Preciso reparar um erro absurdo da minha humilde trajetória
como enófilo, como amante de vinhos: as minhas poucas degustações de vinhos
rosés. Preciso degustar mais vinhos rosés! É inaceitável que nós, brasileiros e
degustadores de vinhos, rejeitem tão veementemente os vinhos rosés que, na sua
proposta mais jovem, fresca e descompromissada, harmoniza maravilhosamente com
o nosso clima, majoritariamente quente, solar. Acredito que também falte, por
parte dos produtores, uma política mais agressiva de marketing, educando e
fazendo o mercado entender das vantagens e do prazer que é degustar tais
vinhos, alheio também a questões inerentes como a falta de uma cultura
estabelecida de consumo de vinhos, que está estacionado nos menos de dois
litros, per capita, ao ano e, claro, o Custo Brasil, com seus altos impostos,
por exemplo. Mas não quero entrar no mérito, pelo menos agora, e falar de um
vinho surpreendente, um vinho de um excepcional custo X benefício, como deve
ser os rosés, em minha opinião, que definitivamente ficará em minha memória.
O vinho que degustei e gostei é o Cantanhede Rosé 100% da casta Baga, sem região e sem safra. O vinho não é safrado, não tem nenhuma denominação de
origem (DOC, como na Bairrada e Vinho Regional, como no Beira Atlântico) sendo,
como os portugueses denominam, um “Vinho de Mesa”. Nesse caso vale um parêntese
importante que aqui no Brasil se tem pouca referência ou informação a respeito:
Vinho de Mesa em Portugal tem uma definição diferente daqui do Brasil. No
Brasil “Vinho de Mesa” são aquelas bebidas produzidas por uvas americanas, não
viníferas. Já o conceito de “Vinho de Mesa” em Portugal são rótulos de entrada,
simples das vinícolas que não possuem “DOC” e “Vinho Regional” e são produzidos
com castas regionais, locais, como é o caso da Baga, que compõe este rótulo. As
castas também podem vir de outras regiões, por isso que não vem com safra
definida. Não devem ser, em minha opinião, vinhos medíocres, ruins, mas apenas
com uma proposta simples, direta e despretensiosa. Outra menção que convém
ressaltar é que este rótulo foi feito pelo famoso enólogo Osvaldo Amado, angolano
naturalizado português. Amado faz vinho em todo o país. Enólogo reconhecido e
premiado (foi o enólogo do ano para a Revista de Vinhos) engarrafou já mais de
400 milhões de garrafas e tem a sua assinatura em mais de 200 rótulos
diferentes. Se você quiser conhecer um pouco mais o enólogo segue link com uma
entrevista que o mesmo concedeu ao portal “Life & Style Fugas”.
Vamos ao vinho:
Na taça tem um rosa “casca de cebola”, cristalino, límpido,
brilhante, muito bonito.
No nariz é impressionante! Aromas intensos de frutas
vermelhas frescas, como cereja, morango, groselha.
Na boca é igualmente frutado, onde a presença intensa da
fruta me fez lembrar um cesto de frutas vermelhas frescas recém-colhidas da
árvore. Uma boa acidez, equilibrada, que denuncia todo o seu frescor, leveza e
refrescância. Um final também frutado e persistente. Um vinho super elegante!
Um vinho adorável, surpreendente, simples sim, mas correto,
honesto, bem feito e custou apenas R$ 23,90, pasmem! Um vinho fresco, delicado,
jovem que personifica o conceito de um bom rosé, como ele deve ser além de um
valor justo e que cabe no bolso, sobretudo em dias bicudos de incerteza
econômica. Por mais rosés, por mais rosés com preços acessíveis e que cada um
de nós, brasileiros, a qual me incluo, possa degustar mais e mais desses vinhos
frescos e alegres. Possui 11,5% de teor alcoólico.
Sobre a Adega Cooperativa de Cantanhede:
A constituição da Adega Cooperativa de Cantanhede acontece no
ano de 1954, fruto da vontade de um grupo de viticultores empenhado em criar
condições para valorizar e rentabilizar o elevado potencial que já então
reconheciam aos vinhos produzidos no terroir de Cantanhede. Neste concelho,
onde a viticultura remonta ao tempo dos romanos, encontramos a principal mancha
vitícola da Região Demarcada da Bairrada. Atualmente com cerca de 1400
viticultores associados, representando uma área total de vinha de 2000 Ha, esta
adega é o maior produtor da região, representado 25 a 30% da produção. A sua
dimensão e consequente responsabilidade que assume no contexto da região
demarcada onde se insere, desde cedo exigiu que o caminho a seguir fosse o de
valorizar as castas características da região, apostando na produção de vinhos
com maior qualidade. Inicialmente comercializados exclusivamente a granel, após
apenas 9 anos depois da sua fundação e contra todas as correntes do sector
cooperativo de então, esta adega inicia, pioneiramente, a venda dos seus vinhos
engarrafados procurando uma alternativa para a diferenciação dos vinhos de
Cantanhede. A estratégia adoptada não demorou a dar frutos. Hoje esta adega
certifica mais de metade da sua produção com a Denominação de Origem Bairrada,
assumindo uma destacada liderança neste segmento e, mais recentemente também
nos Vinhos Regional Beiras. Hoje a sua política produtiva assenta num
pressuposto basilar que passa por uma forte aposta nas castas portuguesas,
particularmente da Bairrada, sua defesa, promoção e divulgação.
Mais informações acesse: