sábado, 6 de junho de 2020

Lote 1936 País 2018


É unânime que o Chile produz os melhores vinhos entre os países que compõe o Novo Mundo. Cepas oriundas de outros países tradicionais, como a França, por exemplo, encontraram no solo chileno a sua nova concepção, a sua nova identidade, ganhando relevância e fama, tais como a Cabernet Sauvignon, a rainha das uvas tintas, o Merlot, a Sauvignon Blanc, Chardonnay e a mais emblemática que abraçou o Chile como a sua nova pátria: a Carmènére. 

Vinhos reconhecidos, premiados e consumidos mundo afora. Se uma vinícola chilena não produzir vinhos com as referidas castas, não é uma vinícola do Chile! Mas há também aquelas castas esquecidas, quase que obscuras para muitos enófilos e que, ao longo do tempo, relegadas a uma condição de pouca reputação, caiu no ostracismo após anos e anos de sucesso e representatividade cultural. 

Uma dessas castas é a País, a casta emblemática do Chile dos primórdios, antes das famosas de hoje. Eu confesso que nunca degustei um chileno com essa casta. Ouvi falar, muito remotamente, de forma muito tímida, por alguns enólogos, produtores e críticos do vinho, talvez por se tratar de um tabu ou, como disse, falta de reputação, mas sempre tive aquela típica curiosidade e o ávido interesse em buscar novas experiências e prometi um dia que, caso surgisse a oportunidade de adquirir um rótulo dessa casta, eu compraria. E eis que surgiu o momento!

Mas como pouco conhecia não me deixei levar pela euforia e preferi, antes de sacramentar a minha aquisição, pesquisar um pouco sobre a casta e a história que a envolve no Chile o que foi um trampolim para a compra. Ao desarrolhar o vinho, fui arrebatado de uma forma tão surpreendente, um vinho de excelente custo x benefício. 

O vinho que degustei e gostei se chama Lote 1936, da já mencionada casta País (100%), da famosa e emblemática Região do Maule, da safra 2018. Contudo, como eu havia dito que, antes de comprar fizera uma pesquisa sobre a história da casta, preciso reproduzi-la textualmente, afinal, não é sempre que nós, brasileiros, podemos degustar rótulo com essa antiga cepa.

País

Em meados do século XVI uma uva chamada Listán Prieto vivia na Espanha e é levada ao México por missionários franciscanos que tinham como objetivo cultivá-la para produzir o vinho da missa. Lá, ficou conhecida como Misión. 

Depois de um tempo, viajou aos Estados Unidos, depois à Argentina, onde ficou conhecida como Criolla Chica, até que os jesuítas a levaram para o Chile. A princípio, também produzia o vinho da missa, até que ultrapassou as barreiras religiosas e foi desbravar o terroir chileno. 

Uva País

Somente no século XIX que a Criolla Chica ganhou o nome de País. Não se sabe ao certo o motivo, mas ela viveu tempos de rainha no Chile até que a Cabernet Sauvignon e a Carménère chegaram para pedir a coroa. E levaram. Ficou esquecida a um nível onde já nem se falava mais de sua existência. Algum boato, alguma memória aqui ou ali, nos terrenos mais remotos do Chile, mas nada que ainda a permitisse aparecer. 

Mas eis que surgiu um francês, nascido na Borgonha, instigado pela América do Sul. Louis-Antoine Luyt planejou uma viagem de férias que virou estadia permanente, mas para isso, precisava de um trabalho. À época, Louis estava no Chile e virou lavador de pratos em um restaurante local, onde começou a aprender sobre vinhos e conheceu ninguém menos que Hector Vergara: o sommelier mais renomado do país e o único Master of Wine da América do Sul naquele tempo. 

Louis-Antoine Luyt

Hector estava abrindo a Escola de Sommelier do Chile e Louis já estava entre os seus primeiros alunos. Sabe aquela história de que o conhecimento abre portas? Pois é. Abriu. Ainda bem. Inconformado com a hegemonia da Cabernet Sauvignon e da Carménère nos vinhos chilenos, o francês decidiu que iria explorar as castas e áreas de cultivo do país. Foi então que descobriu que algumas parcelas de outras uvas ainda existiam, mas estavam sendo vendidas ou utilizadas por camponeses para produzir vinho para consumo próprio. 

Decisão tomada. Louis-Antoine Luyt ia aprender a fazer vinho. Voltou para a França estudou viticultura e enologia em Beaune e, durante os estudos, fez amizade com Mathieu Lapierre, proprietário da renomada vinícola Villié-Morgon, onde teve a oportunidade de participar de cinco colheitas e ser introduzido ao vinho natural. Munido de conhecimento, sonho e coragem, Louis abriu uma vinícola no Chile e começou a explorar diferentes terroirs e cepas locais para produzir vinhos que seriam exportados, principalmente, à França. 

Mas em 2010, o desastroso terremoto resultou na perda de 90% do seu cultivo. Ele não desistiu. Comprou mais oito hectares de vinhas, entre elas, a País. Desde então, a cepa foi voltando aos palcos, retomando os holofotes e mostrando (novamente) toda a sua capacidade para produzir grandes vinhos. De muita textura e ótima acidez, a País origina vinhos rústicos, bastante gastronômicos e corpo médio.

Com o tempo, os taninos ficam tão elegantes e macios que parecem veludo. Em geral, a uva do país não recebe muito envelhecimento em madeira, pois os aromas dessa variedade são muito delicados e muita madeira pode interferir demais na tipicidade do vinho. Continuou sendo cultivada, principalmente por pequenas famílias agrícolas, até que, nas últimas décadas, alguns produtores começaram a apostar na sua volta ao mundo dos vinhos. 

A Região do Maule é considerada a maior produtora, por hectare, da País atualmente e muitas de suas vinhas, como em todo o Chile, que traz essa cepa, são antigas, com média de 70 a 100 anos de idade! Afinal, foram esquecidas por tanto tempo!

E finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos brilhantes com lágrimas finas e em pouca intensidade, se dissipando, sumindo brevemente das paredes do copo.

No nariz traz um exuberante aroma de frutas vermelhas como morango, por exemplo, remetendo a um vinho fresco e jovem.

Na boca se reproduz as impressões olfativas, sendo leve e delicado com taninos finos, sedosos e uma boa acidez com final frutado e de longa persistência.

Um vinho honesto e muito bem feito, redondo, que preenche muito bem a boca, de leve, lembrando, inclusive, um Pinot Noir. Tem uma vocação gastronômica, podendo harmonizar com queijos curados e massas mais leves, sem tanto condimentos ou ser degustado sozinho de forma informal e despretensiosa. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Uma curiosidade do nome do rótulo, Lote 1936: corresponde ao ano em que os primeiros membros da família Guerra chegara as Terras do Maule, no Chile e as suas vinhas são bem antigas: com 70 anos, colhidas a mão e uma carga máxima de 4.000 quilos por hectare, o que é muito pouco, levando em consideração a quantidade de produção de nível industrial, sobretudo das grandes potências vinícolas instaladas no Chile.

Sobre a Chilean Wines Company (CWC):

A Chilean Wines Company é uma empresa de propriedade e operação familiar, localizada no coração do vale de Maule, no centro do Chile. A família Guerra plantou e desenvolveu 750 hectares de vinhedos em todo o vale do Maule. Nosso foco tem sido explorar e experimentar diferentes variedades baseadas nos vários microclimas do Vale, alcançando uma expressão autêntica de cada terroir. As origens do vinho do Chile começaram na região vinícola original de Maule Valley e hoje a região produz mais vinhos em todo o país. A herança vinícola do Chile começou aqui quando os primeiros colonos europeus chegaram ao país. Esses colonos escolheram a Maule por suas condições climáticas superiores e solo ideal para o cultivo de uvas para vinho, as mesmas condições que fornecem a base para a produção de uvas excepcionais e vinhos de classe mundial atualmente. Quando a família Guerra migrou para o Chile do norte da Itália em 1920, os seus ancestrais escolheram o Vale Maule com o objetivo de continuar nossas próprias tradições familiares de vinhos. Usando raízes de vinho cuidadosamente transportadas ao longo da longa jornada oceânica, a família plantou novas vinhas para continuar a herança de vinhos da família nesta nova terra. A longa experiência da família Guerra em trabalhar com os vários microclimas e terrenos em Maule Valley forneceu uma capacidade única de fornecer a expressão máxima das variedades com as quais a CWC trabalha. Atualmente, as marcas da Chilean Wines Company são exportadas para mais de 30 países ao redor do mundo.

Mais informações acesse:


Fonte sobre a casta País:





quinta-feira, 4 de junho de 2020

Arbo Marselan


Costumo dizer e defender a importância de cada enófilo, caso queira conhecer, enveredar o vasto e prazeroso mundo do vinho, a participar, pelo menos uma vez na vida, de um festival de degustação. A carga de informação transborda diante dos seus olhos e inundam os seus ouvidos, cabendo a você, é claro, absorver aquili que você julgar relevante e transformar em conhecimento, agregar conhecimento ao ritual da degustação. Quando estive, em 2017 em um evento no Rio de Janeiro chamado “Vinho na Vila”, foi uma experiência e tanto. Caso queira ler detalhes do evento, segue link: Festival Vinho na Vila 2017. Além de participar de um evento de degustação, conversar com outros enófilos, produtores e conhecer rótulos novos, castas e terroirs também novos, foi um festival inteiramente dedicado aos vinhos brasileiros. Ah como os vinhos brasileiros precisam de protagonismo! Trafegando pelo espaço onde o evento acontecia fui ao stand da Casa Perini, instalada na região gaúcha de Farroupilha, decidi me aproximar e conferir, afinal não conhecia seus rótulos. Degustei alguns e um me chamou a atenção: a linha Arbo da casta Marselan. Que casta é essa? Não sabia, então logo solicitei que enchesse a minha taça para degustar. E...

O vinho, produzido em Farroupilha, era muito bom! Me surpreendeu positivamente e o valor estava muito atrativo, em torno dos R$ 30,00! Logo o representante do produtor me informara que era a linha básica da vinícola, mas o vinho entregava mais do que valia, o preço era justo! Então comprei! Não levou muito tempo ocupando espaço na minha adega, então o desarrolhei! O vinho não era safrado, denunciando que era um vinho simples e de rápida degustação, estimulando-me, ainda mais, em bebê-lo. Mas antes de falar do vinho, vamos falar um pouco da casta Marselan, não muito popular por aqui em terras brasileiras.

Marselan

Casta de origem francesa Marselan é um cruzamento entre as uvas Cabernet Sauvignon e Grenache obtido por Paul Truel em 1961, em Montpellier, sul da França. O objetivo do cruzamento era obter uma uva com mais produtividade. O resultado foi uma uva de cachos grandes e pequenas bagas. Acabou sendo deixada de lado por não apresentar o rendimento esperado. Em 1990 foi inserida no registro oficial de variedades. O nome vem de Marseillan, uma comuna localizada na costa do Mediterrâneo, França. A primeira videira foi plantada em Penedès, na Espanha. Na França é plantada principalmente no Languedoc e no Sul do Rhône. Fora da França há Marselan na Califórnia (Estados Unidos), Argentina, Uruguai e Brasil. A China também resolveu apostar e há vinhedos próximo à Grande Muralha. O cruzamento entre as duas espécies francesas fez com que a Marselan adquirisse características próprias de cada uma das uvas. A acidez da Cabernet Sauvignon, por exemplo, combinada com a leveza e versatilidade da Grenache Noir, transformou a Marselan em uma uva exótica e especial. Tem coloração intensa e aromas que lembram frutas vermelhas frescas e cacau, a uva Marselan começou a ser comercializada no Brasil a partir de 2002 encontrando bom espaço, aos poucos e produzido excelentes vinhos.

O vinho:

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro com bordas violáceas, com poucas lágrimas e que se dissipam rapidamente.

No nariz tem aromas de frutas negras e um agradável toque floral.

Na boca é muito seco, com boa estrutura, mas macio, fácil de degustar, com uma acidez instigante, diria uma alta acidez para um tinto, taninos delicados e um final de média persistência, um retrogosto frutado.

Uma experiência agradável de uma casta diria que bem exótica, talvez até mesmo rústica, com um caráter indomável, a qual não recomendo para aqueles que estão adentrando o mundo do vinho. Inclusive alguns amigos já inveterados na degustação de vinhos mostraram certa rejeição pela Marselan, mas certamente eu degustaria outra vez, outros rótulos da casta. A “casta de laboratório” é “provocativa” e eu gosto de vinhos assim. 12% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Perini:

Em 1876 chegava da Itália a família Perini com Giuseppe e Antônio Perini, mas somente em 1929 começaram a elaborar seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha. Quatro décadas após o patriarca iniciar sua modesta produção, seu filho viria a promover mudanças maiores. Em outubro de 1970 resolve ampliar os negócios da família, fundando a Casa Perini. Motivado e apaixonado por transformar a uva em vinho, buscam a cada ano aperfeiçoar a vinícola com equipamentos, tecnologia e equipe qualificada, pois sem uma equipe profissional a arte de elaborar vinhos perde criatividade e talento. Em 2005 a Família Perini adquire a unidade Bacardi Martini em Garibaldi agregando tecnologia ao seu processo produtivo através dos tanques “Vinimatics”, utilizados na maceração e fermentação dos vinhos tintos. Em 2010 a vinícola foi pioneira no setor ao implantar o sistema de rastreabilidade no qual é possível, através do número do lote, rastrear todo o caminho do vinho desde o vinhedo até a garrafa. O reconhecimento vem a cada prêmio alcançado e a cada consumidor satisfeito, o que se comprova com a conquista de mais de 200 medalhas nacionais e internacionais e, principalmente, com a recente premiação do Casa Perini Moscatel, eleito o 5° melhor vinho do mundo de 2017 pela WAWWJ (World Association of Writers & Journalists of Wines & Spirits).

Mais informações acesse:


Fonte para a história do Marselan:



Degustado em: 2017



terça-feira, 2 de junho de 2020

Festival Vinho na Vila 2017


No dia 20 de maio de 2017 eu participei de um dos melhores festivais de degustação que privilegia os vinhos brasileiros que esse país viu nesses últimos anos. É fato que, nesses últimos anos, o número de eventos de degustações de vinho tem aumentado, diria, significativamente. A oferta era baixa e hoje temos boas opções de eventos nos seus diversos formatos e opções de adesão. Mas é preciso, em minha opinião, democratizar esses eventos, para que os mesmos cheguem a todos os públicos, independentemente da classe social. Se quisermos democratizar é preciso baratear os ingressos que estão muito altos. Situações como essa só segmenta ainda mais um mercado que, por conta de problemas como esse (sim, é uma problema!), só a classe média alta participa.

Mas confesso que, além de ter me animado na época, de participar desse festival de degustação por ser direcionado aos rótulos brasileiros, o seu valor estava bem acessível ao bolso, fazendo valer a pena o investimento.

O Festival Vinho na Vila é projeto idealizado pela Larissa Fin em 2016 tendo a promoção de pequenas e médias vinícolas brasileiras e patrocinada pela IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho), com apoio institucional do “Vinhos do Brasil” e Governo do Estado do Rio Grande do Sul. É acompanhado de música, palestra, comida e degustação, acontecendo em várias cidades brasileiras. O evento tem como primordial objetivo oferecer ao público a oportunidade de conhecer e degustar alguns dos melhores vinhos e espumantes de produção nacional.

No ano de 2017 no Rio de Janeiro, foi realizado no Prédio Touring, na Praça Mauá, nos dias 19, 20 e 21 de maio. Durante os três dias de evento o Vinho na Vila contou com uma programação cultural especialmente pensada para a ocasião, incluindo palestras com temas relacionados ao secreto mundo dos vinhos, som ao vivo com apresentações de bandas de MPB, Jazz e Blues e atrações para os pequenos. Por sorte no dia que escolhi 20 de maio, em um sábado, chuvoso, mas que não me desestimulou nem um pouco, estava rolando um jazz e blues que embalou as ótimas degustações.

Entre as vinícolas confirmadas até o momento estão a Bueno Wines (Campanha - RS), Casa Perini (Vale dos Vinhedos - RS), Dal Pizzol (Vale dos Vinhedos - RS), Torcello (Vale dos vinhedos - RS), Pericó (Serra Catarinense - SC), Panizzon (Serra Gaúcha - RS), Aracuri (Serra Gaúcha - RS), Garibaldi (Serra Gaúcha - RS), Pizzato (Serra Gaúcha - RS), Don Giovanni (Serra Gaúcha - RS), Monte Paschoal (Serra Gaúcha - RS), Gallon Sucos, exclusiva de sucos de uva (Serra Gaúcha - RS), Rio Sol (Pernambuco - PE), Maximo Boschi (Bento Gonçalves - RS), Giaretta (Guaporé - RS), Vinhos Batalha (Campanha - RS), Maria Maria (MG) e Velho Amâncio (Santa Maria - RS).

As degustações

Iniciei as minhas degustações no evento com a excelente Vinícola Torcello, que já conhecia de outras ocasiões, de outros eventos e tive o prazer de reencontrar seus rótulos no Vinho na Vila. A Vinícola Torcello foi fundada no ano de 2000 por Rogério Carlos Valduga, quarta geração da Família Valduga, e filho de Remy Valduga (viticultor, escritor e bisneto de Marco). A Torcello surgiu do fascínio de Rogério pela vitivinicultura e pelo seu desejo de resgatar a tradição da família, a qual elaborava vinho de maneira totalmente artesanal no próprio porão de casa para consumo próprio.

O primeiro a ser degustado foi o Torcello Tannat, que já havia degustado em um evento anterior, mas, claro, não poderia deixar de lado e degustei de novo, o da safra 2014. Continua maravilhoso: Aromas de frutas negras e vermelhas, toque agradável de especiarias, taninos firmes e presentes e boa acidez. Um belo e estruturado Tannat.


Logo em seguida veio o Torcello Merlot da safra 2015. Esse foi uma novidade para mim, muita fruta, um vinho fresco, com bom volume de boca, jovem, aromas de frutas vermelhas em compota. Excelente Merlot brasileiro com muita tipicidade!


Fechei, em grande estilo, com o Torcello Cabernet Sauvignon, também da safra 2015. Arrebatador! Encorpado, frutas negras, um toque, muito bem integrado da madeira, taninos gordos e presentes. Um vinhaço! Esse eu não deixei passar, levei para casa uma garrafa!


E como não pode faltar a degustações de espumantes, avistei ao longe o stand da vinícola Velho Amâncio e estava tão movimentada que decidi conferir. A história da Velho Amâncio começa há mais de 100 anos, ainda no século XIX, quando Amâncio Pires de Arruda, de origem portuguesa, chegou em Santa Maria e por aqui resolveu se estabelecer, nas terras onde ainda hoje encontram-se os vinhedos e a vinícola. Os anos passaram, a cidade cresceu, Itaara tornou-se município e seu neto, Rubens Fogaça, no ano de 1986 iniciou a produção de vinhos no vale onde Amâncio Pires de Arruda havia se estabelecido com a família. Em 1999, a vinícola passa por uma modernização, os vinhedos varietais foram implantados e a qualidade aumentou. Atualmente, a vinícola produz vinhos finos e espumantes em pequena escala e possui vinhedos de uvas finas, conduzidos em espaldeira.

Comecei com o Vivelam Rosé. Apesar de ser um demi-sec, que não me agrada muito, me surpreendeu positivamente, não tendo aquele doce enjoativo, sendo até muito agradável em boca, aromas de frutas, leve e refrescante. Os espumantes dessa linha ão elaborados utilizando o método tradicional de fermentação na garrafa (Champenoise).


Depois, com o atendimento muito simpático e atencioso, dos herdeiros da vinícola, ele me indicou o brut, depois que falei que era fã dessa proposta de espumantes. Esse também foi arrebatador e, como o Torcello Cabernet Sauvignon, não pude deixar de levar. Ótima acidez, leve, fresco, com certa untuosidade, cremoso. Delicioso espumante!


Depois segui para a Casa Perini. Lá estava mais “versátil”, ou seja, tinha tintos e brancos de todas as propostas, espumantes, etc. A história da Casa Perini começa em 1929 quando o filho de imigrantes italianos João Perini começou a elaborar seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha.

Comecei com os tintos. Primeiro, por recomendação do representante da vinícola, degustei o Arbo da casta Maselan. Ele havia dito que o custo x benefício era ótimo e que estava tendo uma ótima saída no evento. Mas confesso que me chamou a atenção por conta da casta que não havia degustado até então. A linha “Arbo” é básica do produtor mas que não fica atrás e esse Marselan era muito interessante. Seco, frutado, com alguma estrutura e bem aromático me ganhou: O comprei! Depois degustei o Casa Perini Solidário, um corte das castas Cabernet Sauvignon e Merlot de 2015. Encorpado, amadeirado, frutas vermelhas em abundância, um vinhaço sem dúvida.


Depois fui para o primeiro Moscatel da noite. Um Moscatel Rosé com um residual de açúcar bem equilibrado surpreendeu pela fruta, pelo equilíbrio, leveza e uma simplicidade que faz do vinho muito bom. Não o levei, pois já tinha o Vivelam Brut e eu queria diversificar ou pelo menos tentar, diante de tantos rótulos magníficos.


Fui para um novo terroir para mim: Minas Gerais, representada pelos rótulos da Dom de Minas, da Vinícola Luiz Porto. Quando o Luiz Porto decidiu transformar sua paixão por vinhos em negócio, ele não tinha dúvidas que seria um sucesso. No Sul de Minas ele encontrara todas as características para que suas mudas importadas da França expressassem ao máximo sua qualidade. Mas para que o sonho tornasse realidade, ele sabia que ia precisar ter uma conversa muito franca com alguém que seria decisivo para o triunfo da vinícola: a Mãe Terra.

Como disse tinha apenas dois ou três rótulos distintos, infelizmente. Degustei o Merlot da safra 2014 e o Cabernet Franc da mesma safra. O Merlot era bem leve, agradável, frutado, bem descompromissado e fresco. Mas o que me surpreendeu foi o Cabernet Franc que inclusive fiz uma resenha que segue neste link: Dom de Minas Cabernet Franc. Um vinho de personalidade, mas macio e fácil de degustar. Não deu outra: levei!!


Fui para a vinícola Rio Sol! A Rio Sol está localizada no Vale do São Francisco, na cidade de Lagoa Grande, em Pernambuco. A vinícola produz vinhos e espumantes, cujos rótulos vêm, cada vez mais, conquistando prêmios nacionais e internacionais. A empresa pertence a Global Wines, com sede na região do Dão, em Portugal, produtora de vinhos reconhecida no mercado mundial pelo dinamismo e inovação, com grande diversidade de rótulos premiados entre os melhores da Europa. A vinícola levou  muitos rótulos da linha, tanto dos produzidos no Brasil quanto em Portugal.

Comecei com o Rio Sol Reserva tinto da safra 2014 das castas Cabernet Sauvignon, Syrah e Alicante Bouschet, traz um aroma delicado, com boa acidez, com taninos elegantes e macios.


Depois “viajei” para Portugal, começando com o Cabriz Colheita Selecionada, da emblemática região do Dão, da safra 2016. Das castas Alfrocheiro, Tinta-Roriz e Touriga Nacional traz um aroma exuberante de frutas negras, toque defumado, com belo volume de boca com taninos macios e presentes.


Fechando com o Grilos tinto Reserva. Esse já é um velho conhecido. Já havia degustado em outras ocasiões. Com um blend das castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen entrega a tipicidade do Dão, com toque de frutas vermelhas, um vinho equilibrado, harmonioso e saboroso.



Fui para a Vinícola Batalha que nunca tinha ouvido falar. Eles unem o idealismo com as características que conferem uma vocação natural de uma região promissora para uma nova vitivinicultura mundial. São um grupo de jovens idealistas e de espírito empreendedor. O resultado econômico é uma consequência. A pretensão é produzir algo em escala limitada que possa surpreender os consumidores, buscando a valorização da pequena propriedade, onde não prioriza o volume, mas sim, a qualidade.

Degustei o Ideologia. Com um corte das castas Cabernet Sauvignon, Tannat e Merlot traz um equilíbrio interessante que confere ao vinho levez, harmonia e uma marcante personalidade. Frutado, taninos presentes mas sedosos, surpreendeu, mas o que desagradou foi o preço que não considerei como justo para a proposta do vinho.


Depois parti para o Batalha Cabernet Sauvignon da safra 2011. Esse tinha outra proposta. Um vinho mais encorpado, estruturado, mas, ao mesmo tempo macio e fácil de degustar. Um vinho redondo graças a passagem por barrica de carvalho.


Não posso deixar de destacar outro vinho que degustei e gostei e também levei que era da Vinícola Giaretta. A Vinícola Giaretta surgiu no ano de 2006, em uma reunião familiar e na evolução natural do próprio cultivo da uva que era realizado pelo Sr. Moacir. À época, a família estava com dificuldades na comercialização da sua produção de uvas, fato que motivou a abertura da vinícola.
Estava muito movimentado e consegui degustar apenas o Ancellota, mas não me arrependi. O vinho possui cor viva, vermelha rubi. Seus aromas lembram frutas maduras, como ameixa, sendo amplo e penetrante. Na boca é generoso e persistente, com taninos macios, se apresentando com estrutura e corpo marcante.


Como qualquer evento teve alguns problemas. Destaco aqui pelo menos dois: o primeiro foi o famigerado livrinho que constava a relação de todos os rótulos disponíveis para degustação. Era um controle dos organizadores do evento para garantir que todos os participantes degustasse todos os vinhos. Então a cada degustação os representantes dos produtores carimbava no seu livrinho o vinho que você degustou. Confesso que tive dificuldades de ficar, ao mesmo tempo, com o livrinho na mão e a taça e quando, por erro desses representantes que carimbava o rótulo errado e eu solicitava o vinho que fora carimbado para degustar e o representante via, dizia: “Esse o senhor já bebeu!” E quando eu dizia que não degustei ficava a minha palavra contra a do representante, mas no final das contas liberava a degustação. Era melhor definir uma quantidade de vinhos para a quantidade de participantes, embora trabalhoso, pois exige cálculos, é melhor. O outro problema foi o espaço onde fora realizado o evento. Achei pequeno e, por algum momento, ficou complicado e tenso para se locomover no local. Acredito que os organizadores não esperavam tanta gente! O sucesso do evento fora grande, mas nada que impedisse de se divertir e aproveitar os grandes rótulos expostos para degustação.

Foi uma noite maravilhosa e apoteótica que celebrou o vinho brasileiro. O vinho brasileiro que é tão inacessível aos brasileiros, o custo Brasil alto, os tributos que incidem igualmente alto, mas que naquele dia, todos os nossos sonhos foram vividos, mesmo que por algumas horas. Mas levei comigo, além de alguns rótulos, a expectativa de que é possível sim democratizar o vinho brasileiro e que, com isso o mesmo chegue à mesa do enófilo. Como sempre digo: Só falta o brasileiro conhecer o vinho brasileiro.

Minhas aquisições:


A taça do evento:








domingo, 31 de maio de 2020

Torre de Pinhel tinto


De uns tempos para cá, tenho me interessado, de forma gradativa, pelo fator regional quando escolho um vinho, quando degusto um vinho. É a genuína expressão de seu terroir, da sua tipicidade, sem contar que estimula conhecer outras culturas em uma espécie de escambo a cada taça degustada, sem exageros. Como que apenas uma garrafa, fisicamente tão pequena pode reverberar tanta história, uma longa e emblemática história. O vinho precisa eclodir nas taças e fazer cada um de nós, simples enófilos, entender, ao menos um pouco, sobre a história do povo que o concebeu. Mas infelizmente há algumas regiões que não são tão conhecidas ou populares aqui no Brasil como os rótulos alentejanos, durienses, de Bordeaux, Rioja, por exemplo, mas que, quando degustamos e temos a satisfação e o prazer de nos surpreender positivamente, nos perguntamos: como não degustamos vinhos dessa região ainda? Falo da região de Beiras, em Portugal (Beira Interior). Após algumas poucas experiências, mas surpreendentes e agradáveis com a linha D. João I tinto e branco (Leia as análises aqui: D. João I tinto e D. João I branco, da Adega Cooperativa de Pinhel, retomo o meu caminho redescobrindo a região com mais um rótulo deste produtor.

O vinho que degustei e gostei, vem, como disse da região de Beira Interior, da Adega Cooperativa de Pinhel, e se chama Torre de Pinhel, das castas Rufete e Tinta Roriz, não sendo safrado. E convém uma breve explicação pelo fato do vinho não ser safrado. Esse rótulo é um “vinho de mesa”, termo bem conhecido no Brasil que é usado pelos portugueses para designar um vinho básico, de entrada, que não possui um denominação de origem (DOC ou Vinho Regional) e que são produzidos com castas regionais, locais. Diferente do conceito de “vinho de mesa” no Brasil, que são vinhos produzidos com castas não viníferas, de uvas de mesa. Apesar de não possuírem denominações de origem, os “vinhos de mesa” lusitanos podem ser considerados sim, vinhos com forte apelo regional, pois trazem, como disse no início do texto, tipicidade e características da região, do chão que nascem as videiras, é tudo uma questão, também, de um certificado de qualidade, quando, em uma comparação meio distante, uma empresa adquire um “ISO”. Antes de tecer meus comentários acerca do vinho, falarei um pouco da sub-região de Beira, Pinhel.

Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.



A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos com lágrimas grossas e abundantes que dissipam com alguma lentidão das paredes do copo.

No nariz traz uma explosão de aromas de frutas vermelhas frescas, com toques de especiarias.

Na boca é frutado, meio seco, de leve para médio, com taninos presentes, mas sedosos, com uma agradável acidez revelando frescor e jovialidade, com um final de média persistência.

Um vinho simples, mas correto, bem feito e honesto Equilibrado e harmonioso é macio e fácil de degustar. Não tem passagem por barricas de carvalho, com 13% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre o rótulo “Torre de Pinhel”:

O Castelo de Pinhel localiza-se na cidade, freguesia e concelho de mesmo nome, no distrito da Guarda. O Castelo de Pinhel, juntamente com o Pelourinho de Pinhel, são os símbolos mais importantes da região. A primitiva ocupação humana de seu sítio remonta a um castro pré-histórico, atribuído ora aos Túrdulos em 500 a.C., ora aos Lusitanos, posteriormente romanizado, quando passou a vigiar a estrada romana que cruzava a região da atual Pinhel. Após a queda do Império Romano do Ocidente, essa modesta fortificação mergulhou na obscuridade. A época da Reconquista cristã da Península Ibérica, com a afirmação da nacionalidade portuguesa, D. Afonso Henriques (1112-1185) procedeu ao repovoamento e reforço das defesas de Pinhel. O seu sucessor, D. Sancho I (1185-1211) deu prosseguimento a essa tarefa, outorgando Carta de Foral a Pinhel (1189 segundo alguns, 1209 segundo outros), de quando datará o início da construção do castelo medieval, concluído sob o reinado de D. Afonso II (1211-1223), que lhe passou novo foral em 1217. Integrante do território de Ribacôa, disputado ao reino de Leão por D. Dinis (1279-1325), a sua posse definitiva para Portugal foi assegurada pelo Tratado de Alcanizes (1297).

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.
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Fontes:




quinta-feira, 28 de maio de 2020

Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon 2015


Estava a procura de um vinho que me surpreendesse, que me entregasse certa robustez, estrutura, personalidade e que me custasse pouco, que não doesse tanto ao bolso. Às vezes eu acordo com esse ímpeto em seguir um caminho deveras bem delimitado, definido. Mas, por outro lado, pode se tornar uma missão impossível de encontrar um vinho com tais características a um preço baixo, acessível a bolsos de meros mortais como eu. Fui às compras, fui a busca do que queria. E não é que encontrei esse vinho! O mundo do vinho, quando livre de preconceitos, de visões pré-concebidas, conseguimos “enxergar” o que queremos, a luz se faz forte, iluminando as nossas pretensões e caminhos.

Mas a procedência me ajudou e muito e digo que foi preponderante para a minha bem sucedida escolha e que escolha, foi A escolha, que foi o produtor! Então, sem mais delongas, o vinho que degustei e gostei veio do Chile, da região de Colchagua, e é da tradicional e bem sucedida Luis Felipe Edwards, o Autoritas, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2015.

Antes de falar do vinho, vamos as curiosidades. A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade. Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados ​​de geração em geração e expressos em cada copo da Autoritas.

O vinho:

Na taça apresenta uma linda cor vermelha intensa, escuro com entornos violáceos, com lágrimas em abundância e lágrimas finas que dissipam vagarosamente das paredes do copo.

No nariz tem uma explosão aromática de frutas vermelhas, com toques de especiarias, baunilha e a madeira discreta, bem integrada, devido aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca tem estrutura, de médio corpo a encorpado, mostrando a potência da Cabernet Sauvignon, na sua mais sublime essência, mas muito macio e fácil de degustar, um toque leve de torrefação, taninos redondos e gordos, mas domados, com boa acidez e um final persistente e frutado.

A verdadeira concepção do vinho tipicamente chileno, um Cabernet Sauvignon de personalidade marcante, mas harmonioso, fácil de beber, redondo e a contundente prova de que vinhos com essa proposta pode sim ter um custo acessível a todos os bolsos, democratizando ou pelo menos ajudando a disseminar a cultura do vinho entre todos, indistintamente. Tem 13,5% de teor alcoólico. Ah, o valor foi de R$ 35,90!

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

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Degustado em: 2017

Viña Chatel Crianza tinto 2013


Sempre tive dificuldades para comprar vinhos espanhóis. Talvez fosse pela baixa oferta de rótulos atraentes ou simplesmente a incapacidade da minha parte de escolher o vinho que procurava ou pior: a visão pré-concebida que me impedia de comprar os vinhos certos para mim. Vou dizer que a famigerada opção 3. A minha cabeça era povoada por receios de comprar vinhos muito caros e que não me arrebatasse de tal maneira que me deixasse de joelhos ou aqueles muito baratos que fosse uma completa porcaria. Mas de algum tempo para cá fui descobrindo novas alternativas, locais de compras, sejam elas locais virtuais ou físicos, com novas regiões, castas ou blends inusitados e pouco conhecidos por aqui, propostas de vinhos, enfim, o leque abriu, percebi o quão diversificado a Espanha no que tange a sua cultura vitivinífera é e tudo o mais.

Então fui às compras e encontrei um da região tradicional de Penedès, que para mim era, até então nova, que estava a um surpreendente valor (R$ 24,90, na promoção), um crianza chamado Viña Chatel, da tradicional Bodegas Pinord, com um corte das castas Tempranillo (90%) e Cabernet Sauvignon (10%) da safra 2013.

Algo importante é saber o conceito da palavra “crianza” para esse tipo de vinho e a sua importância para a proposta do vinho. O termo “crianza” não se significa que o vinho seja jovem (não significa “criança”), mas significa “envelhecimento”, ou seja, o tempo que o vinho maturou em barricas de carvalho. Na Espanha os termos “Crianza”, “Reserva” e “Gran Reserva” segue um padrão de vinificação, diferentemente em alguns países do Novo Mundo que as utiliza para definir a qualidade das suas uvas, mas também por mero marketing. O vinho que estampa no rótulo o termo “crianza” tem, por questão da lei, passar 24 meses na vinícola, sendo que, no mínimo 6 meses em barricas de carvalho e o resto evoluindo, descansando na garrafa até sair do produtor para o consumidor. Caso queira saber mais leia em: “Classificação dos vinhos espanhóis” 

Penedès

Essa é uma denominação de origem de vinhos produzidos na Catalunha, noroeste da Espanha. Uma das mais antigas regiões vinícolas da Europa. Uma das melhores da Espanha. Os limites geográficos da denominação de origem Penedès não coincidem nem com divisões geográficas nem políticas. Penedès estende-se por uma longa faixa de terra, entre as montanhas e o Mediterrâneo, no caminho que vai de Tarragona a Barcelona.


O clima é mediterrâneo. Os verões são quentes, os invernos são suaves, e as chuvas moderadas estão concentradas, principalmente na primavera e no outono. Mas a variação climática é bastante grande, dentro da região. A denominação é composta por 3 zonas distintas: Penedès Superior (próxima às cordilheiras do interior), Penedès Marítimo ou Baixo (entre o mar e as colinas costeiras) e Penedès Central (na planície entre essas duas zonas). Aproximadamente 75% dos vinhedos da denominação estão ocupados com vinhas de cepas brancas, sendo que as mais cultivadas são: Xarel-lo, Macabeu, Parellada, Chardonnay e Moscatel d’Alexandria. Entre as tintas, as mais cultivadas dentro das regras do conselho regulador são Merlot, Cabernet Sauvignon e Tempranillo. É possível observar, nessa região, uma tendência dos produtores para as cepas internacionais, em detrimento às nativas. O estilo dos vinhos de Penedès varia de secos a doces, tranquilos a espumantes, podendo ser brancos, tintos ou rosés. Os melhores tintos encorpados vêm do Alto Penedès, ou Penedès Superior. Os brancos frescos de maior destaque, em contrapartida, são produzidos no Baixo Penedès. Fonte: Tintos & Tantos (http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/592-penedes).

Agora o vinho:

Na taça o vinho apresenta uma cor vermelho escuro, intenso com reflexos violáceos com lágrimas em abundância, finas e que demora um pouco a se dissipar desenhando as paredes do copo.

No nariz, apesar da safra de 2013, o vinho ainda estava jovem, fresco, com aromas intensos de especiarias, com notas intensas de frutas vermelhas e um discreto mas agradável toque abaunilhado e de madeira, muito bem integrado ao conjunto do vinho, graças a passagem por 9 meses em barricas de carvalho.

Na boca reproduz-se as impressões olfativas, com a fruta preenchendo a boca, com um paladar agradável, suave, macio, devido ao tempo da passagem em madeira, mostrando um bom equilíbrio entre a mesma e o vinho, com taninos presentes mas sedosos e gentis com um bom final
Descobri e consegui exorcizar todos os meus questionamentos quanto aos vinhos espanhóis, percebendo ainda que é possível degustar bons rótulos daquele país a valores extremamente convidativos ao bolso. Viña Chatel surpreendente pelo valor baixo, entregando mais do que vale, mostrando ainda que, caso queira, tem bom potencial de guarda, onde o degustei com 7 anos de vida! Vinho de personalidade, alguma estrutura, mas fácil de degustar. 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Pinord:

Bodegas Pinord tem mais de cem anos de experiência em vinificação na região de Penedès, no nordeste da Espanha, em seu nome. Eles produzem vinhos e cavas (espumantes), usando métodos tradicionais, herdados de seus ancestrais. Hoje, o uso de tecnologia de ponta, juntamente com uma equipe excepcional de profissionais esforçados, ajuda a tornar seus vinhos e cavas famosos em todo o mundo. A história da Bodegas Pinord remonta ao tempo em que, há mais de cento e cinquenta anos, a família Tetas começou a produzir vinhos brancos e tintos em sua propriedade em Sant Cugat Sesgarrigues a partir de uvas que eles mesmos haviam cultivado. Mesmo naquela época, eles produziam e envelheciam os vinhos usando os métodos mais tradicionais empregados na região. Em 1942, Josep Maria Tetas instalou a atual vinícola em Vilafranca del Penedès, a apenas quatro quilômetros da propriedade original. É o nome desta vinha que, de fato, inspirou a família a criar o nome da empresa: “Pi del Nord” (Pinheiro do Norte) e hoje, que foi reconvertida para a agricultura orgânica, fornecendo à vinícola uvas de alta qualidade, assim como fez séculos antes. Naquela época, Miquel Tetas, pai de Josep Maria, fermentou uvas Xarel·lo de suas vinhas e, uma vez que foi dito, ele viajou a noite toda com um cavalo e uma carroça e dois barris de 500 litros para vender seus vinhos em Barcelona, ​​onde os habitantes desfrutaram muito da delicadeza de seus vinhos. Logo, Josep Maria Tetas, que era um homem inquisitivo e empreendedor, observou como alguns de seus vinhos jovens emitiam espontaneamente pequenas quantidades de dióxido de carbono - bolhas como os petilantes franceses ou os frizzantes italianos. Ele começou a investigar como fermentar suas uvas, a fim de manter essa efervescência em seus vinhos. Reynal, o primeiro vinho pérola fabricado na Espanha, foi o resultado de sua pesquisa. O sucesso foi imediato e foi muito além das expectativas: muito em breve, a Pinord começou a exportar seus vinhos para todo o mundo e a vinícola cresceu rapidamente. Eles estenderam a vinícola e aumentaram a produção. Foi durante esses anos que Marrugat Cavas foi criado usando o sobrenome da esposa de Josep Maria Teta, cuja família há muito estava ligada à produção de vinho na região de Penedès. Eles também começaram a fazer uma variedade de vinhos tranquilos, muscadelle e outras especialidades que compunham um portfólio muito amplo de vinhos, ganhando elogios da vinícola e fama internacional durante os anos cinquenta e sessenta. Foi nessa época que Pinord se tornou um dos pontos de referência da vinificação em Penedès. Nos últimos anos, a Bodegas Pinord ampliou sua gama de produtos e começou a produzir vinhos em outras denominações de vinhos na Espanha. Estes novos vinhos são todos feitos usando métodos de agricultura biológica.

Geração após geração, a filosofia da família Tetas pode ser resumida nas seguintes palavras: Tradição familiar, espírito pioneiro e inovador, amor pela terra e paixão por ótimos vinhos.

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