Recordo, com nostalgia, dos meus primeiros vinhos produzidos
com uvas vitivinífera. Aquela transição necessária dos vinhos de mesa para os
vinhos finos, as primeiras experiências e contatos com as castas, os novos
rótulos. E eu não posso deixar de falar da Merlot. Por anos, sobretudo nos
primeiros anos de degustação, a Merlot foi a minha cepa favorita, afinal, é
envolvente a versatilidade e a infinidade de propostas que a mesma casta podem
nos proporcionar, além de terriors, a identidade, o DNA daquela terra, era uma
viagem e tanto (e ainda é) degustar alguns Merlots. É claro que atualmente e com
passar do tempo, novas castas trouxeram grandes momentos e descobertas,
tornando-se impossível pontuar uma casta como favorita. Mas o assunto é o
Merlot e eu tenho um carinho especial pelos chilenos produzidos com essa especial
cepa: Tem vinhos leves, simples, frutados, expressivos... São tantas as opções,
com as mais destacadas tipicidades que não tem como se deixar seduzir pelos
Merlots chilenos e tem um tão especial em minha vida de apreciador de vinhos que
não poderia faltar um depoimento, esse merece todas as reverências possíveis.
E esse Merlot que degustei e gostei é da tradicional vinícola
chilena, Cousiño Macul, da linha “Antiguas Reservas”, da safra 2011, da
emblemática região Valle del Maipo. Um vinho arrebatador e que certamente está
no rol dos meus melhores que degustei. É aquele vinho que sempre será
referência de qualidade, além de nutrir momentos de alegria e prazer em minha
lembrança.
Na taça tem um vermelho rubi intenso, profundo, com alguma
viscosidade, lágrimas em abundância, finas, que tingem e desenham as paredes do
copo, um ensaio a personalidade marcante do vinho.
No nariz se destaca frutas negras como cereja, especiarias,
como pimenta, couro, tabaco e um amadeirado evidente, graças aos 12 meses de
passagem por barricas de carvalho.
Na boca repetem-se as impressões olfativas, com certa
complexidade, robustez, mas que, ao mesmo tempo, se mostra macio, fácil de
degustar, com taninos presentes, acidez instigante, um toque de baunilha e da
madeira muito bem integrada ao conjunto do vinho, com um final frutado e
persistente.
Um vinho maiúsculo que mostra que o terroir chileno, além de
nos entregar versatilidade, opções e propostas de bons Merlots, se destacam, em
minha opinião, por vinhos desta cepa com personalidade, de expressividade, de
vinhos mais intensos e diria até carnudos. Seus impressionantes 14% de teor
alcoólico chega a ficar em evidência quando desarrolha o vinho, mas que, na
segunda taça já se percebe o equilíbrio deste quesito aos demais do vinho. Para
quem aprecia acompanhar a evolução do vinho na taça e/ou degustando é bem
interessante e se torna um agradável exercício para analisar as características
organolépticas dos vinhos que irá degustar ao longo de sua vida.
Sobre a Cousiño Macul:
Parte de nossa produção tem suas raízes em um território que,
há mais de 500 anos, foi utilizado para a produção de vinho. Juan Jufré é um
dos primeiros nomes que aparecem na história do vinho chileno e, uma vez, o
proprietário da terra onde atualmente está localizada a propriedade Macul. Ele
foi contratado, na época da colônia e por ordem do rei da Espanha, para
produzir a cepa e o moscatel do país para fornecer vinho para a Eucaristia e
parte da sociedade chilena. O primeiro Cousiño apareceu 300 anos depois, quando
em 1856 Matías Cousiño adquiriu os 1.000 hectares da Hacienda Macul. Então,
localizado principalmente no sopé da cordilheira dos Andes. Esse território
fértil e gentil é alimentado, até hoje, naturalmente pelas encostas de Las
Perdices e pelo canal de San Carlos. Após a morte de Don Matías, seu filho Luis
Cousiño herdou a terra e o sonho de iniciar uma produção familiar de vinho.
Para isso, ele decide renovar as vinhas que foram cultivadas lá e, juntamente
com sua esposa Isidora Goyenechea , traz da Europa as primeiras vinhas
destacadas do vinhedo. O Cabernet Sauvignon e Merlot foram trazidos da região
de Pauillac, o Green e Gray Sauvignon de Martillac e o Riesling da Alsácia,
este último pessoalmente selecionado por Doña Isidora. O casal administra a
vinha até a morte de Luis Cousiño. A partir desse momento, Isidora Goyenechea
assume a liderança e se torna uma das primeiras mulheres de negócios da América
do Sul. Até o dia de sua morte, ele continua a tradição da família Cousiño,
projetando-a no tempo com inovação e novas tecnologias. Com uma acuidade
particular em engenharia, ele melhorou as condições dos trabalhadores e
padronizou a produção e a excelente qualidade dos vinhos. Além disso,
supervisionou a construção da vinícola icônica, encomendada por Luis Cousiño e
formulada por engenheiros franceses, até sua conclusão em 1878, e redesenhou o
logotipo da empresa, imortalizando seu próprio legado. Em 1898, Isidora morreu
e a vinha foi herdada por seu filho Luis Arturo, bisavô da 6ª geração, que hoje
dirige a empresa. Mais do que quantidade, nossa produção sempre focou na qualidade.
O trabalho de pesquisa e desenvolvimento do primeiro produto de exportação
levou 60 anos. Do melhor Cabernet Sauvignon da safra de 1927, nasceram as
primeiras reservas de antiguidades, que até hoje são produzidas de maneira fiel
ao seu estilo original.
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