sábado, 29 de outubro de 2022

Quinta Don Bonifácio Reserva Refosco 2007

 

O vinho definitivamente é um ser vivo, como alguns especialistas na poesia líquida costumam falar. E de fato é mesmo, não há nenhum exagero em dizer isso. Todo vinho nasce, na vindima e no processo de vinificação até ser engarrafado, cresce, evolui na garrafa quando está na nossa adega, se desenvolve ou não, decai e morre.

Cada uma dessas fases tem um tempo, que muda, varia de vinho para vinho e até mesmo de garrafa para garrafa, e nesse caso um dos principais fatores é a forma como ele está armazenado e também o fator sorte, pois mesmo acondicionando o vinho aceitavelmente há casos em que ele pode perecer antes do que se espera.

Há quem diga que temos de aproveitar sem muitas delongas, mas também o tempo faz com que o vinho só melhore, claro que para entender essas nuances é preciso, pelo menos buscar ajuda profissional ou buscar informações do rótulo junto ao produtor.

E entender o seu apogeu, potencial de guarda, o seu momento de decréscimo no seu período evolutivo pode parecer meio difícil e tenso para os enófilos e aí a pergunta surge: Será que o vinho está em seu ápice de degustação? Será que merece aguardar um pouco mais? São perguntas, questionamentos e dúvidas que nos faz perder o sono, porque um “erro de cálculo, um momento especial de degustação pode virar um pesadelo com um vinho avinagrado.

Mas é inegável quando, por exemplo, degustamos um vinho razoavelmente antigo e percebemos que ele está no auge ou que evoluiu maravilhosamente bem. É o ápice também para quem degusta.

Eu sigo nesse caminho pela busca e garimpo de alguns rótulos com pelo menos mais de 10 anos o que hoje é maravilhoso em um mercado onde os vinhos ligeiros e mais jovens imperam, afinal, quem quer bebe, bebe logo e isso tem feito com que os adeptos pelos vinhos “velhos” se tornem um gueto, um pequeno grupo.

E o vinho que degustarei hoje está debutando, com seus 15 anos de vida e que, por um ou dois anos, não sei ao certo, descansou em minha adega aguardando o momento de brindar a minha taça com celebração. E falando em celebração ele trará novidades, novidades de uma casta que, para mim, é nova: Refosco.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, Brasil, e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Refosco, safra 2007. O vinho está vivo, pleno! O tempo e a passagem por barricas de carvalho lhe deram complexidade e elegância. Mas não vou, pelo menos agora, falar do vinho, mas sim da Serra Gaúcha e do Refosco. Vale lembrar antes de que tive uma grande experiência com o Quinta Don Bonifácio Reserva Tannat 2007.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Refosco

A uva tinta Refosco teve sua origem nas regiões banhadas pelo mar Adriático, como a Eslovênia, Croácia e Friuili-Venezia Giulia (nordeste da Itália). Antigamente, era amplamente utilizada para a fabricação de vinhos mais simples, entretanto, hoje a uva Refosco tem suas características em evidência e participa da composição de exemplares complexos, vinhos que apresentam grande capacidade de envelhecimento.

Os vinhos que possuem a uva Refosco em sua composição são encorpados e frutados, apresentando elevada acidez e coloração escura e densa. Os aromas e sabores encontrados nesses exemplares remetem a ameixas e temperos apimentados, bem como sugerem sensação amendoada no palato. Com amadurecimento tardio, a uva Refosco, se colhida antes do tempo, pode elaborar vinhos de taninos agressivos.

Essa é uma uva cheia de documentações, ao longo da história. Foi admirada e citada pelo escritor romano Caio Plínio II, conhecido como Plínio, o Velho. Consta, também, que era o vinho favorito de Lívia, esposa do primeiro imperador romano, Otávio Augusto. Estudos de DNA revelaram que a Refosco tem um parentesco com Marzemino, a uva que produzia o vinho favorito de Mozart.

A denominação de origem que elabora os mais reputados vinhos com a uva Refosco, de excelente combinação entre a mineralidade e o caráter frutado, é a italiana Colli Orientali del Friuli. Para uma boa harmonização, recomendam-se pratos elaborados com carnes de porco e peixes, como salmão e linguado, por exemplo.

Os vinhos elaborados com esse tipo de uva costumam ser consumidos pela população local, dificilmente saindo de sua região de origem. Entretanto, com o crescente interesse dos amantes de vinhos pela região de Friuli, os exemplares que levam a Refosco em sua composição cruzaram o oceano e chamaram a atenção da crítica estadunidense.

Na região fronteiriça da Eslovênia, a uva Refosco é conhecida como Refosk e, após sua colheita, passa por um período prolongado de maceração, fermentação e envelhecimento, resultando em vinhos extremamente ricos e saborosos.

Os aromas e sabores mais frequentemente associados a Refosco são os temperos apimentados escuros e as ameixas, além de uma sensação amendoada no palato, bem como um toque de amargor. O potencial de guarda pode ir de quatro a dez anos. No seu auge, ganha nuances florais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um intenso e profundo vermelho rubi com halos granada, denunciando os seus 15 anos de vida e/ou provavelmente pela passagem por barricas de carvalho, com lágrimas finas, lentas e em média quantidade.

No nariz traz aromas de frutas pretas bem maduras, como ameixa e jabuticaba, bem como frutas secas, com notas amadeiradas, defumadas, de tabaco, couro, estrebaria, com toques terrosos, de terra molhada, folhas secas, revelando complexidade e intensidade.

Na boca é altivo, vivo, volumoso, suculento, mostrando uma ótima evolução com as frutas pretas maduras e secas sendo replicadas como no aspecto olfativo em perfeita sinergia com a madeira que ganha também protagonismo, afinal foram 16 meses em barricas de carvalho, com especiarias picantes, tosta, café, torrefação e um delicioso tom de chocolate meio amargo que lhe confere sabor, tudo isso graças a madeira. Taninos elegantes, domados, com uma acidez instigante, na medida certa com um final persistente, longo.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 15 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e o faço em um tom de celebração, vinho é celebração. Degustar, mais uma vez, um rótulo de um produtor, em sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Vinícola Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. É respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. Obrigado aos deuses do vinho por, mais uma vez, me proporcionar esse momento. Tem 12,6% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/625-refosco

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/refosco

 

 

 

  


 


segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Canceddi Grillo 2019

 

Mais um vinho da série: castas novas para mim! Olha é evidente que há centenas de castas que ainda não degustamos e claro que não teremos vida o suficiente para degustar todas as cepas catalogadas, mas há aquelas que são conhecidas que nunca tivemos acesso, que nunca degustamos, mas há aquelas pouquíssimas conhecidas em nossas terras e que também não são tão populares em suas terras de origem.

E quando vi a casta de hoje sendo ofertado em um famoso aplicativo, em um e-commerce de vendas de vinhos, primeiramente achei o nome inusitado, no mínimo engraçado, porém, depois da reação, veio a curiosidade, decidi buscar a informação sobre a casta.

E com um pouco de dificuldade, pois tinham poucas referências sobre ela na grande rede, encontrei algumas linhas sobre ela que diziam que se assemelhava a minha queridinha Pinot Grigio.

Ah isso já me animou e muito, de cara fiquei animado com a possibilidade de tê-la em minha adega. E o valor neste site de vendas de vinho estava bem atrativo e aproveitei o momento de frete grátis e me pus a adquiri-lo e o fiz!

E a animação não cabia dentro do peito! Decdi que assim que o vinho chegar logo o degustarei. Qual o nome da casta? Falo da casta Grillo! Grillo? Isso mesmo, a casta Grillo! Estou curioso em tê-la em minha taça e de cara, ao desarrolhar a garrafa, já explodia a fruta branca, alguma nota floral e aquela cor límpida e brilhante, um amarelo palha com reflexos esverdeados.

O vinho que degustei e gostei veio da região da Sicília, na Itália, que eu muito gosto, e se chama Canceddi, da casta Grillo e a safra é 2019. Mas não entrarei, ainda, no detalhe do rótulo, mas vou começar como de costume, a gerar linhas históricas da casta Grillo e falar de uma região que eu gosto muito, a Sicília.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sub-regiões da Sicília

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Grillo

Nome engraçado para uma uva. Traduzindo do italiano, pode significar grilo mesmo, o inseto, mas pode significar, também, em sentido figurativo, capricho. Será essa uva um capricho da natureza?

Estudos de DNA mostraram que a Grillo é um cruzamento natural entre as castas Catarrato Bianco e Muscat de Alexandria.

E qual a história da Grillo? Algumas evidências sugerem que essa uva é muito antiga, já utilizada na época da Roma Antiga para elaborar um vinho siciliano chamado Mamertino, que era o preferido, inclusive, do poderoso Júlio César.

Outra versão dos fatos conta que a Grillo seria nativa de Puglia, e teria chegado na Sicília apenas no século 19. O fato é que a Grillo é uma cepa perfeitamente adequada ao clima siciliano, quente e seco.

A cepa Grillo desempenha um importante papel em muitos vinhos da Sicília, principalmente no mais famoso deles, o fortificado Marsala, cuja popularidade não está tão forte atualmente.

Se, por um lado, a Grillo perdeu espaço nos vinhedos sicilianos durante o século 20, quando os altos rendimentos da Catarratto, seduziram os produtores, agora o movimento em busca de maior qualidade tem sinalizado um resgate do interesse pelo cultivo da Grillo.

Trata-se de uma uva com altos níveis de açúcar, com capacidade de naturalmente produzir vinhos de alto teor alcoólico.

Pode produzir perfeitamente vinhos leves e fáceis de beber, com resultados semelhantes, por exemplo, à Pinot Grigio. É capaz de demonstrar toda a sua graça em versões fortificadas como a Marsala. Ou pode simplesmente encantar em vinhos de colheita tardia, que apresentam uma cor dourada que evolui para âmbar, com o passar do tempo.

Os vinhos elaborados da casta Grillo apresentam aromas de frutas cítricas, maçãs, peras e amêndoas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha tendendo para o dourado, devido ao seu reluzente brilho, com algumas lágrimas finas e lentas, denunciando o seu alto teor alcoólico para um vinho branco, 13%.

No nariz exalta a sua exuberância aromática com o protagonismo das notas frutadas, frutas de polpa branca, frutas cítricas, onde se destacam a laranja, pera, maçã-verde, cascas de limão, abacaxi, além de toques florais e minerais dando a sensação de muito frescor e leveza.

Na boca é fresco e leve, mas que entrega, ao mesmo tempo, alguma untuosidade, um discreto amanteigado que mostra certa personalidade ao vinho, um pouco alcoólico sem agredir, com as notas frutadas em evidência, como no aspecto olfativo, ótima acidez, que saliva, arrisco até taninos, discretos, claro e um final longo e persistente.

É um prazer que não se cessa quando se degusta, pela primeira vez, vinhos cujas castas ou regiões não conhecia. E degustar uma casta pouquíssima conhecida em nossas terras e que sequer é popular em sua região, considero esse momento especial. Um vinho simples, com uma proposta direta, mas singular no seu momento em que envolve tantas gratas novidades. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Mandrarossa:

Criada em 1999 graças a um estudo que durou mais de 20 anos, que levou à seleção das melhores combinações variedade/terroir: os habitats ideais que permitem a cada casta expressar plenamente o seu potencial.

Depois de fundar a Marca, fruto de anos de estudos de mapeamento de solos, a pesquisa continuou a ser o fio condutor dos vinhos sicilianos inovadores. No território de Menfi, onde é criada a Mandrarossa, o comportamento de outras variedades foi monitorado em 5 campos experimentais. Intensas atividades de microvinificação foram realizadas levando à introdução de novos vinhos na linha de produtos ao longo do tempo, alguns dos quais únicos para o panorama siciliano.

A ambição de Mandrarossa é grande e, a partir de 2014, uma equipa internacional de enólogos, agrônomos e especialistas em terroir, lançou um importante estudo científico sobre os solos calcários, levando à produção de dois vinhos Contrada.

Sobre a Vinícola Settesoli:                                         

Cantine Settesoli é uma grande cooperativa vinícola siciliana que exporta um grande volume de vinhos de valor sob as classificações Sicilia DOC bem como Terre Siciliane IGT.

A empresa foi fundada em Menfi em 1958 por um grupo de agricultores no momento em que eclodia uma crise econômica na região. Settesoli agora tem mais de 2.000 viticultores membros, com vinhedos totalizando então cerca de 6.500 hectares.

A empresa inicialmente vendia apenas a granel, mas começou a engarrafar seus próprios vinhos em 1974. Settisoli começou a se concentrar em variedades locais como Grecanico, Inzolia e Nero d’Avola, e em seguida, em meados da década de 1980, começaram a plantar variedades importadas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Sauvignon Blanc e Chardonnay.

Settesoli é a linha principal de vinhos varietais, enquanto o rótulo Mandrarossa é a camada superior. Inycon é, de fato, a marca exclusiva para exportação da empresa, lançada em 1999.

Mais informações acesse:

https://www.mandrarossa.it/en

https://www.cantinesettesoli.it/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/854-grillo

 






sábado, 22 de outubro de 2022

Dardines Reserva Garnacha (60%) e Tempranillo (40%) 2015

 

E eu continuo, ferozmente, avidamente, nas minhas novas e excitantes experiências com o que há de mais intenso e complexo no universo dos vinhos e o que ele, claro, pode nos proporcionar. Eu confesso que, ao longo desse período, estou me divertindo muito e além do prazer da degustação que é, obviamente, o principal, tenho imergido fundo nas histórias, no intenso processo de pesquisa. A história é viva e pulsa!

E hoje eu terei o que há mais regional, aquele apelo regional forte, intenso e que traz uma carga histórica indubitavelmente importante de um dos centros vinícolas mais importantes do mundo: a Espanha.

Eu estou, a cada dia, descobrindo a Espanha, claro, por intermédio dos seus mais importantes e emblemáticos rótulos. Essa mesma Espanha que, há alguns anos atrás, tinha dificuldade de trafegar, por conta da baixa oferta que eu tinha, além dos valores altos que eram praticados para a compra.

Talvez o meu leque de opções fosse pequeno, mas o fato que, há cerca de 10 anos, aproximadamente, não tínhamos tantas opções de e-commerce e a consequente competitividade entre elas, ocasionando a baixa de alguns vinhos.

O panorama é outro e favorável! Temos, não só uma boa variedade, como várias camadas de propostas de vinhos, que me deu o luxo, inclusive, de escolher algumas características e me aprofundar nelas, é o caso dos crianzas, reservas e gran reservas espanhóis, tão famosos por serem tão criteriosos e carregarem tais “títulos” com uma real razão de ser.

E além disso, o vinho de hoje traz, claro, uma novidade de região que, até então, desconhecia e que não tem uma entrada tão forte no Brasil como Rioja e Ribera del Duero, por exemplo. Eu, como não me permito ficar restrito às “grifes”, me coloquei em estado de animação pela novidade e não demorei em degusta-lo. E escolhi um rótulo da região catalã de Terra Alta para degustar.

O vinho que degustei e gostei veio da região de Terra Alta, da Catalunha, na Espanha, e se chama Dardines Reserva, composto pelas castas mais famosas daquele país, Garnacha (60%) e Tempranillo (40%) da safra 2015. Como eu havia dito, tal região não é muito famosa e evidentemente pouco se tem de informação, mas, dentro do possível, falemos um pouco da Catalunha e Terra Alta.

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país e que foi formalmente reconhecida em 1999 e também para salvaguardar a tradição de produção de vinho na Catalunha, tão importante há mais de 2.000 anos. Foi criada também com o propósito específico de fornecer suporte comercial para mais de 200 vinícolas (bodegas), mas que não foram incluídos em outros DOP's específicos na Catalunha.

Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Não tem uma localização geográfica específica, mas é formado por mais de 40 km² de vinhedos individuais que estão dispersos por toda a Catalunha e permite a mistura de uvas de outros DOPs, ou seja, cerca de 4.000 hectares de vinha distribuídos por toda a região. De um modo geral, um clima mediterrâneo domina com muitas horas de sol, mas sem calor excessivo.

Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Mais precisamente em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do Cava, produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura.

Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo.

Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

Catalunha

Porém também abrange vinhos brancos, rosés e tintos, bem como licorosos tradicionais, mistela, vinhos maduros e doces naturais. Em geral, os vinhos são modernos e inovadores, com uma cor atraente, intensidade aromática média e acidez moderada. Os brancos são leves e frutados e os tintos são encorpados e equilibrados. Todos estes vinhos podem ser descobertos e experimentados durante a “Mostra de Vinhos i Caves de Cataluña” que acontece em Barcelona em meados de setembro.

Muitos dos vinhos com a Denominação de Origem da Catalunha são encontrados perto de mosteiros que remontam à Idade Média, como os de Montserrat, Santes Creus, Poblet ou Sant Pere de Rodes. Isso se deve ao fato de que em muitos casos os monges eram aqueles que tinham autorizações régias para produzir vinho. Da mesma forma, os vinhos com esta designação podem ser descobertos visitando as caves onde foram produzidos.

Terra Alta

A Denominação de Origem (DO) Terra Alta está localizada no interior, a sudoeste de Tarragona, delimitada por montanhas e pelo rio Ebro. A altitude varia entre 350 e 500 metros.

É formada por novas vinícolas e cooperativas estabelecidas há bastante tempo que cultivam uvas nativas e importadas. Existe um investimento considerável em nova tecnologia. Essa DO consiste em 12 municípios localizados no oeste da Província de Tarragona.

DO Terra Alta

Como o nome da área indica, está situada numa encosta de grande beleza, usado por Picasso em suas obras quando passava os verões nessa região.

Devido ao seu isolamento geográfico, essa área primeiramente produzia vinho somente para o mercado interno, que continua a preservar o método tradicional de produção de vinho.

Ao mesmo tempo, pequenas vinícolas privadas e grandes cooperativas estão também produzindo excelentes vinhos tintos com características do Mediterrâneo. Seu clima é mediterrâneo com influências continentais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi profundo com halos violáceos, reluzentes com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz apresenta discretos aromas de frutas vermelhas e pretas maduras com notas amadeiradas, devido a passagem por 12 meses em barricas de carvalho, além de especiarias, como noz-moscada e cravo.

Na boca é aveludado, mas estruturado, evidenciado por um paladar guloso, cheio, sendo equilibrado e redondo. Traz taninos presentes, até com alguma adstringência, mas sem agredir, com acidez baixa, as notas amadeiradas mais evidentes que entregam baunilha, couro e tabaco com um final persistente.

“A safra 2015 foi classificada como uma boa safra, com poucas chuvas durante a primavera e verão. Os vinhedos da vinícola são vinhas velhas de variedades nativas, que costumavam sofrer estresse hídrico, que dá às uvas uma grande qualidade, a concentração de polifenóis”.

Esse fragmento foi retirado do site de vendas do vinho, onde tem exclusividade aqui no Brasil e ter esses detalhes do vinho, que fala da vindima, que passa pela vinificação até chegar à mesa do enófilo, traz a contundência da verdade do rótulo, a expressão do terroir, o que se convenciona “tipicidade”. É o que o vinho, dentro de suas propostas, traz: um vinho de marcante personalidade, de alguma complexidade aromática e, mesmo com algum tempo de garrafa, 7 anos, mostra vivacidade e plenitude, mostrando o que há de melhor na Espanha. Um belo vinho, um blend arrebatador das castas mais emblemáticas do país ibérico. E isso se corrobora com o trabalho, o projeto da Vinícola Reserva de la Tierra da “produção partilhada” conhecida como “Winemakers e Winelovers” que consiste na participação dos enófilos que escolhem as diferentes opções de parcelas que estão sendo vinificadas, sendo engarrafados os vinhos escolhidos pelos “Winelovers”. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Reserva de la Tierra:

A Reserva de la Tierra faz parte deste maravilhoso mundo do vinho há mais de 60 anos. Os primeiros passos foram dados em San Rafael, província de Mendoza, na República Argentina. Foi naquelas terras tão distantes, e ao mesmo tempo tão caras aos emigrantes espanhóis, que os primeiros vinhos foram feitos com muito entusiasmo, tenacidade e muito esforço.

Anos depois, já com uma grande experiência acumulada, o Grupo fixou-se em Espanha, atrás de um novo sonho. Daquele momento até hoje, o Reserva de la Tierra não parou um momento de trabalhar, da tradição à inovação em cada uma das iniciativas do Grupo.

Hoje a empresa é admirada e respeitada em todo o mundo por sua constante adaptação às mudanças, sua visão inovadora e seu respeito por trabalhar em harmonia com o meio ambiente. Menção especial deve ser feita aos valores em relação às pessoas que fazem parte desta grande família. A honestidade é especialmente valorizada e acima de tudo a atitude empreendedora.

Com paixão, esforço e dedicação constante, Reserva de la Tierra vem cumprindo todas as expectativas. As vinhas, as adegas, os vinhos, nada mais são do que sonhos realizados.

“Winemakers e Winelovers” – conceito e filosofia

Na Reserva de la Tierra há uma visão diferente do mundo do vinho, partilhada, mais social e mais próxima de todos.

Para Reserva de la Tierra cada vinho é concebido com paixão como a união entre dois mundos: Enólogos e Enólogos. Cria-se vinhos com pessoas, abraçando uma filosofia de trabalho ao mesmo nível que se distingue dos restantes.

Os enólogos selecionam as melhores cepas e terroirs para fazer os vinhos mais especiais. Mas o mais importante é que grupos muito variados de apreciadores de vinho participem desse processo, degustando diferentes opções de variedades. Após este processo, engarrafa-se apenas o vinho selecionado pelos Winelovers, conseguindo assim vinhos com uma identidade única.

Mais informações acessem:

https://www.reservadelatierra.com/

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/catalunha

“Catalunya.com”: https://www.catalunya.com/do-catalunya-23-1-43?language=en

“Wikipedia”: https://en.wikipedia.org/wiki/Catalunya_(DO)

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/regioes-117-Terra-Alta

“Wine”: https://www.wine.com.br/vinhos/dardines-reserva-d-o-terra-alta-2015/prod27301.html






sábado, 15 de outubro de 2022

Vinha Solo Zênite 2009

 

Como mensurar o ápice em uma degustação de vinhos? Será que seria tão simples responder dizendo que é a degustação propriamente dita? Será que podemos mensurar, detalhar o motivo pelo qual chegamos ao cume da degustação?

Eu trago a alegria verbalizada, textualizada, dos meus ápices de degustação. As experiências sensoriais se materializam em minha voz e nos meus singelos textos, mas todos carregados da minha mais completa e incorruptível verdade.

Regiões, castas, propostas e características mais peculiares dão voz e reações aos momentos mais sublimes das degustações. E tem sido, atualmente, uma torrente de grandes emoções! Algumas sensações novas, alguns auges importantes pelo simples fato da novidade.

A novidade que, por sorte, tem se revelado relevantes e consistentes, com degustações soberbas, lindas e arrebatadoras. Degustação é vida, é saúde! E quando sabemos o que degustamos, torna-se indubitavelmente especial.

O rótulo que eu escolhi traz um misto de tantas emoções gratificantes que tenho vivido ultimamente no universo do vinho que, juntos, conspiraram para o tal momento sublime, para o tão falado ápice.

A começar que se trata de um vinho com “certa idade”! Aqui o tempo, a idade parece contar positivamente e se torna um privilégio degustar vinhos que resistem ao tempo e com qualidade, expressando ainda toda a sua tipicidade, a realidade de seu terroir. Depois o corte, o blend que é um verdadeiro clássico: o bordalês, que é simplesmente o meu favorito e depois a característica, de um vinho natural, sem o mínimo de intervenção humana.

Uma soma de fatores que nos colocam em um pedestal, não travestido de arrogância ou indulgência, mas de um estado de prazer, de celebração, de ápice. Eu estou, insistentemente, mencionando “auge”, “ápice” e derivados porque o nome do vinho nos remete a isso, nos remete ao auge de se degustar um vinho ou “o” vinho, alheio a questões científicas.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Serra Gaúcha, no Brasil, em um local chamado Fazenda Souza, e se chama Zênite, um corte das castas Merlot (70%), Cabernet Sauvignon (20%) e Cabernet Franc (10%) da safra 2009. Lembrando que tive um “estágio anterior” de auge quando degustei o Vinha Solo Cabernet Sauvignon 2009. Vamos às histórias então!

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Vêneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar. 

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Fazenda Souza, Caxias do Sul

O primeiro nome dado à localidade onde hoje é Fazenda Souza foi Pouso Alto, utilizado bem antes da chegada de imigrantes o que comprova a exploração do local em data anterior a 1760, época do Brasil Colônia.

Nesta época muitos tropeiros passavam com seus cargueiros pelo local e costumeiramente instalavam-se na pousada de Inácio Souza Corrêa. Este, por sua vez, foi soldado da Guarda de Santo Antônio da Patrulha, conseguindo adquirir terras com suas economias e dedicando-se a criação de mulas. Anos depois, ao mudar-se para Uruguaiana, vendeu a colônia Pouso Alto a Inácio Ribeiro. Na venda das terras, realizada em 1º de setembro de 1790, a Colônia foi batizada de Fazenda Souza, assim chamada até hoje.

Fazenda Souza

Os primeiros italianos se estabeleceram nestas terras no ano de 1880, vindos da cidade de Feltre, na Itália. Como a região era rica em matas de araucárias, a exploração de madeira expandiu-se, fazendo com que surgissem as primeiras serrarias. Por volta de 1895, como a localidade já estava desmatada, as famílias de imigrantes acabaram desenvolvendo a criação de gado para leite e corte.

Antigamente, assim como Criúva, Fazenda Souza pertencia à cidade de São Francisco de Paula. Hoje, é um distrito de Caxias do Sul e está localizado a 18 km da sede administrativa municipal. Sua principal referência é o Instituto Leonardo Murialdo, conhecido como o Seminário de Fazenda Souza, onde encontram-se os restos mortais do Padre João Schiavo.

Este sacerdote veio da Itália no ano de 1931 e estabeleceu-se no Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, trabalhou em diversas comunidades como as de Galópolis, Ana Rech e Fazenda Souza. Por meio de seus esforços foram fundados o Instituto Leonardo Murialdo e a Instituição Abrigo de Menores São José.

Sua economia se baseia nos hortifrutigranjeiros, com destaque para as culturas de maçã, pêssego, caqui e ameixa, além da apicultura e piscicultura. Porém vem se descobrindo na vitivinicultura, apesar de ser ainda embrionário, se destacando algumas vinícolas, como a própria Vinha Solo com os seus atuais 47 hectares.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho com entornos granada, atijolados, denunciando os seus 13 anos de garrafa, mas com algum brilho denotando alguma vivacidade, com lágrimas finas, lentas e em abundância.

No nariz os aromas de evolução já se desenham apresentando notas de frutas vermelhas maduras e em compota como cereja, groselha e morango, com frutos secos como avelã, além de especiarias trazendo pimenta e pimentão tudo envolto em uma incrível complexidade com toques de couro e terra molhada.

Na boca é seco, com alguma estrutura, mostrando um bom volume de boca, mas muito aveludado e elegante, graças a composição de seu blend e o tempo de vida. As frutas vermelhas maduras ganham uma parcela de protagonismo, entregando vivacidade ao vinho, bem como os seus taninos que ainda é marcante, mas contidos, com uma acidez média. O seu final, persistente, corrobora a sua plenitude.

“Zênite” é a linha imaginária que parte do observador e sempre aponta para o ponto mais elevado da abóbada celeste. E o título sintetiza o momento, a importância e o privilégio de degustar um vinho com 13 anos de vida e ainda pleno, intenso, complexo e com muita vida para oferecer. Assim é estar no ápice, sem parecer arrogante e indulgente, mas na simplicidade da degustação se contempla o apogeu. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinha Solo:

Dois amigos desejavam produzir vinhos naturais. A ideia amadureceu como um bom vinho. O arquiteto Milton Scola e o empresário Raimundo Demore escolheram uma preciosa área no norte de Caxias do Sul, no distrito de Fazenda Souza.

Ali implantaram 20 hectares de vinhedos com mudas trazidas da Itália aproveitando as peculiares características do solo de transição das encostas e dos campos de cima da Serra Gaúcha.

Então nasceu a Vinha Solo já com a missão de elaborar vinhos de altíssima qualidade com a mínima intervenção humana possível. Assim os vinhos são lapidados em seu estado natural mesclando a excelência dos frutos da vinha com as nuances de uma fermentação espontânea.

Os vinhos da Vinha Solo são a demonstração do terroir onde solo, clima, conhecimento e trabalho no manejo dos vinhedos são traduzidos em cada uma das garrafas.

A localidade de Fazenda Souza tem uma altitude que chega a 890 metros e onde os ventos são generosos. O solo de estrutura argiloarenosa mantém uma vegetação natural rasteira em equilíbrio com um regime de chuvas moderado, permitindo uma prática cultural da vinha com pouca intervenção.

Isso propicia que muitas espécies locais de animais como quero-queros, pardais, andorinhas, curicacas, lagartos entre outros vivam em harmonia formando uma bonita biodiversidade.

Mais informações acesse:

https://www.vinhasolo.com.br/


Referências:

“Caxias do Sul”: https://caxias.rs.gov.br/noticias/2022/07/fazenda-souza-retoma-a-festa-do-agricultor

“Vinhos e Vinhos”: https://www.vinhosevinhos.com/vinha-solo-cabernet-sauvignon-2009.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

 


quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Frank Lorena

 

Quem não começou no universo dos vinhos, aqui no Brasil, em especial, por intermédio das famosas uvas de mesa, com os vinhos de mesa que atire a primeira pedra. Os vinhos coloniais, aqueles vinhos de garrafão. Pois é o ritual de iniciação por intermédio desses vinhos não é tão somente uma questão de escolha, mas uma necessidade financeira também, afinal os vinhos são mais baratos em relação aos produzidos com uvas vitis viníferas.

Lembro-me como se fora ontem, embora já tenha mais de 20 anos que fiz que a minha “transição” para as uvas de mesa e uvas finas, quando disse que não retornaria mais com as degustações dos vinhos de uvas americanas, com o argumento de que estava em uma franca evolução na degustação dos vinhos.

Mas olhando um pouco mais de carinho para os vinhos de mesa, observando alguns rótulos, de alguns produtores percebi que, com o advento da tecnologia nas vinificações, alguns vinhos de tal proposta vêm ganhando em qualidade e o leque de opções vem se diversificando também, com vinhos que passam por barricas de carvalho, alguns sendo produzidos sob o conceito orgânico etc.

E com esse “boom” tecnológico nos “pátios” de vinificação dos produtores com um maciço investimento em tecnologia alguns rótulos, algumas castas vêm ganhando alguma repercussão, algum destaque e mesmo tendo tido uma experiência razoável com tais vinhos no passado, ainda há espaço para novidades, afinal, como sempre costumo dizer, o universo dos vinhos e vasto e inexplorado, para o nosso deleite.

Eu recebi recentemente do amigo de São Paulo, o Luciano Feliputti, dono do site “Pemarcano Vinhos”, especializado na venda de vinhos artesanais e de pequenos produtores um rótulo de uma casta chamada “Lorena”. Sempre ouvi falar dessa variedade, mas nunca degustei e confesso que nunca me interessei, pelo fato de não me interessar por rótulos cujas uvas são de mesa.

Mas aquela típica curiosidade que tem me norteado ao longo desses últimos tempos foi mais forte e se transformou em interessante e claro, jamais vou recusar um presente de um amigo que foi dado com muito carinho. Claro que me pus a degustar e, evidente, conhecer algo mais sobre a história dessa casta genuinamente brasileira.

E não é que ela, a delicada Lorena me surpreendeu?! Sim, uma casta saborosa, leve, fresca e levemente frisante! Uma variedade que definitivamente traz o DNA brasileiro em todos os sentidos. O vinho que degustei e gostei foi produzido em São Roque, São Paulo e se chama Frank da casta Lorena e não é safrado. Para não perder o costume vamos às histórias de São Roque e da variedade Lorena.

São Roque: a terra do vinho

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Lorena

A “BRS UV 127 31”, mais conhecida como “BRS Lorena”, foi obtida do cruzamento entre as cultivares Malvasia Bianca e Seyval. É indicada para a elaboração de vinhos brancos de mesa aromáticos e frisantes. Plenamente adaptada às condições ambientais do sul do Brasil, possui alta produtividade (25-30 t/ha) e vigor moderado.

O fato de o Brasil ser tradicionalmente conhecido por ter o clima ideal para a produção das castas americanas, por conta da umidade, mas apresentar dificuldades no desenvolvimento das uvas finas, motivou a Embrapa, desde os anos 1980, a atuar na adequação de variedades. Por meio de melhoramento genético, passou a cruzar uvas europeias e americanas como alternativa de qualidade dentro da realidade climática do Brasil.

Lorena

Com o Programa de Melhoramento Genético da Embrapa Uva e Vinho, a empresa detectou que havia uma carência no Rio Grande do Sul de brancas que cumprissem três requisitos: resistência às pragas e doenças (ótima para agricultura orgânica), alta produtividade e potencial enológico para vinhos de boa qualidade.

Foi daí que surgiu a BRS Lorena, de fácil vinificação, com elevada produtividade. É indicada para a elaboração de vinhos brancos de mesa aromáticos, com vigor moderado, boa relação entre doçura e acidez e boa intensidade no paladar, além de apresentar muitas frutas brancas, como pera e pêssego e baixa acidez.

Regulamentação brasileira

De acordo com a legislação brasileira, por ser uma híbrida, o vinho resultante não é considerado “fino”, mas “de mesa”, muito embora com relação ao sabor e aroma alguns especialistas garantam que tenha qualidade comparada às Vitis viniferas.

Se misturar com outras variedades finas, às cegas, não se detecta que tem Lorena, mas desenvolver um híbrido é um processo longo e criterioso, que leva cerca de 15 anos, desde o cruzamento, que ocorreu em 1986, até os testes no campo, tendo a Lorena sido lançada oficialmente em 2001.

Descobriu-se, nesse processo, uma uva versátil, que pode ser colhida um pouco antes da maturação completa para fazer moscatel espumante; no ponto ideal para branco tranquilo; e na maturação completa para a produção de licoroso.

Presta-se à elaboração de varietais e de vinhos de assemblage, entre eles cortes com Semillon e Riesling Itálico. A variedade foi pensada para a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, mas, como mostrou um resultado muito bom no campo, a ótima publicidade auxiliou na expansão de seu cultivo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um amarelo palha, límpido, brilhante com reflexos esverdeados e uma pequena aparição de lágrimas finas e ligeiras.

No nariz tem uma baixa intensidade aromática, porém, ainda assim sentem-se as notas frutadas, de frutas brancas, cítricas e tropicais, com um delicado frescor.

Na boca é leve, um agradável frescor, com as frutas mais evidentes, em relação ao aspecto olfativo, com um discreto residual de açúcar, acidez refrescante, média e um final frutado.

Incrível os predicados da Lorena, surpreendente ter degustado, pela primeira vez, uma casta brasileira, simples, sim, mas muito especial, delicada, aromática e muito frutada. Embora apresente, para muitos, o habitual para variedades brancas, ainda assim traz prazer, alegria ao degustar e isso sim é o mais importante, o mais significativo no ato de degustar. Frank Lorena é solar, agradável e muito despretensioso, que incita a harmonização com comidas leves ou apenas uma salutar conversa com bons amigos ou sozinho em uma tarde ensolarada. Delicioso! Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Frank:

Tudo começou há 97 anos com seu pai o Sr. Roque de Oliveira Santos que passou todas as suas experiências e habilidades para o Sr. Frank Vicente dos Santos.

No sitio da sua família deu continuidade no parreiral e no cultivo de uvas e se especializou na vitivinicultura que hoje conta com uma experiência de mais de 60 anos.

Casou-se com a Sra. Ferdinanda, uma imigrante italiana que veio para o Brasil na segunda guerra mundial e teve duas filhas onde tocam seus negócios até hoje.

Em 1965 fundou a marca que levaria seu nome, conhecida por VINHOS FRANK, que com muito trabalho, dedicação e amor tornou-se uma marca muito conhecida em todo Brasil por manter suas qualidades desde o primeiro litro de vinho até hoje.

Hoje a marca conta com 07 linhas de produtos, são elas: Tradicional, Bordô, varietais, frisante, espumante, cooler e suco de uva.

Toda sua produção continua sendo supervisionada e orientada pelo Sr. Frank que hoje tem 95 anos de vida e toma seu vinho todos os dias.

A marca "Vinhos Frank” nos meados de 1990 inaugurou seu restaurante que está sendo um dos principais atrativos, contando com um ótimo cardápio, com muitas variedades de pratos, sendo harmonizados com a linha de vinhos FRANK.

Mais informações acesse:

https://www.vinhosfrank.com/

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2022/01/hibrida-nobre/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/6396/uva-brs-lorena-uv-127-31