Falar e degustar um vinho da Concha y Toro, a gigante
vinícola das américas e do mundo, pode parecer simples, fácil e até, para
alguns críticos ferrenhos deste produtor, banal, mas não sabem o quanto é
maravilhoso, o quanto é prazeroso. Lembro-me, com grande nostalgia, dos tempos
de outrora quando comecei a degustar os vinhos produzidos com castas, com uvas
vitis vinífera, e a importância dos vinhos da Concha y Toro, mesmos que tenham
sido os seus rótulos básicos, para a minha história de enófilo, para essa tão
importante transição das uvas de mesa para os vinhos finos. Talvez seja fácil
por ele ter tido essa representatividade em minha vida, simples porque é nobre,
mas, vos digo, que não é nada banal, muito pelo contrário, meus bons amigos, é
único, é especial. Essa visão preconceituosa, sobretudo dos tais “formadores de
opinião”, de que, pelo simples fato é uma indústria, são vinhos produzidos em
larga escala e que, por conta disso, são considerados vinhos pouco expressivos
e que não fidelizam as características de seus terroirs e de suas cepas. Não se
enganem, vinho é vinho! Existem vinhos bons, ruins, com inúmeras propostas em
todas as circunstâncias, sejam vinhos de garagem, vinhos de autor, orgânicos,
de produção de larga escala.
E o meu ápice com a seminal Concha y Toro foi com um dos seus
mais emblemáticos e importantes vinhos que, desde 1976, é sinônimo de qualidade
e consistência no que tange a sua tipicidade: Marquês de Casa Concha! Um nome
vultoso, como a sua bebida, um vinho complexo, estruturado, poderoso e que tem
no seu enólogo, Marcelo Papa, um alquimista, um idealizador que opera milagres
com as suas mãos e alma, inteiramente entregue à concepção e produção desses
vinhos que representam as regiões mais importantes do Chile.
E o vinho que degustei e gostei veio do Chile, é claro, da
região do Vale del Maipo, o Marquês de Casa Concha, da casta Cabernet Sauvignon
da safra 2014. Um vinho complexo, estruturado, potente e com um potencial de
guarda que não pude esperar. O vinho me chamava da adega e hipnotizado cedi aos
seus encantos. Com três anos de vida a degustação se fez necessária e urgente
às minhas experiências sensoriais. E, antes de falar nele com requintes de
detalhes, falemos um pouco do Vale del Maipo, da sua história.
Vale del Maipo
O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com
vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de
habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas
com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e
caves do século 19. Trata-se de uma área chamada, muitas vezes, de “Bordeaux da
América do Sul”, onde o Cabernet Sauvignon é, sem dúvidas, o exemplar mais
conhecido. Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central, onde a
faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a
Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do
Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo,
foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente,
tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.
A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo,
Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo
Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando
de altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as
noites frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com
maiores índices de acidez. Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é
uma sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com
maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e
elegantes. A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais cultivada
na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta
beneficiada graças as temperaturas mais quentes. Por fim, a sub-região do Bajo
Maipo está situada em torno das cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde
apesar de existir o cultivo das vinhas, encontra-se com maior facilidade
diversas vinícolas. Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a
brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente,
de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua
denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.
A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações: Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO), Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO), Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).
E agora o vinho!
Na taça apresenta um belíssimo vermelho rubi intenso, escuro
e muito brilhante, sem nenhuma transparência, caudaloso e com uma abundante
concentração de lágrimas, finas e que teimam a se dissipar das paredes do copo.
No nariz sobressaem as notas as notas de frutas negras
maduras se destacando a ameixa e amora, mas, por outro lado, o frescor se fazia
presente, até pela sua jovialidade evcom toques de baunilha e de especiarias, sobretudo
as picantes.
Na boca o vinho confirma o olfato, revelando-se frutado,
sendo potente e estruturado, as especiarias também aparece no palato, com
taninos gulosos e pronunciados e, como todo jovem robusto, ainda um pouco
arredio, mas decidi desafiá-lo e acompanhei as suas modificações em taça. A
acidez é agradável, um toque amadeirado bem integrado, mostrando seu estágio de
16 meses em barricas de carvalho, além do tabaco e um persistente final longo e
cheio.
Como tratar com desdém e rejeição um vinho com essa estirpe?
Um vinho voluptuoso, de marcante personalidade que fideliza, que retrata os
mais reveladores e tradicionais, mas com uma assinatura arrojada e
contemporânea, terroirs do Chile. É fácil, é comum, é simples falar dos vinhos
da Concha y Toro? Pode não ser novidade, o Marquês de Casa Concha pode ser um
vinho conhecida deveras nas terras brasileiras, mas nunca podemos negligenciar
a sua importância, a sua qualidade e o impacto avassalador aos nossos paladares
e olfatos. Um vinho nobre, simples, a simplicidade da nobreza nos seus mais
potentes goles que saboreia a alma. Tem 14% de teor alcoólico muito bem
integrado ao conjunto do vinho.
Sobre o Marques de Casa Concha:
Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título
“Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu
meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o
fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques
de Casa Concha.
Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores
nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado
em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal
vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas
práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora
na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em
todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a
completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as
condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras
demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.
Sobre a Concha Y Toro:
Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e
empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa
pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho,
isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira
exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a
expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966,
onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu
principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990
veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de
vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina
entre outras.
Mais informações acesse:
http://www.marquesdecasaconcha.com/?lang=pt-pt
https://conchaytoro.com/holding/
Fontes de pesquisa:
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo
“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/colchagua-chile/
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.
Degustado em: 2017
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