Para quem é grande apreciador de vinhos portugueses e
acredito que isso seja uma unanimidade, certamente já teve o prazer de ter
degustado a rainha das uvas tintas lusitanas, a grande e inigualável Touriga
Nacional. Mas como bons apreciadores da poesia líquida, da bebida de Baco e
Dionísio, aqui no Brasil não é uma tarefa fácil encontrar rótulos com o
protagonismo dessa bela cepa, um 100% Touriga Nacional, ao contrário dos blends que temos aos montes.
Até conseguimos, com alguma galhardia e procura encontrar
alguns exemplares da Touriga Nacional em sua versão única, varietal, contudo,
para variar, os valores sã demasiadamente altos, provocando um afastamento de
muitos brasileiros simples e de salário curto em tempos bicudos. Infelizmente é
aquela triste discussão dos altos impostos que incidem sobre a nossa preferida
bebida, o altíssimo custo Brasil que afugenta o consumidor e completa um total desserviço
contra a disseminação da cultura do vinho.
Mas nem tudo está perdido. Há sempre uma combinação de
fatores que fazem com que as oportunidades se apresentem diante de nossos
olhos. Estava eu em uma de minhas intermináveis e prazerosas incursões nos
supermercados e, parecia ser um anunciar de que a sorte estava ao meu lado,
pois vi, em letras garrafais, uma informação estampada no setor que
correspondia ao vinho que dizia: “Vinhos portugueses, italianos e espanhóis com
ótimos descontos!”. Isso me animou! Talvez eu conseguisse adquirir alguns
rótulos naquele dia e segui até o setor com a euforia de encontrar algo que
fosse me animar.
Comecei a procurar, a garimpar, a olhar, com requintes de
detalhes, cada espaço, cada canto das gôndolas e avistei, ainda ao longe, um
rótulo, no rodapé da gôndola, bonito e um tanto quanto austero e me aproximei,
o tomei em minhas mãos e comecei a analisa-lo. No contra rótulo ele revelou um
detalhe que eu buscava: a casta! Sim, a casta! E que estava escrito? Touriga
Nacional, um 100% Touriga Nacional! Nesse momento estava radiante! Um momento
único ter encontrado um vinho como esse a um espetacular preço: R$ 24,95!
Não acreditei que o valor era esse! Estava incrédulo, como
também receoso quando de fato confirmei que era esse o preço do vinho e assim surgem
aquelas perguntas óbvias: Será que é um bom vinho? Será que vale a pena? As perguntas
se transformaram em determinação! Decidi literalmente pagar para ver!
O dia tão importante chegou! O dia da degustação. Estava animado
em degusta-lo, em tê-lo em minha taça. A rolha cantou quando saiu, aquele
típico barulhinho quando é desarrolhado.
O vinho que degustei e gostei veio das terras do Dão, do grande e emblemático
Dão, um português chamado Cova do Frade Touriga Nacional da safra 2015. O Dão,
o berço da Touriga Nacional, das terras de Nelas. Veja a importância do
momento! Então para ilustrá-lo falemos do Dão e da rainha Touriga Nacional.
Dão
A região vinícola do Dão, em Portugal, sempre foi um área
nobre dos vinhos portugueses. Durante certo tempo, perdeu seu lugar para o
Douro e Alentejo, amargando um segundo plano no mundo dos vinhos, mas está
retornando com todo o orgulho que seus vinhos merecem pelas suas
peculiaridades. A região é formada por planície, com encostas suavemente
onduladas, cercada de montanhas que a protegem da influência climática do
Oceano Atlântico. Além das montanhas, há também muitos pinheiros na região do
Dão, pinheiros que escondem os vinhedos e os protegem de intempéries.
Dão é nome da região e também do rio que se espalha por
vertentes de suave ondulação, de cor verde e dourado por vontade do sol e onde
o vinho, como nos amores antigos, nasce há muito tempo. Por exemplo, o Infante
Dom Henrique levou-o nas caravelas para Ceuta, em 1415 onde com ele celebravam
a vitória.
Atualmente, a Rota dos Vinhos do Dão está levando visitantes
e turistas aos espaços oferecidos para apreciação da produção vinícola da
região com cinco roteiros diferentes: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim;
Terras de Azurara e Castendo; Terras de Besteiros; Terras de Alva e Terras de
Serra da Estrela.
A Região Demarcada do Dão foi a uma das primeiras regiões
oficiais produtoras de vinhos de Portugal. O retorno da fama da região do Dão
vem lembrar que esta foi uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos de mesa
em Portugal, sendo ela a fornecedora de vinhos para o país todo, exportando
para inúmeros outros.
Sua decadência ocorreu na década de 1960, quando houve um
grande aumento na produção, com o surgimento de uma rede de adegas
cooperativas. A quantidade de vinho produzida com intenção apenas de venda, fez
a qualidade cair. Ao mesmo tempo, e aproveitando a baixa qualidade na época, as
áreas do Alentejo e do Douro passaram a melhorar sua própria produção, mantendo
a qualidade e atraindo a atenção dos enólogos e dos consumidores de bons vinhos
portugueses.
Situada no centro de Portugal, na província de Beira Alta, a
Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908, tornando-se a uma das primeiras
regiões demarcadas de vinhos não licorosos da Península Ibérica.
Pela qualidade dos seus vinhos, a região do Dão é conhecida
como a Borgonha Portuguesa. Os vinhos produzidos no Dão são gastronômicos, com
excepcional acidez, trazendo aromas complexos e delicados. Esse caráter de
complexidade, elegância, maturidade e equilíbrio, com excelente potencial de
amadurecimento, de forma nobre e harmoniosa, criaram a combinação perfeita com
a gastronomia local, atraindo a atenção dos apreciadores de vinho do mundo todo.
A Região Demarcada do Dão possui 376 mil hectares, dos quais 20 mil hectares
são destinados exclusivamente às vinhas, abrigando vários distritos, como
Coimbra, onde se localizam Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua; Guarda, onde
estão Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; e Viseu, onde se
concentram Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penavaldo, Castela,
Santa Comba Dão e Sátão.
A Região Demarcada do Dão é caracterizada por um relevo
acidentado, com solo predominantemente granítico e possuindo terroir e clima
propícios para a produção de boas uvas, principalmente devido à sua larga
amplitude térmica.
O Dão é o berço da Touriga Nacional, famosa uva de Portugal e
uma das principais componentes do vinho do Porto. De tão marcante que é, os
vinhos da região demarcada devem ter, segundo a regulamentação vigente, no
mínimo, 20% de Touriga Nacional em sua composição. Mas além da Touriga
Nacional, que é a mais nobre, outras variedades são cultivadas, tanto tintas
quanto brancas.
As tintas
Alfrocheiro: segundo especialistas, essa variedade contribui
para o equilíbrio entre a acidez e a doçura do vinho dão.
Aragones: também conhecida como Tinta Roriz, essa cepa
confere potencial de guarda ao vinho (uma das principais características do
vinho do Dão), além de dar equilíbrio entre corpo e a acidez.
Jaen: essa variedade é geralmente usada para trazer aromas
para o vinho, pois tem um perfume intenso e, ao mesmo tempo, delicado.
As brancas
Encruzado: é a casta branca mais valorizada da região, que
produz vinhos frescos e que, apesar disso, tem potencial para envelhecimento.
Malvasia fina: outra casta branca cultiva na região, de
aromas simples.
Touriga Nacional: a rainha tinta portuguesa
Sua baixa produtividade natural quase lhe custou a
sobrevivência no território quando uma praga chamada filoxera arrasou com as
plantações europeias em meados do século XIX. Nesse momento, muitos produtores
portugueses decidiram replantar seus vinhedos com variedades que produzissem
mais. Felizmente para a vitivinicultura mundial, a Touriga Nacional sobreviveu
em regiões como o Douro e o Dão e, em tempos de moderna vitivinicultura, já na
segunda metade do século XX, ganhou novo vigor, com os enólogos e agrônomos
tendo maior entendimento de suas características e trabalhando para, pouco a
pouco, melhorar sua produtividade sem descaracterizá-la.
Uma das referências mais antigas à Touriga Nacional está no
livro “O Portugal Vinícola”, lançado no século XIX pelo renomado agrônomo
português Cincinnato da Costa, onde ele diz que nos anos de 1800, quase todos
os vinhedos do Dão eram plantado com esta variedade, a porcentagem chegava a
90% do total das terras plantadas.
Suas qualidades, no entanto, só foram ser reconhecidas
nacional e internacionalmente há pouco tempo. Por ser uma uva nobre, e,
portanto, de produção reduzida, até 1980 ela era preterida por outras castas
portuguesas de maior produção. Só quando os consumidores e produtores de vinho
em Portugal começaram a exigir uma produção de qualidade superior em vez da
primazia da quantidade em larga escala é que a Touriga ganhou novo status. A
Touriga Nacional também é conhecida como Tourigo, Mortágua, Preto Mortágua ou
Elvatoiriga. Preto de Mortágua é o nome de uma pequena e antiga vila na zona do
Dão. Isso combinado com o fato de outro vilarejo da região ser chamado de
Tourigo reforça a ideia de que essa casta existe por lá há muitos séculos.
O que os cientistas são capazes de comprovar com maior
facilidade é que dela são derivadas as variedades conhecidas como Touriga Fina
e Touriga Macho. No entanto, seu parentesco com a Touriga Franca (conhecida
como Touriga Francesa até a virada deste século) é impreciso. Não se sabe se a
Franca é uma subvariedade (ou mutação) da Nacional ou uma combinação da
Nacional com outra uva.
Os cachos da Touriga Nacional são delicados e compactos. Seus
bagos são pequenos, com formato arredondado, bem definido e coloração negro
azulada. Sua pele tem boa espessura, o que ajuda na obtenção de cores intensas.
Sua polpa é rígida e suculenta. Seu aroma é profundo, variando entre o floral e
o frutado, mas característico, e inconfundivelmente nobre. Assim, em poucas
palavras, pode-se definir os aspectos físicos da nobre uva portuguesa.
Apesar de fértil, ou seja, se adapta bem a diversos terrenos,
a Touriga tem baixa produtividade devido ao seu caráter de elevado vigor
fisiológico. Seu cultivo exige cuidados especiais, já que sua maturação é
intermediaria; virtudes como rusticidade e forte resistência a pragas,
entretanto, fazem dela uma casta especial.
A Touriga Nacional é versátil e produz vinhos diversos, mas
sempre elegantes. Bom teor alcoólico, ótima concentração de cor, elevada complexidade,
taninos finos, sabores intensos, volume, equilíbrio e aromas florais distintos
são características comuns a vinhos elaborados com esta cepa. Espumantes,
tintos secos finos, vinhos licorosos – são variados os gêneros da bebida dos
deuses que essa uva é capaz de resultar. O potencial de guarda das bebidas
produzidas com a uva símbolo de Portugal é excelente, elas evoluem em garrafa
com bastante desenvoltura. O estágio em madeira de carvalho, por outro lado,
lhe dá mais qualidades aromáticas e melhora sua estrutura, além de arredondar
seus taninos com maior velocidade, o que torna a bebida pronta para consumo em
pouco tempo.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um rubi intenso, brilhante e com bordas
violáceas, mostrando uma boa formação e concentração de lágrimas finas que
desenham as paredes do copo.
No nariz tem a predominância de frutas vermelhas frescas
groselha, cereja e framboesa, com toques de especiarias, pimenta talvez, e
notas florais típicas da casta, de flores vermelhas que entrega um aspecto de
frescor ao vinho.
Na boca se reproduz as notas frutadas, como no aspecto
olfativo, sendo macio, redondo e muito equilibrado com taninos presentes e
elegantes, com uma acidez equilibrada e notas tostadas, a madeira muito bem
integrada ao conjunto do vinho. Passou 6 meses por barricas de carvalho.
O Cova do Frade Touriga Nacional não tem o peso de um Touriga
amadeirado, com a robustez costumeira, mas isso não descaracteriza, em momento
algum, o vinho e as essências da casta não ficam em segundo plano, muito pelo
contrário. As notas frutadas, o toque floral, a marcante personalidade está lá
para deleite de nossas mais fiéis expressões sensoriais. Um belo vinho que
entregou muito além do que valeu e ainda teve a Touriga Nacional oriunda das
terras do Dão, das valorosas terras do Dão que, a cada dia, nos brinda com
grandes e satisfatórias revoluções em seu terroir! Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Ferreira Malaquias:
A Ferreira Malaquias, foi fundada em 1896, é uma empresa
familiar, e está presente no negócio do vinho a quatro gerações, e sempre soube
ao longo da sua história renovar o seu compromisso e dedicação, através de uma
visão de longo prazo.
Fundada por José Ferreira Malaquias em 1896, já no final do
século XIX se afirmava como um comerciante e exportador de vinhos de
sucesso, com a sua atividade de comercialização de vinhos de lote da região do
Dão.
Num passado recente a Ferreira Malaquias, cumpriu um vasto
plano de investimento, com a visão de apresentar ao mercado, nacional e
exportação, vinhos de qualidade e caráter,
com diferentes estilos e absoluto respeito pelo “terroir” de origem.
Hoje têm no seu portfólio, as mais reconhecidas regiões
vitivinícolas de Portugal - Vinhos Verdes (Minho), Douro, Alentejo e Tejo, e
continuando a sua histórica ligação, que vem desde a sua fundação, aos vinhos
da região do Dão.
O ano de 2013, fica marcado pelo reforço de investimento na
enologia, com a entrada de um prestigiado grupo de enólogos, que veio
revolucionar com conhecimento, detalhe e tecnologia, todos os vinhos da Ferreira Malaquias, expressão maior
de toda a arte de construir os melhores blends e revelar a personalidade de
cada região.
Acrescentar diferencial na qualidade em todas as suas marcas,
tem sido confirmado, de forma sistemática, pelo reconhecimento do mercado
interno e exportação, e atribuição de múltiplos prémios a nível internacional.
Mais informações acesse:
Referências:
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/regiao-do-dao-portugal/
“Clube Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/caraterizacao-da-regiao-do-dao-2/
“Winer”: http://www.winer.com.br/vinho-dao/
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA
“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/touriga-nacional-o-tesouro-nacional-portugues_11850.html
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/touriga-nacional-a-nobre-uva-portuguesa/
Degustado em: 2020