domingo, 9 de abril de 2023

Lote Rojo Torrontés 2020

 

Não há como negar que, quando falamos de Argentina e Mendoza, seu principal centro de produção vitivinícola, lembramos da Malbec. Atualmente essa máxima vem sendo desmistificada e outras castas estão ganhando espaço ou sempre tiveram respeitabilidade, mas sendo ofuscada pela Malbec, como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc entre outras tintas.

Mas quando falamos das cepas brancas é a Torrontés que reina absoluta na terra dos Hermanos. E reina com honras e a fidalguia que mercê. A casta é especial e a começar pelos seus aromas florais, de frutas tropicais, cítricas e de tons herbáceos e minerais, com paladar fresco, leve, mas de grande e marcante personalidade.

E para a tradição da páscoa e sua gastronomia de carnes brancas, como peixe e bacalhau, decidi retirar um Torrontés da adega, devido a outra interessante característica da cepa que é a sua acidez vibrante e salivante.

A casta é ícone e merece uma data tradicional e relevante para os católicos. Não que eu seja um fervoroso religioso e adepto de seus dogmas, mas já que estamos inseridos em uma tradição e com uma gastronomia que estimula a degustação com um vinho harmonizando, por que não aproveitar esse momento com um bom rótulo?

Então o escolhido, o vinho que degustei e gostei é da icônica e tradicional Bodegas Norton e se chama Lote Rojo, um 100% Torrontés, da safra 2020. E depois de muito tempo volto a degustar um rótulo desse espetacular produtor e também, depois de muito tempo, degustar um Torrontés. Ante de tecer comentários sobre o vinho, vamos de história, vamos falar um pouco da Torrontés.

Torrontes: a casta emblemática da Argentina

A uva branca Torrontés tornou-se ícone na Argentina, dando origem a vinhos brancos extremamente potentes e capazes de surpreender inúmeros paladares. A produção de vinhos a partir da uva Torrontés ocorre, em especial, na Argentina e, eventualmente, é possível encontrar alguns notáveis exemplares em regiões da Nova Zelândia e do Chile.

Na Argentina, a Torrontés é encontrada em diversas áreas vinícolas, com destaque para o Vale de Cafayate, situado ao norte do país, e Salta. Com vinhedos cultivados em altitudes altíssimas, o vinho Torrontés de Cafayete é extremamente frutado e saboroso, bem como complexo e delicado, com corpo leve, tonalidade amarelo claro com reflexos verdes e raramente passa por barris de carvalho durante sua vinificação.

Salta

A casta Torrontés possui ainda três variantes – Mendocina, Sanjuanina e Riojana –, onde a mais importante é a variedade Torrontés Riojana por se tratar da única uva Criolla originada na América, que possui um alto valor enológico e importante relevância comercial na produção de alguns dos melhores vinhos brancos argentinos.

Os vinhos produzidos a partir da uva Torrontés são alguns dos vinhos brancos mais aromáticos da Argentina, onde é possível encontrar notas de ervas e especiarias. Na boca, os exemplares são intensos, com refrescante acidez e devem ser consumidos ainda jovens.

A maior parte dos vinhos Torrontés não passa por barris de madeira, proporcionando maior frescor aos exemplares. Além disso, devido a não utilização de madeira, os vinhos passam a apresentar uma coloração mais clara que os demais exemplares. Trata-se de uma variedade com bagos grandes, peles grossas e amadurecimento precoce. 

Torrontés

O clima mais frio é ideal para a uva Torrontés, ajudando a reter seus níveis de acidez natural. Essa casta cresceu rapidamente para se tornar um ícone dos vinhos brancos argentinos, além de tornar-se uma das variedades mais cultivadas do país.

A partir de 2012, a Torrontés tornou-se a segunda uva branca mais cultivada da Argentina, atrás apenas da nativa Pedro Ximenez utilizada na elaboração de vinhos de mesa simples, destinados ao consumo do mercado local.

E agora finalmente o vinho!

Na taça uma linda cor amarelo palha, límpido, transparente, brilhante, com tons esverdeados.

No nariz aromas típicos da Torrontés, com destaque para as notas frutadas, frutas tropicais, de polpas brancas e cítricas, como pera, limão, lima, um pêssego discreto e arrisco dizer que bananas, além de um delicado floral trazendo a sensação de frescor e grama cortada, uma agradável mineralidade.

Na boca traz a confirmação do frescor, da leveza, com algum volume de boca, que entrega alguma personalidade, mas não evidente, equilibrado, com as notas frutadas protagonizando, como no aspecto olfativo, uma boa acidez que saliva, com um final frutado e de média persistência.

Poucas castas brancas são extremamente aromáticas como a Torrontés. É complexo, mas, ao mesmo tempo é leve e intenso, delicado e com uma acidez que traz frescor quando o vinho é degustado e são essas percepções observadas, sentidas neste simples, porém muito saboroso vinho da Bodega Norton. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Norton:

Em 1895 o engenheiro Edmund James Palmer Norton chega à Argentina para ajudar na construção de uma ferrovia através dos Andes e se apaixona pelo terroir de Mendoza. Fazendo uma mudança drástica em sua vida, ele decide fundar sua própria vinha em Luján de Cuyo com vinhas importadas da França. Em 1919 começam as obras da adega que se conhece hoje. Em 1951 os vinhos tintos e brancos finos de Norton são aclamados nacionalmente.

Edmund Norton

Em 1989 o empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski se maravilha com a beleza de Mendoza e vê potencial no desenvolvimento dos vinhos argentinos. Ele decide comprar a Bodega Norton, a única vinícola tradicional da região cercada por vinhedos próprios.

Sob a direção de Michael Halstrick, filho de Gernot Langes-Swarovski, começa uma nova era na vinha, com investimentos e expansão, tornando a Bodega Norton uma das primeiras a desenvolver um mercado de exportação.

Em 1994 a Bodega Norton passa a ser sinônimo de Malbec argentino e é reconhecida com a classificação DOC (denominação de origem controlada). O renomado enólogo Jorge Riccitelli apresenta o Malbec Norton DOC ao mercado.

Em 2000 a Bodega Norton torna-se uma das primeiras vinícolas do país a produzir espumante branco com sua linha Norton Sparkling. Em 2014 Norton lança sua linha Single Vineyard de vinhos de alto padrão chamada LOTE, um conceito inovador que permite ao consumidor desfrutar dos diversos terroirs de cada propriedade.

A Bodega Norton se torna uma das vinícolas de exportação mais importantes da Argentina, exportando vinhos de alta qualidade para mais de 60 países. Em 2017 procurando uma forma de refletir melhor os vinhos de qualidade e profissionalismo que a Bodega Norton representa, sem falar na sua equipe de trabalhadores com espírito familiar, a vinícola leva sua marca para um novo rumo. Uma reforma para celebrar uma longa história como pioneiro do vinho argentino.

A frase manuscrita "Signature Winemaking" denota a qualidade e a herança da Bodega Norton, inspirada pelo próprio Edmund Norton e continuada por mais de 125 anos.

Mais informações acesse:

http://www.norton.com.ar/en/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/torrontes

“Aguiar Buenos Aires”: https://aguiarbuenosaires.com/torrontes/

 









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