Com a tradicional Adega de Monção as portas do vinho verde
foram abertas para mim. Os grandes vinhos da região, de mesmo nome, tem a cara
do Brasil, são frescos, leves, vivazes, plenos, há também os complexos,
longevos, inclusive, para, talvez, momentos mais solenes e propícios para
análises mais pormenorizadas. Não é somente a cara do Brasil, são especiais
pelas suas castas, pelo seu terroir, pelo seu apelo regionalista.
Não me canso de degusta-los! Já disse de forma demasiada,
inclusive, que o vinho verde faz parte da minha vida, das minhas degustações,
das minhas preferências e os d Adega de Monção nem se fala! Foi o Muralha de Monção branco, foi o Adega de Monção tinto. Para mim os vinhos da Adega de
Monção são inspiração, é a personificação do conceito de vinho verde e da
região de Vinhos Verdes, do velho Minho.
O vinho que degustei e gostei de hoje eu não havia degustado,
mas sempre vi exposto nas gôndolas dos supermercados, mas a um valor
injustamente alto, o que inviabilizava a aquisição. Porém quando estive no
festival Vinho Verde Wine Experience da edição de 2020, em pleno auge da
pandemia, eu estive no estante do produtor, Adega de Monção, e parei claro,
para conferir, degustar alguns rótulos.
E lá encontrei o rótulo que hoje estou a degustar. O degustei,
pela primeira vez, e foi um arrebatamento, um momento único simbolizado em
apenas uma taça. As castas emblemáticas da região traziam o sabor e o aroma
daquelas terras, o tal apelo regionalista de que tanto falamos. Quando saí
daquele evento, fui taxativo: Preciso comprar, independente do valor, esse
vinho!
Voltei ao supermercado onde o valor estava na estratosfera,
mas fui agraciado por um desconto em um formato específico de compra e o mesmo
saiu por menos de R$ 30! Para a nossa triste realidade brasileira, um preço
convidativo. Não hesitei em leva-lo.
Então sem mais delongas apresento o vinho quer degustei e
gostei que veio da região lusitana de Vinhos Verdes, das sub-regiões de Monção
e Melgaço, tradicionalíssimas, e se chama Adega de Monção das excepcionais
castas Alvarinho (50%) e Trajadura (50%) e a safra é 2019. Então como eu nunca
me canso de falar da região de Vinhos Verdes, falemos desta região linda, bem
como dos seus distritos de Monção e Melgaço.
Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho
Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a
vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e
invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à
viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho,
em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões
Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre
96 e 51 a.C.
Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao
cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das
atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho
entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações
entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da
região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena,
os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos
fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.
No início do século XX, ultrapassados os problemas das
quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a
colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se
obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos,
assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.
O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos
I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo
ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis
sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste
é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.
A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove
sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva
recomendadas:
Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas
Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com
notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e
paladar mineral.
Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e
originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas
é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e
Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.
Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção
dos brancos, a partir da casta Avesso.
Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo
potencial e resulta vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de
alta acidez.
Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto,
Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar.
Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa
vermelho granada e aromas de frutos frescos.
Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são
produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde
limão até rosas.
Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais
prestigiados de toda a Regiãoa a partir de Amaral e Vinhão.
Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro,
principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da
Região.
Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem
um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.
O uso indiscriminado dos termos “Vinhos Verdes” ou “Vinho
Verde” gera muita confusão. Pode parecer uma questão simplesmente ligada ao
plural, mas não é. Os termos se referem à Região dos Vinhos Verdes (plural),
uma das 14 regiões demarcadas de Portugal e à Denominação de Origem Controlada
(DOC) Vinho Verde (singular). Para receber o selo de Denominação de Origem
Vinho Verde, os vinhos devem respeitar as normas estabelecidas pela lei. Não há
restrição de área de cultivo, toda a produção realizada dentro da Região dos
Vinhos Verdes pode receber o selo se respeitarem as diretrizes da DOC.
A legislação permite a elaboração de vinhos brancos, rosés e
tintos dos tipos tranquilo e espumante. Os tranquilos devem ter um volume
alcoólico entre 8,5% e 14% e os espumantes entre 10% a 15% de álcool. Todos são
elaborados exclusivamente com castas autóctones da região, são elas: as brancas
Alvarinho, Arinto, Avesso, Loureiro, Azal, Batoca, Trajadura, e as tintas
Vinhão, Alvarelhão, Amaral, Borraçal, Espadeiro, Padeiro, Pedral e Rabo de
Anho. É permitida a criação de varietais e blends. Contanto, varietais de
Alvarinho só recebem a certificação DOC Vinhos Verdes quando elaborados na
sub-região de Monção e Melgaço. Exemplares de qualquer outra sub-região recebe
a certificação de Vinho Regional do Minho.
Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos
Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos
elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os
requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG
Minho. Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se
enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a
utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e
regras distintas de vinificação.
Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando
necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É
comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns
produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do
Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.
A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica,
reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de
nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada
elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo
majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta
do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia
diretamente no vinho.
Por que vinho verde?
Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por
que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse
nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de
acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de
uvas colhidas antes da correta maturação. A outra explicação diz que
"Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou
seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras
cultivadas se perde no horizonte.
Monção e Melgaço
Localizada no Noroeste da Península Ibérica, no ponto mais a
norte de Portugal, a região de Monção e Melgaço é uma das nove sub-regiões que
fazem parte da denominação de Vinhos Verdes, uma das mais conhecidas de
Portugal.
Especificamente lá, no ponto mais ao norte do país, os vinhos
mais cultuados são os Alvarinhos. Diz-se, aliás, que a origem da casta seria
nesse local às margens do Minho, fronteira natural entre Portugal e
Espanha. A cepa é a estrela de uma
região marcada por vinhos que, em sua maioria, são produzidos para serem
consumidos muito jovens.
A presença do Alvarinho de Monção e Melgaço estende-se desde
o vale do Rio Minho e dos seus afluentes, subindo na meia encosta da montanha,
adaptando-se a diferentes tipos de terreno e alcançando razoáveis níveis de
altitude. O Alvarinho desta sub-região está pouco exposto à influência do mar e
tem como uma das condições favoráveis ao seu desenvolvimento, à amplitude
térmica na maturação, caracterizada por dias quentes e noites frias. Este fator
contribui para a proteção dos aromas e para a persistência do sabor, retendo a
sua frescura.
Mas a Alvarinho, apesar de também gerar bebidas para consumo
imediato, é capaz de dar mais corpo e estrutura e gerar brancos respeitados e
com poder de guarda, destoando um pouco do conceito de vinhos ligeiros.
A fama da região de Monção e Melgaço com seus Alvarinhos é
relativamente nova, pois somente a partir dos anos 1930 é que surgiram alguns
dos principais produtores locais, como Palácio da Brejoeira, Aveleda e
Soalheiro, por exemplo, e mais recentemente nomes como Anselmo Mendes se
destacaram produzindo brancos excepcionais com a casta.
A estrela das castas locais é claramente o Alvarinho, que
aqui teve a sua origem. No microclima desta sub-região, a casta Alvarinho
produz um vinho encorpado, complexo, com um carácter mineral e grande potencial
de guarda.
Mas este território produz muito mais:
1- Vinhos Verdes
Brancos
2- Vinhos Verdes
Tintos
3- Vinhos Verdes
Rosados
4- Espumantes de
Vinho Verde
5- Aguardentes de
Vinho Verde
Esta elevada qualidade é o produto de castas indígenas da
Região, cultivadas em variações de solos maioritariamente graníticos, e de um
microclima atlântico temperado com influência continental, combinados com
experiência enológica de topo.
Os vinhos verdes de Monção & Melgaço têm aromas e sabores
intensos e concentrados, mineralidade pronunciada, notas distintas, grande
potencial de guarda e de evolução em garrafa.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um lindo amarelo palha com reflexos esverdeados e
um reluzente brilho. No início apresentou pequenas bolhas denunciando o que
viria pela frente: frescor e boa acidez.
No nariz uma exuberância de frutas de polpa branca e cítricas
como maçã-verde, pera, abacaxi e limão, além do pêssego também.
Na boca é seco, frutado, expressivo, com bom volume de boca,
mostrando-se com marcante personalidade, uma “agulha” típica dos verdes que
espeta a ponta da língua, tem uma ótima acidez que traz frescor e um alto grau
gastronômico, com um final persistente.
Mais uma grata experiência! Um grato momento degustar um
vinho verde com castas com apelo tão regionalista. Um vinho vívido, pleno,
fresco, jovem, saboroso, com a sua acidez que nos estimula a degustar, a
degustar e a degustar de forma ávida e descontrolada. Aqui não há espaço para o
famoso “beba com moderação”. A parcimônia passa longe. Mesmo que diante de seu
frescor, leveza de delicadeza, é um vinho de personalidade, pois entrega muito
além do que esperei. Excelente! Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre o Adega de Monção:
Situada em plena Região Demarcada dos Vinhos Verdes, na
sub-região de Monção e Melgaço, onde a casta Alvarinho é mais bem representada.
A matéria-prima, aliada à cuidada seleção das uvas à entrega
da Adega, conjugada com a tecnologia moderna de vinificação e um contato de
proximidade com os clientes, são o garante da qualidade dos seus produtos,
produtos estes reconhecidos em Portugal, mas também em grande parte dos países
da Europa, África, América do Norte e do Sul.
Entre 1986 e 2004 a Adega de Monção melhorou as condições
tecnológicas de resseção de uvas e o processo de vinificação, a capacidade de
armazenamento, estabilização e engarrafamento dos vinhos.
Em 1999 aumentou as suas instalações com a criação de um novo
centro de receção de uvas e vinificação – o polo de Melgaço, cobrindo assim de
melhor forma toda a área geográfica da sub-região em que se encontra.
Entre 2004 e 2006, teve início às obras de criação de
modernas estruturas físicas que permitiram alargar a comercialização a nível
nacional e internacional, perfazendo um investimento total de 6,5 milhões de
euros, infraestrutura que acolheu os novos serviços administrativos, zona de
receção de uvas e nova linha de engarrafamento, obra inaugurada em 2008 aquando
da comemoração dos 50 anos.
Na antiga casa do Adegueiro e silos do bagaço, em 2005, foi
criado o Espaço Histórico e Cultural da Adega de Monção e levou à sua
integração na Rota dos Vinhos Verdes, Itinerário do Minho.
Tanto em 1997, como em 2007, a Revista “Vinhos” galardoou-a
como a “Cooperativa do Ano”, e, em 2008, o Ministério da Agricultura do
Desenvolvimento Rural e Pescas distinguiu-a com o Prémio Empreendedorismo e
Inovação. Em 2009 foi galardoada, pelo IAPMEI, com o estatuto de PME
Excelência, estatuto que desde então tem sido renovado todos os anos.
Atualmente a Adega de Monção apresenta uma faturação anual
superior a 15 milhões de euros, sendo reconhecida de forma unânime como uma das
melhores Adegas Cooperativas do País, assumindo assim um papel de grande
importância na economia local. Possui 1720 produtores associados, que somam uma
área de vinha de 1237 Ha e produções na ordem dos 8.000.000 Kg anuais, dos
quais 60% dizem respeito à casta Alvarinho.
Para ser possível o desenvolvimento desta atividade a Adega
de Monção, como previamente mencionado, possui dois polos de produção, que no
conjunto tem uma capacidade de receção de uvas de 700.000 kg por dia. Possui
ainda uma capacidade de armazenamento de vinhos de 10.328.648 litros. A Adega
de Monção possui capacidade de vinificação e engarrafamento da totalidade dos
vinhos produzidos, tendo sido para o efeito adquirida em 2005 uma nova linha de
engarrafamento com uma capacidade de produção de 6000 garrafas/hora.
Mais informações acesse:
Referências:
“Centro de Promoção e Interpretação do Vinho Verde”: https://www.cipvv.pt/pt/castas/alvarelhao-brancelho/
“Blog Tribuna do Norte”: http://blog.tribunadonorte.com.br/vinodivinovino/77338
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-moncao-e-melgaco-e-seus-vinhos-brancos_12910.html
“Vinho Verde”: https://www.vinhoverde.pt/pt/moncao-melgaco
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html
https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html