quinta-feira, 10 de junho de 2021

Cova do Frade Touriga Nacional 2015

 

Para quem é grande apreciador de vinhos portugueses e acredito que isso seja uma unanimidade, certamente já teve o prazer de ter degustado a rainha das uvas tintas lusitanas, a grande e inigualável Touriga Nacional. Mas como bons apreciadores da poesia líquida, da bebida de Baco e Dionísio, aqui no Brasil não é uma tarefa fácil encontrar rótulos com o protagonismo dessa bela cepa, um 100% Touriga Nacional, ao contrário dos blends que temos aos montes.

Até conseguimos, com alguma galhardia e procura encontrar alguns exemplares da Touriga Nacional em sua versão única, varietal, contudo, para variar, os valores sã demasiadamente altos, provocando um afastamento de muitos brasileiros simples e de salário curto em tempos bicudos. Infelizmente é aquela triste discussão dos altos impostos que incidem sobre a nossa preferida bebida, o altíssimo custo Brasil que afugenta o consumidor e completa um total desserviço contra a disseminação da cultura do vinho.

Mas nem tudo está perdido. Há sempre uma combinação de fatores que fazem com que as oportunidades se apresentem diante de nossos olhos. Estava eu em uma de minhas intermináveis e prazerosas incursões nos supermercados e, parecia ser um anunciar de que a sorte estava ao meu lado, pois vi, em letras garrafais, uma informação estampada no setor que correspondia ao vinho que dizia: “Vinhos portugueses, italianos e espanhóis com ótimos descontos!”. Isso me animou! Talvez eu conseguisse adquirir alguns rótulos naquele dia e segui até o setor com a euforia de encontrar algo que fosse me animar.

Comecei a procurar, a garimpar, a olhar, com requintes de detalhes, cada espaço, cada canto das gôndolas e avistei, ainda ao longe, um rótulo, no rodapé da gôndola, bonito e um tanto quanto austero e me aproximei, o tomei em minhas mãos e comecei a analisa-lo. No contra rótulo ele revelou um detalhe que eu buscava: a casta! Sim, a casta! E que estava escrito? Touriga Nacional, um 100% Touriga Nacional! Nesse momento estava radiante! Um momento único ter encontrado um vinho como esse a um espetacular preço: R$ 24,95!

Não acreditei que o valor era esse! Estava incrédulo, como também receoso quando de fato confirmei que era esse o preço do vinho e assim surgem aquelas perguntas óbvias: Será que é um bom vinho? Será que vale a pena? As perguntas se transformaram em determinação! Decidi literalmente pagar para ver!

O dia tão importante chegou! O dia da degustação. Estava animado em degusta-lo, em tê-lo em minha taça. A rolha cantou quando saiu, aquele típico barulhinho  quando é desarrolhado. O vinho que degustei e gostei veio das terras do Dão, do grande e emblemático Dão, um português chamado Cova do Frade Touriga Nacional da safra 2015. O Dão, o berço da Touriga Nacional, das terras de Nelas. Veja a importância do momento! Então para ilustrá-lo falemos do Dão e da rainha Touriga Nacional.

Dão

A região vinícola do Dão, em Portugal, sempre foi um área nobre dos vinhos portugueses. Durante certo tempo, perdeu seu lugar para o Douro e Alentejo, amargando um segundo plano no mundo dos vinhos, mas está retornando com todo o orgulho que seus vinhos merecem pelas suas peculiaridades. A região é formada por planície, com encostas suavemente onduladas, cercada de montanhas que a protegem da influência climática do Oceano Atlântico. Além das montanhas, há também muitos pinheiros na região do Dão, pinheiros que escondem os vinhedos e os protegem de intempéries.

Os campos verdes do Dão

Dão é nome da região e também do rio que se espalha por vertentes de suave ondulação, de cor verde e dourado por vontade do sol e onde o vinho, como nos amores antigos, nasce há muito tempo. Por exemplo, o Infante Dom Henrique levou-o nas caravelas para Ceuta, em 1415 onde com ele celebravam a vitória.

Atualmente, a Rota dos Vinhos do Dão está levando visitantes e turistas aos espaços oferecidos para apreciação da produção vinícola da região com cinco roteiros diferentes: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim; Terras de Azurara e Castendo; Terras de Besteiros; Terras de Alva e Terras de Serra da Estrela.

A Região Demarcada do Dão foi a uma das primeiras regiões oficiais produtoras de vinhos de Portugal. O retorno da fama da região do Dão vem lembrar que esta foi uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos de mesa em Portugal, sendo ela a fornecedora de vinhos para o país todo, exportando para inúmeros outros.

Sua decadência ocorreu na década de 1960, quando houve um grande aumento na produção, com o surgimento de uma rede de adegas cooperativas. A quantidade de vinho produzida com intenção apenas de venda, fez a qualidade cair. Ao mesmo tempo, e aproveitando a baixa qualidade na época, as áreas do Alentejo e do Douro passaram a melhorar sua própria produção, mantendo a qualidade e atraindo a atenção dos enólogos e dos consumidores de bons vinhos portugueses.

Situada no centro de Portugal, na província de Beira Alta, a Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908, tornando-se a uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos não licorosos da Península Ibérica.

Pela qualidade dos seus vinhos, a região do Dão é conhecida como a Borgonha Portuguesa. Os vinhos produzidos no Dão são gastronômicos, com excepcional acidez, trazendo aromas complexos e delicados. Esse caráter de complexidade, elegância, maturidade e equilíbrio, com excelente potencial de amadurecimento, de forma nobre e harmoniosa, criaram a combinação perfeita com a gastronomia local, atraindo a atenção dos apreciadores de vinho do mundo todo. A Região Demarcada do Dão possui 376 mil hectares, dos quais 20 mil hectares são destinados exclusivamente às vinhas, abrigando vários distritos, como Coimbra, onde se localizam Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua; Guarda, onde estão Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; e Viseu, onde se concentram Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penavaldo, Castela, Santa Comba Dão e Sátão.

Dão

A Região Demarcada do Dão é caracterizada por um relevo acidentado, com solo predominantemente granítico e possuindo terroir e clima propícios para a produção de boas uvas, principalmente devido à sua larga amplitude térmica.

O Dão é o berço da Touriga Nacional, famosa uva de Portugal e uma das principais componentes do vinho do Porto. De tão marcante que é, os vinhos da região demarcada devem ter, segundo a regulamentação vigente, no mínimo, 20% de Touriga Nacional em sua composição. Mas além da Touriga Nacional, que é a mais nobre, outras variedades são cultivadas, tanto tintas quanto brancas.

As tintas

Alfrocheiro: segundo especialistas, essa variedade contribui para o equilíbrio entre a acidez e a doçura do vinho dão.

Aragones: também conhecida como Tinta Roriz, essa cepa confere potencial de guarda ao vinho (uma das principais características do vinho do Dão), além de dar equilíbrio entre corpo e a acidez.

Jaen: essa variedade é geralmente usada para trazer aromas para o vinho, pois tem um perfume intenso e, ao mesmo tempo, delicado.

As brancas

Encruzado: é a casta branca mais valorizada da região, que produz vinhos frescos e que, apesar disso, tem potencial para envelhecimento.

Malvasia fina: outra casta branca cultiva na região, de aromas simples.

Touriga Nacional: a rainha tinta portuguesa

Sua baixa produtividade natural quase lhe custou a sobrevivência no território quando uma praga chamada filoxera arrasou com as plantações europeias em meados do século XIX. Nesse momento, muitos produtores portugueses decidiram replantar seus vinhedos com variedades que produzissem mais. Felizmente para a vitivinicultura mundial, a Touriga Nacional sobreviveu em regiões como o Douro e o Dão e, em tempos de moderna vitivinicultura, já na segunda metade do século XX, ganhou novo vigor, com os enólogos e agrônomos tendo maior entendimento de suas características e trabalhando para, pouco a pouco, melhorar sua produtividade sem descaracterizá-la.

Uma das referências mais antigas à Touriga Nacional está no livro “O Portugal Vinícola”, lançado no século XIX pelo renomado agrônomo português Cincinnato da Costa, onde ele diz que nos anos de 1800, quase todos os vinhedos do Dão eram plantado com esta variedade, a porcentagem chegava a 90% do total das terras plantadas.

Suas qualidades, no entanto, só foram ser reconhecidas nacional e internacionalmente há pouco tempo. Por ser uma uva nobre, e, portanto, de produção reduzida, até 1980 ela era preterida por outras castas portuguesas de maior produção. Só quando os consumidores e produtores de vinho em Portugal começaram a exigir uma produção de qualidade superior em vez da primazia da quantidade em larga escala é que a Touriga ganhou novo status. A Touriga Nacional também é conhecida como Tourigo, Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Preto de Mortágua é o nome de uma pequena e antiga vila na zona do Dão. Isso combinado com o fato de outro vilarejo da região ser chamado de Tourigo reforça a ideia de que essa casta existe por lá há muitos séculos.

O que os cientistas são capazes de comprovar com maior facilidade é que dela são derivadas as variedades conhecidas como Touriga Fina e Touriga Macho. No entanto, seu parentesco com a Touriga Franca (conhecida como Touriga Francesa até a virada deste século) é impreciso. Não se sabe se a Franca é uma subvariedade (ou mutação) da Nacional ou uma combinação da Nacional com outra uva.

Os cachos da Touriga Nacional são delicados e compactos. Seus bagos são pequenos, com formato arredondado, bem definido e coloração negro azulada. Sua pele tem boa espessura, o que ajuda na obtenção de cores intensas. Sua polpa é rígida e suculenta. Seu aroma é profundo, variando entre o floral e o frutado, mas característico, e inconfundivelmente nobre. Assim, em poucas palavras, pode-se definir os aspectos físicos da nobre uva portuguesa.

Roda de aromas da Touriga Nacional

Apesar de fértil, ou seja, se adapta bem a diversos terrenos, a Touriga tem baixa produtividade devido ao seu caráter de elevado vigor fisiológico. Seu cultivo exige cuidados especiais, já que sua maturação é intermediaria; virtudes como rusticidade e forte resistência a pragas, entretanto, fazem dela uma casta especial.

A Touriga Nacional é versátil e produz vinhos diversos, mas sempre elegantes. Bom teor alcoólico, ótima concentração de cor, elevada complexidade, taninos finos, sabores intensos, volume, equilíbrio e aromas florais distintos são características comuns a vinhos elaborados com esta cepa. Espumantes, tintos secos finos, vinhos licorosos – são variados os gêneros da bebida dos deuses que essa uva é capaz de resultar. O potencial de guarda das bebidas produzidas com a uva símbolo de Portugal é excelente, elas evoluem em garrafa com bastante desenvoltura. O estágio em madeira de carvalho, por outro lado, lhe dá mais qualidades aromáticas e melhora sua estrutura, além de arredondar seus taninos com maior velocidade, o que torna a bebida pronta para consumo em pouco tempo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso, brilhante e com bordas violáceas, mostrando uma boa formação e concentração de lágrimas finas que desenham as paredes do copo.

No nariz tem a predominância de frutas vermelhas frescas groselha, cereja e framboesa, com toques de especiarias, pimenta talvez, e notas florais típicas da casta, de flores vermelhas que entrega um aspecto de frescor ao vinho.

Na boca se reproduz as notas frutadas, como no aspecto olfativo, sendo macio, redondo e muito equilibrado com taninos presentes e elegantes, com uma acidez equilibrada e notas tostadas, a madeira muito bem integrada ao conjunto do vinho. Passou 6 meses por barricas de carvalho.

O Cova do Frade Touriga Nacional não tem o peso de um Touriga amadeirado, com a robustez costumeira, mas isso não descaracteriza, em momento algum, o vinho e as essências da casta não ficam em segundo plano, muito pelo contrário. As notas frutadas, o toque floral, a marcante personalidade está lá para deleite de nossas mais fiéis expressões sensoriais. Um belo vinho que entregou muito além do que valeu e ainda teve a Touriga Nacional oriunda das terras do Dão, das valorosas terras do Dão que, a cada dia, nos brinda com grandes e satisfatórias revoluções em seu terroir! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Ferreira Malaquias:

A Ferreira Malaquias, foi fundada em 1896, é uma empresa familiar, e está presente no negócio do vinho a quatro gerações, e sempre soube ao longo da sua história renovar o seu compromisso e dedicação, através de uma visão de longo prazo.

Fundada por José Ferreira Malaquias em 1896, já no final do século XIX  se afirmava como  um comerciante e exportador de vinhos de sucesso, com a sua atividade de comercialização de vinhos de lote da região do Dão.

Num passado recente a Ferreira Malaquias, cumpriu um vasto plano de investimento, com a visão de apresentar ao mercado, nacional e exportação, vinhos de qualidade e  caráter, com diferentes estilos e absoluto respeito pelo “terroir” de origem.

Hoje têm no seu portfólio, as mais reconhecidas regiões vitivinícolas de Portugal - Vinhos Verdes (Minho), Douro, Alentejo e Tejo, e continuando a sua histórica ligação, que vem desde a sua fundação, aos vinhos da região do Dão.

O ano de 2013, fica marcado pelo reforço de investimento na enologia, com a entrada de um prestigiado grupo de enólogos, que veio revolucionar com conhecimento, detalhe e tecnologia, todos os  vinhos da Ferreira Malaquias, expressão maior de toda a arte de construir os melhores blends e revelar a personalidade de cada região.

Acrescentar diferencial na qualidade em todas as suas marcas, tem sido confirmado, de forma sistemática, pelo reconhecimento do mercado interno e exportação, e atribuição de múltiplos prémios a nível internacional.

Mais informações acesse:

https://ferreiramalaquias.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/regiao-do-dao-portugal/

“Clube Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/caraterizacao-da-regiao-do-dao-2/

“Winer”: http://www.winer.com.br/vinho-dao/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/touriga-nacional-o-tesouro-nacional-portugues_11850.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/touriga-nacional-a-nobre-uva-portuguesa/

Degustado em: 2020

 

 








domingo, 6 de junho de 2021

Grifone Sangiovese 2018

 

O que vem a cabeça quando falamos dos vinhos italianos, da cultura vitivinícola italiana? Na realidade muita coisa, muitas castas, muitos tradicionais rótulos e regiões vêm à mente, mas não há como não se lembrar da Sangiovese! Um enófilo que se preze não pode passar pela vida e degustar um rótulo que leve a Sangiovese, seja no clássico Brunello de Montalcino, nos grandes Chiantis ou aqueles vinhos mais jovens e diretos que traz um aroma frutado, perfumado.

Não há dúvida de que temos várias outras cepas importantes que faz da Itália um polo importante da história mundial do vinho, mas a Sangiovese é um “produto” de exportação do país para todo o planeta, não há como dissocia-los. Em todos os cantos da Itália a Sangiovese figura, mas é na Toscana que ela reina absoluta. Mas foi em outra emblemática região italiana, terra das castas Negroamaro e Primitivo, que eu decidi degustar o meu primeiro rótulo da Sangiovese: Puglia ou Apúlia.

E nada foi pensado, nada foi milimetricamente refletido para chegar a esse rótulo da tradicional e centenária família Castellani. Estava eu, mais uma vez, fazendo as minhas incursões pelos supermercados e, olhando despretensiosamente as gôndolas dos vinhos, sem muita expectativa de encontrar um rótulo atraente, sobretudo no quesito custo X benefício, quando avistei um rótulo vermelho, mas discreto e austero remetendo as tradições italianas e, quando tive a garrafa em minhas mãos, observei que era um Sangiovese italiano da região de Puglia.

Logo pensei: Deve ser caro, afinal um famoso Sangiovese da Velha Bota, deve doer ao bolso, mas, talvez com um pouco de esperança decidi averiguar o preço, que no primeiro olhar, tive dificuldades de encontrar. Localizei e quando olhei com mais detalhe percebi o excelente valor de R$ 29,90! Certamente estava na promoção e me senti na obrigação de fazer a aquisição. Sem contar que, ainda no local, descobri que se tratava de um rótulo da Castellani o que facilitou, ainda mais, pois já havia degustado um vinho do referido produtor da famosa linha Ziobaffa, o Ziobaffa Sangiovese e Syrah da safra 2015, entre outros rótulos que abrilhantam a minha humilde adega que, espero em breve, ter o prazer de degusta-los.

O vinho que degustei e gostei, como disse, veio da excelente região de Puglia e se chama Grifone, da casta Sangiovese (100%) da safra 2018. E para não perder o ritmo, já que mencionei Puglia e Sangiovese, região e casta que compõe esse surpreendente e belo vinho, falemos um pouco da história de ambos.

Sangiovese: a rainha italiana

Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento.

Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A guinada final da Sangiovese foi dada nos anos 1960 e 70, quando aconteceu uma revolução enológica que deu origem aos chamados Supertoscanos.

Nessa época, os vinhos mais importantes da região eram largamente conhecidos, mas não reconhecidos. Alguns vinicultores acreditavam que as regras de produção estabelecidas os impediam de fazer um vinho de maior qualidade, utilizando, além da Sangiovese, uma pequena porcentagem de castas internacionais e técnicas mais modernas. Eles então se “rebelaram” e passaram a produzir vinhos da maneira que achavam certo, sem se importar com as regras que lhes garantiam o selo DOC. O resultado foram vinhos de alta qualidade e preço, que mais tarde ficaram conhecidos como Supertoscanos.

A Sangiovese é cultivada em cerca de 100 mil hectares (o que corresponde a quase 10% de toda a área plantada dos páis) e contribui com 15% dos vinhedos que resultam em vinhos DOC. Ela é cultivada em 18 regiões, 70 províncias e dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Os italianos gostam de pensar que a casta é o equivalente italiano à Cabernet Sauvignon, tanto por seu potencial de envelhecimento quanto pela versatilidade, uma vez que se dá bem tanto em vinhos varietais quanto em grandes blends. Em sua casa, na Toscana, em seu estilo mais tradicional, a uva – de cor rubi intensa e cachos bem carregados – dá origem a vinhos herbáceos e com sabores de cereja, além de ter acidez alta e taninos marcantes. Por isso, pode envelhecer por anos, como é o caso dos Brunello di Montalcino.

os vinhos produzidos com a Sangiovese são tintos, com estrutura tânica de média a forte e corpo médio.

A uva Sangiovese também é conhecida por proporcionar uma boa expressão de frutas (como morangos, mirtilo, ameixas e cerejas, por exemplo), especiarias e notas herbáceas e nos grandes vinhos envelhecidos a baunilha e o tabaco. Possuem acidez elevada, equilíbrio e os taninos firmes garantem um final elegante ao sabor.

Puglia: Uma das gigantes da Itália

O nome Puglia vem do povo Iapigi, que os romanos em latim chamaram de Apuli, e a região, consequentemente, Apulia.  Em português o nome se manteve como em latim, e em italiano passou a ser Puglia. Puglia fica no “calcanhar da bota” do mapa italiano. A região é cercada por praias consideradas as mais lindas da Itália, como Torre dell’Orso, um balneário italiano de pequenas falésias que moldam e encantam as areias de seu litoral. Outro destaque da região é a cidade de Otranto, a maior dessa parte do litoral, que possui sítios históricos, que nos remetem a era da Itália medieval e ainda mantém algumas ruínas greco-romanas.

Puglia, Itália

O sul da Itália é considerado o berço do vinho italiano. Embora a região setentrional também possua seu prestígio, as regiões que compreendem a parte sul, Molise, Campânia, Basilicata, Calábria e Puglia, são destaque na produção e qualidade dos famosos vinhos italianos, sendo Puglia a região considerada principal, não somente pela grande produção de seus vinhedos, como também pela qualidade dos vinhos. Puglia possui uma extensão de aproximadamente 400 km através da costa do mar Adriático, com clima e solo considerado ideal para a produção de vinhos, além da topografia da região ser praticamente plana. Puglia possui uma área de vinhedos de 190.000 ha, a região é responsável por 17% da produção de vinho italiano. Em Puglia, 60% da produção se dão através do sistema de cooperativas.

A região tem ampla diversidade de uvas nativas, que conferem status quando o assunto é exportação. Ao norte da região as uvas mais abundantes são a Trebbiano e a Sangiovese e os vinhos gerados a partir dessas espécies respondem por até 30% dos vinhos DOC produzidos na região. Há ainda as uvas Bombino Bianco e Montepulciano, oriundas da província de Foggia, e a “Uva di Troia” ou Sumarello. As que possuem maior destaque na região são a Primitivo e a Negroamaro.

Puglia DO

A uva Primitivo é proveniente de Manduria, localizada ao sul da região, a 10km do mar Jônio. Normalmente, os vinhos dessa uva possuem corpo denso e médio, cor escura e acidez entre média e alta, de boa longevidade e excelentes companheiros na gastronomia da região. A uva Negroamaro é utilizada para a produção de vinhos bastante rústicos. Atualmente é trabalhado em conjunto com a Malvasia Negra, o que resulta na produção de vinhos muito fortes e bem encorpados, considerados ideais para o consumo com carne.

E agora o vinho!

Na taça tem um rubi intenso, quase escuro, com entornos violáceos. Uma cor muito brilhante, reluzente e vívido, com média concentração de lágrimas, mas que demora a se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz um “mix” de frutas vermelhas maduras e frutas pretas tais como framboesa, cereja, ameixa, além das especiarias, o toque da pimenta, algo picante, diria.

Na boca é seco, de leve para médio, a personalidade da Sangiovese, mesmo com uma proposta jovem se faz presente, graças aos toques de couro, ouso dizer até de tabaco, aquela participação rústica típica da cepa, com a reprodução das notas frutadas percebidas no aspecto olfativo, com taninos discretos, macios, com uma alta acidez. Um final de média persistência.

Na terra da Primitivo e Negroamaro a Sangiovese também se revelou neste belíssimo e surpreendente rótulo. Puglia ainda é capaz de me entregar grandes surpresas, grandes rótulos e eternas e doces novidades. Um terroir digno de reverências e que entrega a Sangiovese um mix muito interessante de frutas vermelhas, pretas e silvestres, com notáveis toques de especiarias, de pimenta, um discreto toque terroso, que faz deste exemplar de Sangiovese da região de Puglia, das minhas preferidas da Itália, um vinho de personalidade marcante, mas muito macio e fácil de degustar. Um clássico Sangiovese italiano, que traz toda a tipicidade de suas terras, mas que traz também um conceito bem contemporâneo de um vinho jovem, informal e despretensioso. Belo vinho com a cara e o DNA da Itália. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti. A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana. 

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html

Blog “Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/puglia-uma-das-maiores-da-italia/

Blog “Diário de Bari”: http://diariodebari.blogspot.com/2011/12/puglia-um-pouco-de-historia.html

Portal “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vinhos-de-puglia-o-berco-dos-vinhos-italianos/

“ViaVini”: https://www.viavini.com.br/blog-de-vinhos/uva-sangiovese-conheca-os-segredos-da-rainha-dos-vinhos-italianos/





 


sábado, 5 de junho de 2021

La Moneda Reserva Malbec 2018

 

Com a degustação de hoje alguns tabus que insistem em circular no universo do vinho cairão! Falo com eloquência e convicção porque é preciso e urgente. Visões pré-concebidas, equívocos históricos e até comportamentos intolerantes e depreciativos precisam cair por terra, afinal, vinho é sinônimo de prazer, alegria e celebração e não pode e nem deve estar atrelado a questões e sentimentos tão mesquinhos e pequenos. Temos um, “menos brando” e que está no campo dos equívocos é que Malbec bom tem de ser argentino e pesadão, encorpado e amadeirado. É, de fato, indiscutível que o melhor Malbec do planeta está localizado na emblemática região de Mendoza, na Argentina, é sabido também que um Malbec encorpado, com passagem por barrica de carvalho também é maravilhoso.

Mas por que não degustarmos um Malbec de outro país e que não seja tão barricado e que plenamente valorize as características mais genuínas da cepa, um vinho franco, frutado, sem muita complexidade. Já experimentou? Já tentou? Pode parecer difícil encontrar vinhos Malbec com essa proposta e é mesmo, afinal é mais prático e “seguro” encontrar aquele Malbecão potente e amadeirado, mas quando se tem dedicação em garimpar e conhecer as características de um Malbec mais direto e frutado, jovem e se essas se identificam com você, com o que você está procurando no momento, eu vos digo: Por que não?

Infelizmente o vinho no Brasil está ligado a status e poder e um Malbec, sempre famoso, amadeirado é mais caro e aquele mais em conta sempre são taxados de simplórios e inexpressivos, mas é uma pena que ainda o dito apreciador de vinho não tenha a capacidade de discernir que são propostas, simplesmente propostas. Mas o Malbec que degustei vem do Chile, sim, do Chile! Confesso que, quando o comprei, eu não sabia que havia produção de rótulos dessa casta em profusão no Chile e logo me interessou e é um vinho que, apesar de ostentar em seu rótulo o “reserva”, este não passou por barrica de carvalho. Arrisquei, sem medo algum, até porque também o valor estava muito convidativo, em torno de R$ 32,00! Porém confesso também que o que mais me chamou a atenção também foi um prêmio que esse vinho conquistou em Londres, na sua safra de 2015, como um dos melhores vinhos mais baratos do mundo! Não ligo para medalhas e prêmios, afinal degusto o vinho e não pontuações, mas não há como negligenciar esse reconhecimento.

Então é chegada a hora de apresenta-lo! O vinho que degustei e gostei veio da essencial região chilena do Valle Central e se chama La Moneda Reserva da casta Malbec e a safra é 2018. E para coroar os seus predicados (e que qualidades, trata-se de um excelente vinho barato) pertence a um dos meus produtores preferidos a Viña Luis Felipe Edwards que, a cada ano, cresce vertiginosamente se tornando uma das mais importantes vinícolas do Chile e do mundo e o La Moneda Malbec sintetiza isso com extrema fidelidade.

E antes de falar propriamente do vinho falemos do importante prêmio que este ganhou, a safra de 2015 que, quando descobri e fui a busca para tentar adquirir a referida safra, infelizmente cheguei um pouco tarde tendo a safra 2018 disponível para venda, mas que não me arrependi nem um pouco de compra-lo. O La Moneda Reserva Malbec conquistou o título de título de Platinum Best in Show no ano de 2015 no Decanter World Wine Awards, promovida pela respeitada revista britânica Decanter, onde mais de 200 especialistas experimentaram milhares de vinhos (sempre às cegas), despindo os preconceitos de que valores de vinho nem sempre está ligado à qualidade.

Um vinho com a assinatura da Luis Felipe Edwards, com a tipicidade de uma das regiões chilenas mais emblemáticas, uma das minhas favoritas e que não me canso de falar; Valle Central! E já que não me canso de falar, que as linhas da história do Valle Central apareçam!

Valle Central: o centro vitivinícola do Chile

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Valle Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

E agora o artista do espetáculo: o vinho!

Na taça entrega um rubi intenso, profundo, mas tem entornos violáceos que brilha reluzente, com lágrimas grossas e abundantes que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz traz a exuberância de frutas negras como ameixa, amora e cereja negra e especiarias, diria com um toque herbáceo, talvez pimentão, que é o destaque nesse aspecto do vinho.

Na boca é seco, saboroso, um bom volume em boca, que traz a sensação de alguma estrutura, mas muito fácil de degustar, sendo equilibrado, harmonioso, com taninos polidos, macios e uma acidez equilibrada que garante ao vinho um frescor e vivacidade. Tem um final curto.

Vamos nos despir de preconceitos, de visões pré-concebidas que nos impede de descobrir novos rótulos, novas experiências sensoriais. Não mensure a qualidade de vinho por preço, não o utilize como status econômico e social, se permita degustar novas propostas, novas regiões, novas castas, leia, se informe, busque as informações que, além do ganho cognitivo, trará novas opções de rótulos, de vinhos, de prazer! É isso: prazer! Vinho é saúde, prazer e celebração! O La Moneda Reserva proporciona tudo isso: prazer, estímulo a celebração e derruba alguns dos grandes tabus que ainda insistem em assombrar o universo do vinho: um vinho barato, frutado no aroma, saboroso no paladar, com alguma estrutura, créditos da Malbec, mas fácil de degustar, fazendo do mesmo um vinho versátil e ideal para degustar de forma despretensiosa, rodeada de amigos, mas imponente como todo o Malbec é e tem de ser. Imponente por ser expressivo, pelo fato de fidelizar as características essenciais da cepa. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente





sexta-feira, 4 de junho de 2021

Moura Basto Vinho Verde Rosé

 

Os vinhos verdes, na sua concepção mais tradicional, mais difundida, ou seja, na sua proposta mais leve, com aquele típico frescor e a famosa “agulha” e a informalidade, definitivamente caiu no gosto dos brasileiros. São vinhos que tem tudo a ver com as características tropicais e o nosso verão, está inserido em nossa cultura, em nosso DNA. Juntamente com os alentejanos, os vinhos da emblemática e famosa região dos Vinhos Verdes são os que mais vendem no Brasil, não há como questionar a sua popularidade em terras tupiniquins. Atualmente, para trazer diversidade e até sofisticação aos vinhos verdes, encontramos rótulos mais complexos, com passagens por barricas de carvalho e tudo o mais. Há quem diga que existe uma preocupação da instituição que rege, cuida e certifica os vinhos verdes quanto a má associação dos frescos vinhos verdes e os seus preços atrativos com má qualidade o que é um verdadeiro absurdo, afinal propostas precisam ser respeitadas e os tais vinhos verdes mais complexos também precisam ser entendidos e recebidos com mais uma proposta.

Melhor do que a proposta, do que o frescor ou ainda da complexidade dos mais diversos rótulos que abrilhantam esse rico terroir lusitano é o forte apelo regionalista que acompanham seus vinhos. É inacreditável que, mesmo não ter colocado os pés na região dos Vinhos Verdes, quando você inunda desses líquidos a sua taça, você tem a nítida sensação de que está degustando um típico vinho verde, claro, primeiramente por suas características marcantes o que, claro, define seu terroir, sua tipicidade, mas pelas suas sub-regiões, suas castas autóctones e pouco conhecidas, na maioria dos casos.

As expressões sensoriais parecem te transportar a região, te faz trafegar por cada viela, cada canto de toda a região, se sente familiar a cultura, a região, ao seu povo, o vinho é muito mais do que a degustação, é apreciar a cultura, a história, viva e pulsante, de um povo ávido pelo vinho, o vinho como identidade, como referência. Falo com tanto fervor e entusiasmo porque vinho verde faz parte de minha história enófila há pelo menos 20 anos! E apesar do Brasil ser um consumidor de vinhos verdes, tais rótulos chegam caros em nossas gôndolas de supermercado. Altos impostos, custo Brasil, tudo implica, mas ainda há esperanças, pois encontramos alguns bons vinhos verdes com preços bem convidativos por aí.

Eu tive a sorte de encontrar um e, como sempre sem querer, da forma mais inesperada possível! Estava eu fazendo a minha costumeira compra de vinhos e me dirigindo para o local de pagamento quando avistei, em um lugar de destaque um vinho verde rosé, que também não é sempre, com o surpreendente valor de R$ 19,00! Não tive dúvidas em tomar uma garrafa em minhas mãos e, apesar de não constar nenhuma informação relevante como safra e castas, decidi arriscar e levar um rótulo. Mas, para não ficar no escuro, encontrei o site do produtor e pedi informações do vinho. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região dos Vinhos Verdes e se chama Moura Basto, um vinho verde rosé, DOC, não safrado com um inusitado blend das castas Espadeiro (50%), Borraçal (30%) e Padeiro (20%). A vinícola, Caves Moura Basto, está situada na sub-região de Amarante o que deduz que esse rótulo é oriundo dessa região interiorana. Falemos de Vinhos Verdes, Amarante e dessas regionais castas pouco conhecidas do grande público.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Originariamente demarcada a 18 de Setembro de 1908, a Região Demarcada dos Vinhos Verdes estende-se por todo o noroeste de Portugal, na zona tradicionalmente conhecida como Entre-Douro-e-Minho. Tem como limites a Norte o rio Minho, que estabelece parte da fronteira com a Espanha, a Sul o rio Douro e as serras da Freita, Arada e Montemuro, a este as serras da Peneda, Gerês, Cabreira e Marão e a Oeste o Oceano Atlântico. Em termos de área geográfica é a maior Região Demarcada Portuguesa, e uma das maiores da Europa.

Região dos Vinhos Verdes

As condições naturais desta Região são as ideais para a produção de excelentes vinhos brancos, assim como espumantes e aguardentes. Os espumantes de Vinho Verde têm revelado uma qualidade surpreendente, ao que não será alheio o fato da Região produzir grandes vinhos que, pela sua frescura natural e baixo teor alcoólico, mostram enorme potencial para produção de bons espumantes. Já o teor em acidez natural dos bagaços e vinhos da Região, bem como as suas características organolépticas, mostram condições técnicas excelentes para a produção de grandes aguardentes bagaceiras, a partir da destilação dos bagaços, e de excelentes aguardentes de vinho, fruto da destilação dos vinhos.

Orograficamente, a região apresenta-se como "um vasto anfiteatro que, da orla marítima, se eleva gradualmente para o interior" (Amorim Girão), expondo toda a área à influência do oceano Atlântico, fenômeno reforçado pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. Esta influência atlântica, os solos na sua maioria de origem granítica, o clima ameno e elevada precipitação, traduzem-se na frescura, leveza e elegância dos vinhos desta região.

Sub-região de Amarante

Integra os concelhos de Amarante e Marco de Canaveses. Localizada no interior da Região, a sub-região de Amarante encontra-se protegida da influência do Atlântico e a uma altitude média elevada, pelo que as amplitudes térmicas são superiores à média da Região e o Verão mais quente. Estas condições favorecem o desenvolvimento de algumas castas de maturação mais tardia: Azal e Avesso (brancas), Amaral e Espadeiro (tintas). O solo é granítico, tal como na maior parte da Região. Os vinhos brancos apresentam habitualmente aromas frutados e um título alcoométrico superior à média da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região de Amarante, uma vez que as condições edafo-climáticas referidas favorecem uma boa maturação das uvas, sobretudo da casta Vinhão, o que permite obter vinhos com cor carregada e muito viva, apreciada pelo consumidor regional.

As castas

Espadeiro

A Espadeiro é uma uva autóctone portuguesa, conhecida por dar origem à ótimos vinhos tintos e vinhos rosés, na região dos Vinhos Verdes. Existem, também, duas sub-variedades da uva Espadeiro, Espadeiro Tinto e Espadeiro Mole. No sul de Portugal, o nome Espadeiro é utilizado para referir-se a uva Trincadeira (Tinta Amarela). É importante não confundi-las, pois são variedades completamente diferentes! Com cachos compactos e de formato cilíndrico, bagos arredondados e de coloração preta-azulada, a Espadeiro é um casta que apresenta boa resistência ao ataque de pragas e doenças.

A uva Espadeiro é originária do Minho, dentro da região vitivinícola dos Vinhos Verdes, em Portugal. Fora de sua terra natal, a uva tinta Espadeiro é cultivada na região de Rías Baixas, na Espanha. Entre os principais aromas da uva Espadeiro vale destacar notas de frutas cítricas, como toranja, e nuances de frutas vermelhas, como morango.

Borraçal

Borraçal é uma casta de uva tinta, cultivada na região dos vinhos verdes, exceto na zona de Monção. Tem um grande interesse regional, pois é antiga e tradicional. As gentes do campo apreciam muito o seu vinho, pois tem muita qualidade, mas também o viajante já pede vinhos com casta Borraçal. Além da sua rusticidade, os seus vinhos são de cor rubi, com uma elevada acidez fixa, com bagos pequenos a médios, e os cachos são pequenos de forma cónica. É uma casta rústica, recomendada em toda a região vinícola dos vinhos verdes. Também lhe chamam, Esfarrapa e Morraça, em Viana do Castelo, Cainho Grande, Cainho Grosso ou Espadeiro Redondo, em Monção, e na zona de Basto é conhecida por Azevedo, Bogalhal ou Olho de Sapo.

Padeiro

Casta de pouca expansão na região dos Vinhos Verdes, sendo cultivada particularmente na sub-região de Basto, aparecendo também nas sub-regiões do Ave e do Cávado, tendo aqui como sinónimos “Tinto Matias”, “Tinta Cão” ou ainda “D. Pedro”. Casta de vigor médio e pouco rústica. Com um índice de fertilidade médio, com uma a duas inflorescências por ramo, dá cachos grandes e frouxos, o que torna esta casta muito produtiva. Pouco sensível à podridão dos cachos, mas sensível ao stress hídrico. Produzem mostos naturalmente ricos em açúcares e pouco ácidos, dando vinhos de cor vermelha rubi a granada, de aroma e sabor à casta que lembram frutos vermelhos (morango e framboesa) e na boca revelam-se harmoniosos e saborosos. Utilizada em vinhos tintos de lote e em rosados estremes.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um lindo rosado claro, límpido, transparente, um rosé salmão, mas muito brilhante.

No nariz é uma explosão aromática de frutas frescas, frutas vermelhas como melancia, framboesa e morango, nota-se também maçã, um toque floral que entrega delicadeza, entrega frescor e jovialidade.

Na boca é leve, elegante, extremamente saboroso, um vinho muito frutado também no paladar, reproduzindo as impressões olfativas, enche a boca com seu frescor, bem marcante, com um discreto adocicado, sem ser enjoativo, uma boa acidez e um final longo e persistente.

A cada rótulo que degustamos de um vinho verde é uma nova e grata surpresa, independente de seus valores monetários e de suas propostas. E apesar dessa diversidade de castas, de propostas e peculiaridades, algo parece ser consensual: o apelo regionalista. É muito forte, é muito intenso e mesmo diante da pretensa simplicidade dos vinhos verdes, de seu frescor, de sua leveza e delicadeza torna-se, por outro lado muito expressivo pela sua tipicidade, por entregar o que há de melhor do seu terroir. Moura Basto Rosé é expressivo, tem marcante personalidade por conta disso, mesmo sendo fresco, leve, informal e despretensioso, afinal, da simplicidade vem a nobreza, a nobreza de uma terra fértil e que entrega o melhor de sua história, de sua cultura. E falando em entrega esse rótulo o faz muito além do seu baixo valor. Que vinho verde! Teor alcoólico de 10,5%.

Sobre as Caves Moura Basto:

Moura Basto é o nome de uma nobre e tradicional família Portuguesa, originária do Norte de Portugal, região onde Portugal deu os seus primeiros passos como nação. Por essa altura, e num trabalho árduo de expansão de território para as atuais fronteiras de Portugal, muitas batalhas foram travadas e muitos cavaleiros foram chamados em auxílio dos Reis para ajudar nessa dura e nobre tarefa.

A família Moura Basto tem ligações a esse período, representadas no seu brasão, presente nos rótulos dos vinhos Moura Basto, cujos elementos remetem para a união e as vitórias alcançadas na conquista das terras portuguesas, bem como o amor e fidelidade juradas à Família e ao País. Uma imagem forte que transmite valores como tradição e prestígio patentes na utilização dos acabamentos (ouro e papel especial) e, ao mesmo, tempo moderna, sofisticada e elegante.

Mais informações acesse:

https://enoport.pt/marcas/moura-basto/

https://enoport.pt/

Referências:

“Vinho Verde”: https://www.vinhoverde.pt/pt/regiao-demarcada

https://viticultura.vinhoverde.pt/pt/casta-padeiro

“CIPVV”: https://www.cipvv.pt/pt/mapa-regiao/amarante/

https://www.cipvv.pt/pt/castas/padeiro-padeiro-de-basto/

“Jornal da Golpilheira”: https://jgolpilheira.wordpress.com/2010/10/28/casta-de-uva-borracal/

“DiVinho”: https://www.divinho.com.br/uva/espadeiro/

 

 



 


terça-feira, 1 de junho de 2021

Adobe Gewürztraminer 2015

 

Nos dias atuais eu tenho garimpado novas experiências sensoriais, saindo da temível zona de conforto, com novas castas e novas regiões pelo menos para mim. Mas esse meu desejo, essa minha avidez pelo novo no universo do vinho já vem de algum tempo, já vinha atingindo contornos há pelo menos uns 3 ou 4 anos, aproximadamente. Embora algumas cepas sejam populares em seus países de origem ou na maioria dos países consumidores e produtores de vinho, no Brasil ainda são carentes de oferta de rótulos.

E o exemplo é a casta chamada “Gewürztraminer”. O nome é grande e até, as vezes, para muitos, é impronunciável, mas quando a conheci, quando a descobri sem querer (sempre é assim, já reparou?) nunca havia degustado uma casta tão delicada, tão aromática, mas de marcante personalidade em minha vida. Que primor! Que maravilha! Parece que você está cheirando um buquê de flores brancas, parece que você está em um campo com flores brancas e você, no meio, a correr, como se estivesse levitando com tamanho aroma.

A minha primeira experiência com a Gewürztraminer foi, como sempre, em um evento de degustação em minha cidade, Niterói, um evento, anualmente, produzido por uma grande rede de supermercados local. Isso foi há pouco tempo, em 2017. Quando me aproximei do estande de uma vinícola chilena importante chamada Emiliana, conhecida mundialmente por produzir vinhos orgânicos e biodinâmicos e que pertence a gigante Concha Y Toro, percebi alguns vinhos de rótulos simples, mas elegantes e a minha curiosidade foi o imã para tê-los em minhas mãos e em minha taça.

E foi aí que vi o nome da casta: enorme, difícil de falar, pedi ajuda para o demonstrador que, muito atencioso, falou pelo menos umas duas vezes ou mais, não me recordo, para eu aprender a falar: Gewürztraminer! E degustei o Adobe dessa casta e adorei! Que vinho interessante e saboroso! O paladar sucumbiu deliciosamente a cepa de nome complicado! O que importa! E decidi compra-lo, ir, onde quer que eu fosse para tê-lo em minha adega, até que, um belo dia, o encontrei.

Não demorei muito para degusta-lo e logo o tirei da adega para deleite das minhas experiências sensoriais. Então o vinho que degustei e gostei veio de uma região chilena chamada Valle del Rapel, que possui uma denominação de origem, e, claro, se chama Adobe Gewürztraminer da safra 2015.

Um pouco de curiosidade sobre o nome “Adobe”: O Adobe é um material natural milenar utilizado nas construções chilenas e que inclusive faz parte da estrutura da vinícola. Considerada uma linha Reserva, são feitos com uvas orgânicas e refletem a qualidade de seus vinhedos, tendo sempre um profundo respeito pelo meio ambiente e seus trabalhadores.

Adobe

Valle del Rapel DO

Para quem adora apreciar vinhos não apenas pela bebida em si, mas também pela História que está por trás de sua produção e, principalmente, por conta da região onde ele foi produzido, uma boa opção é começar a procurar por destinos interessantes onde é possível fazer turismo e degustar bons vinhos aqui por perto. Neste sentido, países como Uruguai, Argentina e Chile, são pródigos em oferecer boas opções para quem deseja viajar e se aprofundar mais dentro da História da produção vinícola destas regiões. Um bom exemplo disto é a região conhecida como Vale do Rapel, no Chile.

De todas as regiões vinícolas do Chile, o Vale do Rapel é sem sombra de dúvidas uma das mais interessantes para quem deseja unir turismo e vinhos de qualidade numa única viagem. A região responde por alguns dos melhores vinhos do Chile, e tem em suas origens ligadas ao início da produção vinícola no chamado Vale Central, que é uma das regiões mais importantes em matéria de vinhos do país, e que fica ao sul da capital, Santiago.

Vale del Rapel

O Vale do Rapel segue aquela velha lógica que indica que sempre que há um vale, também há um rio próximo, e neste caso, este rio atende pelo nome de Rio Rapel, que é o principal rio que corta e abastece toda a região. A agricultura de um modo geral é muito beneficiada pela presença do Rio Rapel, mas a produção vinícola é a que mais se favoreceu de sua presença, conseguindo traduzir isto em vinhos de altíssima qualidade. Boa parte da produção vinícola Vale Central do Chile tem sua origem no Vale do Rapel, que consegue entregar variedades das mais interessantes.

O Vale do Rapel se notabiliza pela produção de alguns dos vinhos mais importantes do Chile, sendo que dentre as variedades de vinhas mais cultivadas na região estão as seguintes: Cabernet Sauvignon e Carmenère. Portanto, se você procura por vinhos bons originários do Vale do Rapel, provavelmente terá de procurar entre as opções destas variedades de vinhas. Mas a região também produz vinhos Merlot, Cabernet Franc e Syrah, especialmente mais ao norte do Vale do Rapel.

Gewürztraminer, a casta aromática

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta, já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos brancos.

A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça possui um amarelo claro, palha com reflexos esverdeados que traz um brilho lindo e envolvente.

No nariz traz a explosão aromática, o principal destaque desta casta, o seu predicado, e entrega notas frutadas, de frutas brancas como abacaxi, pera, damasco, um toque herbáceo, de ervas que outro destaque maravilhoso da casta, sem contar com os aromas florais, de flores brancas que traz frescor e elegância ao vinho.

Na boca é saboroso, fresco, jovial e de marcante personalidade, por ser persistente, deixando uma grata sensação de doçura no paladar sem ser enjoativo, com uma acidez refrescante e equilibrada com um final prolongado e frutado. Passou 4 meses em tanques de aço inoxidável.

Um vinho orgânico como nunca havia degustado, meu primeiro branco orgânico que degustei e que estará definitivamente nos anais da minha humilde história de degustador neste vasto e inexplorado universo dos vinhos, da poesia líquida. Um vinho que consegue ser, ao mesmo tempo, delicado, elegante, mas poderoso, intenso, de personalidade. Uma drincabilidade, uma versatilidade que pode atingir em cheio vários paladares, dos mais exigentes e experientes aos mais joviais daqueles que estão começando a seguir no caminho do vinho. Versátil também na gastronomia, harmonizando com comidas leves e também sozinho, sem refeições, mas apenas com um bate papo informal com bons amigos para celebrar a vida e a este vinho que sintetiza como poucos o terroir diversificado do Chile. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Emiliana Organic & Vineyards:

No final da década de 1990, os visionários Rafael e José Guilisasti, perceberem que o mercado estava começando a mudar e que o consumidor global estava começando a se tornar mais consciente dos produtos que estava consumindo, não só por uma questão de saúde, mas também por seu efeito ambiental e social.

Foi assim que eles, juntamente com a visão enológica de Álvaro Espinoza, iniciaram o processo de conversão de uma vinícola chilena convencional em uma vinícola 100% orgânica e biodinâmica, com o firme propósito de criar vinhos da mais alta qualidade com respeito pela natureza e pelas pessoas.

Depois de mais de duas décadas o que começou como um sonho, hoje está corporizado em um portfólio completo, com grande reconhecimento nacional e internacional, e que se adequa as novas necessidades de nossos consumidores.

Mais informações acesse:

http://www.emiliana.cl/pt/


Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-encantos-do-vale-do-rapel-no-chile/#:~:text=A%20regi%C3%A3o%20responde%20por%20alguns,ao%20sul%20da%20capital%2C%20Santiago.

Degustado em: 2017