sábado, 4 de abril de 2020

Cantanhede Rosé Baga


Preciso reparar um erro absurdo da minha humilde trajetória como enófilo, como amante de vinhos: as minhas poucas degustações de vinhos rosés. Preciso degustar mais vinhos rosés! É inaceitável que nós, brasileiros e degustadores de vinhos, rejeitem tão veementemente os vinhos rosés que, na sua proposta mais jovem, fresca e descompromissada, harmoniza maravilhosamente com o nosso clima, majoritariamente quente, solar. Acredito que também falte, por parte dos produtores, uma política mais agressiva de marketing, educando e fazendo o mercado entender das vantagens e do prazer que é degustar tais vinhos, alheio também a questões inerentes como a falta de uma cultura estabelecida de consumo de vinhos, que está estacionado nos menos de dois litros, per capita, ao ano e, claro, o Custo Brasil, com seus altos impostos, por exemplo. Mas não quero entrar no mérito, pelo menos agora, e falar de um vinho surpreendente, um vinho de um excepcional custo X benefício, como deve ser os rosés, em minha opinião, que definitivamente ficará em minha memória.

O vinho que degustei e gostei é o Cantanhede Rosé 100% da casta Baga, sem região e sem safra. O vinho não é safrado, não tem nenhuma denominação de origem (DOC, como na Bairrada e Vinho Regional, como no Beira Atlântico) sendo, como os portugueses denominam, um “Vinho de Mesa”. Nesse caso vale um parêntese importante que aqui no Brasil se tem pouca referência ou informação a respeito: Vinho de Mesa em Portugal tem uma definição diferente daqui do Brasil. No Brasil “Vinho de Mesa” são aquelas bebidas produzidas por uvas americanas, não viníferas. Já o conceito de “Vinho de Mesa” em Portugal são rótulos de entrada, simples das vinícolas que não possuem “DOC” e “Vinho Regional” e são produzidos com castas regionais, locais, como é o caso da Baga, que compõe este rótulo. As castas também podem vir de outras regiões, por isso que não vem com safra definida. Não devem ser, em minha opinião, vinhos medíocres, ruins, mas apenas com uma proposta simples, direta e despretensiosa. Outra menção que convém ressaltar é que este rótulo foi feito pelo famoso enólogo Osvaldo Amado, angolano naturalizado português. Amado faz vinho em todo o país. Enólogo reconhecido e premiado (foi o enólogo do ano para a Revista de Vinhos) engarrafou já mais de 400 milhões de garrafas e tem a sua assinatura em mais de 200 rótulos diferentes. Se você quiser conhecer um pouco mais o enólogo segue link com uma entrevista que o mesmo concedeu ao portal “Life & Style Fugas”.


Vamos ao vinho:

Na taça tem um rosa “casca de cebola”, cristalino, límpido, brilhante, muito bonito.

No nariz é impressionante! Aromas intensos de frutas vermelhas frescas, como cereja, morango, groselha.

Na boca é igualmente frutado, onde a presença intensa da fruta me fez lembrar um cesto de frutas vermelhas frescas recém-colhidas da árvore. Uma boa acidez, equilibrada, que denuncia todo o seu frescor, leveza e refrescância. Um final também frutado e persistente. Um vinho super elegante!

Um vinho adorável, surpreendente, simples sim, mas correto, honesto, bem feito e custou apenas R$ 23,90, pasmem! Um vinho fresco, delicado, jovem que personifica o conceito de um bom rosé, como ele deve ser além de um valor justo e que cabe no bolso, sobretudo em dias bicudos de incerteza econômica. Por mais rosés, por mais rosés com preços acessíveis e que cada um de nós, brasileiros, a qual me incluo, possa degustar mais e mais desses vinhos frescos e alegres. Possui 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Cantanhede:

A constituição da Adega Cooperativa de Cantanhede acontece no ano de 1954, fruto da vontade de um grupo de viticultores empenhado em criar condições para valorizar e rentabilizar o elevado potencial que já então reconheciam aos vinhos produzidos no terroir de Cantanhede. Neste concelho, onde a viticultura remonta ao tempo dos romanos, encontramos a principal mancha vitícola da Região Demarcada da Bairrada. Atualmente com cerca de 1400 viticultores associados, representando uma área total de vinha de 2000 Ha, esta adega é o maior produtor da região, representado 25 a 30% da produção. A sua dimensão e consequente responsabilidade que assume no contexto da região demarcada onde se insere, desde cedo exigiu que o caminho a seguir fosse o de valorizar as castas características da região, apostando na produção de vinhos com maior qualidade. Inicialmente comercializados exclusivamente a granel, após apenas 9 anos depois da sua fundação e contra todas as correntes do sector cooperativo de então, esta adega inicia, pioneiramente, a venda dos seus vinhos engarrafados procurando uma alternativa para a diferenciação dos vinhos de Cantanhede. A estratégia adoptada não demorou a dar frutos. Hoje esta adega certifica mais de metade da sua produção com a Denominação de Origem Bairrada, assumindo uma destacada liderança neste segmento e, mais recentemente também nos Vinhos Regional Beiras. Hoje a sua política produtiva assenta num pressuposto basilar que passa por uma forte aposta nas castas portuguesas, particularmente da Bairrada, sua defesa, promoção e divulgação.

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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Loios branco 2017


Cheguei a uma conclusão que confesso não saber se é uma unanimidade: os brancos alentejanos são os melhores de Portugal! Talvez esteja sendo leviano pelo fato de que Portugal goza de grandes e diversificados terroirs sendo difícil ser tão taxativo quanto aos brancos alentejanos. Mas acredito que, entre os enófilos, seja unanimidade que o Alentejo está entre as melhores e mais emblemáticas regiões lusitanas na produção de vinhos. Vejo que o Alentejo traduz em seus vinhos o que a sua terra pode oferecer, além, é claro, da sua cultura, de sua gente, no processo de colheita, vinificação e a sua entrega ao degustador. É a cultura personificada neste líquido, neste néctar.

E o vinho que degustei e gostei veio, como já disse, do Alentejo, sendo um vinho regional alentejano, chamado Loios, branco, das castas Arinto, Rabo de Ovelha e Roupeiro, uvas autóctones, da safra 2017.

Na taça tem um amarelo palha com tons esverdeados, diria tendendo para um amarelo dourado, talvez pelo reluzente brilho.

No nariz traz aromas agradáveis de frutas frescas, frutas brancas como melão, abacaxi, toque floral, mineral, com muito frescor e leveza.

Na boca se confirma as impressões olfativas com notas cítricas discretas, acidez correta, muito boa intensificando a proposta do vinho, jovem e fresco.

Um vinho direto, simples, mas com personalidade, graças a sua versatilidade, elegância, harmonia e equilíbrio. Muito gastronômico, harmoniza bem com frituras, carnes brancas e frios ou sozinho. O Loios, dessa safra, em especial, ganhou 86 pontos da Wine Advocate, do Robert Parker, 16 pontos da Revista de Vinhos e 15 pontos do Vinho Grandes Escolhas. Possui 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola João Portugal Ramos:

Nascido de uma longa linhagem de produtores, João Portugal Ramos licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, após o que inicia, em 1980, no Alentejo, a sua atividade de enólogo. João Portugal Ramos planta os primeiros 5 hectares de vinha em Estremoz, onde vive desde 1988, dando início ao seu projeto pessoal. Estremoz é o primeiro local eleito por João Portugal Ramos para fazer os seus próprios vinhos, após a longa carreira como enólogo consultor na criação de vinhos nas principais regiões vitivinícolas de Portugal. A primeira vindima realiza-se em 1992 e nos anos que se seguem o vinho é elaborado em instalações arrendadas, sendo 1997 o primeiro ano em que é vinificado nas novas instalações. Desta primeira vindima, nasce o primeiro vinho próprio de João Portugal Ramos – Vila Santa. Inicia-se a construção da Adega Vila Santa, em Estremoz. Em 1997 é também a primeira colheita do Marquês de Borba Reserva e no ano seguinte nasce o Colheita, que até hoje se mantém como a marca mais forte do grupo revelando uma consistência inabalável ano após ano. Os vinhos do Grupo João Portugal Ramos estão presentes por todo o mundo, sendo líderes de vendas de vinhos portugueses em alguns países. Hoje, o enólogo tem a seu lado dois dos seus cinco filhos, João Maria no departamento de enologia e Filipa no departamento de marketing, dando continuidade ao negócio de família.

Sobre o rótulo “Loios”:

Loios é um vinho produzido no Alentejo e o seu nome deriva do título que no século XV foi atribuído aos membros da ancestral Congregação de Padres da Ordem de S. João Evangelista. Mais conhecidos por Loios, estes monges sempre estiveram profundamente ligados à história do Alentejo e em particular aos vinhos. E é em sua memória que nasce este vinho, produzido a partir de castas tradicionais da região.

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Degustado em: 2019



Aurora Varietal Pinot Noir 2016


Já ouviu falar naquela frase: Menos é mais? Pois é, essa pode ter forte aplicabilidade no mundo dos vinhos, sim. Não quero pecar na redundância, mas sempre compartilhei da ideia de que há sim grandes e surpreendentes rótulos baratos. Sei também que é muito relativo o conceito de “barato”, afinal, isso envolve a condição social e econômica de cada um. Porém quando falamos em vinho barato, não podemos negligenciar a proposta que o vinho nos oferece. Em tempos bicudos, de incerteza econômica, um bom vinho e barato pode ser a solução para continuarmos a degustar nossos vinhos de cada dia, mas temos que entender que existe uma proposta por trás desse vinho. Geralmente são vinhos mais simples, de entrada de um produtor, mas não se engane de que sejam sinônimos de vinhos ruins, mas de uma proposta descompromissada, de vinhos jovens e frutados, para consumo rápido.

Por que estou falando tudo isso? É porque tive uma grande surpresa com um rótulo brasileiro, me vi, quando o degustei, que fui arrebatado de forma avassaladora corroborando cada palavra textualizada acima. É da famosa região de Bento Gonçalves, da histórica Vinícola Aurora e o vinho que degustei e gostei é o Aurora Varietal da casta Pinot Noir, da safra 2016. Antes de expor a análise deste rótulo eu gostaria de fazer uma breve explanação sobre a região de Bento Gonçalves. Segundo o site do Município, Bento Gonçalves é a Capital Brasileira da Uva e do Vinho e também a primeira região do Brasil a obter a Indicação de Procedência e Denominação de Origem, pelo Vale dos Vinhedos, certificado que qualifica a origem do produto em nível mundial. Caso queira conhecer um pouco mais sobre o potencial vitivinícola da região, acesse:


Vamos ao vinho?

Na taça apresenta um vermelho rubi vivo, com tons granada muito brilhantes, típicos da Pinot Noir, com lágrimas finas e rápidas.

No olfato traz aromas frutados, lembrando amora e cereja, com muito frescor, é o destaque positivo do vinho, é uma explosão aromática de frutas em compota.

No paladar é seco, delicado, como todo bom Pinot Noir, nuances evidentes da fruta, taninos sedosos, boa acidez, abrindo as portas da sua refrescância, com um final de média intensidade.

Um vinho jovem, sedoso na boca, elegante, simples, mas correto, bem feito, mostrando, provando que vinho barato pode ser sem dúvida alguma, muito boa, uma alternativa calcada no custo X benefício inteligente. Por ser um vinho versátil acompanha pratos leves, carnes e massas. Degustei esse com um macarrão ao alho e óleo! Tem 12% de teor alcoólico. Ah o vinho ostenta, acredite grandes reconhecimentos, com premiações internacionais, inclusive, tais como: Menção Honrosa no Decanter Wine Asia Awards em 2012 e Mundus Vini, na Alemanha, em 2005, medalha de bronze na Internacional Wine and Spirits Competition, na Inglaterra, no ano de 2001, medalha de prata no Concurso Mundial de Bruxelas, em 2013 e La Mujer Elige, na Argentina, em 2008.

Sobre a Vinícola Aurora:

A história da AURORA inicia em 1875, com a chegada de imigrantes oriundos do norte da Itália. Estabelecidos no Sul do Brasil, na Serra Gaúcha, onde encontraram paisagens e clima similares aos de seu país de origem. Assim, os hábitos e a cultura europeia não foram abandonados, e a antiga arte da vitivinicultura logo foi retomada. E no dia 14 de fevereiro de 1931, dezesseis famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, reuniram-se para lançar a pedra fundamental do que viria a se transformar no maior empreendimento do gênero no Brasil: A COOPERATIVA VINÍCOLA AURORA. Um ano mais tarde, já contabilizava a produção coletiva de 317 mil quilos de uvas e fixava a base de um empreendimento destinado a ser não apenas o maior, mas também um dos mais qualificados tecnologicamente. Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta. A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

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Degustado em: 2017


quarta-feira, 1 de abril de 2020

Angove Long Row Chardonnay 2008


Lembro-me que, quando cheguei a este rótulo, estava em busca de um vinho branco, mais especificamente da casta Chardonnay que, nos idos de 2014 era a minha cepa branca preferida. Que fique claro que ela não deixou de ser, mas que, naquela época, eram poucas as castas brancas que eu conhecia. Mas, voltando a minha saga em 2014 pela busca da Chardonnay, eu não queria um Chardonnay chileno, brasileiro, argentino, mas de um país pouco usual, a minha intenção era buscar novos terriors, rótulos diferentes, enfim, novas experiências. Entrei em uma loja especializada em vinhos e comecei a garimpar, a saciar a minha latente necessidade. Um vendedor, muito simpático e prestativo, que se dizia também um sommelier me auxiliava nas buscas, quando, encontrei um, escondido e até meio empoeirado, havia apenas uma garrafa que logo me deixou entusiasmado. Era um Chardonnay australiano que logo estava em minhas mãos e mostrei ao vendedor, perguntando por recomendações. Ele apenas disse que seria interessante degustar brancos com safras recentes e o referido australiano era da safra 2008, ou seja, 6 anos de safra até então. Mas resolvi arriscar! O preço estava atrativo, era um vinho branco cujo país era novo para mim... Segui em frente. Por que estou contando essa história? Logo irão saber...

O vinho que eu me refiro e que degustei e gostei demais, uma surpresa arrebatadora foi o Angove Long Row Chardonnay, como disse australiano, de uma região chamada McLaren Valley, no sul da Austrália, da safra 2008.

Na taça tem um amarelo palha com tons dourados muito brilhantes.

No nariz apresenta frutas brancas, como melão, frutas tropicais e toques herbáceos e um agradável floral que já indica seu frescor e elegância.

Na boca abundância frutada que enche a boca, diria um pouco de untuosidade, cremosidade que faz do vinho um tanto quanto estruturado e complexo, mas que graças a sua boa acidez o torna fresco, ainda com uma boa jovialidade, apesar dos seus 6 anos de safra à época. Com um final saboroso, longo e macio.

Um incrível Chardonnay elegante, harmonioso, suculento que surpreendeu pelos seus 6 anos de safra quando degustei mostrando impressionante frescor e vivacidade, com seus potentes 13,5% de teor alcoólico muito bem integrados. Claro que é sempre recomendável degustar brancos com safras recentes, mas, neste meu caso, fui surpreendido positivamente por um vinho vivo, pleno, jovem! Portanto, se o seu coração pedir, arrisque, invista que as vezes se torna interessante fugir às regras. Ah e para fechar, a safra de 2008 ganhou 4 prêmios, que segue: Internacional Wine Challenge, Decanter World Wine Awards, duas vezes a medalha de bronze e o Mundus Vini com a medalha de prata.

Sobre a Angove Family Winemakers:

A Angove Family Winemakers é uma empresa familiar de quinta geração dedicada à elaboração de vinhos super premium e de vinha única da McLaren Vale, juntamente com diversos vinhos de algumas das grandes regiões produtoras de vinho do Sul da Austrália. Em 1886 William Thomas Angove e sua família chegam à Austrália de Cornwall, Inglaterra, para estabelecer uma prática médica no Tea Tree Gully, no sopé do nordeste de Adelaide. A história da produção de vinho em Angove começa, no mesmo ano, com o Dr. Angove fazendo seus primeiros vinhos no agora histórico Brightlands Cellars como um tônico para seus pacientes. Em 1892 o negócio do vinho começa a crescer com 10 acres de vinhedos em produção e mais 20 acres plantados em 1893. Em 1903 as propriedades da vinha em Angove crescem para 100 acres, uma das maiores do estado e compõem um quinto da terra total plantada em videiras. Os primeiros vinhos são feitos a partir de uvas cultivadas nessas vinhas, bem como as da 'Warboys Vineyard', de propriedade de Henry Hall. Em 1907, a Destilaria e Vinícola St Agnes é estabelecida e as atividades de produção de vinho são transferidas das Caves Brightlands.Em 1910 o filho do Dr. Angove, Carl 'Skipper' Angove, se aventura em Renmark para estabelecer a primeira vinícola e destilaria de Riverland. Em 1927 Carl Angove e Ron Martin estabelecem a Dominion Wines Ltd na Inglaterra. Nos próximos 20 anos, a Angove & Son é uma das quatro principais vinícolas australianas a exportar para a Inglaterra sob a joint venture. Em 1946 Tom Angove é nomeado Diretor-Geral e inicia uma nova era de desenvolvimento, instalando instalações de britagem e britagem de última geração e construindo o 'Vintage House', que abriga 32 fermentadores abertos de concreto de 32 toneladas de cinco toneladas, considerados a principal tecnologia da época. Em 1962 Tom compra terras, agora chamadas Nanya Vineyard, em Paringa, do outro lado do rio, da Renmark. A vinha 480 Hectare é constantemente plantada em mais de 18 variedades diferentes de uvas que fornecem as marcas comerciais de vinhos da empresa. A quarta geração da família, John Carlyon Angove sucede a seu pai, em 1983, como diretor administrativo e promove desenvolvimento e investimento significativos em todos os aspectos do negócio. Em 2007 Nanya Vineyard inicia a conversão para produção orgânica de uva certificada para a produção no primeiro vinho orgânico certificado da família Angove. Atualmente a família Angove expande suas propriedades, adquirindo a premium Angels Rise, localizada a 280 m acima do nível do mar, em terras vitivinícolas privilegiadas nos arredores de Clarendon, em 2019, nos limites da região do McLaren Vale.

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Degustado em: 2014


Brancott Estate Pinot Noir 2012 e 2014




Ao longo da minha história de degustação tive a possibilidade de me presentear com algumas boas evoluções preponderantes para a qualidade das minhas experiências com os mais diversos rótulos, afinal cada garrafa de vinho guarda também boas e grandes histórias. Não é só degustação, não é só o prazer do líquido contido na garrafa, são as histórias dos produtores, das regiões, dos rótulos, do terrior, da terra e as suas mais essenciais particularidades que faz cada vinho único e especial. E uma região, na Nova Zelândia, me chamou muito a atenção que se chama Marlborough. E o que me fez chegar até ela foi, como sempre, a leitura, a curiosidade em conhecer os vinhos neozelandeses me fez viajar, com as asas do conhecimento, até a essa região. Instigou a minha curiosidade. No final deste texto tem um pouco da história da Marlborough que se combina com a história da vinícola Brancott State, mas vale saber, antecipadamente que apesar de algumas vinhas terem sido plantadas por colonos em 1870, a viticultura comercial de Marlborough teve início apenas em 1970, quando produtores de outras regiões compraram algumas áreas e plantaram suas vinhas. Os vinhos Marlborough começaram a ter maior prestígio e fama apenas no início dos anos 1980.

E o vinho, dessa região, que degustei e gostei, na realidade foram dois rótulos que, por serem os mesmos, porém, de safras distintas, decidi publicá-los juntos é o Brancott State da casta Pinot Noir, das safras 2012 e 2014. E por que decidi colocá-los juntos em uma única publicação? Porque foram vinhos especiais e que, independente das safras diferentes, revelaram características similares, inerentes a casta, porém com peculiaridades que me parecem ser oriundas da região que se fazem presentes nas descrições olfativas e gustativas. Então, lá vai:

No aspecto visual conta com um vermelho rubi, aquela típica cor granada brilhante da Pinot Noir, com lágrimas finas em média intensidade que se dissipavam não tão rapidamente.

No nariz é intenso, um ataque aromático de frutas vermelhas, como ameixas e cerejas, com toques herbáceos, de especiarias, como pimentão, diria.

Na boca é intenso, com certa estrutura para um Pinot Noir (me parece ser uma característica do Pinot Noir dessa região, pois foi perceptível nas duas safras), com bom volume de boca, graças a sua boa estrutura, mas com muito equilíbrio e elegância. Tem taninos macios, uma boa acidez, que corrobora o seu frescor, mesmo que o de 2014 eu tenha degustado somente em 2019, com 5 anos de safra!  Com um discreto toque amadeirado, de tosta, mas bem integrado, graças a passagem de 6 meses por barricas de carvalho, sendo uma parte, já a outra em tanques de aço inox pelo período de 6 meses também (o percentual de cada vinho não foi divulgada pelo produtor). Presença da fruta é evidente até o seu final, se mostrando persistente e agradável.

Um vinho atraente, elegante, delicado como todo Pinot Noir, mas com personalidade marcante, estrutura, complexidade que parece ser uma característica do terrior dessa região que preciso explorar mais e mais. O vinho conta com um robusto teor alcoólico de 14%, mas muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre a Brancott Estate:

Até a década de 1970, Marlborough era apenas mais um bolso bonito da Nova Zelândia, considerado frio demais para qualquer coisa, exceto pastar ovelhas. Em 1973, as primeiras mudas foram plantadas no Brancott Estate Vineyard. Mas, após dois anos de sucesso misto, repensamos a tradição de levar nossas videiras para uma nova direção - literalmente. Graças aos dias ensolarados da região e às noites frescas, nossas uvas desenvolveram um perfil de sabor único e fresco - e em 1979 nasceu o primeiro Sauvignon Blanc de Marlborough. Os anos oitenta começaram bem, com o nosso primeiro lançamento, Marlborough Sauvignon Blanc, ganhando ouro no New Zealand Easter Show de 1980. Em 1982, nosso primeiro embarque de Marlborough Sauvignon Blanc foi compartilhado além de nossas fronteiras, enquanto se dirigia para o Reino Unido. No final da década, nosso Marlborough Sauvignon Blanc foi selecionado entre mais de 1100 concorrentes para ganhar o prestigioso troféu Marquês de Goulaine na 21ª Competição Internacional Wine & Spirit. Em 1990, a indústria do vinho em Marlborough havia se tornado suficientemente significativa para receber uma visita de Sua Majestade, a rainha Elizabeth II, que plantou uma videira no Festival Block, casa do Marlborough Food and Wine Festival desde 1987. Nesse mesmo ano, foi marcada a nomeação de um novo porão, Patrick Materman, que se tornaria chefe enólogo e lideraria a exploração de novas expressões de Marlborough Sauvignon Blanc. Nosso Marlborough Chardonnay de 1996 foi eleito Vinho Internacional do Ano e o enólogo Andy Frost foi nomeado Enólogo Branco do Ano no London International Wine Challenge. Em 2006, a Brancott Estate plantou as primeiras videiras Sauvignon Gris em Marlborough, uma antiga variedade que desapareceu na obscuridade até que algumas videiras foram encontradas e transplantadas para a Nova Zelândia. Provando ser tão adaptado a Marlborough quanto seu primo próximo, Sauvignon Blanc, o primeiro Sauvignon Gris foi lançado em 2009. No ano seguinte, a Brancott Estate lançou sua linha orgânica, Living Land, e em 2011, a Brancott Estate Cellar Door and Restaurant abriu suas portas. Depois de lançar a primeira safra de Marlborough Sauvignon Gris, lançamos a Brancott Estate Chosen Rows, a nossa melhor Marlborough Sauvignon Blanc digna de idade. Também lançamos a primeira vindima do Flight, uma nova versão do Sauvignon Blanc que é naturalmente mais leve em álcool. A nossa gama de vinhos Sauvignon Blanc agora inclui vinhos espumantes, orgânicos, com influência de carvalho, naturalmente com baixo teor de álcool, dignos de idade e de colheita tardia. Enquanto isso, nossa assinatura Marlborough Sauvignon Blanc continua valendo, com um fluxo constante de prêmios e elogios de todo o mundo.

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O Brancott State da safra 2012 degustado em: 2014

O Brancott State da safra 2014 degustado em: 2019


segunda-feira, 30 de março de 2020

Antiguas Reservas Merlot 2011



Recordo, com nostalgia, dos meus primeiros vinhos produzidos com uvas vitivinífera. Aquela transição necessária dos vinhos de mesa para os vinhos finos, as primeiras experiências e contatos com as castas, os novos rótulos. E eu não posso deixar de falar da Merlot. Por anos, sobretudo nos primeiros anos de degustação, a Merlot foi a minha cepa favorita, afinal, é envolvente a versatilidade e a infinidade de propostas que a mesma casta podem nos proporcionar, além de terriors, a identidade, o DNA daquela terra, era uma viagem e tanto (e ainda é) degustar alguns Merlots. É claro que atualmente e com passar do tempo, novas castas trouxeram grandes momentos e descobertas, tornando-se impossível pontuar uma casta como favorita. Mas o assunto é o Merlot e eu tenho um carinho especial pelos chilenos produzidos com essa especial cepa: Tem vinhos leves, simples, frutados, expressivos... São tantas as opções, com as mais destacadas tipicidades que não tem como se deixar seduzir pelos Merlots chilenos e tem um tão especial em minha vida de apreciador de vinhos que não poderia faltar um depoimento, esse merece todas as reverências possíveis.

E esse Merlot que degustei e gostei é da tradicional vinícola chilena, Cousiño Macul, da linha “Antiguas Reservas”, da safra 2011, da emblemática região Valle del Maipo. Um vinho arrebatador e que certamente está no rol dos meus melhores que degustei. É aquele vinho que sempre será referência de qualidade, além de nutrir momentos de alegria e prazer em minha lembrança.

Na taça tem um vermelho rubi intenso, profundo, com alguma viscosidade, lágrimas em abundância, finas, que tingem e desenham as paredes do copo, um ensaio a personalidade marcante do vinho.

No nariz se destaca frutas negras como cereja, especiarias, como pimenta, couro, tabaco e um amadeirado evidente, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca repetem-se as impressões olfativas, com certa complexidade, robustez, mas que, ao mesmo tempo, se mostra macio, fácil de degustar, com taninos presentes, acidez instigante, um toque de baunilha e da madeira muito bem integrada ao conjunto do vinho, com um final frutado e persistente.

Um vinho maiúsculo que mostra que o terroir chileno, além de nos entregar versatilidade, opções e propostas de bons Merlots, se destacam, em minha opinião, por vinhos desta cepa com personalidade, de expressividade, de vinhos mais intensos e diria até carnudos. Seus impressionantes 14% de teor alcoólico chega a ficar em evidência quando desarrolha o vinho, mas que, na segunda taça já se percebe o equilíbrio deste quesito aos demais do vinho. Para quem aprecia acompanhar a evolução do vinho na taça e/ou degustando é bem interessante e se torna um agradável exercício para analisar as características organolépticas dos vinhos que irá degustar ao longo de sua vida.

Sobre a Cousiño Macul:

Parte de nossa produção tem suas raízes em um território que, há mais de 500 anos, foi utilizado para a produção de vinho. Juan Jufré é um dos primeiros nomes que aparecem na história do vinho chileno e, uma vez, o proprietário da terra onde atualmente está localizada a propriedade Macul. Ele foi contratado, na época da colônia e por ordem do rei da Espanha, para produzir a cepa e o moscatel do país para fornecer vinho para a Eucaristia e parte da sociedade chilena. O primeiro Cousiño apareceu 300 anos depois, quando em 1856 Matías Cousiño adquiriu os 1.000 hectares da Hacienda Macul. Então, localizado principalmente no sopé da cordilheira dos Andes. Esse território fértil e gentil é alimentado, até hoje, naturalmente pelas encostas de Las Perdices e pelo canal de San Carlos. Após a morte de Don Matías, seu filho Luis Cousiño herdou a terra e o sonho de iniciar uma produção familiar de vinho. Para isso, ele decide renovar as vinhas que foram cultivadas lá e, juntamente com sua esposa Isidora Goyenechea , traz da Europa as primeiras vinhas destacadas do vinhedo. O Cabernet Sauvignon e Merlot foram trazidos da região de Pauillac, o Green e Gray Sauvignon de Martillac e o Riesling da Alsácia, este último pessoalmente selecionado por Doña Isidora. O casal administra a vinha até a morte de Luis Cousiño. A partir desse momento, Isidora Goyenechea assume a liderança e se torna uma das primeiras mulheres de negócios da América do Sul. Até o dia de sua morte, ele continua a tradição da família Cousiño, projetando-a no tempo com inovação e novas tecnologias. Com uma acuidade particular em engenharia, ele melhorou as condições dos trabalhadores e padronizou a produção e a excelente qualidade dos vinhos. Além disso, supervisionou a construção da vinícola icônica, encomendada por Luis Cousiño e formulada por engenheiros franceses, até sua conclusão em 1878, e redesenhou o logotipo da empresa, imortalizando seu próprio legado. Em 1898, Isidora morreu e a vinha foi herdada por seu filho Luis Arturo, bisavô da 6ª geração, que hoje dirige a empresa. Mais do que quantidade, nossa produção sempre focou na qualidade. O trabalho de pesquisa e desenvolvimento do primeiro produto de exportação levou 60 anos. Do melhor Cabernet Sauvignon da safra de 1927, nasceram as primeiras reservas de antiguidades, que até hoje são produzidas de maneira fiel ao seu estilo original.

Mais informações acesse:

https://www.cousinomacul.com/

Degustado em: 2016





Por que um vinho pode custar tão mais caro que os outros?


Entenda quais são os aspectos que ajudam a definir o valor de um rótulo


Quais são os critérios que tornam um pinot noir Romanée- Conti, produzido pela lendária vinícola da região da Borgonha, na França, muito mais caro do que um rótulo elaborado com a mesma uva na Argentina?

Enquanto uns vinhos podem ser encontrados no mercado brasileiro pelo preço médio de 60 reais, o céu é o limite quando o assunto é o preço de um renomado rótulo francês.
Exemplo: em 2018, uma garrafa de Romanée-Conti 1945 foi arrematada por 2,6 milhões de reais, em Nova York.



À primeira vista, esse valor pode soar exorbitante – e é mesmo! Mas é importante salientar que um conjunto de fatores entra em cena na hora de calcular o preço de uma garrafa.

Sem dúvida, um dos mais importantes é o terroir. Algumas regiões da França, como Bordeaux, Champagne e Borgonha, são reconhecidas por terem solo e clima mais favoráveis para a produção de uvas, o que ajuda a agregar muito valor à bebida.

“Um hectare de terra na Borgonha pode custar até 9 milhões de euros. Sem dúvida, isso impacta consideravelmente nos custos de produção”, explica o coordenador do curso Negócios do Vinho, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Valdiney Ferreira.

Por serem áreas delimitadas, em que os vinhedos produzem cepas de muita qualidade, mas nem sempre em grande escala, essas regiões não permitem o aumento da produção, o que faz com que a procura – na maioria das vezes – seja maior do que a oferta.

Outras questões humanas impactam bastante: “Em muitas dessas vinícolas, não é possível utilizar máquinas, e a colheita deve ser manual. Essa mão de obra qualificada eleva os custos de produção”, diz Ferreira.

As barricas de madeira, usadas para o envelhecimento do vinho, também entram na conta. “Enquanto uma barrica de carvalho americano custa por volta de 300 euros, uma de carvalho francês pode chegar a mil euros.”

Além de contar com uma safra de qualidade, os vinhateiros precisam lidar com fatores externos, como a meteorologia, que pode devastar as vinhas. “Com as mudanças climáticas, sem dúvida isso será ainda mais recorrente”, lamenta o sommelier Marcos Martins.

VINHO TEM PEDIGREE?

Mais do que em números, o preço de um vinho também está apoiado em seu prestígio. O reconhecimento em guias como o The Wine Advocate, do renomado crítico americano Robert Parker, Gambero Rosso, da Itália, e Descorchados, da América do Sul, ajudam a agregar cifras.
“O sistema de pontos, que é uma invenção americana, tornou-se referência e ajudou a balizar a cultura do vinho. O fato de um rótulo ser bem pontuado ajuda na valorização”, explica o sommelier.


Recentemente, outro aspecto que entrou para a conta é o marketing: “Muitas vezes, esse trabalho vem das próprias importadoras. Porém, cada vez mais, os produtores têm dedicado verba para investir em ações. Além de aumentar o volume de vendas, garante um posicionamento de mercado diante da concorrência com outras bebidas”, completa Martins.

CUSTO BRASIL

Diferentemente de vinhos mais acessíveis, que chegam ao país por importação, os rótulos premium são adquiridos por enófilos no exterior e, muitas vezes, trazidos na mala de viagem.

Sem dúvida, a carga tributária em torno do vinho é outra questão que encarece muito os rótulos. “Como são vinhos que têm um mercado bem restrito e os impostos são muito altos, não vale a pena para a importadora investir nesse tipo de produto”, explica o sommelier Marcos Martins.