sábado, 21 de maio de 2022

QXT Petit Verdot 2014

 

Mais um vinho da série “gratas novidades sensoriais”. Mas confesso que o rótulo de hoje não vem “trajado” de grandes novidades, pelo menos não inteiramente! O vinho de hoje carrega uma casta oriunda da França, mas que encontrou em terras espanholas o seu bom cultivo.

Falo da Petit Verdot! A Petit Verdot não é uma casta muito usual de se encontrar por aí, porém alguns produtores, sobretudo em terroirs fora da França, estão se aventurando no cultivo da mesma, inclusive no “formato” varietal, o que faz dela atraente, especial para garimpo e, consequentemente, degustação.

E o terroir que falo em especial é o de Castilla La Mancha! Mas as novidades existem sim, por que não? Esse Petit Verdot de La Mancha traz personalidade, complexidade aromática e estrutura marcante, mas aquela elegância típica de um vinho com seus 8 anos de vida! Claro, um vinho que estagiou em barricas de carvalho, não poderia esperar outra coisa. Essa é a primeira novidade.

A segunda é a região! Meu primeiro Petit Verdot de Castilla La Mancha, uma região que, a cada dia, a cada rótulo, vem me ganhando, me surpreendendo positivamente, pelos seus vinhos, pelo menos até agora, de marcante personalidade e estilo. O caminho tem sido satisfatório e quem agradece são as experiências sensoriais.

Eu quando o adquiri lembrei de um Petit Verdot que degustei, há algum tempo atrás, da região de Valência de um produtor que muito aprecio chamado Murviedro Colleción Petit Verdot 2015, mas com uma proposta mais direta, mais frutada e muito bom!

Então vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Castilla La Mancha, na Espanha, e se chama QXT Petit Verdot (100%) da safra 2014. E quando o comprei, lembro-me bem, a intenção, dada a história e características da cepa, era guardar para apreciar um vinho mais redondo, macio e rico em complexidades. E foi exatamente o que achei, o que percebi. Um senhor vinho!

Mas não quero detalhar, pelo menos ainda, as impressões do vinho e adentrar de fundo na história da Petit Verdot e também da emblemática região de Castilla La Mancha para também tentarmos entender o que o vinho pode nos proporcionar.

Petit Verdot

A Petit Verdot é originária da maior região produtora francesa, Bordeaux, sendo cultivada desde o período romano. Curiosamente, esta região é bastante desafiadora para o cultivo da Petit Verdot, pois a uva em questão possui um ciclo de maturação tardio, ou seja, necessita de maior insolação no final do ciclo para que seja colhida no ponto ideal. A grande questão é que em safras mais chuvosas e não muito quentes, a tendência é que os vinhos de Petit Verdot sejam mais agressivos, contudo, em safras adequadas o contexto muda e grandes vinhos são originados.

Por outro lado, a uva se deu muito bem em países mais quentes e secos, como Argentina, Chile, Estados Unidos (Califórnia), Itália (Sul), África do Sul e a Espanha, que elaboram vinhos excelentes devido às condições climáticas.

Na Sicília, ilha localizada ao sul da Itália, por exemplo, a casta é responsável por vinhos tintos surpreendentes. A maior parte dos vinhedos está localizada perto do vulcão Etna, proporcionando condições favoráveis para o cultivo da, muitas vezes incompreendida, Petit Verdot.

A casta Petit Verdot também pode aparecer em vinhos varietais, principalmente australianos e espanhóis da região de Jumilla, originando tintos intensos e vigorosos. Quando jovens, os vinhos tintos revelam aromas de bananas e madeira, e quando amadurecem, apresentam toques animais.

O nome Petit Verdot (Pequeno Verde) foi atribuído a casta por conta do pequeno tamanho de seu cacho e por existir em seus bagos frutos de cor escura e outros com tom esverdeado, graças a uma característica bastante predominante da cepa, o amadurecimento tardio. Sendo uma das castas com maior presença de flavonoides, a uva bordalesa Petit Verdot é uma das que mais trazem benefícios a saúde, contribuindo para o retardamento do envelhecimento e reduzindo os danos causados pelos radicais livres.

Uma de suas características mais marcantes é a alta produtividade, fazendo com que o viticultor tenha mais atenção para não sobrecarregar a planta e inviabilizar a maturação dos frutos. A Petit Verdot é muito particular! Sua casca grossa fornece uma coloração intensa à bebida, além da marcante presença dos taninos e da acidez acentuada, conferindo certo frescor e longevidade aos produtos.

Em relação ao perfil aromático, as notas de frutas negras maduras são predominantes, sendo acompanhadas dos delicados aromas florais. Além disso, outras nuances podem ser percebidas, como azeitonas, pimenta-do-reino e especiarias doces, como cravo-da-índia e noz-moscada.

Quando o trabalho no vinhedo é bem feito, respeitando as singularidades da cepa e o enólogo sabe domar os taninos através de técnicas de vinificação, os vinhos varietais, por exemplo, podem ser muito agradáveis. Se aliado a isso o terroir em que as vinhas são cultivadas for mais quente no verão todo o processo se tornará simplificado, possibilitando que a Petit Verdot seja a grande protagonista.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento.

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha


Sub-regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, escuro, brilhante, com entornos arroxeados, com a concentração de lágrimas finas e em intensidade que marcam o bojo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas e frutas negras, principalmente, bem maduras, com as notas amadeiradas bem evidentes, graças aos 12 meses de passagem por barrica de carvalho, percebendo um defumado, couro, tabaco, especiarias doces (cravo), terra molhada, fumaça.

Na boca é intenso, estruturado, seco, cheio, carnudo, mas macio e elegante, fácil de degustar, devido aos seus oito anos de vida e o tempo de passagem em barricas, as frutas negras e vermelhas são notadas como no aspecto olfativo, com taninos marcados, presentes, mas redondos, com uma acidez média, além de toques generosos de baunilha, chocolate, torrefação e café. Tem álcool bem integrado e um final persistente, de retrogosto frutado.           

O QXT Petit Verdot definitivamente traz toda a aura do velho cavaleiro Dom Quixote, tanto que carrega em seu nome, em seu rótulo, o nome do cavalheiro errante. Um vinho com estrutura, persistente, de grande personalidade, mas que, devido aos seus oito anos de vida, entregam maciez, elegância com taninos comportados, embora presente, uma acidez correta. Um vinho cheio de vida, ainda pleno, com frutas negras no paladar e no aroma. Vinho para a vida! Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Pago Casa del Blanco:

Pago Casa del Blanco é uma vinícola de propriedade familiar, com mais de 150 anos de história e uma tradição vitivinícola, embora breve, mas intensamente ativa, que em 2010 conseguiu alcançar a mais alta categoria na classificação de vinhos: a Denominação de Origem Protegida Pago Casa del Blanco.

A certificação “Vinos de Pago” exige um esforço considerável e conformidade com alguns regulamentos de qualidade muito rigorosos, mas ratifica e garante a singularidade e a personalidade dos vinhos originários e produzidos em um terroir único e exclusivo. Os 150 hectares de vinhedos próprios estão localizados na área municipal de Manzanares (Ciudad Real) e desfrutam de um microclima e dos benefícios de um solo muito específico, assim como uma característica incomum: uma concentração de lítio, um oligoelemento com propriedades que melhorar o sistema imunológico, mais do que o normal, que é transferido para os vinhos.

Assim sendo, a equipe do Pago Casa Blanco é composta por vários profissionais e familiares, incluindo Antonio Merino como enólogo, e é chefiada por Joaquín Sánchez. Mostrando dessa forma um grande respeito ao meio ambiente, cultivam as variedades brancas Sauvignon Blanc, Chardonnay, Moscatel de Grano Menudo (Muscat Blanc à Petits Grains) e Airén; e os vermelhos, Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Petit Verdot, Malbec, Cabernet Franc e Garnacha.

A vinícola, enfim, de design e construção próprios e completamente integrados ao ambiente natural, foi equipada com a mais moderna tecnologia que combina perfeitamente com a tradição e, após um paciente e repouso prolongado, os vinhos são produzidos sob a denominação de suas três marcas: Quixote e Lítio para tintos e Castillo de Pilas Bonas para brancos.

Mais informações acesse:

http://pagocasadelblanco.com/index_es.htm

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/petit-verdot

Blog “Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/petit-verdot-conheca-as-particularidades-desta-casta-francesa/







sexta-feira, 20 de maio de 2022

Pinta Negra branco Arinto e Fernão Pires 2019

 

Sempre deixei claro, até de forma entusiasmada que, para alguns pode parecer demasiado, das minhas predileções pelos vinhos da região lusitana de Lisboa. Por isso não vou tecer maiores comentários sobre isso, para não soar repetitivo, redundante, mas não posso negligenciar o meu apreço também pelos vinhos de um produtor que, embora novo, vem trazendo, oferecendo, grandes rótulos: AdegaMãe!

Talvez a AdegaMãe tenha potencializado a minha predileção pelos lisboetas, sobretudo pelos vinhos que degustei e gostei dessa vinícola. São capazes de entregar rótulos dos mais expressivos e complexos e básicos com um detalhe que julgo ser preponderante: personalidade e tipicidade. Tradição com traços contemporâneos, de vinhos que agradam a paladares de alta litragem e as novas inserções neste universo.

Eu os conheci em um programa de televisão direcionado ao mundo do vinho que passava no Canal Globosat, do Grupo Globo, chamado “Um Brinde ao Vinho”, em uma temporada que dedicou aos vinhos portugueses e suas mais importantes regiões e claro, Lisboa estava na rota de visita.

E quando o episódio foi exibido eu já apreciava os lisboetas, mas conhecer alguns produtores fora como uma revelação e a AdegaMãe estava no rol das comentadas. E quando a apresentadora Cecília Aldaz mostrou alguns dos seus rótulos e, por um relance, mostrou um rótulo que havia degustado há muito tempo atrás e que tinha caído no esquecimento, mas ainda assim tinha um lampejo de lembrança foi a faísca de estímulo de que precisava para conhecer ainda mais os rótulos desse produtor.

Animado por conhecer um pouco mais do rótulo que havia degustar a tempos atrás, fui, o mais rápido possível, aos supermercados em busca do vinho. Coloquei como prioridade achá-lo e degustá-lo novamente. Esse vinho era o Pinta Negra tinto 2016. Fantástico vinho!

Mas eu não queria parar por aqui. E, mais uma vez por acaso, eu andando pelas ruas encontro no chão um mero encarte de supermercado. Bem poderia ser mais um desses encartes quando, ao olhar mais atentamente, vi um rótulo de vinho sendo ofertado que me era familiar. Sim! Era o Pinta Negra branco, que eu, até então, nunca tinha visto em lugar algum, a um preço ótimo: R$ 29,90!

Não hesitei e logo fui ao supermercado e comprei! Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei que veio de Lisboa, Portugal, que se chama, claro, Pinta Negra branco com um blend, típico e irresistível de Portugal, das castas Arinto e Fernão Pires da safra 2019. Então antes de falar do vinho vamos às histórias de Lisboa que vale, sem dúvida, um texto à altura.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo palha, límpido, brilhante, com reflexos esverdeados, com a discreta aparição de finas lágrimas que logo se dissipam.

No nariz explodem os aromas frutados, de frutas brancas, tropicais, cítricas, tudo muito bem equilibrado, onde se destacam maçã-verde, melão, pêssego, abacaxi, lima, além de um delicado toque floral que denuncia muito frescor e leveza ao vinho.

Na boca é levemente seco, com um agradável amargor, mineral, as notas frutadas se reproduzem, como no aspecto olfativo, com um bom volume de boca, que faz do vinho, de leve a média estrutura, com uma incrível acidez certamente conferida pela percentual da Arinto, com um final longo, prolongado, fresco e refrescante.

O passado revisitou o presente e ajudou a construir um futuro na minha vida de enófilo e me fez observar e entender que, além do maravilhoso exercício da análise sensorial, a história do vinho, como seu terroir, sua história, sua região, pode ser sim, sem sombra de dúvida, um aditivo para a construção de sua percepção perante o rótulo. Pinta Negra é um vinho básico, para o dia a dia, mas que entrega muito além da sua proposta, definitivamente uma grata surpresa. Os vinhedos do Pinta Negra branco são oriundos de uma região chamada Torres Vedras que é tida como uma das maiores regiões produtoras de vinho em Portugal. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves.

Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante.

A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional.

Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/

Vídeo institucional AdegaMãe:

https://www.youtube.com/watch?v=P64IP8hnR6w 

Referências:

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

“Câmara Municipal Torres Vedras”: http://www.cm-tvedras.pt/turismo/gastronomia/vinhos-2/

 

 

 

 

 











sábado, 14 de maio de 2022

Colnem Costières de Nîmes Syrah e Grenache 2017

 

Mais uma noite de degustação inundada por grandes e especiais novidades! Essas viagens que aliam novas experiências sensoriais e história de fato vêm gerando grandes harmonizações. E dessa vez tantas novidades e euforia veio da França, mais precisamente do Sul da França.

Essa região francesa tem me agradado e muito e não somente pela qualidade dos vinhos que são inquestionáveis, mas pelo custo mais do que atraente aos bolsos: o famoso custo X benefício!

Vinhos maravilhosos e que são capazes de derrubar alguns tabus importantes que vem reinando, até hoje, aqueles discursos de que degustar rótulos franceses excelentes tem de ser os caros, com valores altos. É claro que há as propostas e precisamos identifica-las, entende-las, mas defini-las como “bom” e “ruim” é no mínimo imprudente.

E o vinho de hoje vem de uma região extremamente famosa e tradicional e que poucos rótulos degustei. Lembro-me de ter degustado um rótulo há tanto tempo que já não me recordo de seus detalhes. Era preciso degustar um vinho do Vale do Rhône! Já passou da hora de tê-los em minha “litragem”.

Mas o melhor de degustar um vinho do Rhône é degustar de regiões específicas, de sub-regiões que traz a tipicidade, as nuances mais características de terroirs especiais com um forte apelo regionalista. E além de trazer o Vale do Rhône depois de alguns anos, vem junto a novidade de uma micro região que não conhecia chamada Costières de Nîmes.

E com esse turbilhão de novidades apresento o vinho que degustei e gostei que veio do Vale do Rhône, de Costières de Nîmes, na França, chamado Colnem composto pelas castas Syrah (60%) e Grenache (40%) da safra 2017. E para coroar essas novidades ainda temos o blend, o famoso blend do Sul da França, do Vale do Rhône que traz Syrah, Grenache e geralmente vem a Mourvèdre, conhecida pela sigla “GSM” que também será a minha primeira experiência. Então antes de falar do vinho vamos contar um pouco a história do Vale do Rhône e Costières de Nîmes.

Vale do Rhône

O Vale do Rhône é considerado o elo entre o clima continental e o mediterrâneo, entre as famosas regiões de Borgonha e Provence. Junto com a especificidade do clima, tem também a junção de diferentes solos. Esse conjunto permite que os produtores juntem tradição e originalidade, obtendo vinhos notáveis.

O Rhône está situado no sudeste da França. A região começa logo depois de Beaujolais, um pouco abaixo da famosa Lyon, um grande centro gastronômico do país, e os vinhedos estão situados entre os paralelos 44 e 45 norte. A produção aqui é majoritariamente de vinhos tintos, que representam 86% do total.

A região tem esse nome, pois é literalmente um vale em torno do rio Rhône, que nasce das águas do glaciário derretido no alto dos Alpes Suíços e corre em direção ao Mar Mediterrâneo. O rio desce 1.800m em uma extensão de 813 km e tem um efeito moderador sobre a temperatura da região, ajudando a suavizar as variações térmicas e diminuindo o risco de geadas durante a primavera (já que geadas nessa época podem matar os brotos de uva).

Vale do Rhône

O Rhône Norte

São cerca de 3.240 hectares de vinhedos, sendo que a maioria dos vinhos do Norte provém de denominações classificadas como Cru. Apenas 5% da produção de todo o Rhône sai daqui.

A região tem solo granítico, o que significa riqueza em granito e outros minerais, garantindo certa influência na acidez das uvas, além de maior concentração de luz solar durante o seu crescimento. Uma curiosidade da região é o lugar onde as videiras estão plantadas, perto do rio Rhône e nas encostas ou vales laterais, que proporciona melhor exposição solar apesar do vento Mistral (um vento muito forte que vem do norte), resultando em poucas uvas de altíssima qualidade. Isso acontece porque quando as condições climáticas não são favoráveis, a videira tenta se reproduzir da melhor forma possível. No entanto, devido ao declive e ao solo, é necessário que a colheita das uvas seja realizada de forma manual.

Todas essas condições tornam o norte ideal para o cultivo da casta Syrah, a única variedade tinta autorizada no norte do Rhône. No caso das uvas brancas, temos 3 variedades autorizadas: Viognier, Marsanne e Roussanne. Em algumas denominações essas uvas podem ser utilizadas para elaborar vinhos brancos e, em outras, é permitida a adição de uma pequena porcentagem de Viognier no vinho tinto como forma de aportar aromas e auxiliar na fixação de cor.

Os vinhos tintos da região são secos e bastante tânicos. Tendem a ter cor profunda e apresentar aromas que lembram frutas negras, pimenta preta e flores como violetas. Normalmente são vinhos feitos para envelhecer, e com o passar do tempo adquirem aromas de caça e couro. A maioria dos vinhos brancos da região são feitos no estilo seco também.

O Rhône Sul

O sul começa na cidade de Montélimar e vai até Nîmes. Nessa parte, o Vale começa a alargar e o terreno fica bem mais plano quando comparado ao norte. Os vinhedos começam a se estender para longe do rio também, até cerca de 80km.

Onde se localiza 95% da produção de vinhos do Vale do Rhône, apresenta clima mediterrânico (altas temperaturas e pouca pluviosidade no verão e outono) com influência excessiva do vento Mistral. Em decorrência disso, a plantação é em cortinas de abrigo, que consiste em uma proteção com redes nas videiras contra o vento que vem do norte e arranca a planta da terra. Já o solo é majoritariamente plano e expõe enorme variedade em composição, o que torna possível os cortes complexos presentes na região, com vinhos de mais de treze castas na composição. Uma das mais famosas denominações de origem da região é Châteauneuf-du-Pape.

As videiras costumam ser plantadas sem nenhuma forma de sustentação e são podadas para ficarem baixinhas, próximas ao chão. Isso as ajuda a resistir à força dos ventos Mistral. Essas videiras também precisam que a colheita seja manual, já que a pouca distância do chão não permite o uso de máquinas. Outro fator é que as videiras são mais espaçadas para que não haja competição por água entre as raízes de cada videira.

A uva mais cultivada é a Grenache, pois precisa de muito calor e é resistente a seca e ventos fortes. O vinho produzido por essa casta apresenta sabores condensados de frutas vermelhas, com alta maturação de açúcar e teor alcoólico. A Syrah é comum em vinhedos mais frescos, dá mais força aos taninos e à cor, quando combinada à Mourvèdre.

Mesmo que pequena, também há produção de vinhos brancos no sul do Rhône, cujos melhores se destacam pela textura rica e encorpada, acidez média e alto teor alcoólico, sempre com muito aroma. As principais uvas são Clairette, Bourboulenc e Grenache Blanc.

Denominações de Origem do Rhône

A maioria dos vinhos produzidos no Vale do Rhône são feitos sob a denominação regional de Côtes du Rhône, que abrange tanto as sub-regiões do Norte como do Sul, entretanto, praticamente todo o vinho com essa classificação provém da parte Sul. Isso se deve ao fato de que a maioria dos vinhedos do Norte encontra-se em localizações de prestígio que podem ser denominadas como Crus (um nível de produção com regras mais rígidas). Os rótulos Côtes du Rhône podem ser feitos como tinto, branco ou rosé; também podem ser varietais ou corte entre uvas.

Dentro de Côtes du Rhône temos alguns villages, que são sub-regiões ainda menores. Para poder colocar o nome do Village no rótulo, 100% das uvas devem ser originárias dessa parcela específica. Atualmente, apenas 20 vilarejos são autorizados a colocar o nome no rótulo. Para, além disso, há que se seguir regras de produção mais rígidas e vinhedos com menores rendimentos. Os villages também podem ser tintos, brancos ou rosés; mas, por lei, os vinhos devem ser elaborados a partir de uma mistura de pelo menos 2 uvas, sendo a Grenache a principal tinta.

No topo da hierarquia, com regras muito mais restritas no que diz respeito a plantio e vinificação, estão as denominações classificadas como Cru. No Rhône, temos ao todo 17 denominações nesta categoria, sendo que 8 estão na parte Norte e 9 na parte Sul.

O Vale do Rhône foi alvo de uma praga (a famosa praga Filoxera) que devastou as vinícolas no fim do século XIX. Logo que a região se recuperou por volta de 1900, a produção voltou com imensa força e volume, de forma que surgiram fraudes dos vinhos mais procurados. Com isso, a comunidade vinhateira organizou a “Appelation D’origine”, que consiste em conjuntos de regras certificadas para o cultivo e produção de vinho. A Denominação de Origem obteve tanto sucesso que foi expandido, mais tarde, para o resto do país. Hoje, a França possui cerca de 20 denominações de origem.

Costières de Nîmes

Costières de Nîmes é a designação de Origem Contrôlée (AOC) para um vinho produzido na área entre a antiga cidade de Nîmes e o delta ocidental do Rhône, no departamento francês de Gard.

Anteriormente era parte da região do Languedoc, mas como os vinhos se assemelham aos do Vale do Rhône no que tange ao caráter do que os do Languedoc, agora faz parte da região vinícola do Ródano e é administrado pelo comitê do Vinho do Rhône com sede em Avignon.

Costières de Nîmes entre Rhône e Languedoc

Os vinhos da região são produzidos há mais de dois mil anos e consumidos pelos gregos na época pré-romana, tornando-se uma das vinhas mais antigas da Europa. A área foi habitada por veteranos da campanha de Júlio César no Egito, e a garrafa de Costières de Nîmes traz o símbolo do assentamento romano em Nîmes, um crocodilo acorrentado a uma palmeira. De acordo com as mesas da cozinha do Palais des Papes em Avignon, muitas das cidades do que hoje é a região de Costières de Nîmes eram os principais fornecedores de vinho para os papas naquela época.

Anteriormente conhecido como Costières du Gard, a VDQS, o vinho alcançou o status de AOC em 1986 e foi renomeado Costières de Nîmes em 1989. Em 1998, as organizações de agricultores (sindicatos) solicitaram que as designações fossem anexadas à região vinícola do Rhône, pois seus vinhos refletiam melhor as características da região vinícola do Rhône do que da região do Languedoc em que a região está geograficamente localizada.

A INAO, a autoridade francesa que regula as denominações do país, submete cada denominação a um comitê regional encarregado de aprovar o vinho dessa denominação. Esta lista é um texto legal publicado pelo Ministério da Agricultura francês. A transferência de Costières de Nîmes para o comitê regional do Vale do Rhône foi feita na versão de 19 de julho de 1998, que subsititui a versão de 2004, Costières de Nîmes foi atribuído ao comitê regional Languedoc-Roussillon. O AOC diretamente adjacente a Clairette de Bellegarde permanece registrado como AOC Languedoc.

Entre as baixas colinas rochosas e garrigues que marcam a fronteira do Languedoc com a Provence e as planícies arenosas do delta de Camargue Rhône, o solo é principalmente uma mistura de cascalho redondo (“galets”) semelhante a Châteauneuf-du-pape, e depósitos aluviais de xisto arenoso e vermelho. As profundidades do solo de 3 a 15 metros são as grandes responsáveis pela variação de forças nesta AOC.

O clima é mediterrâneo, semelhante ao do Vale do Rhône, mas caracterizado pela proximidade da costa e pela brisa do mar.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, brilhante, com reflexos violáceos e lágrimas finas, em média intensidade e que demoram a se dissipar.

No nariz traz aromas intensos de frutas vermelhas maduras onde se destacam morango, framboesas, cerejas, com um toque rústico, com notas de especiarias, como pimenta, além de tabaco e couro.

Na boca é seco, tem média estrutura, mas fácil de degustar. Tem taninos presentes, marcados, mas elegantes, redondos, com uma boa acidez, um agradável picante, álcool em evidência, mas bem integrado, sendo um vinho muito equilibrado, com um final longo e persistente e um retrogosto frutado.

E diante de tanta história que harmoniza com tantas novidades, as experiências sensoriais são garantidas! Todas as nuances que traduzem em terroir, em tipicidade, em apelos regionalistas chegam a nossa taça de forma singular, única. Situações geográficas, o chão, o clima, tudo conspira a favor de um rótulo saboroso, de caráter expressivo, aromático, um vinho austero, mas delicado, contemporâneo. Um vinho do Rhône, mediterrânico, mas que tem história com outra região que amo, aprecio, o Languedoc-Roussillon, que expressa a fidelidade do sul da França. Um vinho carregado de emoção, um vinho especial! Tem 13% de teor alcoólico.

Uma curiosidade sobre o nome do vinho, COLNEM: O rótulo elogia a história excepcional da Costières de Nîmes. COLNEM: Colonia Neumausensis, que em latim significa "Colônia de Nîmes" é a abreviação encontrada nas moedas romanas mais famosas da antiguidade.

Sobre a Vignobles & Compagnie:

Em 1963, graças ao espírito de federação dos viticultores, liderado por Paul Blisson, que deu origem a vinícola, originada a promover vinhos da região do Gard, do Vale de Rhône. A adega, um edifício original inspirado pelo brasileiro Oscar Niemeyer, estava e ainda está localizada em um ponto estratégico de Gard.

A família Merlout investe na organização, isso em 1969. À frente da empresa estava uma mulher, Miss Noble, um fato ousado para a época. Em 1972 a vinícola entra em uma nova era graças a modernização do local e ao grande crescimento econômico também.

Em 1990 o Grupo Taillan assumiu todas as atividades da vinícola, dando início a uma parceria importante com vários produtores locais, trazendo o conceito de regionalismo aos seus rótulos.

Mais informações acesse:

https://vignoblescompagnie.com/en/

Referências:

“Evino Blog”: https://www.evino.com.br/blog/vale-do-rhone-guia-sobre-as-regioes-e-seu-produtores/

“Blog Grand Cru”: https://blog.grandcru.com.br/vinho-sul-franca-vale-rhone-chateauneuf-du-pape-hermitage/

“Nwikiid”: https://nwikiid.cyou/wiki/Costi%C3%A8res_de_N%C3%AEmes_AOC

 

 

 

 

 

 






segunda-feira, 9 de maio de 2022

Frank Tempranillo Rosé 2019

 

Têm castas que já faz parte da nossa vida de enófilo! Aquelas que, apesar de manjadas, tem tradição, se estão nas mentes e taças de muita gente são porque tem história, imponência e respeitabilidade, até aí não é, pelo menos para mim, novidade.

Mas ainda assim, mesmo que com essas castas já tão conhecidas e respeitadas no universo do vinho, são capazes de trazer gratas novidades, experiências surpreendentes.

E hoje, particularmente hoje, as grandes surpresas e experiências sensoriais tomaram de assalto as minhas percepções e sentimentos acerca dessa casta que tenho tanto apreço, tanto carinho e que me entregou momentos sublimes. Falo da Tempranillo.

Tempranillo, como todos são capazes de saber, ganhou prestígio na Espanha, mas ela dá o seu ar da graça em Portugal e recebe outros nomes como Aragonez, no Alentejo e Tinta Roriz no Douro.

Porém mesmo degustando vinhos especiais, sobretudo os espanhóis, da Tempranillo, ainda há espaço para, como disse, novidades, mesmo sendo, para muitos, algo, diria, banal. Mas é aquilo, todo grande momento novo tem de ser vivido plenamente.

E vou contar uma história para ilustrar esse momento de novidade! Sempre quis degustar um Tempranillo rosé, desde que conheci e fiquei sabendo que se faziam Tempranillos no “formato” rosé. Então, por um momento de minha vida, decidi garimpar, buscar rótulos rosés da variedade.

Acessei sites de lojas especializadas, procurei em supermercados, queria degustar um a qualquer custo. Vi alguns rótulos em alguns sites, mas a proposta não estava em consonância com os valores praticados e quando achei um em supermercado famoso em minha região, fiquei receoso em compra-lo. Queria que esse momento fosse especial!

Por um momento dessa trajetória eu desisti de procurar. Mas quando o amigo Luciano, da loja Pemarcano Vinhos, me disse que mandaria, tão gentilmente, tão carinhosamente, alguns rótulos de cortesia, um deles era um Tempranillo rosé! Quando não procurei ele veio até a mim!

E melhor: um Tempranillo rosé brasileiro e melhor ainda: um Tempranillo rosé brasileiro e da região paulista de São Roque. São Roque está figurando de forma intensa e maravilhosa em minhas taças e, mais uma vez, a experiência retomaria com essa tradicional região brasileira de produção de vinhos.

Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho que degustei e gostei que veio, claro, de São Roque e se chama Frank, um rosé da casta Tempranillo da safra 2019. E para a minha alegria eu já havia degustado o Frank Tempranillo 2020 tinto e a experiência foi ótima! Antes de falar do vinho vamos à história de São Roque e a sua importância para a viticultura brasileira.

São Roque: a “terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo rosado com alguma intensidade, tendendo para o escuro, como uma casca da cebola, mas muito brilhante.

No nariz explodem os aromas de frutas vermelhas frescas, frutas compotadas, que se destacam morango e framboesa, com um delicado floral, de flores vermelhas.

Na boca reproduzem-se as impressões olfativas, com muita fruta, sendo leve, fresco e despretensioso, com algum volume, acidez equilibrada, correta e um curioso toque de especiarias doces. Final médio com retrogosto frutado.

A experiência que, para muitos, pode ser taxada de banal, para mim foi única, incrível, especial. Degustar meu primeiro Tempranillo Rosé foi maravilhoso! Um vinho frutado, alegre, descompromissado, fresco, leve, com uma acidez ótima, mas com um toque marcante, de alguma personalidade, como deve ser a velha e eterna Tempranillo. E que os grandes momentos, por mais simples que sejam, aconteçam, porque são nobres, porque da simplicidade vem a nobreza. Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Frank:

Tudo começou há 97 anos com seu pai o Sr. Roque de Oliveira Santos que passou todas as suas experiências e habilidades para o Sr. Frank Vicente dos Santos.

No sitio da sua família deu continuidade no parreiral e no cultivo de uvas e se especializou na vitivinicultura que hoje conta com uma experiência de mais de 60 anos.

Casou-se com a Sra. Ferdinanda, uma imigrante italiana que veio para o Brasil na segunda guerra mundial e teve duas filhas onde tocam seus negócios até hoje.

Em 1965 fundou a marca que levaria seu nome, conhecida por VINHOS FRANK, que com muito trabalho, dedicação e amor tornou-se uma marca muito conhecida em todo Brasil por manter suas qualidades desde o primeiro litro de vinho até hoje.

Hoje a marca conta com 07 linhas de produtos, são elas: Tradicional, Bordô, varietais, frisante, espumante, cooler e suco de uva.

Toda sua produção continua sendo supervisionada e orientada pelo Sr. Frank que hoje tem 95 anos de vida e toma seu vinho todos os dias.

A marca "Vinhos Frank” nos meados de 1990 inaugurou seu restaurante que está sendo um dos principais atrativos, contando com um ótimo cardápio, com muitas variedades de pratos, sendo harmonizados com a linha de vinhos FRANK.

Mais informações acesse:

https://www.vinhosfrank.com/

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque