola. Um vinho descomplicado, mas versátil, harmoniza com refeições simples e massas leves ou pode degusta-lo simplesmente sozinho. Um vinho fresco e jovem que vem de uma região banhada pelo atlântico. 13% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil:

Não muito distante do sopé da vertente poente da Serra de Montejunto, entre Vilar e Martim Joanes, está instalada a Quinta do Gradil. Considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do Cadaval, a Quinta do Gradil tem uma forte tradição vitivinícola que se prolonga desde há séculos. A propriedade é composta por uma capela nobre ornamentada por um torreão artisticamente decorado, um núcleo habitacional, uma adega e uma área agrícola de 200 hectares ocupados com produções vinícolas e frutícolas. A Quinta do Gradil foi adquirida, nos finais dos anos 90, pelos netos de António Gomes Vieira, precursor da tradição de vinhos na família desde 1945. Os novos proprietários iniciaram, em 2000, o processo de reconversão de toda a área de vinha primando por castas de maior qualidade. A adega sofreu melhoramentos, estando projetada uma reformulação profunda nos próximos 2 anos, e as cocheiras recuperadas deram lugar a uma sala de tertúlias. O palacete e capela, em fase muito avançada de degradação aquando da aquisição da Quinta pelos novos proprietários, foram limpos e contam agora com um projecto ambicioso de recuperação, sendo que a herdade tem marcas históricas seculares e constitui um marco arquitetônico significativo. As mais antigas referências documentais encontradas sobre a Quinta do Gradil remontam ao final do século XV, num documento Régio. Em de 14 de Fevereiro de 1492, data do documento, D. Martinho de Noronha recebeu de D. João II a carta de doação da jurisdição e rendas do Concelho do Cadaval e da Quinta do Gradil. Por ocasião da ascensão de D. Manuel I ao trono português e a sua atuação a favor dos membros da Casa de Bragança, a Quinta do Gradil torna a ser referenciada na confirmação de doação concedida por D. Manuel I a D. Álvaro de Bragança, irmão mais novo do 3º Duque de Bragança, D. Fernando II, que acusado de traição foi mandado degolar por D. João II, em 1483. A Quinta terá sido adquirida pelo Marquês de Pombal por ocasião do movimento que a partir de 1760 levou à ocupação de terras municipais, admitindo-se que já na altura contasse com o cultivo de vinha, fator que terá sido decisivo para o estadista que criou a Companhia das Vinhas do Alto Douro. Manteve-se na pretensa da família até meados do século XX, quando foi comparada por Sampaio de Oliveira. Já nos finais dos anos 90 que os atuais proprietários, a família Vieira, adquirem a herdade.


Sobre a Parras Wines:

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras. Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada. Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.quintadogradil.wine/pt/

https://www.parras.wine/pt/

Referências de pesquisa:

Portal “Toponímia Lisboa”: https://toponimialisboa.wordpress.com/2017/06/19/os-becos-ou-vielas-de-lisboa/

Portal “Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/

https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/

 







sábado, 12 de dezembro de 2020

Marchesi del Salento Primitivo 2018

 

Ao longo da semana que antecedeu a minha tão esperada degustação tradicional de sábado, tentei escolher um vinho que emanasse tradição, história e, ao mesmo tempo, um vinho, uma casta, uma região que não degustava há algum tempo. Revirei cada canto da minha adega na expectativa de encontrar algum rótulo que se adequasse aos meus anseios. Eis que me deparei com um do Velho Mundo, da terra da Bota, da velha Itália, mais precisamente da emblemática região de Puglia ou, para alguns, Apulia, da casta Primitivo que, nos Estados Unidos se chama Zinfandel. Ah, quanto tempo eu não degusto um Primitivo, uma cepa tão versátil, que mescla a maciez e o frutado com muita personalidade e expressividade. Essa é a cara do vinho italiano: rótulos acessíveis à mesa, com muita elegância e requinte.

E, desde o meu último rótulo degustado da casta Primitivo, estamos testemunhando um crescimento exponencial, uma popularidade na Itália e no mundo inteiro. E não precisa fazer um grande trabalho de pesquisa para identificar isso. A oferta de rótulos dessa casta tem crescido vertiginosamente no Brasil nos últimos anos e consequentemente o seu consumo em todas as suas propostas de vinhos, dos mais frutados aos mais complexos e barricados. Então eu precisava degustar um Primitivo de novo, depois de quase 5 anos sem fazê-lo! Isso mesmo, quase 5 anos sem degustar e agora vem a calhar celebrar esse momento da casta em sua grata e nova realidade no Brasil.

Então o vinho que degustei e gostei veio da região de Puglia, da história vinícola Castellani, e se chama Marchesi del Salento, da casta, é claro, Primitivo e a safra é de 2018. E o seu atual sucesso nos dias atuais se deve também ao seu passado rico, de muita história, personificado em uma cultura de DNA, de identificação de um povo que tem um laço forte e simbiótico com o vinho e a vinha. Então falemos da Primitivo e da região a qual tem representatividade de cultivo: Puglia.

Primitivo

A uva Primitivo é uma das castas típicas do sul da Itália, especialmente na região de Puglia. Atualmente, ela tem grande cultivo também nos Estados Unidos, onde recebe o nome de Zinfandel. Algumas pessoas acreditam ter diferenças entre a Primitivo e a Zinfandel, mesmo que ambas as castas tenham o mesmo DNA, provado cientificamente. Um dos motivos é que originam vinhos com características muito distintas, embora tenham alto teor alcoólico. De característica mais doce, esta uva é capaz de produzir ótimos rótulos, especialmente nos DOC’s Primitivo di Manduria e Primitivo Del Salento, ambos na Itália.

O termo “Primitivo”, nome desta uva, está relacionado ao tempo de colheita. Ela é uma casta que amadurece precoce, em meados de agosto, antes de outras uvas tintas. Devido ao seu tempo de amadurecimento, esta uva tem grande quantidade de açúcar residual, resultando em vinhos com alto teor alcoólico. Ela é conhecida por produzir vinhos mais robustos e ricos em taninos.

Sua história não é confirmada, mas existem alguns indícios do surgimento desta uva. Foram encontrados sinais da Primitivo na Itália, durante o século XVIII, mas alguns estudiosos acreditam que ela tenha se originado anteriormente. Existem algumas evidências da comercialização de vinhos com esta casta no ano 1400. Enquanto isso, outro estudo, que analisou as raízes da Primitivo, atribuem sua origem a Croácia. Após algum tempo, foi descoberto que a Zinfandel, considerada uma casta californiana, tem o mesmo DNA da Primitivo. Embora não exista um consenso sobre suas origens, a Primitivo tem destaque em terras italianas. Em Puglia, ela é cultivada em 11 mil hectares, quantidade que aumentou consideravelmente nos últimos dez anos, em cerca de 40%. A Primitivo tinha registrado anteriormente um período de baixa, devido a algumas normas da União Europeia para desarraigar vinhas.

Puglia

O nome Puglia vem do povo Iapigi, que os romanos em latim chamaram de Apuli, e a região, consequentemente, Apulia.  Em português o nome se manteve como em latim, e em italiano passou a ser Puglia. Puglia fica no “calcanhar da bota” do mapa italiano. A região é cercada por praias consideradas as mais lindas da Itália, como Torre dell’Orso, um balneário italiano de pequenas falésias que moldam e encantam as areias de seu litoral. Outro destaque da região é a cidade de Otranto, a maior dessa parte do litoral, que possui sítios históricos, que nos remetem a era da Itália medieval e ainda mantém algumas ruínas greco-romanas.

Puglia

O sul da Itália é considerado o berço do vinho italiano. Embora a região setentrional também possua seu prestígio, as regiões que compreendem a parte sul, Molise, Campânia, Basilicata, Calábria e Puglia, são destaque na produção e qualidade dos famosos vinhos italianos, sendo Puglia a região considerada principal, não somente pela grande produção de seus vinhedos, como também pela qualidade dos vinhos. Puglia possui uma extensão de aproximadamente 400 km através da costa do mar Adriático, com clima e solo considerado ideal para a produção de vinhos, além da topografia da região ser praticamente plana. Puglia possui uma área de vinhedos de 190.000 ha, a região é responsável por 17% da produção de vinho italiano. Em Puglia, 60% da produção se dão através do sistema de cooperativas.

A região tem ampla diversidade de uvas nativas, que conferem status quando o assunto é exportação. Ao norte da região as uvas mais abundantes são a Trebbiano e a Sangiovese e os vinhos gerados a partir dessas espécies respondem por até 30% dos vinhos DOC produzidos na região. Há ainda as uvas Bombino Bianco e Montepulciano, oriundas da província de Foggia, e a “Uva di Troia” ou Sumarello. As que possuem maior destaque na região são a Primitivo e a Negroamaro.

A uva Primitivo é proveniente de Manduria, localizada ao sul da região, a 10km do mar Jônio. Normalmente, os vinhos dessa uva possuem corpo denso e médio, cor escura e acidez entre média e alta, de boa longevidade e excelentes companheiros na gastronomia da região. A uva Negroamaro é utilizada para a produção de vinhos bastante rústicos. Atualmente é trabalhado em conjunto com a Malvasia Negra, o que resulta na produção de vinhos muito fortes e bem encorpados, considerados ideais para o consumo com carne.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos muito brilhante, com grande concentração de lágrimas finas, mas que logo se dissipa das paredes do copo.

No nariz tem agradáveis aromas de frutas vermelhas como framboesa, groselha e morango, com um discreto toque floral, diria.

Na boca se reproduz as impressões olfativas, com toques de frutas vermelhas, com um discreto adocicado. Tem corpo leve para médio, mas é fácil de degustar e macio. No início o álcool sobressaiu um pouco, mas com alguns minutos na taça, o vinho ficou aveludado e equilibrado. Os taninos estão domados e suaves, com uma acidez média e um final persistente, com muita fruta.

Tradição, história, o DNA da vitivinicultura da Itália traduzida em grandes vinhos que, em alguns momentos tiveram contratempos, alguns reveses, que só veio a reforçar o potencial de crescimento da região e dos seus vinhos, dos seus “Primitivos” que entrou em nosso país sendo reverenciado, em todos os seus aspectos, em todas as suas propostas. Marchesi del Salento personifica, em requinte de detalhes, de terroir, de história, todas as características mais emblemáticas de um Primitivo com a sua proposta: frutada, jovem, fácil de degustar, mas com a personalidade e expressividade que determinam a sua imponência. Um vinho surpreendentemente maravilhoso. O único ponto negativo é claro fica para o seu valor e que vale ser registrado: lembro-me quando o comprei na faixa dos R$ 30,00 e atualmente, dado ao seu sucesso, está na faixa dos R$ 60,00! Um valor absurdo e que precisa ser revisto, se de fato querem que a democracia da cultura do vinho seja disseminada. De resto, um grande e surpreendente vinho que é muito versátil, harmonizando com pratos mais simples a complexos. Harmonizou muito bem com um queijo gorgonzola e logo será degustado com uma bela macarronada, como todo bom rótulo italiano. Tem 13% de teor alcoólico.

Marchesi del Salento Primitivo harmonizado com Queijo Gorgonzola

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti. A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

Sobre a casta Primitivo:

Blog “Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-primitivo/#:~:text=O%20termo%20%E2%80%9CPrimitivo%E2%80%9D%2C%20nome,vinhos%20com%20alto%20teor%20alco%C3%B3lico.

Portal Viavini: https://www.viavini.com.br/blog-de-vinhos/primitivo-uma-uva-diversos-vinhos/

Sobre a região de Puglia:

Blog “Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/puglia-uma-das-maiores-da-italia/

Blog “Diário de Bari”: http://diariodebari.blogspot.com/2011/12/puglia-um-pouco-de-historia.html

Portal “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vinhos-de-puglia-o-berco-dos-vinhos-italianos/


 






terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Terraza de los Andes Syrah 2011


Sabe aquela frase famosa no universo do vinho: “Vinho quanto mais velho melhor”? Por algum tempo esse termo era entoado como um mantra por muitos enófilos espalhados por aí, tido como absoluta verdade. Mas é claro que, com o esclarecimento e alguns tabus esse termo, por muitos, caiu por terra. É evidente que nem todo vinho velho é bom, afinal muitos vinhos que estão disponíveis nos supermercados, nas lojas especializadas, entre outros pontos de compra, são feitos para serem consumidos jovens. Vinhos diretos para um mercado ávido por degustar logo suas aquisições viníferas. O percentual de vinhos de potencial de guarda é muito pequeno, mas que dá conta com um nicho muito interessados em degustar vinhos com essa proposta: vinhos evoluídos, com complexidade em aromas, vinhos com estrutura e maciez graças ao tempo. Quando comecei a degustar vinhos eu não tinha muito interesse em vinhos de guarda, com vocação para guarda, mas, ao longo do tempo, fui, aos poucos, me interessando, mas não foi nada programado, sequer comecei a pesquisar sobre esses vinhos, mas, na realidade, um vinho com essa proposta chegou às minhas mãos, quase que ocasionalmente.

O vinho, um Syrah que veio da emblemática região de Mendoza, chegou em minhas mãos após uma escolha pela casta, a qual sou grande apreciador e porque era o meu primeiro rótulo da casta Syrah oriundo da terra dos nossos hermanos. A safra era o menos importante para mim. O comprei e deixei na adega por mais dois anos! Até que no ano de 2017, perto do natal, decidi tirar a sua rolha e servir a minha taça. Depois que eu me dei conta de que se tratava de um vinho com seus 6 anos de vida, pouco tempo, é bem verdade, mas que para um mercado que é abastecido por vinhos que tem potencial de guarda de 3 ou 4 anos, 6 anos é um tempo demasiado longo. Mas o tempo foi o menos importante, mas o quanto ele poderia ter ainda de vida se eu optasse por mantê-lo guardado, isso que me fascinou nesse vinho. Mas disso falarei logo, pois preciso apresentá-lo: O vinho, ou melhor, o vinhaço que degustei e gostei veio, como disse de Mendoza, da casta Syrah, e se chama Terraza de los Andes, da safra 2011. E já que falei da minha predileção pela Syrah, falemos um pouco da história da casta e a sua fama pelo mundo, inclusive na Argentina, que é muito bem cultivada.

A Syrah pelo mundo

No século XIII, o cavaleiro Gaspard de Stérimberg, retornou das Cruzadas e estabeleceu-se ao sul da cidade de Lyon, perto do entroncamento dos rios Rhône e Isère. Lá, ergueu uma capela para São Cristóvão e viveu como ermitão, isolado do mundo. Acredita-se que ele ou talvez outros cruzados, ao retornarem para a França depois das batalhas no Oriente Médio, teriam trazido consigo mudas de vinhas da cidade de Shiraz (ou Chiraz), na Pérsia, então um importante centro comercial da antiguidade. Outra lenda dá conta de que os imigrantes gregos da cidade de Foceia (atualmente Foça, na Turquia) teriam criado relações comerciais no Mediterrâneo e também fundado portos e cidades, entre elas Massalia (Marselha). Assim, eles teriam trazido as mudas adquiridas em Shiraz, na Pérsia, e as implantado na região ainda no século VI a.C. Há chances ainda de a variedade ter sido originada no mar Egeu, numa das ilhas gregas das Cíclades chamada Siro (ou Syra). No entanto, alguns acreditam que a origem da uva Syrah no Rhône é ainda anterior, remontando a 310 a.C. Na época, Agathocles, tirano que reinava na ilha siciliana de Siracusa (Syracusa) teria trazido consigo mudas de vinhas quando esteve no Egito. Da ilha, as vinhas teriam se espalhado pelo sul da França. Outros ainda cogitam a ideia de que, nos primeiros anos depois de Cristo, Plínio, o Velho, filósofo e naturalista romano, teria descrito a variedade Syriaca, uma versão escura da uva Aminea, que crescia na Síria, como uma ancestral da Syrah. Há quem sugira que São Patrício, patrono da Irlanda, foi quem plantou as primeiras mudas de Syrah no Rhône quando fazia seu trajeto para a abadia de Lérins, na ilha de Saint-Honorat, perto de Cannes. Já os viticultores albaneses creem que a Syrah tenha se originado em suas terras. Lá, cresce uma variedade tinta chamada Serina e Zezë e outra dita Shesh i zi, que teriam parentesco com a Syrah. Sérine, por sinal, é um dos nomes pela qual a variedade é conhecida. E então? Qual hipótese você acha mais plausível para o surgimento da Syrah e sua instalação no Rhône? A mais aceita, entretanto, estão mesmo diretamente ligadas ao norte do vale do rio Rhône, mais especificamente na área ao norte do rio Isère e à leste do Rhône, até o lago de Genebra, entre a França e a Suíça, no departamento de Isère. Essa hipótese foi levantada devido a uma análise de DNA feita em 1998 pela UC Davis e pelo INRA (instituto de pesquisas agronômicas) em Montpellier, no sul da França. O levantamento surpreendeu os cientistas e mostrou que a Syrah é um cruzamento natural entre a Mondeuse Blanche, branca, e a Dureza, tinta. A Mondeuse, natural da região de Savóia, próxima ao Rhône, costumava ser cultivada também em Ain e Isère. A Dureza, natural de Ardèche, logo a oeste do rio Rhône, costumava ser cultivada em Drôme e também em Isère. Portanto, os ampelógrafos concluíram que o nascimento da Syrah deve ter se dado em um local em que essas duas variedades eram plantadas, portanto, mais provavelmente em Isère por volta do século XII. A data, porém, pode ser anterior, já que alguns estudiosos acham que a Syrah pode ter sido citada pelos primeiros naturalistas romanos como Columella e Plínio, o Velho, no século I da era cristã. A Syrah, por sinal, possui diversos nomes e não apenas a sua variação mais comum Shiraz, que ficou famosa devido ao boom dos vinhos australianos. Aliás, até mesmo na Austrália ela possui ainda outro nome e pode ser chamada de Hermitage. Mas, suas variações mais comuns são: Sira, Sirac, Sirah, Syra, Syrac, além de, como já foi visto, Sérine, que também apresenta diversas possibilidades como: Sérène, Serine e Serinne. Ela também pode ser chamada de Petite Sirrah (não confundir com Petite Sirah, que é outra casta), Candive e Marsanne Noire.

A França é o maior e mais tradicional produtor de Syrah, com grande concentração no vale do rio Rhône. Com clima mediterrâneo e solo rico, este é o território com a mais antiga produção de vinhos do país. Em segundo lugar entre os grandes produtores está a Austrália. Nesse país, seu cultivo é datado desde o século XIX e lá a uva se adaptou tão bem que os australianos se sentiram à vontade para mudar seu nome para Shiraz, podendo chamá-la também de Hermitage. Foi da Austrália que, a partir da década de 1980, essa uva começou a chamar atenção do resto do mundo e seus vinhos experimentaram uma popularidade crescente, nunca vista anteriormente. Lá, são elaborados alguns dos vinhos mais apreciados, conhecidos e contemplados do mundo, principalmente nas regiões de Hunter Valley, Barossa Valley, Margaret River e McLaren Vale. Outros países que se destacam no cultivo dessa casta são Espanha, Argentina, África do Sul, Estados Unidos, Itália, Portugal e Chile. E o Brasil também não fica de fora desse mercado. Aqui já existem alguns bons exemplares de cultivo da uva Syrah no Rio Grande do Sul, no Vale do São Francisco, em Minas Gerais e no estado de São Paulo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um impenetrável vermelho rubi, escuro e intenso e ainda reluzente, brilhante, mostrando vivacidade, com abundantes lágrimas finas e que teimavam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz uma explosão aromática complexa de frutas negras e especiarias e bem amadeirado, devido a passagem de 12 a 14 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é estruturado, potente, mas, ao mesmo tempo se mostrou equilibrado, elegante e macio, diria até fácil de degustar. É frutado, tem taninos presentes, gulosos, mas domados, certamente pelos 6 anos de safra, com aquele picante característico da Syrah, com acidez média para alta, mantendo ainda um frescor e diria jovialidade do vinho, com o toque de torrefação, de tosta e a madeira bem anunciada, mas que não sobressai, em momento algum, as características da cepa. Um final persistente, com retrogosto frutado.

O Terraza de los Andes é um vinho de altitude. O Terraza de los Andes Syrah foi cultivado a 800m acima do nível do mar, o que colabora para a sua complexidade. E esse termo define bem o rótulo: complexo. Um vinho potente e que, com seus 6 anos de safra, mostrava-se pleno, vivo e intenso, no seu mais perfeito auge para degustação. Sem sombra de dúvida o Terraza de los Andes Syrah ainda tinha muito mais a oferecer com muito mais tempo de guarda. O vinho tinha vocação de guarda. Foi com esse vinho que eu passei a enveredar para esse assunto dos vinhos evoluídos, de guarda e que fez me interessar mais e mais por eles. Então vida longa e próspera as nossas degustações. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre a Terraza de los Andes:

Ao fim da década de 1950, Möet-Chandon, empresa do grupo LVMH buscou na América Latina um local para produção de vinhos de alta qualidade internacional. Fascinados com Mendoza e seu potencial compraram e reformaram uma antiga vinícola em estilo espanhol, construída em 1.898. Sabe-se que a temperatura média baixa quase um grau a cada 100 m de altura, mas Terrazas de los Andes foi a primeira vinícola argentina a conhecer e aplicar a altitude ideal para o cultivo de cada casta, isso no ano de 1999, quando foi fundada na região de Perdriel, na província de Mendoza. Isto marca seus vinhos de destacada tipicidade varietal: Syrah 800 m, Cabernet Sauvignon 980 m, Merlot 1.000 m, Malbec 1.067 m, Petit Manseng 1.150 m e Chardonnay 1.200 m. Além de sua linha top Single Vineyard, que apresenta grande complexidade, concentração e persistência, o grupo foi um passo adiante inaugurando uma joint-venture com o Premier Grand Cru francês Cheval Blanc para a produção de um dos vinhos ícones da Argentina, o Cheval des Andes – até 2006 um corte de Cabernet Sauvignon, Malbec e Petit Verdot, com grande potencial de guarda.

Mais informações acesse:

https://www.terrazasdelosandes.com/pt

Referências de pesquisa:

Blog da Famiglia Valduga, em: https://blog.famigliavalduga.com.br/uva-syrah-saiba-mais-sobre-uma-das-uvas-mais-antigas-do-mundo/#:~:text=A%20origem%20da%20casta%20Syrah,situada%20no%20sul%20da%20It%C3%A1lia.

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sinonimos_10240.html

Degustado em: 2017

 


sábado, 5 de dezembro de 2020

Gato Negro Carménère 2019

 

É estranho um vinho fazer parte da nossa história enófila, mas que nunca tinha degustado. Não, não estou embriagado, entorpecido pelas taças que estou degustando, essas linhas iniciais do meu texto são coerentes e consistentes em minha história que conta com mais de vinte anos sem ao menos ter derramado uma gota do rótulo de hoje em minhas taças. Explico! Em minhas inúmeras e necessárias incursões nos supermercados eu sempre passei por esse vinho, mas nunca o comprei. Sempre tive as minhas preferências, principalmente em meu momento de transição dos vinhos de mesa para os vinhos de castas vitiviníferas, onde criei, por alguns rótulos, uma espécie de vínculo emocional, porém, pelo vinho de hoje eu nunca comprei, eu nunca degustei, apesar de saber da sua existência. Não sou capaz de responder a esse questionamento. Sempre tiveram um valor competitivo, era, e ainda é, um dos vinhos chilenos mais vendidos no Brasil, com uma boa aceitação e uma popularidade edificada que vem desde aqueles tempos em que eu estava descobrindo os vinhos pelas quais sou um apaixonado nos dias de hoje.

E o dia em que se deu a minha compra eu buscava um vinho com um precinho camarada, com um valor que cabia no meu bolso naquele momento, um vinho cuja casta expressasse toda a importância para o terroir de um país, sintetizasse a cultura de um povo e que tivesse, consequentemente o DNA de um pais em todas as suas nuances. A primeira etapa eu atingi: queria degustar um legítimo Carménère chileno, mas um vinho básico para tentar corroborar a história deste país com a casta onde a maioria dos vinhos são especiais, em todas as suas propostas. Então fui garimpar. Apesar da Carménère ser um vinho extramente popular no Chile e no Brasil não é das tarefas mais fáceis, pelo menos para mim, encontrar um legítimo 100% Carménère, apesar de constar estampado o nome da cepa na maioria dos rótulos, geralmente são cortes, blends e essa era minha outra intenção: Um 100% Carménère! As minhas incursões nos supermercados surtiu efeito e me deparei com aquele vinho que, por mais de 20 anos, eu não comprei. O levei para casa sem hesitar, afinal, sentia que tudo conspirava a meu favor e todas as minhas pretensões de compra estavam convergindo para esse rótulo. O vinho que degustei e gostei vem da emblemática, famosa e tradicional região chilena do Vale Central e é o Gato Negro da casta Carménère e a safra é de 2019. E aqui vale uma curiosidade: o nome “Gato Negro” partiu de uma história de uma degustação em uma vinícola alemã entre enólogos que decidiam entre três tipos de barricas, e inesperadamente foram surpreendidos por um “schwartze katze” (gato negro) que saltou em uma delas e então a barrica foi escolhida. E inspirada nessa história a Viña San Pedro, produtor do vinho, batizou sua linha de vinhos mais leves, macios, frutados e fáceis de degustar. E já que falei de histórias, falemos um pouco sobre a história da casta Carménère no Chile.

O Chile e a Carménère

Por muito tempo, lá na França, principalmente pelas propriedades de Bordeaux, a Carménère, amplamente cultivada nas regiões do Medoc e de Graves, e a Merlot eram cultivadas juntas, até por terem um tempo de amadurecimento bastante parecido. Tornou-se extremamente tradicional em Bordeaux e em outros cortes franceses até que no fim do século 19, chegou a praga Filoxera e devastou os vinhedos da França. Foi aí que muitos enólogos e agrônomos trouxeram castas europeias para a América na tentativa de recuperá-las. Foi então que a Carménère chegou ao Chile confundida com a Merlot – além de serem fisicamente parecidas, a Carménère, como era colhida junto com a Merlot, também ganhava notas herbáceas. E durante anos a fio as duas foram plantadas, vinificadas e consumidas como se fossem a mesma. Até que alguns enólogos no Chile começaram a perceber que algumas vinhas de “Merlot” demoravam mais para amadurecer e decidiram fazer análises comparativas. Só então se descobriu que eram uvas diferentes e as notas verdes e os taninos duros da Carménère só se destacavam tanto porque ela estava sendo colhida no tempo errado, é uma uva de maturação mais tardia do que a Merlot. Isso aconteceu na década de 1980, mas em 1994 o ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot disse que o “Merlot” chileno não era nada mais nada menos que “Carménère”. Finalmente, com uma sofisticada análise de DNA, Boursiquot confirmou sua importante revelação. Esta notícia, de grande impacto no mundo do vinho, foi o ponto de partida para levar a Carménère para o que ela é hoje: um símbolo do vinho chileno. Descoberto o potencial da cepa no Chile, alguns enólogos começaram a trabalhá-la de maneira tão cuidadosa e eficiente que hoje o país detém alguns dos melhores exemplares de Carménère, enquanto lá na França raramente se vê um rótulo com ela.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos, com uma grande concentração de lágrimas, mas que rapidamente se dissipam das paredes do copo.

No nariz uma explosão de aromas adocicados muito agradável, com toques vegetais, de pimentão verde, talvez, além de especiarias. Não podemos negligenciar as notas frutadas, de frutas negras maduras, como amora, ameixa.

Na boca é macio, fácil de degustar, mas que, ao mesmo tempo, revela alguma personalidade, com taninos finos e moderados, com acidez média, que entrega algum frescor e jovialidade, com um discreto tostado, o que se deduz uma curta passagem por barricas de carvalho, que não foi informado pelo produtor em sua página na internet, talvez três ou quatro meses de passagem por madeira. Final de média persistência com retrogosto frutado.

Vinte anos em um dia de degustação! E foi tão prazeroso! A revelação mais expressiva da Carménère chilena, na sua mais nobre e simples versão. Nunca é tarde para um enófilo, com o espírito da descoberta e do garimpo, conhecer novos rótulos, Um vinho com todas as características marcantes da cepa. É um típico Carménère sim, sem nenhuma grande novidade, mas correto, bem feito, honesto e com um excelente custo X benefício, um vinho que personifica a história, o terroir, a cultura da casta no Chile. Um vinho que sem sombra de dúvida entregou muito mais do que valeu, que grata surpresa positiva. O atraso do tempo, se é que podemos mensurá-lo, foi reparado no dia de hoje com uma celebração com uma bela degustação. O vinho com excelente vocação gastronômica pode harmonizar facilmente com carnes grelhadas, massas bem condimentadas e queijos mais expressivos. Hoje o harmonizei com um belo queijo mussarela.

Um vinho frutado, expressivo, com alguma contundência em boca, com um paladar saboroso e com seus 13,5% de teor alcoólico bem integrados com o conjunto do vinho.

Sobre a Viña San Pedro:

A Viña San Pedro foi fundada em 1865 no Vale do Curicó pelos irmãos Correa. Hoje, mais de 150 anos depois, ainda chamamos este vale de lar. Os irmãos foram os pioneiros em trazer diferentes variedades do Velho Continente para o Vale. San Pedro é hoje um dos vinhedos mais importantes do Chile e um dos exportadores mais importantes do país, presente em mais de 80 países ao redor do mundo. Em 2002 foi fundada uma vinícola especial com foco em vinhos finos, localizada no Vale Cachapoal dos Andes, aos pés da Cordilheira dos Andes. Lá são feitos os cinco vinhos finos de Altair, Cabo de Hornos, Sideral, Kankana del Elqui e Tierras Moradas.

San Pedro mantém os melhores vinhedos por meio da vinificação sustentável e inovadora, explorando corajosamente os ricos solos para manter um portfólio diversificado e amplo, produzindo os melhores vinhos para milhões em todo o mundo.

Mais informações acesse:

https://sanpedro.cl/en/

Referências de pesquisa:

Portal Gazeta on Line, em: https://blogs.gazetaonline.com.br/vinhosemaisvinhos/2011/06/incrivel-historia-da-carmenere-no-chile.html#:~:text=As%20uvas%20Carmen%C3%A8re%20foram%20introduzidas,dos%20anos%20sempre%20amadurecia%20tardiamente.

Blog Grand Cru, em: https://blog.grandcru.com.br/vinho-chile-carmenere-uva-tinta-bom-barato/

 





quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Pinta Negra Aragonez e Castelão 2016

 

Sou um grande fã dos vinhos da região de Lisboa, da capital de Portugal, isso é fato! Todavia um vinho, em especial, me fez trazer à tona algumas lembranças perdidas. Eu explicarei! Quando no período da transição dos vinhos de mesa para os vinhos de uvas vitivinícolas, aquela transição que todos os simples enófilos nascidos no Brasil fazem, eu não tinha aquela preocupação em ter noção ou conhecimento dos rótulos que degustava, aqueles requintes de detalhes tais como: castas, regiões, passagem ou não por barricas de carvalho etc. Degustava os vinhos sem ter a preocupação com esses detalhes. Então alguns rótulos, talvez por conta dessa falta de preocupação ou ainda por inexperiência, passavam despercebidos, não adquiria a famosa memória fotográfica ou coisa similar. Porém, quando eu assistia a um dos poucos programas de TV direcionados ao mundo vinho, que tem transmissão no Canal Globosat, da TV Globo, chamado “Um Brinde ao Vinho” que dedicou uma temporada as regiões mais emblemáticas de Portugal e, claro que Lisboa estava na rota do programa. E quando a apresentadora Cecília Aldaz esteve na jovem AdegaMãe mostrou alguns dos seus rótulos e, por um relance, mostrou um rótulo que havia degustado há muito tempo atrás e que tinha caído no esquecimento, mas ainda assim tinha um lampejo de lembrança. Animado por conhecer um pouco mais do rótulo que havia degustar a tempos atrás, fui, o mais rápido possível, aos supermercados em busca do vinho. Coloquei como prioridade achá-lo e degustá-lo.

E achei! Parecia que os tempos de outrora ganhara novos contornos contemporâneos e que ficaria para todo sempre com uma degustação mais rebuscada e atraente ao paladar e ao conhecimento adquirido. Quando o desarrolhei foi como se um novo tempo havia iniciado entre eu e esse rótulo e essa vinícola. Me apaixonei pelo produtor. O vinho que degustei e gostei se chama Pinta Negra, um tinto composto pelas castas Castelão e Aragonez, da safra 2016. A região de Lisboa descortinara, mais uma vez, um rótulo, apesar de jovem e direto, expressivo e de belíssima personalidade. Mas já que a minha relação com Lisboa é de um amor profundo, falemos, mais uma vez, sobre ela.

Lisboa

Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em pequenas zonas da região. A região de Lisboa, anteriormente conhecida por Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço. A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas). A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

Lisboa e suas sub regiões

1| Encostas de Aire

2| Lourinhã

3| Óbidos

4| Torres Vedras

5| Alenquer

6| Arruda

7| Colares

8| Carcavelos

9| Bucelas

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem. A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos. Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas. A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas. A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino. A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro e brilhante com uma boa proliferação de lágrimas, finas e que teimavam em se dissipar das bordas do copo.

No nariz é intenso, muito aromático, notas de frutas vermelhas frescas e um toque floral muito agradável.

Na boca é um vinho meio seco, macio, fácil de degustar, um vinho despretensioso e saboroso, mas que revela certa expressividade, personalidade. Tem taninos macios, mas gulosos, com uma acidez equilibrada. Tem um final persistente, de retrogosto frutado. É um vinho com muita fruta, mas sem soar enjoativo.

O passado revisitou o presente e ajudou a construir um futuro na minha vida de enófilo e me fez observar e entender que, além do maravilhoso exercício da análise sensorial, a história do vinho, como seu terroir, sua história, sua região, pode ser sim, sem sombra de dúvida, um aditivo para a construção de sua percepção perante o rótulo. Pinta Negra é um vinho básico, para o dia a dia, mas que entrega muito além da sua proposta, definitivamente uma grata surpresa. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves. Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/


Referências de pesquisa:

Portal Infovini, em: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

Degustado em: 2018









sábado, 28 de novembro de 2020

Montecchio Sangiovese 2018

 

O que vem a mente quando falamos na emblemática casta Sangiovese: a Toscana, os vinhos que mais eleva que exporta o nome da Itália vitícola para o mundo, os Chiantis, os Brunelos de Montalcino etc. Definitivamente a Sangiovese é uma jóia da Itália, a uva mais produzida, mais cultivada daquele país, uma casta icônica que personifica a história, a cultura vitivinícola da Itália. Mas não se enganem prezados leitores, não é só da Toscana que vive a fama da velha e necessária Sangiovese. Por uma questão geográfica a região, pouco conhecida, menos comentada em terras brasileiras, de Emilia Romagna, mais ao sul da Itália, faz divisa com a Toscana e é tida como uma das grandes produtoras da cepa, mas com algumas características mais peculiares. Confesso que desconhecia a importância dessa região para com a Sangiovese, embora a casta esteja em toda a Itália, transformando-a em uma das mais cultivadas e adoradas entre os italianos, sendo responsável, inclusive por 10% da região vitícola do país. Então, como sempre, e isso me faz ter orgulho de mim mesmo, pretensões à parte, decidi comprar um vinho italiano 100% Sangiovese da região de Rubicone, localizado em Emilia Romagna. Claro que não são os Chiantis, os Brunelos da vida, mas quem se importa? Vamos de novidades, vamos investir em coisas pouco ortodoxas e deixar de trafegar, por um instante, da zona de conforto dos emblemáticos. 

E o ímpeto e avidez em ler sobre a Sangiovese fez com que, em uma curiosa conexão, encontrar, em mais uma de minhas inúmeras incursões aos supermercados, um rótulo de Sangiovese da região de Rubicone, na região de Emilia Romagna. E resolvi degusta-lo, sem mais delongas. E não é que o vinho surpreendeu! Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que desembarcou de Emilia Romagna, de Rubicone, para meu deleite, em minha taça, e se chama Montecchio, um IGT (indicação Geográfica Típica) da casta Sangiovese, da safra 2018. Então, como toda grande e inspiradora novidade, sempre vem com doses cavalares de informação e história, falemos de um pouco da região, Emilia Romagna e Rubicone, da Sangiovese na região de Romagna e um pouco da magnífica casta que é sinônimo da Itália, a Sangiovese.

Emilia Romagna

A Emília-Romanha (em italiano Emilia-Romagna; em emiliano-romanholo Emégglia-Rumâgna) é uma região situada no Norte da Itália com quatro milhões de habitantes e 22 124 km², cuja capital é Bolonha.[1][2][3] Limita-se ao norte com o Vêneto e Lombardia, a oeste com o Piemonte e a Ligúria, ao sul com a Toscana e com a República de São Marinho. Esta região é composta da união de duas regiões históricas: a Emilia, que compreende as províncias de Placência, Parma, Reggio, Módena, Ferrara e parte da província de Bolonha, com a capital, e a Romanha, com as restantes províncias de Ravena, Rimini, Forlì-Cesena e a parte oriental da província de Bolonha. A Romanha histórica compreende também territórios das Marcas, da Toscana e da República de San Marino. O centro da Itália nos reserva algumas fantásticas surpresas. Como são regiões relativamente novas, a variedade é bastante grande e a qualidade depende do pioneirismo de alguns ótimos produtores. A região Emilia-Romagna sempre foi mais conhecida pelos populares vinhos Lambrusco, mas, atualmente alguns talentosos produtores têm feito surgir aqui também alguns dos melhores vinhos tintos e brancos da Itália.


Emilia Romagna e Rubicone

Emilia-Romagna conta com a presença de ventos frios e delicados em suas colinas. A região italiana dá origem a um vinho tinto com a uva Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora seja pouco conhecido pelos estrangeiros. A região sofreu um sério problema de identidade com relação aos seus vinhos na época do fascismo italiano, graças ao líder do regime no país, Benito Mussolini, que alterou o mapa da Itália, separando a região de Romagna da Toscana em meados de 1920. Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação entre duas regiões muito distintas quando o assunto se refere à produção de vinhos. Emilia, localizada mais ao norte em direção aos Apeninos e à Lombardia, é conhecida principalmente pelas denominações de origem para produtos alimentícios. Romagna, situada mais ao sul, na fronteira do mar Adriático, e cujas terras já em parte à Toscana, produz vinhos elegantes e elaborados. Atualmente, com a consolidação de uma única região produtora, Emilia-Romagna uniu os dois tipos de produção, tornando-se referência em vinhos e também na elaboração de produtos alimentícios relacionados. Em 1962, foi criado o Consórcio de Vinhos da Romagna. Sobre suas regras encontram-se 7 empresas, 87 produtores e 9 cooperativas. Através desse trabalho eles conseguiram, em 1967, que os vinhos elaborados na região italiana recebessem uma Denominação de Origem Controlada (DOC). Estão inseridos na DOC os vinhos produzidos a partir da uva Sangiovese cultivadas nas colinas de Imola até as plantadas na cidade de Rimini.

A Sangiovese na Romagna

A proximidade física com a Toscana faz com que os vinhos Sangiovese da Romagna sejam frequentemente comparados com seus vizinhos. Mas eles têm estilo e vigor próprios. Sopra um vento frio e delicado nas suaves colinas da Romagna. Essas terras, em algumas zonas bastante férteis e, em outras, um pouco mais pobres, permitindo o cultivo das vinhas, produzem um tinto da Sangiovese muito apreciado pelos italianos, embora pouco conhecido dos estrangeiros, que faz dele o acompanhamento perfeito para a gastronomia da região, a mais rica de toda a Itália. A Emilia-Romagna é, na verdade, a combinação de duas regiões que se distinguem muito pelo que produzem. A Emilia, mais ao norte e em direção dos Apeninos e da Lombardia, é conhecida pelas denominações de origem para produtos alimentícios, e a Romagna, mais ao sul com um território que termina no mar Adriático, é a região dos vinhos mais elaborados e elegantes, cujas terras já pertenceram em parte à Toscana, sua vizinha ao sul. Foi Benito Mussolini quem alterou o mapa da Itália e separou as terras da Romagna das da Toscana, na década de 1920, criando um problema de identidade para os vinhos da região. As uvas Sangiovese plantadas em ambas as zonas têm uma raiz comum na região entre Florença e Bologna, mas, com o passar dos anos, os toscanos foram fazendo seleções de clones até descobrirem os que melhor se adaptavam ao seu território, menos fértil e mais pedregoso, e chegarem aos especialíssimos Brunellos de Montalcino (preparados à partir da variedade Sangiovese Grosso). Durante muito tempo os toscanos acreditavam que a variedade usada na Romagna era inferior, mas as pesquisas dos ampelógrafos descobriram que a variedade de grãos mais delicados (Sangiovese Piccolo) da zona mais ao norte era ainda mais característica da cepa do que alguns clones toscanos. A grande diferenciação de qualidade devia-se ao tratamento dado às uvas e ao terroir onde elas estavam inseridas. Os vinhos produzidos nessas regiões seguem regulamentos que não permitem a utilização de outras uvas além da Sangiovese em razão superior a 15%, a produtividade máxima de 11 toneladas por hectare (que pode ser muito menor de acordo com o estilo do vinho) e a classificação em três tipos, o Novello (vinho jovem com, ao menos, 50% de maceração carbônica), o Superiore e o Riserva. Em meados da década de 1960 que a Romagna começou a levar seus vinhos mais a sério (como já faziam os vizinhos do sul) e criou, em 1962, o Consórcio dos Vinhos da Romagna. Sob suas regras estão nove cooperativas, 87 produtores e mais sete empresas. Com esse trabalho eles conseguiram que, em 1967, seus vinhos obtivessem uma Denominação de Origem Controlada. Estão inseridos nela os vinhos feitos com as uvas Sangiovese cultivadas desde as colinas de Imola, no extremo oeste, até o extremo leste, na cidade de Rimini, que inclui as províncias de Bologna, Ravenna, Forli-Cesena e a própria Rimini. Ao longo das décadas, mesmo com todo o controle e fiscalização implementados pelo Consórcio, os bons vinhos da Romagna ainda não conseguiam atingir o potencial que seus produtores sabiam que eles tinham. Assim, nasceu em 2001 o "Convito di Romagna", uma espécie de consórcio voluntário e auto-patrocinado que une oito produtores comprometidos com a alta qualidade dos produtos. Os participantes são as vinícolas Calonga, Drei Donéa (Tenuta La Palzza), Fattoria Zerbina, Stefano Ferrucci, Poderi Morini, San Patrignano, San Valentino e Tre Monti, que entenderam que, para uma área de produção ser valorizada, é preciso que os produtores estejam unidos com propósito comum. Da mesma forma que o Convito di Romagna vem trabalhando para reforçar a imagem e controlar a qualidade dos vinhos produzidos com a Sangiovese, o Consorzio Vini di Romagna resolveu estreitar ainda mais as suas regras, e também reposicionar a DOC, mudando-a de nome. A partir da colheita de 2011, a DOC passará a se chamar Romagna Sangiovese.

Sangiovese

Pense num bom vinho tinto que lembre a Toscana. Pensou? Que rótulo veio à mente? Chianti? Carmignano? Brunello di Montalcino? Rosso di Montalcino? Pois bem, todos eles têm algo em comum, um “quê” a mais que os torna tão únicos e especiais. Este “quê” chama-se Sangiovese, uma uva nascida, criada e crescida na Itália. Fruto possivelmente do cruzamento das castas Calabrese Montenuovo e Ciliegiolo, a Sangiovese também é conhecida na Toscana, onde é ícone da vitivinicultura, com os nomes de Sangioveto, Brunello, Prugnolo Gentile ou Morellino. Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento. Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A uva sangiovese tem um tempo de cultivo longo, mas o fato é que pode ser produzida em diversos lugares, tendendo a se desenvolver melhor em ambientes quentes, de clima seco e de solos calcários. Além da região da Toscana, há grandes plantações de sangiovese em outras áreas da Itália como na Umbria, zona central italiana, e em Campania, no sudeste do país. Estados Unidos e Austrália também são grandes produtores de Sangiovese. Uma das características típicas da legítima Sangiovese é elevada acidez e concentração de taninos. Por isso, é muito comum que os produtores de vinho a misturem com outras uvas, como a canaiolo, mais macia e suave. Um parêntese importante: a combinação de sangiovese, canaiolo e malvasia é a composição do tradicional vinho Chianti, resultado de experimentos de um barão chamado Benito Ricasoli no final do século XIX. O fato é que outros produtores da região começaram a questionar as convenções tradicionais e passaram a experimentar outras propostas com a uva sangiovese, misturando-a especialmente com uvas de origem francesa como as da região de Bourdeaux, entre elas, a Cabernet Sauvignon. Surgia, assim, um tipo de vinho conhecido como Super Tuscan (ou Supertoscano) que, em um primeiro momento, não agradou muito os consumidores italianos, mas conquistou o mercado internacional, com grandes apreciadores mundo afora, principalmente nos Estados Unidos.

E agora finalmente o vinho:

Na taça conta com um vermelho rubi com traços violáceos e diria um tom meio atijolado, meio marrom, com lágrimas finas e rápidas.

No nariz apresenta um discreto toque frutado, de frutas vermelhas maduras como cereja e groselha, além de notas de especiarias, algo meio apimentado.

Na boca é seco, leve, macio, um vinho fácil de degustar, com as percepções, também discretas, frutadas, com taninos leves e sedosos, mas com uma proeminente acidez que faz do vinho pouco ortodoxo e fresco, ainda jovem. Tem um final de média persistência com o álcool evidente, mas equilibrado, bem integrado ao conjunto do vinho.

Um Sangiovese com características peculiares, inerentes à sua região, mostrando o quanto é importante, essencial a tipicidade, a importância do terroir e ecoa na tradição, na cultura de um povo e esse forte apelo regionalista faz da Sangiovese emblemática no molde do DNA da história da vitivinicultura da Itália e que atualmente vem se globalizando e a casta vem ganhando rótulos produzidos em várias partes do mundo, inclusive do Brasil a Sangiovese vem tendo espaço considerável. O Montecchio me trouxe uma nova possibilidade de uma Sangiovese pouco difundida, é um vinho descomplicado, frutado, fresco, leve, tendo a jovialidade como a razão primordial de sua condição, mas que mostra a personalidade, com a sua expressividade, sendo versátil e com uma ótima vocação gastronômica. O Montecchio Sangiovese mostra e corrobora que a simplicidade pode nos entregar a nobreza do vinho, abrindo um leque diverso de percepções e experiência sensorial, além de uma gama infindável de informação, cultura e história. Que o aspecto regional ganhe o mundo e mostre a todos os rincões desse planeta a importância da tipicidade no vinho. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Bosco Viticultori:

Bosco Viticultori possui sede em Salgareda, no coração da Marca Trevigiana, terra sempre voltada para a produção de vinhos. A empresa é parte integrante do Grupo Vi.V.O. (Viticoltori Veneto Orientale) desde 2009, o mais importante grupo cooperativo para a produção de vinhos do território nordeste italiano, com outros 2.300 sócios viticultores e uma produção anual superior a 52.000.000 de quilos de uvas, dando-lhes assim uma forte ligação ao território.  Nestas terras, onde as condições ambientais e de trabalho das pessoas deram vida a uma tradição vitivinícola famosa em todo o mundo, a empresa Bosco Viticultori produz desde 1948 bons vinhos graças a presença de um moderno e amplo centro de produção. A Bosco Malera é uma das maiores produtoras de Lambruscos. A marca Montecchio é mundialmente conhecida pela ligação com a história de Romeu e Julieta. Além disso, a vinícola também produz outros vinhos no norte da Itália. A Bosco Viticultori dá vida a uma produção de vinhos que são a expressão das características e das peculiaridades próprias da terra de origem: perfume nítido, intenso, delicado e limpo. As delicadas operações de seleção e colheita, seguidas da prensagem e fermentação em temperatura controlada, permite o pleno respeito da natureza e da própria complexidade das diversas uvas cultivadas e vinificadas.

Mais informações acesse:

http://www.boscoviticultori.com/it/

Referências de pesquisa:

Sobre Emilia Romagna:

Wikipedia, em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlia-Romanha

Portal Mistral, em: https://www.mistral.com.br/regiao/emilia-romagna

Sobre a Sangiovese em Romagna:

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-romagna-do-sangiovese_3217.html

Sangiovese:

Portal Art de Caves, em: https://blog.artdescaves.com.br/uva-sangiovese-tudo-sobre-essa-joia-toscana

Portal Revista Adega, em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html