Há quem diga que para degustar um verdadeiro Malbec é preciso
investir nos encorpados, barricados, aqueles “malbecões” corpulentos, complexos
e estruturados. Claro que tudo é questão de proposta de vinho, claro que também
é muito pertinente degustar um Malbec com essas características tão marcantes,
sem dúvida um momento especial. Mas não devemos negligenciar os vinhos dessa
cepa mais básica, frutadas, sem passagem por barricas de carvalho. Temos que
admitir também que é mais difícil encontrar rótulos com essa proposta, um que
expresse com fidelidade a essência de uma casta tão importante e necessária
para os paladares dos enófilos mais exigentes.
Mas vamos combinar que degustar um Malbec argentino o nível
de dificuldade na escolha reduz significativamente? Todas as propostas de
Malbec, independente do que eles possam entregar, o Malbec argentino, de
Mendoza, de Luján de Cuyo, que seja, traz toda a tipicidade de um terroir único
e especial. E, diante de alguns vinhos dessa cepa que eu degustei ao longo do
meu percurso um conseguiu, com maestria, unir o conceito frutado e jovem dos
vinhos básicos com a personalidade, a estrutura de um Malbec barricado. É
possível? Sim, consegui degustar um vinho frutado, um vinho delicado, com
nuances amadeiradas e alguma complexidade. E nessa miscelânea improvável e
inusitada partiu da mente emancipada de uma das mulheres mais bem sucedidas da
história da vitivinicultura argentina e mundial: Susana Balbo.
E tinha que vir das terras férteis e abençoadas da região
emblemática de Luján de Cuyo, onde a Malbec encontra os seus predicados. Então
depois de algumas informações esclarecidas e divulgadas e meio caminho andado,
nada mais pertinente do que revelar esse vinho que foi importante para a
construção da minha percepção para com a Malbec. O vinho que degustei e gostei
veio de Mendoza, mais precisamente de Luján de Cuyo, na Argentina, e se chama Crios,
que, além da Malbec, com 95%, tem também 5% de outra popular casta dos Hermanos,
Bonarda, portanto um corte com a predominância da Malbec e a safra é de 2014.
Susana Balbo: a emancipação feminina do vinho argentino
Nascida em uma família tradicional e desafiando as convenções sociais da era Susana, ela decidiu se profissionalizar na produção de vinho. Dessa forma, em 1981, recebeu seu Bacharelado em Enologia como a melhor pós-graduação, tornando-se a primeira enóloga feminina na Argentina.
Em 2012, ela foi a única argentina reconhecida pela revista
Drinks Business como uma das mulheres mais influentes do mundo do vinho. Em
2015, a mesma publicação reconheceu a "Mulher do ano" (Mulher do ano
de 2015 pela The Drinks Business) e, posteriormente em 2018, a nomeou como uma
das "As 10 mulheres mais influentes do mundo da veio”. Sua experiência
começou em Cafayate, Salta, responsável pela vinícola Michel Torino Sucession,
especializada na produção de Torrontés. Depois, trabalhou em vinícolas muito
importantes, como Martins e Catena Zapata. Ao longo de mais de 30 anos de
carreira, Susana teve a oportunidade de atuar como consultora em importantes
vinícolas internacionais em várias regiões vinícolas, o que lhe permitiu estar
sempre na vanguarda das tendências do mercado e estilos de vinho. Ela também
foi Presidente da Wines of Argentina (WOFA) três vezes (2006-2008, 2008-2010 e
2014-2016) e assumiu o cargo de vice-presidente de 2010 a 2012, tornando-se um
ícone da indústria vinícola argentina e mundial.
Luján de Cuyo: o cantinho da Malbec
O departamento de Luján de Cuyo foi instituído em 11 de maio
de 1855 sob o nome de “Villa de Luján” durante o governo do General Pedro
Pascual Segura. Seu município foi criado em 1872. O povoado de Luján realizou
uma grande contribuição à história da Independência Argentina, desempenhou um
papel fundamental na formação do Exército dos Andes. Foi declarada “Cidade” a
Villa de Luján, em Outubro de 1949. Em 1964, tanto a cidade quanto o
departamento passaram a ser chamados “Luján de Cuyo”. No início, quando os
espanhóis por ordem do Governador Garcia Hurtado de Mendoza, sob o comando do
capitão Don Pedro del Castillo chegaram ao Vale de Huentota durante uma
expedição constituída por sessenta espanhóis, mil e quinhentos índios
auxiliares e um capelão, Frei Humberto de la Cueva, encontraram um precário
sistema de irrigação artificial. Esse era o qual a população local irrigava
suas plantações de batata e milho originários da América e desconhecidos até o
momento na Europa. O Capitão del Castillo nomeou o lugar Mendoza – Novo Vale de
Rioja. Era 2 de março de 1561. O nome foi uma homenagem ao Governador do Chile
Hurtado de Mendoza e à pátria natal de Castillo.
E agora o tão esperado vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso e brilhante com
reflexos violáceos, lágrimas finas e abundantes que teimam em se dissipar das
paredes do copo.
No nariz é intrigante, instigante mostrando aromas de frutas
negras, frutas maduras e se destacam cereja preta, groselha, a fruta, como
marcante característica da Malbec, se faz presente e evidente no aroma, muito
agradável, além de notas de especiarias e baunilha, graças a sua passagem por
barricas de carvalho por 9 meses.
Na boca é uma profusão de sabores, uma explosão complexa que
envolve, como no quesito olfativo, a fruta negra, madura que se envolve com
notas vegetais, de especiarias, um envolvente picante, toque de pimenta
explicitado no seu rótulo, com taninos robustos, mas domados, com boa e
atraente acidez, com um bom volume de boca e um final cheio, persistente e
frutado.
Um senhor vinho! Um vinho considerado básico da linha de
Susana Balbo mas que revela um vultosa personalidade, um rótulo encorpado, mas
com muito equilíbrio, sendo inclusive fácil de degustar. Um vinho gastronômico
que harmoniza com comidas picantes, massas e mais pesadas, como churrasco, por
exemplo. A linha Crios se enquadra em uma frase que costumo usar como um mantra
que diz: “Da nobreza vem a simplicidade’. Assim são os vinhos da rainha da
vitivinicultura: Susana Balbo. E aqui vale fazer um adendo, uma curiosidade sobre
o nome “Crios” para essa digna linha de vinhos. Susana Balbo decidiu, ao criar
essa linha de vinhos mais jovens da vinícola, homenagear seus filhos que na
época, eram crianças, daí o nome “crios” que significa “criança”. Vale dizer
também que tive uma experiência incrível com o Torrontés dessa linha, o Crios Torrontés 2013. Tem 14% de teor alcoólico.
Sobre a Susana Balbo Wines:
Em 1999, com quase duas décadas oferecendo seu talento ao
aconselhamento de empresas nacionais e internacionais do setor vitivinícola,
Susana Balbo decidiu realizar seu sonho de ter sua própria vinícola e foi para
que Susana Balbo Wines se enraizasse no coração de Luján de Cuyo Mendoza. Após
mais de dez anos de constante crescimento nos mercados internacionais, outro
sonho se tornou realidade: seus filhos, José, um enólogo da UC Davis
(Califórnia) e Ana, formada em Administração de Empresas pela Universidade de
Em San Andrés, eles decidiram continuar com a tradição da família e se juntar à
equipe Susana Balbo WInes. Nos últimos anos, Susana e sua equipe trabalharam
duro para atender aos mais altos padrões de qualidade em nível internacional,
demonstrando seu compromisso com os problemas mais importantes do século XXI:
segurança alimentar, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.
Mais informações acesse:
https://www.susanabalbowines.com.ar/
https://www.criosdesusanabalbo.com.ar/
Referência de pesquisa:
Portal da cidade de Luján de Cuyo, em: https://lujandecuyo.gob.ar/lujandecuyo/
Portal Mendoza Travel, em: https://www.mendoza.travel/pt/resena-historica-8/#:~:text=O%20departamento%20de%20Luj%C3%A1n%20de,do%20General%20Pedro%20Pascual%20Segura.&text=O%20povoado%20de%20Luj%C3%A1n%20realizou,forma%C3%A7%C3%A3o%20do%20Ex%C3%A9rcito%20dos%20Andes.
Portal Experience Mendoza, em: http://www.experiencemendoza.com/pt/vinho-degusta%C3%A7%C3%A3o/visitando-as-vin%C3%ADcolas-de-mendoza/#:~:text=Luj%C3%A1n%20de%20Cuyo,-Com%20vinhedos%20plantados&text=O%20departamento%20faz%20parte%20da,t%C3%AAm%20se%20mostrado%20bastante%20expressivas.
Degustado em: 2017