Não estava em meus planos para hoje, meu aniversário. É claro
que o plano, o roteiro era degustar um belo vinho, um vinho para celebrar o
dia, para que o dia se tornasse melhor, porque o vinho é assim: sempre torna o
dia, a vida melhor, mas não estava nos meus planos sair de casa, mas ficar
nela, curtindo apenas o meu belo vinho que fora escolhido a dedo: o Anciano
Gran Reserva Tempranillo 2006.
Mas recebi a mensagem entusiasma de meu grande e já confrade
amigo Paulo Roberto para ir à sua casa e degustar uma de suas deliciosas pizzas
e, claro, degustar alguns bons vinhos, alguns rótulos sempre especiais.
Hesitei um pouco confesso, não por conta do meu grande amigo
e de sua sempre agradável presença, mas pelo convite em cima da hora e não ter
tido tempo o suficiente para me programar, me preparar, haja vista que sou uma
pessoa deveras sistemática, metódica mesmo.
Mas resolvi unir o útil ao agradável. Já que estaria sozinho
nesta noite tão agradável de sábado, de meu aniversário, resolvi seguir para a
casa de meu grande amigo e de posse do meu vinho escolhido para degustar no
dia, o Anciano Gran Reserva Tempranillo 2006.
Mas resolvi unir o útil ao agradável. Já que estaria sozinho
nesta noite tão agradável de sábado, de meu aniversário, resolvi seguir para a
casa de meu grande amigo e de posse do meu vinho escolhido para degustar no
dia, o Anciano Gran Reserva Tempranillo 2006.
Mas resolvi fazer ao meu bom amigo e confrade uma “exigência”.
Sei que ele tinha feito a aquisição de um também Anciano Gran Reserva
Tempranillo, porém da safra 2008, então o sugeri fazermos com esses especiais
rótulos uma pequena degustação vertical, ou seja, a degustação de rótulos
iguais, porém de safras diferentes. Seria um dia especial, de vinhos evoluídos,
de safras razoavelmente antigas, afinal não é todo dia que degustamos vinhos
longevos desse jeito.
Ele concordou em fazer e também logo se animou tudo parecia
conspirar a nosso favor: um dia ameno, agradável, de aniversário, de pizzas, de
degustações de vinhos especiais. A expectativa era enorme!
Cheguei a sua casa, colocamos os “Ancianos” na sua adega
climatizada iniciamos a degustação do Plaza del Torres Reserva Tannat 2018, com
alguns aperitivos, como um bom queijo provolone e estava ótimo, mas não
conseguíamos conter a ansiedade de degustar os “Ancianos”.
Enfim o momento chegou. Iniciamos com a degustação da safra
2006, isso mesmo, um vinho debutando, de 15 anos, e aqui segue a análise para
caso quiserem, caros leitores, fazer a comparação, do Anciano Gran Reserva Tempranillo 2006. E quando começamos a degustar o 2008, o vinho que degustamos
e gostamos, o Anciano Gran Reserva Tempranillo 2008, percebemos a mesma
qualidade do que observamos, sentimos no da safra 2006, mas sim, com algumas nuances,
algumas peculiaridades que logo irei expor. Porém antes falemos um pouco da
região que nasceu este vinho: Valdepeñas.
Valdepeñas
A D.O. Valdepeñas fica imediatamente ao sul de Castilla-La
Mancha, que fica no centro da Espanha. Trata-se de uma região muito propícia
para o cultivo da vinha, com um clima continental de baixo índice
pluviométrico, e que registra temperaturas extremas, com máximas que superam os
40°C, e mínimas que podem ser inferiores a -10°C.
Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade, obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de coloração muito profunda.
Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de
vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção é
destinada à exportação da Espanha para outros países.
A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77%
deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de
Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%.
A notoriedade de Valdepeñas encontra sua origem em vinhos
rosés do passado, que foram lentamente dando lugar a tintos elegantes, sempre
aveludados e frutados, que podem ser jovens ou envelhecidos em barris de
carvalho.
A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a
Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas
autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet
Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo,
Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo.
Denominação de Origem e história
A Denominação de Origem Valdepeñas nasceu em 1932 conforme
consta do Estatuto do Vinho, a produção de vinho na região remonta ao século V
aC, como comprovam os estudos científicos do sítio ibérico "Cerro de las
Cabezas" localizado geograficamente dentro da área que hoje é a sua área
de produção.
Foi em 1968 que a Denominação de Origem Valdepeñas foi dotada
do seu primeiro regulamento, que durou até 2009, altura em que se constituiu
como Associação Interprofissional, criando o quadro de trabalho entre
produtores e adegas, pela qualidade diferenciada no processo de viticultura e a
produção e engarrafamento dos seus vinhos.
Apesar de ser mundialmente reconhecida como "Denominação
de Origem Valdepeñas", sua área de produção inclui dez municípios:
Valdepeñas, Alcubillas, Moral de Calatrava, San Carlos del Valle, Santa Cruz de
Mudela, Torrenueva, parte do distrito Torre de Juan Abad, Granátula de
Calatrava, Alhambra e Montiel.
Cidades com muitas histórias para contar, eternamente ligadas
-como os seus vinhos- à história de Espanha de alguns dos seus filhos ou aos
acontecimentos históricos que protagonizaram os nomes dos seus solos como: D.
Álvaro de Bazán, primeiro Marquês de Santa Cruz; Francisco de Quevedo ou o
regicídio entre Pedro I e Enrique II de Castela.
E agora o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi, intenso, quase escuro, mas
não tem aquela típica tonalidade atijolada, acastanhada típica de um vinho de
safra mais antiga, uma cor viva e intensa, com lágrimas pungentes, finas e
densas, onde teimavam em se dissipar das paredes do copo.
No nariz mostrava-se delicado e elegante, aquele famoso buquê
aromático, os tão famosos aromas terciários, com complexidade, mas se sentia as
notas frutadas em profusão, frutas negras maduras, como ameixa, amora, groselha
preta, toques de especiarias, notas amadeiradas, de uma discreta baunilha e de
terra, fazenda também foram sentidos.
Na boca alguma estrutura, aliado a maciez, a elegância
conferida pelo tempo de safra e o descanso de longos 10 anos na garrafa, o
aporte de 18 meses de barricas de carvalho entrega um discreto toque
amadeirado, muito integrado ao conjunto do vinho, além de um pouco de
rusticidade, com taninos mais presentes, porém redondos, com uma acidez
razoável. Um vinho ainda pleno e atraente aos sentidos.
A tarde e noite agradáveis, o dia especial, com rótulos
especiais e pizzas deliciosas. Assim se resumiu o dia de meu aniversário, ao
lado de um grande amigo e confrade e conferindo dois grandes vinhos, de safras
razoavelmente antigas. A degustação vertical nos entregou uma máxima:
degustamos grandes vinhos, vinhos que independente da safra, entregariam
grandes momentos sensoriais. E além dos grandes momentos e da atestada
qualidade, algumas peculiaridades foram sentidas, percebidas. Estávamos
preocupados em encontrar o “mais do mesmo” nos dois rótulos, tudo igual, mas
não, percebemos que mesmo sendo o mesmo rótulo, do mesmo produtor, da mesma
região, o clima, o tempo podem conspirar, em cada safra, em cada ano, de formas
distintas, nos entregando detalhes que podem ser significativos para a nossa
degustação. Que venham mais e mais rótulos do bom e especial Anciano. Tem 13%
de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Anciano:
Anciano é uma vinícola fundada a princípio no início do
século XX por Don Juan Sánchez, um fazendeiro que decidiu construir uma adega
para elaborar seu próprio vinho ao invés de vender suas uvas para outras
pessoas.
Localizada no coração de La-Mancha, a Anciano desfruta dessa
forma do solo especial de Valdepeñas para a produção dos vinhos. Valdepeñas
significa, a saber, “vale das pedras” devido ao solo especial formado por
pequenas e grandes pedras.
Estas pedras não apenas absorvem o calor do sol durante o dia
e o libera à noite, mas também permitem que o calcário do solo absorva a água
necessária para regar os vinhedos durante ao verão de calor intenso de
La-Mancha. Ou seja, o local possui as condições perfeitas para o nascimento de
grandes rótulos.
Posteriormente, a vinícola foi adquirida e hoje faz parte do
grupo Guy Anderson Wines, um grupo multinacional criado pelo enólogo Guy
Anderson.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinos Valdepeñas”: https://vinosvaldepenas.com/denominacion/
“Bardot Vinhos e Artes”: http://www.bardotvinhoseartes.com.br/2015/11/denominacion-de-origen-valdepenas.html