Lembro-me como se fora ontem, mas há 5 anos atrás, quando decidi, ao sair de casa, que não queria comprar um vinho óbvio ou de um país já “manjado” como do Brasil, Chile, Argentina e Portugal. Claro, deixo aqui a minha devida explicação, que não desgostei dos rótulos desses países, mas queria mudar um pouco de ares, sair um pouco da zona de conforto e degustar um vinho de uma região, de um país pouco comum, menos rotineiro. Então, saí de casa para garimpar e materializar as minhas pretensões. Estive em uma tradicional loja especializada em vinhos no Rio de Janeiro chamada “Lidador” e pensei: Aqui eu acredito que consiga encontrar um vinho que possa saciar as minhas necessidades de momento. E como uma importante boutique de vinhos, traz uma diversidade de rótulos, um leque de muitos terroirs, de muitos países! Comecei a procurar, foram vários vinhos examinados, procurei cada canto da sua imponente adega e, meio que em uma posição discreta, avistei um da África do Sul, tinha um rótulo bonito, chamativo, mas sem ser espalhafatoso, e logo tomei o mesmo em minhas mãos. Antes desse vinho sul africano eu havia degustado alguns, mas apenas da casta emblemática daquela região: Pinotage. E esse era um corte, um assemblage, com a própria Pinotage e a francesa Merlot. Nunca havia, até então, degustado um vinho da terra de Mandela com esse corte. Já me animou! Procurei o vendedor, um simpático senhor que demonstrava conhecer um pouco sobre vinhos e logo perguntei: O que o senhor me diz desse vinho? Talvez tenha sido um argumento de vendedor, mas ele demonstrou conhecer plenamente as características do vinho e pôs a falar: “O vinho é muito bom, frutado, de personalidade...etc”. Aquilo criou dentro de mim um estímulo para leva-lo. Não hesitei muito e o rótulo já estava sob meus domínios.
Não degustei o vinho de imediato, levou alguns meses para
desarrolhá-lo, mas não muito. Parecia que precisava de um mínimo tempo para
maturar o meu desejo por esse rótulo, por esse sul africano e eis que o dia
chegou. Lembro-me com clareza que estava eufórico para degusta-lo, o momento
havia chegado. E a espera, a expectativa convergiu com a realidade ou derramar
as primeiras doses em minha humilde taça! Que vinho! Então vos apresento o vinho
que degustei e gostei que veio da região sul africana de Western Cape, chamado
Kumala, com um corte das seguintes castas: Merlot (50%) e Pinotage (50%), da
safra 2014. E podemos atribuir ao Mr. Jack Bruce esse momento especial e que
cuja filosofia está na democratização do vinho, o vinho para todos os bolsos e
camadas sociais, privilegiando, preconizando a qualidade. Mas antes falemos um
pouco da região vinícola mais importante da África do Sul: Western Cape.
Western Cape, a toda poderosa região vinícola sul africana
Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do
Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país,
responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da
indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como
Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir
bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia
montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da
variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira
potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por
impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio
Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para
entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se
estendem por mais de 150 quilômetros.
O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a
colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as
uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes
varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande
reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a
Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem
ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá.
Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos
mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente
no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul
começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia
por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional,
dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de
qualidade específicos para a atividade.
A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos
visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que
incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além
de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades,
a maioria em estilo europeu.
Kumala e seu criador: Jack Bruce
Localizada no entorno da “Table Montain”, na Cidade do Cabo,
a Kumala é uma das mais importantes e maiores vinícolas do país. Comandada pelo
experiente produtor Bruce Jack, a vinícola transmite em seus vinhos toda a
delicadeza e caráter que conquistaram paladares mundo afora, sendo uma das
marcas mais exportadas da África do Sul.
A linha de rótulos “Kumala”, apelidada de “Core” (núcleo), é
uma linha de vinhos bi-varietais que busca expressar as virtudes de duas
variedades de uva e o talento enológico da equipe do Bruce Jack para produzir
vinhos de excelente relação preço-qualidade. Bruce entende que o vinho deve ser
algo simples, que proporcione prazer e encantamento aos momentos e às refeições
da vida cotidiana. E, é com esse propósito que os vinhos Kumala são produzidos.
Vinhos esses que conquistaram paladares mundo afora e hoje estão entre os mais
exportados da África do Sul. Não por acaso, os vinhos da Kumala são os
sul-africanos mais consumidos no Reino Unido. Bruce nasceu na Cidade do cabo e
é filho de um arquiteto visionário e um músico e escritor brilhante.
A história de Jack Bruce, em detalhes!
E agora o vinho!
Na taça o vinho revela um vermelho rubi intenso e muito
brilhante com reflexos violáceos e uma razoável proliferação de lágrimas, finas
e que persistia em sumir das bordas do copo.
No nariz o destaque fica para o aroma frutado, frutas negras
maduras, como amora e ameixa, com notas de chocolate meio amargo bem discreto e
toques de especiarias o que se deduz que o vinho passara por madeira, mas não
consegui confirmar tal informação junto ao produtor, apenas que o mesmo passou
por tanques de aço inox, que privilegia as características essenciais das cepas
o que de fato foi percebido, sobretudo no palato.
Na boca reproduz as percepções olfativas, sendo muito
frutado, com alguma estrutura conferida pela Pinotage envolta em uma textura
macia, um vinho de personalidade, mas fácil de degustar, sendo equilibrado. O
toque de chocolate e de especiarias também é percebido em boca. Tem taninos
polidos e acidez correta com um final persistente.
Um senhor vinho! Uma proposta simples sim, que valoriza a
filosofia de um enólogo visionário e que valoriza a democratização da bebida,
na sua mais alta nobreza, a todos, indistintamente. Um vinho frutado, jovem,
fresco, mas com marcante personalidade, que mostra a robustez da Pinotage e a
maciez frutada da Merlot, trazendo toda a versatilidade e a vocação
gastronômica que esse vinho ostenta. Valeu e muito a pena fugir do convencional
e Kumala, mesmo sendo um vinho exportado em todo o mundo, um vinho global,
mostra a força do regionalismo, do terroir sul africano, com muita tipicidade.
Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrados.
Sobre a Jack Bruce Wines:
Bruce Jack Wines é uma empresa global de vinhos que valoriza
todos os níveis de preço. São obcecados em fazer a coisa certa para os seus
vinhos, vinhedos e clientes. São um amálgama independente, familiar e
controlado de marcas interessantes que celebram a autenticidade e a
proveniência. São diferentes na forma como compram as uvas, comunicam sobre os
seus vinhos, se relacionam com os seus clientes e os distribuem por todo o
mundo. É uma equipe pequena e dinâmica com escritórios em todo o mundo. Em
última análise, acreditam que o vinho é um produto básico histórico,
sofisticado, intrigante e alegre em um mundo confuso e caótico.
Sobre a Accolade Wines (Dona da marca Kumala):
Embora a Accolade Wines seja uma empresa jovem, nossa
história é profunda, com uma herança orgulhosa que inclui algumas das primeiras
vinícolas estabelecidas na Austrália. Hardys, uma marca que foi pioneira na
grande tradição de mistura de vinhos, esmagou suas primeiras uvas em 1853,
enquanto as raízes de sua principal marca da Austrália Ocidental, Houghton,
remontam a meados da década de 1830. Essa rica herança os ajudou a construir
uma das empresas líderes de vinho do mundo, que hoje entrega aproximadamente 27
milhões de caixas para 132 países em todo o mundo todos os anos.
Mais informações acesse:
https://www.accoladewines.com/
Referências de pesquisa:
“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/
Vinho
degustado em: 2016
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