sexta-feira, 22 de maio de 2020

Chardonnay day


A Chardonnay, a “rainha das uvas brancas” é a casta vinífera branca de maior prestígio no mundo, cultivada em todas as regiões produtoras, degustada por todos. Durante muito tempo, acreditava-se que existia uma ligação entre ela, Pinot Blanc e Pinot Noir, e esse pensamento não era por acaso: as plantas de todas as três possuem estrutura e formato muito parecidos, diferindo apenas na cor de seu fruto. Mas ela é o resultado do cruzamento entre as castas Pinot Noir e Gouais Blanc, dela saindo um excelente vinho branco.

História da Chardonnay

Sua origem está associada à região francesa da Borgonha. Acredita-se que os romanos foram os responsáveis por trazer a Gouais e que suas cepas foram cultivadas no leste francês junto com as uvas Pinot Blanc — o que tornou seu cruzamento muito mais propenso. Com isso, em meados do século XVIII, o fruto desse cruzamento, a Chardonnay, foi reconhecida como uma nova espécie de uva e não mais como uma variedade.

Originária da região da Borgonha, na França, durante muito tempo foi a única variedade responsável pelos mais finos vinhos da região. O que chardonnay fez com que essa percepção mudasse, foi o advento da moda dos vinhos varietais a partir do século XX. É a variedade branca mais dispersa pelo mundo, sendo cultivada na grande maioria das regiões produtoras do mundo e conhecida como a rainha da uvas brancas. Dependendo da maneira como é tratada, pode gerar desde vinhos longevos e complexos até brancos simples para consumo diário. Entre as uvas brancas, é uma das variedades mais passiveis de amadurecimento ou fermentação em barricas, desenvolvendo complexidade aromática e, mais que tudo, estrutura em boca, com untuosidade e estrutura especiais.

É uma casta capaz de expressar o desejo do viticultor e a expressão do terroir. Somente em sua região de origem, Borgonha, é que produz um estilo de vinho que até os dias de hoje não conseguiu ser reproduzido em outro lugar, talvez pela composição do solo da região, o conhecido, caro e muito apreciado, Chablis. O Clima, grande influenciador direto de qualquer vinho, é determinante no caso desta cepa. Quando cultivada em regiões mais frias, gera vinho mais frescos e leves, se em regiões mais quentes, o vinho ganha estrutura, untuosidade e notas de frutas tropicais maduras.

Características da Chardonnay


Essa uva de pele verde, utilizada na produção de espumantes e vinhos brancos é, provavelmente, a mais “maleável” que existe no mundo, e grande parte disso se deve ao fato de ser possível produzi-la em praticamente todo lugar do planeta. É possível utilizá-la na produção de vinhos que apresentam desde a expressão máxima da fruta — ou seja, vinhos que não passam por madeira — como aqueles que variam de notas mais suaves até os mais amadeirados — que apresentam características de baunilha e amanteigados. A Chardonnay dá origem a vinhos ricos em aromas e sabores, de forma que evidencia as frutas cítricas quando submetida a climas frios, e frutas tropicais a climas quentes. Para atingir essa gama variada de vinhos que vão de estruturados e encorpados até leves e delicados, sua grande aliada é a Terroir.

Principais regiões produtoras da Chardonnay

Cultivada em quase todos os lugares do mundo, a Chardonnay tende a se apresentar pouco marcada e, muitas vezes, descaracterizada. Dessa forma, as principais regiões são:

França, Borgonha (Côte de Beaune) – É a sua terra natal, nenhuma outra casta branca pode ser cultivada nesta região. Seus vinhos estão entre os melhores do mundo. Cada sub-região apresenta características particulares: Montrachet (intensos, longevos, apaixonantes), Puligny-Montrachet (estruturado, saboroso e fresco), Chassagne-Montrachet (mais noturno), Meursault (amanteigado e frutas secas), Corton-Charlemagne (mais mineral);

França, Borgonha (Chablis) – Nesta parte da Borgonha tudo é muito diferente, o clima é mais frio e o solo calcário já foi leito de mar. O resultado só poderia ser um, vinhos espetaculares, soberbos. Chablis não se copia, aqui a Chardonnay tem outra personalidade. Mineral, rochoso, feno verde, imortal. Sem dúvida alguma, tudo que um vinho branco gostaria de ser;

França, Borgonha (Pouilly-Fuissé) – Vinhos diferentes, encorpados por longa maturação. Muito interessantes e robustos;

França, Champagne – Aqui a Chardonnay é responsável pelo frescor, cremosidade e elegância do espumante. Pode se apresentar varietal (Blanc de Blancs) ou em corte com a Pinot Noir e Pinot Meunier;

Itália – Talvez, devido ao fato de ser um país que não tem uma grande casta branca, a Chardonnay foi adotada com sucesso em quase todas as regiões: Piemonte, Lombardia, Alto Adige, Toscana, Abruzzo e Sicilia. Produz desde espumantes até vinhos de sobremesa deliciosos;

Espanha – Pelos mesmos motivos da Itália, aqui a Chardonnay também vem ganhando espaço com muita competência. As melhores regiões são: Penedès (Cavas), Somontano, Navarra e Rioja;

Califórnia – Produz milhões de garrafas por ano (45 milhões de caixas em 2001). Em geral, seus vinhos são extremamente aromáticos, alcoólicos, amadeirados e com baixa acidez. Algumas vezes percebe-se algum açúcar residual. Os melhores exemplares podem ser espetaculares e rivalizar com os melhores da Borgonha. As melhores sub-regiões são Napa e Sonoma Valleys com destaque para as sub-regiões de Carneros, Russian River e Alexander Valley;

Austrália – Outra excelente região. Já viveu o momento dos vinhos super maduros e amadeirados na década de 1980 e 1990, quase enjoativos (Hunter Valley). Agora vive uma nova realidade, com vinhos mais elegantes, complexos, frescos e provenientes de áreas mais frias. As melhores sub-regiões são: Margaret River, Yarra Valley, Eden Valley, Padthaway e Tasmânia (para espumantes);

Nova Zelândia – Sem dúvida, este país tem vocação para os vinhos brancos. Aqui a Chardonnay pode alcançar patamares insuperáveis para o Novo Mundo. Seus vinhos são intensos, potentes e muito bem equilibrados. As melhores sub-regiões são: Hawke’s Bay, Marlborough e Wairarapa;

Chile – Assim como a Cabernet Sauvignon, aqui a Chardonnay encontrou um terreno fértil para se desenvolver. É a casta branca mais cultivada no país. Seus aromas, além das frutas típicas tropicais, apresentam uma pegada mais tostada e amanteigada. Seus vinhos podem ser espetaculares. As melhores sub-regiões são: Valle de Casablanca, Valle de Leyda, Valle del Maule, Valle de Bío Bío e Malleco;

Argentina – Apesar do predomínio das castas tintas, existem alguns bons (excelentes) vinhos feitos com Chardonnay. Mas não são muitos. A região de Mendoza é a mais indicada.

Chardonnay day

O Chardonnay Day é comemorado desde 2010, na quinta-feira que antecede o feriado de Memorial Day nos EUA.

Não se sabe exatamente quando e como surgiu o Chardonnay Day. Possivelmente, foi em 2009, quando um grupo de enólogos se reuniu para comemorar o sucesso e a premiação de um vinho canadense, que superou rótulos franceses e californianos, no Wine Awards Cellier, em Montreal. Para eles, o significado dessa conquista foi tão grande, que concluíram que a Chardonnay, uma variedade amplamente cultivada em Ontario, merecia destaque. Então, começaram a convidar vinícolas de todo o mundo, que possuem vinhos dessa uva, para celebrá-la todos os anos, no fim de maio.

Há quem diga que a origem do Chardonnay day é parte de uma criação midiática do especialista em marcas, branding e mídias sociais, o americano Rick Bakas. Tudo parte de uma grande estratégia da indústria do vinho!

A Chardonnay é hoje a mais utilizada e produzida no mundo, por isso, você provavelmente vai sempre esbarrar em um rótulo que a contém. Assim, é importante ficar muito atento ao local de produção da uva para que você não acabe levando algo com expectativas erradas. E viva a Chardonnay day!



Fontes:









quarta-feira, 20 de maio de 2020

Tons de Duorum tinto 2014


Costumo dizer e defender, com unhas e dentes, o enófilo a participar, mesmo que ao menos uma vez na vida, de eventos e festivais de degustação de vinhos. A gama de informação que você absorve é fantástica, ainda tendo, é claro, o prazer e a alegria de degustar vários rótulos e conhecendo outros tantos. Você conversa com participantes, com representantes dos produtores, conhecem, por intermédio dos rótulos, novas regiões, propostas de vinhos, castas etc. O meu primeiro evento dessa natureza há quatro ou cinco anos atrás, tive a oportunidade de conhecer um rótulo excelente e de surpreendente custo x benefício à época que foi muito bem posicionado, na realidade foi o primeiro colocado, em uma degustação às cegas realizada pela organização do evento e que contou com especialistas, críticos e jornalistas ligados ao vinho.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região portuguesa do Douro e se chama Tons de Duorum, da vinícola João Portugal Ramos, composta pelas típicas castas da região: Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (30%) e Tinta Roriz (20%), da safra 2014.

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e brilhante com tonalidades violáceas, com lágrimas em abundância que teimavam em desenhar as paredes do copo.

No nariz tem uma explosão aromática de frutas vermelhas frescas, como o morango e a framboesa, com um agradável toque floral denotando muito frescor e jovialidade.

Na boca se reproduz as notas olfativas com muito frescor, um vinho jovem, elegante, mas com a característica personalidade dos vinhos do Douro, com taninos sedosos e presentes, com boa acidez com um final frutado, suave, fresco e persistente.

Um vinho que realça a tipicidade da região tradicional do Douro, mas que não tem aquela típica estrutura, corpo médio, sendo muito frutado, harmonioso e equilibrado, graças também a sua passagem por 6 meses por barricas de carvalho, muito bem integrados. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a linha “Duorum”:

Dois enólogos que marcam a história do vinho em Portugal nas últimas décadas, em duas regiões que o mundo reconhece como de elevada qualidade e personalidade, o Douro e o Alentejo, reencontram-se num projeto sonhado e realizado nos vinhedos milenares do Douro. A “Duorum" (expressão latina que significa “de dois”), nasce em janeiro de 2007 e exprime a vontade de João Portugal Ramos e de José Maria Soares Franco de juntarem as suas atividades profissionais de enólogos num projeto de produção de vinhos do Douro com características únicas e de dimensão internacional. As vinhas, localizadas nas regiões de Cima Corgo e Douro Superior, dois terroirs excecionais e protegidos, estão erguidas em socalcos com diferentes altitudes, entre 150-500 metros, e apenas com castas autóctones. No Cima Corgo, existe baixa pluviosidade com cerca de 600 mm, temperaturas e amplitudes térmicas elevadas durante o ciclo da videira. Por sua vez, o Douro Superior é menos acidentado, com  encostas geralmente mais suaves e vales menos profundos. O clima é tipicamente mediterrânico, com as temperaturas estivais mais elevadas, e precipitações anuais próximas dos 400mm. Tanto a adega como as vinhas encontram-se inseridas na Região Demarcada do Douro, uma das mais antigas do Mundo e cujo valor paisagístico e cultural foi reconhecido pela UNESCO como Património da Humanidade. Adicionalmente, as propriedades da Duorum encontra-se em dois locais que integram a Rede Europeia de Conservação da Natureza (Rede Natura 2000), a Zona de Proteção Especial para Aves do Douro Internacional e Vale do Águeda e o Sítio de Importância Comunitária do Douro Internacional. A conduta ambiental e vitícola assumida pela DUORUM levou ao reconhecimento do ICNB (Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade) e à sua consequente adesão à iniciativa europeia Business & Biodiversity, uma rede internacional de empresas que integra na sua atividade preocupações com a natureza e a biodiversidade. Este compromisso tornou-se uma ferramenta imprescindível para atingir os elevados padrões de exigência ambiental estabelecidos pela DUORUM.

 Sobre a vinícola João Portugal Ramos:

Nascido de uma longa linhagem de produtores, João Portugal Ramos licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, após o que inicia, em 1980, no Alentejo, a sua atividade de enólogo. A partir da experiência acumulada, João Portugal Ramos constituiu a Consulvinus no final da década de 80, com o objetivo de dar resposta às inúmeras solicitações de vários produtores um pouco por todo o país. Assim, a Consulvinus alarga a sua atividade para além do Alentejo, chegando ao Tejo, Península de Setúbal, Dão, Beiras e Lisboa, participando no desenvolvimento de marcantes vinhos portugueses e revitalizando regiões que até então começavam a cair no esquecimento dos enófilos e dos consumidores. João Portugal Ramos planta os primeiros 5 hectares de vinha em Estremoz, onde vive desde 1988, dando início ao seu projeto pessoal. Estremoz é o primeiro local eleito por João Portugal Ramos para fazer os seus próprios vinhos, após a longa carreira como enólogo consultor na criação de vinhos nas principais regiões vitivinícolas de Portugal. A primeira vindima realiza-se em 1992 e nos anos que se seguem o vinho é elaborado em instalações arrendadas, sendo 1997 o primeiro ano em que é vinificado nas novas instalações. Desta primeira vindima, nasce o primeiro vinho próprio de João Portugal Ramos – Vila Santa. Inicia-se a construção da Adega Vila Santa, em Estremoz. Em 1997 é também a primeira colheita do Marquês de Borba Reserva e no ano seguinte nasce o Colheita, que até hoje se mantém como a marca mais forte do grupo revelando uma consistência inabalável ano após ano. Embora João Portugal Ramos já fosse há muitos anos o enólogo responsável pela produção e distribuição dos vinhos dos seus sogros, os Condes de Foz de Arouce, só em 2005 é que a Quinta de Foz de Arouce na Lousã, Beira Baixa, passa a fazer oficialmente parte do grupo. No ano em que o Grupo João Portugal Ramos comemora 25 anos, o seu fundador, em 2017, recebe o Prémio Senhor do Vinho de uma das mais importantes publicações nacionais no setor – a Revista de Vinhos. Neste mesmo ano há a necessidade de ampliar a Adega Vila Santa pela terceira vez, recebendo seis novos lagares de mármore para permitir "pisa a pé" de um maior número de vinhos tintos, passando também a centralizar os processos de engarrafamento de todos os vinhos do Grupo em Estremoz, e aumentando ainda a capacidade de armazenagem de vinhos engarrafados. Os vinhos do Grupo João Portugal Ramos estão presentes por todo o mundo, sendo líderes de vendas de vinhos portugueses em alguns países. Hoje, o enólogo tem a seu lado dois dos seus cinco filhos, João Maria no departamento de enologia e Filipa no departamento de marketing, dando continuidade ao negócio de família.

Mais informações acesse:


Degustado em: 2017








terça-feira, 19 de maio de 2020

LAB tinto 2015


Sou um grande apreciador da simplicidade direta dos vinhos regionais de Lisboa. É claro que gozam de personalidade, mesmo sendo vinhos básicos, de entrada, cuja proposta é a maioria que temos disponíveis no mercado brasileiro, mas muito bem feitos, corretos e que expressão com fidelidade o terroir da capital lusitana, são efetivamente vinhos peculiares, de tipicidade. Sempre os degustei e gostei. E a minha porta de entrada para os vinhos lisboetas e, acredito que para muitos que apreciam rótulos dessa emblemática região, foi com a tradicional Casa Santos Lima que goza de um imenso e diversificado portfólio que conta, não apenas com vinhos de Lisboa, mas com vários rótulos de outras importantes regiões de Portugal. Apesar disso, não são muitos os vinhos disponíveis por aqui em terras brasileiras, mas com os poucos que tive a oportunidade de degustar me propiciaram grandes e surpreendentes experiências. E o rótulo escolhido para abordar teve a motivação da tradição da Casa Santos Lima, foi o fator preponderante para a minha escolha. Porém outra coisa me surpreendeu. Antes de efetivar a sua compra decidi acessar o site do referido produtor para ler um pouco mais sobre o rótulo e eis que veio a grande surpresa: o vinho foi ostentado com uma grande quantidade de premiações! Incrível que, com tantos prêmios, um preço tão baixo, na faixa dos R$ 29,90! Mais um fator estimulador para efetivar a aquisição. Arrisquei!

E não é que os seus prêmios corroboram a sua qualidade? Surpreendente vinho, um belíssimo vinho lisboeta, da Casa Santos Lima que é o LAB tinto, um blend das castas Castelão (35%), Tinta Roriz (25%), Syrah (25%) e Touriga Nacional (15%) da safra 2015. E como sou um apreciador dos vinhos de Lisboa, nada mais conveniente uma breve e substanciosa história dos vinhos regionais de Lisboa.

Vinhos Regionais de Lisboa

Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em pequenas zonas da região. A região de Lisboa, anteriormente conhecida por Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço. A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).


1| Encostas de Aire
2| Lourinhã
3| Óbidos
4| Torres Vedras
5| Alenquer
6| Arruda
7| Colares
8| Carcavelos
9| Bucelas

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem. A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos. Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas. A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas. A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino. A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade. Fonte: Infovini, em: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

Agora o vinho:

Na taça um lindo vermelho rubi com entornos violáceos brilhantes com poucas e rápidas lágrimas.

No nariz tem um aroma rico e proeminente de frutos vermelhos maduros, frutos silvestres, como ameixas e amoras, por exemplo, com notas generosas de especiarias.

Na boca é seco, com alguma estrutura e bom volume de boca, mas macio, fácil de degustar, com taninos presentes, mas sedosos, baixa acidez, com um final de boca frutado, agradável e persistente.

Um vinho que sintetiza com fidelidade o terroir lisboeta, sendo muito versátil, harmonioso e equilibrado, onde mesmo com o seu corpo médio, mostra toda a sua maciez, diria até por ter tido um estágio parcial por 4 meses por barricas de carvalho. O percentual do vinho que estagiou em madeira não foi especificado no site da vinícola. Tem 13% de teor alcoólico.

Prêmios conquistados pelo rótulo (safra 2015):

1- China Wine & Spirits Awards Best Value 2017 - Duplo Ouro
2- Austrian Wine Challenge 2017 - Ouro
3- Portugal Wine Trophy 2016 - Ouro
4- Sélections Mondiales des Vins 2016 - Ouro

Sobre a Casa Santos Lima:

Casa Santos Lima foi constituída para dar seguimento à atividade desenvolvida pela família Santos Lima há várias gerações. Esta atividade foi iniciada por Joaquim Santos Lima, que, no final do século XIX, era já um grande produtor e exportador de vinhos. Maria João Santos Lima e José Luís Santos Lima Oliveira da Silva, neta e bisneto do fundador, relançaram a empresa em 1990, tendo procedido à replantação de grande parte das vinhas, melhorado o encepamento das vinhas e modernizando toda a estrutura produtiva. No âmbito da atividade de engarrafamento de vinho de qualidade, a empresa desenvolveu desde cedo uma estratégia multi-marca, privilegiando produtos de excelente relação qualidade/preço. Em 1996 iniciou-se a comercialização dos primeiros vinhos engarrafados – Quinta da Espiga, Quinta das Setencostas, Palha-Canas e alguns varietais, que imediatamente tiveram grande sucesso nos mercados nacional e internacional. Atualmente, cerca de 90% da produção total é exportada para perto de 50 países nos 5 continentes. Esta grande vocação exportadora deve-se fundamentalmente à excelente relação qualidade-preço dos seus vinhos, parte integrante da atitude e filosofia da empresa. Tal facto tem sido confirmado de forma sistemática pela atribuição de inúmeros prémios e críticas favoráveis por parte da imprensa especializada e a atribuição de referências “Best Buy”. Num passado mais recente a empresa cumpriu um plano de alargamento para outras regiões como o Douro, Vinhos Verdes, Alentejo e Algarve com aquisições de novas propriedades e sociedades ou parcerias com produtores locais. A Casa Santos Lima tem agora uma oferta ainda mais completa e diversificada pronta para responder às exigências dos mercados. A Casa Santos Lima trabalha diretamente ou indiretamente nas regiões de Lisboa, Algarve, Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. Desta forma e a partir de cerca de 400 hectares de vinha, a empresa produz vinhos conhecidos pela sua excelente relação qualidade/preço e exporta cerca de 90% da sua produção total para perto de 50 países nos 5 continentes. A Casa Santos Lima é também o maior produtor de “Vinho Regional Lisboa” e “DOC Alenquer” e nos últimos anos tem sido um dos mais premiados produtores portugueses nas principais competições nacionais e internacionais de vinhos. Atualmente as principais instalações da empresa (escritórios, loja e as adegas de maiores dimensões) estão situadas na Quinta da Boavista em Alenquer, apenas a 45 km a Norte da cidade de Lisboa. Esta Quinta pertence à família Santos Lima há mais de 4 gerações e oferece condições ideais para a produção de vinho de qualidade. A Casa Santos Lima tem também vinhas e adega própria situadas em Tavira no Algarve e ainda através de acordos e parcerias com outras sociedades e produtores, explora também vinhas e adegas nas regiões do Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. A Casa Santos Lima conta com um portefólio muito alargado de vinho, produzindo todos os anos e em 5 regiões diferentes vinhos tintos, brancos, rosés, espumantes, frisantes, leves e colheitas tardias. Este variado leque de opções permite à empresa grande dinamismo no mercado nacional e internacional e tem permitido um crescimento constante ano após ano. Neste momento a Casa Santos Lima é responsável pela produção de cerca de 40% de todo o vinho certificado da Região de Lisboa e é um dos principais exportadores de vinho português.

Mais informações acesse:


Degustado em: 2019

Avelium Rosso 2013


Confesso que é um risco, diria desnecessário, buscar, como suporte para escolha de seus vinhos, esses aplicativos temáticos cujos usuários deixam as suas análises e média de pontuações, dos rótulos que degustou. Estamos nos tempos dos aplicativos onde tudo o que fazemos e do que necessitamos tem nesses recursos exclusivos para os aparelhos de celular, mas a percepção de um vinho é pessoal e, basear-se na análise de terceiros, pode ser frustrante para quem utilizou desse recurso para decidir a compra de um rótulo, mas também não é proibido lê-los. É claro que precisamos de informação, de suporte para fomentar a nossa escolha acerca de um vinho, alheio, é claro, a uma ideia inicial de que rótulo precisa comprar, tais como: região, safra, proposta do vinho, entre outros quesitos. Utilizei, por alguns anos, esses aplicativos, quase uma rede social direcionada para os vinhos e já escolhi alguns rótulos com base em altas médias de seus usuários. E um, em especial, me chamara a atenção pela alta média para o valor extremamente atrativo, mas também, o que pesou na minha decisão, foi a região, a qual gosto muito e o seu corte (blend) bem atípico para mim, envolvendo casta autóctone e internacional.

Um belo vinho, uma grata surpresa! O vinho que degustei e gostei veio da região tradicional da Itália, Puglia, da Província de Barletta-Andria-Trani, chamado Avelium, um rosso (tinto), das castas Nero di Troia (85%) e Cabernet Sauvignon (15%), da safra 2013, um IGP (Indicação Geográfica Protegida).
A região de Puglia ou Apúlia, é extremamente conhecida, emblemática na produção de vinhos da Itália, mas e a Província de Barletta-Andria-Trani? Essa província, situada em Puglia, composta por 10 municípios e com uma população (senso de 2001) de 383.018 teve seu estabelecimento entrando em vigor em julho de 2009 e Andria sendo nomeada sede do governo em 21 de maio de 2010. Fonte: Wikipedia.



Como a região de Barletta-Andria-Trani, a casta Nero di Troia não é muito popular no Brasil e convém textualizar a sua história e características. Considerada uma cepa nativa da Itália, oriunda de uma comuna pequena, também da região de Puglia, com cerca de 7.000 habitantes, chamada Troia e não tem relação direta com a emblemática Troia, que deu origem a história que contou a Guerra de Tróia. Há quem diga que exista sim, uma relação com a mítica cidade, pois há algumas afirmações dizendo que a cepa teria chegado à Itália levada por Diomedes, herói exilado após a guerra. Como boa lenda, talvez tenha um fundo de verdade. Histórias á parte, a Nero di Troia é uma casta bastante resistente a uma ampla variedade de pragas comuns nos vinhedos, e muito adaptada ao clima quente e seco da Puglia. Mesmo assim, cada vez menos cultivada. Muitos produtores, nos últimos anos, têm substituído seus vinhedos, plantando Negroamaro e Primitivo, consideradas mais rentáveis comercialmente. Os aromas mais frequentemente relatados, na degustação de vinhos produzidos com a Nero di Troia, são violetas, cereja preta madura, amora, couro, tabaco, cacau, cassis e anis. O vinho à base de Nero di Troia costuma ser profundo, complexo, fascinante, de cor viva, e bastante rico em polifenóis, principalmente taninos. A adstringência típica dos taninos da Nero di Troia é, muitas vezes, atenuada pelo corte com outras uvas, como Montepulciano. Inclusive, é comum encontrar, em vinhas velhas, fileiras intercaladas de Montepulciano com Nero di Troia, na proporção de 1 para 3. fonte: Tintos & Tantos, em: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/761-nero-di-troia

Agora o vinho!

Na taça apresenta um belo vermelho rubi escuro com reflexos violáceos brilhantes e reluzentes. Com lágrimas em abundância e finas, demoravam a dissipar das paredes do copo, desenhando-os.

No nariz traz um aroma fresco, ainda jovem, apesar dos seis anos de safra, à época degustado, com frutas vermelhas frescas, com um toque floral agradável e notas de especiarias.

Na boca é igualmente fresco, frutado, redondo, equilibrado, de corpo médio, alguma estrutura, mas macio e fácil de degustar, com taninos delicados, boa acidez, com um final persistente.

Um vinho muito bom, versátil, mostrando uma excelente drincabilidade, com um grande potencial enogastronômico, ótimo para harmonizar com massas e uma boa carne suculenta. O vinho não passou por barricas de carvalho, apenas repousou por 6 meses na garrafa antes de ser disponibilizado para o mercado. Com 13% de teor alcoólico.

Não há informações sobre a vinícola. A mesma é um pequeno produtor e tem os seus rótulos distribuídos por empresas que representam as suas marcas em várias partes do mundo. Pequeno produtores que produzem grandes vinhos com um forte apelo regional e que entrega vinhos com grande tipicidade, expressando o máximo de seu terroir.

Degustado em: 2019


Os formatos das garrafas


A produção de vinho é desde sempre entrelaçada com a necessidade de conservar o ‘‘sagrado néctar’’ num recipiente adequado que seja capaz de mantê-lo em boas condições e também de permitir e facilitar seu transporte. Depois de várias tentativas, a história acabou escolhendo a garrafa de vidro como padrão internacional. Ela teria tido origem nos meados do século XVII, mas foi somente um século depois que a garrafa começou a tomar a aparência atual; e mesmo tendo seus detratores (os adeptos do bag-em-box, os das latas, e até aqueles que querem substituir o vidro com plásticos ou em fibras tecnológicas), hoje em dia a garrafa de vidro continua sendo considerado o recipiente ideal para armazenamento e afinamento do vinho.

As partes das garrafas

O formato das garrafas é modelado para que suas características físicas sejam apropriadas para armazenagem e serviço do vinho. Cada garrafa é formada pelas seguintes partes: gargalo, pescoço, ombro, bojo e base.



A base é obviamente o apoio da garrafa. Ela possui frequentemente uma concavidade inferior (de diferentes volumes, dependendo do caso) que tem uma função útil, sobretudo para a decantação de vinhos maduros sujeitos a formação de sedimentos (borra). Com a garrafa em posição vertical os sedimentos irão se depositar ao longo do círculo criado pela concavidade e dificilmente poderão voltar em suspensão.

O clima é importante para a produção de boas uvas. Enquanto o calor é dos mais agastantes, o inverno é frio e chuvoso. O clima, com toda essa variação, traz as condições perfeitas para o plantio dos vinhedos e a produção de vinhos excepcionais.

O bojo é o corpo principal da garrafa, praticamente o local onde propriamente pegamos a garrafa para começar o serviço.

Os ombros também são importantes para o serviço e decantação do vinho. Eles servem como barreira contra os sedimentos acima citados durante o serviço. Quanto mais acentuados os ombros, mais a borra irá se esbarrar contra o vidro e mais dificilmente os depósitos sairão da garrafa.

O pescoço é logicamente a parte da garrafa que a partir dos ombros vai se estreitando, aquela que favorece o escorrimento do liquido de maneira mais fluida e rápida.

O gargalo é a parte final da garrafa, ficando bem acima do pescoço (seria a cabeça) e tem uma dupla utilidade. A primeira é que seu formato cilíndrico protuberante funciona como bloqueio de segurança, evitando que a garrafa escorregue da mão. A segunda é de dar maior força e estrutura no local onde é colocada a rolha. Ademais, no caso dos espumantes, ajuda a manter firme a gaiola metálica que segura a rolha.

A partir destas ‘’regras’’ existem garrafas de vinho de diferentes formas e podemos perceber que elas variam, muitas vezes, em função da região produtora, tipologia de vinho e variedade de uva utilizada.

Formatos das garrafas clássicas




Garrafas tipo Bordeaux (01), possuem corpo reto, com ombros definidos. Podem ser verdes ou transparentes no caso de vinhos brancos. Um dos tipos de garrafas de vinho mais tradicionais possui bojo cilíndrico, ombros bastante acentuados e pescoço não muito comprido. Serve tanto os vinhos tintos quanto os brancos, mas principalmente Cabernet Sauvignon e Merlot, originários da região de Bordeaux. A coloração pode ser verde ou transparente.

Vinhos do Loire (França) são envazados em garrafas tipo Borgonha (02). Possuem ombros mais suaves e atenuados, com bojo mais largo. Usado mundialmente para sinalizar uvas típicas de Borgonha, como a Pinot Noir e Chardonnay. A cor predominantemente é o verde.

Garrafas Alsácia (03) é típica da região Alsácia na França. Não possui ombros e são bem compridas. Os vinhos alemães seguem este formato também, podendo ser apresentados nas cores verde, preto, caramelo e azul.

Garrafas do tipo Champagne (04) são típicas de Epernay e Reims na França, mas são utilizadas para acondicionar praticamente todos os tipos de espumantes produzidos ao redor do mundo. Muito semelhante à Borgonhesa, mas com ombros mais baixos e longo pescoço. Possui vidro mais espesso para conter a pressão interna.

Garrafas Francônia (05) são típicas de Franken na Alemanha. Daí a origem do nome Francônia. Além de vinhos alemães, essas garrafas são utilizadas também em diversos vinhos portugueses, incluindo vinhos verdes produzidos na região do Minho.

Vinhos Madeira ou Jerez da Espanha, tipicamente possuem formatos de garrafas conforme a garrafa 06 (ver figura). Muitas regiões na Espanha, utilizam garrafas parecidas com as Bordeaux, porém mais longas e com leve inclinação no bojo (07). Os vinhos do Porto, produzidos em Portugal, possuem formatos parecidos com as garrafas de vinhos Jerez e Madeira, sendo que são um pouco menores e seus formatos variam um pouco de produtor para produtor (08 e 09).

Garrafas Contemporâneas:

Muitos formatos são inventados por produtores para promover seus produtos. A garrafa, no entanto, definitivamente não indica a qualidade de um vinho. Há garrafas típicas de vinhos populares na França (13) ou garrafas com desenhos, como o vinho Italiano chamado PesceVino, que possui a garrafa com formato de peixe.

Garrafas para vinhos de sobremesa: 

Muitos vinhos de sobremesa são envazados em garrafas com 375 ml (15) e 500 ml (16). Geralmente são vinhos de colheita tardia, ou feitos a partir de uvas botritizadas. Alguns vinhos do Porto, Jerez, Tokaji e Marsala também podem vir em garrafas como estas. Muitas vezes os vinhos de sobremesa são apresentados em garrafas menores, porque são geralmente vinhos mais alcoólicos, que devem ser ingeridos em menor quantidade. Como estes vinhos são elaborados com uvas especiais e apenas em algumas safras, outro fator que contribui para a redução do conteúdo, é o preço.

Tamanhos especiais:

Hoje em dia, é comum encontrarmos garrafas com menor capacidade, para serem consumidas por uma ou no máximo duas pessoas. A vantagem é que não há desperdício de vinho, que oxida rapidamente após sua abertura. Garrafas com capacidade de 375 ml são chamadas de meia garrafa (17 e 18). Garrafas com 187,5 ml são chamadas de quarto de garrafa (19).  

Qual a diferença entre garrafas brancas e verdes?

Embora a maioria das garrafas de vinhos tintos seja verde e as de vinho branco e rosé seja transparente, a cor pode variar de acordo com as tradições de cada região (as do Reno, região da Alemanha, por exemplo, são marrons). Mas isso é exceção. Verde porque impede o contato direto da luz com o vinho (manter a distância da iluminação, natural ou artificial, é um dos princípios do bom acondicionamento da bebida se quiser preservar a qualidade dela por anos). Os vinhos acondicionados em garrafas transparentes – brancos e em rosés, em sua maioria – são feitos para consumo rápido, por isso a questão do contato com a luz não é tão relevante. É comum encontrar alguns brancos em garrafas verdes, e isso pode ser um indicativo sobre o potencial de guarda do vinho.

Por que o tamanho padrão de garrafas de vinho é 750 ml, e não um litro?

A gigantesca maioria das garrafas de vinho é fabricada no tamanho padrão de 750 ml – não nos outros 13 tamanhos existentes. Mas acredite, elas podem variar de 187 ml até 30 litros. Existem muitas lendas sobre o porquê do padrão ser 750 ml, mas o mais aceito é que o tamanho foi definido numa época em que os vinhos de Bordeaux eram comercializados pelos ingleses na própria barrica (ainda não eram vendidos na garrafa!). Além de eles não utilizarem o mesmo sistema métrico da França (um galão correspondia a 4,5 L), as barricas bordalesas tinham desde aquela época 225 litros, o que resulta em um total de 300 garrafas de 750 ml.


Para que serve o buraco no fundo das garrafas de vinho?

O buraco no fundo da garrafa, definitivamente, não deveria ser utilizado para ajudar na hora de servir o vinho em taça. Apesar de muitos o utilizarem com essa finalidade, foi criado para ajudar a empilhar as garrafas em um contêiner e facilitar o transporte da bebida por longas distâncias.

Existem garrafas de 30 litros de vinho? Quais são todos os tamanhos de garrafas de vinho?

Sim, existem garrafas de vinho com 30 litros de capacidade. E elas são raríssimas. A maioria das garrafas é feita em tamanho de 750 ml. Em outros tamanhos, é mais comum encontrar 375 ml ou 1,5 L. Os tamanhos menores surgiram para evitar a oxidação de um vinho para consumidores que não vão acabar com uma garrafa. Já as de tamanhos grandes são mais comuns em festas e celebrações (não à toa, é mais comum encontrar Champanhes em tamanhos maiores do que vinhos de outras regiões).

Confira abaixo uma lista com os diferentes tamanhos de garrafas de vinho (e quantas taças de vinho cada garrafa serve!):

Um quarto: 187 mL (serve 1,25 taça)
Meia garrafa: 375 mL (serve 2,5 taças)
Sobremesa: 500 mL (serve 3,3 taças)
Garrafa: 750 mL (serve 5 taças)
Magnum: 1,5 L (serve 10 taças)
Jeroboam (Jeroboão): 3 L (serve cerca 20 taças)
Réhobam (Roboão): 4,5 L (serve 30 taças)
Imperial ou Matusalém: 6 L (serve 40 taças)
Salmanazar ou Mordecai: 9 L (serve 60 taças)
Baltazar: 12 L (serve 80 taças)
Nebuchodonosur: 16 L (serve 100 taças)
Melchior: 18 L (serve 120 taças)
Salomão: 20 L (serve 133 taças)
Melquisedeque: 30 L (serve 200 taças)

Certamente, os formatos das garrafas contribuem para a beleza e apresentação do vinho, em conjunto com seus rótulos, rolhas, etiquetas e cápsulas, mas devemos tomar muito cuidado para que não sejamos induzidos a beber um vinho de baixa qualidade só porque foi envazado em uma garrafa bonita. Lembre-se: Não beba rótulo. Beba vinho!

Basicamente, as formas das garrafas de vinhos variam em função da região produtora, tipologia de vinho e variedade de uva utilizada. Reconhecê-las permite dizer muito sobre os conteúdos, sem sequer a leitura do rótulo. Um bom exercício para quem está começando a se inteirar dos mistérios do mundo dos vinhos, não acha?






sábado, 16 de maio de 2020

Veritas tinto 2015


Conhecimento agrega e muito em nossa vida. Remove montanhas e nos proporciona um mundo novo a cada aprendizado. E no mundo do vinho não é diferente. E não se restringe aos profissionais, enólogos e críticos de vinhos, mas também aos simples apreciadores da nobre bebida de Baco, aos enófilos, sobretudo aqueles que de fato buscam informações e incrementam em suas degustações boas doses de conhecimento. E essa afirmação está se manifestando exatamente hoje! Foi graças a minha incessante busca pelo conhecimento, a minha avidez pela informação, mesclada a curiosidade, que estou degustando um rótulo de uma região portuguesa que até pouco tempo atrás não conhecia no que tange ao seu potencial vitivinícola. E quando conheci foi por intermédio de outra emblemática região: Lisboa. Gosto muito dos vinhos lisboetas, sobretudo aqueles mais básicos, de entrada, sem tanta intervenção humana, mas muito bem feitos. E, ao olhar um mapa vitivinícola de Portugal na internet avistei a Península de Setúbal, próxima a de Lisboa. Pensei: Nunca degustei nenhum vinho dessa região. Comprei os meus primeiros rótulos e tive ótimas e agradáveis surpresas. Mas este foi muito especial! Surpreendente pelo custo X benefício.

O vinho que degustei e gostei, veio, como disse da Península de Setúbal, da sub-região de Palmela, e se chama Veritas, da SIVIPA, um corte das castas Castelão (70%), típica da região e de toda Portugal, também conhecida como “Periquita” e Cabernet Sauvignon (30%), casta mundialmente famosa, oriunda de terras francesas, da safra 2015, um DOC (Denominação de Origem Controlada) da sub-região de Palmela. E já que falei de aprendizado e conhecimento adquirido não pode passar despercebida uma breve história sobre a Península de Setúbal e da sua igualmente famosa sub-região de Palmela, considerada uma denominação de origem (DO) juntamente com Setúbal e também os vinhos regionais (IG).

Península de Setúbal

A história vitivinícola da região da Península de Setúbal perde-se no tempo. Na região foram plantadas as primeiras vinhas da Península Ibérica, em cerca de 2.000 a.C., dando início a uma tradição que foi renovada em 1907, com a demarcação da Região do Moscatel de Setúbal, e que sobrevive até hoje, sendo a segunda mais antiga região demarcada de Portugal. De Setúbal saem alguns dos melhores vinhos portugueses, cuja qualidade se firmou a partir de uma biodiversidade riquíssima. Nenhuma outra região de Portugal tem tantas diferenças geográficas, com a existência de planícies, serras e encostas, além dos Rios Sado e Tejo e a proximidade com o Oceano Atlântico. Extensa em território e com clima mediterrânico – tempo quente e seco no verão e relativamente frio e chuvoso no inverno –, a Península de Setúbal é uma região que permite a obtenção de vinhos carismáticos, com personalidade forte e traços de caráter únicos, com uma singular relação entre qualidade e preço. A presença de vinhas em terras planas compostas por solos de areia perfeitamente adaptados à produção de uvas de qualidade, bem como de um relevo mais acentuado, com vinhas plantadas em solo argilo-calcários, protegidos do Oceano Atlântico pela Serra da Arrábida, resulta numa produção de vinhos reconhecida nacional e internacionalmente.


As designações de Denominação de Origem (DO) e Indicação Geográfica (IG)

As designações de Denominação de Origem (D.O.) e Indicação Geográfica (I.G) indicam os vinhos de acordo com a sua origem, características e castas. É esta certificação que garante a qualidade dos vinhos que irá consumir. Desde o plantio até o engarrafamento, os vinhos da Península de Setúbal são avaliados e controlados pela CVRPS, chegando à sua mesa com 3 possíveis classificações: D.O. Palmela, D.O. Setúbal e I.G. Península de Setúbal (Vinho Regional).

DO Palmela:

Abrangendo os concelhos de Setúbal, Palmela, Montijo e, ainda, a freguesia do Castelo, no concelho de Sesimbra, a D.O. Palmela cobre a mesma área que a D.O. Setúbal, mas exclui a produção de Moscatel de Setúbal. Aqui, tanto nos tintos como nos brancos, há uma utilização predominante de certas castas que permitem produzir vinhos carismáticos, com personalidades fortes. Os vinhos tintos D.O. Palmela devem conter a casta Castelão, conhecida tradicionalmente por Periquita, em pelo menos 67% da sua produção. São, na sua maioria, vinhos tranquilos, ou seja, não são gaseificados. São caracteristicamente bastante aromáticos, com grande capacidade de envelhecimento e estruturados. Os jovens e os mais velhos distinguem-se pelo perfil e aromas. Enquanto que os primeiros são caraterizados por aromas como a cereja, a groselha e a framboesa, os mais velhos abarcam outros aromas mais secos, como a bolota e o pinhão.


Agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, razoavelmente escuro, com tons violáceos e lágrimas em abundância demorando a se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz uma profusão aromática de frutas maduras com toques discretos, mas evidentes, da baunilha e do tostado, evidenciado pela breve passagem por barricas de carvalho por 6 meses.

Na boca é seco, traz também muita fruta, com alguma estrutura, taninos presentes, mas sedosos, possivelmente pela passagem por madeira e pelo tempo de safra, com boa acidez, vivaz para um tinto, e um final prolongado, persistente.

Um vinho que, para muitos talvez, não aparenta drincabilidade, admito que não é um vinho “corriqueiro”, percebi até certa rusticidade, mas não tenho tanta certeza, afinal, apesar de ter um corpo médio, é um vinho que tem equilíbrio e até fácil de degustar. Vale também o registro quanto ao seu alto teor alcoólico, de 14%: ao desarrolhá-lo e ter me servido da primeira taça, de forma imediata, senti um tanto quanto alcoólico, mas deixei o mesmo respirando na taça por 5 minutos, aproximadamente, ficando mais redondo. Setúbal não é apenas dos Moscatéis, é também dos tintos! Harmoniza bem com comidas mais condimentadas e encorpadas como massas e carnes gordas.  Cabe aqui mais uma curiosidade: como disse a Castelão, que compõe 70% deste vinho e se encontra com facilidade nos vinhos produzidos em Setúbal e Lisboa, por exemplo, também se chama “Periquita”. Mas por quê? Foi em 1830 que José Maria da Fonseca a plantou na sua propriedade de Azeitão – Cova da Periquita – e cujos vinhos ganharam tanta fama, que difundiram o nome por toda a região.

Sobre a SIVIPA:

A SIVIPA – Sociedade Vinícola de Palmela, SA foi criada no ano de 1964 por um grupo de vitivinicultores que se uniram para formarem esta sociedade com o objetivo de engarrafar os vinhos das suas produções e de os colocarem no mercado. O objetivo seria conseguir obter uma mais valia através do mercado de vinhos engarrafados, pois nesta altura pretendia-se acabar com a comercialização de vinhos a granel e vinhos em barril. Entretanto na década de 90 entrou para o capital da sociedade uma das famílias com maiores tradições na produção de vinhos da região de Palmela, a família Cardoso, que através dos seus 400 ha de vinhas e com produções na ordem de 2 milhões de litros anuais assegurava uma maior homogeneidade na qualidade dos vinhos. Nesta altura começou-se a apostar nos vinhos certificados e de maior qualidade. Hoje em dia a Sivipa é uma sociedade com grande reputação na produção de vinhos e moscatéis.

Mais informações acesse:


Fonte para pesquisa sobre a Península de Setúbal: Vinhos da Península de Setúbal, em: https://vinhosdapeninsuladesetubal.org/