Ter boas referências sempre te dá um norte para tomar certas
decisões na vida ou para construir, edificar a sua formação nas mais diversas
áreas, âmbitos da vida. E penso que no universo do vinho não seja diferente. Eu
explico!
Aquele produtor que você passa a gostar, aquela região cujos
rótulos você se identificou, uma casta preferida etc. Enfim, é uma soma de
vários fatores que vai construindo a sua percepção de vinho.
De um tempo para cá estava a procura de alguns rótulos da
Serra Catarinense, da região de São Joaquim, conhecida como uma das cidades
mais frias do Brasil. Me coloquei a garimpar alguns rótulos e observei que, a
cada rótulo localizado, me esbarrava na impossibilidade de tê-los por conta dos
altos valores.
Mas não desisti, continuei em busca de algum vinho dessa
região, para conhecê-la, pois nunca havia degustado um vinho sequer dessa
região brasileira. A missão era árdua, para muitos poderia ser o fim, a
desistência. Mas localizei uma linha de rótulos de uma vinícola que não
conhecia e que estava em um site que sempre comprei vinhos. Como que nunca
tinha visto aqueles vinhos?
Era de uma Cooperativa, de uma empresa, fundada por japoneses
que iniciou a sua história produzindo maçãs, isso mesmo, maçãs e que no início
dos anos 2000 começou a sua produção de vinhos! Falo da Sanjo.
Por ser tratar de uma vinícola cooperativada os valores dos
vinhos eram bem atrativos e logo comprei o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2010. O degustei com 11 anos de vida, amigos! São
conhecidos os vinhos de altitude de São Joaquim como os mais longevos do
Brasil, os amados vinhos velhos que tanto gosto. O vinho estava maravilhoso!
Continuei a investir nos vinhos desse produtor e dessa vez
foi o Sanjo Núbio Sauvignon Blanc da safra 2017. Quando o comprei descobri que
os vinhos dessa casta na Serra Catarinense é o carro-chefe da região, sendo
considerado como um dos melhores Sauvignon Blanc produzido no Brasil. Isso me
encheu de euforia para degusta-lo. E não deu outra de novo: sucesso!
Talvez seja uma sorte nas escolhas, mas eu senti a
necessidade de comprar um novo rótulo desse produtor, afinal percebia que
estava em terreno fértil, os rótulos dessa vinícola é bom! Dessa vez eu queria
“ousar” um pouco mais e comprar um vinho mais básico, simples, de proposta mais
jovem dessa vinícola.
Lembrei-me do especialista em vinhos Didu Russo, onde o mesmo disse: “A gente mede a qualidade de um produtor pelos seus vinhos de entrada”.
Então não hesitei e comprei um dos vinhos mais básicos da Sanjo e prometi que
logo iria abri-lo para degusta-lo.
Esse momento chegou e quando chegou tive, mais uma vez, uma
surpresa arrebatadora! O vinho que degustei e gostei veio da região da Serra
Catarinense, de São Joaquim, e se chama Sanjo Nobrese da casta Cabernet
Sauvignon sem safra. Na realidade esse vinho é um blend de safras, que consiste
na junção de algumas safras, mais um atrativo. Então, antes de entrar na
descrição do vinho, falemos um pouco de São Joaquim.
A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas
em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio
Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como
marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes
italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as
primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em
1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis
pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.
Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas,
mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do
consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes
italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do
vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram
buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de
Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já
consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como
a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.
Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos
do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX,
italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da
mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do
vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem
americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do
PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande
incentivo para o plantio de castas europeias. Desde o final da década de 1990,
entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das
variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em
áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de
elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor
macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem
a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.
A partir de estudos visando o desenvolvimento da
vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e
de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período,
a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características
geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se
considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as
modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de
parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes
de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram
para o planalto.
O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas
experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos
que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari
Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma
propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.
Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma
propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas
finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a
construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o
centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade
com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa
Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em
São Joaquim.
Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes
que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais
baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais
frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo
ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos.
Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar
osmunicípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.
Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim,
observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de
desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e
diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas,
estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.
Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo
de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação
entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e
propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o
diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a
importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude,
confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um vermelho rubi intenso, com tonalidade
brilhante e vívida, com reflexos violáceos com lágrimas finas e em média
intensidade.
No nariz conta com um exuberante aroma de frutas vermelhas e
pretas maduras, onde se destacam cereja, amora, framboesa e ameixa, com as
típicas notas de especiarias, um discreto toque herbáceo.
Na boca é seco, equilibrado, de corpo leve para médio, média
estrutura, expressivo, com um ótimo volume de boca, frutado, com taninos macios
e uma acidez equilibrada e um final longo, prolongado e frutado.
Eu vislumbrava seguir o meu caminho na degustação dos vinhos
da Sanjo em todos os seus patamares de proposta e faltava um da linha mais
jovem e simples para embarcar na experiência sensorial. E que experiência
agradável! Um blend de castas, um vinho que desce redondo, saboroso, elegante,
equilibrado, mas que demonstra alguma personalidade, enaltecendo as
características genuínas da Cabernet Sauvignon. Um Cabernet Sauvignon que não
traz a estrutura e a complexidade, não passa por barricas, exatamente para
exaltar as propostas que o vinho deveria ostentar, porém mostra o Cabernet
Sauvignon como deve ser. Um vinho extremamente versátil que pode ser apreciado
sem harmonização ou acompanhado por carnes vermelhas, grelhadas, massas como
pizza e macarrão ou aqueles queijos semi duros. Mais uma vez a Sanjo disse a
que veio. A história continua... Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:
Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria
imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de
Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em
qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil
toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.
No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala
e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o
país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a
categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em
sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.
A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à
qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência
italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a
investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude,
contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra
Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot,
Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de
produção de uvas para a elaboração de vinhos.
Mais informações acesse:
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/comecando-por-cima_8143.html
“O Turismo e a Produção de Vinhos Finos na Região de São
Joaquim (SC): Notas Preliminares”: https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/O%20Turismo%20e%20a%20Producao%20de%20Vinhos%20Finos%20na%20Regiao%20de%20Sao%20Joaquim.pdf
“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2010/02/21/nubio-2005-um-bom-cabernet-sauvignon-de-sao-joaquim-santa-catarina/