Mais uma degustação especial! E digo que essa degustação
especial não se configura por ser um rótulo emblemático, caro ou de uma safra
antiga e especial, nada disso! É especial pelo simples fato de ser especial
para mim. Sim! É isso mesmo! Especial porque o considero como especial. Se for
especial para você que está degustando, então considere assim e não por
questões inerentes a valores e moda de rótulo.
Começo por ser um produtor que aprecio muito, que aprendi a
gostar com algumas degustações surpreendentes, maravilhosas mesmo e com valores
muito competitivos e o rótulo de hoje foi especial também, um valor
extremamente bom para o meu bolso, muito acessível.
E segue com a casta! Pouco conhecida por aqui no Brasil, mas
muito conhecida na Espanha, mais precisamente em uma região que está atingindo
certa notoriedade, ganhando relativa credibilidade, inclusive, chamada
Utiel-Requena. Então para quem curte ou conhece a região não preciso dizer que
a casta emblemática por lá é a Bobal.
Essa será a minha segunda experiência com a Bobal. Já havia
degustado o Bobal de SanJuan da safra 2016 e mais do que aprovei. Um vinho
expressivo, frutado, macio, encorpado.
Lá em Utiel-Requena a Bobal reina absoluta tendo a arrasa
quarteirão Tempranillo como protagonista também. Mas é muito gratificante
degustar um Bobal de Utiel-Requena, pois traz fortemente o conceito de terroir,
de tipicidade, a expressão de regionalismo de uma região que foge dos
conhecidos e manjados Rioja e Ribera del Duero, degusta uma casta pouco
conhecida, de um produtor que curtimos e ainda uma região em franco
crescimento.
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio da região espanhola de Utiel-Requena e se chama DNA
Murviedro Bobal (100%) da casta 2018. Para não fugir das tradições das resenhas
vamos falar da história de Utiel-Requena e da sua casta principal: a Bobal.
Utiel-Requena
A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do
mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se
de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos
exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez
fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos
de Rueda, entre outros.
É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está
dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do
grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem
manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras,
porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas
cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo
produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.
Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que
comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região
de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las
Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região.
Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de
vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm
sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a
partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península
Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI.
Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem
grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de
fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238,
a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após
conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a
rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos,
e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal),
constitui-se o Reino da Espanha.
Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.
Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a
população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo;
reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel
(absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região,
assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da
Primeira Guerra Carlista.
Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território
espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição
entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos
localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui
um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e
quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios,
com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10
graus).
No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e
oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio
que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor
escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma
DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida)
pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação
ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.
Bobal
As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa
de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior
da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação
de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades,
chegando seu cultivo ser quase que majoritário.
A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela
nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na
Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol,
benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera,
requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina
Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm
com a cabeça de um touro.
É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e
cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores
de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem
compactados e pesados.
Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes
tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com
muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados
destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos,
vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.
Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda
ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma
elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como
presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos
motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola,
principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu
respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao
mercado interno e externo.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, brilhantes e com
reflexos violáceos com uma profusão de lágrimas finas e que desenham o bojo.
No nariz traz alguma complexidade, com notas intensas de
frutas vermelhas maduras onde se destacam cerejas, ameixas e framboesa, além de
um toque floral envolvente e que entrega um frescor.
Na boca é saboroso, seco, tem médio corpo, porém macio,
equilibrado e fácil de degustar, com o protagonismo da fruta como no aspecto
violáceo, tem volume de boca, alcoólico, mas que não incomoda, sendo bem
integrado ao conjunto do vinho, tem taninos presentes, mas domados, uma
picância instigante, uma boa acidez e toque inusitado de chocolate meio amargo, apesar de não passar por barricas de carvalho. Tem final prolongado.
DNA traz identidade, origem, características! E é assim com o
DNA Murviedro e a todos os rótulos dessa linha da Murviedro: vinhos de
expressividade, que elevam o conceito de terroir e é assim também quando
falamos de Utiel-Requena e a sua emblemática Bobal. E, além da minha segunda
experiência com a Bobal, também foi a minha segunda experiência com a linha
“DNA” da Murviedro com o DNA Murviedro Gran Astro Tempranillo Crianza 2015. O
DNA Murviedro Bobal traz corpo, personalidade, mas maciez, um aveludado que é
entregue graças as notas frutadas, com taninos domados e acidez agradável. Um
vinho oriundo de vinhas velhas de baixo rendimento o que corrobora, reforça as
suas características. Um belo vinhos simples e especial. Tem 13% de teor
alcoólico.
Sobre a Bodega Murviedro:
Bodegas Murviedro foi fundada em Valência em 1927, a
princípio como filial espanhola do Grupo Swiss Schenk, que cresceu e se tornou
uma das vinícolas mais importantes da região.
A Schenk España decide então, em 1931, concentrar as suas
atividades na adega de Valência, o que, localizado junto ao porto, significou o
início de um dos principais pilares da marca: a exportação.
Posteriormente, já em 2002, a empresa aproveita ao máximo as
comemorações do 75º aniversário ao mudar seu nome para ‘Bodegas Murviedro’ em
homenagem ao seu vinho Cavas Murviedro, uma das marcas de vinho mais
emblemáticas da Comunidade Valenciana, o que fez de Murviedro uma das vinícolas
mais renomadas.
A vinícola, desde que começou as suas atividade, sempre teve
acesso a uma ampla variedade de castas indígenas e internacionais e produzem um
amplo portfólio de estilos de vinho.
A filosofia da empresa baseia-se na combinação de modernas
técnicas de vinificação com uvas de vinhas tradicionais para atender aos mais
altos padrões internacionais de qualidade, mantendo seu caráter espanhol assim
como a originalidade.
Mais informações acesse:
Referências:
Site “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/
Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html