segunda-feira, 30 de março de 2020

Por que um vinho pode custar tão mais caro que os outros?


Entenda quais são os aspectos que ajudam a definir o valor de um rótulo


Quais são os critérios que tornam um pinot noir Romanée- Conti, produzido pela lendária vinícola da região da Borgonha, na França, muito mais caro do que um rótulo elaborado com a mesma uva na Argentina?

Enquanto uns vinhos podem ser encontrados no mercado brasileiro pelo preço médio de 60 reais, o céu é o limite quando o assunto é o preço de um renomado rótulo francês.
Exemplo: em 2018, uma garrafa de Romanée-Conti 1945 foi arrematada por 2,6 milhões de reais, em Nova York.



À primeira vista, esse valor pode soar exorbitante – e é mesmo! Mas é importante salientar que um conjunto de fatores entra em cena na hora de calcular o preço de uma garrafa.

Sem dúvida, um dos mais importantes é o terroir. Algumas regiões da França, como Bordeaux, Champagne e Borgonha, são reconhecidas por terem solo e clima mais favoráveis para a produção de uvas, o que ajuda a agregar muito valor à bebida.

“Um hectare de terra na Borgonha pode custar até 9 milhões de euros. Sem dúvida, isso impacta consideravelmente nos custos de produção”, explica o coordenador do curso Negócios do Vinho, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Valdiney Ferreira.

Por serem áreas delimitadas, em que os vinhedos produzem cepas de muita qualidade, mas nem sempre em grande escala, essas regiões não permitem o aumento da produção, o que faz com que a procura – na maioria das vezes – seja maior do que a oferta.

Outras questões humanas impactam bastante: “Em muitas dessas vinícolas, não é possível utilizar máquinas, e a colheita deve ser manual. Essa mão de obra qualificada eleva os custos de produção”, diz Ferreira.

As barricas de madeira, usadas para o envelhecimento do vinho, também entram na conta. “Enquanto uma barrica de carvalho americano custa por volta de 300 euros, uma de carvalho francês pode chegar a mil euros.”

Além de contar com uma safra de qualidade, os vinhateiros precisam lidar com fatores externos, como a meteorologia, que pode devastar as vinhas. “Com as mudanças climáticas, sem dúvida isso será ainda mais recorrente”, lamenta o sommelier Marcos Martins.

VINHO TEM PEDIGREE?

Mais do que em números, o preço de um vinho também está apoiado em seu prestígio. O reconhecimento em guias como o The Wine Advocate, do renomado crítico americano Robert Parker, Gambero Rosso, da Itália, e Descorchados, da América do Sul, ajudam a agregar cifras.
“O sistema de pontos, que é uma invenção americana, tornou-se referência e ajudou a balizar a cultura do vinho. O fato de um rótulo ser bem pontuado ajuda na valorização”, explica o sommelier.


Recentemente, outro aspecto que entrou para a conta é o marketing: “Muitas vezes, esse trabalho vem das próprias importadoras. Porém, cada vez mais, os produtores têm dedicado verba para investir em ações. Além de aumentar o volume de vendas, garante um posicionamento de mercado diante da concorrência com outras bebidas”, completa Martins.

CUSTO BRASIL

Diferentemente de vinhos mais acessíveis, que chegam ao país por importação, os rótulos premium são adquiridos por enófilos no exterior e, muitas vezes, trazidos na mala de viagem.

Sem dúvida, a carga tributária em torno do vinho é outra questão que encarece muito os rótulos. “Como são vinhos que têm um mercado bem restrito e os impostos são muito altos, não vale a pena para a importadora investir nesse tipo de produto”, explica o sommelier Marcos Martins.





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