sábado, 9 de janeiro de 2021

Traversa Tannat e Merlot Roble 2016

 

Estava eu em um evento de degustação de vinhos em minha cidade, Niterói, no Rio de Janeiro e flertando entre vários estandes com demonstrações dos rótulos e produtores e me deparei com um vinho brasileiro da gigante vinícola Salton, o famoso “Salton Intenso” com um corte, até então novo para mim, das castas Tannat e Merlot, diria bem inusitado. O que me levou até o rótulo foi esse blend. Logo pedi ao demonstrador que enchesse a minha taça. Quando o degustei achei no mínimo avassalador! Uma combinação explosiva e potente garantido pela casta Tannat e o equilíbrio e a maciez entregue pelo Merlot. Tomado pela surpresa exclamei: Que vinho saboroso! Nunca tinha degustado esse rótulo da Salton! O demonstrador disse: “Realmente é um dos melhores deste produtor e esse é corte típico do Uruguai.” Pensei imediatamente que deveria degustar mais os grandes vinhos uruguaios, afinal não sabia que esse corte era típico deste pequeno, mas significativo país produtor de vinhos grandiosos. Talvez seja de fato uma ignorância da minha parte. E, a partir daquele momento, decidi me dedicar a buscar vinhos uruguaios com esse blend. Quem diria que um vinho brasileiro tenha suscitado um interesse em buscar rótulos uruguaios. Degustei alguns grandes vinhos do Uruguai ao longo da minha vida como enófilo, mas não o suficiente, não o quanto eu queria. Gostaria de diversificar, degustar mais castas que não fosse a emblemática Tannat. E espero fazê-lo.

Mas voltando a minha aventura dos cortes das castas Tannat e Merlot, depois de algum tempo tentando, consegui encontrar alguns vinhos, de propostas mais básicas, muito boas, mas precisava degustar um com passagem por barricas de carvalho, um que fizesse jus a potência da casta Tannat. E, em um dia navegando por sites especializados de vendas de vinho, localizei um Tannat e Merlot de um tradicional produtor de Montevideo chamada Família Traversa, um, como eles chamam, de “Roble”, palavra, em espanhol, muito usada para designar que o vinho passa por madeira, e por um valor impressionante: em torno dos R$ 29,00! Não hesitei e comprei o vinho! O guardei em minha adega por quase dois anos! Decidi esperar para degusta-lo em seu auge e eis e tão esperado momento.

O vinho que degustei e gostei veio da região de Montevideo, capital do Uruguai, da Familia Traversa, o Traversa Roble, um corte típico deste país, composto pelas castas Tannat (80%) e Merlot (20%) da safra 2016. E como o Uruguai é pouco comentado pelos especialistas e enófilos em terras brasileiras, apesar de termos um número razoável de rótulos sendo ofertados em nossas terras, não vou, por aqui, negligenciar a história significativa desse país na vitivinicultura mundial.

Uruguai: o pequeno grande da vitivinicultura

O Uruguai era originalmente povoado pelos índios Charruas, mas em 1680 os portugueses começaram a se assentar na região; os espanhóis chegaram logo em seguida. O país, como o conhecemos hoje, passou a existir com a declaração de independência em 1828, quando se estabeleceu como República, após vários anos de guerras sangrentas que envolveram Espanha, Portugal, Argentina e o Brasil. Já nessa época, por influência dos europeus, havia o cultivo de uvas na região, demonstrando que a história da vitivinicultura no Uruguai se confunde com a própria história do país. As primeiras uvas viníferas foram cultivadas em território uruguaio há mais de 250 anos. A produção de vinhos, entretanto, só começou a ser realizada comercialmente na segunda metade do século XIX. Em 1870, Dom Pascal Harriague introduziu ao Uruguai várias castas de uva em busca de uma que se adaptasse bem ao solo e clima da região. A tannat foi a que se saiu melhor na experiência e desde então, por causa do seu sucesso imediato e duradouro no país, ela dá vida ao autêntico vinho uruguaio.

Na década de 1970, houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai; novas técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedade de uvas, possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de vinhos. Aliado a tudo isso, a evolução dos vinhos uruguaios aconteceu por causa da paixão dos produtores e apreciadores de lá pela bebida. A maneira artesanal e a relação respeitosa que eles têm com as uvas que cultivam tornaram seus vinhos premiados e bastante reconhecidos no mercado internacional. Hoje em dia, além da qualidade de seus terroirs com clima mediterrâneo e solo fértil, há uma gama de variedades plantadas que elevaram o padrão do vinho produzido no país. O pequeno território do Uruguai abriga vinhedos em toda a sua extensão – 16 dos 19 estados uruguaios possuem plantações de uvas viníferas, a maior parte de uvas tintas, que representam mais de 80% das castas cultivadas. A Tannat representa 44% das plantações no Uruguai, mas outras castas como a Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Sauvignon Blanc, entre outras, podem ser destacadas na produção do país. A região sul do país é a que mais concentra vinícolas. As regiões de Montevidéu e Canelones tem a maior parte da produção de vinhos do país, San José e Colônia del Sacramento são outros centros vinicultores importantes.

O Uruguai e suas regiões vinícolas

O Uruguai possui uma rota de vinho especial e aconchegante, coordenada pela Associação de Turismo Enológico do Uruguai, que reúne muitas bodegas familiares, com estrutura e história que fascinam seus visitantes. A rota, batizada de “Os caminhos do vinho” passa por regiões de Montevidéu, Canelones, Maldonado, Colônia e Rivera, cujas paisagens belas e exuberantes são atrativos que complementam sua ótima gastronomia e seus vinhos finos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça traz um vermelho rubi intenso, brilhante e com reflexos violáceos, com abundantes lágrimas finas e consistentes que insistem em desenhar as bordas do copo.

No nariz entrega um bouquet de frutas vermelhas como groselha e morango e frutas negras como amora e ameixa, com notas amadeiradas e um toque agradável de baunilha, graças a passagem, de 10 a 12 meses, por barricas de carvalho.

Na boca é intenso, mas elegante, é estruturado, mas macio e aveludado. Um vinho harmonioso e equilibrado, com taninos gordos e presentes, com uma acidez correta, além das notas amadeiradas, com o toque de chocolate e de baunilha. Tem um final persistente e frutado.

Um vinho excepcional! A expressão máxima do terroir uruguaio com a sua casta vitrine, a Tannat, com a sua personalidade, estrutura e complexidade, aliada a maciez, o toque frutado da casta Merlot. Um casamento que, para muitos poderia parecer improvável ou para ser mais singelo, inusitado, trouxe toda a versatilidade de que o vinho merece ter para enamorar a todos os enófilos que gostam de vinhos frutados e básicos a vinhos mais estruturados e complexos. E eu tive o prazer de degustar o ápice desse vinho, com essa proposta. Eu acreditei tanto neste vinho que, mesmo que evoluindo na adega, eu decidi comprar outro vinho desse produtor, uma estréia também, um branco da icônica casta Chardonnay, que eu também não havia degustado, um Chardonnay uruguaio e também foi maravilhoso: o Traversa Chardonnay da safra 2018. O Traversa Tannat e Merlot 2016 Roble, como disse, é muito versátil e harmoniza com pratos mais simples até massas e carnes condimentadas, bem como queijos mais fortes, de aromas mais intensos. Teor alcoólico de 12,5%.

O Traversa Tannat-Merlot com queijo provolone

Sobre a Família Traversa:

Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa. Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre supervisionados por um membro da família. Assim somos e ambicionamos qualidade, e este é o resultado do nosso trabalho. A história desta família é o legado de bondade e esperança que, como no nosso caso, estamos unidos nas vinhas e há três gerações.

Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu sonho.

A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc. As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação, aplicação a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos vinhos para definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a armazenar em grandes recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques térmicos, ou em barricas de carvalho americano e francês.

Mais informações acesse:

http://grupotraversa.com.uy/en/



Fontes para pesquisa:










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