segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Ziobaffa Pinot Grigio 2018

 

Mais uma vez serei redundante, mas quer saber? Melhor ser redundante do que omisso! Amo e muito a casta Pinot Grigio! Sempre quando tenho alguma possibilidade ou oportunidade eu compro um rótulo para manter abastecida a minha adega com pelo menos um rótulo com esta especial cepa. E sempre quando resenho a respeito dela, faço questão de fazer esse parêntese, para ser taxativo, mesmo que redundante, repetitivo, é como que se fora uma afirmação, uma corroboração do meu sentimento afetivo pela casta.

Mas há quem não goste da casta! Claro que a opinião e as impressões são pessoais e precisam ser preservadas e respeitadas, mas percebo, ou melhor, leio alguns comentários dizendo que a casta é inexpressiva, rala, sem vida, sem personalidade. Defendo que, antes de fazer qualquer pré-julgamento é preciso conhecer a fundo as características mais essenciais da cepa e analisar se existe uma identificação, penso.

Mesmo que eu seja redundante, hoje eu tenho de dizer com muita animação e entusiasmo que degustarei, mais uma vez, um rótulo da casta Pinot Grigio e melhor: da Itália, da famosa região da Sicília, depois de muito tempo que eu não degustava um Pinot Grigio dessa região, desse país. Então, caros leitores, apesar do meu declarado amor pela uva, há novidades e a há outra que ainda considero melhor de todas e que será a primeira vez: Um Pinot Grigio orgânico, vegano!

Nem tudo é tão linear, a mesma coisa. Independente de minhas experiências com a casta seja razoavelmente grandes e satisfatórias, há sempre grandes e gratas novidades para viver e compartilhar. Mais experiências sensoriais, detalhes pequenos, grandiosos, significativas para deleite de nós, enófilos de plantão, sempre ávidos por uma celebração vínica.

E decidi compartilhar esse momento especial com um grande amigo, o Paulo Rodrigues, de longa data que carinhosamente me convidou à sua casa para mais um dia de confraria. Eu sempre comentei com ele sobre a Pinot Grigio e de suas maravilhas e dizendo que ele deveria comprar um rótulo, então como ele até o momento não comprou, não hesitei em levar esse rótulo, que já comprei há algum tempo e que já estava ansioso em degusta-lo.

E que maravilha! Que vinho estupendo! Quanto mais falamos, quanto mais atribuímos adjetivos, mas tenho a impressão de que sempre faltará para falar desta casta. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Sicília, na Itália, no Sul da Bota, e se chama simplesmente Ziobaffa da casta Pinot Grigio e a safra é 2018. E para variar eu tive uma experiência soberba com o Ziobaffa tinto da safra 2014 com um blend fantástico das castas Sangiovese (80%) e Syrah (20%). Uma belíssima linha arrojada e moderna da Castellani que vale e muito a pena degustar. Mas antes de falar do vinho e produtor, convém, mais do que nunca, da região da Sicília, e da artista: Pinot Grigio.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.

Sicília

Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C.. Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito.

Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sicília e as suas sub-regiões

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonna e Sauvignon Blanc.

Pinot Grigio

Se você nunca ouviu falar na uva Pinot Grigio, talvez já tenha degustado um vinho produzido com a Pinot Gris. É possível encontrar a casta sendo chamada pelos dois nomes diferentes, a depender da origem do vinho, podendo ser italiano ou francês, respectivamente. A diferença na forma como chamamos a uva passa pelo próprio significado das duas palavras: o nome Grigio significa cinza em italiano e Gris, cinza em francês – sendo referência à cor da casca da fruta. A coloração da uva é um resultado natural do cruzamento entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc.

A Pinot Grigio surgiu na região da Borgonha, contudo foi em outra região francesa que ela ganhou um lar e ganhou notoriedade também, a Alsácia. Onde era conhecida por outro nome famoso, Tokay, mas que causava muita confusão. Tokay é um termo utilizado para os vinhos mais famosos (e caros) da Hungria, os longevos Tokaji, que nada tem a ver com a Pinot Grigio.

A origem da Pinot Grigio foi descoberta a poucas décadas, onde constatou-se ser uma cruzamento genético natural entre a Pinot Noir e a Pinot Blanc. Embora seja de origem francesa, foram os italianos que tornaram esse varietal mundialmente conhecido e passaram a dominar a sua produção global. Isso faz com que muitos acreditem que a uva seja originária do fantástico "país da bota".

Os vinhos produzidos com a Pinot Grigio são muito influenciados pelos fatores ambientais e humanos envolvidos no processo, o que chamamos de terroir. Nas regiões frias são encontrados vinhos com maior intensidade aromática e acidez vibrante, além de serem tipicamente mais leves e delicados, normalmente denotando aromas frutados, florais e com a sutil presença de especiarias. Bons exemplos disso são os aromas de pêssego, limão, tangerina, pera, maçã verde, complementados por flores silvestres, mel, tomilho, orégano e erva-cidreira. Já as regiões mais quentes produzem exemplares mais viscosos, aumentando a percepção de corpo da bebida, que, dependendo do solo, pode apresentar um caráter mineral, lembrando pedras e a areia molhada.

Agora, se compararmos o perfil dos vinhos franceses e italianos, as características sensoriais serão gritantes. Na França, esses vinhos costumam ser mais encorpados, amarelados e com uma presença picante. Já na Itália, os exemplares são mais refrescantes, versáteis e fáceis de beber. Dependendo do estilo do produto, vinícola e vindima, são vinhos brancos com aptidão ao envelhecimento.

E agora o tão esperado vinho!

Na taça tem um lindo amarelo bem brilhante tendendo para o dourado mas com alguns reflexos esverdeados com poucas concentrações de lágrimas finas e que logo se dissipavam.

No nariz é leve, fresco, solar, agradável com notas frutadas, frutas brancas e cítricas como pera, maça-verde, limão siciliano, maracujá e abacaxi, com um floral fantástico que traz a sensação de delicadeza e jovialidade.

Na boca traz também a leveza e o frescor, além das notas frutadas observadas no aspecto olfativo, com uma ótima acidez que corrobora o frescura, mas que também entrega personalidade ao vinho, sendo inclusive, arriscaria untuoso, com ótimo volume de boca. Final frutado e prolongado.

Degustar, mais uma vez, a Pinot Grigio e depois de muito tempo oriundo de terras italianas foi uma grande experiência sensorial, um grande prazer! Um vinho de um produtor tradicional da Itália, mas que consegue, com maestria, aliar com o arrojo da modernidade trazendo um vinho versátil, frutado, com personalidade, leveza, frescor e untuosidade no paladar, um volume de boca intenso, mas que entrega delicadeza e elegância, típica da casta, o que é outro detalhe de suma importância, aliado ao veganismo e a simplicidade do saber fazer, sem descaracterizar a cepa em sua mais genuína essência. Essa é a proposta do vinho, esse é o conceito de terroir defendido e efetivado, com muita tipicidade pelo produtor. Tem 12% de teor alcoólico.

Então com vocês a palavra do produtor:

“Na Sicília, muitos produtores de vinho evitam o uso de pesticidas, fertilizantes químicos e herbicidas simplesmente porque não podem pagá-los. O clima seco e quente do sul da Itália permite boas uvas todos os anos, mesmo sem o uso de produtos químicos. A sustentabilidade ambiental generalizada da viticultura siciliana é dada pelo ambiente econômico e de mercado insustentável em uma região onde os melhores brancos eram fabricados. Por esses motivos, optamos por produzir nosso Pinot Grigio. Uma variedade de uva branca italiana mais solicitada no exterior. Encontramos vinicultores da Sicília para restaurar a dignidade ao seu trabalho árduo, direcionando seus vinhos extraordinários em nosso projeto ZIOBAFFA como um embaixador da melhor vinícola italiana. Foi aí que nasceu nosso Pinot Grigio”.

Sobre a ZioBaffa:

O cineasta Jason Baffa teve a sorte de viajar pelo mundo com seus amigos e uma câmera de filme criando imagens em movimento sobre seu amor pelo surf. Os filmes, "Singlefin: amarelo", "One California Day" e a recém-lançada e premiada "Bella Vita" (todos no iTunes) abraçam a vida inspirada da subcultura de surf sem preocupações. Durante uma viagem pela Itália com o surfista-ambientalista Chris Del Moro e o enólogo da quinta geração, Piergiorgio Castellani, a paixão de Baffa por boa comida, a libação que sacia a sede e algumas piadas práticas até tarde da noite, inspiraram a tripulação local de surfistas a apelidar ele, Zio Baffa (tio Baffa).

Sobre a Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos.

Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti.

A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana.

Mais informações acesse:

https://www.ziobaffa.com/

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-pinot-grigio/

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/pinot-grigio-conheca-suas-principais-caracteristicas/

 

  









sábado, 14 de agosto de 2021

Progreso Blend Selection 2018

 

Muito se discute sobre os famosos “clubes de vinhos”, essas assinaturas que aderimos para receber rótulos sem sair de casa, no conforto de seu lar. A polêmica mora nas desvantagens e vantagens que se duelam de forma intensa, sobretudo, é claro, na mente do simples e humilde enófilo de plantão e também na diversidade, na percepção do que pode ser considerado ou não como vantagem ou desvantagem, afinal, essas variantes mudam de acordo com cada pessoa.

Para alguns é uma desvantagem quando alguém, por mais qualificado e capaz que seja, escolhe o rótulo e você fica naquela expectativa para receber a nova seleção do mês e quando os rótulos chegam: Não era que eu esperava! Ou pior: quando fica apenas naquelas regiões e países de sempre ou ainda as castas de sempre e você não consegue diversificar a sua adega, tornando-se padronizada demasiadamente.

Para os iniciantes do universo do vinho pode ser uma grande alternativa para conhecer novos rótulos, novas regiões, novas castas etc. Varia muito do perfil do cliente, dos anseios e necessidades de cada enófilo e não podemos pontuar os benefícios e malefícios desse “produto”, o mais importante, porém, é ponderar o que é bom para você e também tendo como princípio o que você espera do conteúdo da sua adega, que vai das propostas dos vinhos, até as regiões e castas.

Confesso que aderi, um pouco tardiamente, aos “clubes de vinhos”, talvez por questões financeiras e por falta de opções, não sei dizer exatamente o motivo, mas o fato é que tive o contato com esses clubes recentemente e depois de algum tempo no universo do vinho. Claro que por mais que apreciemos a poesia líquida há algum tempo, temos muito a explorar, mas quando aderi a esses grupos de vinhos, eu fiquei pouco tempo cancelando-os e, depois desses “insucessos” decidi de forma taxativa: Não farei mais adesões a esses clubes.

Até que um dia vi a oferta de um clube de vinho que admito ter me chamado muita a atenção. Fiquei curioso em ter maiores informações sobre os dois rótulos que estavam sendo ofertados. Um rótulo era um francês do Côte de Rhone, emblemática na França que não degustava um rótulo há muito tempo e outro um argentino de Mendoza (até aí, neste caso, normal), mas um corte, um blend bem inusitado para mim e isso era uma novidade. Decidi retroceder da minha decisão anterior de não aderir à esses clubes e os comprei. Quem sabe um desses vinhos me surpreende afinal ser enófilo também é correr riscos.

A minha curiosidade suscitou, em tempo recorde, abrir um desses rótulos e o argentino foi a bola da vez. E, mesmo com outros exemplares de cortes dos Hermanos, esse, em especial, será a minha primeira experiência com blends argentinos! Incrível! Outro detalhe importante que eu havia percebido somente agora depois de algumas décadas degustando vinhos. Ah esse fará história e espero que faça história no que ele entregará. Desarrolhado, o vinho inundou a taça, as percepções iniciais foram as melhores possíveis e quando o derradeiro momento da degustação aconteceu, eis que aquele famoso arrebatamento me tomou de assalto quando vinho te surpreende e entregar muito além do que você esperava. O vinho que degustei e gostei veio de Mendoza, Argentina, e se chama Progreso Blend Selection, um corte das castas Malbec (60%) e Syrah (40%) da safra 2018.

Outro detalhe bem interessante para mim foi o rótulo que, para alguns pode parecer muito simples e até juvenil demais para os conservadores aristocráticos do mundo do vinho. Explico! Há uma coruja com um olhar intenso e enigmático que traz a impressão de algo relacionado a cartoons ou coisas do tipo e não a austeridade que se espera. Mas eu gostei! Achei interessante a simplicidade e o design e fui a busca da razão de ser da coruja e a história, curta, sim, porém significativa para o vinho e o terroir da qual é concebido.

A palavra do produtor:

“A coruja esteve sempre presente como guardiã dos vinhedos e é identificada como símbolo de sabedoria e segurança. Progreso fala dessa mesma natureza, buscando expressar nosso conhecimento, visão e os cuidados que tomamos para o desenvolvimento de nossos vinhos”.

Ah esse vinho, produzido pela gigante Fecovita, uma cooperativa que conta com 29 produtores na Argentina, foi concebido para ganhar o mercado externo, sobretudo ao promissor, diria, estabelecido mercado chinês que hoje é ávido por vinhos, mas que ainda não se estabeleceu como um tradicional mercado.

E já que foi dada uma palhinha do vinho, falemos finalmente do Progreso Blend Selection:

Na taça um lindo vermelho intenso, escuro, diria, com alguns entornos violáceos e que traz um brilho ao vinho, com uma profusão de lágrimas finas.

No nariz se faz a explosão aromática com o protagonismo das frutas vermelhas e pretas, onde se destacam cereja, framboesa e ameixa, com pitadas de especiarias, talvez pimenta, graças a Syrah, baunilha, couro, a madeira discreta.

Na boca é macio e equilibrado, de corpo leve a médio, revela um bom volume de boca, com a fruta dominando, mas sem soar enjoativo, com taninos domados e acidez equilibrada que traz a agradável sensação de frescor e jovialidade do vinho. O aporte da madeira, cerca de 30% do lote da Malbec passou 12 meses por barricas, confere notas de pimenta e chocolate. Tem um final frutado, com inusitado adocicado.

Um vinho oriundo de “clubes de vinhos” que, embora desacreditado por mim, ou melhor, que já não atende aos meus anseios, me surpreendeu. Um vinho que personifica o potencial, a expressão, a personalidade de um vinho argentino: Um vinho marcante, mas saboroso, a expressão frutada garantida pelas duas castas, porém com a estrutura e a versatilidade que elas conferem também. Um vinho equilibrado, intenso, elegante, robusto e que harmoniza com carnes gordas ou massas condimentas ou apenas degustando na companhia de grandes amigos com uma agradável conversa. Um vinho que consegue, com maestria, trafegar entre a complexidade e a simplicidade da degustação, atingindo a vários paladares, dos iniciantes aos mais exigentes e apurados. Grata surpresa! Ah e sobre o clube de vinhos, lamentavelmente não segui com a assinatura, mas, pelo curto espaço de tempo, fui agraciado com esse belo e especial rótulo. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Fecovita Cooperativa Ltda:

A Federação das Cooperativas Argentinas de Vinho (FeCoVitA Coop Ltda.), fundada em 1980, é o segundo maior grupo de vinhos da Argentina, composto por 5000 produtores de uvas e 29 cooperativas de vinificação e, como resultado, é engarrafado mais de 20.000.000 litros por mês e estão localizadas em Mendoza e San Juan (no norte de Mendoza).

Além disso, a Fecovita administra o mercado interno com 12 filiais localizadas em cidades estratégicas da Argentina, liderando esse mercado há mais de 15 anos. Atualmente, a empresa exporta diferentes marcas de vinhos para 30 países em todo o mundo, com excelente desempenho em todos os mercados.

Nas vinícolas, são produzidos então vinhos das seguintes variedades Malbec, Cabernet, Merlot, Syrah, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Torrontés, tendo como principais marcas: Bodega Estancia Mendoza, Buenos Aires e Dilema.

Mais informações acesse:

http://www.fecovita.com/index.html





terça-feira, 10 de agosto de 2021

Marea Valle de Leyda Sauvignon Blanc 2012

 

O enófilo às vezes sofre por algumas “provações”, alguns dilemas. Agora vem a pergunta: Mas como sofrer por degustar a poesia líquida, por degustar grandes e especiais rótulos? A escolha, a tomada de decisão para nós que apreciamos um bom vinho pode parecer muito difícil. Pelo preço: o seu orçamento está curto e gostaria de comprar a loja inteira, mas você tem de sair dela com uma no máximo duas garrafas! E aí, como fazer para escolhê-las com tantos rótulos que julgou serem especiais? Essa é uma das mais sofridas, sem dúvida!

E quando o vinho não tem nenhuma informação no rótulo, mas algo te cativou nele, sabe-se, como a região, a casta que você nunca degustou? Eu que preciso dos requintes de detalhe do vinho, fico tenso em saber um pouco mais do rótulo e se de fato ele contempla os meus anseios de momento. São várias as situações que eu poderia elencar aqui, mas uma enredou o vinho que será o protagonista dessa resenha de hoje e ele veio do Chile, que já é uma porta de entrada no que tange a qualidade.

Eu estava como sempre, em uma de minhas incursões ao supermercado e logo me dirigi à adega para ver se tinha algumas gratas novidades. Logo vi que tinha muitas promoções, os cartazes com os preços baixos gritavam em números garrafais, hipnotizava o humilde enófilo que tentava, com seus parcos salários, comprar algum vinho e este clamava: “Me leve!”.

Contudo, diante de irresistíveis dicas, um me chamou demasiadamente a minha atenção. Já que falei em hipnotismo esse sim fez com que merecesse a minha atenção. Tomei o rótulo em minhas mãos e era um Sauvignon Blanc de uma região que estampava no rótulo e que não conhecia: Leyda, Valle de Leyda. Continuei a examiná-lo e vi que era da Viña Luis Felipe Edwards, adoro esse produtor! Já estava ficando animado. Quando vi o preço: R$ 22,90! Uau! Não é possível! Mas uma informação me deixou receoso... A safra!

2012 era a safra e estávamos em 2018! E agora? Para um branco, um Sauvignon Blanc me parecia ser bem “velhinho” e era a única garrafa! Nossa que sofrimento, que dilema! Uma garrafa de um branco da casta Sauvignon Blanc, mas a um atraente preço. Levo ou não? Decidi leva-lo, afinal, se estivesse avinagrado ou coisa do tipo, eu perderia apenas 20 e poucos reais.

Optei por abri-lo de uma vez, naquela semana! Quando a rolha, naquele característico barulhinho que se desprende da garrafa, apresentou o vinho que foi derramado na taça, em seu “primeiro round” um arrebatamento tomou de assalto em minha vida naquele momento: Que vinho! Que grande vinho! Ele estava vivo, pleno e descortinava todas as características de um grande Sauvignon Blanc! A compra fora muito bem sucedida! Então o vinho que degustei e gostei veio do Valle de Leyda, no Chile e se chama Marea, da casta Sauvignon Blanc (100%) da safra 2012. Então falemos de Valle de Leyda, antes deste vinho surpreendente.

Valle de Leyda, Valle de San Antonio

Valle de Leyda é uma região vinícola do Chile, situada a menos de 100 quilômetros da capital Santiago e é uma sub-região que fica no Valle de San Antonio. Esta região é privilegiada pela corrente fria de Humboldt proveniente do Oceano Pacífico e, por consequência, dá origem a vinhos excelentes a partir das uvas Chardonnay e Pinot Noir.

Valle de San Antonio e Valle de Leyda

Associada à produção de cevada e trigo, a região chilena rapidamente está conquistando seu espaço perante o mundo dos vinhos de alta qualidade. Os primeiros produtores apareceram na região em 1990, atraídos por um terroir ideal para a elaboração de uvas premiadas. Com o investimento de uma família produtora de vinhos, obteve-se a construção de um gasoduto de 8 quilômetros para canalizar a água do rio Maipo – potencializando o cultivo das vinhas.

A região de Valle de Leyda está localizada em um conjunto de colinas ao lado da faixa costeira que protege a faixa central do país de influências oceânicas. Trata-se de uma região vinícola localizada ao sul da fria região de Valle de Casablanca.

As brisas frias do oceano e a névoa da manhã moderam as temperaturas da área, mais baixas do que sua altitude indica. Estas temperaturas frescas são complementadas pela elevada incidência solar durante o período de crescimento das vinhas, proporcionando que as uvas amadureçam completamente e desenvolvam excelente complexidade, mantendo seus níveis de acidez equilibrados.

Leyda Valley é uma das zonas vinícolas em maior ascensão do Chile, atraindo a atenção de muitos críticos e especialistas do mundo do vinho com o decorrer dos últimos anos. Além de produzir alguns dos melhores vinhos chilenos Pinot Noir e Chardonnay, a região é responsável também pela elaboração de excelentes vinhos Syrah e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça o vinho apresenta uma viva, intensa e brilhante cor amarela, com alguns traços esverdeados com poucas e finas lágrimas que logo se dissipavam.

No nariz uma exuberância explosão de aromas de frutas brancas e tropicais frescas, como groselha verde, maracujá, abacaxi, pera, maçã-verde, além de notas cítricas vívidas.

Na boca se revelou com alguma estrutura, com um incrível volume de boca, mas equilibrado, redondo e extremamente elegante. A acidez muito alta, mas que não agride, pelo contrário, entregava um frescor maravilhoso apesar dos 6 anos de safra, com toques minerais e de especiarias, talvez pimenta. Tem um final frutado e prolongado.

Um grande vinho! Um vinhaço! Exuberância é um bom adjetivo para este rótulo que estava lá esquecido, a um preço que certamente estava bem abaixo por ter uma safra “antiga” para a sua proposta. Desconheciam os gerentes do supermercado de onde comprei este vinho que ele estava vivo, intenso, pleno, com todas as suas características presentes na taça, no olfato e no paladar. Um vinho saboroso e que ousaria em dizer que teria mais alguns anos pela frente. Um achado, um valioso e especial rótulo que, diante da situação que se apresentava naquela gôndola, certamente, em um momento “racional” ninguém levaria por receoso. Mas diante desta experiência aprendi que a emoção do sentimento, o “feeling”, o coração precisa ser ouvido. Tem teor alcoólico de 13,5%.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE.

De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação.

O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país.

Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-leyda

Degustado em: 2018

 

 

 

 

 




sábado, 7 de agosto de 2021

Gran Villa Gran Reserva 2011

 

Já vi e ouvi algumas discussões ditas polêmicas com relação ao questionamento de qualidade de alguns vinhos “Gran Reserva”. O questionamento a qual me refiro paira sobre os valores de alguns rótulos. Eu confesso que fomentar essa “polêmica” é totalmente desnecessário, haja vista que qualidade não se mensura, penso eu, pelo preço do vinho, até porque o que precisamos levar em consideração é a proposta do vinho, o que ele pode te entregar e principalmente o que você espera de um vinho para o momento em que você deseja degustar um rótulo.

Para muitos, os famosos “aristocratas do mundo do vinho”, um grande rótulo é aquele de grife, de vinícola famosa, caro, por isso que aquele que ostenta um “Gran Reserva” tem de ser caro, três dígitos, no mínimo. E quando se depara com um de dois dígitos e abaixo de R$ 40,00 dinheiros, surge àquela interrogação na cabeça: Será que ele é bom? Sei não...

Mas quando degustamos um Gran Reserva espanhol precisamos fazer algumas considerações: os Reservas, os Crianzas, os Gran Reservas na Espanha seguem uma rígida legislação que busca valorizar, enaltecer os terroirs de cada região, bem como algumas regras e determinações com relação às passagens pelas barricas de carvalho, bem como os seus “descansos” na garrafa, nas caves das vinícolas antes de chegar às mesas dos enófilos. Para saber mais do assunto leia: “Classificação dos vinhos espanhóis” “Lei 24/2003, de 10 de julho, sobre Vinha e Vinho”.

Eu acessei um famoso aplicativo de vendas de vinhos e, de forma despretensiosa, confesso, comecei a navegar, olhar os rótulos sem intenção de buscar nada em especial e vislumbrei um rótulo espanhol, um Gran Reserva, de uma região não muito conhecida, como Rioja, por exemplo, de um produtor não muito badalado, mas que chamou a minha atenção confesso, pelo preço. Mas me senti na obrigação de buscar referências para não fazer uma compra no escuro. Porém, pelo simples fato de ser de uma região e vinícola pouco badaladas, pouco achei sobre o vinho, inclusive no próprio site do produtor nada havia sobre o vinho.

Comprei no escuro, contudo me identifiquei com alguns pontos e que o vinho entregava: um vinho com uma safra razoavelmente antiga, com potencial de guarda, com grande complexidade, pelo menos eu esperava ter isso em minha taça e um Gran Reserva na faixa dos R$ 39,90 acredite se quiser!

Como sempre costumo fazer quando pouco se tem de informação sobre o vinho, antes de degusta-lo, contatei o produtor para confirmar as castas que compunha o blend, o percentual de cada uma, entre outros detalhes de sua descrição técnica. E de posse da informação (ótimo feedback do produtor) eu decidi esperar, não sei dizer o motivo, o vinho completar 10 anos de safra para degusta-lo. E como segurar a ansiedade? O vinho na adega, por dois anos, o comprei em 2019, aguardando o meu momento, o ápice da celebração da degustação.

E eis que o momento chegou, 5 de agosto de 2021, 10 anos de safra, um vinho evoluído, uma noite de inverno, um vinho para acalentar, esquentar a alma sedenta por degustar um vinho que eu nutri tanta expectativa. A rolha anuncia o início do ritual da degustação se desprendendo da garrafa, a liberdade da poesia líquida pronto para ser recitada. A taça é inundada de um momento que esperava ser sublime, a análise visual, o aroma, a degustação! Incrível! Tanta complexidade, elegância, maciez e personalidade em um só rótulo, essas improbabilidades se fez verdadeira. O vinho que degustei e gostei veio da região espanhola de Navarra e se chama Gran Villa, um Gran Reserva cujo blend é composto pelas castas Cabernet Sauvignon (60%), Graciano (20%), Tempranillo (10%) e Garnacha (10%) da safra 2011. Essa combinação, que me parece ser comum da região de Navarra, de castas francesas e das uvas populares da Espanha, traz a tônica ao vinho também e antes de falar do vinho, falemos um pouco da região de Navarra.

DO Navarra

A região de Navarra (DO Navarra) fica ao norte da região de Rioja, entre a parte baixa dos Pirenéus, até o rio Ebro, apresentando cerca de 11.500 hectares ocupados por vinhedos, graças ao seu solo extremamente fértil e propício para o cultivo de inúmeras castas. A viticultura começou já no século 2 antes de Cristo quando os Romanos criaram as primeiras adegas. Por muitos anos, o vinho foi produzido pelos monges dos inúmeros monastérios desta antiga área vitivinícola. Na idade Media, Navarra era um reino poderoso, aliado à França, o que ajudou o desenvolvimento da viticultura. O fato que fica no Caminho de Santiago aumentou a demanda, os vinhos de Navarra sendo recomendados aos romeiros.

DO Navarra

As videiras foram devastadas pela praga filoxera em 1892, eliminando quase 98% das vinhas na época. No início do século XX, foram replantadas vinhas com raízes do Novo Mundo. Produtores formaram cooperativas e produziram vinho em grande quantidade, exportado a granel. Somente nos anos 1980, vinícolas privadas começaram a fazer vinhos de qualidade. A Denominación de Origen, originalmente aprovada em 1933, foi modificada para refletir a transição de vinhos de massa para vinhos de qualidade.

A região produz cerca de 89 milhões de litros de vinho por ano, dos quais 30% são exportados. Apesar dos vinhos brancos da região fazerem bastante sucesso e agradarem aos exigentes paladares da crítica especializada, é a produção de vinhos tintos que se destaca em Navarra. Em decorrência disso, 70% da produção da área espanhola é constituída de vinhos tintos, sendo os outros 25%, destinados a produção de vinhos brancos e rosés.

Diversas variedades de uva são cultivadas na região, como as da casta Moscatel, Chardonnay, Mazuelo, Graciano, Merlot, Cabernet Sauvignon e Viura. Entretanto, as uvas de maior sucesso da região de Navarra são a Garnacha e a Tempranillo. Por muitos anos, a Garnacha foi de longe a variedade de uva mais plantada nas vinhas, intercaladas com as fazendas de frutas e vegetais pelas quais Navarra é tão famosa. Até pouco tempo atrás, as vinhas velhas de Garnacha, dominavam o território.

Tempranillo ultrapassou Garnacha como a variedade mais plantada, com Cabernet Sauvignon chegando em terceiro lugar. Os resultados são muito respeitáveis, se muito raramente são excepcionais. As bodegas de Navarra foram capazes de investir em carvalho francês para suas uvas francesas.

Consideravelmente auxiliados por um programa de pesquisa do governo local, eles fizeram uma avaliação cuidadosa de variedades de uvas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e, especialmente, Tempranillo - que agora produz alguns vinhos finos e concentrados, tipicamente envelhecidos em carvalho americano.

Navarra tem clima continental, com verão seco e quente, e invernos bem frios. Tem uma influencia marítima vendo do mar Atlântico, moderando as temperaturas durante a maduração das uvas, e a noite, as temperaturas caiem no fim de agosto. A grande diversidade dos vinhos de Navarra reflita a influência da confluência dos climas das 2 principais zonas de produção da região, situação excepcional na península ibérica: atlântico na Tierra Estella e na Baja Montaña; mediterrâneo na Ribera Alta e na Ribeja Baja.

Na década de 1980 a região começou a passar por grandes mudanças, com a renovação de mentalidade trazida por produtores jovens e inquietos, que culminou com a redescoberta e valorização das castas mais tradicionais e de seus vinhedos de vinhas velhas. Como os preços médios ainda permanecem mais baixos que os da Rioja, os vinhos de Navarra tornaram-se opções muito interessantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo vermelho rubi intenso, mas com traços violáceos que lhe confere algum brilho, com lágrimas finas e em profusão, lentas e que mancham de vermelho as bordas do copo.

No nariz o buquê aromático é o destaque, com notas de frutas negras, como a ameixa e a amora, em especial, com a madeira também protagonizando, bem como a baunilha, o couro, tabaco e toques de especiarias como a baunilha, por exemplo.

Na boca é estruturado, quente, corpulento, porém macio e aveludado graças aos 36 meses de passagem por barricas de carvalho e 5 anos evoluindo na garrafa antes de sair da vinícola, que lhe confere também complexidade. Os taninos são firmes e presentes, mas domados, com uma acidez presente e na medida, apesar dos seus 10 anos de safra. A madeira também presente entrega toques generosos de torrefação e chocolate. Um vinho que envelheceu muito bem e tem um final longo e prolongado.

Um misto de sentimentos me tomou de assalto quando degustei o Gran Villa Gran Reserva: o prazer de degustar um vinho com 10 anos de vida, o que, convenhamos não é cotidiano, e pelo fato de carregar, de ostentar o título de “Gran Reserva”. Quando ostenta um vinho espanhol o “Gran Reserva” em seu rótulo, merece todas as referências possíveis. E independente dos valores, baixos ou não para esta proposta, temos de olhar com carinho, mas que não significa que o vinho não traga frustrações, mas nesse quesito temos de ressaltar a particularidade das experiências sensoriais de cada um. Um vinho de uma complexidade aromática única, com estrutura e personalidade marcante, mas equilibrado e elegante conferidos pelo tempo, um vinho que se deve degustar vagarosamente, apreciando, respeitando cada nuance, cada detalhe que faz dele único, vívido, pleno e intenso. Um vinho que envelheceu bem, com grande capacidade de evolução, pleno e vivo e que teria, sem dúvidas anos e anos pela frente! Tem evidentes 14% de teor alcoólico, mas muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Bodega Señorio de Sarría:

Embora a adega tenha sido fundada em 1953, muitos séculos de história contemplam estas terras como zona de cultivo de vinha.

Diz a história que o Senhor de Sarría desde a Idade Média, por intermédio de crônicas da época, acompanhou o rei Sancho El Fuerte na batalha de Las Navas de Tolosa em 1212. Séculos depois, no século XVI, a história do Señorío e Navarra se confunde ainda mais, já que o então senhor de Sarría (Juan de Azpilicueta), irmão de San Francisco Javier (atual patrono de Navarra), pagou seus estudos em Paris, com os rendimentos obtidos na pecuária e exploração agrícola desta fazenda. O manuscrito no qual San Francisco Javier agradece a seu irmão por esta ajuda ainda é preservado hoje.

E foi muitos anos depois, em 1953, quando o renomado empresário navarro Don Félix Huarte comprou o Señorío, realizou as novas plantações de vinhedos e construiu a vinícola, passando a produzir e comercializar vinhos com a marca Señorío de Sarría.

Posteriormente, em 1981, a adega separou-se da família Huarte e iniciou uma nova etapa, que teve um importante renascimento em 2001, dando início a um novo e ambicioso projeto de renovação de instalações e vinhas, de forma a estar na vanguarda do panorama nacional e internacional mercado.

Situado em Puente La Reina, no coração do Caminho de Santiago, o Señorío de Sarría está localizado em uma área que oferece condições de clima e solo imbatíveis, o que permite a produção de uma gama de vinhos da mais alta qualidade.

100 hectares de vinhas de múltiplas variedades estão espalhados pelas encostas e espreguiçadeiras de Puente la Reina, Olite e Corella. Cada planta, cada vinha, cada parcela, recebe um cuidado primoroso e um acompanhamento particular para produzir vinhos magníficos desde a sua origem. Cada casta foi cuidadosamente selecionada e cultivada no local mais adequado, tendo em conta as condições de luz, humidade e temperatura exigidas em cada caso.

Mais informações acesse:

https://www.bodegadesarria.com/

http://www.bornosbodegas.com/

Referências:

“Premium Wines”: https://www.premiumwines.com.br/_regiao_olha.php?reg=72

“Vindame”: https://www.vindame.com.br/navarra

“Bella Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-navarra-na-espanha

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/navarra




domingo, 1 de agosto de 2021

Amandla! Pinotage 2019

 

Sou réu confesso! Nunca me interessei em degustar um vinho tendo como princípio um prato, uma comida. Essa sempre foi um coadjuvante diante do protagonismo do vinho e digo mais: nunca fui muito bom em harmonizar vinho com comida, embora eu acredite humildemente que a harmonização de comida com vinho é um experimento, parte de alquimia, sempre experimentando, buscando o paladar, o casamento perfeito, é basicamente aquele que te faz bem, que os teus sentidos dão um feedback positivo.

Hoje a escolha do vinho se deu por conta de uma comida que vi minha mãe preparando, um prato que adoro: carnes inundados em um feijão manteiga. Então pensei: Por que não harmonizar isso tudo com um bom vinho? Com aquele vinho mais encorpado, haja vista também que estamos passando por um inverno que, para os parâmetros cariocas, rigoroso. Parecia que tudo conspirava a favor.

Então me coloquei a observar com carinho na adega, será que eu encontraria um vinho à altura do meu súbito interesse por uma degustação hoje? Por que súbito? Não estava no roteiro uma degustação hoje. Ah e precisa de roteiro? Precisa sim do amor ao vinho e da taça cheia, na hora em que você quiser e puder.

Depois de uma criteriosa, mas rápida verificação (para os meus padrões) na adega eis que surgiu a escolha do rótulo e estava muito eufórico com essa escolha e com o seu propósito: a harmonização com o prato tão carinhosamente feito pela minha mãe: aquele típico prato dominical em família.

Trata-se um sul africano, uma proeminente região no Novo Mundo que já se tornou uma referência na produção de grandes vinhos nas suas mais diversas propostas, a tradição no Novo Mundo, por que não? E melhor, de uma região especial e que sem sombra de dúvida que foi e será a porta de entrada de muitos enófilos nos rótulos da terra de Mandela: Western Cape, a toda poderosa região vitivinícola da África do Sul.

E adivinhem a casta: Pinotage, a cepa autóctone das terras sul africanas e apesar do óbvio sempre se torna especial quando degusto um vinho da casta Pinotage. Então sem mais delongas apresento o Vinho que degustei e gostei que veio, claro, da emblemática região de Western Cape e que se chama Amandla! Pinotage da safra 2019.

Não é a primeira vez que degustei um vinho dessa linha de rótulos, tive uma ótima impressão do Amandla! Red Fusion 2019, um blend explosivo das principais cepas produzidas na África do Sul. Mas neste novo rótulo eu percebi um detalhe que me chamou a atenção: “Bush Wines”. O que é isso? Confesso que não conhecia o significado e, como sempre aprendi que temos de ler cada canto do rótulo para saber o que estamos degustando, me debrucei nas pesquisas. Falemos de “Bush Wines”, da região de Western Cape e um pouquinho da ótima casta Pinotage.

“Bush Wines”

O termo em inglês, “Bush Vines” ou “Bush Wines”, pode parecer distante para muita gente, até mesmo entre especialistas e enófilos, mas, traduzindo-o, “Vinhas Arbustivas” ou “Vinhos de Arbusto”, o termo pode parecer mais familiar, contudo, ainda assim, é um conceito distante, sobretudo para os brasileiros, apesar de termos e palavras populares no dicionário dos apreciadores da nobre bebida. Mas afinal de contas o que de fato significa “Vinhas Arbustivas”?

Dependendo do clima, do estilo do vinho, do solo e de outros fatores, a videira é podada de forma específica e adquire uma formação especial. A videira arbustiva é, portanto, um estilo de poda que, como o próprio nome indica, é em forma de arbusto e é um dos estilos de poda mais antigos do mundo. Geralmente tem um tronco curto e o topo é um tanto irregular e não como as vinhas de Bordeaux, por exemplo, que têm esse formato em "T" (cientificamente chamado Double Fuyot).

Vinhas de Bordeaux (Double Fuyot)

Mas por que alguém escolheria? Pois bem, com este formato a videira passa a ter quantas folhas forem necessárias para a sombra, para que o fruto não queime enquanto ajuda no amadurecimento gradual e adequado das uvas. Também ajuda a ventilar a videira evitando doenças como o bolor. Diante disso entende-se que as vinhas de arbusto são ideais para áreas com clima quente e muito sol, como o Ródano, África do Sul, Austrália e Grécia. Ao mesmo tempo, as raízes das vinhas arbustivas têm a capacidade de atingir até 20 metros de profundidade em busca de água. Isso os torna ideais para climas secos, bem como para áreas onde a irrigação é difícil ou proibida.

Vinhas arbustivas

Por outro lado, as vinhas arbustivas também apresentam algumas desvantagens. O mais importante deles é a incapacidade de realizar a colheita mecânica. Como resultado, é preciso muito mais trabalho (e dinheiro) e tempo para colher as uvas. Além disso, apresentam rendimentos mais baixos, o que em combinação com o anterior conduz a uma perda de dinheiro para o produtor (a menos que consiga vender os seus vinhos a um preço superior).

E de acordo com essa desvantagem o cenário das videiras arbustivas tem declinado nas regiões de Stellenbosch, Malmesbury e Paarl, regiões emblemáticas de produção de vinhos na África do Sul, segundo dados apresentados em 1991, por Archer, do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Stellenbosch. Na área de Stellenbosch, a porcentagem de videiras sendo cultivadas como videiras arbustivas diminuíram de 59% em 1971 para 38% em 1979 e 30% em 1987. De acordo com os dados de bloco SAWIS de 2012, 23% (excluindo blocos de um ano de idade) da superfície plantada com videiras em Stellenbosch foi cultivada como vinhas. Estima-se que 80 a 90% das uvas para vinho no distrito de Malmesbury (Swartland) eram cultivadas como vinhas no final da década de 1980 (Archer, 1991). Os dados de bloco SAWIS mais recentes mostram que 47% das videiras nesta área não são gradeadas.

Um dos motivos para o afastamento das vinhas de arbusto é provavelmente o objetivo de maiores produções viabilizado por sistemas de treliça, em conjunto com a maior disponibilidade de água para irrigação. Além disso, o foco na mecanização é cada vez maior e o fato de os processos de poda e colheita em cipós não poder ser mecanizado, impacta nas considerações dos produtores no momento do estabelecimento.

O cultivo de uvas para vinho como vinhas de arbustos diminuiu e espera-se que diminua ainda mais como resultado da crescente pressão para mecanizar. Os produtores também devem buscar uma alta produção unitária, o que só é possível por meio de sistemas de treliça maiores (superfície foliar).

No entanto, as trepadeiras arbustivas continuam a ser uma opção em terrenos de menor rendimento (por exemplo, terras secas com teor de umidade do solo suficiente), onde um sistema caro de treliça não garante necessariamente produções mais altas. Muitas vezes, esse terreno permite videiras equilibradas com crescimento e produção moderados, a partir dos quais vinhos concentrados e de alta qualidade podem ser feitos. O desafio é, portanto, encontrar valor para esses vinhos nos mercados. Só então a icônica videira do mato será capaz de permanecer uma parte sustentável de nossa paisagem de vinhedos.

Alguns ligam as vinhas de arbusto ao cultivo biodinâmico e a vinhos de qualidade. Esta ligação não foi cientificamente comprovada, mas foi demonstrado que as vinhas são menos suscetíveis no Botrytis cinereal ou, em outras palavras, podridão cinza. Isso significa uma planta mais saudável sem a necessidade de usar muitos produtos químicos e é provavelmente por isso que ela é escolhida pelos defensores do cultivo biodinâmico. Leia Mais em: "Bush Wines".

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

Pinotage

A Pinotage foi criada pelo Prof. Abraham Izak Perold, em 1925, cruzando um clone de Pinot Noir com a uva tinta chamada Cinsault (também conhecida como Hermitage). Seu nome vem da união dos dois nomes de origem: Pinot + Hermitage = Pinotage.

Abraham Izak Perold

A uva entrou em evidência a primeira vez, quando em 1959 um vinho produzido com esta cepa foi campeão no Concurso Cape Young Wine Show na Cidade do Cabo. Em 1991, outro vinho produzido somente com Pinotage foi eleito o melhor tinto no Concurso Internacional “Wine & Spirits” em Londres, reforçando a sua imagem de qualidade.

A uva Pinotage produz vinhos tintos com aromas ricos e exóticos, bem diferentes e quase “selvagens”, algumas vezes lembrando borracha. Há exemplares macios e frutados, destacando-se a framboesa e o mirtillo com presença de alcaçuz e leve nuance de fumaça, enquanto outros são densos, estruturados e concentrados, feitos para um longo envelhecimento. Os vinhos da casta Pinotage que possuem corpo mediano são ideais para serem harmonizados com risoto ao funghi e carnes vermelhas, já os encorpados, podem ser acompanhados de queijos maduros e carnes assadas.

A Pinotage é sem dúvida a uva tinta mais emblemática da África do Sul. No entanto, o que muitos não sabem é que atualmente não é ela a uva tinta mais plantada no país, e sim a, tão conhecida, Cabernet Sauvignon. Os vinhedos de Cabernet quase dobraram de tamanho ao longo da última década, chegando a aproximadamente 10% de todas as uvas tintas plantadas no país. Já a Pinotage manteve-se estável, com uma área de aproximadamente 6%. Isto ocorre, principalmente, pelo fato desta cepa não se adaptar em qualquer “terroir” e também por não ser uma uva fácil de domar.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta uma lindíssima cor vermelha com predominâncias violetas que traz contornos brilhantes, reluzentes com uma profusão de lágrimas finas e lentas desenhando as paredes do copo.

No nariz traz uma explosão de frutas vermelhas, tais como cereja, morango, framboesa, amoras, com uma nota de flores vermelhas, com um inusitado toque discreto de baunilha.

Na boca é macio, redondo, extremamente frutado, as frutas vermelhas realçam como nas impressões olfativas, mas tem uma persistência em boca, um bom volume que faz com que o vinho tenha certa personalidade típica da casta. Tem um curioso toque de madeira, defumado e tabaco, mas não passa por barricas de carvalho, passa sim 10 meses em tanques de aço inoxidável, para privilegiar as características da cepa, mas fugindo do conceito mais robusto da Pinotage. Taninos macios e acidez na medida, com um final elegante e frutado.

“Amandla!” significa poder nas línguas locais da África Sulista. É normalmente usado para criar um sentimento de unidade e união. O produtor afirma que o vinho traz a lembrança de que a força e a unidade são criadas quando se trabalha junto, simbolizando todas as mãos envolvidas na produção desta garrafa de vinho. Quando falamos, até de forma demasiada, em tipicidade, em terroir, traz a luz quando as mãos que criaram, que conceberam esse vinho, que vem com a cultura de um povo, o amor e o respeito a terra de onde se faz a vindima, todo o detalhe constrói o conceito e a proposta do vinho.

Agora vem a pergunta que não quer calar: Como foi a harmonização das carnes banhadas no feijão manteiga com o Amandla! Pinotage 2019? Digo que, apesar do meu amadorismo nas harmonizações, foi maravilhoso! Uma comida gordurosa, com algum peso para um vinho de médio corpo, com alguma personalidade, típico de toda Pinotage. Mas apesar disso degustei um belo vinho, macio, redondo, como sugere um vinho produzido em vinhas arbustivas que trouxe um Pinotage que fugiu um pouco do peso atribuído a essas castas, com taninos presentes, mas domados, frutados e com uma acidez equilibrada que limpou a boca, clamando por mais e mais garfadas do prato que carinhosamente minha mãe preparou para aglutinar a família e reforçar a necessidade do clamor do vinho pela comida e vice versa. Que possamos nos permitir experimentar, sem visões pré-concebidas e sem ruídos externos desses formadores de opinião que na realidade apenas quer impor o que pensa. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“WineLand”: https://www.wineland.co.za/cultivation-of-bush-vines-in-south-africa-the-current-situation/

“Blog Botilia”: https://blog.botilia.gr/en/bush-vines-en/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/pinotage

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/quase-indomavel-pinotage/