quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Cantanhede Selecção 2016

 

Pode parecer demasiadamente desagradável falarmos sempre da questão do valor, do valor monetário do vinho e suas implicações na qualidade do rótulo. Mas sempre que compramos um vinho, principalmente os mais baratos, o assunto vem à tona.

E o conceito de “vinho barato” também é muito relativo, diga-se de passagem. O que é caro para mim, pode ser a entrada para outros. E por ser o assunto complexo, muitos tentam evita-lo, porém, embora seja difícil falar sobre ele, podemos sim mensurar, tornar tangível o conceito de qualidade no universo do vinho.

Um produtor idôneo, que produz grandes vinhos, em todas as suas escalas de propostas, uma região proeminente, os prêmios que determinados vinhos ganham (embora não seja determinante), pode caracterizar a qualidade de um rótulo, em especial.

É claro que quando você compra um vinho na faixa dos R$ 25,00 você não pode esperar complexidade, grande estrutura, longevidade ou coisa que o valha, é preciso entender a sua escala de proposta e isso também é preponderante para a qualidade de um vinho. Afinal em todas as suas escalas de propostas o vinho pode ser especial, não precisa ser aquele mais caro ou de grande complexidade para entregar satisfação ao enófilo.

E o exemplo dessas questões levantadas é o vinho que degustei e gostei que veio de uma região portuguesa chamada Beira Atlântico, próximo a clássica Bairrada. É um vinho que encontrei na faixa dos R$ 25,00, é um vinho de uma região que gosto, que venho gostando a cada rótulo degustado, de um produtor que admiro, que respeito. É um “combo” de satisfações que faz com que se arrisque em comprar o vinho e que, ao abri-lo, você confirma as suas expectativas. O nome do vinho é o Cantanhede Seleção da safra 2016 composto pelas castas Baga (50%), Aragonez (30%) e Touriga Nacional (20%).

E não podemos falar dos vinhos dessa região sem falar da sua autóctone casta Baga e quão longeva é, mesmo que em vinhos não tão complexos. Falar de Baga é falar da Bairrada, do Beira Atlântico, é uma questão de terroir, de história. E por falar em história, vamos textualiza-los aqui, pois são dignos de merecimento.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. Joao I e de D. Joao III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

Baga

A uva Baga, conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Fina ou Tinta Poeirinha, é uma das principais uvas nativas de Portugal e capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação.

Presente em alguns dos melhores vinhos tintos portugueses, a uva Baga é conhecida pela sua complexidade e peculiaridade, dando origem a vinhos interessantes, únicos e intensos. Encontrada, sobretudo na região da Bairrada, a uva Baga produz excelentes vinhos em uma das mais prestigiadas regiões produtoras de Portugal.

Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

Luis Patto

Luís Pato foi o responsável por fazer com que a fruta desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. Produzindo grandes exemplares de tintos, finos, estruturados e complexos, a variedade é, sem dúvida, uma ótima referência de Portugal.

O cultivo da Baga é árduo e trabalhoso, demorando para que o amadurecimento ocorra. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos e necessita de uma excelente exposição ao sol durante o processo de cultivo. Entretanto, após os devidos cuidados e maturação, a Baga produz preciosos rótulos, podendo envelhecer na garrafa durante anos, garantindo complexidade e elegância para seus exemplares, além de tornar os vinhos concentrados, aromáticos e possuidores de uma coloração escura.

A casta Baga atualmente é considerada uma das maiores uvas portuguesas, com enorme complexidade, estrutura e classe, sendo muito apreciada no mundo do vinho. A casta Baga dá origem a vinhos portugueses com muita personalidade, altamente interessantes e únicos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi de média intensidade e brilhante, graças aos reflexos violáceos, com razoável proliferação de lágrimas finas e de média persistência.

No nariz prevalecem os aromas de frutas vermelhas maduras, tais como cereja, framboesa, ameixa, morango, frutas secas, bem como um discreto toque de especiarias.

Na boca tem média estrutura, sendo equilibrado, frutado e elegante, com um volume de boca pronunciado, taninos comportados, acidez na medida e um final agradável e muito sedoso.

O exemplo cabal de que vinho bom é aquele com que você se identifica, com que você gosta, fundamentado no produtor que você aprecia, na região que você gosta. E convenhamos, quando compramos um vinho de 3 ou 4 dígitos de valor, por exemplo, é neste que esperamos que sempre será ótimo e não os mais baratos, lembrando, mais uma vez, que valores são relativos. Como sempre a Adega de Cantanhede sempre entregando o melhor da Bairrada e do Beira Atlântico e graças a esse produtor, podemos degustar grandes e especiais vinhos com valores um pouco mais justos, acessíveis ao máximo possível de pessoas em um país como o nosso onde o salário mínimo infelizmente perde, a olhos vistos, o seu poder de compra. E apesar da discussão do vinho caro e vinho barato pareça ser interminável, algo não pode fugir de nossas percepções: não podemos nos esconder em uma bolha social e achar que sempre os vinhos caros são os melhores, é um desserviço a difusão da cultura do vinho. Tem 13% de teor alcoólico.

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/baga

“IVV”: https://www.ivv.gov.pt/np4/503/


Degustado em: 2019

 

 

 






sábado, 18 de dezembro de 2021

Sanjo Nobrese Cabernet Sauvignon

 

Ter boas referências sempre te dá um norte para tomar certas decisões na vida ou para construir, edificar a sua formação nas mais diversas áreas, âmbitos da vida. E penso que no universo do vinho não seja diferente. Eu explico!

Aquele produtor que você passa a gostar, aquela região cujos rótulos você se identificou, uma casta preferida etc. Enfim, é uma soma de vários fatores que vai construindo a sua percepção de vinho.

De um tempo para cá estava a procura de alguns rótulos da Serra Catarinense, da região de São Joaquim, conhecida como uma das cidades mais frias do Brasil. Me coloquei a garimpar alguns rótulos e observei que, a cada rótulo localizado, me esbarrava na impossibilidade de tê-los por conta dos altos valores.

Mas não desisti, continuei em busca de algum vinho dessa região, para conhecê-la, pois nunca havia degustado um vinho sequer dessa região brasileira. A missão era árdua, para muitos poderia ser o fim, a desistência. Mas localizei uma linha de rótulos de uma vinícola que não conhecia e que estava em um site que sempre comprei vinhos. Como que nunca tinha visto aqueles vinhos?

Era de uma Cooperativa, de uma empresa, fundada por japoneses que iniciou a sua história produzindo maçãs, isso mesmo, maçãs e que no início dos anos 2000 começou a sua produção de vinhos! Falo da Sanjo.

Por ser tratar de uma vinícola cooperativada os valores dos vinhos eram bem atrativos e logo comprei o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2010. O degustei com 11 anos de vida, amigos! São conhecidos os vinhos de altitude de São Joaquim como os mais longevos do Brasil, os amados vinhos velhos que tanto gosto. O vinho estava maravilhoso!

Continuei a investir nos vinhos desse produtor e dessa vez foi o Sanjo Núbio Sauvignon Blanc da safra 2017. Quando o comprei descobri que os vinhos dessa casta na Serra Catarinense é o carro-chefe da região, sendo considerado como um dos melhores Sauvignon Blanc produzido no Brasil. Isso me encheu de euforia para degusta-lo. E não deu outra de novo: sucesso!

Talvez seja uma sorte nas escolhas, mas eu senti a necessidade de comprar um novo rótulo desse produtor, afinal percebia que estava em terreno fértil, os rótulos dessa vinícola é bom! Dessa vez eu queria “ousar” um pouco mais e comprar um vinho mais básico, simples, de proposta mais jovem dessa vinícola.

Lembrei-me do especialista em vinhos Didu Russo, onde o mesmo disse: “A gente mede a qualidade de um produtor pelos seus vinhos de entrada”. Então não hesitei e comprei um dos vinhos mais básicos da Sanjo e prometi que logo iria abri-lo para degusta-lo.

Esse momento chegou e quando chegou tive, mais uma vez, uma surpresa arrebatadora! O vinho que degustei e gostei veio da região da Serra Catarinense, de São Joaquim, e se chama Sanjo Nobrese da casta Cabernet Sauvignon sem safra. Na realidade esse vinho é um blend de safras, que consiste na junção de algumas safras, mais um atrativo. Então, antes de entrar na descrição do vinho, falemos um pouco de São Joaquim.

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias. Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar osmunicípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Rota do Vinho (Serra Catarinense)

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, com tonalidade brilhante e vívida, com reflexos violáceos com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz conta com um exuberante aroma de frutas vermelhas e pretas maduras, onde se destacam cereja, amora, framboesa e ameixa, com as típicas notas de especiarias, um discreto toque herbáceo.

Na boca é seco, equilibrado, de corpo leve para médio, média estrutura, expressivo, com um ótimo volume de boca, frutado, com taninos macios e uma acidez equilibrada e um final longo, prolongado e frutado.

Eu vislumbrava seguir o meu caminho na degustação dos vinhos da Sanjo em todos os seus patamares de proposta e faltava um da linha mais jovem e simples para embarcar na experiência sensorial. E que experiência agradável! Um blend de castas, um vinho que desce redondo, saboroso, elegante, equilibrado, mas que demonstra alguma personalidade, enaltecendo as características genuínas da Cabernet Sauvignon. Um Cabernet Sauvignon que não traz a estrutura e a complexidade, não passa por barricas, exatamente para exaltar as propostas que o vinho deveria ostentar, porém mostra o Cabernet Sauvignon como deve ser. Um vinho extremamente versátil que pode ser apreciado sem harmonização ou acompanhado por carnes vermelhas, grelhadas, massas como pizza e macarrão ou aqueles queijos semi duros. Mais uma vez a Sanjo disse a que veio. A história continua... Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.






quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Cruz Andina Chardonnay 2017

 

Quando a gente fala de “terroir”, essa palavrinha bonita que assume um caráter modista entre os enófilos, ela meio que se perde por conta do caminho que segue e da forma como é inserida no conteúdo verbal e textual dos apreciadores da poesia líquida. Está além da questão da moda e assume um contexto de suma importância para a compreensão do vinho que degustamos.

E o rótulo que escolhi para a degustação dessa tarde de domingo aprazível e ensolarada veio de uma região chilena muito importante para o cenário vitivinícola do todo o Cone Sul: Vale de Casablanca. E uma casta nascida nas terras francesas da Borgonha e que ganhou notoriedade no Chile, sobretudo na região do Vale de Casablanca: falo da rainha das uvas brancas, o Chardonnay.

E o rótulo de hoje traz uma personalidade marcante, potência e untuosidade, sobretudo quando vem de uma região que é banhada pelo Oceano Pacífico conferindo aos vinhos dessa cepa, que se beneficiam de regiões de clima frescos. Brisas, a maresia, o clima temperado, traz boa acidez, frescor, leveza, aliada a personalidade, aos toques de frutas de polpa branca e tropicais.

Combinações maravilhosas quando se espera versatilidade de um vinho branco, frescor e leveza, mas também corpo e cremosidade. Delicadeza, mas presença de boca, um bom volume que entrega aquela “pegada”.

E a essa porta de entrada adiciona-se a madeira que traz um aporte de aromas de tosta, de untuosidade. A Chardonnay proporciona essa possibilidade, é uma das poucas castas brancas que suporta com êxito a madeira. Há tempos não degusto um Chardonnay tão gostoso e versátil como esse rótulo.

O vinho que degustei e gostei desembarcou do Vale de Casablanca, no Chile, e se chama Cruz Andina Reserva da casta Chardonnay da safra 2017. E para fundamentar, pelo menos um pouco, o conceito de “terroir”, vamos de história do Vale de Casablanca para explicar o vinho que degustamos de uma forma didática, mas aplicada, sobretudo quando derramamos o vinho em nossa taça.

Valle de Casablanca, Aconcágua

Os primeiros espanhóis no Vale de Casablanca foram os expedicionários liderados, em 1536, pelo avançado Dom Diego de Almagro. O Conquistador, em suas incursões ao longo da costa, entrou na rota Inca, que de Quillota cruzou Limache e Villa Alemana, penetrando o vale de Margamarga em direção aos campos de Orozco. De lá avistou o vale (que os nativos chamavam de Acuyo) cruzando-o para continuar até Melipilla pelo Cordón Ibacache, visitou as colônias de 'Mitimaes' de Talagante, avançou mais para o Leste e depois voltou para Quillota. Em 1540, D. Pedro de Valdivia passou com os seus anfitriões, imitando a estrada para Almagro.

O vale, localizado entre Santiago e o maior porto do Chile, Valparaíso (recentemente declarado Patrimônio da Humanidade) combina todas as condições para tornar-se essencial para todos que visitam o país. Casablanca se caracteriza por ser um vale pre-litoral, localizado na planície costeira da região, a apenas 18 km do mar e rodeado pela serra costeira.

Vale de Casablanca

A origem do nome Casablanca (Casa Branca) está no século XVI, quando foi construída uma casa de adobe caiada a oeste da cidade. Em 1755, os trabalhos preparatórios para a nova cidade prosseguiram e o seu traçado original foi delineado - de acordo com a tradicional grelha espanhola - por Dom Joseph Bañado y Gracia, juiz agrimensor do Bispado.

Quando as primeiras casas foram construídas, algumas medidas foram ditadas a fim de garantir o progresso da população. Foi nomeado um Tenente General do Partido Casablanca, dependente do prefeito de Quillota, que também recebeu ordens do Governador de Valparaíso em caso de defesa do referido porto.

Embora, no início, a população tenha crescido, a rivalidade entre José Montt e Dom Francisco de Ovalle pôs em risco o seu desenvolvimento, quando este último reivindicou os direitos sobre o terreno onde fora construída a vila, visto que os habitantes iam abandonando o terreno por entender que eles iriam perdê-los se Ovalle ganhasse o processo.

O contencioso durou toda a segunda metade do século XVIII e a situação normalizou-se quando os herdeiros dos litigantes encerraram a ação, reconhecendo o fundamento e os direitos dos seus habitantes.

Casablanca tem uma clara influência marítima, clima bem mais frio, com neblinas matinais e uma amplitude térmica de até 19 graus entre o dia e a noite, o que favorece a lenta maturação das uvas.

A temperatura media do verão é de 14,4 graus, as chuvas se concentram entre os meses de maio e outubro, com um amédia anual de 450 mm. A influência marítima que o vale recebe faz com que a temperatura média seja moderada, alcançando não mais do que 20º C durante o período vegetativo. Isso cria excelentes condições para as variedades brancas, como Sauvignon Blanc e Chardonnay, refletindo-se na frescura e no intenso aroma cítrico de seus vinhos.

Os meses com riscos de geadas são setembro e outubro, ficando bem mais seco entre novembro e abril, época do crescimento e maturação das uvas. A colheita, diferente de outros vales, acontece mais tarde, a partir de 15 de março até final de abril. Essas características climáticas trazem vinhos de qualidade superior, com muita concentração de fruta, acidez muito boa e um final brilhante.

A região é dominada pelas castas brancas, que correspondem a 75% da área plantada. Lá reina a Chardonnay, que ocupa mais de 1.800 hectares. Outras variedades importantes são a Sauvignon Blanc (mil hectares), a Merlot (430 ha) e a Pinot Noir (426 ha). Esta última, apesar de ser apenas a quarta mais plantada, forma, junto com a Chardonnay, a dupla de uvas emblemáticas da região.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo claro com tendências douradas e reflexos esverdeados muito brilhantes com lágrimas finas e abundantes.

No nariz explode em aromas de frutas brancas e cítricas, tais como maçã-verde, pera, abacaxi e limão, com notas sutis e elegantes de madeira, de tosta.

Na boca é fresco, saboroso, mas de bom volume de boca, com alguma untuosidade, cremoso, sendo de corpo leve para médio e muito, muito versátil e equilibrado. Goza de boa acidez, uma acidez equilibrada, com notas discretas de madeira, pois 15% do vinho passou 8 meses por barricas de carvalho, com um final longo, prolongado.

Um autêntico Chardonnay do Vale de Casablanca! A história, o terroir (olha a palavrinha bonita) denuncia isso de forma veemente. A assinatura de uma região personificada em seus rótulos, a fidelidade da terra, o DNA de seus traços geológicos delimitam as belíssimas características desse Cruz Andina Chardonnay. Entrega ainda uma filosofia calcada nas práticas sustentáveis, entregando vinhos singulares, com o respeito ao ambiente natural, levando à mesa de nós, felizes enófilos, não somente um belo produto, mais um produto que entrega prazer e sinônimo de saúde. Um vinho expressivo, saboroso, que entrega o Chardonnay chileno de que estamos todos habituados. Vida longa a rainha das uvas brancas! Tem 13,5% de teor alcoólico em perfeito equilíbrio com acidez, madeira e fruta.

Sobre a Vinícola Veramonte:

A vinha em Veramonte é a maior vinha contígua do Chile, já que se estende por mais de 350 hectares na área de cultivo principal do Vale do Casablanca, no Chile. Em 1990, Agustin Huneeus escolheu este local para a Vinícola Veramonte, reconhecendo então que os microclimas e solos deste belo vale são semelhantes às prestigiadas regiões vinícolas da Califórnia, Napa Valley e Carneros.

O Veramonte Vineyard Manager utiliza os mais recentes avanços na tecnologia vitícola a fim de produzir frutos da mais alta qualidade possível. Ele gerencia cuidadosamente os rendimentos, eliminando a colheita, controlando a irrigação e experimentando diferentes técnicas de poda com a finalidade de maximizar a maturidade e a maturação das uvas.

Portanto, ele limita a produção de 5 a 7 toneladas por hectare para colher uvas de alta qualidade com sabor, definição e concentração intensos.

Veramonte foi introduzido pela primeira vez em 1996 e, desde então, recebeu elogios da crítica internacional por Chardonnay, Merlot, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc e Primus, um rico e picante proprietário vermelho, misturado com Carménère (uma bela variedade de Bordeaux, agora praticamente exclusiva do Chile), e Cabernet Sauvignon.

A vinícola de Veramonte é uma instalação de fato moderna de vinificação, projetada por um dos principais arquitetos líderes do Chile, Jorge Swinburn. Inaugurada em 1998, a vinícola de 7.896 metros quadrados inclui dessa forma a mais recente tecnologia em linhas de engarrafamento, fermentadores alimentados por gravidade e tanques ultramodernos de aço inoxidável.

Assim como é projetado para vinificação em pequenos lotes, permitindo fermentação e envelhecimento separados de blocos individuais de vinha e parcelas experimentais de vinha. Quando os hóspedes entram na vinícola, são recebidos no “Casona”, uma sala, inegavelmente, de tirar o fôlego, com uma rotunda alta, tetos de 16 metros e paredes de vidro que revelam as cavernas do barril abaixo.

No momento em que a família Huneeus era pioneira no Vale do Casablanca, no Chile, em 1990, havia menos de 40 hectares plantados em videiras. Posteriormente, nos dias atuais, a propriedade Veramonte Alto de Casablanca ganhou reconhecimento mundial pela qualidade de seus vinhos.

Todas as propriedades aderem a práticas orgânicas que garantem assim as melhores condições para o desenvolvimento das vinhas e a obtenção de vinhedos sustentáveis ao longo do tempo. Solos vigorosos e equilibrados cultivam uvas de qualidade que sem dúvida alguma expressam o potencial máximo de seu terroir.

Mais informações acesse:

https://www.veramonte.cl/disclaimer

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CASABLANCA

“Portal Casablanca”: http://valle.casablanca.cl/zona/zona1.shtm 



sábado, 11 de dezembro de 2021

El Toqui Reserva Especial Cabernet Sauvignon 2020

 

Há quem diga que os vinhos da região chilena do Vale Central são ruins pelo fato de ser uma das maiores em termos de volume produzido de vinho, logo entregam rótulos de baixa qualidade. Não sou um enciclopédico em terroir ou coisa que o valha, mas não consigo falar, ou melhor, degustar vinhos chilenos sem pensar em regiões como o Vale Central.

Quem nunca degustou um chileno do Central Valley que atira a primeira taça, ou melhor, a primeira pedra. Gosto dessa região pela sua diversidade, de vinhos simples, de proposta simples, de vinhos frutados, jovens a vinhos mais estruturados e complexos. Sinto um pouco de preconceito, de uma intolerância com a região. Não nos esqueçamos de que temos, como distritos, ou micro regiões, ou ainda sub-regiões do Vale Central os emblemáticos Vale do Maipo e outra pequena região que muito aprecio, o Maule.

E o rótulo que escolhi para degustar traz uma novidade: é a primeira vez que degusto um Cabernet Sauvignon de uma jovem safra, com apenas um ano de vida. Bem isso pode parecer uma coisa banal, sem importância, sobretudo se o vinho for de proposta mais simples, de vinhos de entrada. Porém esse me parece um vinho que pode entregar alguma estrutura, um pouco mais de personalidade, fazendo jus aos Cabernets produzidos nesse pequeno, mais significativo país vitivinícola. Ah e já que falei do Maipo, a mesma é uma das grandes produtoras de Cabernet Sauvignon de todo o Chile. Pois é, acho que já é meio caminho andado.

Também terei algumas “estreias”, pois será minha primeira degustação dos vinhos das Casas del Toqui e, convenhamos, é sempre excitante degustar novos rótulos, de novos produtores e dos pequenos e “undergrounds” vinícolas, fugindo um pouco do “mainstream”, da grife dos vinhos famosos de produtores renomados.

Então sem mais delongas façamos as apresentações: o vinho que degustei e gostei, como já havia dito, vem do Vale Central, no Chile, e se chama El Toqui Reserva Especial, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2020. E, para não perder o costume, vamos às histórias que também alimenta e fomenta a celebração às degustações: Um pouco de Central Valley.

Valle Central: o centro vitivinícola do Chile

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume.

Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah.

A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes.

O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Vale Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor.

Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha.

Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária.

O Vale Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco.

A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e brilhante com reflexos arroxeados, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz é pouco aromático, mas percebem-se as notas de frutas vermelhas e negras, como amora, ameixa e cereja, com toques de baunilha, especiarias, como um discreto pimentão.

Na boca estrutura leve para média, com a fruta em evidência, as notas amadeiradas, graças aos 8 meses em barricas de carvalho, são sentidas e em equilíbrio com a acidez, bem elevada, talvez pelo curto tempo de vida do vinho e os taninos firmes, presentes, porém sedosos. Um final de média persistência.

Independente de sua safra, do tempo de vida do vinho, ele entregou o que eu verdadeiramente esperava de um Cabernet Sauvignon chileno, aquele Cabernet Sauvignon que aprendi a gostar nos tempos de outrora das minhas experiências de degustação: um vinho com alguma imponência, de marcante personalidade, vivaz, jovem e pleno, mostrando-se frutado, as especiarias protagonizando, aquele toque que gosto do pimentão, as notas amadeiradas em sinergia com a fruta. Um vinho redondinho, bem feito e muito bom pelo que valeu, entregando, inclusive, mais do que valia. Digam o que quiserem do Vale Central, mas eu nunca rejeitarei seus vinhos. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Casas del Toqui:

Com o objetivo de criar vinhos finos e de alta qualidade que expressem o verdadeiro terroir chileno, a Casas del Toqui nasceu da união de uma tradicional família de produtores do Chile e o Château Larose Trintauton, uma grande propriedade vinícola de Bordeaux, na França, em 1994.

A soma de distintas experiências com vinhedos de alta qualidade e uma adega dotada da mais alta tecnologia tornaram a empresa um destaque constante na imprensa mundial, posicionando-a como uma das bodegas mais respeitadas do Chile.

Em 2010, a Família comprou a “Estate and Winery”, logo após o terremoto que a danificou severamente, e a modernizou. Hoje, sua principal adega está localizada próxima de Totihue, Alto Cachapoal, cerca de 100 km ao sul da capital Santiago.

Mais informações acesse:

https://www.casasdeltoqui.cl/index.html

Referências:

“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente 




sábado, 4 de dezembro de 2021

Cova do Frade Reserva Touriga Nacional 2015

Quando costumo dizer, confesso, de forma demasiada, que degustar um vinho de caráter, de grande apelo regionalista é maravilhoso, eu não falo em vão. Degustar um vinho da casta que é considerada a rainha tinta de Portugal, a Touriga Nacional, já é especial, mas quando fazemos a degustação oriunda da região do Dão, torna-se, ainda mais, especial.

Por quê? Porque a Touriga Nacional é oriunda de uma pequena região do Dão chamada Nelas. Então degustar um Touriga Nacional do Dão é como se guiássemos um carro ícone, de uma marca emblemática nas terras de onde ele fora concebido. É algo muito expressivo, especial.

E mais especial ainda também quando você percebe, a olhos e rótulos vistos, que uma região, tão importante e emblemática, como o Dão, está de remodelando, crescendo, ganhando grandes contornos de modernidade, mas mantendo, com dignidade, suas tradições.

Tanta coisa boa que antecipa uma degustação que se torna um espetáculo à parte, fazendo de uma degustação uma verdadeira celebração, uma ode às tradições, ao terroir de regiões tão importante para os vinhos neste planeta como o Dão, por exemplo. E nada melhor que degustar um Touriga Nacional lusitano que mesmo impulsione o país para o mundo, traz, ao mesmo tempo, a personificação de características tão marcantes das regiões que figura em Portugal.

Sem mais delongas vamos às apresentações do rótulo que confesso transbordar de alegria em degusta-lo, pois, além dessa entrada magnífica o vinho se mostrou no auge, no ápice de seu momento. O vinho que degustei e gostei vem da região portuguesa do Dão e se chama Cova do Frade Reserva, um 100% Touriga Nacional da safra 2015. Essa será a minha segunda experiência com esse rótulo, haja vista que degustei o Cova do Frade Touriga Nacional de 2015, mas de uma linha de entrada.

E para não perder o costume vamos viajar, mesmo que pelas letras e textos, pela história do Dão, da sua casta símbolo, a Touriga Nacional, antes de trazer as análises desse belíssimo vinho.

Dão

A região vinícola do Dão, em Portugal, sempre foi um área nobre dos vinhos portugueses. Durante certo tempo, perdeu seu lugar para o Douro e Alentejo, amargando um segundo plano no mundo dos vinhos, mas está retornando com todo o orgulho que seus vinhos merecem pelas suas peculiaridades.

A região é formada por planície, com encostas suavemente onduladas, cercada de montanhas que a protegem da influência climática do Oceano Atlântico. Além das montanhas, há também muitos pinheiros na região do Dão, pinheiros que escondem os vinhedos e os protegem de intempéries.

Dão e suas videiras

Dão é nome da região e também do rio que se espalha por vertentes de suave ondulação, de cor verde e dourado por vontade do sol e onde o vinho, como nos amores antigos, nasce há muito tempo. Por exemplo, o Infante Dom Henrique levou-o nas caravelas para Ceuta, em 1415 onde com ele celebravam a vitória.

Atualmente, a Rota dos Vinhos do Dão está levando visitantes e turistas aos espaços oferecidos para apreciação da produção vinícola da região com cinco roteiros diferentes: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim; Terras de Azurara e Castendo; Terras de Besteiros; Terras de Alva e Terras de Serra da Estrela.

A Região Demarcada do Dão foi a uma das primeiras regiões oficiais produtoras de vinhos de Portugal. O retorno da fama da região do Dão vem lembrar que esta foi uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos de mesa em Portugal, sendo ela a fornecedora de vinhos para o país todo, exportando para inúmeros outros.

Sua decadência ocorreu na década de 1960, quando houve um grande aumento na produção, com o surgimento de uma rede de adegas cooperativas. A quantidade de vinho produzida com intenção apenas de venda, fez a qualidade cair. Ao mesmo tempo, e aproveitando a baixa qualidade na época, as áreas do Alentejo e do Douro passaram a melhorar sua própria produção, mantendo a qualidade e atraindo a atenção dos enólogos e dos consumidores de bons vinhos portugueses.

Situada no centro de Portugal, na província de Beira Alta, a Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908, tornando-se a uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos não licorosos da Península Ibérica.

Pela qualidade dos seus vinhos, a região do Dão é conhecida como a Borgonha Portuguesa. Os vinhos produzidos no Dão são gastronômicos, com excepcional acidez, trazendo aromas complexos e delicados. Esse caráter de complexidade, elegância, maturidade e equilíbrio, com excelente potencial de amadurecimento, de forma nobre e harmoniosa, criaram a combinação perfeita com a gastronomia local, atraindo a atenção dos apreciadores de vinho do mundo todo.

A Região Demarcada do Dão possui 376 mil hectares, dos quais 20 mil hectares são destinados exclusivamente às vinhas, abrigando vários distritos, como Coimbra, onde se localizam Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua; Guarda, onde estão Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; e Viseu, onde se concentram Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penavaldo, Castela, Santa Comba Dão e Sátão.

Dão

A Região Demarcada do Dão é caracterizada por um relevo acidentado, com solo predominantemente granítico e possuindo terroir e clima propícios para a produção de boas uvas, principalmente devido à sua larga amplitude térmica. Entre suas castas, as uvas colhidas na Região Demarcada do Dão apresentam alguns destaques, como por exemplo, a Touriga Nacional, a casta mais nobre da região, produzindo vinhos com bom teor alcoólico, trazendo aromas intensos, encorpados, com taninos nobres e propícios ao envelhecimento mais longo, tornando o paladar ainda melhor depois de maturados.

A Alfrocheiro Preto é outra das castas nobres, conferindo aos vinhos aromas finos, ganhando complexidade ao longo dos anos em que amadurece, e a Jaen, com teor alcoólico regular, mas com aromas intensos de fruta madura, taninos de grande maciez e de altíssima qualidade.

Entre as castas brancas, a mais nobre e a Encruzado, com bom teor alcoólico, trazendo aromas complexos, frescos e relativamente secos.

DOC Dão

O Dão é o berço da Touriga Nacional, famosa uva de Portugal e uma das principais componentes do vinho do Porto. De tão marcante que é, os vinhos da região demarcada devem ter, segundo a regulamentação vigente, no mínimo, 20% de Touriga Nacional em sua composição. Mas além da Touriga Nacional, que é a mais nobre, outras variedades são cultivadas, tanto tintas quanto brancas.

As tintas

Alfrocheiro: segundo especialistas, essa variedade contribui para o equilíbrio entre a acidez e a doçura do vinho dão.

Aragonês: também conhecida como Tinta Roriz, essa cepa confere potencial de guarda ao vinho (uma das principais características do vinho do Dão), além de dar equilíbrio entre corpo e a acidez.

Jaen: essa variedade é geralmente usada para trazer aromas para o vinho, pois tem um perfume intenso e, ao mesmo tempo, delicado.

As brancas

Encruzado: é a casta branca mais valorizada da região, que produz vinhos frescos e que, apesar disso, tem potencial para envelhecimento.

Malvasia fina: outra casta branca cultiva na região, de aromas simples.

Touriga Nacional: a rainha tinta portuguesa

Sua baixa produtividade natural quase lhe custou a sobrevivência no território quando uma praga chamada filoxera arrasou com as plantações europeias em meados do século XIX. Nesse momento, muitos produtores portugueses decidiram replantar seus vinhedos com variedades que produzissem mais. Felizmente para a vitivinicultura mundial, a Touriga Nacional sobreviveu em regiões como o Douro e o Dão e, em tempos de moderna vitivinicultura, já na segunda metade do século XX, ganhou novo vigor, com os enólogos e agrônomos tendo maior entendimento de suas características e trabalhando para, pouco a pouco, melhorar sua produtividade sem descaracterizá-la.

Uma das referências mais antigas à Touriga Nacional está no livro “O Portugal Vinícola”, lançado no século XIX pelo renomado agrônomo português Cincinnato da Costa, onde ele diz que nos anos de 1800, quase todos os vinhedos do Dão eram plantado com esta variedade, a porcentagem chegava a 90% do total das terras plantadas.

Suas qualidades, no entanto, só foram ser reconhecidas nacional e internacionalmente há pouco tempo. Por ser uma uva nobre, e, portanto, de produção reduzida, até 1980 ela era preterida por outras castas portuguesas de maior produção. Só quando os consumidores e produtores de vinho em Portugal começaram a exigir uma produção de qualidade superior em vez da primazia da quantidade em larga escala é que a Touriga ganhou novo status.

A Touriga Nacional também é conhecida como Tourigo, Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Preto de Mortágua é o nome de uma pequena e antiga vila na zona do Dão. Isso combinado com o fato de outro vilarejo da região ser chamado de Tourigo reforça a ideia de que essa casta existe por lá há muitos séculos.

O que os cientistas são capazes de comprovar com maior facilidade é que dela são derivadas as variedades conhecidas como Touriga Fina e Touriga Macho. No entanto, seu parentesco com a Touriga Franca (conhecida como Touriga Francesa até a virada deste século) é impreciso. Não se sabe se a Franca é uma subvariedade (ou mutação) da Nacional ou uma combinação da Nacional com outra uva.

Os cachos da Touriga Nacional são delicados e compactos. Seus bagos são pequenos, com formato arredondado, bem definido e coloração negro azulada. Sua pele tem boa espessura, o que ajuda na obtenção de cores intensas. Sua polpa é rígida e suculenta. Seu aroma é profundo, variando entre o floral e o frutado, mas característico, e inconfundivelmente nobre. Assim, em poucas palavras, podem-se definir os aspectos físicos da nobre uva portuguesa.

Apesar de fértil, ou seja, se adapta bem a diversos terrenos, a Touriga tem baixa produtividade devido ao seu caráter de elevado vigor fisiológico. Seu cultivo exige cuidados especiais, já que sua maturação é intermediaria; virtudes como rusticidade e forte resistência a pragas, entretanto, fazem dela uma casta especial.

A Touriga Nacional é versátil e produz vinhos diversos, mas sempre elegantes. Bom teor alcoólico, ótima concentração de cor, elevada complexidade, taninos finos, sabores intensos, volume, equilíbrio e aromas florais distintos são características comuns a vinhos elaborados com esta cepa.

Espumantes, tintos secos finos, vinhos licorosos – são variados os gêneros da bebida dos deuses que essa uva é capaz de resultar. O potencial de guarda das bebidas produzidas com a uva símbolo de Portugal é excelente, elas evoluem em garrafa com bastante desenvoltura. O estágio em madeira de carvalho, por outro lado, lhe dá mais qualidades aromáticas e melhora sua estrutura, além de arredondar seus taninos com maior velocidade, o que torna a bebida pronta para consumo em pouco tempo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, escuro, fechado, caudaloso, denunciando uma personalidade marcante, além de lágrimas finas e espessas que desenham as bordas do copo.

No nariz a explosão de aromas de frutas negras, maduras, tais como ameixa, amora, cereja negra, em perfeita sinergia com o toque amadeirado e de baunilha, trazendo a sensação de um vinho opulento, carnudo.

Na boca as notas frutadas mostram a sua relevância, com as notas amadeiradas, de café torrado, torrefação mesmo e chocolate, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho, além de terra molhada. Tem estrutura média, um vinho cheio, de grande volume de boca, com taninos firmes, presentes, porém domados pelos 6 anos de safra, com acidez instigante e um final longo, persistente.

Tudo conspirou a favor desse belíssimo Cova do Frade Reserva Touriga Nacional! Tudo! A história, as tradições, tudo temperou com prazer e celebração a degustação a parte que culmina, o cume da alegria. É a prova cabal de que não é apenas a degustação, o que já é mágico, mas tudo que circunda esse momento, como costumo dizer: degustamos história, degustamos o abnegado trabalho que antecede o engarrafamento desta poesia líquida. É isso mesmo! Uma poesia líquida que nos inspira, que acalenta o corpo e a alma. Não se é feliz o tempo todo, mas quando se tem ao lado uma garrafa de vinho estamos e ficamos sim, felizes. Um vinho expressivo, mas macio pelo tempo, um paladar distinto e marcante que poucas castas entregam como a rainha Touriga Nacional e que ostenta alguns prêmios. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Ferreira Malaquias:

A Ferreira Malaquias, foi fundada em 1896, é uma empresa familiar, e está presente no negócio do vinho a quatro gerações, e sempre soube ao longo da sua história renovar o seu compromisso e dedicação, através de uma visão de longo prazo.

Fundada por José Ferreira Malaquias em 1896, já no final do século XIX se afirmava como um comerciante e exportador de vinhos de sucesso, com a sua atividade de comercialização de vinhos de lote da região do Dão.

Num passado recente a Ferreira Malaquias, cumpriu um vasto plano de investimento, com a visão de apresentar ao mercado, nacional e exportação, vinhos de qualidade e  caráter, com diferentes estilos e absoluto respeito pelo “terroir” de origem.

Hoje têm no seu portfólio, as mais reconhecidas regiões vitivinícolas de Portugal - Vinhos Verdes (Minho), Douro, Alentejo e Tejo, e continuando a sua histórica ligação, que vem desde a sua fundação, aos vinhos da região do Dão.

O ano de 2013, fica marcado pelo reforço de investimento na enologia, com a entrada de um prestigiado grupo de enólogos, que veio revolucionar com conhecimento, detalhe e tecnologia, todos os vinhos da Ferreira Malaquias, expressão maior de toda a arte de construir os melhores blends e revelar a personalidade de cada região.

Acrescentar diferencial na qualidade em todas as suas marcas, tem sido confirmado, de forma sistemática, pelo reconhecimento do mercado interno e exportação, e atribuição de múltiplos prémios a nível internacional.

Mais informações acesse:

https://ferreiramalaquias.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/touriga-nacional-a-nobre-uva-portuguesa/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/touriga-nacional-o-tesouro-nacional-portugues_11850.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/regiao-do-dao-portugal/

“Clube Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/caraterizacao-da-regiao-do-dao-2/

“Winer”: http://www.winer.com.br/vinho-dao/