Sabe daquela frase famosa, aquele ditado popular amplamente
conhecido e falado? “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!” Sinceramente é
difícil contextualizar a essência e o significado da frase, haja vista que vai
depender da situação, do que está sendo tratado.
Agora vem a pergunta: será que essa frase deve ser aplicada
para a realidade do vinho, do nosso querido e amado universo vinífero? Eu digo
que sim! Claro que um raio pode cair duas ou mais vezes no mesmo lugar! E o que
significa tudo isso?
Quando falamos em um raio cair, ou não, duas vezes no mesmo
lugar é adequar em uma realidade de degustar o mesmo rótulo em duas ou mais
vezes! Claro que isso é possível e muito salutar! Demonstra uma predileção do
enófilo por um rótulo, por um produtor, por uma região etc.
Principalmente quando se degusta o mesmo rótulo em safras
distintas! Isso é melhor ainda, porque, por mais que o rótulo seja igual, a
casta e a região idem, são safras diferentes, com climas, temperaturas
diferentes, podendo oferecer nuances distintas uma das outras.
Mas como tudo na vida tem o lugar ruim, diria temeroso. A
temível e silenciosa “zona de conforto” e isso para o mundo do vinho é péssimo,
penso. Se você degusta, com alguma frequência, um determinado rótulo, de um
determinado produtor e casta, demonstra que você tem uma predileção, o que é
normal, mas essa predileção pode gerar uma espécie de dependência.
Em um cenário tão vasto, de uma infinidade de vinhos,
regiões, países, castas, ficar no mesmo rótulo, tem impossibilita diversificar
o tem leque de degustação e, convenhamos, a vida é deveras curta para ficar
apenas em um rótulo, em um país, em uma região, em uma casta...
Mas esse rótulo deixou saudades! Não direi saudades, haja
vista que o degustei no início deste ano, 2022, mas deixou um impacto positivo
na minha degustação e a casta não é muito popular pelo menos em nossas terras
brasileiras.
E resolvi compra-lo novamente! E o valor também estava arrebatador: R$37,90! Como encontrar um vinhaço da casta Gewürztraminer, brasileiro, a esse valor? Fiz uma breve, mas reveladora pesquisa, e os valores de rótulos tupiniquins desta variedade estão uma fábula! Caríssimos!
Mas decidi degusta-lo com dois anos de safra! Esse “novo
velho” rótulo para mim é da “safra das safras”: 2020! É considerada, aqui no
Brasil, como uma das melhores safras, a melhor em mais de trinta anos! Já traz
esse atrativo! O primeiro que degustei, da safra 2019, o fiz com três anos de
safra! Será que esse tempo afetará na degustação? Será que teremos novas nuances?
Ah para uma comparação a resenha do Zanotto Gewürztraminer 2019 pode ser lida aqui.
Então sem mais delongas vamos às apresentações: O vinho que
degustei e gostei veio da região gaúcha de Campos de Cima da Serra, região essa
que vem ganhando visibilidade e que está me ganhando também, e se chama Zanotto
da casta Gewürztraminer e a safra, como disse, é a de 2020. Então para não
fugir daquela máxima, vamos às histórias de Campos de Cima da Serra e desta
casta que ainda não é tão popular no Brasil, a Gewürztraminer.
Campos de Cima da Serra
Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à
sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o
clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de
grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa
temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em
diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as
uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que
se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes
rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.
A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é
recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde
2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem
indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de
crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos
Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs,
sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua
mesa!", um slogan bem conhecido localmente.
Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um
pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos
vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e
bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).
Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a
temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de
2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a
região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da
Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente,
dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!
Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas
tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma
maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de
15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom
equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.
Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido
bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais
cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de
melhor potencial de qualidade, a Viognier.
As videiras estão situadas principalmente em três municípios:
Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e
Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas
na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta
das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam
mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do
outono.
Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra
aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a
diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por
sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a
contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos
consumidores.
A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma
peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A
origem do nome da casta é ainda muito discutida. Para alguns estudiosos do
mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a
grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta.
Outra teoria é de que a cepa tenha se originado na Itália, no
vilarejo de Traminer, há ainda suposições de que a casta tenha parentesco com a
cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser
cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova
Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da
região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.
Com características físicas e sabores bastante marcantes, a
uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes
entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados
até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui
difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta
possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com
presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a
maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos
elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os
vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.
Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos
brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam
excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos,
destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais
adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um
inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que
possuam frutas como base.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo palha, límpido, brilhante, com
lindos e discretos reflexos esverdeados.
No nariz apresenta aromas intensos e calcados na fruta,
frutas brancas e cítricas com destaque para pêssego, melão, maçã-verde, lichia,
além de notas delicadas e agradáveis de flores, com um mineral que traz muito
frescor.
Na boca muito frescor, leve para mediano, com algum açúcar
residual, mas sem ser enjoativo, com as notas frutadas predominando como no
aspecto olfativo, com um delicioso toque picante, típico da casta, com uma
acidez equilibrada e instigante com final de média persistência.
Sim! Um raio pode cair no mesmo lugar duas vezes e diante
desse rótulo, mais do que especial, essa frase ganha força e digo de antemão
que continuarei a degustar mais e mais rótulos desse produtor. E o que dizer
desse produtor? Falei muito, ao longo desse texto, de visibilidade e
credibilidade, e não podemos negligenciar o trabalho que a Vinícola Campestre
vem realizando com a sua linha Zanotto! Vinhos frutados, leves, saborosos e o
principal: de personalidade! Expressivo! A Zanotto está levando o nome da
região de Campos de Cima da Serra ao alto! Vamos seguindo a valorizar a região,
os vinhos nacionais, os seus produtores! Definitivamente o Zanotto Gewürztraminer
sintetiza o melhor momento do vinho brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Campestre:
Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.
Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na
vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos
naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre
conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas
vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação é uma
declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.
Mais informações acesse:
https://www.vinicolacampestre.com.br/
Referências:
“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/
“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer
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