quinta-feira, 20 de maio de 2021

Moinho de Sula Colheita Selecionada branco 2017

Muitos tomam as suas decisões de escolher um vinho mediante um valor baixo, aquele valor atrativo, bem baratinho que nos atrai, nos hipnotiza que compramos sem olhar ou no máximo aquela casta de que apreciamos geralmente aquelas muito famosas e que é fácil encontrar em qualquer ponto de venda, como supermercados ou até em lojas especializadas. E comigo não era diferente, admito, o valor baixo me atraia, aquela casta conhecida que não tinha erro também, mas atualmente não são esses fatores que pesam na escolha de um vinho.

Não sei dizer exatamente o motivo pelo qual o meu “radar” mudou, mas hoje tenho dado um grande valor a escolher determinados vinhos cujas castas são pouco populares ou pouquíssimas conhecidas ou de uma região menos badalada, menos famosa. Diante disso, em tese, o risco de ser ter uma decepção pode ser avassaladora e degustar um vinho que não esperava, afinal como negligenciar um vinho da região de Bordeaux, na França, Alentejo, em Portugal, Serra Gaúcha, no Brasil, por exemplo?

É claro que regiões como essas é quase irrecusável degustar um vinho, são emblemáticas, tradicionais e especiais, mas será que temos de nos render a uma zona de conforto que temos de admitir, ser um sério risco, é rejeitar veementemente as outras regiões ou castas pelo simples fato não conhece-las e sequer abrir a mente para conhece-las?

Como em vários aspectos da vida temos os tabus no universo do vinho, mas eles estão aí para serem quebrados, rompidos, para que possamos nos libertar e buscar novas experiências sensoriais. De um tempo para cá descobri, quase que sem querer, uma região em Portugal chamada Beira Atlântico graças a conhecida e famosa Bairrada que, geograficamente falando, é próxima a primeira região. Degustei o primeiro vinho e gostei, degustei um segundo rótulo e gostei. Pensei: Não é possível, essa região tem algo de especial, vamos buscar, garimpar novos rótulos, novas experiências. E encontrei.

O vinho que degustei e gostei veio, claro, da Região do Beira Atlântico, e se chama Moinho de Sula Colheita Selecionada, um branco composto pelas autóctones castas Bical (40%), Maria-Gomes (40%), mais conhecida como Fernão Pires e a famosa Arinto (20%) da safra 2017. E como falei, de forma entusiasmada da região do Beira Atlântico nada mais justo do que falar um pouco sobre ela, sobre a sua história e um pouco também das castas Bical e Maria-Gomes, Fernão Pires, as menos conhecidas que compõe esse belíssimo blend.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. Joao I e de D. Joao III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Bical

A Bical é uma uva branca de origem portuguesa utilizada na elaboração de vinhos brancos e espumantes. Cultivada principalmente na região de Beiras, especialmente na Bairrada e no Dão, no centro de Portugal, produz vinhos de elevada acidez, podendo ser aproveitada em blends ou em vinhos varietais. É caracterizada por sabor frutado e pode apresentar, em anos mais maduros, notas de frutas tropicais. Trata-se de uma casta precoce com elevado teor alcoólico, que apresenta alta resistência à podridão, mas tem como peculiaridade a alta sensibilidade ao oídio.

Também conhecida como Arinto de Alcobaça, Bical de Bairrada, Pintado dos Pardais ou Pintado das Moscas, Barrado das Moscas e Borrado das Moscas, devido à sua aparência nos vinhedos, a uva Bical é, junto com a uva Maria Gomes, é uma das castas mais importantes desta região portuguesa da Bairrada. Os vinhos elaborados com a casta Bical são bastante macios e muito aromáticos, frescos e de boa estrutura. Respondem muito bem ao envelhecimento em carvalho e ao contato estendido com as borras, resultando em ótimos vinhos. Os melhores exemplares podem maturar por mais de dez anos, adquirindo características próximas a vinhos elaborados com a Riesling. Esta uva também é bastante utilizada em espumantes, muitas vezes misturada com as castas Arinto e Cercial.

Uva bastante precoce, a Bical possui amadurecimento rápido nos vinhedos e pode desenvolver alto teor alcoólico, principalmente se for deixada na videira por um longo período. Quando apresenta acidez acima da média, é utilizada na elaboração de espumantes ou em vinhos de corte com a Arinto. Na região do Dão ela é conhecida como Borrado das Moscas, pois as uvas maduras nos vinhedos apresentam pequenas manchas castanhas, que lembram muito o desenho de moscas, mas que são apenas sardas na parte externa da fruta. Esta característica faz com que se tenha a impressão de as uvas estarem levemente irregulares.

Maria-Gomes ou Fernão Pires

Maria Gomes é uma variedade de pele clara conhecida popularmente como uva Fernão Pires. Trata-se de uma variedade aromática e cultivada, principalmente, em Portugal. A versátil uva Maria Gomes é utilizada na elaboração de vinhos brancos secos e serve de base também para vinhos de sobremesa e bons espumantes. Lima, laranja e raspas de limão são os três aromas mais comuns encontrados nos vinhos Maria Gomes. Em alguns casos, os vinhos apresentam também sabores de mel e bem minerais, com o decorrer do tempo em que vão envelhecendo.

As vinhas da Maria Gomes se adaptam melhor quando são cultivadas em regiões com temperaturas elevadas, principalmente, nas áreas centrais e no sul de Portugal – Bairrada, Lisboa e Ribatejo. Os altos rendimentos dessa variedade necessitam ser controlados pelo produtor, a fim de que seus frutos apresentem complexos aromas e sabores. Além disso, as videiras da Maria Gomes são sensíveis a geadas, sendo inadequada para o cultivo em regiões frias. A maior parte dos vinhos produzidos a partir da Maria Gomes apresenta excelente complexidade aromática, embora ocorram algumas complicações por parte dos produtores, precisando que alguns cuidados sejam tomados durante a vinificação para que seja produzido um bom vinho.

Os níveis de acidez da uva Maria Gomes podem diminuir consideravelmente no final do crescimento, dando origem a vinhos pouco complexos e “flácidos”, com tendência a serem simples. Apenas os melhores exemplares podem envelhecer por alguns anos na garrafa. Na maior parte das vezes, os vinhos de Portugal são combinações de duas ou mais uvas, e os vinhos produzidos com a uva Maria Gomes não são exceção. A casta aparece nos rótulos dos exemplares, normalmente, ao lado de outras cepas nativas de Portugal, como a Arinto.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo, reluzente e brilhante amarelo palha com discretas tonalidades esverdeadas.

No nariz explode em aromas frutados, de frutas brancas, como pera, maçã verde, melão com toques citrinos e nuances tropicais que entregam um frescor e leveza incríveis.

Na boca é fresco, leve, jovial, as notas frutadas aparecem com grande destaque sem ser enjoativo, muito harmonioso e equilibrado, com uma acidez correta e um final prolongado, persistente e de retrogosto frutado.

Novas regiões, castas autóctones, apelo regionalista, tradições à flor da pele, novas experiências sensoriais, são todas essas percepções que nos proporciona viagens maravilhosas ao vasto e inexplorado universo do vinho. O Moinho de Sula, diante de sua nobre simplicidade, entrega tudo isso e de forma incondicional e digo isso com toda a certeza, com toda a excitação possível. E mostra que, podemos sim, romper com tabus e paradigmas no conservador mundo do vinho que se esconde no óbvio da zona de conforto que nos impede de degustar novos rótulos, novas castas e novas regiões. Um vinho jovem, fresco, leve, saboroso, mas intenso e expressivo que, com a personalidade de sua simplicidade entrega plenamente o que propõe. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/bical

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/maria-gomes

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 

 

 

 

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