Mais uma vez serei redundante, mas quer saber? Melhor ser
redundante do que omisso! Amo e muito a casta Pinot Grigio! Sempre quando tenho
alguma possibilidade ou oportunidade eu compro um rótulo para manter abastecida
a minha adega com pelo menos um rótulo com esta especial cepa. E sempre quando
resenho a respeito dela, faço questão de fazer esse parêntese, para ser
taxativo, mesmo que redundante, repetitivo, é como que se fora uma afirmação,
uma corroboração do meu sentimento afetivo pela casta.
Mas há quem não goste da casta! Claro que a opinião e as
impressões são pessoais e precisam ser preservadas e respeitadas, mas percebo,
ou melhor, leio alguns comentários dizendo que a casta é inexpressiva, rala,
sem vida, sem personalidade. Defendo que, antes de fazer qualquer
pré-julgamento é preciso conhecer a fundo as características mais essenciais da
cepa e analisar se existe uma identificação, penso.
Mesmo que eu seja redundante, hoje eu tenho de dizer com
muita animação e entusiasmo que degustarei, mais uma vez, um rótulo da casta
Pinot Grigio e melhor: da Itália, da famosa região da Sicília, depois de muito
tempo que eu não degustava um Pinot Grigio dessa região, desse país. Então,
caros leitores, apesar do meu declarado amor pela uva, há novidades e a há
outra que ainda considero melhor de todas e que será a primeira vez: Um Pinot
Grigio orgânico, vegano!
Nem tudo é tão linear, a mesma coisa. Independente de minhas
experiências com a casta seja razoavelmente grandes e satisfatórias, há sempre
grandes e gratas novidades para viver e compartilhar. Mais experiências
sensoriais, detalhes pequenos, grandiosos, significativas para deleite de nós,
enófilos de plantão, sempre ávidos por uma celebração vínica.
E decidi compartilhar esse momento especial com um grande
amigo, o Paulo Rodrigues, de longa data que carinhosamente me convidou à sua
casa para mais um dia de confraria. Eu sempre comentei com ele sobre a Pinot
Grigio e de suas maravilhas e dizendo que ele deveria comprar um rótulo, então
como ele até o momento não comprou, não hesitei em levar esse rótulo, que já
comprei há algum tempo e que já estava ansioso em degusta-lo.
E que maravilha! Que vinho estupendo! Quanto mais falamos,
quanto mais atribuímos adjetivos, mas tenho a impressão de que sempre faltará
para falar desta casta. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática
Sicília, na Itália, no Sul da Bota, e se chama simplesmente Ziobaffa da casta
Pinot Grigio e a safra é 2018. E para variar eu tive uma experiência soberba
com o Ziobaffa tinto da safra 2014 com um blend fantástico das castas Sangiovese (80%) e Syrah (20%). Uma belíssima linha arrojada e moderna da
Castellani que vale e muito a pena degustar. Mas antes de falar do vinho e
produtor, convém, mais do que nunca, da região da Sicília, e da artista: Pinot
Grigio.
Sicília
A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha
vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura
interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida
hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante
séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um
destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela
exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso
teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.
Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a
elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas
de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de
Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a
Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na
Sicilia no século VIII-VII a.C.. Esse vinho era um varietal de Byblia, uva
originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na
Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e
Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o
Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o
vinho mais antigo da Itália.
Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem
do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na
Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.
Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino
(outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito
apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e
África.
A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda
do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade
de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o
nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de
viticultura e também o processo de passificação das uvas.
No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um
grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com
uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no
resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John
Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de
uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo
levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por
lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo
vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor
vitivinícola de grande êxito.
Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também
atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos
vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos
vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.
A região possui um clima e um solo que favorecem muito a
viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades
econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas,
montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda
parte, que vão das colinas até a parte costeira.
Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam
inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois
proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também
na parte costeira da ilha.
O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais
costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar
temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África.
Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do
mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os
vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.
O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão
das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de
composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é
um tipo de rocha metamórfica composta de granito.
Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos,
e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.
As principais castas tintas produzidas na Sicília são:
Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello
Capuccio, Frappato, Sangiovese e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo,
Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano
Toscano, Malvasia, Chardonna e Sauvignon Blanc.
Pinot Grigio
Se você nunca ouviu falar na uva Pinot Grigio, talvez já
tenha degustado um vinho produzido com a Pinot Gris. É possível encontrar a
casta sendo chamada pelos dois nomes diferentes, a depender da origem do vinho,
podendo ser italiano ou francês, respectivamente. A diferença na forma como
chamamos a uva passa pelo próprio significado das duas palavras: o nome Grigio
significa cinza em italiano e Gris, cinza em francês – sendo referência à cor
da casca da fruta. A coloração da uva é um resultado natural do cruzamento entre
a Pinot Noir e a Pinot Blanc.
A Pinot Grigio surgiu na região da Borgonha, contudo foi em
outra região francesa que ela ganhou um lar e ganhou notoriedade também, a
Alsácia. Onde era conhecida por outro nome famoso, Tokay, mas que causava muita
confusão. Tokay é um termo utilizado para os vinhos mais famosos (e caros) da
Hungria, os longevos Tokaji, que nada tem a ver com a Pinot Grigio.
A origem da Pinot Grigio foi descoberta a poucas décadas,
onde constatou-se ser uma cruzamento genético natural entre a Pinot Noir e a
Pinot Blanc. Embora seja de origem francesa, foram os italianos que tornaram
esse varietal mundialmente conhecido e passaram a dominar a sua produção
global. Isso faz com que muitos acreditem que a uva seja originária do
fantástico "país da bota".
Os vinhos produzidos com a Pinot Grigio são muito
influenciados pelos fatores ambientais e humanos envolvidos no processo, o que
chamamos de terroir. Nas regiões frias são encontrados vinhos com maior
intensidade aromática e acidez vibrante, além de serem tipicamente mais leves e
delicados, normalmente denotando aromas frutados, florais e com a sutil
presença de especiarias. Bons exemplos disso são os aromas de pêssego, limão,
tangerina, pera, maçã verde, complementados por flores silvestres, mel,
tomilho, orégano e erva-cidreira. Já as regiões mais quentes produzem
exemplares mais viscosos, aumentando a percepção de corpo da bebida, que,
dependendo do solo, pode apresentar um caráter mineral, lembrando pedras e a
areia molhada.
Agora, se compararmos o perfil dos vinhos franceses e
italianos, as características sensoriais serão gritantes. Na França, esses
vinhos costumam ser mais encorpados, amarelados e com uma presença picante. Já
na Itália, os exemplares são mais refrescantes, versáteis e fáceis de beber.
Dependendo do estilo do produto, vinícola e vindima, são vinhos brancos com
aptidão ao envelhecimento.
E agora o tão esperado vinho!
Na taça tem um lindo amarelo bem brilhante tendendo para o
dourado mas com alguns reflexos esverdeados com poucas concentrações de
lágrimas finas e que logo se dissipavam.
No nariz é leve, fresco, solar, agradável com notas frutadas,
frutas brancas e cítricas como pera, maça-verde, limão siciliano, maracujá e
abacaxi, com um floral fantástico que traz a sensação de delicadeza e
jovialidade.
Na boca traz também a leveza e o frescor, além das notas
frutadas observadas no aspecto olfativo, com uma ótima acidez que corrobora o
frescura, mas que também entrega personalidade ao vinho, sendo inclusive, arriscaria
untuoso, com ótimo volume de boca. Final frutado e prolongado.
Degustar, mais uma vez, a Pinot Grigio e depois de muito
tempo oriundo de terras italianas foi uma grande experiência sensorial, um grande
prazer! Um vinho de um produtor tradicional da Itália, mas que consegue, com
maestria, aliar com o arrojo da modernidade trazendo um vinho versátil,
frutado, com personalidade, leveza, frescor e untuosidade no paladar, um volume
de boca intenso, mas que entrega delicadeza e elegância, típica da casta, o que
é outro detalhe de suma importância, aliado ao veganismo e a simplicidade do
saber fazer, sem descaracterizar a cepa em sua mais genuína essência. Essa é a
proposta do vinho, esse é o conceito de terroir defendido e efetivado, com
muita tipicidade pelo produtor. Tem 12% de teor alcoólico.
Então com vocês a palavra do produtor:
“Na Sicília, muitos
produtores de vinho evitam o uso de pesticidas, fertilizantes químicos e
herbicidas simplesmente porque não podem pagá-los. O clima seco e quente do sul
da Itália permite boas uvas todos os anos, mesmo sem o uso de produtos
químicos. A sustentabilidade ambiental generalizada da viticultura siciliana é
dada pelo ambiente econômico e de mercado insustentável em uma região onde os
melhores brancos eram fabricados. Por esses motivos, optamos por produzir nosso
Pinot Grigio. Uma variedade de uva branca italiana mais solicitada no exterior.
Encontramos vinicultores da Sicília para restaurar a dignidade ao seu trabalho
árduo, direcionando seus vinhos extraordinários em nosso projeto ZIOBAFFA como
um embaixador da melhor vinícola italiana. Foi aí que nasceu nosso Pinot
Grigio”.
Sobre a ZioBaffa:
O cineasta Jason Baffa teve a sorte de viajar pelo mundo com
seus amigos e uma câmera de filme criando imagens em movimento sobre seu amor
pelo surf. Os filmes, "Singlefin: amarelo", "One California
Day" e a recém-lançada e premiada "Bella Vita" (todos no iTunes)
abraçam a vida inspirada da subcultura de surf sem preocupações. Durante uma
viagem pela Itália com o surfista-ambientalista Chris Del Moro e o enólogo da
quinta geração, Piergiorgio Castellani, a paixão de Baffa por boa comida, a
libação que sacia a sede e algumas piadas práticas até tarde da noite,
inspiraram a tripulação local de surfistas a apelidar ele, Zio Baffa (tio
Baffa).
Sobre a Castellani:
O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no
final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar
a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu
irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem
meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A
vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno,
onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em
típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos.
Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti.
A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a
ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de
Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da
empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a
Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto,
o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas
por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje
esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir
vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a
Toscana.
Mais informações acesse:
Referências:
“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho
“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/
“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/sommelier-wine/serie-uvas-pinot-grigio/
“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/pinot-grigio-conheca-suas-principais-caracteristicas/
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