sábado, 16 de maio de 2020

Veritas tinto 2015


Conhecimento agrega e muito em nossa vida. Remove montanhas e nos proporciona um mundo novo a cada aprendizado. E no mundo do vinho não é diferente. E não se restringe aos profissionais, enólogos e críticos de vinhos, mas também aos simples apreciadores da nobre bebida de Baco, aos enófilos, sobretudo aqueles que de fato buscam informações e incrementam em suas degustações boas doses de conhecimento. E essa afirmação está se manifestando exatamente hoje! Foi graças a minha incessante busca pelo conhecimento, a minha avidez pela informação, mesclada a curiosidade, que estou degustando um rótulo de uma região portuguesa que até pouco tempo atrás não conhecia no que tange ao seu potencial vitivinícola. E quando conheci foi por intermédio de outra emblemática região: Lisboa. Gosto muito dos vinhos lisboetas, sobretudo aqueles mais básicos, de entrada, sem tanta intervenção humana, mas muito bem feitos. E, ao olhar um mapa vitivinícola de Portugal na internet avistei a Península de Setúbal, próxima a de Lisboa. Pensei: Nunca degustei nenhum vinho dessa região. Comprei os meus primeiros rótulos e tive ótimas e agradáveis surpresas. Mas este foi muito especial! Surpreendente pelo custo X benefício.

O vinho que degustei e gostei, veio, como disse da Península de Setúbal, da sub-região de Palmela, e se chama Veritas, da SIVIPA, um corte das castas Castelão (70%), típica da região e de toda Portugal, também conhecida como “Periquita” e Cabernet Sauvignon (30%), casta mundialmente famosa, oriunda de terras francesas, da safra 2015, um DOC (Denominação de Origem Controlada) da sub-região de Palmela. E já que falei de aprendizado e conhecimento adquirido não pode passar despercebida uma breve história sobre a Península de Setúbal e da sua igualmente famosa sub-região de Palmela, considerada uma denominação de origem (DO) juntamente com Setúbal e também os vinhos regionais (IG).

Península de Setúbal

A história vitivinícola da região da Península de Setúbal perde-se no tempo. Na região foram plantadas as primeiras vinhas da Península Ibérica, em cerca de 2.000 a.C., dando início a uma tradição que foi renovada em 1907, com a demarcação da Região do Moscatel de Setúbal, e que sobrevive até hoje, sendo a segunda mais antiga região demarcada de Portugal. De Setúbal saem alguns dos melhores vinhos portugueses, cuja qualidade se firmou a partir de uma biodiversidade riquíssima. Nenhuma outra região de Portugal tem tantas diferenças geográficas, com a existência de planícies, serras e encostas, além dos Rios Sado e Tejo e a proximidade com o Oceano Atlântico. Extensa em território e com clima mediterrânico – tempo quente e seco no verão e relativamente frio e chuvoso no inverno –, a Península de Setúbal é uma região que permite a obtenção de vinhos carismáticos, com personalidade forte e traços de caráter únicos, com uma singular relação entre qualidade e preço. A presença de vinhas em terras planas compostas por solos de areia perfeitamente adaptados à produção de uvas de qualidade, bem como de um relevo mais acentuado, com vinhas plantadas em solo argilo-calcários, protegidos do Oceano Atlântico pela Serra da Arrábida, resulta numa produção de vinhos reconhecida nacional e internacionalmente.


As designações de Denominação de Origem (DO) e Indicação Geográfica (IG)

As designações de Denominação de Origem (D.O.) e Indicação Geográfica (I.G) indicam os vinhos de acordo com a sua origem, características e castas. É esta certificação que garante a qualidade dos vinhos que irá consumir. Desde o plantio até o engarrafamento, os vinhos da Península de Setúbal são avaliados e controlados pela CVRPS, chegando à sua mesa com 3 possíveis classificações: D.O. Palmela, D.O. Setúbal e I.G. Península de Setúbal (Vinho Regional).

DO Palmela:

Abrangendo os concelhos de Setúbal, Palmela, Montijo e, ainda, a freguesia do Castelo, no concelho de Sesimbra, a D.O. Palmela cobre a mesma área que a D.O. Setúbal, mas exclui a produção de Moscatel de Setúbal. Aqui, tanto nos tintos como nos brancos, há uma utilização predominante de certas castas que permitem produzir vinhos carismáticos, com personalidades fortes. Os vinhos tintos D.O. Palmela devem conter a casta Castelão, conhecida tradicionalmente por Periquita, em pelo menos 67% da sua produção. São, na sua maioria, vinhos tranquilos, ou seja, não são gaseificados. São caracteristicamente bastante aromáticos, com grande capacidade de envelhecimento e estruturados. Os jovens e os mais velhos distinguem-se pelo perfil e aromas. Enquanto que os primeiros são caraterizados por aromas como a cereja, a groselha e a framboesa, os mais velhos abarcam outros aromas mais secos, como a bolota e o pinhão.


Agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, razoavelmente escuro, com tons violáceos e lágrimas em abundância demorando a se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz uma profusão aromática de frutas maduras com toques discretos, mas evidentes, da baunilha e do tostado, evidenciado pela breve passagem por barricas de carvalho por 6 meses.

Na boca é seco, traz também muita fruta, com alguma estrutura, taninos presentes, mas sedosos, possivelmente pela passagem por madeira e pelo tempo de safra, com boa acidez, vivaz para um tinto, e um final prolongado, persistente.

Um vinho que, para muitos talvez, não aparenta drincabilidade, admito que não é um vinho “corriqueiro”, percebi até certa rusticidade, mas não tenho tanta certeza, afinal, apesar de ter um corpo médio, é um vinho que tem equilíbrio e até fácil de degustar. Vale também o registro quanto ao seu alto teor alcoólico, de 14%: ao desarrolhá-lo e ter me servido da primeira taça, de forma imediata, senti um tanto quanto alcoólico, mas deixei o mesmo respirando na taça por 5 minutos, aproximadamente, ficando mais redondo. Setúbal não é apenas dos Moscatéis, é também dos tintos! Harmoniza bem com comidas mais condimentadas e encorpadas como massas e carnes gordas.  Cabe aqui mais uma curiosidade: como disse a Castelão, que compõe 70% deste vinho e se encontra com facilidade nos vinhos produzidos em Setúbal e Lisboa, por exemplo, também se chama “Periquita”. Mas por quê? Foi em 1830 que José Maria da Fonseca a plantou na sua propriedade de Azeitão – Cova da Periquita – e cujos vinhos ganharam tanta fama, que difundiram o nome por toda a região.

Sobre a SIVIPA:

A SIVIPA – Sociedade Vinícola de Palmela, SA foi criada no ano de 1964 por um grupo de vitivinicultores que se uniram para formarem esta sociedade com o objetivo de engarrafar os vinhos das suas produções e de os colocarem no mercado. O objetivo seria conseguir obter uma mais valia através do mercado de vinhos engarrafados, pois nesta altura pretendia-se acabar com a comercialização de vinhos a granel e vinhos em barril. Entretanto na década de 90 entrou para o capital da sociedade uma das famílias com maiores tradições na produção de vinhos da região de Palmela, a família Cardoso, que através dos seus 400 ha de vinhas e com produções na ordem de 2 milhões de litros anuais assegurava uma maior homogeneidade na qualidade dos vinhos. Nesta altura começou-se a apostar nos vinhos certificados e de maior qualidade. Hoje em dia a Sivipa é uma sociedade com grande reputação na produção de vinhos e moscatéis.

Mais informações acesse:


Fonte para pesquisa sobre a Península de Setúbal: Vinhos da Península de Setúbal, em: https://vinhosdapeninsuladesetubal.org/



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