sábado, 22 de maio de 2021

Torcello Cabernet Sauvignon 2015

 

Eu sempre defendi e defendo que a degustação de um vinho não se restringe ao consumo meramente, a degustação propriamente dita, embora seja o ápice, o momento épico, único, singular. Porém degustamos também a informação que absorvemos o conhecimento decantado, o banho de cultura, um escambo cultural é necessário sem nenhuma sombra de dúvida e não é mero preciosismo, mas também a certeza de que podemos ter acesso aos mais diversos rótulos, castas, regiões, países e o principal: novas experiências sensoriais que nos propicie a melhor, adivinhe, degustação, o célebre momento da degustação.

O caso desse rótulo retrata fielmente o que registrei acima. Em meados dos anos 2000, não sei dizer ao certo o ano, talvez 2013, eu participei de um evento de degustação no Rio de Janeiro, no Centro da cidade. Esse evento de degustação, tornou-se, por cerca de duas horas, o centro de minha atenções, o deleite das minhas experiências sensoriais. Eram muitos rótulos, estava difícil escolher por onde começar: vinhos brasileiros, italianos, portugueses...que dúvida ótima essa, não é?

Mas comecei as degustações e de estande por estande, produtor por produtor, observei, ainda ao longe, distante até, mas aproximei, interessado e, como que atraído, como um imã, cheguei em um estande que não tinha tantos rótulos disponíveis, mas que me interessou e confesso que não sabia o motivo pelo qual tinha sido atraído para aquele estande, para aquele produtor, talvez pelo fato de ser um rótulo novo, pouco conhecido à época.

Era um vinho brasileiro, de uma vinícola nova, mas que pertencia a gigante, tradicional e importante Família Valduga da região de Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos. E isso eu fui descobrindo pelo fundador, Rogério Carlos Valduga, isso mesmo, o criador da vinícola em pessoa estava diante de mim, muito atencioso e simpático, que passava, sem hesitar, todas as informações dos rótulos disponíveis e da sua vinícola. Fiquei tão entusiasmo quando degustei cada um deles, Merlot, Tannat etc, que diante da opção sensorial, os meus sentidos apontou para o Torcello, esse também é o nome da vinícola e que dá nome aos vinhos também, da casta Tannat da safra 2014.


Eu estava experimentando os Tannats nacionais e estava gostando e muito dos rótulos escolhidos, então esse veio a calhar e como veio! Então aqui seguem as minhas impressões, mais do que entusiasmadas, desse ótimo vinho: Torcello Tannat 2014. Mas o tempo foi passando, descobertas foram sendo feitas, novas experiências sendo empreendidas e no ano de 2017, em mais um evento de degustação conhecido como “Vinho na Vila”, direcionado apenas aos vinhos nacionais, lá estava eu passeando pelos estandes e conhecendo um pouco mais os rótulos brasileiros. Esse evento foi emblemático, um verdadeiro divisor de águas para mim, no que tange ao contato mais intenso com os vinhos tupiniquins.

E por uma grata surpresa lá estava o estande da Torcello! Agora com uma bela diversidade de rótulos, novos rótulos para mim e os que eu já conhecia daquela época de 3 ou 4 anos atrás. E neste evento o Rogério Carlos Valduga de novo, juntamente com a sua simpática, empatia e atenção tão característica que tive a oportunidade de ver há algum tempo atrás. Claro que fui até o estande, não hesitei desta vez e degustei um a um e cheguei ao Cabernet Sauvignon (não me recordo se tinha degustado este na primeira vez, no primeiro contato com os vinhos da Torcello), fui servido, a minha taça cheia de novidades! O degustei e gostei! Que vinhaço! Então não hesitei em levá-lo.

Ficou em minha adega por longos 4 anos! E com 6 anos de safra, um vinho mais austero, poderoso, mas afinado pelo tempo. A ansiedade palpitava! É chegada a hora de degusta-lo. Então o vinho que degustei e gostei veio do Brasil, da região do Vale dos Vinhedos e se chama claro, Torcello da casta Cabernet Sauvignon (100%) da safra 2015. Mas antes de falar do vinho não podemos deixar de enaltecer a região de onde é oriunda: Vale dos Vinhedos!

O Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento Gonçalves. A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55 por cento do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8 por cento na porção noroeste. A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37 por cento da área total. Parte da zona urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti passa pela parte oeste da cidade. Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região com classificação de Denominação de Origem (DO) de vinhos no país. Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.

Vale dos Vinhedos DO

Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos

1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2 localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.

2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;

3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo “Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório; 

4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;

5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;

6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente em barris de carvalho;

7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12 meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato com as leveduras, na fase de tomada de espuma;

8 - Os vinhos apresentam características analíticas e sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, com reflexos acastanhados em seu entorno demonstrando a maturidade do vinho, com lágrimas grossas e abundantes que desenham, mancham as paredes do copo.

No nariz as notas de frutas vermelhas maduras se revelam de forma intensa, mas em perfeito equilíbrio com a madeira, com toques discretos de baunilha e tostado, além de um pimentão.

Na boca é estruturado, encorpado, mas muito redondo e harmonioso, o tempo lhe foi gentil, os taninos se mostram vivazes, mas aveludados, com a madeira e o tostado aparecendo de novo, devido a passagem de 6 a 8 meses por barricas de carvalho, com uma boa acidez que entrega um vinho pleno aos 6 anos de idade. Final persistente e frutado.

Um belíssimo Cabernet Sauvignon, equilibrado e austero, o tempo foi muito gentil com esse vinho, mas revelou-se ainda complexo, estruturado, poderoso. Uma curiosidade que recebi do produtor: “Trabalhamos com apenas 3 Kg de uva por planta, dessa forma a uva ganhou muito em estrutura e nutrientes.” Um exemplo de que temos sim grandes vinhos da casta Cabernet Sauvignon que, para muitos, existe o receio de vinhos brasileiros inexpressivos dessa cepa. O Torcello é o exemplo de que essa informação é totalmente improcedente. Um vinho oriundo das informações, da decantação do conhecimento. Vinho e conhecimento andam juntos, devem andar juntos, de mãos dadas a serviço do enófilo, para deleite e prazer do enófilo, sempre. Novas experiências, novas percepções, todas são formas de celebração ao vinho e Torcello Cabernet Sauvignon é uma ode às gratas novidades! Que venham mais e mais vinhos com esse emblema de qualidade e tipicidade. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Torcello:

A História da Torcello inicia com a chegada do primeiro imigrante italiano da Família Valduga ao Brasil (Marco Valduga), em 1875. Com muita fé, trabalho e perseverança, desbravaram matas virgens e construíram o que hoje conhecemos como Vale dos Vinhedos. A Vinícola Torcello foi fundada no ano de 2000 por Rogério Carlos Valduga, quarta geração da Família Valduga, e filho de Remy Valduga (viticultor, escritor e bisneto de Marco). A Torcello surgiu do fascínio de Rogério pela vitivinicultura e pelo seu desejo de resgatar a tradição da família, a qual elaborava vinho de maneira totalmente artesanal no próprio porão de casa para consumo próprio.

Curiosidades sobre a Torcello:

Uma das menores ilhas de Veneza chama-se Torcello, e dessa forma, por sermos uma das menores vinícolas instaladas no Vale dos Vinhedos, fizemos alusão a ilha. Já a escolha do símbolo da Vinícola, Leão Alado de São Marcos, deu-se pelo fato de o Leão representar proteção. Sendo assim, o símbolo remete a proteção do Leão Alado sobre os vinhos por nós elaborados. Os primeiros vinhos foram elaborados em 2005, e a abertura do varejo aconteceu em 2007. Hoje a Vinícola elabora vinhos, espumantes e sucos em pequena escala, buscando sempre a qualidade.

Mais informações acesse:

https://www.torcello.com.br/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos

“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos









quinta-feira, 20 de maio de 2021

Moinho de Sula Colheita Selecionada branco 2017

Muitos tomam as suas decisões de escolher um vinho mediante um valor baixo, aquele valor atrativo, bem baratinho que nos atrai, nos hipnotiza que compramos sem olhar ou no máximo aquela casta de que apreciamos geralmente aquelas muito famosas e que é fácil encontrar em qualquer ponto de venda, como supermercados ou até em lojas especializadas. E comigo não era diferente, admito, o valor baixo me atraia, aquela casta conhecida que não tinha erro também, mas atualmente não são esses fatores que pesam na escolha de um vinho.

Não sei dizer exatamente o motivo pelo qual o meu “radar” mudou, mas hoje tenho dado um grande valor a escolher determinados vinhos cujas castas são pouco populares ou pouquíssimas conhecidas ou de uma região menos badalada, menos famosa. Diante disso, em tese, o risco de ser ter uma decepção pode ser avassaladora e degustar um vinho que não esperava, afinal como negligenciar um vinho da região de Bordeaux, na França, Alentejo, em Portugal, Serra Gaúcha, no Brasil, por exemplo?

É claro que regiões como essas é quase irrecusável degustar um vinho, são emblemáticas, tradicionais e especiais, mas será que temos de nos render a uma zona de conforto que temos de admitir, ser um sério risco, é rejeitar veementemente as outras regiões ou castas pelo simples fato não conhece-las e sequer abrir a mente para conhece-las?

Como em vários aspectos da vida temos os tabus no universo do vinho, mas eles estão aí para serem quebrados, rompidos, para que possamos nos libertar e buscar novas experiências sensoriais. De um tempo para cá descobri, quase que sem querer, uma região em Portugal chamada Beira Atlântico graças a conhecida e famosa Bairrada que, geograficamente falando, é próxima a primeira região. Degustei o primeiro vinho e gostei, degustei um segundo rótulo e gostei. Pensei: Não é possível, essa região tem algo de especial, vamos buscar, garimpar novos rótulos, novas experiências. E encontrei.

O vinho que degustei e gostei veio, claro, da Região do Beira Atlântico, e se chama Moinho de Sula Colheita Selecionada, um branco composto pelas autóctones castas Bical (40%), Maria-Gomes (40%), mais conhecida como Fernão Pires e a famosa Arinto (20%) da safra 2017. E como falei, de forma entusiasmada da região do Beira Atlântico nada mais justo do que falar um pouco sobre ela, sobre a sua história e um pouco também das castas Bical e Maria-Gomes, Fernão Pires, as menos conhecidas que compõe esse belíssimo blend.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. Joao I e de D. Joao III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Bical

A Bical é uma uva branca de origem portuguesa utilizada na elaboração de vinhos brancos e espumantes. Cultivada principalmente na região de Beiras, especialmente na Bairrada e no Dão, no centro de Portugal, produz vinhos de elevada acidez, podendo ser aproveitada em blends ou em vinhos varietais. É caracterizada por sabor frutado e pode apresentar, em anos mais maduros, notas de frutas tropicais. Trata-se de uma casta precoce com elevado teor alcoólico, que apresenta alta resistência à podridão, mas tem como peculiaridade a alta sensibilidade ao oídio.

Também conhecida como Arinto de Alcobaça, Bical de Bairrada, Pintado dos Pardais ou Pintado das Moscas, Barrado das Moscas e Borrado das Moscas, devido à sua aparência nos vinhedos, a uva Bical é, junto com a uva Maria Gomes, é uma das castas mais importantes desta região portuguesa da Bairrada. Os vinhos elaborados com a casta Bical são bastante macios e muito aromáticos, frescos e de boa estrutura. Respondem muito bem ao envelhecimento em carvalho e ao contato estendido com as borras, resultando em ótimos vinhos. Os melhores exemplares podem maturar por mais de dez anos, adquirindo características próximas a vinhos elaborados com a Riesling. Esta uva também é bastante utilizada em espumantes, muitas vezes misturada com as castas Arinto e Cercial.

Uva bastante precoce, a Bical possui amadurecimento rápido nos vinhedos e pode desenvolver alto teor alcoólico, principalmente se for deixada na videira por um longo período. Quando apresenta acidez acima da média, é utilizada na elaboração de espumantes ou em vinhos de corte com a Arinto. Na região do Dão ela é conhecida como Borrado das Moscas, pois as uvas maduras nos vinhedos apresentam pequenas manchas castanhas, que lembram muito o desenho de moscas, mas que são apenas sardas na parte externa da fruta. Esta característica faz com que se tenha a impressão de as uvas estarem levemente irregulares.

Maria-Gomes ou Fernão Pires

Maria Gomes é uma variedade de pele clara conhecida popularmente como uva Fernão Pires. Trata-se de uma variedade aromática e cultivada, principalmente, em Portugal. A versátil uva Maria Gomes é utilizada na elaboração de vinhos brancos secos e serve de base também para vinhos de sobremesa e bons espumantes. Lima, laranja e raspas de limão são os três aromas mais comuns encontrados nos vinhos Maria Gomes. Em alguns casos, os vinhos apresentam também sabores de mel e bem minerais, com o decorrer do tempo em que vão envelhecendo.

As vinhas da Maria Gomes se adaptam melhor quando são cultivadas em regiões com temperaturas elevadas, principalmente, nas áreas centrais e no sul de Portugal – Bairrada, Lisboa e Ribatejo. Os altos rendimentos dessa variedade necessitam ser controlados pelo produtor, a fim de que seus frutos apresentem complexos aromas e sabores. Além disso, as videiras da Maria Gomes são sensíveis a geadas, sendo inadequada para o cultivo em regiões frias. A maior parte dos vinhos produzidos a partir da Maria Gomes apresenta excelente complexidade aromática, embora ocorram algumas complicações por parte dos produtores, precisando que alguns cuidados sejam tomados durante a vinificação para que seja produzido um bom vinho.

Os níveis de acidez da uva Maria Gomes podem diminuir consideravelmente no final do crescimento, dando origem a vinhos pouco complexos e “flácidos”, com tendência a serem simples. Apenas os melhores exemplares podem envelhecer por alguns anos na garrafa. Na maior parte das vezes, os vinhos de Portugal são combinações de duas ou mais uvas, e os vinhos produzidos com a uva Maria Gomes não são exceção. A casta aparece nos rótulos dos exemplares, normalmente, ao lado de outras cepas nativas de Portugal, como a Arinto.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo, reluzente e brilhante amarelo palha com discretas tonalidades esverdeadas.

No nariz explode em aromas frutados, de frutas brancas, como pera, maçã verde, melão com toques citrinos e nuances tropicais que entregam um frescor e leveza incríveis.

Na boca é fresco, leve, jovial, as notas frutadas aparecem com grande destaque sem ser enjoativo, muito harmonioso e equilibrado, com uma acidez correta e um final prolongado, persistente e de retrogosto frutado.

Novas regiões, castas autóctones, apelo regionalista, tradições à flor da pele, novas experiências sensoriais, são todas essas percepções que nos proporciona viagens maravilhosas ao vasto e inexplorado universo do vinho. O Moinho de Sula, diante de sua nobre simplicidade, entrega tudo isso e de forma incondicional e digo isso com toda a certeza, com toda a excitação possível. E mostra que, podemos sim, romper com tabus e paradigmas no conservador mundo do vinho que se esconde no óbvio da zona de conforto que nos impede de degustar novos rótulos, novas castas e novas regiões. Um vinho jovem, fresco, leve, saboroso, mas intenso e expressivo que, com a personalidade de sua simplicidade entrega plenamente o que propõe. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/bical

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/maria-gomes

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/

 

 

 

 

DNA Murviedro Gran Astro Crianza Tempranillo 2015

 

No passado eu tinha certa rejeição, alguma controvérsia com os vinhos espanhóis. Talvez pela visão pré-concebida, preconceituosa acerca dos seus rótulos. Sempre tive a percepção de que os vinhos espanhóis ofertados em terras brasilis eram demasiados caros e pouco atrativos! Os valores altos são reais e verdadeiros até os dias de hoje, mas pouco atrativos não, nunca! Estava anestesiado pela ignorância, pela incapacidade de discernimento, de entendimento da relevância histórica e de qualidade dos vinhos da Espanha.

Mas convenhamos que no passado, cerca de 10 ou 15 anos atrás, aproximadamente, não tínhamos uma gama, um leque de opções de compra como temos em dias atuais, com uma enxurrada de e-commerce ofertando os mais variados rótulos espanhóis de todo o tipo e proposta, logo valores também, que vai do mais simbólico aos mais altos. Todavia tenho de admitir também que essa gama, essa diversidade sempre existiu, mas que, diante do ápice da minha incompetência ou diria, ingenuidade, nunca identifiquei.

O conceito de vinhos jovens, crianzas, reservas e gran reservas, nomenclaturas tão massificadas no universo do vinho, na Espanha é muito bem definido e regido por um conjunto de normas rígidas que devem ser seguidas para que esses vinhos garantam a sua tipicidade, expressando o que há de melhor de seus terroirs e consequentemente a sua qualidade, enquanto em outros polos importantes da vitivinicultura mundial e usado como marketing para se posicionar no mercado produtor de vinhos.

Quando descobri essas propostas de vinhos espanhóis, muito por acaso, uma janela de oportunidades se abriu diante dos meus olhos, me arrebatando por inteiro. Minhas experiências sensoriais se viram atraídos por esses vinhos e que culminou com o meu interesse pelos vinhos evoluídos, pelos vinhos de vocação de guarda. Sim, os crianzas, reservas e, sobretudo os gran reservas entregam longevidade.

E hoje, com a presença de um querido amigo que compõe a nossa nova e espero longeva confraria, reservo para degustando um interessante e instigante crianza que me chamou muita a atenção pelo surpreendente valor, um valor atrativo, na faixa dos R$ 39,90, de uma emblemática região espanhola, a grife dos vinhos daquele país, chamada Rioja, uma região que não degustava vinhos há tempos e que, no início, me deixou um tanto quanto receoso, afinal um vinho de Rioja a esse valor! Como? Mas o que me trouxe certa tranquilidade, reforçando a minha decisão de compra-lo foi o seu produtor, chamado Murviedro, cujos vinhos já degustei dois rótulos, com destaque para o Murviedro Collection Petit Verdot 2015 excepcional. Então assumi o risco e comprei!

O vinho que degustei e gostei como disse veio da região espanhola tradicional de Rioja e se chama DNA Murviedro Signature Gran Astro, um crianza, da safra 2015, da emblemática casta Tempranillo (100%), um DOC riojano. Esse é o meu terceiro crianza, os primeiros foram o Viña Chatel 2013 e o El Misionero da safra 2015. E já que falei muitas vezes dos vinhos “crianza”, vale e muito a pena embarcar no conceito desses vinhos e também da importante Rioja para a Espanha.

Crianza

O termo “Crianza”, encontrado em alguns dos rótulos dos vinhos espanhóis, ainda causa muita confusão. Ao contrário do que muitos imaginam, a palavra não está relacionada à jovialidade do vinho (não tem nada a ver com criança). A questão principal ao falar sobre um vinho Crianza é a sua maturação. O termo Crianza em espanhol é aplicado para determinar que àquele vinho passou por um processo em barrica de carvalho, desse modo, entrando em contato com madeira, e com isso, adquirindo corpo.

Geralmente um crianza estagia, no mínimo, seis meses em barrica de carvalho. Nas regiões de Rioja e Ribera del Duero, o tempo em carvalho aumenta para um ano. No caso dos brancos e rosés, mínimo de seis meses em barricas e total de um ano e meio de amadurecimento. E o que isso representa? Que é um vinho mais elaborado e que, por ter amadurecido em contato com a madeira, ganhou mais complexidade de aromas e sabores quando comparado a vinhos que não passam por este estágio.

Como todos os vinhos que passam por madeira – e podemos incluir os vinhos Reserva e Gran Reserva – os vinhos Crianza tem um maior volume de aromas, complexidade e sabores. São indicados para uma apreciação paciente e para acompanhar pratos que exijam uma presença de vinhos aromáticos.

Leia mais sobre os vinhos crianza, reserva e gran reserva em: Vinho espanhol Crianza, Reserva, Gran Reserva e outras classificações.

Rioja: a mais famosa região vinícola da Espanha

A Espanha é um retalho de diferentes denominações de origem ligadas ao vinho. Entre as mais importantes está Rioja, no nordeste do país, às margens do rio Ebro, com 63.593 hectares de vinhedos distribuídos no território das três províncias que margeiam o rio: La Rioja, Álava e Navarra. Cem quilômetros de distância separam Haro, a cidade mais ocidental, de Alfaro, a mais oriental. O vale ocupado por vinhedos tem cerca de 40 quilômetros de largura máxima.

Rioja

As primeiras vinhas desse vale remontam ao período romano e a cultura do vinho foi mantida durante a Idade Média pelos monges. Aliás, Gonzalo de Berceo, monge em San Millan de la Cogolla, considerado o primeiro poeta do idioma castelhano, chegou a exaltar em versos o vinho local. No entanto, durante séculos, a principal cultura local foi a de cereais. O vinho só tomaria lugar de destaque na Idade Moderna, com o aparecimento das cidades e o florescimento do comércio. Um dos principais marcos do vinho na região foi a criação do Conselho Real de Colhedores, em 1787, que visava promover o cultivo da videira, contribuir para melhorar a qualidade dos vinhos e facilitar o comércio dentro dos mercados do norte, de modo que sua dedicação prioritária foi construir e melhorar estradas e pontes para unir as cidades vinícolas de Rioja com Vitória e o porto de Santander.

O auge, porém, foi com a fundação de vinícolas históricas em meados do século XIX, a chegada da estrada de ferro e dos compradores franceses, devido à crise da filoxera. Enólogos ilustres como Luciano Murrieta (Marqués de Murrieta), Camilo Hurtado de Amezaga (Marqués de Riscal) e Rafael López Heredia (Viña Tondonia) introduziram o conceito de qualidade nos vinhos de Rioja.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa.

Desde então, as vinícolas de Rioja têm estado à frente de muitas revoluções na indústria do vinho espanhol, especialmente durante a revolução tecnológica da década de 1970. A Denominação de Origem Qualificada foi dada em abril de 1991, fazendo com que Rioja se tornasse a primeira região a receber o status de DOCa.

Um dos baluartes da DOCa Rioja é o uso da madeira, tanto que os vinhos são denominados qualitativamente de acordo com o tempo que passam em barrica, indo do genérico, passando pelo Crianza, depois Reserva e, por fim, Gran Reserva. No entanto, desde 2017, a região criou uma nova forma de dividir os vinhos qualitativamente ao dar mais ênfase à sua origem, além do tempo em barrica. Dessa forma, criou-se a seguinte divisão: vinhos de zona, vinhos de município e vinhos de vinhedos singulares (que seriam os mais representativos da região). E esses três tipos de vinhos então são divididos novamente em quatro categorias: genérico, Crianza, Reserva e Gran Reserva. Uma das características dos vinhos de Rioja é a aptidão que possuem para o envelhecimento.

A melhor uva tinta de Rioja é a Tempranillo, que atua com o mesmo peso das principais uvas tintas do mundo, como a Cabernet Sauvignon e a Nebbiolo. Os vinhos de Rioja são envelhecidos em tonéis de carvalho americano, atravessando um lento processo de evolução, micro-oxigenação e estabilização, o que lhes garante uma característica notoriamente distinta. Os vinhos brancos do Rioja, produzidos com a uva Viura, também participam de um longo envelhecimento nos tonéis de carvalho. Os exemplares mais modernos, que permanecem por menos tempo, adquirem um caráter leve e frutado.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi de média intensidade, vivo e muito brilhante, com lágrimas em abundância e muito finas e que teimavam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz notas destacadas de frutas vermelhas frescas com toques amadeirados e de baunilha. Muito frescor no olfato, mostrando que o vinho, mesmo com seus seis anos de safra, estava pleno e vivo.

Na boca se revelou redondo, equilibrado e harmônico. Mesmo apresentando alguma estrutura e complexidade, o vinho se mostrou muito bem integrados entre taninos, muito amáveis e aveludados, entre a madeira, passou por 14 meses em barricas de carvalho, e acidez, de média intensidade entregando frescor, com as frutas vermelhas em evidência. Um final persistente e prolongado.

Um vinho que personifica Rioja e que foi “decantado” textualmente nesta resenha: expressivo, de marcante personalidade, mas fácil de degustar, valorizando sua elegância, seu equilíbrio, sua versatilidade. Um vinho que carrega essa máxima em seu nome: “DNA” Murviedro. Nele há a essência dos vinhos cuja origem é a fusão cultural intrínseca e ao povo das terras espanholas. Há o terroir à flor da pele, a terra represada na garrafa que, ao desarrolhar, explode em tipicidade, a força de Rioja Alta que dança na taça para deleite de nossos sentidos. Um vinho delicado, mas intenso, pleno, saboroso e de uma complexidade que só um crianza pode oferecer aos mais exigentes enófilos. A Espanha, a cada dia e rótulo, ainda revela grandes e atraentes surpresas. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Bodega Murviedro:

Em 1927 a Bodegas Schenk instala subsidiárias na Espanha, a primeira em Vilafranca del Penedès, na Catalunha, sob o nome de 'Schenk Spain'. Em 1929 abre vinícolas em Alicante, Utiel e Requena, vinícolas jovens que inicialmente optaram pelo vinho a granel de 'qualidade', uma marca registrada até hoje. Em 1931 a Schenk Espanha decide concentrar suas atividades na vinícola Valência, que, localizada ao lado do porto, foi o início de um dos pilares fundamentais da marca: as exportações. O vinho engarrafado está ganhando importância, até hoje é o foco principal da empresa, aderindo a essa “tendência”, em 1950. Em 1997 a Schenk Spain muda de sede, aproximando-se dos pés das vinhas, Requena, no coração da Denominação de Origem Utiel-Requena, produtora de vinhos de excelente qualidade. Em 2002 aproveitando a comemoração do 75º aniversário muda o nome da vinícola para 'Bodegas Murviedro', em homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais emblemáticas da Comunidade Valenciana e que fez de Murviedro uma das vinícolas mais reconhecidas.

Para mais informações acesse:

https://murviedro.es/

Referências:

“Blog Lovino”: https://blog.lovino.com.br/o-que-e-um-vinho-crianza/

“Blog Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/curiosidades/desvendando-vinhos-crianzas/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-grandes-vinhos-de-rioja-na-espanha_12056.html

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/rioja

“Revista Versar”: https://www.revistaversar.com.br/rioja-conheca-a-mais-famosa-regiao-vinicola-da-espanha/

 

 

 

 





segunda-feira, 17 de maio de 2021

Bertolini Teroldego 2018

 

Inspiração, novos caminhos, exemplos, tradição, histórias... São nomes que podem parecer um tanto quanto “soltos” e perdidos, mas quando falamos em vinhos brasileiros são conceitos que se fundem e que, ao longo do tempo, vem, apesar dos entraves que a política pública impõe ao vinho, vêm, a duras penas, se consolidando com força. Sem discursos ufanistas distantes da realidade do povo brasileiro, o vinho nacional vem conquistando notoriedade e respeito em todos os cantos do planeta e vem solidificando sua qualidade em terras consagradas e milenares na produção vinícola, no Velho Mundo. Pena que ainda não tivemos o reconhecimento, em todos os aspectos, em solo brasileiro, sobretudo pelos nossos governantes que, com um discurso torto e conservador, a considera apenas como um produto alcoólico e não como um alimento que é cientificamente comprovado por especialistas como benéfico à saúde.

Mas não é sobre isso que gostaria de falar, pelo menos ainda, e sim da qualidade do vinho brasileiro e quanto eles crescem em tipicidade, enaltecendo, de forma sublime, os nossos mais ricos e proeminentes terroirs. E o que mais me deixa feliz, como um apreciador da bebida de Baco, é de que castas raras ou oriundas de outros países estão sendo produzidas, cultivadas em nossas terras, adquirindo um caráter todo especial, com a nossa “assinatura”, o nosso DNA sem, é claro, abrir mão, negligenciar as suas mais genuínas características.

E, por intermédio, dos vinhos brasileiros, as conheci, estou conhecendo-as. As nossas terras entregam, com incrível brilhantismo, as castas de outras terras. Somos abençoados pela natureza, pelos nossos recursos naturais e diria culturais, dessas abnegadas pessoas que extraem, com amor e competência, a matéria-prima que nos presenteia com os seus grandes rótulos.

E assim descobri uma casta chamada Teroldego. Teroldego? Um nome esquisito, pouco usual diante dos nomes mais conhecidos como Malbec e Merlot, mas que alguns dos mais renomados e até menos conhecidos produtores desse país estão produzindo em suas vinícolas. E, depois de uma leitura mais minuciosa sobre a casta, não hesitei em comprar um exemplar dessa casta ainda pouco conhecida no Brasil.

E estava com um amigo em busca de escolha por um rótulo para compor o nosso mais novo encontro de confraria e sugeri a compra de um rótulo da casta Teroldego. E então resolvemos arriscar com um que veio de uma promissora região que fica no sudeste do Rio Grande do Sul, Encruzilhada do Sul. O Vinho que degustei e gostei, e como gostei, se chama Bertolini Riserva Famiglia Bigorna, da casta, é claro, Teroldego, da safra 2018. Já que falemos da Teroldego e de Encruzilhada do Sul, vamos traçar um histórico de todos!

Teroldego: A uva do Trentino

Teroldego (lê-se “terôldego”) é uma uva tinta da região do extremo norte de Trentino, nordeste da Itália. A primeira vez que o vinho utilizando essa uva foi mencionado (que se tem registro) foi em 1840 em Cognola na Itália, em um contrato que dizia haver uma quantidade de “bons vinhos Teroldego”.

É provável que o berço da Teroldego seja a planície Rotaliano e que tenha tomado o nome de um lugar chamado Alle Teroldege, onde vinhas foram mencionadas antes do século XV. Outra hipótese é pelo sinônimo Tiroldigo, o nome que deriva de Tiroler Gold, ouro do Tirol, este nome era, aparentemente, usado em Viena para designar vinhos de Trentino. Alguns autores sugerem que a uva foi introduzida a partir da planície vizinha de Verona, onde uma variedade chamada Terodol’i foi mencionada no passado. Estudos feitos baseados no DNA, revelou que a Teroldego é uma “irmã” da Dureza (uva extinta “mãe” da Syrah), portanto, um “tio/tia” da Syrah.

Teroldego é uma uva roxa de cor escura e cascas firmes. Produz vinhos com uma acidez e um amargor característicos e tem potencial para produzir desde vinhos de corpo mais leve até os mais encorpados.

Teroldego

Trentino continua sendo a “casa” da Teroldego. Elisabetta Foradori é a principal produtora dos vinhos Teroldego Rotaliano (D.O.C). Além disso, tais exemplares podem ser consumidos dentro de três anos após o engarrafamento ou, até mesmo, envelhecer por dez anos. Em blends, a uva Teroldego é utilizada para adicionar cor aos exemplares e é cultivada em Toscana e Veneto para esta utilidade. Outros países que produzem vinhos com esta uva são: Estados Unidos, Austrália e Brasil.

Teroldego no Brasil

A Teroldego é uma uva com fortes taninos e casca grossa e, dependendo da área onde estiver cultivada, dá origem a vinhos com diferentes estilos. Em regiões mais frias, assim como a Serra Gaúcha, essa variedade é responsável por elaborar vinhos menos potentes e aromáticos, bem como exemplares com coloração mais clara. No entanto, se a uva Teroldego estiver cultivada em regiões mais quentes e ensolaradas, como é o caso da Serra do Sudeste e Campanha, os vinhos tintos serão mais encorpados, aromáticos e com fortes taninos – suavizados com o uso de barris de carvalho. Mais informações sobre a Teroldego no Brasil leia: “Uva Teroldego resgata identidade no sul do País”.

Encruzilhada do Sul

Encruzilhada do Sul é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, localizado no Vale do Rio Pardo. O primeiro nome foi Santa Bárbara de Encruzilhada. No decorrer dos anos de 1715 até 1766 os primeiros habitantes instalaram-se no Capivari, região que hoje fica a alguns quilômetros da cidade. Surgiram na campanha os primeiros estabelecimentos pastoris, formados por uma vanguarda de missionários e índios, que lutaram juntamente com guardas que protegiam a Província das invasões espanholas. Domingos Bitencourt fez doação de uma parte de terras ao governo, onde fica a cidade de Encruzilhada do Sul, para que fosse construída uma Freguesia. Começou, então, a chegada dos primeiros povoadores de Rio Pardo, São Paulo, Açores e Laguna.

Curiosamente, a Serra do Sudeste abriga pouquíssimas cantinas. O relevo suavemente ondulado serve de sede quase que exclusivamente para vinhedos. A maior parte das uvas é transportada, geralmente à noite, até outras regiões do Rio Grande do Sul, onde é vinificada. No entanto, com o crescimento de sua importância no cenário enológico nacional e o surgimento de empreendimentos locais voltados à produção de uva, essa situação deve sofrer mudança em um futuro breve. Encruzilhada do Sul, é um amável município que fica a menos de duas horas de carro a sudoeste de Porto Alegre. Está localizado na Serra do Sudeste que possui altura média de 300 a 400 metros de altura, sendo boa parte de seu solo de pedra, com invernos rigorosos e verões com excelente insolação.

Serra do Sudeste e a Encruzilhada do Sul

Mapa Encruzilhada do Sul

A Serra do Sudeste tem colinas suaves, que facilitam o plantio e a mecanização, tornando-a um terroir mais simples de trabalhar. Aliadas a isso, estão as condições climáticas, mais favoráveis do que no Vale dos Vinhedos. Essa região tem o menor índice de chuvas do Estado do Rio Grande do Sul, além de noites frias mesmo no verão, justamente a época da maturação das uvas. Essas condições naturais, além de um solo mais pobre e de origem granítica, nos ajudam a ter maior concentração de cor, estrutura e potencial de envelhecimento dos vinhos. A expansão para a Serra do Sudeste é sinal claro da busca por qualidade dos produtores brasileiros e da diversidade de que os vinhos estão, finalmente, abraçando.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, profundo com lágrimas grossas e abundantes que marca as paredes da taça, um vinho caudaloso que já denuncia a sua robustez.

No nariz traz um curioso aroma de fazenda, um toque terroso, de terra molhada, algo de estrebaria, um quê de rusticidade e notas discretas de frutas negras completa o coreto.

Na boca é estruturado, carnudo, aquele vinho que se degusta com “garfo e faca”, complexo, as frutas negras aparecem, toque de ameixas, por exemplo, as especiarias mostram a que vieram um fundo de ervas, com taninos poderosos e marcados, com uma acidez instigante. Tem um final longo, prolongado.

O apelo regionalista, a cultura arraigada e que personifica na tipicidade do vinho. A história, viva e latente, sendo, a cada dia escrita, a tradição se faz atual e contemporânea. As inspirações se confundem com a tipicidade, tudo isso em prol do nosso deleite, para a felicidade de quem degustará cada gota dessa bebida que é uma verdadeira poesia líquida. Um vinho de pegada, corpulento, voluptuoso, de personalidade. Assim podemos descrever o Bertolini Bigorna Teroldego. Ainda jovem, mostrou rebeldia e certa impetuosidade, mas, ao longo da degustação, foi afinando, amansando, se equilibrando, tornando-se fácil de degustar, harmônico, mas ainda assim expressivo e de marcante personalidade. Que a Teroldego encontre em nossas terras as condições necessárias para se perpetuar com cada vez mais rótulos e que nos brinde com vinhos cada vez melhores. Tem 13,7% de teor alcoólico.

Sobre a Bertolini Riserva Famiglia:

A Família Bertolini resgata sua trajetória, marcada pelo empreendedorismo, união e tradição italiana, e a transporta para a série especial “Vinhos Bertolini”, que homenageia os antepassados e os valores transmitidos pelos patriarcas. Cada garrafa expressa o talento para transformar matérias-primas em produtos de excelência. Hoje, parte da família, é reconhecida pela fundação e condução do Grupo Bertolini, referência pelo trabalho desenvolvido nos mercados moveleiro, de armazenagem e logístico, em todo o país.

Valorizando as raízes, os vinhos têm, em sua apresentação visual, o resgate dessa paixão através da representação das ferramentas de trabalho do ferreiro, ofício que o pai, Francisco, fez com maestria e deixou como legado para seus descendentes. Além de simbolizar os valores que forjaram o caráter da família Bertolini ao longo de sua história, elas expressam as características de cada vinho.

Os vinhos Bertolini têm como filosofia a naturalidade no processo de elaboração, ou seja, com o mínimo de intervenção mecânica e a preferência por métodos naturais durante a fermentação e afinamento. O mesmo vale para as correções de acidez, açúcar, feitas sem aporte de produtos químicos.

Assim, inspirados na tradição europeia, mas com um gosto contemporâneo, expressam o terroir de uma nova geração produtora no Brasil, que vem se destacando com excelentes resultados: a Encruzilhada do Sul.

O trabalho da Bertolini começou no ano de 2012. É um negócio pequeno que foi fundado por 5 irmãos em homenagem à geração anterior da família, de Domenico Bertolini, que era composta por metalúrgicos especializados em cozinhas de aço.

Dessa homenagem, vêm os nomes dos vinhos: “Cadinho”, “Bigorna” e “Tenaz”, referências às ferramentas utilizadas para a construção desses espaços. O foco é produzir líquidos que mostram ao máximo a tipicidade de Encruzilhada do Sul, região de clima ameno, em um vinho branco e vinhos tintos elaborados com uvas Chardonnay, Teroldego e uma mistura entre Merlot, Nebbiolo e Touriga Nacional: mistura europeia em vinhos brasileiros.

Referências:

“Vinho Básico”: https://www.vinhobasico.com/2015/06/26/teroldego-a-uva-do-trentino/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/teroldego

“Site Terra”: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/homem/uva-teroldego-resgata-identidade-no-sul-do-pais,d0084ee474237310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html

“Site Encruzilhada do Sul”: https://www.encruzilhadadosul.rs.gov.br/prefeitura/historia/

“Agência Preview”: https://www.agenciapreview.com/vindima-em-encruzilhada-do-sul/#:~:text=Descoberto%20na%20d%C3%A9cada%20de%201970,elaborados%20com%20uvas%20dessa%20%C3%A1rea.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-nova-fronteira-sul_8619.html

“Blog Evino”: https://blog.evino.com.br/2020/06/vinhos-brasileiros-o-cultivo-de-uvas-da-europa-no-sul-do-brasil/#:~:text=Bertolini,-%E2%80%9CO%20nosso%20diferencial&text=O%20trabalho%20da%20Bertolini%20come%C3%A7ou,especializados%20em%20cozinhas%20de%20a%C3%A7o.

“Difusora 890”: https://difusora890.com.br/bertolini-apresenta-serie-especial-de-vinhos-que-contam-historia-da-familia/

 

 

 

 





 


J. Meyer Pinot Noir 2018

 

O meu atual estado de espírito enófilo está fazendo com que eu trafegue de forma inigualável e diria até inimaginável pelo universo do vinho e, com isso, eu chego a uma óbvia conclusão: por ser um universo ele ainda tem muito a oferecer, muitas galáxias a ser exploradas e muitas surpresas a nos proporcionar. Eu nunca esperei, como degustador de bebida de Baco, degustar vinhos germânicos. Para mim o que era acessível eram as proeminentes e viscerais bandas de rock n’ roll, bem como o seu vistoso futebol quatro vezes campeão mundial.

Sempre ouvi que naquelas terras produziam e produzem, de forma prolífica, grandes vinhos, tendo como carro-chefe a casta branca Riesling. Mas pouco conhecia, pouco sabia, pouco acesso a rótulos eu tinha, isso nos idos do início da década de 2000, quando eu comecei a flertar com os rótulos de castas vitis viníferas. A oferta, convenhamos, também era incipiente, poucos vinhos alemães adentravam o mercado brasileiro e quando acontecia os valores estavam além do que um reles trabalhador brasileiro, como eu, poderia ter.

Mas, aos poucos e em silêncio, fui acompanhando o florescer, que ainda acontece dos rótulos alemães ofertados em terras brasilis. Ainda está aquém, está um pouco lento, precisamos de mais opções de rótulos com valores mais amigáveis, com uma relação custo X benefício condizente para que, cada brasileiro tenha acesso, indistintamente aos rótulos da Alemanha.

Até que um belo dia, um grande e querido amigo de confraria, me disse que fez uma aquisição de um Pinot Noir alemão. Praticamente o intimei a leva-lo em nossa próxima degustação, afinal não podíamos deixar de celebrar a amizade degustando um néctar germânico! E ele, de posse da garrafa, veio até a minha casa e, ansiosos, mas felizes, nos preparamos para encher as nossas taças de prazer vínico.

Então o vinho que degustei e gostei veio da região alemã de Pfalz, um Pinot Noir, conhecida na Alemanha pelo nome de Spätburgunder, e se chama J. Meyer, da safra 2018. Se trata de um “Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA)”. E como eu não me atenho apenas a degustação o que já é significativo, fui buscar algumas informações sobre a Pinot Noir na Alemanha e descobri que não é apenas a Riesling que faz sucesso por lá, mas a Spätburgunder também, sobretudo pelo clima frio da Alemanha, onde a Pinot Noir encontra o seu melhor habitat, sobretudo na emblemática região de Pfalz. Falemos dela e também das nomenclaturas dos vinhos alemães, que está intimamente ligada a questão da proposta do vinho.

Pfalz

Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13 regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores dedicadas à produção de vinho. Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho). Os melhores vinhedos ladeiam as encostas a leste da Floresta do Platinado. A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos, particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada, mas sua qualidade é geralmente excelente.

Pfalz

A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho (Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.

Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China), entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas tintas e brancas. Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.

Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior produtora de vinhos tintos do país. Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder, Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.

Nomenclatura e definições dos vinhos alemães

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais. O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

E agora o vinho!

Na taça tem um lindo vermelho rubi, brilhante, bem intenso para um Pinot Noir, mas com aquele tom tipicamente grená com algumas formações de finas lágrimas em média intensidade.

No nariz tem aquela indefectível presença de frutas vermelhas, tais como framboesa e morango, com um discreto toque herbáceo, algo de especiarias.

Na boca é muito frutado, as frutas vermelhas aparecem divinamente, com alguma estrutura, mas macio, delicado e elegante, com taninos polidos e uma boa acidez evidenciando o seu frescor. Tem um final longo, persistente.

Mais um degrau para a nossa história enófila, mais um canto deste vasto universo explorado. O meu primeiro Pinot Noir alemão! Um Pinot Noir como deve ser: frutado, macio, elegante, agradável, sobretudo em uma tarde outonal de sábado e com uma grande companhia do meu fraternal amigo que diretamente foi responsável por degustar esse néctar de Baco e Dionísio. Toques sutis de frutas maduras, algo mais “ousado” para um Pinot Noir, tais como alguma estrutura, um pouco de especiarias, algo mais expressivo talvez, mas sem perder a majestade de um genuíno Pinot Noir. Um vinho especial para um momento especial e que possamos navegar para mares nunca dantes navegados e que possamos nos inebriar de momentos únicos: boas degustações e grandes amizades. Celebremos sempre! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Moselland:

A princípio, no século XIX, muitos produtores individuais da Alemanha se uniram por necessidade econômica para formar pequenas cooperativas vitícolas: eles pretendiam trabalhar com mais eficiência, unindo forças.

Em seguida, em 1969, as principais cooperativas se fundiram com a Hauptkellerei Koblenz para formar a maior cooperativa vitícola do estado de Rheinland-Pfalz. Desse modo, o resultado foi a criação da Moselland, localizada em Bernkastel Kues, que por mais de um quarto de século, foi um nome garantiu alta qualidade.

Sendo assim, na Moselland, a qualidade começa bem na vinha. Os viticultores são especialistas em gerenciamento de vinhedos, desde o plantio até a colheita, assim produzem uvas da mais alta qualidade que são entregues em nas estações de prensagem e coleta, ao lado das vinhas. Além disso, a equipe altamente qualificada assume o processo de vinificação usando os mais modernos maquinários.

Mais informações acesse:

https://www.moselland.de/

Referências:

Vinho sem Segredo: https://vinhosemsegredo.com/2011/05/02/nomenclatura-do-vinho-alemao-i/

Winepedia: https://www.wine.com.br/winepedia/dicas/como-ler-rotulos-alemanha/

“Art des Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/conheca-pfalz-regiao-que-mais-produz-vinhos-alemanha

“Carpevinum”: https://www.carpevinum.com.br/loja/noticia.php?loja=677095&id=255