quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O que são "Bush Vines"?

 

O termo em inglês, “Bush Vines” ou “Bush Wines”, pode parecer distante para muita gente, até mesmo entre especialistas e enófilos, mas, traduzindo-o, “Vinhas Arbustivas” ou “Vinhos de Arbusto”, o termo pode parecer mais familiar, contudo, ainda assim, é um conceito distante, sobretudo para os brasileiros, apesar de termos e palavras populares no dicionário dos apreciadores da nobre bebida. Mas afinal de contas o que de fato significa “Vinhas Arbustivas”?

Dependendo do clima, do estilo do vinho, do solo e de outros fatores, a videira é podada de forma específica e adquire uma formação especial. A videira arbustiva é, portanto, um estilo de poda que, como o próprio nome indica, é em forma de arbusto e é um dos estilos de poda mais antigos do mundo. Geralmente tem um tronco curto e o topo é um tanto irregular e não como as vinhas de Bordeaux, por exemplo, que têm esse formato em "T" (cientificamente chamado Double Fuyot).

Vinhas de Bordeaux (Double Fuyot)

Mas por que alguém escolheria? Pois bem, com este formato a videira passa a ter quantas folhas forem necessárias para a sombra, para que o fruto não queime enquanto ajuda no amadurecimento gradual e adequado das uvas. Também ajuda a ventilar a videira evitando doenças como o bolor. Diante disso entende-se que as vinhas de arbusto são ideais para áreas com clima quente e muito sol, como o Ródano, África do Sul, Austrália e Grécia. Ao mesmo tempo, as raízes das vinhas arbustivas têm a capacidade de atingir até 20 metros de profundidade em busca de água. Isso os torna ideais para climas secos, bem como para áreas onde a irrigação é difícil ou proibida.

Bush Vines


Algumas realidades

Por outro lado, as vinhas arbustivas também apresentam algumas desvantagens. O mais importante deles é a incapacidade de realizar a colheita mecânica. Como resultado, é preciso muito mais trabalho (e dinheiro) e tempo para colher as uvas. Além disso, apresentam rendimentos mais baixos, o que em combinação com o anterior conduz a uma perda de dinheiro para o produtor (a menos que consiga vender os seus vinhos a um preço superior).

E de acordo com essa desvantagem o cenário das videiras arbustivas tem declinado nas regiões de Stellenbosch, Malmesbury e Paarl, regiões emblemáticas de produção de vinhos na África do Sul, segundo dados apresentados em 1991, por Archer, do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Stellenbosch. Na área de Stellenbosch, a porcentagem de videiras sendo cultivadas como videiras arbustivas diminuíram de 59% em 1971 para 38% em 1979 e 30% em 1987. De acordo com os dados de bloco SAWIS de 2012, 23% (excluindo blocos de um ano de idade) da superfície plantada com videiras em Stellenbosch foi cultivada como vinhas. Estima-se que 80 a 90% das uvas para vinho no distrito de Malmesbury (Swartland) eram cultivadas como vinhas no final da década de 1980 (Archer, 1991). Os dados de bloco SAWIS mais recentes mostram que 47% das videiras nesta área não são gradeadas.

Um dos motivos para o afastamento das vinhas de arbusto é provavelmente o objetivo de maiores produções viabilizado por sistemas de treliça, em conjunto com a maior disponibilidade de água para irrigação. Além disso, o foco na mecanização é cada vez maior e o fato de os processos de poda e colheita em cipós não poder ser mecanizado, impacta nas considerações dos produtores no momento do estabelecimento.

Status recentes

Os dados do bloco SAWIS de 2012 foram usados ​​para investigar o status atual das videiras arbustivas. Os plantios de um ano foram ignorados, visto que a maioria desses blocos são gradeados no segundo ano.

Aproximadamente 15% da superfície total plantada com videiras foi cultivada como trepadeiras. No que diz respeito às regiões, 91% das plantações de vinha em arbustos situavam-se em Malmesbury (6 404 ha; 47% da superfície regional), Stellenbosch (3 722 ha; 23% da superfície regional) e Paarl (3 449 ha; 22 % da superfície regional). De acordo com os dados do bloco, 54% do status de cipó arbustivo total era cultivado como vinhas de sequeiro. As trepadeiras são especialmente adequadas quando o vigor previsto é baixo; sob essas circunstâncias, o custo adicional de treliça muitas vezes não é justificado. Esses terrenos simplesmente não são capazes de realizar produções mais altas.

Nada menos que 67 castas são cultivadas como trepadeiras e a imagem abaixo mostra a superfície representada pelas castas mais importantes.

Cepas com um padrão de crescimento naturalmente vertical são mais fáceis de moldar e cultivar como trepadeiras. A experiência mostra que castas como a Shiraz, que têm brotos mais flexíveis, requerem mais insumos para o cultivo bem-sucedido como trepadeiras.

A Tabela abaixo indica que o segmento de videiras treliçadas em geral compreende videiras mais jovens (menos de 10 anos), com os produtores treliçando suas videiras em maior extensão. Nos últimos anos, mais plantios também têm ocorrido nas áreas de irrigação, onde o gradeamento de videiras é a norma.

Entre os 10% das vinhas de arbusto com mais de 30 anos, foram identificados vários blocos que estão produzindo vinhos com terroir excepcionais. A velha vinha de arbusto, Chenin blanc, em particular, alcançou destaque nos últimos anos e continuam surgindo excelentes exemplos desses vinhos complexos e únicos. A preços médios, no entanto, essas vinhas velhas não são sustentáveis.

O cultivo de uvas para vinho como vinhas de arbustos diminuiu e espera-se que diminua ainda mais como resultado da crescente pressão para mecanizar. Os produtores também devem buscar uma alta produção unitária, o que só é possível por meio de sistemas de treliça maiores (superfície foliar).

No entanto, as trepadeiras arbustivas continuam a ser uma opção em terrenos de menor rendimento (por exemplo, terras secas com teor de umidade do solo suficiente), onde um sistema caro de treliça não garante necessariamente produções mais altas. Muitas vezes, esse terreno permite videiras equilibradas com crescimento e produção moderados, a partir dos quais vinhos concentrados e de alta qualidade podem ser feitos. O desafio é, portanto, encontrar valor para esses vinhos nos mercados. Só então a icônica videira do mato será capaz de permanecer uma parte sustentável de nossa paisagem de vinhedos.

Alguns ligam as vinhas de arbusto ao cultivo biodinâmico e a vinhos de qualidade. Esta ligação não foi cientificamente comprovada, mas foi demonstrado que as vinhas são menos suscetíveis no Botrytis cinereal ou, em outras palavras, podridão cinza. Isso significa uma planta mais saudável sem a necessidade de usar muitos produtos químicos e é provavelmente por isso que ela é escolhida pelos defensores do cultivo biodinâmico.

Referências:

“WineLand”:https://www.wineland.co.za/cultivation-of-bush-vines-in-south-africa-the-current-situation/

“Blog Botilia”: https://blog.botilia.gr/en/bush-vines-en/













terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon 2014

 

Falar e degustar um vinho da Concha y Toro, a gigante vinícola das américas e do mundo, pode parecer simples, fácil e até, para alguns críticos ferrenhos deste produtor, banal, mas não sabem o quanto é maravilhoso, o quanto é prazeroso. Lembro-me, com grande nostalgia, dos tempos de outrora quando comecei a degustar os vinhos produzidos com castas, com uvas vitis vinífera, e a importância dos vinhos da Concha y Toro, mesmos que tenham sido os seus rótulos básicos, para a minha história de enófilo, para essa tão importante transição das uvas de mesa para os vinhos finos. Talvez seja fácil por ele ter tido essa representatividade em minha vida, simples porque é nobre, mas, vos digo, que não é nada banal, muito pelo contrário, meus bons amigos, é único, é especial. Essa visão preconceituosa, sobretudo dos tais “formadores de opinião”, de que, pelo simples fato é uma indústria, são vinhos produzidos em larga escala e que, por conta disso, são considerados vinhos pouco expressivos e que não fidelizam as características de seus terroirs e de suas cepas. Não se enganem, vinho é vinho! Existem vinhos bons, ruins, com inúmeras propostas em todas as circunstâncias, sejam vinhos de garagem, vinhos de autor, orgânicos, de produção de larga escala.

E o meu ápice com a seminal Concha y Toro foi com um dos seus mais emblemáticos e importantes vinhos que, desde 1976, é sinônimo de qualidade e consistência no que tange a sua tipicidade: Marquês de Casa Concha! Um nome vultoso, como a sua bebida, um vinho complexo, estruturado, poderoso e que tem no seu enólogo, Marcelo Papa, um alquimista, um idealizador que opera milagres com as suas mãos e alma, inteiramente entregue à concepção e produção desses vinhos que representam as regiões mais importantes do Chile.

E o vinho que degustei e gostei veio do Chile, é claro, da região do Vale del Maipo, o Marquês de Casa Concha, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2014. Um vinho complexo, estruturado, potente e com um potencial de guarda que não pude esperar. O vinho me chamava da adega e hipnotizado cedi aos seus encantos. Com três anos de vida a degustação se fez necessária e urgente às minhas experiências sensoriais. E, antes de falar nele com requintes de detalhes, falemos um pouco do Vale del Maipo, da sua história.

Vale del Maipo

O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e caves do século 19. Trata-se de uma área chamada, muitas vezes, de “Bordeaux da América do Sul”, onde o Cabernet Sauvignon é, sem dúvidas, o exemplar mais conhecido. Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central, onde a faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo, foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente, tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.

Vale do Maipo

A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo, Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando de altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as noites frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com maiores índices de acidez. Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é uma sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e elegantes. A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais cultivada na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta beneficiada graças as temperaturas mais quentes. Por fim, a sub-região do Bajo Maipo está situada em torno das cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde apesar de existir o cultivo das vinhas, encontra-se com maior facilidade diversas vinícolas. Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente, de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.

A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações: Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO), Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO), Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).

E agora o vinho!

Na taça apresenta um belíssimo vermelho rubi intenso, escuro e muito brilhante, sem nenhuma transparência, caudaloso e com uma abundante concentração de lágrimas, finas e que teimam a se dissipar das paredes do copo.

No nariz sobressaem as notas as notas de frutas negras maduras se destacando a ameixa e amora, mas, por outro lado, o frescor se fazia presente, até pela sua jovialidade evcom toques de baunilha e de especiarias, sobretudo as picantes.

Na boca o vinho confirma o olfato, revelando-se frutado, sendo potente e estruturado, as especiarias também aparece no palato, com taninos gulosos e pronunciados e, como todo jovem robusto, ainda um pouco arredio, mas decidi desafiá-lo e acompanhei as suas modificações em taça. A acidez é agradável, um toque amadeirado bem integrado, mostrando seu estágio de 16 meses em barricas de carvalho, além do tabaco e um persistente final longo e cheio.

Como tratar com desdém e rejeição um vinho com essa estirpe? Um vinho voluptuoso, de marcante personalidade que fideliza, que retrata os mais reveladores e tradicionais, mas com uma assinatura arrojada e contemporânea, terroirs do Chile. É fácil, é comum, é simples falar dos vinhos da Concha y Toro? Pode não ser novidade, o Marquês de Casa Concha pode ser um vinho conhecida deveras nas terras brasileiras, mas nunca podemos negligenciar a sua importância, a sua qualidade e o impacto avassalador aos nossos paladares e olfatos. Um vinho nobre, simples, a simplicidade da nobreza nos seus mais potentes goles que saboreia a alma. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre o Marques de Casa Concha:

Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título “Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques de Casa Concha.

Don Melchior de Santiago Concha y Toro

Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.

Sobre a Concha Y Toro:

Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho, isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966, onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990 veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre outras.

Mais informações acesse:

http://www.marquesdecasaconcha.com/?lang=pt-pt

https://conchaytoro.com/holding/

Fontes de pesquisa:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/colchagua-chile/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.

Degustado em: 2017





sábado, 2 de janeiro de 2021

Bom Caminho Rosé 2015

Tem regiões e países que definitivamente não podemos negligenciar, não podemos deixar de comprar e degustar. Estive em minhas vitais incursões em supermercados sem muita expectativa para encontrar nada de atrativo nos quesitos custo X qualidade, mas que já que estava por perto, fui conferir. Olhando cada canto das gôndolas avistei um rosé, um pouco escondido, é verdade, mas estava, mesmo assim com um preço em destaque, um valor para um rosé no Brasil, interessante. Aproveito aqui para deixar um desabafo, como enófilo, dos altos e abusivos valores dos vinhos rosés neste país! Vinhos que, em sua maioria, tem a mesma proposta frutada, leve e com valores descabidos de um para outro. São vinhos com a cara do Brasil! Frescos, leves e descompromissados e custar tão caro, demasiadamente alto! Mas não vou entrar, pelo menos neste momento, em requintes de detalhes e falar do vinho, esse sim em minucias, do vinho que avistei. Era um vinho da Bairrada! Rótulos que chegam pouco ao Brasil, a oferta é muito baixa! Vai entender! Uma região tão conhecida e emblemática de Portugal não chegar por aqui. Então aliei o preço, aceitável, mas que poderia baixar um pouco mais, com a região e não hesitei em comprar.

Mas o que me deixou com receio foi a safra: 2015. Uma safra que, para vinhos rosés, é demasiadamente “antigo”, porém assumi o risco, afinal é a Bairrada! Preferi não demorar muito para desarrolhá-lo. Então sem mais delongas, o vinho que degustei e gostei (e que vinho surpreendente!) veio, como disse, da tradicional Bairrada, um rosé (Meu primeiro rosé da região!), e se chama Bom Caminho com um blend explosivo das castas Baga (60%), Touriga Nacional (30%) e Cabernet Sauvignon (10%) da safra 2015. Apesar de algumas novidades que esse vinho trouxe para a minha história de enófilo não é a primeira vez que degusto um vinho dessa interessante linha de rótulos. Degustei, sob as mesmas circunstâncias, um maravilhoso espumante chamado Bom Caminho Extra Brut Baga 2013. Mas eu não havia me atentado para o significado do nome dessa linha de rótulos: “Bom Caminho”. E a resposta estava mais próxima do que eu esperava: no contra rótulo. E, para não perder o fio da meada da história, falemos um pouco mais da grande Bairrada.

Bom Caminho!

“Segunda-feira, dia de São Marcos, foi dita missa na Mealhada; atravessámos Avelãs, vila de cerca de 80 casinhas; Azenha, de 8 casinhas; Aguada de Cima, aldeia de poucas casas...”A 25 de abril de 1594, Giovanni Battista Confalonieri do Arquivo Secreto do Vaticano, a passagem pela Bairrada da Peregrinação de D. Fábio Bondi, Patriarca de Jerusálem, de Lisboa a Santiago de Compostela. Este relato, bastante pormenorizado, é a base da actual marcação do Caminho Português a Santiago. As Caves são João, estando situadas no Caminho, prestam tributo a todos os Peregrinos que, repetindo esta viagem, continuam a passar à nossa porta e, ao criar este vinho, símbolo de tradição, persistência, vontade e fé que os move, desejar-lhes Bom Caminho!

Texto extraído do contra rótulo do vinho e que fala sobre a origem de seu nome: “Bom Caminho”.

A Bairrada

A Região da Bairrada situada na Beira Litoral, entre Aveiro e Coimbra, em pleno centro de Portugal, é uma região plana que se desenvolve ao longo da faixa marítima, sendo o seu clima tipicamente atlântico, com invernos amenos e chuvosos e verões suavizados pelos ventos provenientes do mar.

Bairrada

Data do século XIX a transformação da Bairrada numa região produtora de vinhos de qualidade, apesar de a produção existir desde o século X. O primeiro resultado prático dos investimentos realizados na altura, para o melhoramento das técnicas de cultivo e de produção de vinho, foi a criação do vinho espumante no ano de 1890. A Bairrada foi uma das primeiras regiões de Portugal a produzir vinhos espumantes e é, ainda hoje, considerada como a região mais importante do país, no que concerne à produção deste tipo de vinho. O clima fresco e húmido e os solos argilo-calcários e arenosos, favorecem a sua elaboração, proporcionando uvas de elevada acidez e baixa graduação alcoólica, resultando em vinhos frescos, aromáticos e com excelente paladar. A Região da Bairrada é também rica na produção de vinhos brancos e tintos, elaborados a partir de castas tradicionais e internacionais. A casta dominante na região é a Baga, normalmente plantada em solos argilosos que corresponde a pelo menos 50% das uvas plantadas na região; uma variedade tinta cujos taninos são muito ricos e presentes, carregados de cor, sendo equilibrados e que gozam de uma longevidade elevada. Quanto às brancas, a que mais se destaca é a Fernão Pires, que lá recebe o nome de Maria Gomes, cujos vinhos são aromáticos e florais. Segundos especialistas, as tintas de maior importância para a região são a Baga, Touriga Nacional, Castelão e Aragonez. Já pelas brancas, as representantes de maior potencial são a Maria Gomes, Bical, Arinto e Rabo de Ovelha. Além dessas, a região recentemente foi liberada para cultivar junto com as castas portuguesas, castas estrangeiras, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Pinot Noir. Tudo isso para incrementar a exportação dos vinhos portugueses, para torna-los competitivos no mercado. Por fim, não há como falar da Bairrada sem falar da produção de espumantes, afinal ela é a região mais antiga e importante de Portugal na elaboração deste tipo de vinho – os espumantes são produzidos lá desde 1890, e pelo método clássico, que dão muito mais sofisticação e fineza aos vinhos.

Rota vitícola da Bairrada

Nas últimas décadas este processo de reestruturação chegou a fronteiras cada vez mais distantes. O emprego agrícola não resistiu às novas atrações urbanas, a indústria exigiu maiores centralidades e os serviços prosseguem ainda num crescimento que está para lá do nosso horizonte atual. Daí a possibilidade de lançar olhares em múltiplas direções e das visões se entrecruzarem, umas vezes parecendo dar respostas, outras apenas interrogando. A Bairrada é ainda um palco privilegiado das transformações que têm ocorrido em Portugal. Resume a mesma vitalidade social, idênticas potencialidades naturais, uma vocação comum para descobrir e sonhar, tudo em tamanho pequeno. No entanto só alguns conseguem penetrar nos seus segredos e desfrutar de todo o seu encantamento.

E finalmente falemos do vinho!

Na taça apresenta um curioso salmão tipo cor de cebola, mais intenso, fechado, talvez por conta do tempo de safra, com quase 6 anos de vida, mas também pela predominância da casta Baga. Foi perceptível, na primeira taça, um gaseificado, mostrando que ainda está vivo, o famoso frisante, além de uma quantidade inusitada de lágrimas, mostrando a influência do blend com castas de natureza encorpada, como, a Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e a própria Baga.

No nariz já não tem aquela profusão de frutas vermelhas, típicas em vinhos rosés, devido ao tempo de safra, mas se nota ainda as frutas vermelhas como groselha, cereja. Sente-se também um aroma de algo adocicado, algo que não consegui identificar, mas adocicado. O frescor ainda é percebido.

Na boca se reproduz as impressões olfativas quanto às frutas vermelhas e as notas adocicadas. Mostra personalidade, certo corpo e estrutura, mas muito equilibrado com ainda uma leveza, um frescor, apesar da baixa acidez. A sua estrutura se deve, sem sombra de dúvida, as castas que compõe o blend, tendo um final marcante e persistente.

Parece que o tempo só fez bem a esse belíssimo rosé, ele ainda tem o frescor e apesar dos seus 6 anos de vida, mostrou, além da leveza típica de um vinho rosé, vigor, personalidade, algum corpo para um rosé, afinal, as castas que o compõe são, por natureza, encorpadas e que acredito ter garantido um pouco da sua longevidade acima do normal. E sim, é um vinho de corpo leve a médio, e é deveras marcante em todas as sua etapas sensoriais. A Bairrada, mais uma vez, me trouxe, além das novidades, as gratas surpresas. Que rosé maravilhoso, como há muito tempo não degustava. Por mais rosé, por mais Bairrada, por mais Portugal! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Caves São João:

Fundadas em 1920 pelos irmãos José, Manuel e Albano Costa, as Caves São João são uma empresa familiar que, a princípio, se dedicava à comercialização de vinhos finos do Douro e licores. É hoje a empresa familiar mais antiga ainda em atividade no concelho de Anadia. Nos anos 30, com a interdição da elaboração dos vinhos do Porto fora de Vila Nova de Gaia, a Empresa começa a comercializar vinhos de mesa da Bairrada. Nessa altura, inicia também a produção de espumantes naturais, pelo método “champanhês”, sendo de destacar, nesta fase, o importante papel do enólogo francês Gaston Mennesson. Dá início à exportação de vinhos para o mercado brasileiro e, pouco tempo depois, para as colónias portuguesas em África. No final da década de 50 nasce uma das mais célebres marcas de vinhos da região da Bairrada – o “Frei João” – e, um pouco mais tarde, uma marca da região demarcada do Dão, o “Porta dos Cavaleiros”. Com a designação “Reserva”, iniciada pelas Caves São João, esta inova no mercado dos vinhos, utilizando rótulos de papel revestidos a cortiça natural. As Caves São João adquirem a Quinta do Poço do Lobo, propriedade rústica com cerca de 37 hectares, situada na pequena localidade de Pocariça no concelho de Cantanhede. A Quinta foi, então, totalmente replantada com castas selecionadas e rigorosamente parceladas. Com as uvas ali colhidas, a empresa iniciou a produção do vinho “Quinta do Poço do Lobo - Bairrada”, um Bairrada Tinto com uvas das castas Baga, Moreto e Castelão; o “Quinta do Poço do Lobo - Cabernet Sauvignon”, um vinho varietal com a casta de maior prestígio em todo o mundo; um vinho branco elaborado com a casta Arinto e o “Espumante Quinta do Poço do Lobo”, um espumante com uvas das castas Arinto e Chardonnay. Hoje em dia, e depois de alguns investimentos na área da vinificação e controlo de qualidade, as Caves São João encontram-se preparadas para fazer face aos futuros desafios a nível da produção, sempre com a preocupação de acompanhar a evolução dos mercados e os gostos de consumidores cada vez mais exigentes e atentos.


Mais informações acesse:








 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Palacio de Treto Malbec e Cabernet Franc 2011

 

É de suma importância termos referência quando o assunto é a compra de um vinho. Claro que você conhecendo a procedência de uma região, de um produtor, da história de um rótulo garante a qualidade de um vinho e o retorno deste a nós enófilos. Mas, não querendo cair na contradição ou gerar polêmicas sem nenhuma estrutura argumentativa, parto do pressuposto de que escolher vinho, tomar a decisão da compra de um rótulo, é correr, assumir riscos e, se você quer sair da zona de conforto, o risco precisa ser colocado em pauta nesses momentos. Talvez essa afirmação ganhe suporte no me atual estado de espírito que é a busca por novos rótulos, a descoberta de novos terroirs, de novas regiões, de novas castas, de novos e pouco conhecidos produtores, pois a partir daí podemos nos dar o luxo de ter novas experiências sensoriais, afinal, o garimpo e a viagem a um universo, ainda inexplorado, logo vasto, do vinho, temos de nos dar o luxo de nos arriscar, mas com método, com toda a prudência de que podemos dispor.

E neste último dia do terrível e difícil ano de 2020, nada mais importante para qualquer enófilo do que degustar um vinho especial, relevante, consistente para saciar o nosso prazer e alimentar a alma, trazendo a tranquilidade e a força necessária para continuar seguindo com força e disposição nos dias que seguirão pela frente. Um vinho que costumo chamar e me permitem “roubar” um termo inerente ao Rock n’ Roll, outro amor de minha vida, de “underground”, ou seja, um vinho pouco conhecido, um vinho pouco badalado, porém cheio de novidades para o meu caminho de aprendizado no mundo maravilhoso do vinho. Um vinho inusitado em alguns aspectos que definitivamente me fez olhar com olhos ávidos de interesse em degusta-lo.

Um vinho como tem de ser: poderoso, estruturado, complexo, que inspira que traz todos os conceitos atrelados, é claro, às características do vinho, mas também ao estado de alma, da força, da resistência humana aos revezes da vida. O último vinho que degustei e gostei do ano de 2020 vem de uma região da Espanha conhecida por abrigar as histórias do personagem icônico de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha, que Castilla La Mancha, e se chama Palacio de Treto, com um inusitado, para mim, corte de castas oriundas da França, Malbec e Cabernet Franc, da safra 2011.

E nada mais inspirador, já que estamos falando de superação, disposição e resistência aos obstáculos difíceis da vida, do que mencionar Dom Quixote que lutou contra os moinhos de vento que, nas entrelinhas revela a capacidade humana de superar os desafios e lutar destemidamente contra eles sem esmorecer. E o produtor, por uma grata coincidência, a Pago Casa del Blanco, usa o personagem da terra para enaltecer seus rótulos. E já que falei de Castilla La Mancha, nada mais prudente e necessário falar sobre essa região que, apesar de não ter tanto sucesso como Rioja, por exemplo, é uma das mais importantes, por corresponder pelo menos 50% da produção vitivinícola da Espanha.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

Castilla La Mancha

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.


Castilla La Mancha e seus DOs

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora o vinho!

Na taça tem um lindo e imponente vermelho rubi intenso, escuro e muito brilhante, mostrando vivacidade, com lágrimas finas e abundantes, teimando em se dissipar das paredes da taça.

No nariz uma explosão de frutas negras tais como amora, ameixa, groselha negra, com notas evidentes de especiarias, um toque herbáceo e terroso.

Na boca é seco, encorpado, estruturado, se reproduz as notas frutadas, com taninos presentes, gulosos e envolventes, mas redondo, com uma boa acidez, revelando que o vinho, apesar de quase 10 anos de vida, está vivo, com frescor e pleno. Tem um final persistente e frutado.

Palacio de Treto definitivamente traz toda a aura do velho cavaleiro Dom Quixote, com a sua inspiração, a síntese da persistência e força, mesmo diante das adversidades e obstáculos que são impostos diante de nós. Um vinho estruturado, persistente, de grande personalidade e complexidade, diante dos seus quase 10 anos de vida, mostrando-se ainda pleno e cheio de vida, com muita fruta no aroma e no paladar. Que o inusitado traga a nossa vida grandes novidades, que traga grandes e expressivas experiências sensoriais, que nos revele o quão vasto é o universo do vinho em todas as suas nuances. Que o ano vindouro traga novos rótulos, novas experiências e muito aprendizado que só a nossa nobre poesia líquida pode nos proporcionar. Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho, sendo seu alto percentual quase que imperceptível. Harmonizou maravilhosamente com um churrasco tradicional.


Sobre a Pago Casa del Blanco:

Pago Casa del Blanco é uma vinícola de propriedade familiar, com mais de 150 anos de história e uma tradição vitivinícola, embora breve, mas intensamente ativa, que em 2010 conseguiu alcançar a mais alta categoria na classificação de vinhos: a Denominação de Origem Protegida Pago Casa del Blanco. A certificação “Vinos de Pago” exige um esforço considerável e conformidade com alguns regulamentos de qualidade muito rigorosos, mas ratifica e garante a singularidade e a personalidade dos vinhos originários e produzidos em um terroir único e exclusivo. Os 150 hectares de vinhedos próprios estão localizados na área municipal de Manzanares (Ciudad Real) e desfrutam de um microclima e dos benefícios de um solo muito específico, assim como uma característica incomum: uma concentração de lítio, um oligoelemento com propriedades que melhorar o sistema imunológico, mais do que o normal, que é transferido para os vinhos. Assim sendo, a equipe do Pago Casa Blanco é composta por vários profissionais e familiares, incluindo Antonio Merino como enólogo, e é chefiada por Joaquín Sánchez. Mostrando dessa forma um grande respeito ao meio ambiente, cultivam as variedades brancas Sauvignon Blanc, Chardonnay, Moscatel de Grano Menudo (Muscat Blanc à Petits Grains) e Airén; e os vermelhos, Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Petit Verdot, Malbec, Cabernet Franc e Garnacha. A vinícola, enfim, de design e construção próprios e completamente integrados ao ambiente natural, foi equipada com a mais moderna tecnologia que combina perfeitamente com a tradição e, após um paciente e repouso prolongado, os vinhos são produzidos sob a denominação de suas três marcas: Quixote e Lítio para tintos e Castillo de Pilas Bonas para brancos.


Mais informações acesse:

http://pagocasadelblanco.com/index_es.htm

Referências de pesquisa:

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

Blog “VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

Center Gourmet: https://centergourmet.com.br/palacio-de-treto-malbec-cabernet-franc-2011/

 

 

 

 

 






quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Pé de Cabra tinto 2019

 

Não sou muito afeito a esses métodos de autoajuda que tem por aí com essas pessoas de sucesso e deveras “perfeitas” que, por intermédio de livros best sellers e vídeos com milhões de visualizações, elaboram teses e métodos que dão o mapa da mina da felicidade. Primeiro que não existe felicidade, mas “surtos” de alegria. Mas não quero ficar aqui proferindo filosofias de bar e buscar respostas com caminhos complexos, mas mostrar que momentos simples e conceitualmente banais podem sim, trazer alegrias para a sua vida, te proporcionar prazeres que podem ser preponderantes para a sua vida, permitindo que você siga, rejuvenescido o seu caminho, superando os obstáculos que a vida nos impõe.

Agora vem aquela perguntinha básica: Por que toda essa história? Porque o vinho, o vinho nosso de cada dia pode te entregar momentos melhores na sua vida, trazer o elixir para a sua alma, a resposta para muitas dúvidas, ou simplesmente te proporcionar o prazer que você deseja para aquele momento em que você só precisa relaxar, descansar, depois da batalha cotidiana. Uma vez eu ouvi ou li, não sei ao certo, de que da simplicidade vem a nobreza e essa frase nunca foi tão relevante para o universo do vinho e com esse vinho de hoje, a frase personifica perfeitamente a sua proposta.

Um vinho simples, descontraído, informal, ligeiro, mas que traz toda a relevância para o momento! Um vinho que não sintetiza apenas a tipicidade da região a qual foi produzido, que foi cultivado, com todo o apelo regionalista, que revela todas as características de um povo, de uma cultura, de suas cepas, do seu terroir, mas o que proporciona para aquele que enche e ergue, com prazer, a taça: o prazer, a alegria de celebrar esse momento de degustar um vinho. E esse vinho que degustei e gostei traz todo o conceito, mesmo que nas entrelinhas, de força, de prazer diante dos obstáculos difíceis da vida, de todos os seus infortúnios e reveses. Falo do vinho “Pé de Cabra”, um IG (Indicação Geográfica) da emblemática região portuguesa do Tejo, com um blend composto pelas castas Tinta Roriz (35%), Trincadeira (35%) e Castelão (30%). E, além de todas essas questões espirituais e existenciais, esse vinho marca uma estreia na minha vida de enófilo: É o meu primeiro IG (Indicação Geográfica) do Tejo. Então convém falar, até mesmo para entender a proposta de vinho que estamos degustando, um pouco da região, tradicional de Portugal, e as suas classificações, bem como os seus conceitos.

Os vinhos do Tejo

A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21 municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham, influenciando o clima e o terroir.

Tejo

Lá, os dias bastante quentes asseguram a maturação da fruta. As noites, frescas e úmidas, diminuem o estresse hídrico das videiras, dando às uvas características que permitem fazer vinhos de grande qualidade e com potencial de guarda. Dos 12.500 hectares de vinha, 2.500 dão origem a vinhos com denominação de origem DOC do Tejo e 5.000 a vinhos com certificação IG Tejo. Todos são reconhecidos e apreciados pelo equilíbrio, frescor e aromas frutados. Resultam de uma combinação harmoniosa de sábias e velhas tradições com os novos conhecimentos de uma jovem e qualificada geração de viticultores e enólogos. O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de Portugal, oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para todos os gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após safra, atingiu, no ano passado, os 23,3 milhões de litros. Nos brancos, o perfil traduz-se em vinhos muito aromáticos, frescos e elegantes. Os tintos são muito equilibrados, frescos e com taninos distintos. No nariz, sobressai a fruta.  Já nos tintos de guarda a madeira revela-se de forma discreta. A região do Tejo produz também excelentes vinhos rosés, espumantes, frisantes, e ainda licorosos e colheitas tardias.

Por denominação de origem "DO", entende-se o nome geográfico de uma região, que serve para designar ou identificar um produto vitivinícola originado de uvas provenientes dessa região e cuja qualidade ou características se devem, essencialmente ou exclusivamente, ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos e cuja vinificação e elaboração ocorrem no interior daquela área ou região geográfica delimitada. Por indicação geográfica "IG", entende-se o nome de um país ou região, ou de uma denominação tradicional, associada a uma origem geográfica, ou não, que serve para designar ou identificar um produto vitivinícola originado de uvas daí provenientes em pelo menos 85%, no caso de região ou de local determinado, cuja reputação, determinada qualidade ou outra característica podem ser atribuídas a essa origem geográfica e cuja vinificação ocorra no interior daquela área ou região geográfica delimitada.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um lindo vermelho rubi intenso, mas com entornos violáceos e uma abundante concentração de lágrimas finas, mas que logo se dissipam.

No nariz revela uma explosão de frutas vermelhas e negras, onde se destacam amoras e framboesas, com notas, diria, de especiarias, de ervas, e até de tabaco.

Na boca é seco, confirma as impressões olfativas no que tange a fruta, tendo ainda um bom corpo, mostrando uma personalidade marcante, mas macio, redondo, equilibrado, fácil de degustar. Tem taninos presentes, mas domados com acidez correta e um final persistente e frutado.

Um vinho surpreendente! Tem o corpo da Tinta Roriz, as especiarias e toque herbáceo da Trincadeira e a fruta da Castelão. Um bom percentual entre as castas nesse blend. Um excelente vinho que, mesmo com uma proposta mais básica, mais simples, revela a sua imponência, revela a sua personalidade. Um vinho com bom corpo, mas fácil de degustar, redondo, equilibrado. O vinho entrega além do que vale, além de sua proposta, com uma boa vocação gastronômica, mas que, dada a sua descontração, pode ser degustado sozinho e de preferência com amigos para celebrar a vida! E por falar em vida, o nome do vinho é “Pé de Cabra” e faz menção a aquela ferramenta que se usa para abrir tampas e objetos pesados usando a força de alavancas. Ou seja, pode ser entendido como um vinho que nos dá forças para seguir a vida com alguma alegria, mesmo que fugaz, e para superar os obstáculos difíceis da vida. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil:

Não muito distante do sopé da vertente poente da Serra de Montejunto, entre Vilar e Martim Joanes, está instalada a Quinta do Gradil. Considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do Cadaval, a Quinta do Gradil tem uma forte tradição vitivinícola que se prolonga desde há séculos. A propriedade é composta por uma capela nobre ornamentada por um torreão artisticamente decorado, um núcleo habitacional, uma adega e uma área agrícola de 200 hectares ocupados com produções vinícolas e frutícolas. A Quinta do Gradil foi adquirida, nos finais dos anos 90, pelos netos de António Gomes Vieira, precursor da tradição de vinhos na família desde 1945. Os novos proprietários iniciaram, em 2000, o processo de reconversão de toda a área de vinha primando por castas de maior qualidade. A adega sofreu melhoramentos, estando projetada uma reformulação profunda nos próximos 2 anos, e as cocheiras recuperadas deram lugar a uma sala de tertúlias. O palacete e capela, em fase muito avançada de degradação aquando da aquisição da Quinta pelos novos proprietários, foram limpos e contam agora com um projecto ambicioso de recuperação, sendo que a herdade tem marcas históricas seculares e constitui um marco arquitetônico significativo. As mais antigas referências documentais encontradas sobre a Quinta do Gradil remontam ao final do século XV, num documento Régio. Em de 14 de Fevereiro de 1492, data do documento, D. Martinho de Noronha recebeu de D. João II a carta de doação da jurisdição e rendas do Concelho do Cadaval e da Quinta do Gradil. Por ocasião da ascensão de D. Manuel I ao trono português e a sua atuação a favor dos membros da Casa de Bragança, a Quinta do Gradil torna a ser referenciada na confirmação de doação concedida por D. Manuel I a D. Álvaro de Bragança, irmão mais novo do 3º Duque de Bragança, D. Fernando II, que acusado de traição foi mandado degolar por D. João II, em 1483. A Quinta terá sido adquirida pelo Marquês de Pombal por ocasião do movimento que a partir de 1760 levou à ocupação de terras municipais, admitindo-se que já na altura contasse com o cultivo de vinha, fator que terá sido decisivo para o estadista que criou a Companhia das Vinhas do Alto Douro. Manteve-se na pretensa da família até meados do século XX, quando foi comparada por Sampaio de Oliveira. Já nos finais dos anos 90 que os atuais proprietários, a família Vieira, adquirem a herdade.

Sobre a Parras Wines:

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras. Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada. Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.quintadogradil.wine/pt/

https://www.parras.wine/pt/

Referências de pesquisa:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/entre-na-regiao-dos-vinhos-do-tejo_12582.html

“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/






segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Maia Merlot e Ancellotta 2014

 

Tão bom quanto as degustações são as histórias proporcionadas pelos rótulos que escolhemos. E como toda boa história tem que trazer conhecimento, um pouco da cultura do vinho. É isso! Essa é a melhor forma de democratizar a cultura do vinho, disseminar a importância de se degustar vinho, de saber degustar o vinho, da importância, entre outros aspectos, para a qualidade de vida que esta bebida proporciona. Mas, sem mais delongas, a história desse rótulo que degustei trouxe algumas transições importantes para a minha vida de enófilo e a importância que esses momentos trouxeram de relevante e que, até hoje, estou colhendo. Devo lembrar-me do meu primeiro festival, do meu primeiro evento de degustação que foi em uma cidade praiana, do Rio de janeiro, chamada Rio das Ostras. Recebi a informação de algumas pessoas que moravam próximo à cidade e que sabiam que eu apreciava vinhos, isso em 2015.

Não hesitei e logo comprei o ingresso e, como eu morava distante do local do evento, me programei para me hospedar em uma das inúmeras pousadas da cidade turística e conhecida nacionalmente. E chegado o dia do festival de degustação, logo adentrei o local, muito bonito, amplo e ornamentado com o tema da nossa nobre bebida, ouvi alguns comentários muito elogiosos acerca de um rótulo nacional, dizendo que, entre outros assuntos, que o vinho ganhara o prêmio de melhor nacional degustado pelos especialistas e pela imprensa especializada e que também ficou entre os dez melhores de todos os vinhos que estavam sendo ofertados para degustação e venda no evento. Claro que não podia deixar de degustar esse tão aclamado rótulo e logo quando entrei no local do evento, não pude deixar de priorizar o estande do vinho e rapidamente estava de frente para o mesmo! E logo descobri, graças ao demonstrador, muito solícito, atencioso e educado que o vinho era da famosa Boutique Lídio Carraro.

O vinho que degustei e gostei veio de uma região, no Rio Grande do Sul, pouco conhecida chamada Encruzilhada do Sul, mas que está crescendo em representatividade, que se chama Maia, um blend composto pelas castas: Merlot, oriundo de duas parcelas diferentes e a emblemática casta italiana, a Ancellotta e a safra é de 2014. Um corte inusitado, mas que revelou uma simbiose muito interessante entre corpo e a fruta, a maciez e a personalidade, mas os detalhes sensoriais do vinho ficam para depois, porque agora tem uma curiosidade muito interessante. O vinho “Maia” foi uma tiragem limitada da Lídio Carraro para homenagear o Sr. Maia, um português que veio para o Brasil e que fora o fundador da hoje Adega de Vinhos Cocoricó, conhecida e tradicional loja de vinhos  instalada na cidade de Rio das Ostras e que promoveu o evento de degustação que eu participei. A Vivian Maia, hoje a administradora da loja e avô do Sr. Maia, também serviu de inspiração por ser apaixonada pelos vinhos, o que herdou de seu avô.

Loja Cocoricó em Rio das Ostras

Mas antes de falar do vinho, falemos um pouco da região de Encruzilhada do Sul, hoje tão importante para o Rio Grande do Sul e para o Brasil e que está crescendo em importância.

Encruzilhada do Sul

Encruzilhada do Sul é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, localizado no Vale do Rio Pardo. O primeiro nome foi Santa Bárbara de Encruzilhada. No decorrer dos anos de 1715 até 1766 os primeiros habitantes instalaram-se no Capivari, região que hoje fica a alguns quilômetros da cidade. A região é considerada como um novo pólo vitivinícola do Brasil, com um terroir diferenciado, que tem produzido vinhos de extrema qualidade e autenticidade. Hoje, o município, que era chamado de a "Terra da Ovelha", já é reconhecido como a "Terra da Ovelha e do Vinho". Descoberto há cerca de 10 anos, o clima e solo tem se mostrado ideais para o cultivo de uvas varietais destinadas à produção de vinhos finos.


Encruzilhada do Sul

O município conta com mais de 360 hectares de vinhedos, com o cultivo de uvas inéditas no Brasil, como as cepas de origem europeia, como a Tempranillo, Teroldego, Touriga Nacional e Barbera. Segundo a Associação Brasileira de Someliers (ABS) e outros críticos especializados, os vinhos originários do município são uma grande promessa nacional. São terras que podem gerar vinhos com mais de 15% de álcool, semelhante em estrutura aos originários do Nappa Valley, na Califórnia (EUA). A história do vinho em Encruzilhada do Sul deve um tributo a um homem chamado Ivo Osório Mendes, conhecido como “Tio Ivo”. Ele era Técnico Agrícola, e já nas décadas de 1940 e 1950 trabalhava com genética de trigo, na Estação Experimental de Encruzilhada do Sul. Na década de 19880, já aposentado do Estado, implantou o Campo Experimental da extinta COTRENSUL, Cooperativa Tritícola de Encruzilhada, e lá implantou alguns parreirais, com mudas trazidas da Serra Gaúcha.

E agora o vinho!

Na taça conta um vermelho rubi escuro, profundo e quando servida a bebida na taça, se revela caudalosa e que tinge de um vermelho forte o copo, com lágrimas grossas e abundantes.

No nariz tem um frutado evidente, mas sem soar enjoativo, frutas vermelhas em compota, frutas negras também, com um toque de especiarias, diria um destaque para algumas ervas, além de torrefação, algo de café. Não me recordo se o vinho passou por barricas de carvalho, afinal não fora informado pelo produtor.

Na boca é vigoroso, potente, mas a fruta o torna fresco e jovial, graças ao percentual da Merlot, revelando uma maciez, mas com uma personalidade marcante a quem credito a Ancellotta, bem como a sua coloração. Tem taninos presentes e gulosos, com uma boa acidez que também lhe garante frescor e vivacidade com um final persistente e retrogosto frutado.

Um vinho estruturado, mas macio, fácil de degustar, mostrando um inusitado e improvável assemblage, mas que conferiu ao vinho grande versatilidade e uma grande vocação gastronômica que pode harmonizar com refeições mais simples e direta a pratos mais consistentes e condimentados. Um vinho que, apesar de lote limitado, deveria se reeditado e disseminado a todos os amantes do vinho, afinal, rótulos emblemáticos precisam ser democratizados e atingir a todos os rincões desse país. Que vinhaço! Uma surpresa retumbante! E mesmo com seus robustos 14% de teor alcóolico, o mesmo estava muito bem integrado ao conjunto do vinho. Mais um ponto que define o vinho: equilibrado e redondo!

Sobre a Lídio Carraro:

Em 1875 chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes italianos vindos da região do Vêneto e, entre eles, a família Carraro, que se estabeleceu em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. O negócio principal da família sempre foi o cultivo de uvas e tradicionalmente elaborava um pequeno volume de vinhos para o consumo próprio. Na década de 70, Lidio Carraro se destacou como um dos líderes da implantação das vitis viníferas na Serra Gaúcha, sendo um dos pioneiros no cultivo da variedade Merlot. A partir dos anos 90, iniciou uma busca obsessiva por encontrar e desenvolver melhores vinhedos motivados pelo amor pela viticultura e pela vontade de um dia reconhecer nos vinhos todo o trabalho dedicado às videiras. Ainda na década de 90, após seu estágio em uma vinícola no curso de Engenharia de Alimentos, Juliano Carraro ingressa na faculdade de enologia e sua vontade de elaborar vinhos contagia toda a família - inclusive o irmão mais novo, Giovanni Carraro, que anos mais tarde também se forma enólogo e atualmente é o responsável pelos vinhos Puristas da Vinícola.

Em 1998, após vários estudos, Lidio converte sete hectares no Vale dos Vinhedos para uvas da melhor qualidade e inicia a criação de sua adega. Em 2001, ocorre a fundação da Vinícola Lidio Carraro e a família adquire 200 hectares em Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul. A região mais tarde se tornaria um pólo vitícola brasileiro. Os vinhedos no Vale dos Vinhedos iniciam as primeiras produções em 2002 e a safra dá origem aos primeiros vinhos com a marca Lidio Carraro, que chegam ao mercado em 2004. Pouco tempo depois, a vinícola vence uma seleção para representar o vinho brasileiro nas prateleiras do DutyFree de aeroportos internacionais, tornando-se o primeiro produtor brasileiro a fazê-lo. Com esta porta aberta para o mundo, a Lidio Carraro começa a receber pedidos internacionais e dá início às exportações ainda em 2005. Desde então, os reconhecimentos chegam de todas as partes do mundo e a vinícola se torna referência em vinhos do Brasil da mais alta qualidade e com uma identidade própria, chegando a representar o país em alguns dos eventos mais importantes da história das últimas duas décadas.

Mais informações acesse:

https://www.lidiocarraro.com/br

Referências de pesquisa:

“Cordeiro e Vinho by Ucha”: http://cordeiroevinhobyucha.blogspot.com/2009/02/os-vinhos-de-encruzilhada-do-sul.html

Site “Prefeitura de Encruzilhada do Sul”: https://estado.rs.gov.br/encruzilhada-do-sul-comeca-a-colheita-da-uva

https://www.encruzilhadadosul.rs.gov.br/prefeitura/historia/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html


Degustado em: 2016