domingo, 13 de novembro de 2022

Partridge Reserva Pinot Noir 2019

 

Quando a gente fala em terroir, a gente fala, até demasiadamente, confesso, em regiões, nos seus climas, nas suas estruturas geológicas, não é em vão ou para impressionar aquele que nos ouve, aquele que lê os textos, mas para fomentar as nossas identificações dos vinhos e de algumas castas com as suas particularidades das regiões.

Por que digo isso? Embora determinadas castas tenham as suas características essenciais, em comum, há particularidades que, tipicidades que só o terroir pode conferir ao vinho, além é claro de alguns processos de vinificação, a famosa intervenção humana.

Então atualmente tenho percebido e valorizado a questão do terroir para o vinho, afinal são questões que não devem ser dissociadas nem um pouco. Claro e evidente que algumas pessoas não se apagam a essas questões, até porque o tema é complexo e, por vezes, difícil de assimilar, mas entender minimamente a influência da terra e do clima no vinho é, penso, de suma importância.

E aprendi ou pelo menos estou aprendendo a “exercitar” essas questões para as percepções dos vinhos que degustamos e observei, ou melhor, senti isso na casta Pinot Noir.

A Pinot Noir é conhecida pela delicadeza e dificuldade de se cultivar em determinados climas. Mas diante de algumas degustações realizadas de rótulos com essa casta em alguns centros de produção vitivinícola do Velho Mundo, como França, por exemplo, até mesmo a Alemanha, bem como no Novo Mundo, como Brasil, Chile, Argentina, Nova Zelândia, percebi algumas nuances bem interessantes.

Os “Pinots” do Velho Mundo me entregaram leveza, delicadeza, muita fruta, já os vinhos do Novo Mundo, sobretudo da Argentina e Nova Zelândia se percebe um Pinot Noir mais intenso, mais robusto, mais complexo e esses últimos muito me agradaram.

Hoje desenvolvi um forte interesse e predileção pelos “Pinots” da Nova Zelândia e principalmente da Argentina, que são mais encorpados e marcantes. Claro que há rótulos dessa cepa na França, por exemplo, complexos e que gozam de longevidade, inclusive, mas os argentinos, de Mendoza, me ganharam definitivamente.

Não degustei tantos ainda, infelizmente, mas os poucos a que tive acesso, me surpreenderam nesse sentido, ou seja, de entregarem vinhos volumosos, encorpados e de boa complexidade o que não é muito comum, em rótulos de Pinot Noir no Brasil, por exemplo.

Então, dessa vez, me pus a experimentar mais um rótulo de Pinot Noir mendocino e com uma passagem por 12 meses em barricas de carvalho o que, para mim, é uma novidade! Nunca havia degustado um Pinot Noir com um tempo tão longo em barricas! Então a experiência, creio, será válida por mais um motivo!

E o vinho que escolhi traz um custo extremamente atrativo e vem atingindo em cheio os paladares brasileiros com vendas bem expressivas, claro que o referido custo é determinante, mas os vinhos também trazem qualidade e tipicidade. Falo da linha “Partridge” da vinícola Las Perdices. Inclusive eu degustei o Partridge Reserva Cabernet Sauvignon 2019 e me surpreendeu positivamente!

E dessa vez o vinho que degustei e gostei é o Partridge Reserva Pinot Noir da safra 2019, da região emblemática argentina, Mendoza. O vinho definitivamente entrega o terroir da região, mas não falarei, pelo menos ainda, do vinho, mas de Mendoza.

Quando falamos em Mendoza, na Argentina, em vinhos argentinos encorpados, estruturados, com complexidade, lembramos, associamos imediatamente na grande Malbec, na Cabernet Sauvignon, mas também não podemos esquecer da Pinot Noir, embora não tenha a fama e a representatividade das anteriores.

Tais castas encontraram no solo andino as condições perfeitas para crescer, um novo e já tradicional terroir argentino, de Mendoza para uma cepa francesa. E já que falamos em tradição e do solo argentino, a produção e consumo de vinhos na terra dos hermanos tornou-se tradicional há aproximadamente duzentos anos. Mas a história do cultivo da uva e da produção vinícola no país do extremo sul da América começou já com os colonizadores espanhóis no século XVI.

Devido às ótimas condições de clima e solo da região andina, não demorou para que os vinhedos se desenvolvessem, mesmo que de forma rudimentar, logo no período colonial. Foi a partir dos sacerdotes da igreja católica que a vitivinicultura se iniciou na Argentina: os jesuítas produziam em seus monastérios o vinho necessário para a celebração de suas missas.

No século XIX, com a chegada maciça dos imigrantes europeus na região, algumas novas técnicas de cultivo foram implantadas, e, no mesmo passo, a variedade de uvas também aumentou, diversificando os tipos de vinhos e elevando a produção de vinho na região a um novo patamar. Castas de uvas como Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Chenin Blanc vieram junto com esses imigrantes e deram maior qualidade aos vinhos argentinos.

A região mais tradicional de produção vinícola na Argentina é a província de Mendoza, no oeste do país, responsável por mais da metade da produção nacional. Foi nessa região que em 1534 que as primeiras videiras no país foram plantadas, e partir de lá que o cultivo da uva se espalhou para as outras regiões da Argentina. O Padre Cidrón e o fundador da província de Mendoza, Juan Jufré, foram os responsáveis pela primeira plantação de videiras na Argentina, no séc. XVI. Fonte: Clube dos Vinhos em: Argentina e seu perfeito solo andino.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com algum intensidade, atípico para um Pinot Noir, com tonalidades violáceas, diria roxas, com lágrimas finas e em média quantidade.

No nariz a profusão de frutas vermelhas, tais como morango, cerejas e framboesas, talvez um quê de frutas maduras, com um delicado e agradável toque floral, além de notas de pimenta preta, tabaco, especiarias, talvez em virtude da passagem por carvalho durante 12 meses, embora não tenha percebido as notas amadeiradas.

Na boca o frescor e a elegância, típica da casta, se faz perceber, graças também as notas frutadas que protagonizam, como no aspecto olfativo, mas com um pouco de complexidade, pois só nota a madeira, a baunilha, o toque mentolado, conferindo-lhe também alguma estrutura, com taninos contidos e elegantes, com uma ótima acidez que corrobora a sua frescura. Tem um final curto e de retrogosto frutado.

Falamos de terroir demasiadamente, de tipicidade, um assunto, um tema tão complexo, tão interminável, com tantos “microclimas” dentro de uma região, parece que, mesmo diante de nossa incapacidade enciclopédica do assunto, parece que quando degustamos um Pinot Noir argentino, em especial, percebemos as nuances de um vinho produzido em Mendoza desta casta. O Partridge Reserva entrega com fidelidade, com, olha a palavra de novo, TIPICIDADE. Essas impressões, as experiências sensoriais se tornam tão aguçadas que quando, às vezes, falta a questão técnica sobre o entendimento do terroir, nos sobra os sentidos, o que já é, claro, relevante. Percebi que uma das filosofias da Viña Las Perdices, produtor responsável pela linha “Partridge”, é de que os vinhos têm de maturar em barricas de carvalho, tendo o aporte da madeira, sendo incorporados ao vinho, conferindo-lhe estrutura e complexidade o que esse rótulo garante, mas nunca mascarando as características essenciais da Pinot Noir, sendo um vinho frutado, saboroso, potente, robusto, mas equilibrado e harmonioso: a sinergia perfeita. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Las Perdices:

Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal, Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na Argentina, a fim de buscar novos horizontes.

Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas aves geralmente são vistas em grupos de três.

Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim, ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.

A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.

A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo, as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e Barancas em Maipu.

Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos de Mendoza.

Sobre a Partridge Vineyard:

A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.

A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o perfil dos rótulos:Partridge Flying, Partridge Reserva, Partridge Gran Reserva e Partridge Selección de Barricas.

A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em carvalho, garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de Barricas, conta com exemplares de alta gama.

Mais informações acesse:

https://www.lasperdices.com/index.php

Referências:

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vinhos-las-perdices-o-melhor-do-terroir-argentino/

“Clube de Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/argentina-e-seu-perfeito-solo-andino/

“Vinho Vida Viagem”: https://vinhovidaviagem.com.br/enoturismo-em-mendoza-argentina/

“Clube dos Vinhos”: (https://www.clubedosvinhos.com.br/argentina-e-seu-perfeito-solo-andino/

 

 

 



 


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Castelo de Borba Antão Vaz 2020

 

O raio não cai duas vezes no mesmo lugar! Lembra daquele ditado tão popular entre nós? Eu pergunto: Será que realmente não cai duas vezes no mesmo lugar? Não acredito que essa frase seja regra no universo dos vinhos e acho que não deveria, dada, claro, as devidas proporções.

Não vejo nenhum problema em degustar, mais de uma vez, o mesmo rótulo, seja a mesma safra ou safras distintas, sobretudo a segunda opção, haja vista que embora o rótulo traga a mesma casta, seja a mesma linha de rótulos, algumas peculiaridades podem ser percebidas nos vinhos, porque temos a influência do clima, do tempo interferindo no produto final, o nosso bom e velho vinho.

E quando falo em devidas proporções, a repetição de degustação de um mesmo rótulo, embora seja safra diferente, pode acarretar na temida e silenciosa zona de conforto. Afinal temos uma gama tão grande de opções, propostas de vinhos que seria no mínimo leviano da nossa parte, nos permitir degustar outros rótulos e expandir as nossas experiências sensoriais.

E decidi levar a repetição a ferro e fogo um vinho que degustei recentemente da minha querida e preferida região lusitana do Alentejo e de uma casta que é típica da região. Uma variedade que, se a ciência derrubar a máxima, só existe no Alentejo: falo da branca mais famosa da região, a Antão Vaz.

E não é só o privilégio e a honra de degustar a Antão Vaz, mas também por um laço afetivo que me une ao Alentejo. Nunca estive na região, mas foi graças aos seus vinhos que os vinhos portugueses entraram na minha vida. Não poderia ter começado da melhor forma!

Então sem mais delongas vamos às apresentações da minha segunda experiência com esse rótulo. Falo do Castelo d’Borba da casta Antão Vaz (100%) da safra 2020. Havia degustado o mesmo vinho da safra 2018, cuja resenha pode ser lida aqui, em 2022. Com quatro anos de garrafa me parecia que estava em algum declínio, mas ainda palatável. As notas frutadas, a acidez, características de quando um branco com essa proposta, ainda é jovem, não estava tão perceptível.

Então decidi, ainda degustando o da safra 2018, comprar o mesmo vinho de uma safra distinta e não levar tanto tempo para fazer o exercício das comparações entre as duas safras, tendo em vista o tempo em que cada um deles foram degustados. Porém antes de tecer tais comentários, falemos um pouco da Antão Vaz e da grande região alentejana.

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.


Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.


Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses! A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até há poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente, foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

Antônio Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

Antão Vaz

A uva Antão Vaz é uma das variedades brancas de Portugal e é cultivada principalmente em torno da região do Alentejo, com clima quente e seco. É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo.

É uma das mais importantes da região, considerada o orgulho branco do Alentejo. A variedade é utilizada por inúmeros produtores, visto que se adapta e consegue expressar muito bem suas características no terroir de Alentejo. Os bagos da Antão Vaz são bem agrupadas e apresentam pele espessa, aumentando sua resistência contra doenças, bem como em regiões de seca.

Assim como a uva Chardonnay, a Antão Vaz é uma variedade extremamente versátil, dando origem a diferentes estilos de vinho. O tempo da colheita é um importante fator nesse contexto: se as bagas forem colhidas mais cedo, os vinhos originados apresentarão notas cítricas e boa acidez; se deixadas na videira por mais tempo, dão origem a exemplares com excelente capacidade de envelhecimento. De um modo geral, a Antão Vaz gera vinhos com notas cítricas e de frutas tropicais maduras, além de toques minerais (às vezes, alguma salinidade).

A maior parte dos vinhos são produzidos para consumo imediato, no entanto, alguns dos melhores vinhos Antão Vaz podem ser envelhecidos durante anos, permitindo que as notas e aromas florais evoluam da melhor maneira, tornando-se exemplares complexos e únicos.

Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados. Os vinhos estremes anunciam aromas exuberantes, com notas de fruta tropical madura, casca de tangerina e sugestões minerais, estruturados e densos no corpo. A uva Antão Vaz também é permitida na elaboração dos vinhos do Porto brancos.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha límpido e brilhante com discretos tons esverdeados e algumas concentrações de lágrimas finas e razoavelmente lentas.

No nariz é extremamente aromático e com destaque para as frutas brancas, tropicais, tais como limão, pera, abacaxi, maracujá e frutos amarelos maduros como pêssego, com delicados toques florais, que traz uma agradável sensação de frescor e um ligeiro especiado, talvez, com um quê de mineralidade.

Na boca é fresco, leve e cativante, sobretudo pelo aspecto frutado que protagoniza como no quesito olfativo. Tem marcante personalidade, é volumoso, cheio e suculento, por ser também alcoólico, mas sem agredir ao palato, mostrando-se equilibrado. Tem ótima acidez que saliva e um final longo e persistente com retrogosto frutado.

É notável a diferença entre os rótulos! Não tão somente pelas safras, que também pode ser predominante para as características dos vinhos, mas também pelo tempo em que cada um foi degustado: o primeiro levou quatro anos na garrafa e o segundo apenas dois anos! Mas ainda assim não esconde uma característica bem comum aos dois rótulos: vinho maduro, com aquelas frutas brancas maduras que lhe confere a já personalidade que precede os rótulos do velho Alentejo, que de velho nada tem, pois nos entregam vinhos contemporâneos que inundam as taças mais versáteis, dos que gozam de uma vasta litragem, os exigentes e aqueles que se aventuram a pouco tempo no universo cativante do vinho. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Borba:

Fundada em 1955, as raízes da Adega de Borba remontam a um passado ainda mais longínquo no qual Portugal não era considerado reino.

A vinha está presente no Alentejo há mais de 3.000 anos. Foi a partir do século XVIII que a produção de vinho em Borba floresceu, contribuindo para um acentuado crescimento econômico e social da região. Desde então, vários acontecimentos marcaram o setor vitivinícola: uns de forma positiva, como a implementação de técnicas mais modernas de produção, e outros de forma negativa, nomeadamente a destruição provocada pela Guerra da Restauração e Invasões Napoleônicas.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares.

Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Independentemente destas oscilações, a importância da vinha em Borba nunca se dissipou e foi sempre a grande cultura agrícola da região.

Já nessa época existia uma produção pulverizada em pequenas adegas tradicionais, com talhas, ocupando parte de inúmeras casas de habitação dispersas pelas vilas e lugares. Era esta a realidade quando, no dia 24 de abril de 1955, um conjunto de produtores insatisfeitos com as condições que eram praticadas no mercado controlado por “intermediários” em termos de preços e margens, cientes da necessidade de ganharem escala e massa crítica para investirem em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes, decidiu unir-se para fundar a Adega Cooperativa de Borba.

Mais informações acesse:

https://adegaborba.pt/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/antao-vaz

“Vinha”: https://www.vinha.pt/wikivinha/section/casta-vinho/antao-vaz/

“Soul Wines”: https://www.soulwines.com.br/uvas-de-vinhos/antao-vaz

“Mesa Completa”: https://www.mesacompleta.com.br/descubra-a-antao-vaz/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

 

 
















quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Conde de Cantanhede Seleção do Enólogo tinto 2020

 

Quando eu conheci a região emblemática portuguesa da Bairrada, por intermédio de um programa de televisão, e dos seus singulares vinhos, eu logo pensei: Acho que nunca irei degustar tais vinhos! Fui taxativo! Mas que bom que cometi um grande erro!

Logo que eu descobri essa região e me coloquei a pesquisar sobre seus rótulos, foi inevitável que o “conteúdo” descortinou para o produtor e enólogo Luis Pato e seus importantes, mas caros vinhos na triste realidade do mercado brasileiro.

O homem “desbravou” a região e domou a sua casta mais conhecida, a Baga. Acho que com esse “cartão de entrada” já vale o vinho, mas, como, a taxa cambial e os impostos no Brasil são altos, bem como a ganância de alguns revendedores, o valor final do vinho vai à estratosfera.

Mas ainda há esperanças para degustar alguns bons e surpreendentes vinhos bairradinos e esses vinhos vem da Adega de Cantanhede. Vinhos de cooperativa costumam ter uma ótima relação custo X benefício! Sim, tem! Embora surja uma corrente depreciativa que professa que os vinhos cooperativados são ruins. O que dizer então da Aurora, Garibaldi aqui no Brasil? Vinhos de cooperativa e que recebem prêmios atrás de prêmios.

Quando descobri a Adega de Cantanhede vislumbrei a possibilidade de ter os primeiros contatos com a Bairrada! E tive! “Marquês de Marialva”, “Moinho de Sula” são uns exemplos reais de linhas de vinhos da Bairrada e Beira Atlântico que é acessível a diversos “bolsos”.

E hoje a minha humilde adega dispõe de uma satisfatória, pelo menos para a minha realidade, quantidade de vinhos da Bairrada e isso muito me orgulha e me alegra, afinal há luz no fim do túnel para que a Bairrada possa adentrar os nossos lares e figure na nossa mesa e taça.

E hoje estreio mais uma linha de rótulos da Adega de Cantanhede, talvez uma de suas mais conhecidas linhas: A Conde de Cantanhede. E é sempre especial porque se trata de um tinto e como tal tem de carregar a sua mais famosa cepa: Baga! E Baga valoriza o vinho, traz a concepção de longevidade e complexidade ao rótulo. E a ansiedade não cabe no peito de degustar mais um rótulo deste grande produtor.

Eu já tinha degustado um, claro, surpreendente rosé dessa linha que, embora básico, revelou ser muito bom, o Conde de Cantanhede Baga, que comprei, pasmem, por R$19,99!

E agora a versão tinta que carrega a “Seleção do Enólogo”! Pois é, parece ser algo bom, no mínimo interessante. Me pus a degusta-lo logo, sem delongas. O vinho que degustei e gostei se chama Conde de Cantanhede Seleção do Enólogo das castas Baga (50%), Aragonez (30%) e Touriga Nacional (20%) da safra 2020. Tenho até certo receio de ser influenciável, por apreciar os vinhos da Adega de Cantanhede, mas definitivamente esse rótulo também surpreendeu, mostrando elegância, mas personalidade e uma jovialidade, graças as suas notas frutadas e boa acidez.

Ah e o que falar da Adega de Cantanhede? Acho que tudo o que falar desse grande produtor soará como redundância, mas é melhor ser redundante do que omisso e vamos falar de algumas histórias ao Conde de Cantanhede que dá nome a essa linha de vinhos. Vamos às curiosidades históricas.

A D. Pedro Meneses, 5º Senhor de Cantanhede, foi atribuído o título de 1º Conde de Cantanhede, como recompensa pela sua participação na Batalha do Toro em 1476, ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.

A cidade de Cantanhede recebeu o foral de D. Manuel I, Rei de Portugal, em 1514. Naquela altura o Rei deu à família Meneses o total controle da região. Foi notório o contributo dos Meneses para o desenvolvimento da região, promovendo a agricultura, incluindo a viticultura, para o que, desde sempre foi reconhecido grande potencial nestas terras.

D. Pedro de Meneses

Empenhada em prestar homenagem à digna linhagem dos Condes de Cantanhede e ao seu importante papel na região e na história de Portugal, a Adega de Cantanhede obteve a necessária autorização dos seus descendentes para lançar esta marca, que comporta um vasto portfólio com vinhos e espumantes de qualidade.

Bairrada

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada, cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe (barro) tem clima temperado bastante favorável às vinhas.

A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho.

O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço.

Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o "Mr. Baga", Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe.

Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude.

O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira.

Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jaen, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira.

Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas na elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir. Por Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, com entornos granada e lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz é bem aromático para frutas vermelhas bem maduras, com destaque para amoras, framboesas e groselhas, além de toques de baunilha, caramelo e defumado, couro e tabaco.

Na boca traz média estrutura, é marcante, mas macio e elegante, com as frutas vermelhas maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, com discretas notas amadeiradas, devido aos 6 meses em carvalho, com especiarias doces, taninos presentes e acidez média. Final longo e persistente.

Definitivamente a Adega de Cantanhede me possibilitou degustar, conhecer a região da Bairrada e não se enganem, não são vinhos ruins por entregar preços competitivos. Não! São vinhos excelentes em todas as suas camadas de propostas e o Conde de Cantanhede Seleção do Enólogo personifica essa máxima! É sim possível degustar bons bairradinos a preços acessíveis, justos, sobretudo. E esse rótulo ainda tinha muito a oferecer ao longo dos anos. A Baga realmente é especial e proporciona longevidade quando predomina, seja no blend, e obviamente quando vem na versão varietal. Um vinho de excelente custo que fatalmente teria de 7 a 8 anos pela frente sem sombras de dúvidas. Que venham outras experiências da Bairrada e da Adega de Cantanhede. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas

Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge, sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

Mistral: https://www.mistral.com.br/regiao/bairrada

Reserva85: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/

 








sábado, 29 de outubro de 2022

Quinta Don Bonifácio Reserva Refosco 2007

 

O vinho definitivamente é um ser vivo, como alguns especialistas na poesia líquida costumam falar. E de fato é mesmo, não há nenhum exagero em dizer isso. Todo vinho nasce, na vindima e no processo de vinificação até ser engarrafado, cresce, evolui na garrafa quando está na nossa adega, se desenvolve ou não, decai e morre.

Cada uma dessas fases tem um tempo, que muda, varia de vinho para vinho e até mesmo de garrafa para garrafa, e nesse caso um dos principais fatores é a forma como ele está armazenado e também o fator sorte, pois mesmo acondicionando o vinho aceitavelmente há casos em que ele pode perecer antes do que se espera.

Há quem diga que temos de aproveitar sem muitas delongas, mas também o tempo faz com que o vinho só melhore, claro que para entender essas nuances é preciso, pelo menos buscar ajuda profissional ou buscar informações do rótulo junto ao produtor.

E entender o seu apogeu, potencial de guarda, o seu momento de decréscimo no seu período evolutivo pode parecer meio difícil e tenso para os enófilos e aí a pergunta surge: Será que o vinho está em seu ápice de degustação? Será que merece aguardar um pouco mais? São perguntas, questionamentos e dúvidas que nos faz perder o sono, porque um “erro de cálculo, um momento especial de degustação pode virar um pesadelo com um vinho avinagrado.

Mas é inegável quando, por exemplo, degustamos um vinho razoavelmente antigo e percebemos que ele está no auge ou que evoluiu maravilhosamente bem. É o ápice também para quem degusta.

Eu sigo nesse caminho pela busca e garimpo de alguns rótulos com pelo menos mais de 10 anos o que hoje é maravilhoso em um mercado onde os vinhos ligeiros e mais jovens imperam, afinal, quem quer bebe, bebe logo e isso tem feito com que os adeptos pelos vinhos “velhos” se tornem um gueto, um pequeno grupo.

E o vinho que degustarei hoje está debutando, com seus 15 anos de vida e que, por um ou dois anos, não sei ao certo, descansou em minha adega aguardando o momento de brindar a minha taça com celebração. E falando em celebração ele trará novidades, novidades de uma casta que, para mim, é nova: Refosco.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio da emblemática Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, Brasil, e se chama Quinta Don Bonifácio Reserva da casta Refosco, safra 2007. O vinho está vivo, pleno! O tempo e a passagem por barricas de carvalho lhe deram complexidade e elegância. Mas não vou, pelo menos agora, falar do vinho, mas sim da Serra Gaúcha e do Refosco. Vale lembrar antes de que tive uma grande experiência com o Quinta Don Bonifácio Reserva Tannat 2007.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Refosco

A uva tinta Refosco teve sua origem nas regiões banhadas pelo mar Adriático, como a Eslovênia, Croácia e Friuili-Venezia Giulia (nordeste da Itália). Antigamente, era amplamente utilizada para a fabricação de vinhos mais simples, entretanto, hoje a uva Refosco tem suas características em evidência e participa da composição de exemplares complexos, vinhos que apresentam grande capacidade de envelhecimento.

Os vinhos que possuem a uva Refosco em sua composição são encorpados e frutados, apresentando elevada acidez e coloração escura e densa. Os aromas e sabores encontrados nesses exemplares remetem a ameixas e temperos apimentados, bem como sugerem sensação amendoada no palato. Com amadurecimento tardio, a uva Refosco, se colhida antes do tempo, pode elaborar vinhos de taninos agressivos.

Essa é uma uva cheia de documentações, ao longo da história. Foi admirada e citada pelo escritor romano Caio Plínio II, conhecido como Plínio, o Velho. Consta, também, que era o vinho favorito de Lívia, esposa do primeiro imperador romano, Otávio Augusto. Estudos de DNA revelaram que a Refosco tem um parentesco com Marzemino, a uva que produzia o vinho favorito de Mozart.

A denominação de origem que elabora os mais reputados vinhos com a uva Refosco, de excelente combinação entre a mineralidade e o caráter frutado, é a italiana Colli Orientali del Friuli. Para uma boa harmonização, recomendam-se pratos elaborados com carnes de porco e peixes, como salmão e linguado, por exemplo.

Os vinhos elaborados com esse tipo de uva costumam ser consumidos pela população local, dificilmente saindo de sua região de origem. Entretanto, com o crescente interesse dos amantes de vinhos pela região de Friuli, os exemplares que levam a Refosco em sua composição cruzaram o oceano e chamaram a atenção da crítica estadunidense.

Na região fronteiriça da Eslovênia, a uva Refosco é conhecida como Refosk e, após sua colheita, passa por um período prolongado de maceração, fermentação e envelhecimento, resultando em vinhos extremamente ricos e saborosos.

Os aromas e sabores mais frequentemente associados a Refosco são os temperos apimentados escuros e as ameixas, além de uma sensação amendoada no palato, bem como um toque de amargor. O potencial de guarda pode ir de quatro a dez anos. No seu auge, ganha nuances florais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um intenso e profundo vermelho rubi com halos granada, denunciando os seus 15 anos de vida e/ou provavelmente pela passagem por barricas de carvalho, com lágrimas finas, lentas e em média quantidade.

No nariz traz aromas de frutas pretas bem maduras, como ameixa e jabuticaba, bem como frutas secas, com notas amadeiradas, defumadas, de tabaco, couro, estrebaria, com toques terrosos, de terra molhada, folhas secas, revelando complexidade e intensidade.

Na boca é altivo, vivo, volumoso, suculento, mostrando uma ótima evolução com as frutas pretas maduras e secas sendo replicadas como no aspecto olfativo em perfeita sinergia com a madeira que ganha também protagonismo, afinal foram 16 meses em barricas de carvalho, com especiarias picantes, tosta, café, torrefação e um delicioso tom de chocolate meio amargo que lhe confere sabor, tudo isso graças a madeira. Taninos elegantes, domados, com uma acidez instigante, na medida certa com um final persistente, longo.

Eu resumiria, mesmo que óbvia em uma palavra esse momento de degustação: privilégio. Para mim, um humilde enófilo, degustar um rótulo brasileiro de 2007, com 15 anos de vida e se revelando vivo, pleno na taça não é todo dia e o faço em um tom de celebração, vinho é celebração. Degustar, mais uma vez, um rótulo de um produtor, em sua primeira vindima, a sua primeira colheita, também é motivo de muita alegria. O vinho que degustei e gostei foi a primeira colheita da Vinícola Don Bonifácio, uma vinícola jovem, fundada em 2000, mas que respeita as tradições da Serra Gaúcha. É respeito à terra, ao terroir, a cultura daquele povo, é ímpar. Obrigado aos deuses do vinho por, mais uma vez, me proporcionar esse momento. Tem 12,6% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta Don Bonifácio:

A Quinta Don Bonifácio está situada a 800 metros de altitude em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos os produtos são elaborados através de vinhedos próprios, os quais se encontram localizados em Santa Lúcia do Piaí, e em São Francisco em Galópolis.

Os vinhedos foram planejados no início do ano de 2000, com o objetivo de produzir as melhores variedades de uvas da região, com a primeira colheita em 2007.

A vinícola tem uma estrutura projetada para a elaboração de vinhos finos e espumantes de excelente qualidade, visando atender consumidores exigentes e diferenciados.

É uma vinícola que projetou a sua criação na elaboração de excelentes produtos, no bom atendimento e na satisfação do consumidor.

Mais informações acesse:

https://www.quintadonbonifacio.com.br/site/#home

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Tintos & Tantos”: http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/625-refosco

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/refosco