sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Aurora Chardonnay Reserva 2018

 

Há um assunto recorrente e que, de alguma forma, gera certo burburinho por conta de polêmicas eventuais que surgem com cada questão levantada, que são os vinhos premiados ligados à qualidade.

Tem os prêmios de Suckling, de Parker, de grandes eventos e períodos oriundos de centros de excelência da vitivinicultura mundial que enaltece e coloca o vinho no pedestal, no apogeu de sua incontestável qualidade que faz deste um grande rótulo.

E daí os preços sobem a ponto de chegar ao ápice da ganância de cobrar verdadeiras fábulas monetárias para um vinho quando passa a ostentar um prêmio de conceituados formadores de opinião.

É claro que vinhos laureados com prêmios dados por especialistas merecem sim uma atenção e até mesmo um crédito pelos enófilos de plantão, mas sempre pensei, sempre compartilhei da opinião de que vinho não é medalha, tão pouco premiações e que a percepção tem de ser particular.

Degustamos vinhos e não prêmios e o vinho que não tem prêmio não significa que não seja bom. Mas são perspectivas de mercado, muita das vezes, e os prêmios são usados para catapultar as vendas, embora tenha o abuso dos revendedores quando super precificam alguns rótulos.

Mas não podemos negligenciar os prêmios e usá-los como um ponto, uma forma de fomento à escolha ou não em um momento de compra, por exemplo, de um rótulo. E Quando falo em não negligenciar os prêmios, não podemos fazer isso, de forma alguma, com os rótulos da Vinícola Cooperativa Aurora, uma das maiores empresas de vinhos do Brasil e do mundo que, além de fabricar, de produzir vinhos, produz dezenas, centenas de prêmios.

E os rótulos que ostentam os vinhos da Aurora não sofrem acréscimos nos seus valores, àqueles abusivos dos gananciosos. Praticam preços justos, entregando qualidade e tipicidade.

E quando eu falar de um vinho que degustei e gostei da Aurora, do seu preço, inicialmente, ficarão de queixo caído: R$ 29,90! Sim! Um valor de vinhos que, para muitos abastados aristocráticos, é valor de vinho “vagabundo”, que não presta sequer para cozinhar.

Falo do Aurora Chardonnay Reserva, brasileiro da região de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, na emblemática Serra Gaúcha, da safra 2018. Safra essa que serviu de ilustração do Guia 5StarWines – The Book, da Vinitaly, o maior evento de vinhos da Itália e que neste ano foi cancelado devido a pandemia. A avaliação dos vinhos, no entanto, foi reformulada e aconteceu seguindo às novas diretrizes de saúde e segurança estabelecidas para combater a propagação da covid-19.

As amostras foram enviadas aos juízes em seus respectivos países. As provas foram realizadas às cegas, por videoconferência. Os críticos pontuaram os vinhos e enviaram suas avaliações de forma remota, sob a supervisão de uma equipe sediada em Verona. O vinho da Aurora conquistou 90 pontos. Leia mais em: “Aurora Reserva Chardonnay é destaque em importante guia de vinhos na Itália”.

Mas antes de falar desse vinho, desse Chardonnay maravilhoso da Serra Gaúcha, falemos um pouco dessa região tradicional do Sul do Brasil que merece sempre linhas gerais que vai da história aos elogios incansáveis.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Bento Gonçalves

Em 1875 inicia a imigração italiana na Encosta Superior do Nordeste, originando as colônias de Dona Isabel, Conde D’Eu e Nova Palmira. A colônia de Dona Isabel originou a cidade de Bento Gonçalves. Conde D’Eu originou a cidade de Garibaldi. Nova Palmira se tornou a cidade de Caxias do Sul.

A Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves), criada em 1870, já era conhecida como “Região da Cruzinha” devido a uma cruz rústica cravada sobre a sepultura de um possível tropeiro ou traçador de lotes coloniais. Era época do escambo, da troca de mercadoria por mercadoria. A Colônia Dona Isabel sediava um pequeno comércio, no qual os tropeiros faziam paradas para descanso.

Bento Gonçalves antigo

Em 24 de dezembro de 1875, os núcleos do Planalto começaram a receber novos imigrantes. Em março de 1876, o Presidente do Estado José Antonio de Azevedo Castro anunciava a existência de 348 lotes medidos e demarcados e uma população de 790 pessoas, sendo 729 italianos. Os pioneiros, vindos do Tirol Austríaco e Vêneto chegaram à esplanada onde hoje está situada a Igreja Matriz Cristo Rei.

A troca, compra e venda de produtos era feita na sede da colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas (trilhas abertas no meio da mata) demarcadas pelos próprios imigrantes. Entre os imigrantes havia ferreiros, sapateiros, marceneiros, alfaiates, carpinteiros, entre outros profissionais que estabeleceram seus negócios dentro de suas especialidades, atendendo às necessidades locais.

O surgimento das construções das casas, os instrumentos de trabalho e o mercado foram acompanhando o desenvolvimento de Colônia Dona Isabel e também as exigências que se apresentavam. Frente ao desenvolvimento, as condições das estradas foram melhorando e surgiram as primeiras carretas. Em cinco anos, houve um acréscimo de quatro mil habitantes, entre nascimentos e novos imigrantes.

Em 1881, inicia a abertura da primeira estrada de rodagem, ligando a Colônia Dona Isabel a São João de Montenegro (hoje Montenegro). O início do povoamento foi marcado por inúmeras dificuldades. Em 1877 a Colônia Dona Isabel sediava três casas comerciais, duas padarias, uma fábrica de chapéus e um total de 40 casas comerciais, que ofereciam serviços e produtos diversos em todo o território da colônia.

O desmembramento da Colônia Dona Isabel do município de Montenegro foi oficializado pelo ‘Acto’ 474, de 11 de outubro de 1890, assinado por Cândido Costa, o que constituiu o município de Bento Gonçalves. O nome foi dado em homenagem ao general Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul de 1835 a 1845.

Bento Gonçalves deu seu primeiro impulso de progresso com a vinda da agência do Banco Nacional do Comércio e Banco de Pelotas. Entre os anos de 1919 e 1927, foi feita a instalação da luz elétrica e da estação transformadora e da rede de distribuição. Na foto a raça Walter Galassi em 1922, quando era chamada de Praça Centenário. O local foi inaugurado durante as comemorações do centenário da independência do Brasil.

E 1924 foi fundado o Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. Na época o Dr. Barthomoleu Tacchini, médico vindo da Itália, era um dos principais médicos do Estado, com enorme prestígio especialmente junto à população de origem italiana. Em 1950, a população era de 22.600 habitantes. As principais atividades econômicas eram as do setor agrícola. Contudo, começaram a surgir várias indústrias, como de acordeões, laticínios, móveis, curtume, fábrica de sulfato e vinícolas.

Em 1967 Bento Gonçalves passa por uma grande transformação, considerada um marco histórico. Com a colaboração de dinâmicas lideranças e a ajuda de toda a comunidade, surge a I Fenavinho, a Festa Nacional do Vinho. O município foi visitado pela primeira vez por um Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco visitou Bento Gonçalves e a I Fenavinho no dia 25 de fevereiro de 1967. O principal produto e a força da economia de Bento Gonçalves foram divulgados em todo o Brasil, tornando a cidade conhecida nacional e internacionalmente. O município descobre a sua vocação para o turismo de negócios e começa a sediar eventos de grande porte.

A cidade de Bento Gonçalves é conhecida como a ‘Capital Brasileira da Uva e do Vinho’, é reconhecida pela força de sua economia e como um importante pólo industrial e turístico do sul do Brasil.

Além de ser uma cidade com perfil empreendedor e povo trabalhador, a cidade se destaca na área turístia. Atividades ligadas à área do enoturismo, turismo de negócios e de eventos oferece cada vez mais opções ao visitante. A cidade oferece uma diversidade de rotas turísticas . Os indicadores de desenvolvimento e renda da cidade colocam Bento Gonçalves em destaque no Estado e no país quanto à qualidade de vida.

A cidade de Bento Gonçalves é um polo moveleiro e vitivinícola conhecido nacional e internacionalmente. Dentro do segmento indústria, o setor moveleiro é a grande força da economia. No segmento turístico são inúmeros os atrativos ligados à uva e ao vinho, o que torna Bento Gonçalves uma cidade de visita obrigatória na conhecida Região Turística “Uva e Vinho” situado na Serra Gaúcha.

Bento Gonçalves é pioneira no Brasil no desenvolvimento do Enoturismo. A cada ano Bento Gonçalves vem se consolidando como destino turístico nacional. O Vale dos Vinhedos é o principal destino enoturístico do Brasil, sendo o roteiro mais visitado desde 2008. Foi a primeira região do país reconhecida como Indicação Geográfica, obtendo para seus produtos a Indicação de Procedência, e a seguir a Denominação de Origem ‘Vale dos Vinhedos’ para os vinhos e espumantes ali produzidos. O Vale dos Vinhedos integra oficialmente o patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio Grande do Sul desde 29 de junho de 2012 (Projeto de Lei 44/2012).

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo tom amarelo brilhante tendendo para o dourado e reflexos esverdeados, além de algumas finas lágrimas em pequena intensidade.

No nariz explode em aromas frutados, com frutas de polpa branca e cítricas, tais como maçã-verde, pera, maracujá e abacaxi.

Na boca tem média estrutura, graças ao seu sabor amanteigado, um toque untuoso que traz um bom volume de boca e com discretas notas tostadas, de baunilha, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho em pleno equilíbrio com o frutado com uma acidez correta que atenua seu frescor. Final longo!

Prêmios, reconhecimento, qualidade, preços justos! Todos esses predicados são inerentes ao Aurora Reserva Chardonnay 2018, mas, mais importante ainda é o deleite sensorial que esse vinho me provocou! Foi de fato um arrebatamento aos meus sentidos esse Chardonnay brasileiro. Aos Chardonnays brasileiros que vêm entregando, de forma indelével, maravilhas. Mas esse Chardonnay da Aurora traz uma intensidade de aromas e sabores frutados, de amanteigado, de untuosidade, de tosta graças ao curto tempo de passagem por barricas de carvalho, dando-lhe arrojo, certa complexidade e versatilidade. Um grande vinho, antes de qualquer prêmio! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:

A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul. Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra fundamental da empresa.

Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para desmitificar as oito décadas da empresa.

No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os 232 rótulos da empresa.

Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco.

Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta.

A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolaaurora.com.br/br

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Bento Tur”: https://bento.tur.br/nossa-historia-bento-goncalves/


 

 

 

 













sábado, 5 de fevereiro de 2022

Peruzzo Cabernet Sauvignon 2012

 

O que faz de um vinho especial? Nossa! Uma pergunta como essa, embora construída de uma forma simples e direta, requer uma reflexão muito apurada e detalhada em várias questões que passa por situações mercadológicas a sentimentais.

É tudo muito relativo! Um vinho pode ser especial da forma que lhe convém. O preço pode ser um peso, o momento pode ser um peso, um produtor que aprecia, uma casta que nunca degustou, uma região que não conhecia, a companhia, uma pessoa amada, especial. São tantas as expectativas que você imprime em um vinho que o torna especial.

A impressão que tenho é de que nada parece ser palpável, pois, apesar de valores, de rótulos emblemáticos que, em tese, pode fazer de um vinho especial, tudo é carregado de sentimentos e sentimento não se mensura, se sente, se vive.

E o que é especial, sobretudo no vasto universo dos vinhos, vai se adquirindo ao longo de sua trajetória nele. O que tem me proporcionado grandes e inesquecíveis momentos no vinho atualmente são os rótulos de guarda, os vinhos com vocação de guarda, os famosos vinhos velhos.

Já é um privilégio degusta-los pelo fato de ser certa “idade”. É tão raro degustar vinhos com essa proposta levando em conta de um cenário majoritariamente marcado por vinhos jovens, produzidos para serem degustados logo, os famosos “frutados”. E quando você degusta um vinho de idade brasileiro, o privilégio para aumentar, ganhar em representatividade.

E o vinho desta tradicional noite de sábado é, diria, especial, único. Um vinho que achei de forma totalmente inesperada e pouco planejada, talvez dessa forma seja melhor, sabe? Navegando pela internet, entre uma procura e outra, fui redirecionado para um link que mostrava um Cabernet Sauvignon da grande Campanha Gaúcha, que cresce e cresce a olhos e rótulos vistos, que neste ano completou 10 anos de idade, isso mesmo, uma década de garrafa!

Um Cabernet Sauvignon brasileiro que para alguns não tem caráter, não tem personalidade, que não expressa as características da cepa, as mais fiéis, entregou, não somente a fidelidade das características da casta, mas que passou incólume, vivo e pleno por 10 anos! Pois é, acho que precisamos rever os nossos conceitos de Cabernet Sauvignon do Brasil, sobretudo da Campanha Gaúcha.

E falando em conceito, já que mencionamos no sentimento, no estado de espírito que define o que é especial, não posso deixar de dizer, com todas as forças, de que o vinho que degustei e gostei veio, claro, da Campanha Gaúcha, no Brasil, e que se chama Peruzzo Cabernet Sauvignon da safra 2012.

E ainda no quesito “especial”, ainda tem a importância de se degustar um vinho de um pequeno/médio produtor que sim, precisamos valorizar e incentivar seu crescimento degustando seus vinhos. Há sim rótulos especiais e bem elaborados de pequenos e médios produtores. E a “corrente” que me levou a esse vinho foi a compra da mesma linha, só que o Cabernet Franc que também goza de certa idade, 2013, mas essa será alvo de uma nova história em breve. E por falar em história, antes de falar do Peruzzo Cabernet Sauvignon, vamos um pouco de história da Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, quase escuro, com bordas atijoladas denunciando seu tempo de vida, com lágrimas grossas, lentas e em grande intensidade.

No nariz explode os aromas terciários! Frutas pretas e secas são sentidas, tais como ameixa, amora, cereja negra e noz, com notas terrosas e de baunilha, talvez pela complexidade ou ainda pelos 3 meses de passagem por madeira (50% do lote).

Na boca é um vinho macio e elegante, o tempo foi generoso para com o vinho, porém entrega personalidade, sobretudo pela sua complexidade, enfim, revela-se equilibrado. A fruta preta madura se faz presente, notas ligeiramente amadeiradas, toques de chocolate, taninos maduros, mas polidos, acidez discreta e um final médio.

O conceito de vinho especial pode gerar discussões e reflexões complexas e repletas de detalhe, mas se torna simples quando o líquido inunda a taça e arrebata as novas experiências sensoriais. Essa é a parte palpável, o sentimento de deleite e prazer que se materializa, o que a gente mais espera, porque torna-se fácil definir tais conceitos e ele é somente nosso, o que é especial. O Peruzzo Cabernet Sauvignon 2012, no auge dos seus 10 anos de vida, revelou as características da casta, mas também de um vinho nesse estágio da vida: taninos macios, elegantes, embora apresente uma acidez discreta, mas que não impede a sua plenitude, é complexo, com alguma estrutura. Um vinho de caráter, de expressividade, vivo e audacioso. Que possamos nos permitir viver e degustar rótulos como esse, que “provoque” todos os nossos sentidos e nos proporcione prazer e nos coloque em um estágio de privilégio. Isso é ser especial. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Peruzzo:

Motivados por um desejo antigo de produzir vinhos, associado com as oportunidades e perspectivas que a Região da Campanha oferece no mundo dos vinhos, a família Peruzzo, com muito entusiasmo decidiu investir no cultivo de uvas viníferas em sua propriedade localizada no município de Bagé/RS.

As primeiras videiras foram plantadas em 2003, provenientes de mudas importadas de renomados viveiristas da França, Itália e Portugal. A vinícola foi inaugurada em 2008, com um processo de elaboração que incorpora modernas tecnologias.

Sua cave, localizada no subsolo da cantina, garante que os espumantes e vinhos amadureçam sob temperaturas constantes próximas dos 18 a 20º C. Além da produção de Vinhos, a propriedade da família Peruzzo também se dedica a criação de Ovinos e Bovinos.

Com muito entusiasmo, alegria e dedicação, a Vinícola Peruzzo trabalha na arte de criar seus vinhos e espumantes para fazer parte de momentos alegres, descontraídos, únicos e marcantes na vida de seus clientes.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolaperuzzo.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

 

 

 







sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Zanotto Gewürztraminer 2019

 

Algumas novidades giram em torno desse rótulo que degustarei hoje. É simplesmente uma maravilha quando a degustação, que já é um prazer à parte, vem recheada de novidades, afinal não podemos, diante de um universo tão vasto e ainda inexplorado como o do vinho, nos dar ao luxo de sustentar uma temível “zona de conforto”.

Primeiramente começa pelo produtor, pela vinícola. Eles são conhecidos por um vinho de mesa, talvez um dos mais vendidos atualmente chamado “Pérgola”. Jamais em pensei que seu produtor estava produzindo vinhos de castas vitis viníferas, e o que é melhor: despontando com alguns de seus rótulos ganhando credibilidade e prêmios.

Eu os conheci de forma totalmente despretensiosa em uma das minhas já famosas incursões aos supermercados, onde avistei um de seus rótulos, mas de início não os associei ao “dono do Pérgola”, para mim era mais um vinho que havia me interessado, afinal os valores também estavam competitivos, interessantes.

Estava observando os rótulos quando, mais detalhadamente, avistei o branco deste produtor e fiquei abismado com que vi: era um Gewürztraminer! Sim! Uma casta que não é muito difundida no Brasil apesar de ser relativamente conhecida por aqui e muito popular em países como Alemanha e Chile. E falando em Chile eu recomendo o da linha Adobe, dos vinhos orgânicos da Emiliana Vineyards, o Adobe Gewürztraminer!

Eu pensei já tomado pela animação mesclado à surpresa, nunca pensei encontrar um Gewürztraminer produzido no Brasil e melhor na região de Campos de Cima da Serra, que também vem despontando como uma das novas grandes vitrines da produção vitivinícola no Brasil com grandes vinhos.

Inclusive degustei alguns vinhos dessas bandas e recomendo o Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2019. Mas esse Gewürztraminer seria meu mais novo investimento e o valor, como disse, estava competitivo, em torno dos R$ 45,00!

Levei comigo o vinho! Tantas novidades e alguns motivos, mais do que fortes, para degusta-lo. Demorei um pouco para abri-lo, ficou um tempo na adega, mas agora não há como esperar e a ansiedade teria um fim, com o início de sua degustação. A rolha se desprendeu, o aroma do vinho tentando se manifestar, emanando e provocando os meus sentidos.

E...voilá! Que vinho delicioso! O aroma desbanca e arrebata, a cor é linda!  O vinho que degustei e gostei veio da região brasileira de Campos de Cima da Serra, do Rio Grande do Sul, e se chama Zanotto da casta Gewürztraminer (100%) da safra 2019. Antes de tecer maiores e detalhados comentários do vinho falemos da região e da casta ainda não muito consumida em nossas terras.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

Gewürztraminer, a casta aromática

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta, já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos brancos.

A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo com tons esverdeados, translúcido, límpido, mas brilhante, reluzente.

No nariz explodem aromas de frutas de polpas brancas como abacaxi, pera, maçã-verde, pêssego, maracujá e um discreto toque cítrico, com notas delicadas, mas evidentes de flores brancas.

Na boca tem estrutura leve para média, com as notas frutadas também em destaque como no aspecto olfativo. A acidez é equilibrada com um dulçor em pleno equilíbrio, que faz do vinho delicado e elegante. Tem um bom volume de boca, diria algo de untuosidade e um consequente final prolongado de retrogosto frutado.

Gratas novidades, novas experiências! A comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, com tipicidade, respeitando o seu terroir. Ousando com castas que jamais vi produzir por aqui. A Gewürztraminer definitivamente me ganhou por completo. Preciso degustar mais dela. E o que dizer da linha Zanotto? Ótimo! Não se enganem não se limita, com o devido respeito, aos da linha “Pérgola”, é muito mais que isso! E não se enganem também que a tendência é mais do que positiva para o futuro deste produtor e seus rótulos e essa visibilidade inaugural é só o começo. Um vinho frutado, frutas brancas, uma explosão de aromas frutados, o destaque dessa casta, um toque cítrico mesclado a uma boa acidez que saliva. Um belo vinho que entregou além do que valeu e trouxe a refrescância tão necessária nos dias atuais de verão brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre:

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação, é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

 






domingo, 30 de janeiro de 2022

Cooperativa Agrícola de Felgueiras Rosé

 

Será que a minha opinião, de um incondicional fã dos vinhos verdes, não tem validade nenhuma pelo simples fato de ser um apreciador da bebida? Talvez seja uma questão que requer alguma discussão, algo mais aprofundado, mas se buscarmos alternativas para explicar essa predileção de minha parte eu consiga fundamentar o sucesso de vinhos dessa região em minha adega, em minha vida.

Os vinhos portugueses têm a maior participação de mercado aqui no Brasil e os vinhos verdes ganharam uma fatia significativa, diria, brigando em iguais condições como o do Alentejo, por exemplo, mas só que mais baratos e que perfeitamente harmonizam com os atuais dias de verão.

E foi inspirado por esses dias quentes em nossas terras que decidi abrir mais um rótulo de um típico vinho verde: leve, despretensioso e saboroso. Bem é o que sempre espero por um vinho verde, o tradicional e fresco vinho verde.

E aquele vinho verde, hoje um rosé, com todo aquele apelo regionalista composto com castas típicas, oriundas da região dos Vinhos Verdes e que me motivou não apenas pelo fato de ser um vinho verde, mas porque, ao longo desses anos o produtor deste vem entregando satisfatoriamente a qualidade que o terroir pode oferecer.

A Vercoope tem me proporcionado grandes e consistentes surpresas e depois de Terras de Felgueiras Alvarinho 2017 e o mais surpreendente de todos, o Cooperativa Agrícola de Felgueiras branco, o vinho que degustei e gostei veio da região dos Vinhos Verdes, da sub região de Felgueira, é o Cooperativa Agrícola de Felgueiras, agora na versão rosé das safras Espadeiro (50%), Vinhão (20%), 15% Amaral e 15% Borraçal, não sendo safrado, apesar de ostentar um DOC (Denominação de origem Controlada).

Descobri que a região de Felgueiras é conhecida pelos vinhos verdes, principalmente, de baixíssimo teor alcoólico, jovens, leves, para degustação rápida, sendo uma ode ao bem estar e bom convívio com pessoas que gostamos. Então, mesmo simples, ele foi especial, pois estava com velhos e novos amigos compartilhando momentos de grande celebração. E você já começa com o brasão da região com dois cachos de uvas, mostrando a vocação de uma região de produção de vinhos de excelência, de tipicidade, de identidade com os grandes vinhos verdes. Então vamos falar um pouco mais de Felgueiras.

Então falemos da sub-região de Felgueiras e das autóctones castas da Região de Vinhos Verdes para termos uma noção do panorama do vinho que estamos degustamos.

Felgueiras

Felgueiras é uma cidade portuguesa no Distrito do Porto, região Norte e sub-região Tâmega, com cerca de 15.525 habitantes, inserida na freguesia de Margaride. É sede de um município com 115,62 km² de área e 58.922 habitantes (2006), subdividido em 32 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Fafe, a nordeste por Celorico de Basto, a sueste por Amarante, a sudoeste por Lousada e a noroeste por Vizela e Guimarães.

O município é constituído por quatro centros urbanos: a Cidade de Felgueiras, a Cidade da Lixa, a Vila de Barrosas e a Vila da Longra. Verdadeiro coração da NUT Tâmega constitui hoje uma centralidade importante no mapa de autoestradas e itinerários principais, uma garantia sólida de afirmação das inúmeras potencialidades reais concelhias. Os bordados são uma das mais ricas tradições do concelho, que emprega cerca de dois terços das bordadeiras nacionais.

O filé ou ponto de nó, o ponto de cruz, o bordado a cheio, o richelieu e o crivo são exemplos genuínos do produto artesanal de verdadeiras mãos de fada. Os sabores autênticos da gastronomia, a frescura e intensidade dos aromas dos vinhos e o ambiente de grande animação proporcionam momentos inesquecíveis. Dando corpo a essa riqueza, foi já constituída a “Confraria do Vinho de Felgueiras”, destinada a divulgar e defender o vinho e a gastronomia felgueirenses. Felgueiras, com 58 000 habitantes é um dos concelhos com a população mais jovem do país e da Europa.

Uma terra de exceção que aposta na valorização dos seus recursos humanos, na consolidação do campus politécnico, no desenvolvimento econômico (pleno emprego e centro de negócios) e na consolidação das suas infraestruturas. Marcada pela invulgar capacidade empreendedora do seu povo é responsável por 50% da exportação nacional de calçado, por um terço do melhor Vinho Verde da Região e por um valioso patrimônio cultural. Felgueiras é um dos municípios com maior desenvolvimento do Norte do país.

Felgueiras

A primeira referência histórica a Felgueiras data de 959, no testamento de Mumadona Dias, quando é citada para identificar a vila de Moure: "In Felgaria Rubeans villa de Mauri". Felgueiras deriva do termo felgaria, que significa terreno coberto de fetos que, quando secos, são avermelhados (rubeans). Havendo quem afirme que o determinativo Rubeans se deve a que o local foi calcinado pelo fogo. Existem historiadores que afirmam que Felgueiras recebeu foral do conde D. Henrique.

No entanto, apenas se conhece o foral de D. Manuel a 15 de Outubro de 1514. No entanto, já em 1220, a terra de Felgueiras contava com 20 paróquias (conhecidas hoje em dia como freguesias) e vários mosteiros e igrejas. Em 1855, ao ser transformado em comarca, Felgueiras ganhou mais doze freguesias. Em 13 de Julho de 1990 Felgueiras foi elevada à categoria de cidade.

As castas

Espadeiro

A Espadeiro é uma uva autóctone portuguesa, conhecida por dar origem à ótimos vinhos tintos e vinhos rosés, na região dos Vinhos Verdes. Existem, também, duas sub-variedades da uva Espadeiro, Espadeiro Tinto e Espadeiro Mole. No sul de Portugal, o nome Espadeiro é utilizado para referir-se a uva Trincadeira (Tinta Amarela). É importante não confundi-las, pois são variedades completamente diferentes! Com cachos compactos e de formato cilíndrico, bagos arredondados e de coloração preta-azulada, a Espadeiro é um casta que apresenta boa resistência ao ataque de pragas e doenças.

A uva Espadeiro é originária do Minho, dentro da região vitivinícola dos Vinhos Verdes, em Portugal. Fora de sua terra natal, a uva tinta Espadeiro é cultivada na região de Rías Baixas, na Espanha. Entre os principais aromas da uva Espadeiro vale destacar notas de frutas cítricas, como toranja, e nuances de frutas vermelhas, como morango.

Vinhão

A Vinhão, também conhecida como Sousão ou ainda Sauson é uma uva de pele escura com origens que remontam a oeste da Península Ibérica. A variedade se estabeleceu na região do Douro, onde se estabeleceu e se chama apenas Sousão.

A Vinhão ou Sousão apresenta bagos com tamanho mediano e casca com coloração negro-azulada, com uma excelente capacidade de pigmentar os exemplares. Além disso, a polpa desta variedade tem coloração levemente rosa, onde acaba sendo confundida com outras cepas tintureiras, ou seja, uvas com polpa vermelha e pele escura.

Os vinhos elaborados a partir da uva Vinhão apresentam tons de violeta e conseguem ser muito opacos e escuros que, quando despejados em taças, podem quase ser impenetráveis à luz. Estes exemplares exibem um caráter único, excelentes níveis de acidez, taninos leves e alto teor alcoólico. Os vinhos Sauson, normalmente, possuem aromas mais frutados e amadeirados, podendo exibir também notas de passas.

Apesar de todas estas características, a Vinhão pode produzir também vinhos muito diferentes entre si, ou seja, o estilo dos exemplares dependerá quase que, exclusivamente, da região onde a uva é vinificada e cultivada. Na região portuguesa do Minho, é responsável pela elaboração da maior parte dos vinhos tintos Verdes – rústicos e com elevados níveis de acidez.

Ainda em Portugal, no Douro, a variedade é utilizada na produção dos tradicionais e fortificados vinhos do Porto, onde a mesma é responsável por adicionar excelente coloração e acidez aos exemplares – características essenciais para que os vinhos exibam uma boa capacidade para envelhecer. Também é utilizada na elaboração de vinhos de corte ao lado de outras castas portuguesas, dando origem a vinhos tintos de alta qualidade, que também podem envelhecer muito bem durante anos. Atingem o ápice qualitativo em áreas vinícolas com temperaturas mais quentes, enquanto fora de Portugal, encontra-se o cultivo da Vinhão na Espanha, Austrália, África do Sul e Califórnia.

Borraçal

Borraçal é uma casta de uva tinta, cultivada na região dos vinhos verdes, exceto na zona de Monção. Tem um grande interesse regional, pois é antiga e tradicional. As gentes do campo apreciam muito o seu vinho, pois tem muita qualidade, mas também o viajante já pede vinhos com casta Borraçal. Além da sua rusticidade, os seus vinhos são de cor rubi, com uma elevada acidez fixa, com bagos pequenos a médios, e os cachos são pequenos de forma cónica.

É uma casta rústica, recomendada em toda a região vinícola dos vinhos verdes. Também lhe chamam, Esfarrapa e Morraça, em Viana do Castelo, Cainho Grande, Cainho Grosso ou Espadeiro Redondo, em Monção, e na zona de Basto é conhecida por Azevedo, Bogalhal ou Olho de Sapo.

Amaral

Azal Tinto ou Azar. Também conhecida como Cainho Bravo ou Cainho Miúdo em Monção, por Cainzinho nos Arcos de Valdevez e por Sousão Galego na zona de Basto.

Casta tinta de qualidade é mais intensamente cultivada; pouco produtiva e rústica; dá origem a vinhos de cor vermelha rubi, com aroma sem destaque a casta, ligeiramente acídulos e encorpados.

E agora o vinho!

Na taça entrega um lindo rosado intenso e muito brilhante com algumas bolhas que salpicava no copo, mostrando um frisante interessante e anunciando um frescor e leveza ao vinho.

No nariz é muito aromático, uma exuberância em frutas vermelhas frescas onde se destacam morango, framboesa e cereja. É refrescante e delicado.

Na boca é muito frutado, leve, saboroso, tem aquela típica “agulha” que faz cócegas na língua e uma ótima acidez que faz com que salivemos, sendo bem gastronômico, mas podendo ser degustado sozinho. Tem um final com muito frescor e prolongado.

A cada rótulo que degustamos de um vinho verde é uma nova e grata surpresa, independente de seus valores monetários e de suas propostas. E apesar dessa diversidade de castas, de propostas e peculiaridades, algo parece ser consensual: o apelo regionalista. É muito forte, é muito intenso e mesmo diante da pretensa simplicidade dos vinhos verdes, de seu frescor, de sua leveza e delicadeza torna-se, por outro lado muito expressivo pela sua tipicidade, por entregar o que há de melhor do seu terroir. O Cooperativa Agrícola de Felgueiras de Rosé, apesar de simples, básico traz todas as características que esperamos de um vinho verde: leve, fresco, com boa acidez, informal. Um vinho simples, mas nobre que personifica o que de melhor da sua tradicional região e o melhor: um valor que cabe no bolso de cada um. Excelente custo X benefício. Tem 10% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas.

A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade. A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada.

A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do setor vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5000 viticultores.

Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:

https://vercoope.pt/

Referências:

Fonte pesquisada sobre a região de Felgueiras: “Terras de Portugal” em: http://www.terrasdeportugal.pt/felgueiras

“Jornal da Golpilheira”: https://jgolpilheira.wordpress.com/2010/10/28/casta-de-uva-borracal/

“DiVinho”: https://www.divinho.com.br/uva/espadeiro/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-483-Amaral

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/sauson

 

 

 

 

 




sábado, 29 de janeiro de 2022

Urries Nerello Mascalese 2020

 

Mais um rótulo da série: Vinho e suas novas castas. E esse vem da bela Sicília, um IGT Terre Siciliane, região esta que, a cada vinho degustado, vem me ganhando de forma incondicional.

E quando essa casta é popular e conhecida em suas terras torna-se tudo, tudo melhor, afinal aquele "tempero" do apelo regionalista potencializa, além do interesse em degustar, a cultura do terroir, do saber fazer aliado às questões da terra, da sua geografia, do seu clima etc. 

Ou como alguns podem dizer que é a força e a expressão do terroir que não traz apenas as questões relacionadas à terra, ao clima, aos aspectos naturais, mas a cultura daquele povo, o fazer daquela região, dos que nela habita, o dedo do enólogo, o trabalho daqueles que estão na vindima, do modo de produção, o respeito a terra. Tudo é terroir, tudo nos remete ao apelo regional.

Embora nunca tenha pisado na Sicília, o contato, as experiências sensoriais com os seus rótulos entregam um panorama de suas propostas e faz valer o conceito acima mencionado.

A degustação de hoje vem do Etna! Quando falamos de Etna o que vem à mente? O vulcão! Mas pelo que pude perceber a casta e o vinho de hoje mostra que não é só de vulcão que vive a região lá na Sicília.

Esse rótulo eu recebi de um clube de vinhos a qual sou assinante. Acredito ter dito, em algum momento, sobre a minha opinião acerca dos clubes dos vinhos. Para um iniciante talvez seja consistente e para quem já é um inveterado degustador, nem tanto, mas o fato é que esta seleção me surpreendeu positivamente pois me proporcionou degustar um vinho de uma casta pouquíssimo conhecida em terras brasileiras.

E não foi tão somente a casta e a história que a circunda, o vinho em si também surpreendeu positivamente e, por incrível que pareça, harmonizou bem com essa tradicional noite de degustação de sábado quente, de verão.

O vinho que degustei e gostei veio da região italiana da Sicília, do Monte Etna, e se chama Uries da casta Nerello Mascalese (100%) da safra 2020. Nerello Mascalese? Sim! O nome soa como um gongo repleto de novidades! Nunca tinha ouvido falar dela até receber esse rótulo do clube de vinhos a qual faço parte. Então para não perder mais tempo falemos um pouco da casta, da sua história e depois da Sicília, onde ele é popular e queridinha.

Nerello Mascalese: A casta do Etna!

É uma uva tinta, autóctone das encostas do Monte Etna, na região metropolitana de Catania, na Sicilia. Tem ainda um perfil bastante regional, com sua produção concentrada quase inteiramente na Sicilia, onde contribui com cerca de 80% a 100% das uvas da denominação Etna Rosso DOC e cerca de 45% a 60% da Faro DOC.

A Nerello Mascalese. A cepa é muito antiga, tendo sido citada por Sestini em escritos do século XVIII. Tradicionalmente plantada como um pequeno arbusto, a Nerello Mascalese é a variedade mais difundida na área do Monte Etna, local onde vem sendo cultivada desde tempos imemoriais. Acredita-se que ela tenha ligação com os antigos vinhos do Etna, tão celebrados por Homero e historiadores latinos.

A variedade recebeu esse nome devido a planície de Mascali, entre o Monte Etna e a costa onde acredita-se ser sua terra natal – uma pequena porção de vinhas que restou após o ataque da filoxera na década de 1880. O prefixo Nerello refere-se à coloração escura das uvas, compartilhado também pela casta Nerello Cappuccio, parceiro de mistura mais comum da variedade. Ambas são encontradas nos vinhos produzidos na denominação de origem de Etna, onde a uva Nerello Mascalese representa a maior parte da mistura e é cultivada em maiores quantidades do que a Cappuccio.

Os solos compostos por materiais vulcânicos de Etna combinados com altitudes que chegam a até 1.000 metros – alguns dos vinhedos mais altos da Europa – ajudam a produzir vinhos com caráter e complexidade imensa, sem o peso excessivo característico dos vinhos tintos da Sicília.

Os solos compostos por materiais vulcânicos de Etna combinados com altitudes que chegam a até 1.000 metros – alguns dos vinhedos mais altos da Europa – ajudam a produzir vinhos com caráter e complexidade imensa, sem o peso excessivo característico dos vinhos tintos da Sicília.

A Nerello Macalese é geralmente cultivada em altitudes entre 350 e 1.000 metros, sobretudo em terrenos de origem vulcânica. É uma uva de cachos médios, grãos pequenos, de coloração intensa e cascas grossas e colheita tardia. Tem boa resistência a pragas, embora mostre uma variação grande de suas características dependendo da safra.

As vinhas da Nerello Mascalese é uma variedade de maturação tardia e dominam também a DOC Faro, em torno da cidade de Messina. Situada nas colinas acima da cidade, as videiras cultivadas em Faro alcançam altitudes impressionantes, contribuindo para a elaboração de vinhos com características singulares.

Segundo dados da OIV, em 2015 eram apenas 2.942 hectares de Nerello Mascalese plantados ao redor do mundo, todos eles na Itália, sobretudo na Sicilia nos entornos do Monte Etna.

Apesar da reduzida área plantada, a variedade também recebe outros nomes, boa parte deles sendo sua tradução para o dialeto siciliano. São eles: Mascalese Nera, Mascali, Mascalisi, Mascoli, Negrello, Negrello 39, Nerello, Nerello Carbunaru, Nerello di Mascali, Nerello Mostrale, Nerello Paesano, Niereddo, Niereddu, Niredda, Nireddu, Nirello, Nirello Mascalese, Niureddu, Niureddu Mascalese, Niureddu Mascalisi.

Fora de Etna e de Faro, a uva Nerello Mascalese é utilizada em misturas nos vinhos rotulados como Sicília IGT, ao lado da variedade dominante da ilha, a Nero d’Avola. Estes vinhos são produzidos nas versões tintas, mas exemplares rosés também são encontrados. Na Calábria, as denominações de Lamezia, Savuto e Sant’Anna di Isolia Capo Rizzuto também permitem o uso da Nerello Mascalese para o uso em vinhos de corte.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sicília e suas sub regiões

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com reflexos violáceos tendendo para o granada, com um veemente brilhante e lágrimas finas e de média persistência.

No nariz com uma intensa explosão de frutas vermelhas que lembram framboesa, morango, cereja, bem como também frutas do bosque, além de notas de especiarias, algo de carpete, tabaco, um discreto terroso.

Na boca é leve para médio, seco, álcool destacado, mas equilibrado, com o toque frutado protagonizando como no aspecto olfativo, saboroso, informal, com taninos leves, quase imperceptíveis, com uma ótima acidez que saliva a boca e o torna volumoso na boca, com um final prolongado e retrogosto com muita fruta.

Um vinho frutado, mas de personalidade, por ter o caráter regional de um local improvável para cultivo, um vinho harmonioso, saboroso, descontraído, porém intenso. Um vinho gastronômico, versátil para quaisquer tipos de comida, das mais condimentadas às mais simples e direta. Mais uma vez me sinto privilegiado por degustar um vinho especial, simples, mas nobre, pois personifica uma região que a cada dia me surpreende, a cada rótulo degustado. A experiência sensorial mais do que agradece, se rende, de forma incondicional, aos caprichos de rótulos interessantes e marcantes. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Cantine La Vite:

Cantine La Vite foi fundada em 1970 pela vontade de 43 fundadores que decidiram se unir para dar vida ao que se tornou uma das vinícolas mais produtivas e florescentes da Sicília.

Os 1.300 sócio cultivadores cultivam cerca de 2.300 hectares nos territórios do centro e sul da Sicília, em particular entre as províncias de Caltanissetta, Agrigento e Ragusa. A produção está orientada para as castas de bagas pretas (cerca de 80%), as uvas brancas locais da Sicília e as uvas Nero d'Avola, das quais a empresa é a maior produtora na Sicília.

Graças ao uso das técnicas de produção mais inovadoras e, acima de tudo, operando com o máximo cuidado e respeito ao meio ambiente, a Cantine La Vite é conhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos.

Desde 2020 Cantine La Vite SCA criou a marca Le Schette Fruit para promover um novo negócio de frutas e legumes inteiramente feito em nosso território e por nossos produtores, e nasceu graças à criação de uma infraestrutura moderna, tecnológica e eficiente.

Mais informações acesse:

https://www.cantinelavite.it/en/main-home-english/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-fruta-do-etna_4681.html

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/nerello-mascalese-raro-e-apaixonante/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nerello-mascalese

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/