sábado, 20 de março de 2021

Carte Noire Malbec e Merlot 2013

 

A Malbec é da Argentina! É inegável! Podem parar! Engana-se quem pensa isso! Claro que os grandes rótulos dessa importante cepa são argentinos, atualmente são os melhores e maiores produtores de vinhos da casta Malbec do mundo. E já vem de algum tempo, diga-se de passagem. Mas a França tem a paternidade da Malbec e guarda, em suas terras, histórias emblemáticas que envolvem os extremos de momentos de glória e tragédia, tendo a própria Argentina exercendo um protagonismo no caminho da Malbec que culminou com o sucesso dos dias contemporâneos. Porém, admito que, em um passado razoavelmente distante, eu também desconhecia essa história e atribuía, diante ápice da minha insegurança, que a Malbec era dos hermanos.

A Malbec tem as suas origens em uma região chamada Cahors, no sudoeste francês e que fica muito próximo a mais conhecida das regiões vitivinícolas daquele país, Bourdeaux. Não me recordo quando descobri que a casta pertencia a região francesa de Cahors, sequer conhecia a existência desse local na França. Provavelmente foi uma descoberta de forma mais despretensiosa do mundo, garimpando outras informações. Quando descobri foi muito relevante, levando em consideração a importância que a história do vinho tem para mim e me pus a ler, a descobrir rótulos disponíveis para venda aqui no Brasil.

Depois da intensa leitura sobre Cahors, decidi buscar vinhos da casta Malbec dessa região, como um bom enófilo ávido por novidades e experiências sensoriais agradáveis comecei a procurar e percebi que a oferta não é muito grande e os poucos rótulos disponíveis são muito caros para a minha realidade econômica. Pensei, um tanto quanto frustrado: Jamais terei a alegria, o prazer de degustar um Malbec de Cahors! Parecia muito distante das minhas possibilidades. Após essa triste constatação decidi esquecer e não procurar mais rótulos e tão pouco ler sobre a região francesa de Cahors. Queria abstrair de minha mente.

Porém a vida parece lhe conceder oportunidades e navegando o site de uma conhecida loja virtual de venda de vinhos, mais uma vez despretensiosamente, procurando vinhos aleatoriamente, eis que, diante de meus olhos que, incrédulos, testemunhou um vinho da região de Cahors, um corte de Malbec e Merlot, a um preço extremamente competitivo, atraente, em comparação aos valores que tinha pesquisado quando havia conhecido a região francesa. Na realidade foi um misto de animação e receio: como um vinho dessa região custar tão pouco em comparação com os outros vinhos da região disponíveis para venda no Brasil? Muita coisa passou pela minha cabeça, as perguntas ecoavam de forma insistente, mas necessária: seria bom esse vinho? Por que é tão barato? Fiz como sempre algumas pesquisas sobre o rótulo, não tinham muitas referências sobre o mesmo, além do próprio site da loja virtual e, diante da situação que se descortinava diante dos meus olhos, resolvi arriscar e comprar o vinho que estava na faixa dos R$ 49,90!

Decidi, quando da chegada do vinho, não levar muito tempo para degusta-lo até porque a safra do mesmo é ano de 2013, com 8 anos de vida! Outro fator admito, que me chamou atenção, o tempo de safra do vinho. Adoro esses vinhos evoluídos! Eis então que o momento tão esperado chegou! Estou radiante, inspirado, a começar pelas linhas que constroem essa resenha. Finalmente degustarei um vinho do berço da Malbec, Cahors. O ritual foi fielmente seguido para dar um ar de celebração ao momento tão especial. A rolha se desprende da garrafa e a bebida inunda a taça e...voilá! Inacreditável! Soberbo! Que vinho especial, quanta diferença, a Malbec em sua diferente percepção em relação a fama que adquiriu do outro lado do oceano, nas terras argentinas. O vinho que degustei e gostei veio da região de Cahors, na França e se chama Carte Noire, um AOC (Appellation d'origine contrôlée) que é o equivalente ao DOC (Denominação de Origem Controlada), com o corte das castas Malbec (80%) e Merlot (20%) da safra 2013. E como a história não pode faltar e foi com ela que cheguei a este rótula, vamos falar um pouco de Cahors.

Cahors, o berço da Malbec

De Cahors na França vem a famosa uva Malbec muito plantada na Argentina e hoje uva símbolo de lá.  Mas ela não é argentina. A uva Malbec é alóctone da Argentina e autóctone de Cahors. Sim Cahors é o seu verdadeiro berço, onde ela nasceu e recebeu o nome de Côt. Pelo que contam os registros de época, as primeiras plantações de Malbec, uva conhecida na região como “Côt” datam de 92 d.C. O vinho é frequentemente citado como o mais antigo da Europa e foi conhecido devido a sua cor intensa como o vinho “negro” de Cahors. Os vinhos de Cahors desde a idade média são longevos e escuros com forte personalidade. As plantações ocupam atualmente cerca de 4.300 hectares, sendo a produção máxima permitida de 50 hectolitros por hectare.

Na região, a uvas permitidas para vinhos tintos são a Côt (Malbec), a Tannat, a Cabernet Franc e a Gamay em Coteaux du Quercy. Cahors permanece com a marca da antiga Côt que se revela em personalidade forte insistente, arrojada e com expressão mais rústica, compensando em longevidade. Oferece assim, robustez, estrutura e boa guarda. A uva é liberada para os cortes de Bordeaux, mas pouco utilizada por lá, hoje em dia.A região de Cahors fica a cerca de 230 KM de Bordeaux no departamento de Lot, na região Sud-Est da França fazendo fronteira com o departamento da Dordogne.

Cahors

Cahors sofreu forte influência de seu poderoso vizinho, Bordeaux, em sua dramática história. O vinhedo foi criado pelos romanos e, durante a Idade Média, seu prestígio teve expressivo crescimento. O casamento de Eleanor de Aquitânia com Henrique II, rei da Inglaterra, abriu as portas do grande mercado consumidor inglês, antes dominado pelos vinhos de Bordeaux. No entanto, os poderosos produtores e comerciantes bordaleses, sentindo-se ameaçados, mobilizaram-se para pressionar Londres e conseguiram arrancar do rei da Inglaterra alguns privilégios exorbitantes, o que resultou num duro golpe para os produtores gascões. Além de sofrerem pesada taxação, os vinhos do sudoeste só podiam chegar à capital inglesa depois que toda a produção bordalesa estivesse vendida. Tal regra durou cinco séculos (foi interrompida apenas em três curtos períodos) e o vinho da região sentiu o golpe. Esta conduta só foi abolida em 1776, pelo liberal ministro de finanças de Luís XVI, Jacques Turgot, quando se iniciou um novo ciclo dourado dos fermentados de Cahors. Apesar da Revolução Francesa e das guerras do Império já no século XIX, 75% do vinho da região era exportado e um terço das terras agriculturáveis eram dedicadas à vinha, que cobria a impressionante área de 40 mil hectares. A região enfrentou bem a praga do oídio (de 1852 a 1860) e a superfície plantada subiu ainda mais, chegando a 58 mil ha. Para se ter uma ideia da queda que viria mais tarde, a área do vinhedo de Cahors hoje é de apenas 4.200 ha. Mas o território teve pior sorte ao enfrentar a filoxera no final do século XIX. Como se sabe, todos os vinhedos atacados no mundo tiveram de ser replantados, desta vez, de forma enxertada. Então, as vinhas de Malbec reagiram muito mal a esta nova situação, dando origem a fermentados medíocres, com qualidade muito abaixo da que tinha anteriormente. Apenas no final dos anos 1940, depois de muita pesquisa, chegou-se ao clone 587 da Malbec, que teve muito boa adaptação. Assim se retomou, então, sua marcha ascendente até chegarmos a 1971, quando Cahors é declarada região AOC (Appellation d'Origine Contrôlée, denominação de origem controlada).

As normas dessa denominação determina que o vinho deve ser composto de, pelo menos, 70% de Malbec, sendo o restante feito com a tânica Tannat e a macia Merlot. A Cabernet Sauvignon e a Cabernet Franc não são permitidas. O vinho é bastante escuro e encorpado, com boa fruta e mais austero e seco do que o Malbec argentino. Dependendo da sub-região, pode ser mais leve e para consumo mais precoce, ou mais estruturado e passível de longa guarda.

Malbec de Cahors X Malbec de Mendoza

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo e envolvente vermelho rubi intenso, quase escuro, com alguns reflexos violáceos, além de lágrimas grossas e abundantes, desenhando as paredes do copo.

No nariz traz notas de frutas negras, tais como cereja e groselha negra, com algum toque terroso e de tabaco, couro revelando alguma rusticidade.

Na boca é seco, as frutas se fazem presentes, mas não em evidência, com alguma estrutura graças a Malbec, mas macio e fácil de degustar certamente pelo tempo de safra bem como o percentual da Merlot que o torna versátil. Apresenta taninos presentes e pronunciados, mas domados, com acidez média, percebendo também o couro com um final de média persistência.

Mais uma página da minha história de um simples enófilo foi escrita de forma singular. Degustar um vinho a base da casta Malbec de Cahors, o berço da Malbec, foi uma experiência sensorial relevante e especial. Uma página foi escrita, mas tenho a avidez, a necessidade de que novos capítulos sejam escritos e que venham novos rótulos da emblemática e tradicional Cahors para que possamos desbravá-la por intermédio de sua bebida, do líquido nobre e poético, que inspira, que nos traz o prazer sensorial que proporciona o mais puro e genuíno deleite. Carte Noire trouxe para mim uma nova percepção, uma nova personificação da Malbec que não conhecia, com a estrutura, as notas de frutas maduras, a rusticidade e a plenitude de um vinho que, mesmo com seus 8 anos de vida, se revelou pleno e vivo, como a história de sua região, que, embora não tenha a fama da Malbec argentina, onde ganhou um novo lar e uma nova concepção, mostra ainda que tradição e modernidade está, a cada dia, fazendo Cahors renascer e mostrar toda a sua força e importância, com vinhos de muita tipicidade. Tem 12% de teor alcoólico.


Sobre a Vinovalie:

A Vinovalie Les Vignerons foi criada em 2006 e é formada por quatro cooperativas de vinhos dentro da França: Vignerons Rabastens, Cave de Técou (Tarn), Cave de Fronton (Haute-Garonne) e Côtes D’Olt (Lot) e alguns Châteaux como o Les Bouysses. Cada etapa do processo de criação dos vinhos é baseada na paixão e no know-how complementares dos homens: viticultores, adegas e enólogos.

O consumidor está no centro das áreas de inovação. Cientes do papel a desempenhar, a vinícola está empenhada numa abordagem típica de I&D, desde o trabalho na vinha à distribuição dos vinhos.

Mais informações acesse:

https://www.vinovalie.com/

Referências de pesquisa:

Portal “Enoestilo”: https://www.enoestilo.com.br/cahors-o-berco-malbec-2000-anos-de-historia/ e https://www.enoestilo.com.br/mapas-vinho-dicas-regiao-de-cahors/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/cahors-outra-terra-da-malbec_439.html

 

 






quarta-feira, 17 de março de 2021

Estancia Mendoza Chardonnay 2017

 

Uma coisa é óbvia no universo dos vinhos: você precisa, deve seguir a sua intuição quando vai escolher um rótulo, seguir seu coração! É um leve, admitamos, para a vida em todos os seus aspectos. Claro que você deve se abastecer de todas as informações necessárias para “construir” as suas predileções, tais como: região produtora, proposta do vinho, casta etc. Tudo isso ajuda na sua construção sensorial. Mas há aqueles casos, digamos raro, em que você absorve, recebe dicas de outras pessoas ou aqueles famosos “reviews”, as resenhas de vinhos que explodem na grande rede, inclusive esta que você lê agora.

Pode se considerar um risco? Sim, e dos grandes! Mas como escolher um vinho é um risco constante e como somos enófilos e como tal, buscamos avidamente novas experiências, precisamos as vezes, assumir certos riscos para espantar de vez a temível zona de conforto que nos limita e muito. E o vinho que escrevo eu busquei a informação, as referências de onde menos se deveria esperar: desses famigerados aplicativos de vinhos, com aquelas médias, aquelas notas que faz de um vinho ser ou não cotado. Mas o que é isso? Um vinho ser ou não cotado por frias notas? Sim! E eu fiz parte disso por algum tempo, até me “libertar” disso para sempre!

Mas esse rótulo argentino admito, me chamou a atenção! Os comentários, sejam eles bem elaborados ou pobres de informação, enaltecia de forma surpreendente a sua qualidade X custo. Surpreendente pelo fato de ter visto esse vinho em um supermercado perto de minha casa por um valor arrebatador e atraente: R$ 22,90!

E claro o fator preço também exerce uma forte influência de compra! Diante dos elogiosos comentários, embora oriundos de aplicativos não muito confiáveis, precisava conferir e logo me pus pronto para ir ao supermercado para compra-lo. Não demorou muito para tê-lo em minhas mãos e na minha adega. E não demorou muito também para degusta-lo, a ansiedade salutar da degustação tomava conta dos meus pensamentos.

O dia tão esperado chegou enfim. A rolha escapou da garrafa e logo inundei de expectativa a minha taça e, diante de sua simplicidade, o vinho explodiu em qualidade. Era surpreendente o que o vinho entregou! Porém antes de entrar nos pormenores do vinho, nada mais apropriado, evidente, é apresenta-lo. O vinho que degustei e gostei veio da região emblemática de Mendoza, na Argentina, um Chardonnay, a rainha das uvas brancas, e se chama Estancia Mendoza Chardonnay da safra 2017.

Esse não foi o meu primeiro Chardonnay argentino, porém mais um que me chamou e muito a atenção. E quando tive o meu primeiro contato com um Chardonnay dos hermanos eu não sabia, jamais esperaria que a Argentina produzisse Chardonnays de tamanha qualidade e excelência, é a “síndrome de Malbec”, afinal a Argentina tem muito a oferecer na viticultura. E a Chardonnay é a segunda entre as tradicionais variedades brancas da Argentina. É muito apreciado pela sua capacidade de amadurecer bem e produzir uma vasta gama de vinhos, desde as bases para os espumantes aos corpulentos varietais fermentados em barricas de carvalho, passando por vinhos frescos e elegantes sem envelhecimento em carvalho. Seus descritores primários mais frequentes são frutas tropicais e maçãs. E Mendoza se destaca entre as regiões argentinas na produção de Chardonnay com cerca de incríveis 82% de produção desta cepa no país. Diante disso cheguei a óbvia conclusão de que temos muito a explorar na Argentina no que tange a rainha das uvas brancas.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha com discretos reflexos violáceos, de um brilho intenso e vívido.

No nariz explode um aroma frutado com destaque para frutas brancas e tropicais, tais como melão, abacaxi, maça verde bem como frutas cítricas que lhe conferiu um frescor e jovialidade incríveis, além de notais florais que contribuiu para essa percepção de frescura.

Na boca é seco, vivaz, descontraído, a fruta é percebida como no aspecto olfativo, com um surpreendente volume de boca, com uma baixa acidez, como é de costume da Chardonnay, mas que não afasta o frescor do vinho, com um final alegre, persistente e um retrogosto frutado.

Um vinho que está longe daquele Chardonnay chileno, por exemplo, que é mais encorpado, pesadão em alguns casos, sendo muito despretensioso, mas saboroso e diria com alguma personalidade. Aquele vinho que harmoniza com frituras e quitutes mais simples, uma refeição, carnes brancas leves ou simplesmente com um dia de calor, na beira da piscina ou simplesmente com uma informal conversa com bons amigos ou simplesmente sozinho em um simples dia que, com esse belo vinho, se torna em um especial dia de celebração e ode a nossa poesia líquida. A personalidade tem que ser parte integrante do enófilo na escolha do vinho, mas se permitir ouvir ou ler o que o outro tem a dizer sobre determinados vinhos também pode trazer boas e agradáveis surpresas e o Estancia Mendoza Chardonnay, no auge da sua simplicidade, entrega o que há de melhor do terroir de um dos países mais emblemáticos na produção de vinhos: a Argentina, sendo contundente prova de que não é apenas o país da Malbec. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Bodega Estancia Mendoza:

A Bodega Estância Mendoza é a divisão premium de um dos principais grupos de vinhos na Argentina, o grupo Fecovita. Estancia Mendoza S.A. é um estabelecimento vitivinícola localizado no Município de Tupungato, nas terras altas de Mendoza. Nesta região, conhecida como o Vale do Uco e reconhecida como uma das melhores vinhas do mundo é um local privilegiado para o cultivo de vinhas e a elaboração de vinhos de alta qualidade. Localizado a 1.100 metros acima do nível do mar, possui solos pedregosos de boa drenagem, onde as lavouras são rústicas devido ao verão rigoroso e invernos com muita neve, e recebem a irrigação do degelo mineralizado da grande cordilheira dos Andes.

Os dias quentes e as noites frias criam condições para que a amplitude térmica atinja os 20ºC num dia, o que combinado com a constante irradiação solar na primavera e verão austral, proporcionam as condições ideais para a obtenção de excelentes uvas, matriz indiscutível para um ótimo vinho. Com uma adega muito moderna a vinícola consegue produzir ótimos vinhos com um custo muito competitivo. A gama de vinhos possui cinco níveis: Bivarietais, Varietais, Roble, Reserva, Single Vineyard e a linha Los Helechos. A vinícola também possui experiências de enoturismo com um hotel de alto luxo localizado no meio dos vinhedos.

Mais informações acesse:

https://estanciamendoza.com.ar/pt/



Referências para pesquisa:

“Wines of Argentina”: https://www.winesofargentina.org/en/varieties/chardonnay


Degustado em: 2019




sábado, 13 de março de 2021

Cantine Castelvecchio Barbera D'Asti 2016

 

Ainda sigo o meu caminho, o meu garimpo pelas castas e regiões pouco conhecidas, pouco populares em terras brasileiras, afinal precisamos nos proporcionar novas experiências sensoriais e sair um pouco do óbvio, da temida e anestesiante zona de conforto daquelas castas muito famosas e conhecidas. E a minha degustação de hoje, apesar de nunca ter degustado essa casta na sua versão varietal, ela é extremamente popular e conhecida em seu país. Talvez seja uma confirmação de que ainda estou engatinhando em minha caminhada no universo do vinho ou porque esse universo é tão vasto e inexplorado ou talvez um seja consequência do outro.

O fato é que criar uma expectativa acerca de uma nova degustação, de uma cepa pouco corriqueira para mim é motivo de muita alegria e de uma uva extremamente popular e aceita em seu país de origem: Falo da emblemática Itália. Degusto vinhos da “Velha Bota” desde que me conheço por enófilo e sempre ouvi falar da casta Barbera, mas nunca a degustei em uma versão varietal. Infelizmente o mercado brasileiro ainda é incipiente em algumas ofertas de rótulos por aqui e é inconcebível, pelo menos para mim, não ter opções da Barbera em nossos pontos de venda e os poucos que tem, são oferecidos a altíssimos valores pelo fato, além do custo Brasil e impostos altos, da escassez de opções.

Mas o estímulo ao garimpo dessas castas pouco usuais em terras “brasilis” confesso ser grande e as nossas sensações, mais do que evidentes, sensoriais, claro, é que agradecem”. Lembro-me ter feito a aquisição de meu rótulo em uma despretensiosa ida ao supermercado. A avistei, com um olhar clínico e interessado, jogado em uma gôndola praticamente no chão sem nenhum destaque, mas achei, por se tratar de um rótulo cuja casta não é popular por aqui, o valor bem atrativo, em torno de R$ 40,00!

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei da tradicional e excepcional região italiana no Piemonte, da comuna de Asti, o Cantine Castelvecchio da casta Barbera da safra 2016, um DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida). E, diante desse dia especial de degustação, celebremos também com um pouco de história da região do Piemonte, sua comuna conhecida, Asti, que carrega seu nome nos rótulos dos vinhos produzidos com a casta Barbera e um pouco da história da história desta casta tão importante para a cultura vinícola da Itália. 

Piemonte, a filha pródiga dos vinhos italianos

Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos. Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa. A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então. Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas. Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais. O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon. As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

Barbera, o “vinho do povo”.

Uma das maiores uvas italianas, ficando atrás apenas da Sangiovese, a uva Barbera, conhecida anteriormente por produzir vinhos de menor qualidade, hoje é responsável por vinhos nobres e notáveis. Esta casta passou, pelos últimos anos, uma verdadeira história de superação. Trata-se da uva que é responsável pelo vinho que os piemonteses consomem no dia a dia, daí o nome que foi concedido pelas pessoas da região: “o vinho do povo”.

Acredita-se que a uva Barbera tem origem nas montanhas de Monferrato, na região central de Piemonte, na Itália. Alguns documentos, datados entre 1246 e 1277, encontrados na Catedral da Casale Monferrato, detalham acordos relacionados a vinhedos plantados com “de bonis vitibus barbexinis”, a uva Barbera. Contudo, um ampelógrafo chamado Pierre Viala especula que ela se originou em Oltrepò Pavese, na região da Lombardia. Nos séculos 19 e 20, ondas de imigrantes italianos trouxeram esta cepa para a Califórnia, Argentina e outros lugares nas Américas. Em 1985, um evento trágico relacionado à uva Barbera envolveu produtores adicionando ilegalmente metanol aos vinhos. Esta ação causou declínio no plantio e vendas da uva. Isto levou a Montepulciano tomar o posto da uva Barbera no meio da década de 90. Anteriormente considerada uva de vinhos inferiores, até o escândalo de Relações Públicas nas décadas de 80 e 90, a uva Barbera tomou um rumo de superação muito interessante.

Frutado, ele tem gosto de cerejas, morangos e framboesas. Quando jovem, o vinho Barbera pode ter aroma de mirtilos também. Com pouco tanino e alta acidez natural, a uva Barbera é uma boa pedida para harmonizar vinhos com alimentos ricos e reconfortantes, como queijos, carnes e cogumelos. Além de Piemonte, a uva Barbera é cultivada em outras regiões da Itália, como Campania, Emilia-Romagna, Puglia, Sardenha e Sicília, somando 52.600 acres de plantação. O vinho Pomorosso 2008, do produtor Coppo, é famoso por transformar a Barbera em uma casta nobre - elegante, também é reconhecido como um dos melhores tintos italianos. Fora do país, a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo o Brasil são outros produtores conhecidos de vinhos de qualidade com a Barbera. Em regiões quentes, como a Califórnia, nos EUA, destacam-se toques de ameixa, além do sabor frutado de cereja.

Barbera e o Cantine Castelvecchio 

E agora finalmente falemos do vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, porém com brilhosos e reluzentes entornos violáceos, diria em tons granadas. Lágrimas finas, abundantes e que desenham lindamente as paredes do copo.

No nariz explode em complexidade aromática, as frutas em evidência, frutas vermelhas maduras, trazendo cereja e groselha na lembrança, com sutis notas de baunilha.

Na boca é seco, estruturado, forte, mas harmônico e equilibrado, certamente pelo tempo de safra, com taninos pronunciados, mas domados com uma vibrante acidez que remete algum frescor, com discreto amadeirado, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho. Final persistente e de retrogosto frutado.

Um vinho que expressa definitivamente e com dignidade as essências do Piemonte, enaltecendo o que há de melhor naquelas terras, da cultura do seu povo e do saber fazer no que tange aos seus rótulos, dos mais simples aos mais complexos. O Cantine Caltelvecchio traz à tona todas essas características, com muita tipicidade revelando, em todas as suas nuances, o que há de melhor do Piemonte, da Itália. Um vinho encorpado, de personalidade marcante e complexidade aromática é mesclado às características do aporte pela passagem pela barrica de carvalho, deixando-o também mais macio, mais equilibrado, portanto também um vinho versátil e fácil de degustar, tendo uma vocação gastronômica muito grande, como todo vinho italiano. Um prazer grande degustar, pela primeira vez, um varietal da casta mais popular da Itália, a Barbera. Teor alcoólico de 13%.

Sobre a Cantine Manfredi:

O vinho é uma paixão para a família Manfredi há mais de cem anos. Tudo começou Nicolao Manfredi no início do século XX. Porém, foi como filho Giuseppe, conhecido como Pin, que, no final da década de 30 do século passado, a tradição familiar dos enólogos se transforma em atividade, quando o amor pela terra do Langhe o convence de que esta no caminho certo. Nos anos 60, ainda muito jovem, o filho de Giuseppe, Aldo, começou a trabalhar com o pai, lado a lado, ajudando-o no trabalho da adega e a cuidar dos partos, criando relações de trabalho e de amizade que perduram até hoje. Na década de oitenta novas colaborações se estabeleceram e os vinhos também conquistaram o mercado externo, dos Estados Unidos ao Japão, do Canadá à China e muitos países da Europa. Hoje Aldo, a esposa Gianfranca e as suas filhas Luisa e Paola, apoiadas por uma equipe muito unida, continuam nesta atividade com paixão, com vista a uma atenção comum à qualidade do produto e à proteção do território para continuar a história de uma família que começou há muitos anos.

Mais informações acesse:

https://www.manfredicantine.it/it/homepage

Referências de pesquisa:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html

“Vem da Uva”: https://www.vemdauva.com.br/vinho-barbera-conheca-suas-caracteristicas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/256-uva-barbera-conheca-o-vinho-do-povo

“Blog Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-barbera-mais-plantadas-na-italia

 




quarta-feira, 10 de março de 2021

Garibaldi Prosecco Rosé (Glera)

 

Nada mais festivo e solar do que grandes novidades! Aquelas novidades que revolucionam, que mudam a sua vida, que traz impactos positivos a ela, nem que seja por um curto espaço de tempo ou o famoso “que seja eterno enquanto dure”! E não falo de resiliência ou coisas do tipo que parecem ser mais algo institucionalizado, imposto do que espontâneo ou natural a nossas vidas. E no universo do vinho não é diferente: grandes novidades de regiões, aquelas castas diferentes, raras, pouco conhecidas, tudo isso estimula seu interesse pelo mundo do vinho, pois nos possibilita a exercitar, inclusive, as nossas experiências sensoriais.

E nada melhor do que “edificar” essa máxima no mundo do vinho com os nossos dignos espumantes! Sim, os nossos espumantes que, sem sombra de dúvida, são os melhores do mundo no estilo das borbulhas. O espumante brasileiro rivaliza, em iguais condições, com os cavas espanhóis, os proseccos italianos e por que não com os champanhes franceses, sem nenhuma espécie de demagogia ou narcisismo.

E já que falamos nos nossos borbulhas tupiniquins falemos um pouco da emblemática região de Garibaldi, na região da Serra Gaúcha e da vinícola que leva o nome da cidade, orgulhando-a com os seus grandes rótulos: A vinícola Garibaldi. Cada enófilo que se preza já degustou um rótulo desse tradicional produtor ou se não o fez tem de fazer de forma imediata! São vinhos especiais, de excelente custo X benefício, vinhos que despontam com prêmios que ganham no Brasil e ao redor do mundo, em todos os cantos do globo atestando a sua qualidade, levando a tipicidade da Serra Gaúcha, da cidade de Garibaldi às alturas.

E hoje é um dia especial, aqueles dias que nos enche de orgulho por ser brasileiro, degustar o que há de melhor no Brasil, pois degustarei o primeiro Prosecco Rosé do Brasil, quiçá do mundo: O vinho que degustei e gostei veio como disse, da Serra Gaúcha, da cidade de Garibaldi, e é o Garibaldi Rosé Prosecco que leva também a casta Pinot Noir. O primeiro Prosecco Rosé do Brasil!

E na avaliação do presidente da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Oscar Ló, o lançamento segue a perspectiva de inovação e atrelar a qualidade aos rótulos da vinícola: “Além de ser o primeiro Prosecco Rosé do Brasil, é possivelmente o primeiro do mundo, ou seja, largamos na frente de países tradicionais na produção de espumantes, como Itália, França e Espanha. Isso significa que a marca tende a ganhar cada vez mais holofotes por sua qualidade, inovação e excelência na elaboração de bebidas derivadas da uva”.

O segredo, de acordo com o enólogo Ricardo Morari, está na adição de uma pequena porcentagem de uvas tintas Pinot Noir à elaboração do Garibaldi Prosecco Rosé Brut. “Um espumante varietal (ou seja, que apresenta o nome da variedade de uva no rótulo), precisa ter no mínimo 75% dessa uva destacada na composição do produto. Como nosso objetivo era que a bebida permanecesse leve e fresca, prevalecendo características da Prosecco, utilizamos um percentual de Pinot Noir em torno de 3 a 5%, somente para dar o toque necessário de cor”, explica. E já que mencionamos a Vinícola Garibaldi e os “artistas” que criaram o Garibaldi Prosecco Rosé, falemos da cidade que acolhe os grandes espumantes: Garibaldi. 

A terra dos espumantes: Garibaldi

O núcleo surge por ato de 24 de maio de 1870. Na data o presidente, Dr. João Sertório, cria as colônias Conde D'Eu e Dona Isabel, inaugurando um novo momento no processo de colonização e economia no estado do Rio Grande do Sul. Garibaldi intitula-se, inicialmente, Colônia Conde D'Eu, denominada assim em homenagem ao genro do imperador, casado com a Princesa Isabel. A colonização aconteceu em 9 de julho de 1870 e eram todos prussianos (alemães), mas entre 1874 e 1875, começaram a chegar novas levas de imigrantes: suíços, italianos, franceses, austríacos e poloneses. Em 31 de outubro de 1900, o governo eleva Conde D'Eu à condição de município, que passa a chamar-se de Garibaldi, em homenagem ao italiano Giuseppe Garibaldi, que participou da Revolução Farroupilha e é considerado "herói dos dois mundos".

O município de Garibaldi (Brasil) localiza-se na Encosta Superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, a 110 quilômetros de Porto Alegre, com uma altitude de 640 metros. A população é de 34.684 habitantes. Garibaldi pertence à 1ª Colônia da Imigração Italiana, integrando a Região Uva e Vinho da Serra Gaúcha e o Vale dos Vinhedos. É reconhecida como a Capital Brasileira do Espumante devido ao pioneirismo e qualidade de seus vinhos e espumantes. A cidade, com um charme especial, guarda as características de um ambiente tranquilo, com uma paisagem bucólica que lhe dá um ar particularmente distinto do nosso tempo.

Garibaldi

Tudo é história e encantamento na Capital do Espumante. E é esta história e a experiência de viver no limite entre a paixão e a razão que será encontrado na Rota dos Espumantes, conhecido como a “Rota do Sabor”. O bouquet do espumante exalado pelas caves e pelos corredores que guardam o mosto da uva nos revigora, fazendo com que os sentidos nos transportem para uma dimensão, senão divina, mágica, como é próprio para apreciar esta bebida.

De 1913, ano em que foi elaborado o primeiro espumante brasileiro, aos dias de hoje, Garibaldi vem construindo a história dos vinhos e espumantes do país. Nas grandes empresas e nas cantinas familiares, o visitante poderá visitar e conhecer esta história, bem como acompanhar as técnicas de elaboração charmat e champenoise, participar do processo de engarrafamento e aprender a degustar a bebida.

Quando o monge beneditino Don Perignon, na experiência do prazer de sua descoberta exclamou de estar bebendo estrelas, inaugurou o charme na história da arte de degustar. E quando a cidade de Garibaldi inaugurou a Rota dos Espumantes, criou uma forma alegre e sofisticada de contar histórias sobre o finesse das bebidas nobres. Assim, foi composto um roteiro com 17 vinícolas, a mostrar que a relação íntima entre a alta tecnologia na elaboração de espumantes e os ecos culturais dos séculos são eno-compatíveis.

E agora finalmente o vinho!

Na taça conta com um lindo e delicado rosa claro, ao estilo cor de casca de cebola, mas muito brilhante, com perlages finos, abundantes e com alguma persistência.

No nariz apresenta uma explosão aromática de frutas cítricas e vermelhas, que se destacam framboesa, cereja e, sobretudo morango, além de notas florais que traz uma agradável sensação de frescor e leveza.

Na boca é elegante e muito delicado, com a confirmação das expressões frutadas, como identificado no aspecto olfativo, dotado de um frescor e jovialidade evidente, graças a sua acidez equilibrada, mas com alguma personalidade por conta de seu bom volume de boca e um final pouco persistente, mas agradável.

Os ventos da mudança, os ares das gratas novidades também devem chegar às taças dos enófilos que tem a mente aberta e que deseja fugir das armadilhas da zona de conforto. Um grande vinho, um Prosecco com a cara e coragem de desbravar dos brasileiros, bravos e de personalidade, com esse belíssimo rótulo inovador que deixou para trás grandes e tradicionais produtores do Velho Mundo. Um vinho delicado, elegante, frutado, fresco, mas de personalidade e que marca em definitivo a história de uma região emblemática e que catapulta para o mundo o saber fazer do Brasil no que tange aos espumantes. Excepcional espumante! Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Cooperativa Vinícola Garibaldi:

Situada em Garibaldi (120 Km de Porto Alegre) no coração da Serra Gaúcha, a maior região vitivinícola do Brasil, a  empresa nasceu como Cooperativa Agrícola Garibaldi na quinta-feira, 22 de janeiro de 1931, na sede do Club Borges de Medeiros. Naquele dia, Monteiro de Barros reuniu representantes de 73 famílias para criar uma das mais importantes cooperativas da região. O sucesso da empreitada foi tanto que, em 1935, o grupo já contava com 416 associados.

A prosperidade, contudo, estancou no começo dos anos 1970. Em 1973, a empresa sofreu uma intervenção que durou cinco anos. O processo, porém, deu resultado e, no começo dos anos 1980, a Garibaldi passou a se modernizar. No entanto, o grande passo só seria dado no início dos anos 2000. No passado, a cooperativa trabalhava muito com vinho de mesa e até a granel, e isso não rentabilizava o produto. Era uma commodity. Então, teve a necessidade de agregar valor. Desde 2004, investiu-se fortemente na elaboração de espumantes para dar essa guinada, rentabilizar os produtos e remunerar a uva dos associados. Foi feito um intenso trabalho no campo de reconversão, tecnologia em produto, para chegar a esse reconhecimento de mercado que a vinícola tem hoje, como referência na produção de espumante. A cooperativa tem hoje 400 famílias associadas, que juntas formam um total de 900 hectares em 12 municípios diferentes do Rio Grande do Sul. Gerenciar tudo isso é um trabalho complexo. O departamento técnico visita todas as propriedades pelo menos três vezes ao ano. Tem um contato direto como produtor tanto na orientação técnica quanto reconversões, conforme os interesses da cooperativa. As 380 famílias são responsáveis pela produção da uva. Elas elegem um conselho para cuidar do negócio e cada área tem um responsável, um profissional contratado para gerir. É cooperativa, mas tem que ser profissional no que faz. Em 2010, a Garibaldi adquiriu os direitos de produção e comercialização da marca Granja União, que estava sob domínio da Vinícola Cordelier. Mais recentemente, lançou a linha Acordes. A vinícola hoje apresenta índices de crescimento superiores aos da média nacional. Resultado de uma história de investimentos, de profissionalização, de união e de uma trajetória que carrega em sua bagagem o trabalho e a vida de milhares de pessoas. O investimento é permanente em manutenção e melhoria dos processos produtivos e na qualidade dos produtos. Com uma área de 32 mil metros quadrados de construção e capacidade de processamento que ultrapassa os 20 milhões de quilos, utilizando tecnologia e equipamentos europeus para a elaboração de nossos vinhos e espumantes. Uma identidade marcante, personalidade e características próprias, aliadas ao terroir da Serra Gaúcha, fez com que os seus espumantes acumulassem uma série de premiações em concursos no Brasil e no exterior.







domingo, 7 de março de 2021

Quinta do Casal Monteiro Rosé 2018

 

Ter referências de um vinho, de um produtor, de uma linha de rótulos é tudo! Mas pode ser um tiro no pé também! Eu explico: Você pode ter degustado toda a linha de rótulos de um determinado produtor e quando se depara com outro rótulo que ainda não havia degustado e decide, de forma imediata compra-lo, pelo fato de já ter degustado outros vinhos do produtor e apreciado, torna-se natural, é verdade, mas isso não é garantia de que você se identifique com aquele novo rótulo, porque não é só o histórico do produtor que conta, apesar de importante, mas a proposta do vinho também é preponderante.

Mas no caso desse vinho, admito, sou um réu confesso, me animei pelo fato de ter degustado a versão tinta e branca dessa linha de rótulos oriundo do Tejo. Já tendo como porta de entrada sendo da emblemática região lusitana do Tejo se torna válida a compra, mas foi o produtor que me chamou a atenção e claro o valor extremamente atrativo, em torno, pasmem, de R$24,90.

Primeiro foi o excepcional e surpreendente o Quinta do Casal Monteiro branco da safra 2016, depois o Quinta do Casal Monteiro tinto da safra 2018, agora o vinho que degustei e gostei foi a versão rosé da linha de rótulos Quinta do Casal Monteiro composto pelas castas Touriga Nacional (50%) e Tinta Roriz (50%) da safra 2018. A “trilogia” estava pronta, a degustação feita de todos e o resultado não poderia ser melhor. O Quinta do Casal Monteiro rosé me surpreendeu de tal forma que, diante de sua simplicidade, entregou o que um rosé deve entregar: leveza, muita fruta e frescor. Mas antes de tecer maiores comentários do rótulo de hoje, falemos um pouco do Tejo, região que venho descobrindo graças a cada rótulo tão especial.

Tejo

Nesta região vitivinícola, situada no Centro de Portugal, a arte de produzir vinho remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo terá exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, terão atingido o valor de 12.000 reis. As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.

Tejo

Em 1989, são fundadas seis Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da região do Ribatejo e, em 1997, é criada a Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo, à qual se sucede a constituição por lei da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em 2008, seguindo-se a Rota dos Vinhos do Tejo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um rosa clarinho, translúcido, mas brilhantes, reluzentes, com uma discreta concentração de lágrimas finas e que logo se dissipavam.

No nariz entrega aromas intensos de frutas vermelhas como morango, framboesa e cereja, diria também notas de frutas brancas como melão e manga, talvez, além de um agradável toque floral.

Na boca confirma toda a fruta presente no olfato, com uma acidez na medida que confere ao vinho todo o frescor e leveza que é a tônica desse rótulo, com um final agradável e presistente com um retrogosto frutado.

Sabe aquele vinho que te remete a um dia de sol, na beira da piscina? Pode parecer meio clichê essas observações e sensações, mas é a pura realidade. Um vinho descomplicado, simples, mas que entrega, em todas as suas nuances, o que o vinho se propõe a entregar e diria até além, fazendo deste um rótulo de incrível custo X benefício. Um vinho do Tejo que tem tudo a ver com a cara de um país tropical como o Brasil. Tem teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Quinta do Casal Monteiro:

Fundada em 1979, a Quinta do Casal Monteiro engarrafa safras limitadas de produção exclusivamente a partir de sua propriedade de 80 hectares. Com idade média de 35 anos, as vinhas estão localizadas em solo arenoso aluvial fértil, enraizando-se em uma combinação incomum e resultando em uma produção de baixo rendimento de vinho de alta qualidade. Além disso, a característica do clima temperado sub-mediterrânico e a sua proximidade ao rio Tejo conferem aos vinhos uma identidade singular, revelada tanto nos aromas exuberantes como no paladar complexo, revestido por uma excelente acidez - são excelentes companheiros de comida. Em 2009, a nova geração / família assumiu a empresa e, desde então, uma reestruturação da vinícola e da vinha vem ocorrendo. Foram feitos investimentos consideráveis ​​em equipamentos modernos e a reabilitação das vinhas tem sido uma tarefa contínua. Como tal, todos os anos nossa qualidade tem aumentado e esperamos fazê-lo continuamente ao longo da década atual. O crescente número de prêmios internacionais e análises da imprensa internacional são uma prova da nossa qualidade contínua de produção.

Mais informações acesse:

http://www.casalmonteiro.pt/

 




El Misionero Crianza Tempranillo 2015

 

Sempre tive dificuldades para encontrar bons vinhos espanhóis. Não sei dizer exatamente o motivo, talvez pelo fato de que eu não tinha conhecimento dos lugares certos, ideais para compra-los ou desconhecia alguns fatores como região, castas autóctones ou coisas que o valham, confesso que o meu interesse por esses quesitos dos vinhos era praticamente nulo. O meu leque aumentou e consequentemente a minha adega com vinhos espanhóis se deram graças a incessante busca, de minha parte, por novas regiões, novas castas, novos pontos de compra. Claro! Era tudo isso que gerava a minha dificuldade para comprar bons rótulos espanhóis com preços mais convidativos e qualidade atestada para o meu humilde palato.

E graças a esse empenho descobri, muito tardiamente, que há uma legislação que regem alguns vinhos, ou melhor, os vinhos espanhóis nas suas mais diversas propostas. E no que tange a proposta, um termo que sempre faço questão de enfatizar, a Espanha delimita esse quesito com honra, com um requinte de detalhe simplesmente incrível! E são vinhos jovens, crianza, reserva, gran reserva, cada um com suas particularidades, seus terroirs na mais pura e evidente essência, regido por uma lei que foi sancionada recentemente, pasmem, no início dos anos 2000. Veja em classificação dos vinhos espanhóis.

E o melhor que essas nomenclaturas são as propostas dos vinhos: amadeirados, complexo nos aromas, no paladar, estruturados, elegantes.... Muitos deles com vocação para guarda, vinhos evoluídos, do jeito que eu gosto, sou um réu confesso dos vinhos evoluídos: penso que tem história para contar, são singulares, diferentes e interessantes. Vinhos espetaculares de um país que é um verdadeiro polo de produção de vinhos.

Hoje, com a cortesia de meu grande e estimado amigo Paulo, meu confrade amigo, teremos um contato imediato com um “crianza”, da casta emblemática da Espanha, Tempranillo, que escreverá uma humilde página em nossa humilde vida de enófilos. O vinho que degustei e gostei veio da região de Castilla La Mancha, um DO, da Espanha, um “crianza” chamado El Misionero, 100% Tempranillo, da safra 2015. Agora o que significa “crianza”? Não se enganem que tenha haver com algo relacionado a “criança”, em uma tradução literal. Então desvendemos.

Crianza

O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos imaginam, a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.

Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.

Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza são vinhos com maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.


Castilla La Mancha

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora o grande momento: Sobre o vinho!

Na taça goza de um intenso vermelho rubi, mas com entornos violáceos e uma grande concentração de lágrimas finas que teimavam em se dissipar das paredes da taça.

No nariz a predominância de frutas negras era latente, tais como ameixa, amora e cereja negra, com notas de tabaco, de couro e estrebaria. Não é tão aromático, mas um vinho perfumado, elegante ao olfato.

Na boca é redondo, equilibrado, seco e elegante. Percebe-se também as notas de especiarias, a percepção de pimentão e baunilha é notável, bem como discretas notas amadeiradas, graças aos 10 meses de passagem por barricas de carvalho e mais 15 meses evoluindo na garrafa antes de ser comercializado, conferindo-lhe taninos domados e uma boa acidez revelando um vinho fresco e vivo, além de uma marcante personalidade. Um final de média persistência e retrogosto frutado.

Estudos, cultura, conhecimento, degustações de vinho, novas experiências sensoriais, o vinho é uma múltipla celebração, celebração em todos os seus aspectos, em tudo que essa poesia líquida pode proporcionar, em todos os seus âmbitos. El Misionero Tempranillo, está no auge, vivo, pleno com seus 6 anos de safra, 6 anos de vida, característico desses grandes vinhos, especiais e singulares. A busca incessante pelos vinhos espanhóis me brindou com esses vinhos ricos em aromas, complexos no paladar e com marcante personalidade. Grandioso! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre as Bodegas Fernando Castro:

As Bodegas Fernando Castro foi fundada em 1850, é a vinícola mais antiga de Castilla La Mancha sob a direção da mesma família. A família Castro começou a produzir vinhos brancos e tintos a partir de uvas das suas próprias vinhas em Santa Cruz de Mudela, utilizando os métodos artesanais e tradicionais inerentes à região. Desde 1895, a Bodegas Fernando Castro está presente nos pontos mais importantes do território nacional, graças ao conhecido “Comboio do Vinho”, e posteriormente através da sua rede de transportes própria, conquistando a confiança dos grandes centros de compras. Com uma situação geográfica imbatível, estando no centro de Espanha e centro nevrálgico da Denominação de Origem Valdepeñas, os seus produtos chegam a qualquer ponto da geografia. Esta localização facilitou a expansão de seu mercado para mais de 70 países. Atualmente, duas gerações da família Castro trabalham em conjunto, contando com o inestimável apoio de profissionais de referência que têm contribuído na vinificação, envelhecimento e comercialização dos nossos vinhos, dispondo para o efeito de instalações modernas, sólidas e funcionais. Bodegas Fernando Castro está localizado no coração da Denominação de Origem Protegida Valdepeñas . Situada no extremo sul do planalto ibérico e claramente delimitada pelas planícies de La Mancha ao norte, os campos de Montiel a leste, os de Calatrava a oeste e a Serra Morena a sul, Santa Cruz de Mudela preserva a cultura patrimônio e as tradições culinárias de La Mancha. Nesta região, existem solos calcários abundantes, franco-arenoso e argiloso vermelho-amarelado. Essas terras de clima continental podem ultrapassar as temperaturas máximas de 40 ° C e as mínimas de -10 ° C, e ainda mais baixas, com uma média anual de 16 ° C. Viticultores de tradição familiar, Bodegas Fernando Castro possui 380 hectares de vinhedos, localizados no entorno da Finca Los Altos, supervisionados pessoalmente pela Família Castro. Os seus vinhos expressam a personalidade de uma região única. Localizados a 705 metros acima do nível do mar, os solos são pobres em matéria orgânica e baixa fertilidade, circunstância ideal para o cultivo da uva. Com mais de 2.500 horas de sol por ano, estas características climáticas potenciam o amadurecimento da uva, resultando numa produção de vinho com maior intensidade de cor, ótima estrutura e poder aromático.

Mais informações acesse:

https://bodegasfernandocastro.es/en/

Referências de pesquisa:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

Revista Adega: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

Blog “VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

 






Terra Boa tinto 2018

Definitivamente Portugal é um celeiro de grandes vinhos! Um universo inexplorado de propostas, das mais diversas, de vários e vários rótulos e que personifica o universo do vinho, gigante e muito ainda a ser desbravado. E em virtude de tudo isso, tenho, claro, como um cavaleiro errante, a andar, a garimpar, por intermédio dos vinhos que enchem generosamente as minhas taças, vários rótulos lusitanos, dando prioridade as regiões desconhecidas para mim, blends inusitados, rótulos especiais, castas pouco populares etc. Enfim, novas percepções, novas experiências para diversificar o nosso leque sensorial.

E já que falei de Portugal, um país, geograficamente, tão pequeno, mas tão gigantesco em terroirs tão singulares, não posso deixar de falar de uma região, em especial que descobri, quase que uma forma despretensiosa, que são as Terras da Beira. O nome pode não soar muito familiar a alguns enófilos brasileiros, haja vista que, diante dos badalados Alentejo, Douro e Porto, por exemplo, Beiras se resume a condição de coadjuvante, em termos comerciais, mas só sob o aspecto comercial. Trata-se de uma região especial, peculiar e com vinhos muito bons. Claro que, com os poucos rótulos que degustei, uma afirmação de sua qualidade, de forma tão veemente, pode parecer leviano, mas, os poucos que degustei, me arrebatou por inteiro!

Quando falei que os descobri despretensiosamente, foi em uma das minhas visitas as redes sociais e vi um especialista e crítico de vinhos muito conhecido, de nome Didu Russo, que, em sua página na referida rede social, publicou um vinho, da Adega Cooperativa de Pinhel chamado D. João I, um branco da sub-região de Pinhel. Ele disse, eufórico, que o vinho ficou em segundo lugar em uma degustação às cegas com vários outros rótulos brancos portugueses, inclusive à frente de muitos vinhos caros! Claro que a curiosidade prevaleceu e o comprei! De fato, um vinho surpreendente! E depois desse, sempre quando vejo um vinho das Terras da Beira, não hesito em comprar.

A minha última aquisição dessas terras, veio de um produtor gigante, em todos os sentidos e que atua em todo o Portugal, a Bacalhôa, e seu vinho vem do alto, literalmente do alto, os chamados “vinhos de altitude” e se chama Terra Boa, composto pelas castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, da safra 2018. E sem mais delongas, falemos um pouco dos “vinhos de altitude” e da minha nova queridinha: Terras da Beira.

Vinhos que vem do alto: “Vinhos de altitude”:

A dificuldade mais comum é apontar uma cota a partir da qual estamos em presença de um vinho de altitude. Bastará uma colina ou apenas poderão ser consideradas aqueles cujas cepas se encontram a mais de 2000 ou 3000 metros de altitude, tal como as que existem em Colomé na zona de Salta, Argentina ou no Monte Etna na Sicília?

Ao longo dos anos, os enólogos que produziam vinhos em regiões mais altas apercebeu-se que tinham sido confrontadas com condições muito particulares de luz (maior intensidade e radiação ultravioleta), temperatura (grandes amplitudes térmicas), ar (menor percentagem de oxigénio e de dióxido de carbono) e de maturação (níveis mais elevados de taninos e antocianos). Essas diferenças, conjugadas com as caraterísticas geológicas, originariam vinhos mais frescos e com uma acidez mais elevada.

A temática revestiu-se de tanto interesse que no início do milénio foi organizado, na Califórnia, o primeiro simpósio internacional dedicado ao tema da viticultura em altitude. Neste evento, o climatologista, Greg Jones, explicou a diferença entre relevo relativo (as diferenças de altitude num ponto baixo e num ponto alto de uma colina) e relevo absoluto (diferença de altitude desde o nível das aguas do mar). Para Jones, o relevo relativo tem influência real sobre o clima e condições meteorológicas, assim para as vinhas também terá. No entanto, os encepamentos que se encontram a uma maior altitude, quando comparadas com outras ao nível do mar, apresentam diferenças significativas no clima e nas condições meteorológicas.

As Terras da Beira

No interior da região atualmente delimitada com a designação Terras da Beira está inserida a DO (Denominação de Origem) Beira Interior e estas áreas faziam parte de uma região vitivinícola bastante extensa, então designada como IG (Indicação Geográfica) Beiras. Foi a sede do povo Lusitano, onde o seu rei Viriato foi assassinado em 139 a. C. pelos Romanos que depois tomaram posse desta terra. Cerca de 600 anos depois, surgiram os Visigodos, últimos dois povos com grande ligação à viticultura. Os monges de Cister, a partir do séc. XII revitalizaram a viticultura após a Reconquista. Os árabes muçulmanos dedicaramse menos a esta cultura. Situada no coração do interior Norte, perto da fronteira com Espanha, na região mais escarpada e montanhosa de Portugal Continental, abarca no seu interior a Serra da Marofa, a Serra da Gardunha e parte da Serra da Estrela.

Terras da Beira

No que diz respeito à DO Beira Interior, as suas subregiões são: Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira, que sempre se notabilizaram por vinhos de elevado valor enológico, expresso num aroma mais rico e distinto das outras regiões. A elevada altitude das vinhas, acima de 400 até 700 m, num total de 16.000 hectares, lembra a situação do país vizinho com as grandes regiões vitivinícolas de Castela. Noites frescas no Verão, e mesmo frias na fase da vindima e da fermentação, já antes da introdução das novas tecnologias de fermentação controlada permitiam a produção de vinhos maduros frescos e aromáticos. O vinho rosado, na época das grandes exportações deste tipo de vinho, em meados do séc. XX, especialmente para os EUA e o norte de Europa, sempre foi considerado o melhor e trouxe alguma prosperidade a esta região.

Os verões são curtos, mas muito quentes e secos, os invernos prolongados e gélidos. Os solos são maioritariamente graníticos, com alguma presença de xistos e, embora menos comum, alguma componente arenosa. As três subregiões partilham sensivelmente as mesmas especificidades materiais, apesar de se encontrarem separadas por cadeias montanhosas com picos de mais de mil metros de altitude, onde a combinação de solos pobres, acidez elevada e maturações robustas garante um futuro promissor para toda a região. A Cova da Beira apresenta características divergentes e alternativas, espraiandose desde os contrafortes orientais da Serra da Estrela até ao vale do Tejo, a sul de Castelo Branco. As adegas cooperativas produzem grande parte do vinho da região, apesar de, cada vez mais, surgirem no mercado vinhos de pequenos e médios produtores.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um lindo vermelho rubi com reflexos violeta e muito brilhante dando-lhe vivacidade, com uma boa concentração de lágrimas finas e de certa persistência.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas vermelhas como groselha, cereja, framboesa, com um toque floral, lembrando flores vermelhas, trazendo a impressão de frescor e leveza.

Na boca é seco, ainda jovem, expressando todas as sua notas frutadas como percebida no aspecto olfativo, além de fresco, macio, mas com a personalidade que as castas que compõe o blend é capaz de entregar. Tem taninos macios e delicados, acidez correta e muito versátil e equilibrado.

O nome faz jus ao vinho! A terra definitivamente é boa! Tudo nesse básico, mas especial vinho, é soberbo! Versátil te entrega um vinho frutado, saboroso, aromático, floral, flores vermelhas, mas com a personalidade que vem do alto, das vinhas velhas, amansadas pelo tempo, bem marcante, mas tudo em um contexto harmônico e muito equilibrado, com um excelente potencial gastronômico, pode ser harmonizado com simples refeições ou pratos mais complexos e condimentados. A pseudo condição de coadjuvante na região, revela um vinho especial, básico sim, mas que entrega além do que valeu, além de sua proposta. Que venham mais vinhos da emblemática Terras da Beira! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta da Bacalhôa:

Bacalhôa Vinhos de Portugal foi  fundada em 1922, sob a denominação João Pires & Filhos, daí o nome do vinho “JP Azeitão”. Em 1998 o controle da empresa foi comprado por José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild. No ano de 2008 o grupo Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. Sua sede está localizada na histórica. O Comendador José Berardo, sendo o principal acionista, prosseguiu com a missão da empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo. Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte, a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200ha de vinhas a sua exploração agrícola. A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte, Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes. Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais. Com uma capacidade total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue a sua aposta na inovação no sector, tendo em vista a criação de vinhos que proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e consistência. A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria. A cada uma das entidades que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome, que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.bacalhoa.pt/

Referências para pesquisa:

“Wine to Wine Circle”: https://www.vinetowinecircle.com/regioes/terras-da-beira/#:~:text=Regi%C3%A3o%20vitivin%C3%ADcola%3A%20TERRAS%20DA%20BEIRA&text=Foi%20a%20sede%20do%20povo,foi%20assassinado%20em%20139%20a.&text=Cerca%20de%20600%20anos%20depois,a%20viticultura%20ap%C3%B3s%20a%20Reconquista