quarta-feira, 30 de março de 2022

Miolo Seleção Rosé 2020

 

O que faz de um vinho ser o melhor do mundo? O melhor de sua categoria? Podemos categorizá-lo como o melhor levando em consideração que a percepção do mesmo é relativa e pessoal? Definitivamente essa discussão rende e muito boas e complexas discussões!

Cada um tem, diria, o seu melhor vinho, aliando sempre experiências maravilhosas e únicas, sobretudo sentimentais. O melhor vinho é aquele que você gosta de degustar! Mas não se deixe levar pela temida zona de conforto! Arriscada e perigosa, o que pode ser considerado um especial carinho para com um rótulo se torna uma espécie de subserviência a ele, te impedindo de se aventurar com outros rótulos, regiões e castas.

E quando falo em “melhor vinho do mundo”, o “melhor vinho da sua categoria” etc, é porque o rótulo de hoje conquistou simplesmente o título de melhor vinho rosé do mundo! Sim! E não se enganem que o vinho veio de Provence, na França, onde se produzem clássicos rosés, não! O vinho veio do Brasil, sim!

E é um vinho famoso, que criou uma legião de fãs, admiradores e é um vinho, uma linha de rótulos que fez parte da minha vida lá nos primórdios de meus primeiros contatos com a poesia líquida.

Mas antes de revela-lo vou fazer um breve apanhado do prêmio que essa “celebridade” conquistou o que é surpreendente, mas que não devemos nos deixar cair em uma espécie de cilada mercadológica, embora possamos e devemos reconhecer a sua representatividade, levando em conta o vertiginoso crescimento de qualidade dos rosés nestas terras produzidas.

Esse rótulo foi eleito o melhor rosé do mundo no Top Tem 2019, Rio Wine & Food Festival, evento este que dissemina, no Rio de Janeiro, à cultura do vinho com uma extensa e diversificada programação que tem como protagonista o vinho. Leia mais aqui

Então, sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio da Campanha Gaúcha, da Campanha Meridional, em Candiota, dos vinhedos próprios da Miolo e se chama Miolo Seleção Rosé, um blend das castas Cabernet Sauvignon e Tempranillo, da safra 2020.

E não há como negar, negligenciar a sua qualidade, o seu frescor, o seu sabor acentuado de frutas vermelhas. Essa linha de vinhos da Miolo Seleção faz parte da minha história e ajudou a construir o conceito, a percepção e amor que tenho pelos vinhos. Então já que falamos de história, falemos de Miolo Seleção e do seu rosé que, curiosamente nunca havia degustado.

Miolo Seleção e o seu rosé

Impossível falar da trajetória da Vinícola Miolo sem falar da linha Miolo Seleção, lançada em 1994. A marca se tornou conhecida e apreciada em todo o Brasil e hoje é o vinho mais distribuído tanto no mercado interno quanto externo com presença na Alemanha, Austrália, China, França, Guatemala, Hong Kong, Japão, Nova Zelândia e Paraguai e, em breve, na Nigéria.

Os cinco rótulos, todos bi varietais, são elaborados a partir de uvas cultivadas em vinhedos próprios na Campanha Meridional (Miolo Seleção Pinot Grigio / Riesling, Miolo Seleção Tempranillo / Touriga, Miolo Seleção Chardonnay / Viognier, Miolo Seleção Cabernet Sauvignon / Merlot e Miolo Seleção Rosé – Cabernet Sauvignon / Tempranillo).

A aposta da Miolo no rosé surgiu ainda em 2006. De lá para cá, o vinho sofreu algumas mudanças no corte, que em 2010 deixou de ter o Merlot. Mas a principal transformação veio em 2017 com a renovação do conceito do vinho, inspirado nos rosés de Provence, do Sul da França. A partir daí toda concepção do produto partiu de um novo perfil no manejo do vinhedo. Com isso, a revitalização da roupagem veio em 2018, sempre seguindo a filosofia de cultivar um vinhedo para fazer este rosé.

Nessas 25 safras, o Miolo Seleção conquistou paladares em todo o Brasil e hoje é sinônimo da qualidade Miolo, traduzindo a expressão do vinho brasileiro. Diante de sua relevância na abertura do mercado de vinhos no país e para o próprio crescimento da empresa, a Miolo investiu em sua repaginação no ano passado, resgatando sua essência e reposicionando o produto que se tornou o vinho mais querido do Brasil.

Candiota, Campanha Meridional

O Município de Candiota está situado na Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul, estando a 387 km da Capital do Estado, via BR 293, a 45 km de Bagé e a 140 km de Pelotas. No cenário turístico, o município integra-se a Região Turística denominada “Pampa Gaúcho”, a qual todos os elementos que estão no imaginário do turista a respeito do Rio Grande do Sul e ao gaúcho estão presentes (indumentária, danças, lidas campeiras, gastronomia e a própria figura do gaúcho), o que nos remete ao turismo cultural e histórico, trabalhado de forma a resgatar a História e Cultura Gaúcha, pois foi em meio ao Campo dos Menezes, onde hoje fica Candiota, mais precisamente a localidade de Seival, que Antônio de Souza Neto após vencer a Batalha do Seival proclamou, no dia 11 de setembro de 1836, a República Rio-Grandense. Inclusive, no município, há um monumento marcando o território que teria ocorrido tal confronto, além de numerosas construções (em ruínas) que remetem a essas datas e esses momentos históricos.

Candiota, Campanha Gaúcha

De acordo com relatos orais, alguns gregos originários da ilha de Cândia (hoje ilha de Creta), conhecidos como candiotos, teriam vindo da Argentina no século XVIII. Estes fixaram-se às margens de um arroio, ao qual posteriormente dariam o nome de Candiota, vindo daí a origem do nome da cidade. Em 24 de março de 1992, o município se emancipou de Bagé e Pinheiro Machado.

No campo, o destaque fica por conta da criação de gado leiteiro e a ovinocultura. A agricultura ganha força com o desenvolvimento da orizicultura e da fruticultura. Candiota também é reconhecida nacionalmente pela produção de sementes olerícolas e agroecológicas, e começa a se destacar com a produção de soja. O clima é temperado, caracterizado por altas temperaturas no verão chegando a 35°C. O inverno é marcado por geadas, chegando a temperaturas negativas. É a região com mais horas de luz e a que possui maior amplitude térmica do país, isto é, onde há maior variação de temperatura entre o dia e a noite. Essas características possibilitam o cultivo de ameixa, caqui, figo, nectarina, pêra, pêssego, maçã, marmelo, framboesa, nozes pecan e uva, o que admite no turismo trabalhar em diversas frentes, como o enoturismo, turismo gastronômico, turismo rural.

E falando em enoturismo Candiota, que está localizado na região da Campanha Meridional, é reconhecida como uma das regiões mais promissoras para o cultivo de uvas por estar no paralelo 31º, faixa do planeta onde se encontram algumas das melhores regiões vitivinícolas do mundo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rosado límpido, brilhante, cor casca de cebola, bem clarinho, com discretas lágrimas finas e velozes.

No nariz tem discretas e delicadas notas de frutas vermelhas, como morango, framboesa e cereja que traz um frescor e leveza, além de um toque floral.

Na boca é leve, informal, macio, redondo, mas com um incrível volume de boca, graças também a sua excelente acidez que saliva a boca e entrega jovialidade. Tem um final prolongado e frutado.

Melhor do mundo? Não sei! Mas foi o melhor para mim! Melhor pelo vinho que me surpreendeu positivamente e por ter me feito lembrar de um passado que já me parecia ser distante e talvez até esquecido, de ter degustado uma linha de rótulos sentimentalmente falando especial que praticamente foi responsável pela minha iniciação ao mundo dos vinhos. O Miolo Seleção Rosé é o que é: Descontraído, informal, versátil, acessível ao bolso. Um rosé como deve ser: leve, fresco, frutado e com um toque solar de elegância, mas sem soar, claro, austero. Um vinho que atingiu o status de mais vendido do Brasil porque atingiu a um público jovem e até mesmo enófilos inveterados, com a famosa “litragem”. E carrega consigo a campanha ótima do “Rosé Club” que visa disseminar para o mercado a importância de se degustar os vinhos rosés tão sinérgico com as características culturais e climáticas de nossas terras. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Miolo:

A paixão pelo mundo fascinante do vinho é facilmente explicada pela história da família Miolo que, além de trabalhar na vitivinicultura desde a chegada de Giuseppe no Brasil em 1897, inova ano após ano. Uma das fundadoras do projeto Wines of Brasil, a Miolo Wine Group é a maior exportadora de vinhos do Brasil e a mais reconhecida no mercado internacional. A produção dentre as 4 vinícolas do grupo soma, em média, 10 milhões de litros por ano numa área cultivada de vinhedos próprios com aproximadamente 1.000 hectares.

A Miolo exporta para mais de 30 países de todos os continentes. É o maior exportador de vinhos finos do Brasil. De 30 hectares em 1989, a Miolo cultiva hoje, 30 safras mais tarde, cerca de 950 hectares de vinhedos em quatro terroirs brasileiros: Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha), Seival/Candiota (Campanha Meridional), Almadén/Santana do Livramento (Campanha Central) e Terranova/Casa Nova (Vale do São Francisco), sendo a única empresa do setor genuinamente brasileira com atuação em quatro diferentes regiões produtoras.

Com uma produção anual de cerca de 10 milhões de litros, é a marca que detém o maior portfólio de rótulos verde amarelos, exibindo centenas de prêmios conquistados no mundo inteiro. O pioneirismo na elaboração dos vinhos se estendeu para o enoturismo, onde a marca gera experiência, aproximando e formando novos apreciadores da bebida. Assim é no Vale dos Vinhedos com o Wine Garden Miolo, assim é no Vale do São Francisco com o Vapor do Vinho pelo Velho Chico, onde a Miolo transformou o sertão em vinhedo. Este mesmo espírito empreendedor que fez da pequena vinícola familiar a maior produtora de vinhos finos do Brasil em apenas 30 safras, é que move gerações e aproxima quem sonha de quem quer fazer.

Mais informações acesse:

https://www.miolo.com.br/

 Referências:

“Campinas Café: https://campinascafe.com.br/miolo-selecao-rose-e-eleito-o-melhor-rose-do-mundo-no-top-ten-2019/

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Candiota

“Prefeitura de Candiota”: https://www.candiota.rs.gov.br/apresentacao/

“Loja Miolo”: https://loja.miolo.com.br/vinicolaseival

“Blog dos Vinhos”: https://blogdosvinhos.com.br/miolo-e-vinicola-do-ano-2019/

“Sabores da Cidade”: https://saboresdacidade.com/miolo-selecao-rose-se-destaca-entre-os-rotulos-brasileiros/





domingo, 20 de março de 2022

Casa Perini Prosecco (Glera)

 

Quando falamos em Prosecco, a famosa casta Glera, pois Prosecco é a região, lembramos imediatamente da Itália. Não há muito que contestar que este país é a referência na produção desse vinho, mas o Brasil tem se destacado na produção de rótulos da casta Glera que claro tem uma simbiose muito grande com as características do nosso país, sobretudo no quesito climático. Terras quentes para casta predominantemente leve, fresca e frutada.

E há quem diga, mesmo com toda a tradição da casta e região, que se trata de um vinho “mais do mesmo”, tudo igual, sem atrativos, sobretudo os nacionais que privilegia e muito o frescor, a leveza.

De fato a característica da casta é marcante, mostra majoritariamente, frescor, leveza, refrescância, sabor frutado, mas ainda assim, para uma degustação informal, descontraída o Prosecco sempre será uma ótima pedida, principalmente para os atuais dias quentes de verão.

O vinho que degustei e gostei de hoje foi escolhido pela tradição do produtor e pelo excelente custo X benefício praticado, digo custo X benefício porque o vinho é surpreendentemente maravilhoso trazendo sim as essenciais características da Glera, mas com a cara do Brasil e uma destacada acidez que realmente encanta e entrega um vinho saboroso e com aquele frescor que anima a quem degusta.

Falo do Perini Prosecco, não safrado, da Serra Gaúcha. Um vinho premiado, que vem sendo laureado há anos e que mesmo com essas reverências, a duras penas, vem mantendo um valor bem acessível ao bolso do brasileiro, apesar de não “degustar prêmios”, mas que não podemos negar que atesta a qualidade desse belíssimo rótulo.

Então falemos um pouco da região italiana de Prosecco, bem como da região da Serra Gaúcha, emblemática região brasileira onde este rótulo foi concebido.

Prosecco

Vinho espumante tem cara de festa, alegria e descontração. O prosecco nos últimos anos vem conquistando o mundo com um sucesso fácil de decifrar e que cabe dentro de uma taça: qualidade, preço e forte identidade. O sabor frutado e leve faz com que o prosecco seja um vinho versátil, que pode ser consumido com diversos tipos de pratos, sobremesas ou simplesmente como um aperitivo.

A província de Treviso é a principal zona de produção de prosecco. A Itália, a exemplo da França, existe regras e legislações rígidas no que diz respeito à produção do vinho. O sistema de denominação de origem (DOC) é a garantia de que o produto é realizado seguindo uma série de regras que respeitam as técnicas, a matéria prima e todo o processo envolvido no desenvolvimento do vinho de certa região. É que cada uva e cada terroir têm suas características.

A área encontra-se no nordeste da Itália,entre o Mar Adriático e a cadeia de montanhas dos Alpes.

Regiões de produção (Prosecco)

Tipos de prosecco

Prosecco DOC

O prosecco DOC é o vinho produzido num território extenso que inclui algumas províncias da região do Vêneto e uma pequena área da região do Friuli. Geralmente feito com as uvas cultivadas em planície e quase sempre recolhidas com máquina.

Prosecco DOCG

O prosecco DOCG é produzido na zona histórica de Conegliano Valdobbiadene,nas colinas da província de Treviso, a 50km de Veneza, numa área onde o clima mais fresco ressalta os aromas e o sabor da uva glera. É interessante dizer que por ser uma região de colina, a colheita da uva é feita manualmente, o que significa que a cada taça de prosecco que a gente bebe tem um trabalho imenso e um envolvimento humano por trás. O prosecco DOCG pode ser Dry (mais doce), Extra Dry (doce) ou Brut (seco).

Cartizze

A ponta da pirâmide fica por conta da região Cartizze, que é uma colina de mais ou menos 106 hectares que dizem ser o metro quadrado mais caro da Itália, 1,2 milhões de euro por hectare. De lá vêm as uvas que produzem o prosecco mais precioso.

Além do vinho, o que chama mais atenção no território de produção do prosecco é a paisagem. As colinas de Valdobbiadene são belíssimas e as pequenas cidades da região têm grande importância histórica, já algumas das batalhas entre italianos e austríacos durante a I Guerra Mundial aconteceram nesta zona. Em 2019, as colinas de Conegliano e Valdobbiadene foram reconhecidas como Patrimônio UNESCO.

Com o mesmo nome dos famosos vinhos espumantes Proseccos, elaborados no nordeste da Itália, a variedade também é conhecida como uva Glera. Esses vinhos passam por um processo de fermentação em tanques, diferentemente dos espumantes franceses, cuja fermentação ocorre dentro da própria garrafa.

A uva apresenta bagos com coloração amarela e reflexos dourados, formando cachos grandes e alongados. As folhas verdes e brilhantes da uva Prosecco ficam sensíveis quando expostas a temperaturas elevadas e à alta incidência de raios solares, além de serem pouco resistentes à seca.

Essa uva branca acumula elevados níveis de açúcar e aromas, apresentando acidez propícia para a produção de excelentes vinhos espumantes. A uva participa de 85% da composição dos reputados vinhos Proseccos em blend com as uvas Chardonnay e a Pinot.

Sendo uma variedade de uva vigorosa, a Prosecco tem bons rendimentos e, durante o seu cultivo, brota rapidamente. Além disso, tem amadurecimento prolongado natural. Apenas uma pequena porção desse tipo de uva dá origem a vinhos sem gás, já que os principais tipos de vinho que levam a Prosecco em sua composição são os espumantes e frisantes.

Base para elaboração de vinhos refrescantes, ideais para dias quentes, a uva Prosecco dá origem a exemplares com aromas que remetem a pêssegos brancos. São rótulos leves e de baixo teor alcoólico, nos quais a quantidade de álcool mínima aceita para sua comercialização foi fixada em 8,5%.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha com reflexos esverdeados, muito brilhantes com perlages finos e abundantes.

No nariz explodem aromas de frutas cítricas e de polpa branca tais como pera, maçã-verde, abacaxi, com notas delicadas de flores brancas, notas florais que traz a sensação de leveza, de elegância.

Na boca é leve, fresco, delicado, saboroso, com a fruta protagonizando como no aspecto olfativo, com uma acidez média para alta que estimula degustar de forma intensa, com alguma cremosidade e um final frutado e persistente.

O Perini Prosecco reforça a força do Brasil para a produção de espumantes e a Glera definitivamente ganhou o seu lugar em nossos terroirs e pode não ter a tradição e representatividade do Prosecco italiano, mas conquistamos, temos conquistado, a cada dia, tipicidade, sem imitações, produzindo, entregando vinhos solares, frescos, alegres e despretensiosos, como tem de ser a casta Glera. É assim, com o seu sucesso facilmente identificado, que a Prosecco tem e terá o seu lugar na história e taça dos brasileiros. Tem 11,6% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Perini:

Em 1876 chegava da Itália a família Perini com Giuseppe e Antônio Perini, mas somente em 1929 começaram a elaborar seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha.

Quatro décadas após o patriarca iniciar sua modesta produção, seu filho viria a promover mudanças maiores. Em outubro de 1970 resolve ampliar os negócios da família, fundando a Casa Perini.

Motivado e apaixonado por transformar a uva em vinho, buscam a cada ano aperfeiçoar a vinícola com equipamentos, tecnologia e equipe qualificada, pois sem uma equipe profissional a arte de elaborar vinhos perde criatividade e talento. Em 2005 a Família Perini adquire a unidade Bacardi Martini em Garibaldi agregando tecnologia ao seu processo produtivo através dos tanques “Vinimatics”, utilizados na maceração e fermentação dos vinhos tintos.

Em 2010 a vinícola foi pioneira no setor ao implantar o sistema de rastreabilidade no qual é possível, através do número do lote, rastrear todo o caminho do vinho desde o vinhedo até a garrafa. O reconhecimento vem a cada prêmio alcançado e a cada consumidor satisfeito, o que se comprova com a conquista de mais de 200 medalhas nacionais e internacionais e, principalmente, com a recente premiação do Casa Perini Moscatel, eleito o 5° melhor vinho do mundo de 2017 pela WAWWJ (World Association of Writers & Journalists of Wines & Spirits).

Mais informações acesse:

https://www.casaperini.com.br/home

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/prosecco

“Italia Per Amore”: http://italiaperamore.com/conheca-a-regiao-de-valdobbiadene-terra-do-prosecco/

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-vinicolas-italia/regioes-produtoras-de-prosecco-mapa-caracteristicas/

 

 

 








sábado, 19 de março de 2022

DNA Murviedro Bobal 2018

 

Mais uma degustação especial! E digo que essa degustação especial não se configura por ser um rótulo emblemático, caro ou de uma safra antiga e especial, nada disso! É especial pelo simples fato de ser especial para mim. Sim! É isso mesmo! Especial porque o considero como especial. Se for especial para você que está degustando, então considere assim e não por questões inerentes a valores e moda de rótulo.

Começo por ser um produtor que aprecio muito, que aprendi a gostar com algumas degustações surpreendentes, maravilhosas mesmo e com valores muito competitivos e o rótulo de hoje foi especial também, um valor extremamente bom para o meu bolso, muito acessível.

E segue com a casta! Pouco conhecida por aqui no Brasil, mas muito conhecida na Espanha, mais precisamente em uma região que está atingindo certa notoriedade, ganhando relativa credibilidade, inclusive, chamada Utiel-Requena. Então para quem curte ou conhece a região não preciso dizer que a casta emblemática por lá é a Bobal.

Essa será a minha segunda experiência com a Bobal. Já havia degustado o Bobal de SanJuan da safra 2016 e mais do que aprovei. Um vinho expressivo, frutado, macio, encorpado.

Lá em Utiel-Requena a Bobal reina absoluta tendo a arrasa quarteirão Tempranillo como protagonista também. Mas é muito gratificante degustar um Bobal de Utiel-Requena, pois traz fortemente o conceito de terroir, de tipicidade, a expressão de regionalismo de uma região que foge dos conhecidos e manjados Rioja e Ribera del Duero, degusta uma casta pouco conhecida, de um produtor que curtimos e ainda uma região em franco crescimento.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da região espanhola de Utiel-Requena e se chama DNA Murviedro Bobal (100%) da casta 2018. Para não fugir das tradições das resenhas vamos falar da história de Utiel-Requena e da sua casta principal: a Bobal.

Utiel-Requena

A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros.

É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI.

Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha.

Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhantes e com reflexos violáceos com uma profusão de lágrimas finas e que desenham o bojo.

No nariz traz alguma complexidade, com notas intensas de frutas vermelhas maduras onde se destacam cerejas, ameixas e framboesa, além de um toque floral envolvente e que entrega um frescor.

Na boca é saboroso, seco, tem médio corpo, porém macio, equilibrado e fácil de degustar, com o protagonismo da fruta como no aspecto violáceo, tem volume de boca, alcoólico, mas que não incomoda, sendo bem integrado ao conjunto do vinho, tem taninos presentes, mas domados, uma picância instigante, uma boa acidez e toque inusitado de chocolate meio amargo, apesar de não passar por barricas de carvalho. Tem final prolongado.

DNA traz identidade, origem, características! E é assim com o DNA Murviedro e a todos os rótulos dessa linha da Murviedro: vinhos de expressividade, que elevam o conceito de terroir e é assim também quando falamos de Utiel-Requena e a sua emblemática Bobal. E, além da minha segunda experiência com a Bobal, também foi a minha segunda experiência com a linha “DNA” da Murviedro com o DNA Murviedro Gran Astro Tempranillo Crianza 2015. O DNA Murviedro Bobal traz corpo, personalidade, mas maciez, um aveludado que é entregue graças as notas frutadas, com taninos domados e acidez agradável. Um vinho oriundo de vinhas velhas de baixo rendimento o que corrobora, reforça as suas características. Um belo vinhos simples e especial. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Murviedro:

Bodegas Murviedro foi fundada em Valência em 1927, a princípio como filial espanhola do Grupo Swiss Schenk, que cresceu e se tornou uma das vinícolas mais importantes da região.

A Schenk España decide então, em 1931, concentrar as suas atividades na adega de Valência, o que, localizado junto ao porto, significou o início de um dos principais pilares da marca: a exportação.

Posteriormente, já em 2002, a empresa aproveita ao máximo as comemorações do 75º aniversário ao mudar seu nome para ‘Bodegas Murviedro’ em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana, o que fez de Murviedro uma das vinícolas mais renomadas.

A vinícola, desde que começou as suas atividade, sempre teve acesso a uma ampla variedade de castas indígenas e internacionais e produzem um amplo portfólio de estilos de vinho.

A filosofia da empresa baseia-se na combinação de modernas técnicas de vinificação com uvas de vinhas tradicionais para atender aos mais altos padrões internacionais de qualidade, mantendo seu caráter espanhol assim como a originalidade.

Mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

Site “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

 

 






sábado, 12 de março de 2022

Genuíno Carménère 2017

 

O universo do vinho é vasto e inexplorado. Contudo mesmo que essa afirmação possa trazer a sensação incômoda de algo meio desolador, te impulsiona a explorá-lo mais e mais, a buscar novas experiências sensoriais.

Eu nunca pensei que, quando comecei a degustar vinhos, a quase 30 anos atrás, de que eu fosse desbravar, de forma tão intensa, os vinhos brasileiros. Desbravar regiões que jamais fosse chegar, que nunca esperei encontrar vinhos que atualmente não são polos de produção da bebida como o Rio Grande do Sul, por exemplo.

Como muitos, infelizmente, que adentra o mundo do vinho sempre, de forma pré-concebida, acha que o mundo do vinho brasileiro é limitado e incipiente, os rótulos e a história dizem o contrário e é uma forma de resistência que grita aos quatro cantos que o vinho nacional é válido e tem sim história.

Sempre ouvi dizer que São Paulo sempre foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo para a história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E o meu primeiro contato com os vinhos de São Paulo se deu de uma forma totalmente ocasional e despretensiosa. Estava eu acessando as minhas redes sociais e me deparei com uma publicação um tanto quanto atípica para mim e estava relacionado aos vinhos artesanais ou a vinhos produzidos por pequenas e médias vinícolas com baixa produção. Aquilo fora como se amor à primeira vista, dado o tamanho do interesse que me tomou como um arrebatamento.

Diante do tamanho do interesse decidi procurar detalhes sobre o vinho mencionado e como qualquer coisa que colocamos na grande rede para pesquisar, uma coisa vai puxando a outra, porém dentro do contexto. Até que cheguei a um site que vende vinhos de uma região famosa do interior de São Paulo conhecida como “a terra do vinho”, chamada São Roque! O site se chama “Pemarcano Vinhos”.

Os adquiri, mas não poderia parar e decidi desbravar a região de São Roque, em São Paulo, e descobri o quanto há de rótulos disponíveis, majoritariamente de pequenos e médios produtores e isso me excitou ainda mais. E as surpresas não pararam! Recebi, carinhosamente, do amigo Luciano, do site da Pemarcano Vinhos, um Carménère brasileiro! Sim! Foi o que vocês, caros leitores enófilos, leram: Um Carménère brasileiro! Os típicos vinhos chilenos com a sua casta que é o carro chefe sendo produzida em terras brasileiras!

Claro que a produção ainda é tímida por aqui, poucos são os produtores que vinificam a Carménère no Brasil, e isso traz o tempero para a minha efusiva animação em degustar esse rótulo de São Roque, o mais rápido possível. Então não hesitei muito e degustei logo este rótulo e em um misto de alegria, privilégio e ansiedade, me peguei a desarrolhá-lo e inundar a minha taça desse Carménère brasileiro. De cara já impressionou pela intensa cor vermelha escura, intransponível que logo explodiu em aromas de frutas vermelhas maduras, e aquele toque clássico de couro, de “carpete” da Carménère. Começamos bem! Quando o levei à boca...voilá!

O vinho que degustei e gostei veio da região de São Roque, em São Paulo, e se chama Genuíno da casta Carménère e a safra é de 2017. Não vou, ainda, entrar nos pormenores do vinho, em sua análise, falando antes da história da região de São Roque que personifica a história do vinho em nosso Brasil e que merece ser enaltecida inúmeras vezes. Vamos a terra do vinho!

São Roque: A terra do vinho!

 A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Doutor Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo vermelho profundo, escuro, mas reluzente, brilhante, com lágrimas finas e em média intensidade que marcam no bojo.

No nariz apresenta aromas intensos e vivazes de frutas vermelhas, se destacam framboesa, groselha e cereja, com notas de especiarias, como pimenta, couro, algo de terra molhada e herbáceo.

Na boca é seco, as frutas vermelhas bem como os toques especiados ganham protagonismo como no aspecto olfativo, tem médio corpo, bom volume de boca, alcoólico, mas sem desequilibrar o conjunto do vinho, que se mostra macio, equilibrado, baixa acidez e taninos médios, porém aveludados. Final de média persistência.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Genuíno Carménère foi, mais uma vez, a confirmação de que, mesmo com todas as adversidades do tempo e da atualidade, degustar um vinho da região de São Roque é viver de forma ativa e intensa a sua história e perceber, ou melhor, sentir que a região ainda pulsa vinho, pulsa a sua história e ainda é possível sim degustar vinhos de qualidade, bem feitos e que pequenos e médios produtores se engradecem pelo simples fato de personificar em seus vinhos a tipicidade da região, o fazer de homens e mulheres abnegados pelo amor a essa bebida que catapultou o prestígio dessa cidade ao Brasil. O nome que carrega, “Genuíno” talvez corrobore essa condição e carrega essa nome não é à toa! Sinto-me privilegiado e honrado pelo presente do Luciano, da Pemarcano Vinhos, e por degustar um Carménère brasileiro com um vermelho rubi intenso, escuro, brilhante, frutado, aromático, saboroso e que entrega as características da cepa no âmago de sua essência. Que São Roque continue me proporcionando grandes novidades espero por todo sempre. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Terra do Vinho:

Em meados de 1966, a família Oliveira Santos decidiu dedicar-se a sua grande paixão: o Mundo do Vinho e abriu a Cantina Vieira Santos.

Empenho, dedicação e amor eram palavras de ordem dos irmãos, especialmente para o Moacyr. A Cantina cresceu, mudou e hoje se chama Adega Terra do Vinho. Como patriarca, certamente o Moacyr não imaginou que seu trabalho chegaria tão longe com o mesmo espírito e garra.

Sr. Moacyr

A paixão pelos vinhos fez nascer a pequena Adega do Moacyr com seus vinhos artesanais. Hoje a adega cresceu, mas continua trazendo, em cada garrafa, a mesma paixão.






sexta-feira, 11 de março de 2022

El Toqui Reserva Especial Merlot 2020

 

Há quem diga que os vinhos da região chilena do Vale Central são ruins pelo fato de ser uma das maiores em termos de volume produzido de vinho, logo entregam rótulos de baixa qualidade. Não sou um enciclopédico em terroir ou coisa que o valha, mas não consigo falar, ou melhor, degustar vinhos chilenos sem pensar em regiões como o Vale Central.

Quem nunca degustou um chileno do Central Valley que atira a primeira taça, ou melhor, a primeira pedra. Gosto dessa região pela sua diversidade, de vinhos simples, de proposta simples, de vinhos frutados, jovens a vinhos mais estruturados e complexos. Sinto um pouco de preconceito, de uma intolerância com a região. Não nos esqueçamos de que temos, como distritos, ou microrregiões, ou ainda sub-regiões do Vale Central os emblemáticos Vale do Maipo e outra pequena região que muito aprecio, o Maule.

E o rótulo que escolhi é um Merlot, casta que construiu a minha predileção pelos vinhos, os meus primeiros tintos foram constituídos por essa casta que, por muito tempo foi a preferida, até a descoberta de outras cepas, claro. Além da Merlot ter construído a minha preferência pelos vinhos, foram os exemplares chilenos que me cativaram com a sua presença, pegada e até alguns com alguma complexidade e estrutura.

Mas esse, como qualquer rótulo do Vale Central traz uma simplicidade mesclado a uma estrutura, um vinho de proposta mais direta, porém entregou o que se espera de um autêntico Merlot chileno. O vinho que degustei e gostei veio, claro, do Vale Central chileno, e se chama El Toqui Reserva Especial da casta Merlot (100%) da safra 2020. Esse é o meu segundo rótulo da linha, pois já degustei e também gostei do El Toqui Reserva Especial Cabernet Sauvignon da safra 2020. E, para não perder o costume, vamos às histórias que também alimenta e fomenta a celebração às degustações: Um pouco de Central Valley.

Valle Central: o centro vitivinícola do Chile

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume.

Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah.

A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes.

O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Vale Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor.

Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha.

Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária.

O Vale Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco.

A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um intenso e brilhante vermelho rubi com entornos violáceos, com finas e abundantes lágrimas finas e que desenham as bordas do copo.

No nariz traz aromas evidentes de frutas negras maduras, tais como ameixas, groselha e amora, com toques de especiarias, como baunilha e pimenta.

Na boca é seco, de leve a médio corpo, com as frutas negras protagonizando como no aspecto olfativo, álcool em evidência, mas que não agride e não desequilibra, com notas discretas de madeira, tosta e chocolate graças aos 8 meses de barricas de carvalho, com acidez proeminente, que traz frescor ao vinho, com taninos aveludados. Final prolongado.

Independentemente de sua safra, do tempo de vida do vinho, ele entregou o que eu verdadeiramente esperava de um Merlot chileno, aquele Merlot que aprendi a gostar nos tempos de outrora das minhas experiências de degustação: um vinho com alguma personalidade, mas fácil de degustar, harmonioso, equilibrado, com notas de pimenta, especiarias, macio. Um vinho redondinho, bem feito, entregando, inclusive, mais do que valia. Digam o que quiserem do Vale Central, mas eu nunca rejeitarei seus vinhos. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Casas del Toqui:

Com o objetivo de criar vinhos finos e de alta qualidade que expressem o verdadeiro terroir chileno, a Casas del Toqui nasceu da união de uma tradicional família de produtores do Chile e o Château Larose Trintauton, uma grande propriedade vinícola de Bordeaux, na França, em 1994.

A soma de distintas experiências com vinhedos de alta qualidade e uma adega dotada da mais alta tecnologia tornaram a empresa um destaque constante na imprensa mundial, posicionando-a como uma das bodegas mais respeitadas do Chile.

Em 2010, a Família comprou a “Estate and Winery”, logo após o terremoto que a danificou severamente, e a modernizou. Hoje, sua principal adega está localizada próxima de Totihue, Alto Cachapoal, cerca de 100 km ao sul da capital Santiago.

Mais informações acesse:

https://www.casasdeltoqui.cl/index.html

Referências:

“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente