Nos últimos natais, mais precisamente há três natais atrás,
tenho degustado rótulos da casta Pinot Noir. E por que essa decisão? Acho que a
Pinot Noir extremamente versátil gastronomicamente falando. Além de ser uma
casta delicada, leve e frutada, goza de uma boa acidez que corrobora a sua
condição de leveza e frescor.
E claro com o atual clima de calor, de verão a Pinot Noir,
dada a sua boa acidez e frescura, cai também como uma luva. E diante dessa
condição e de sua versatilidade com as comidas multifacetadas do período das
festas de fim de ano.
Mas digo que também, por conta da sua boa acidez, um Pinot
Noir com pizza cairia bem. Não sei se é uma harmonização clássica, típica ou
coisa que o valha, confesso que nunca fiz, mas fiquei muito curioso por
fazê-la, haja vista que hoje receberei meu grande amigo e confrade, meu novo
companheiro de taça, Paulo Rodrigues, que faz uma pizza como poucos.
Compartilho da opinião de que harmonização tem muito do
experimentalismo, algo de alquimia, de testes, sem se prender às conveniências
e às questões clássicas já manjadas. Não sou, confesso um grande especialista
em harmonizações, mas entendo que até mesmo as clássicas combinações partiram
de experimentações.
Mas não é só a harmonização que me cativou no rótulo de hoje,
mas também essa região que, há pouco tempo atrás, descobri e gostei muito:
Campos de Cima da Serra. Inclusive já que falei dos Pinots que degustei nos
últimos natais, comprei um, em um evento de degustação que participei em 2017,
também era dessa região lá do Rio Grande do Sul e que praticamente me inseriu
nessas degustações de rótulos dessa proeminente região. Falo do ótimo Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017.
O vinho que degustei e gostei veio da região de Campos de
Cima da Serra, ao norte da Serra Gaúcha e que faz divisa com Santa Catarina, e
se chama Zanotto da casta Pinot Noir e a safra é 2019. E além de todos esses
bons pré-requisitos ainda tem o produtor que vem se destacando vertiginosamente
nesses últimos tempos: A Vinícola Campestre.
E prêmios estão surgindo um atrás do outro! E não é apenas
prêmio e medalhas, mas a certeza de que os vinhos, sobretudo da linha “Zanotto”,
têm qualidade. E recentemente literalmente tirei a prova quando degustei o
maravilhoso Zanotto Gewürztraminer 2019. Mas antes de ir para o finalmente com
as minhas impressões do vinho claro falemos um pouco de Campos de Cima da
Serra.
Campos de Cima da Serra
Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à
sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o
clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de
grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa
temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em
diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as
uvas viníferas apresentem excelente sanidade.
As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar
vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente
conhecidos por sua qualidade.
A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é
recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde
2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem
indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima.
Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como
Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que
víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da
Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.
Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um
pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos
vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e
bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).
Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a
temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de
2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a
região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da
Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente,
dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!
Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas
tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma
maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de
15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom
equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.
Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido
bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais
cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de
melhor potencial de qualidade, a Viognier.
As videiras estão situadas principalmente em três municípios:
Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e
Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas
na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta
das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam
mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do
outono.
Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra
aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a
diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por
sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a
contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos
consumidores.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta inusitado vermelho de média intensidade,
com reflexos violáceos, um vermelho bem mais escuro para um típico Pinot Noir,
mas brilhantes, com lágrimas finas e discretas que logo se dissipavam.
No nariz traz uma explosão de frutas vermelhas muito
agradável, onde se destacam morango, framboesa e cereja, com notas florais em
evidência, que revela muito frescor.
Na boca é seco, fresco, leve, delicado e elegante, com as
notas frutadas em destaque, como no aspecto olfativo, com os taninos ligeiros e
discretos, com uma ótima acidez que saliva. Tem final prolongado e um
retrogosto frutado.
Gratas novidades, novas experiências! A comprovação de que os
vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, com tipicidade, respeitando o
seu terroir. Mais uma vez Campos de Cima da Serra se revela maravilhosa em
minha humilde taça. A Pinot Noir vai se revelando maravilhosa nessa região. O
Zanotto Pinot Noir entrega leveza, muita fruta, acidez vivaz, mas muita personalidade,
marcante. E a pergunta que não quer calar: e a harmonização com a pizza, como
foi? Foi maravilhosa! Valeu pela risco, valeu também pelo fato de ter a mínima
capacidade de exercício de descrever as características das castas e
consequentemente o conhecimento adquirido em prol do prazer da degustação da
poesia líquida chamada vinho! Tem 11,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Campestre:
Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa
familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade
diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte
milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é
cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar
conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.
Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na
vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos
naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre
conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas
vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação é uma
declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.
Mais informações acesse:
https://www.vinicolacampestre.com.br/
Referências:
“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/
“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra
Nenhum comentário:
Postar um comentário