sexta-feira, 29 de abril de 2022

Moinho de Sula Colheita Selecionada tinto 2016

 

Alguns rótulos, algumas castas, algumas regiões deixam de ser novidade, sobretudo quando passamos a assumir que avidamente garimpamos aquelas castas, regiões e rótulos pouco usuais, pouco conhecidos do grande público enófilo.

Deixam de ser novidade sim, mas não deixam de ter o encanto, não deixam de ter gratas novidades sempre que degustamos um novo rótulo. A minha percepção sempre muda, ou melhor, sempre agrega novidades quando degusto aquele vinho que, a princípio, possa apresentar similaridades ou coisa do tipo.

Nunca será o mesmo, independente de ser do mesmo produtor, da mesma casta ou de blends parecidos, nunca serão os mesmos! A safra entrega um período climático diferente, dias mais quentes, mais frios e isso influencia, claro, diretamente no comportamento da variedade.

Safras, castas, regiões, novidades, o que deixou de ser novidade... O que estou querendo dizer com isso? Digo que graças a um produtor, castas e regiões, que jamais sabia da existência de descortinou diante dos meus olhos! Falo da Adega de Cantanhede que me revelou castas como a Baga, por exemplo, e regiões como o Beira Atlântico que jamais pensei em conhecer e que não goza de tanta popularidade em terras brasileiras. Ah e sem deixar de falar da Bairrada, mais famosa, que está no centro, no coração do Beira Atlântico.

Regiões que trouxeram e trazem grandes vinhos, surpreendentes relações qualidade x preço ou custo x benefício, um forte apelo regionalista com castas, variedades extremamente populares nessas regiões e em toda Portugal.

E, mais uma vez, sinto-me feliz, privilegiado por ser submetido a mais uma experiência sensorial com os vinhos do Beira Atlântico e com as principais castas que lá são produzidas e a Baga, como na Bairrada, reina absoluta, e apresenta longevidade aos vinhos e um caráter totalmente inusitado, pouco ortodoxo, graças as suas características, aos rótulos, tornando-a especial.

Então já que falei da Adega de Cantanhede e do Beira Atlântico, sinaliza-se mais uma nova experiência com um rótulo que já não é novidade, mas que me trouxe muitas alegrias com os seus brancos, o Moinho de Sula Colheita Selecionada 2017 e o Moinho de Sula Reserva Arinto 2017 e desta vez será um tinto.

O vinho que degustei e gostei vem, claro, do Beira Atlântico, de Portugal, e se chama Moinho de Sula Colheita Selecionada composto pelas castas Baga (50%), Touriga Nacional (30%) e Castelão (20%) da safra 2016. Então antes de tecer os comentários sobre o vinho falemos um pouco da região do Beira Atlântico e da casta que brilha por lá: Baga.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Baga

A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Fina ou Tinta Poeirinha, a Baga demonstra muita classe e estrutura, sendo única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

A uva Baga é conhecida pela sua complexidade e peculiaridade, dando origem a vinhos interessantes, únicos e intensos. Encontrada, sobretudo na região da Bairrada, a uva Baga produz excelentes vinhos em uma das mais prestigiadas regiões produtoras de Portugal. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção.

No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”. Luís Pato foi o responsável por fazer com que a fruta desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. Produzindo grandes exemplares de tintos, finos, estruturados e complexos, a variedade é, sem dúvida, uma ótima referência de Portugal.

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

A uva Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, com alguns reflexos violáceos e com um discreto atijolado denotando tempo de garrafa, além de lágrimas finas e em profusão.

No nariz intenso para frutas vermelhas bem maduras, com as notas amadeiradas em perfeita sinergia, com toques de especiarias, de baunilha, de couro, tabaco e ainda um leve tostado, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, garantindo-lhe também alguma complexidade.

Na boca revela média estrutura, porém é macio e elegante, afinal o tempo e a passagem por barrica trouxeram equilíbrio ao vinho, além de um defumado e toque terroso e de pimenta. É alcoólico, o que o torna cheio, volumoso, tem taninos vivos, mas polidos, com acidez quase que imperceptível. Final persistente, prolongado.

Quando degustei este vinho, com seus seis anos de vida, graças a capacidade de longevidade da Baga, que predomina neste blend, observei que a novidade não está definida, entendida, na primeira vez, mas a cada momento. Cada momento é novo, pois traz singularidades, traz nuances diferentes e únicas. O Moinho de Sula Colheita Selecionada a mim entregou tudo o que eu venho buscando atualmente em meus garimpos por novas experiências: apelo regionalista, vinhos com caráter, expressividade, simplicidade, novas regiões. A Adega de Cantanhede me proporcionou e ainda proporciona parte disso ou tudo isso e o mais importante: trazendo todas essas experiências com valores possíveis, justos e com qualidade. O Moinho de Sula Colheita Selecionada tinto está entre as mais novas experiências importantes pelas quais venho sendo docemente impactado. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Soulwines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 

 




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