segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Zanotto Gewürztraminer 2020

 

Sabe daquela frase famosa, aquele ditado popular amplamente conhecido e falado? “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!” Sinceramente é difícil contextualizar a essência e o significado da frase, haja vista que vai depender da situação, do que está sendo tratado.

Agora vem a pergunta: será que essa frase deve ser aplicada para a realidade do vinho, do nosso querido e amado universo vinífero? Eu digo que sim! Claro que um raio pode cair duas ou mais vezes no mesmo lugar! E o que significa tudo isso?

Quando falamos em um raio cair, ou não, duas vezes no mesmo lugar é adequar em uma realidade de degustar o mesmo rótulo em duas ou mais vezes! Claro que isso é possível e muito salutar! Demonstra uma predileção do enófilo por um rótulo, por um produtor, por uma região etc.

Principalmente quando se degusta o mesmo rótulo em safras distintas! Isso é melhor ainda, porque, por mais que o rótulo seja igual, a casta e a região idem, são safras diferentes, com climas, temperaturas diferentes, podendo oferecer nuances distintas uma das outras.

Mas como tudo na vida tem o lugar ruim, diria temeroso. A temível e silenciosa “zona de conforto” e isso para o mundo do vinho é péssimo, penso. Se você degusta, com alguma frequência, um determinado rótulo, de um determinado produtor e casta, demonstra que você tem uma predileção, o que é normal, mas essa predileção pode gerar uma espécie de dependência.

Em um cenário tão vasto, de uma infinidade de vinhos, regiões, países, castas, ficar no mesmo rótulo, tem impossibilita diversificar o tem leque de degustação e, convenhamos, a vida é deveras curta para ficar apenas em um rótulo, em um país, em uma região, em uma casta...

Mas esse rótulo deixou saudades! Não direi saudades, haja vista que o degustei no início deste ano, 2022, mas deixou um impacto positivo na minha degustação e a casta não é muito popular pelo menos em nossas terras brasileiras.

E resolvi compra-lo novamente! E o valor também estava arrebatador: R$37,90! Como encontrar um vinhaço da casta Gewürztraminer, brasileiro, a esse valor? Fiz uma breve, mas reveladora pesquisa, e os valores de rótulos tupiniquins desta variedade estão uma fábula! Caríssimos!

Mas decidi degusta-lo com dois anos de safra! Esse “novo velho” rótulo para mim é da “safra das safras”: 2020! É considerada, aqui no Brasil, como uma das melhores safras, a melhor em mais de trinta anos! Já traz esse atrativo! O primeiro que degustei, da safra 2019, o fiz com três anos de safra! Será que esse tempo afetará na degustação? Será que teremos novas nuances? Ah para uma comparação a resenha do Zanotto Gewürztraminer 2019 pode ser lida aqui. 

Então sem mais delongas vamos às apresentações: O vinho que degustei e gostei veio da região gaúcha de Campos de Cima da Serra, região essa que vem ganhando visibilidade e que está me ganhando também, e se chama Zanotto da casta Gewürztraminer e a safra, como disse, é a de 2020. Então para não fugir daquela máxima, vamos às histórias de Campos de Cima da Serra e desta casta que ainda não é tão popular no Brasil, a Gewürztraminer.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra mais ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Campos de Cima da Serra

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida. Para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta.

Outra teoria é de que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, há ainda suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha, límpido, brilhante, com lindos e discretos reflexos esverdeados.

No nariz apresenta aromas intensos e calcados na fruta, frutas brancas e cítricas com destaque para pêssego, melão, maçã-verde, lichia, além de notas delicadas e agradáveis de flores, com um mineral que traz muito frescor.

Na boca muito frescor, leve para mediano, com algum açúcar residual, mas sem ser enjoativo, com as notas frutadas predominando como no aspecto olfativo, com um delicioso toque picante, típico da casta, com uma acidez equilibrada e instigante com final de média persistência.

Sim! Um raio pode cair no mesmo lugar duas vezes e diante desse rótulo, mais do que especial, essa frase ganha força e digo de antemão que continuarei a degustar mais e mais rótulos desse produtor. E o que dizer desse produtor? Falei muito, ao longo desse texto, de visibilidade e credibilidade, e não podemos negligenciar o trabalho que a Vinícola Campestre vem realizando com a sua linha Zanotto! Vinhos frutados, leves, saborosos e o principal: de personalidade! Expressivo! A Zanotto está levando o nome da região de Campos de Cima da Serra ao alto! Vamos seguindo a valorizar a região, os vinhos nacionais, os seus produtores! Definitivamente o Zanotto Gewürztraminer sintetiza o melhor momento do vinho brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre: 

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

 



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