segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Zanotto Pinot Noir 2019

 

Nos últimos natais, mais precisamente há três natais atrás, tenho degustado rótulos da casta Pinot Noir. E por que essa decisão? Acho que a Pinot Noir extremamente versátil gastronomicamente falando. Além de ser uma casta delicada, leve e frutada, goza de uma boa acidez que corrobora a sua condição de leveza e frescor.

E claro com o atual clima de calor, de verão a Pinot Noir, dada a sua boa acidez e frescura, cai também como uma luva. E diante dessa condição e de sua versatilidade com as comidas multifacetadas do período das festas de fim de ano.

Mas digo que também, por conta da sua boa acidez, um Pinot Noir com pizza cairia bem. Não sei se é uma harmonização clássica, típica ou coisa que o valha, confesso que nunca fiz, mas fiquei muito curioso por fazê-la, haja vista que hoje receberei meu grande amigo e confrade, meu novo companheiro de taça, Paulo Rodrigues, que faz uma pizza como poucos.

Compartilho da opinião de que harmonização tem muito do experimentalismo, algo de alquimia, de testes, sem se prender às conveniências e às questões clássicas já manjadas. Não sou, confesso um grande especialista em harmonizações, mas entendo que até mesmo as clássicas combinações partiram de experimentações.

Mas não é só a harmonização que me cativou no rótulo de hoje, mas também essa região que, há pouco tempo atrás, descobri e gostei muito: Campos de Cima da Serra. Inclusive já que falei dos Pinots que degustei nos últimos natais, comprei um, em um evento de degustação que participei em 2017, também era dessa região lá do Rio Grande do Sul e que praticamente me inseriu nessas degustações de rótulos dessa proeminente região. Falo do ótimo Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017.

O vinho que degustei e gostei veio da região de Campos de Cima da Serra, ao norte da Serra Gaúcha e que faz divisa com Santa Catarina, e se chama Zanotto da casta Pinot Noir e a safra é 2019. E além de todos esses bons pré-requisitos ainda tem o produtor que vem se destacando vertiginosamente nesses últimos tempos: A Vinícola Campestre.

E prêmios estão surgindo um atrás do outro! E não é apenas prêmio e medalhas, mas a certeza de que os vinhos, sobretudo da linha “Zanotto”, têm qualidade. E recentemente literalmente tirei a prova quando degustei o maravilhoso Zanotto Gewürztraminer 2019. Mas antes de ir para o finalmente com as minhas impressões do vinho claro falemos um pouco de Campos de Cima da Serra.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade.

As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima.

Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta inusitado vermelho de média intensidade, com reflexos violáceos, um vermelho bem mais escuro para um típico Pinot Noir, mas brilhantes, com lágrimas finas e discretas que logo se dissipavam.

No nariz traz uma explosão de frutas vermelhas muito agradável, onde se destacam morango, framboesa e cereja, com notas florais em evidência, que revela muito frescor.

Na boca é seco, fresco, leve, delicado e elegante, com as notas frutadas em destaque, como no aspecto olfativo, com os taninos ligeiros e discretos, com uma ótima acidez que saliva. Tem final prolongado e um retrogosto frutado.

Gratas novidades, novas experiências! A comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, com tipicidade, respeitando o seu terroir. Mais uma vez Campos de Cima da Serra se revela maravilhosa em minha humilde taça. A Pinot Noir vai se revelando maravilhosa nessa região. O Zanotto Pinot Noir entrega leveza, muita fruta, acidez vivaz, mas muita personalidade, marcante. E a pergunta que não quer calar: e a harmonização com a pizza, como foi? Foi maravilhosa! Valeu pela risco, valeu também pelo fato de ter a mínima capacidade de exercício de descrever as características das castas e consequentemente o conhecimento adquirido em prol do prazer da degustação da poesia líquida chamada vinho! Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre:

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

 






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