sábado, 11 de junho de 2022

Syrah & Tinta Roriz 2018

 

Há algum tempo atrás, e põe tempo nisso, eu não me importava muito com alguns detalhes dos vinhos, tais como: região, castas, safras, produtores etc. Confesso que a minha relação com o vinho, além de prazerosa e especial, era rasa, superficial.

Bem considero hoje essas descrições de suma importância para criar uma espécie de identidade com o vinho que degustamos, sem aquela visão aleatória, distante. Acredito firmemente que tais elos criam uma predileção, um norte na tomada de decisão com determinados vinhos etc.

Mas por outro lado pode suscitar a tal temida zona de conforto, onde torna-se cômodo para nós degustarmos vinhos de determinadas regiões, castas e produtores e neste estabelecer algo relacionado a fortaleza, a segurança que escraviza.

Claro que, para tudo na vida, precisa-se buscar o equilíbrio e na adega nossa de cada dia o equilíbrio significa diversidade, leque de opções. Sair do senso comum e de modismos, independentemente de ter ou não a tal da “litragem”, é imprescindível e olhar para ela, a adega, e ter a liberdade de escolher o que melhor lhe convém para o momento.

Confesso que os lisboetas são uma forte predileção e algo muito presente, consequentemente, na minha adega em termos quantitativos e, modéstia à parte, qualitativamente.

Se há esse quantitativo razoavelmente grande, há uma diversidade de propostas que vai das castas, dos blends, até aos valores ofertados e este rótulo de hoje se mostrou simplesmente imbatível no custo! Em torno de R$ 32,00! Uma verdadeira pechincha! Não gosto muito de apresentar valores, haja vista que estes mudam drasticamente e em um curto espaço de tempo em terras brasileiras, mas vale a pena mostrar agora, para enfatizar o valer a pena na compra.

E esse rótulo, além do atraente valor, traz um produtor que, pelo menos para mim, é novo e, creio, pouco conhecido no Brasil, um produtor “underground”: Adega Cooperativa Labrugeira.

Há certo preconceito com vinhos portugueses, franceses e espanhóis baratos quando chegam no Brasil e de adegas cooperativas portuguesas também. Acham que portugueses com esse preço baixo traz baixa qualidade também. Tive algumas experiências com lusitanos nesta mesma faixa de preço e alguns entregaram além do que valia. Tudo é uma questão de garimpar, pesquisar, acessar o site do produtor e, diante disso, analisar se tais vinhos estão alinhados com as suas pretensões! Simples assim, penso!

Então eis que é chegado o momento de degustar o rótulo. E como sempre sou tomado por uma excitação quando degusto um lisboeta e com esse não seria diferente, independentemente da sua proposta. O vinho foi desarrolhado, inundou a minha taça e já no aroma entregava uma explosão de frutas vermelhas e pretas maduras e no paladar personalidade mesmo que diante da sua simplicidade. Nobre!

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio, claro, de Lisboa, Portugal, e se traz no seu nome das castas que o compõe: Syrah & Tinta Roriz da safra 2018. E antes de falar sobre o vinho, não custa falar da região novamente, porque a sua história “harmoniza” perfeitamente com a história da Portugal vitivinícola.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

Lisboa DOC

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça impressiona com o vermelho rubi intenso, profundo, quase escuro, com tonalidade arroxeada, com uma profusão de lágrimas finas e que mancham as paredes do copo.

No nariz se destaca de imediato, as notas frutadas, de frutas vermelhas bem maduras, tais como groselha, cereja, ameixa. Traz também algumas percepções de defumado, de chocolate, embora o vinho não passe por barricas de carvalho, além de especiarias, pimenta, talvez.

Na boca entrega um impressionante equilíbrio. É seco, tem estrutura média, alcoólico, mas bem integrado, cheio, marcante, mas redondo, fácil de degustar, sendo também frutado. Tem taninos gulosos, carnudos, mas domados, acidez equilibrada. É franco, persistente no seu final, com aquela picância, típica da Syrah, com um retrogosto marcado pela fruta.

Barato! Simples! Intenso! De marcante personalidade! Um vinho aveludado, macio, redondo, mas robusto, cheio! Será que essas descrições “harmonizam” bem? Pode não harmonizar para percepções retas e lineares, carregadas de visões pré-concebidas, mas uma das grandes coisas do universo do vinho é a capacidade de surpreender-nos! De nos surpreender positivamente, de onde menos se espera! E assim tal universo que nos contempla cada vez mais nos embriaga de alegria, de momentos especiais, mesmo que não seja aquele vinho da moda ou demasiadamente caro! Aposte no que o seu coração diz, não se renda a efêmeros modismos! Tradição conta? Sim, mas não é regra no vinho! Mais uma vez Lisboa me revela o que há de melhor no seu terroir. Altamente aprovado! Te 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Labrugeira:

A origem da Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, remonta ao ano de 1973, a partir da iniciativa de 85 viticultores, tendo visto a sua primeira vindima em 1975. Atualmente representa 437 associados com uma área total de 620 hectares.

Na década de 1990, com o aparecimento das comissões vitivinícolas regionais – CVR, começou a ver os seus vinhos a serem certificados como Vinho Regional da Estremadura, hoje Vinho Regional Lisboa, e Vinho de Denominação de Origem Controlada – DOC Alenquer.

A Adega Cooperativa da Labrugeira, ACL, situada no concelho de Alenquer, é atualmente a única adega cooperativa deste concelho, representado assim todos os viticultores cooperantes desta área. Assim se deu um grande passo para potencializar a boa qualidade das uvas para a produção de grandes vinhos da região. E pouco a pouco se foram juntando novos associados com vinhas situadas na zona norte do concelho de Alenquer, no sopé sul e oeste da serra de Montejunto, com uma área de influência que cobre as freguesias de Ventosa, Olhalvo, Cabanas de Torres e Abrigada e Vila Verde dos Francos.

Com uma forte tradição na produção de vinhos de qualidade, a adega tem vindo a melhorar gradualmente as suas estruturas, sendo uma das adegas com maior e melhor resposta às exigências enológicas. Atualmente a Adega da Labrugeira comercializa uma vasta gama de vinhos engarrafados e acondicionados, brancos, tintos, rosés, vinhos leves, aguardentes bagaceiras e vinho espumante, com a certificação Regional Lisboa (IGP) e DOP Alenquer. Distribui no mercado português, no mercado Europeu e exporta para países da América do Sul. A sua produção anual cifra-se em cerca de 4 milhões de litros.

Mais informações acesse:

http://www.adegalabrugeira.pt/index.html

Referências:

“Blog do Syrah”: http://www.blogdosyrah.com/2015/09/24/acl-adega-cooperativa-da-labrugeira-crl-100-syrah-lisboa-2009/

“Garrafeira Nacional”: https://www.garrafeiranacional.com/2010-adega-cooperativa-da-labrugeira-syrah-reserva-tinto-1-5l.html

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

 

 

 








terça-feira, 31 de maio de 2022

Cruz Andina Estate Colection Merlot 2018

 

Merlot é uma cepa adorável! Poucas são as castas com tamanha versatilidade, que tem a capacidade de entregar inúmeras propostas aos mais variados preços. Sem contar com o cultivo, se dá bem em vários terroirs e assume várias facetas, de fato uma casta multifacetada.

Foi a casta que me mostrou o universo vasto dos vinhos finos! Isso já tem tanto tempo, mas lembro como se fora ontem! Há 25 anos atrás quando migrei dos vinhos de mesa, aqueles famosos vinhos de “garrafão”, o chamado vinho colonial, para os vinhos finos, lá estava o Merlot fazendo a minha iniciação.

E os Merlots chilenos tiveram uma influência muito grande nessa predileção pela variedade. Por anos a Merlot foi a minha cepa preferida e falo, com o carinho incondicional, dela. E o Merlot chileno foi decisivo para isso.

Já degustei de várias propostas: dos mais básicos, simples aos mais estruturados e complexos, o Merlot chileno definitivamente me ganhou! Se são os melhores do mundo eu não sei, mas são os meus melhores, há de fato um apelo sentimental e eu não tenho nenhum tipo de vergonha em dizer isso.

E hoje degustarei mais um Merlot, com muito orgulho e com um detalhe todo especial: esse é um vinho orgânico. Práticas sustentáveis que envolve todas as camadas da sociedade e que contempla a todas essas indistintamente. Até o vinho e seus produtores precisam trazer práticas limpas ao seu público, ao seu mercado, os enófilos.

Confesso não me recordar de ter degustado, especificamente, um Merlot chileno orgânico, mas é, indubitavelmente, um adendo especial ao ritual da degustação e não tenho dúvidas de que trará maravilhas.

E demorei um pouco para desarrolhá-lo. O comprei há cerca de um ano ou um pouco mais e lá ficou a evoluir na adega. Esperava e ansiava por um bom momento para degusta-lo e eis que o dia chegou. Há algum tempo não aprecio um Merlot chileno e é chegada a hora para este momento.

E o retorno não poderia ser melhor! E não direi surpreendente, pois tinha a melhor das expectativas por ele, pelo rótulo. Então, sem mais delongas, o vinho que degustei e gostei veio da emblemática região do Vale de Casablanca, é o Cruz Andina Estate Colection da casta Merlot safra 2018. E não é a minha primeira experiência com essa linha de rótulos, pois degustei, há pouco tempo atrás, o Cruz Andina Chardonnay 2017 e tive uma ótima surpresa. E, para não perder o costume, falemos um pouco de Casablanca Valley.

Valle de Casablanca, Aconcágua

Os primeiros espanhóis no Vale de Casablanca foram os expedicionários liderados, em 1536, pelo avançado Dom Diego de Almagro. O Conquistador, em suas incursões ao longo da costa, entrou na rota Inca, que de Quillota cruzou Limache e Villa Alemana, penetrando o vale de Margamarga em direção aos campos de Orozco. De lá avistou o vale (que os nativos chamavam de Acuyo) cruzando-o para continuar até Melipilla pelo Cordón Ibacache, visitou as colônias de 'Mitimaes' de Talagante, avançou mais para o Leste e depois voltou para Quillota. Em 1540, D. Pedro de Valdivia passou com os seus anfitriões, imitando a estrada para Almagro.

O vale, localizado entre Santiago e o maior porto do Chile, Valparaíso (recentemente declarado Patrimônio da Humanidade) combina todas as condições para tornar-se essencial para todos que visitam o país. Casablanca se caracteriza por ser um vale pre-litoral, localizado na planície costeira da região, a apenas 18 km do mar e rodeado pela serra costeira.

Casablanca Valley

A origem do nome Casablanca (Casa Branca) está no século XVI, quando foi construída uma casa de adobe caiada a oeste da cidade. Em 1755, os trabalhos preparatórios para a nova cidade prosseguiram e o seu traçado original foi delineado - de acordo com a tradicional grelha espanhola - por Dom Joseph Bañado y Gracia, juiz agrimensor do Bispado.

Quando as primeiras casas foram construídas, algumas medidas foram ditadas a fim de garantir o progresso da população. Foi nomeado um Tenente General do Partido Casablanca, dependente do prefeito de Quillota, que também recebeu ordens do Governador de Valparaíso em caso de defesa do referido porto.

Embora, no início, a população tenha crescido, a rivalidade entre José Montt e Dom Francisco de Ovalle pôs em risco o seu desenvolvimento, quando este último reivindicou os direitos sobre o terreno onde fora construída a vila, visto que os habitantes iam abandonando o terreno por entender que eles iriam perdê-los se Ovalle ganhasse o processo.

O contencioso durou toda a segunda metade do século XVIII e a situação normalizou-se quando os herdeiros dos litigantes encerraram a ação, reconhecendo o fundamento e os direitos dos seus habitantes.

Casablanca tem uma clara influência marítima, clima bem mais frio, com neblinas matinais e uma amplitude térmica de até 19 graus entre o dia e a noite, o que favorece a lenta maturação das uvas.

A temperatura média do verão é de 14,4 graus, as chuvas se concentram entre os meses de maio e outubro, com uma média anual de 450 mm. A influência marítima que o vale recebe faz com que a temperatura média seja moderada, alcançando não mais do que 20º C durante o período vegetativo. Isso cria excelentes condições para as variedades brancas, como Sauvignon Blanc e Chardonnay, refletindo-se na frescura e no intenso aroma cítrico de seus vinhos.

Os meses com riscos de geadas são setembro e outubro, ficando bem mais seco entre novembro e abril, época do crescimento e maturação das uvas. A colheita, diferente de outros vales, acontece mais tarde, a partir de 15 de março até final de abril. Essas características climáticas trazem vinhos de qualidade superior, com muita concentração de fruta, acidez muito boa e um final brilhante.

A região é dominada pelas castas brancas, que correspondem a 75% da área plantada. Lá reina a Chardonnay, que ocupa mais de 1.800 hectares. Outras variedades importantes são a Sauvignon Blanc (1.000 ha), a Merlot (430 ha) e a Pinot Noir (426 ha). Esta última, apesar de ser apenas a quarta mais plantada, forma, junto com a Chardonnay, a dupla de uvas emblemáticas da região.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi vivo e pleno com tonalidades granada e lágrimas finas e em profusão, se dissipando vagarosamente, desenhando as bordas do copo.

No nariz explode em aromas frutados, frutas vermelhas e pretas maduras, onde se destaca groselha, cereja preta, ameixa, amora, com notas amadeiradas, graças aos oito meses de passagem por barricas de carvalho, que traz ainda um tostado, couro e especiarias.

Na boca é marcante, saboroso, logo de bom volume, cheio, de média estrutura, mas macio, redondo, fácil de degustar, tem um toque terroso, com as frutas sendo percebidas, bem como a madeira, como no aspecto olfativo, mas em perfeito equilíbrio, entregando ainda a baunilha, o chocolate meio amargo. Tem taninos maduros, presentes, mas domados, boa acidez e um final longo de retrogosto frutado.

Um autêntico Merlot do Vale de Casablanca! A história, o terroir (olha a palavrinha bonita) denuncia isso de forma veemente. A assinatura de uma região personificada em seus rótulos, a fidelidade da terra, o DNA de seus traços geológicos delimita as belíssimas características desse Cruz Andina Merlot Estate Colection. Entrega ainda uma filosofia calcada nas práticas sustentáveis, entregando vinhos singulares, com o respeito ao ambiente natural, levando à mesa de nós, felizes enófilos, não somente um belo produto, mais um produto que entrega prazer e sinônimo de saúde. Um vinho expressivo, que traz toda a característica de uma região de clima mais frio, próximo do litoral chileno, entregando um vinho estruturado sim, mas fresco, vivaz e solar. Lembrando ainda que 2018 foi um ano muito especial para o Chile e praticamente para todo o Cone Sul, o que, certamente, influencia na qualidade do vinho. Tem 14,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Veramonte:

A vinha em Veramonte é a maior vinha contígua do Chile, já que se estende por mais de 350 hectares na área de cultivo principal do Vale do Casablanca, no Chile. Em 1990, Agustin Huneeus escolheu este local para a Vinícola Veramonte, reconhecendo então que os microclimas e solos deste belo vale são semelhantes às prestigiadas regiões vinícolas da Califórnia, Napa Valley e Carneros.

O Veramonte Vineyard Manager utiliza os mais recentes avanços na tecnologia vitícola a fim de produzir frutos da mais alta qualidade possível. Ele gerencia cuidadosamente os rendimentos, eliminando a colheita, controlando a irrigação e experimentando diferentes técnicas de poda com a finalidade de maximizar a maturidade e a maturação das uvas.

Portanto, ele limita a produção de 5 a 7 toneladas por hectare para colher uvas de alta qualidade com sabor, definição e concentração intensos.

Veramonte foi introduzido pela primeira vez em 1996 e, desde então, recebeu elogios da crítica internacional por Chardonnay, Merlot, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc e Primus, um rico e picante proprietário vermelho, misturado com Carménère (uma bela variedade de Bordeaux, agora praticamente exclusiva do Chile), e Cabernet Sauvignon.

A vinícola de Veramonte é uma instalação de fato moderna de vinificação, projetada por um dos principais arquitetos líderes do Chile, Jorge Swinburn. Inaugurada em 1998, a vinícola de 7.896 metros quadrados inclui dessa forma a mais recente tecnologia em linhas de engarrafamento, fermentadores alimentados por gravidade e tanques ultramodernos de aço inoxidável.

Assim como é projetado para vinificação em pequenos lotes, permitindo fermentação e envelhecimento separados de blocos individuais de vinha e parcelas experimentais de vinha. Quando os hóspedes entram na vinícola, são recebidos no “Casona”, uma sala, inegavelmente, de tirar o fôlego, com uma rotunda alta, tetos de 16 metros e paredes de vidro que revelam as cavernas do barril abaixo.

No momento em que a família Huneeus era pioneira no Vale do Casablanca, no Chile, em 1990, havia menos de 40 hectares plantados em videiras. Posteriormente, nos dias atuais, a propriedade Veramonte Alto de Casablanca ganhou reconhecimento mundial pela qualidade de seus vinhos.

Todas as propriedades aderem a práticas orgânicas que garantem assim as melhores condições para o desenvolvimento das vinhas e a obtenção de vinhedos sustentáveis ao longo do tempo. Solos vigorosos e equilibrados cultivam uvas de qualidade que sem dúvida alguma expressam o potencial máximo de seu terroir.

Mais informações acesse:

https://www.veramonte.cl/disclaimer

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CASABLANCA

“Portal Casablanca”: http://valle.casablanca.cl/zona/zona1.shtm

 

 

 




quarta-feira, 25 de maio de 2022

Valdemiz Reserva Arinarnoa 2015

 

Mais um rótulo da série: “gratas novidades sensoriais”! E olha que essa casta, a casta do vinho de hoje é mais do que especial, pois sequer a conhecia! Diria que essa variedade, fazendo uma analogia com o rock n’ roll, algo que também degusto vorazmente, é rara, obscura, pouco conhecida, pelo menos em terras brasileiras, em taças de enófilos brasileiros.

Eu a conheci de forma despretensiosa, diria, em alguns “garimpos” ou pesquisas que estava fazendo e que já não me recordo mais e me chamou a atenção pelo pitoresco nome. O primeiro contato, confesso que, diante da minha magnânima ignorância, eu pensei se tratar de uma casta de origem indígena, mas não, descobri se tratar de uma “casta de laboratório”, como a Pinotage, por exemplo, emblemática casta da terra de Mandela.

Outro dado que me chamou a atenção. Então o próximo passo foi ir mais a fundo, buscar rótulos dessa casta e quem sabe adquirir uns exemplares, afinal a minha caminhada em busca de castas pouco aclamadas precisa ser fomentada.

Para a minha surpresa e alegria encontrei alguns rótulos brasileiros! Sim! Brasileiros! O Brasil vem se destacando, cada vez mais, no cultivo de cepas oriundas da Itália e de algumas bordalesas, das mais conhecidas, como a Merlot, sobretudo na Serra Gaúcha e a própria “artista do espetáculo”, a qual me refiro. Essa casta é a Arinarnoa.

Para se ter uma noção da importância disso até mesmo em Bordeaux a Arinarnoa tem sido pouco usada, então ver os produtores brasileiros investindo nessa casta é no mínimo digno de orgulho. Mas pelo que pude ler a respeito da casta ela se dá bem em climas de invernos rigorosos e verões ensolarados, típicos das tradicionais regiões gaúchas da Campanha e Serra Gaúcha.

E achei um vinho com a casta, brasileiro, da Serra Gaúcha e a um valor até atraente, até pelo fato de se tratar de uma casta que, apesar de cultivada por alguns produtores tupiniquins, ainda tem uma baixa produção.

Então sem mais delongas vamos às apresentações: o vinho que degustei e gostei, como disse, vem da Serra Gaúcha, do Brasil, chama-se Valdemiz da casta Arinarnoa, safra 2015. E já que falei em garimpo, pesquisas e afins, vamos textualizar a história da Arinarnoa e da Serra Gaúcha.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Arinarnoa

De acordo com algumas fontes pesquisadas a casta Arinarnoa tem origem no País Basco, não sendo, portanto, francesa, não sendo também espanhola. Como a casta Marselan, que vem fazendo sucesso no Brasil e a Pinotage, a mais famosa cepa sul africana, a Arinarnoa também é um cruzamento entre uvas e que está na lista das novas possíveis queridinhas de Bordeaux.

País Basco fazendo fronteira com o sul-sudoeste da França

De acordo com o site “Plantgrape”, que cataloga videiras produzidas na França (leia aqui) o crescimento do cultivo da Arinarnoa vem aumentando exponencialmente desde 1988 que tinha 5 hectares, passando para 155 hectares em 2000, 164 em 2008 e 178 hectares em 2018. Os números não mentem, a Arinarnoa vem ganhando espaço entre os produtores franceses e vem também, consequentemente, tendo uma aceitação do mercado daquele país.

O reforço de que a Arinarnoa vem de Bordeaux é de que a mesma nasceu durante as alquimias de Pierre Marcel Durquéty, que também foi criador da uva Egiodola, que se destaca no Brasil com um rótulo da Vinícola Pizzato, no ano de 1956 no INRA (Institut National de la Recherche Agronomique), que fica em Bordeaux, na França.

Durante muito tempo achava-se que o cruzamento que originou a Arinarnoa era entre a Merlot e a Petit Verdot, porém testes de DNA rechaçaram essa teoria e confirmaram que, na realidade, os pais verdadeiros são as uvas Tannat e Cabernet Sauvignon, o que nos leva a concluir que ela é neta da Cabernet Franc e da Sauvignon Blanc. Em 1980, a variedade foi oficialmente aprovada para ser utilizada nas vinificações. A França é o principal produtor, no Sul do país e norte de Cognac (não, não se produz apenas conhaques na região).

Em idioma basco, um reforço de que a casta pode ser oriunda dessa região, a palavra “arin” significa “leveza”, algo agradável e versátil, já a palavra “arnoa” significa “vinho”, ou seja, o seu autor, juntando as duas palavras quis justamente indicar uma casta que originaria vinhos leves, versáteis e agradáveis.

Inicialmente pensou-se ser cruzamento da Merlot com a Petit Verdot, mas estudos de DNA recentes a veem como o cruzamento entre a Tannat e a Cabernet Sauvignon. Há quem questione essa informação pelo fato da Arinarnoa não ser uma casta leve, ser detentora de taninos firmes e presentes, mas de Tannat e Cabernet Sauvignon.

Por brotar tardiamente, é uma ótima casta para evitar estragos em anos que ocorrem geadas de primavera. Os cachos costumam ser abertos, que é uma vantagem para evitar acúmulo de umidade e, consequentemente, doenças fúngicas. As uvas têm cascas grossas que concentram compostos fenólicos e de cor, então os vinhos costumeiramente são estruturados, possuem taninos firmes, com cor profunda, e há possibilidades de encontrar nuances herbáceas, o que também é de se esperar ao analisar os parentais.

Arinarnoa

Adaptou-se perfeitamente bem no Uruguai, Chile, Argentina, e, principalmente Brasil. Na região da Campanha Gaúcha há a projeção de que será uma das grandes uvas tintas. Gosta de invernos rigorosos e verões ensolarados, típico do clima continental da região.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com intensidade, brilhante e reluzente, com reflexos violáceos e lágrimas finas e ocasionais.

No nariz é extremamente aromático, trazendo uma grande complexidade, com muita fruta vermelha e preta maduras, onde se destacam ameixa, framboesa, morango, cereja, com um toque herbáceo, de especiarias, vegetal, com notas amadeiradas em evidência, graças aos 10 meses de passagem por barricas de carvalho, mas muito bem integrada à fruta.

Na boca é macio, elegante, de leve para média estrutura, muito saboroso e agradável, com a presença, como no aspecto olfativo, da fruta e do vegetal, da terra molhada, do couro, com taninos vivos, mas domados e redondos, acidez média e equilibrada e a madeira mais discreta, que, ainda assim, traz o aporte da baunilha, do caramelo e até um pouco de chocolate. Tem um final de razoável persistência.

Uma grata surpresa! Assim defino o Valdemiz Arinarnoa! Que bom estar vivo e pleno de saúde mental e física para ter esse vinho inundando a minha taça, para deleite das minhas experiências sensoriais. Um vinho vibrante, intenso, estruturado, mas fácil de degustar, elegante, macio, o que faz jus às suas origens. É um vinho versátil e que harmonizaria tranquilamente com pratos estruturados ou alguma comida casual e simples. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Curiosidade sobre o nome do vinho: “Valdemiz”

O nome Valdemiz remete ao Valle del Mis, região italiana de onde emigrou a família Valdecir Mioranza. Lá a família já era reconhecida pela produção de vinhos finos. Valdecir, bisneto de Pietro Mioranza (patriarca da família e primeiro a migrar para o Brasil), dedicou-se e empregou toda a tradição dos antepassados para criar os vinhos varietais Valdemiz. As regiões da Itália nas quais a família prosperou na vinicultura antes de imigrar ao Brasil, são homenageadas na linha de Vinhos Finos Valdemiz.

Sobre a Vinícola Monte Reale:

Os registros da produção de vinhos, legado da família, datam de 1300, ainda na Itália. Na primeira metade do século XIX, integrantes da família imigraram para o Rio Grande do Sul, onde iniciaram a atividade na Serra Gaúcha. Em 1973, Valdecir Mioranza deu o pontapé inicial para a Monte Reale, vinícola que está há 45 anos no mercado nacional e guarda mais de sete séculos de conhecimento. A Monte Reale está localizada na entrada de Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul, no coração da Serra Gaúcha, oferecendo diversas experiências enogastronômicas únicas. Flores da Cunha está próxima ao paralelo 30, local que favorece a produção de uvas de qualidade superior e, consequentemente, excelentes vinhos e sucos.

Cinco marcas compõem hoje o mix da vinícola. Os vinhos de mesa e sucos são comercializados com a bandeira Monte Reale. Vinhos finos chegam ao mercado com as marcas Valdemiz e Sospirolo, que produz ainda espumantes, brandy e outros produtos especiais. A tradicional PNS elabora vinagres finos e, ainda, com a marca Alem Bier são produzidas cervejas artesanais.

As uvas utilizadas na elaboração dos vinhos e sucos Monte Reale são cultivadas em uma das regiões mais nobres do país. O microclima da região com suas peculiaridades, como as temperaturas mais baixas, favorece o repouso das videiras no inverno. No verão, o calor e a constância do sol favorecem a concentração dos açúcares, proporcionando uvas maduras, com baixa acidez e ótima complexidade aromática.

A construção da empresa, com as rochas do próprio local, foi pensada para manter uma temperatura baixa em seu interior, garantindo uma ótima estrutura para elaboração e amadurecimento de vinhos. As condições de clima e solo ideais, aliadas às aprimoradas técnicas de cultivo, elevam a qualidade das uvas produzidas pela família de Valdecir Mioranza. Seus descendentes carregam seu legado, refletido na inovação e nos produtos de qualidade superior.

Mais informações acesse:

https://www.montereale.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Plantgrape”: https://plantgrape.plantnet-project.org/en/cepage/Arinarnoa

“Além do Vinho”: https://alemdovinho.wordpress.com/2015/09/17/arinarnoa-uma-grata-surpresa/

“Enocultura”: https://www.enocultura.com.br/cruzamento-entre-uvas-arinarnoa/

“Mondovinho”: http://mondovinho.blogspot.com/2018/02/um-varietal-de-arinarnoa.html


sábado, 21 de maio de 2022

QXT Petit Verdot 2014

 

Mais um vinho da série “gratas novidades sensoriais”. Mas confesso que o rótulo de hoje não vem “trajado” de grandes novidades, pelo menos não inteiramente! O vinho de hoje carrega uma casta oriunda da França, mas que encontrou em terras espanholas o seu bom cultivo.

Falo da Petit Verdot! A Petit Verdot não é uma casta muito usual de se encontrar por aí, porém alguns produtores, sobretudo em terroirs fora da França, estão se aventurando no cultivo da mesma, inclusive no “formato” varietal, o que faz dela atraente, especial para garimpo e, consequentemente, degustação.

E o terroir que falo em especial é o de Castilla La Mancha! Mas as novidades existem sim, por que não? Esse Petit Verdot de La Mancha traz personalidade, complexidade aromática e estrutura marcante, mas aquela elegância típica de um vinho com seus 8 anos de vida! Claro, um vinho que estagiou em barricas de carvalho, não poderia esperar outra coisa. Essa é a primeira novidade.

A segunda é a região! Meu primeiro Petit Verdot de Castilla La Mancha, uma região que, a cada dia, a cada rótulo, vem me ganhando, me surpreendendo positivamente, pelos seus vinhos, pelo menos até agora, de marcante personalidade e estilo. O caminho tem sido satisfatório e quem agradece são as experiências sensoriais.

Eu quando o adquiri lembrei de um Petit Verdot que degustei, há algum tempo atrás, da região de Valência de um produtor que muito aprecio chamado Murviedro Colleción Petit Verdot 2015, mas com uma proposta mais direta, mais frutada e muito bom!

Então vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de Castilla La Mancha, na Espanha, e se chama QXT Petit Verdot (100%) da safra 2014. E quando o comprei, lembro-me bem, a intenção, dada a história e características da cepa, era guardar para apreciar um vinho mais redondo, macio e rico em complexidades. E foi exatamente o que achei, o que percebi. Um senhor vinho!

Mas não quero detalhar, pelo menos ainda, as impressões do vinho e adentrar de fundo na história da Petit Verdot e também da emblemática região de Castilla La Mancha para também tentarmos entender o que o vinho pode nos proporcionar.

Petit Verdot

A Petit Verdot é originária da maior região produtora francesa, Bordeaux, sendo cultivada desde o período romano. Curiosamente, esta região é bastante desafiadora para o cultivo da Petit Verdot, pois a uva em questão possui um ciclo de maturação tardio, ou seja, necessita de maior insolação no final do ciclo para que seja colhida no ponto ideal. A grande questão é que em safras mais chuvosas e não muito quentes, a tendência é que os vinhos de Petit Verdot sejam mais agressivos, contudo, em safras adequadas o contexto muda e grandes vinhos são originados.

Por outro lado, a uva se deu muito bem em países mais quentes e secos, como Argentina, Chile, Estados Unidos (Califórnia), Itália (Sul), África do Sul e a Espanha, que elaboram vinhos excelentes devido às condições climáticas.

Na Sicília, ilha localizada ao sul da Itália, por exemplo, a casta é responsável por vinhos tintos surpreendentes. A maior parte dos vinhedos está localizada perto do vulcão Etna, proporcionando condições favoráveis para o cultivo da, muitas vezes incompreendida, Petit Verdot.

A casta Petit Verdot também pode aparecer em vinhos varietais, principalmente australianos e espanhóis da região de Jumilla, originando tintos intensos e vigorosos. Quando jovens, os vinhos tintos revelam aromas de bananas e madeira, e quando amadurecem, apresentam toques animais.

O nome Petit Verdot (Pequeno Verde) foi atribuído a casta por conta do pequeno tamanho de seu cacho e por existir em seus bagos frutos de cor escura e outros com tom esverdeado, graças a uma característica bastante predominante da cepa, o amadurecimento tardio. Sendo uma das castas com maior presença de flavonoides, a uva bordalesa Petit Verdot é uma das que mais trazem benefícios a saúde, contribuindo para o retardamento do envelhecimento e reduzindo os danos causados pelos radicais livres.

Uma de suas características mais marcantes é a alta produtividade, fazendo com que o viticultor tenha mais atenção para não sobrecarregar a planta e inviabilizar a maturação dos frutos. A Petit Verdot é muito particular! Sua casca grossa fornece uma coloração intensa à bebida, além da marcante presença dos taninos e da acidez acentuada, conferindo certo frescor e longevidade aos produtos.

Em relação ao perfil aromático, as notas de frutas negras maduras são predominantes, sendo acompanhadas dos delicados aromas florais. Além disso, outras nuances podem ser percebidas, como azeitonas, pimenta-do-reino e especiarias doces, como cravo-da-índia e noz-moscada.

Quando o trabalho no vinhedo é bem feito, respeitando as singularidades da cepa e o enólogo sabe domar os taninos através de técnicas de vinificação, os vinhos varietais, por exemplo, podem ser muito agradáveis. Se aliado a isso o terroir em que as vinhas são cultivadas for mais quente no verão todo o processo se tornará simplificado, possibilitando que a Petit Verdot seja a grande protagonista.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento.

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha


Sub-regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, escuro, brilhante, com entornos arroxeados, com a concentração de lágrimas finas e em intensidade que marcam o bojo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas e frutas negras, principalmente, bem maduras, com as notas amadeiradas bem evidentes, graças aos 12 meses de passagem por barrica de carvalho, percebendo um defumado, couro, tabaco, especiarias doces (cravo), terra molhada, fumaça.

Na boca é intenso, estruturado, seco, cheio, carnudo, mas macio e elegante, fácil de degustar, devido aos seus oito anos de vida e o tempo de passagem em barricas, as frutas negras e vermelhas são notadas como no aspecto olfativo, com taninos marcados, presentes, mas redondos, com uma acidez média, além de toques generosos de baunilha, chocolate, torrefação e café. Tem álcool bem integrado e um final persistente, de retrogosto frutado.           

O QXT Petit Verdot definitivamente traz toda a aura do velho cavaleiro Dom Quixote, tanto que carrega em seu nome, em seu rótulo, o nome do cavalheiro errante. Um vinho com estrutura, persistente, de grande personalidade, mas que, devido aos seus oito anos de vida, entregam maciez, elegância com taninos comportados, embora presente, uma acidez correta. Um vinho cheio de vida, ainda pleno, com frutas negras no paladar e no aroma. Vinho para a vida! Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Pago Casa del Blanco:

Pago Casa del Blanco é uma vinícola de propriedade familiar, com mais de 150 anos de história e uma tradição vitivinícola, embora breve, mas intensamente ativa, que em 2010 conseguiu alcançar a mais alta categoria na classificação de vinhos: a Denominação de Origem Protegida Pago Casa del Blanco.

A certificação “Vinos de Pago” exige um esforço considerável e conformidade com alguns regulamentos de qualidade muito rigorosos, mas ratifica e garante a singularidade e a personalidade dos vinhos originários e produzidos em um terroir único e exclusivo. Os 150 hectares de vinhedos próprios estão localizados na área municipal de Manzanares (Ciudad Real) e desfrutam de um microclima e dos benefícios de um solo muito específico, assim como uma característica incomum: uma concentração de lítio, um oligoelemento com propriedades que melhorar o sistema imunológico, mais do que o normal, que é transferido para os vinhos.

Assim sendo, a equipe do Pago Casa Blanco é composta por vários profissionais e familiares, incluindo Antonio Merino como enólogo, e é chefiada por Joaquín Sánchez. Mostrando dessa forma um grande respeito ao meio ambiente, cultivam as variedades brancas Sauvignon Blanc, Chardonnay, Moscatel de Grano Menudo (Muscat Blanc à Petits Grains) e Airén; e os vermelhos, Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Petit Verdot, Malbec, Cabernet Franc e Garnacha.

A vinícola, enfim, de design e construção próprios e completamente integrados ao ambiente natural, foi equipada com a mais moderna tecnologia que combina perfeitamente com a tradição e, após um paciente e repouso prolongado, os vinhos são produzidos sob a denominação de suas três marcas: Quixote e Lítio para tintos e Castillo de Pilas Bonas para brancos.

Mais informações acesse:

http://pagocasadelblanco.com/index_es.htm

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/petit-verdot

Blog “Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/petit-verdot-conheca-as-particularidades-desta-casta-francesa/







sexta-feira, 20 de maio de 2022

Pinta Negra branco Arinto e Fernão Pires 2019

 

Sempre deixei claro, até de forma entusiasmada que, para alguns pode parecer demasiado, das minhas predileções pelos vinhos da região lusitana de Lisboa. Por isso não vou tecer maiores comentários sobre isso, para não soar repetitivo, redundante, mas não posso negligenciar o meu apreço também pelos vinhos de um produtor que, embora novo, vem trazendo, oferecendo, grandes rótulos: AdegaMãe!

Talvez a AdegaMãe tenha potencializado a minha predileção pelos lisboetas, sobretudo pelos vinhos que degustei e gostei dessa vinícola. São capazes de entregar rótulos dos mais expressivos e complexos e básicos com um detalhe que julgo ser preponderante: personalidade e tipicidade. Tradição com traços contemporâneos, de vinhos que agradam a paladares de alta litragem e as novas inserções neste universo.

Eu os conheci em um programa de televisão direcionado ao mundo do vinho que passava no Canal Globosat, do Grupo Globo, chamado “Um Brinde ao Vinho”, em uma temporada que dedicou aos vinhos portugueses e suas mais importantes regiões e claro, Lisboa estava na rota de visita.

E quando o episódio foi exibido eu já apreciava os lisboetas, mas conhecer alguns produtores fora como uma revelação e a AdegaMãe estava no rol das comentadas. E quando a apresentadora Cecília Aldaz mostrou alguns dos seus rótulos e, por um relance, mostrou um rótulo que havia degustado há muito tempo atrás e que tinha caído no esquecimento, mas ainda assim tinha um lampejo de lembrança foi a faísca de estímulo de que precisava para conhecer ainda mais os rótulos desse produtor.

Animado por conhecer um pouco mais do rótulo que havia degustar a tempos atrás, fui, o mais rápido possível, aos supermercados em busca do vinho. Coloquei como prioridade achá-lo e degustá-lo novamente. Esse vinho era o Pinta Negra tinto 2016. Fantástico vinho!

Mas eu não queria parar por aqui. E, mais uma vez por acaso, eu andando pelas ruas encontro no chão um mero encarte de supermercado. Bem poderia ser mais um desses encartes quando, ao olhar mais atentamente, vi um rótulo de vinho sendo ofertado que me era familiar. Sim! Era o Pinta Negra branco, que eu, até então, nunca tinha visto em lugar algum, a um preço ótimo: R$ 29,90!

Não hesitei e logo fui ao supermercado e comprei! Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei que veio de Lisboa, Portugal, que se chama, claro, Pinta Negra branco com um blend, típico e irresistível de Portugal, das castas Arinto e Fernão Pires da safra 2019. Então antes de falar do vinho vamos às histórias de Lisboa que vale, sem dúvida, um texto à altura.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

E agora o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo palha, límpido, brilhante, com reflexos esverdeados, com a discreta aparição de finas lágrimas que logo se dissipam.

No nariz explodem os aromas frutados, de frutas brancas, tropicais, cítricas, tudo muito bem equilibrado, onde se destacam maçã-verde, melão, pêssego, abacaxi, lima, além de um delicado toque floral que denuncia muito frescor e leveza ao vinho.

Na boca é levemente seco, com um agradável amargor, mineral, as notas frutadas se reproduzem, como no aspecto olfativo, com um bom volume de boca, que faz do vinho, de leve a média estrutura, com uma incrível acidez certamente conferida pela percentual da Arinto, com um final longo, prolongado, fresco e refrescante.

O passado revisitou o presente e ajudou a construir um futuro na minha vida de enófilo e me fez observar e entender que, além do maravilhoso exercício da análise sensorial, a história do vinho, como seu terroir, sua história, sua região, pode ser sim, sem sombra de dúvida, um aditivo para a construção de sua percepção perante o rótulo. Pinta Negra é um vinho básico, para o dia a dia, mas que entrega muito além da sua proposta, definitivamente uma grata surpresa. Os vinhedos do Pinta Negra branco são oriundos de uma região chamada Torres Vedras que é tida como uma das maiores regiões produtoras de vinho em Portugal. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela Alves.

Em 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante.

A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional.

Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/

Vídeo institucional AdegaMãe:

https://www.youtube.com/watch?v=P64IP8hnR6w 

Referências:

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

“Câmara Municipal Torres Vedras”: http://www.cm-tvedras.pt/turismo/gastronomia/vinhos-2/