Não me canso de dizer, de exaltar as minhas predileções pela
Merlot. Vai além, confesso, de uma simples predileção, mas algo afetivo que, de
uma certa forma, fomenta a preferência. Não consigo esquecer a Merlot porque
foi principalmente ela que me iniciou no universo dos vinhos finos, das castas
vitis viníferas.
Então trata-se de uma reverência, trata-se de algo
verdadeiramente afetivo! Mas é claro que a casta tem os seus predicados. A
Merlot consegue agradar a todos os paladares e exigências e abrange os
iniciantes e mais tarimbados no mundo do vinho.
Ela, a Merlot, é capaz de unir a todos os enófilos, a todas
as propostas de vinhos, de maneira indistinta, sem preconceitos ou coisa que o
valha. Por isso que nunca faltará um bom Merlot na adega. Seria, sem medo de
dizer, uma temeridade não ter um Merlot na adega, independente de país, de
terroir.
E por mais que ela esteja em minha enófila vida há alguns
anos, desde os primórdios, diria, a Merlot ainda é capaz de proporcionar
algumas gratas e impactantes novidades, exatamente pelo terroir, no que tange
às novidades de regiões. É sabido que a Merlot é facilmente cultivável em
várias regiões no planeta, inclusive no Brasil, onde, a mer ver, vem ganhando
destaque, o que favorece, e muito, a possibilidade de desbravar “novos” Merlots
de outras regiões.
E graças a um clube de vinhos a qual fazia parte, há alguns
anos atrás, eu tive o prazer de “conhecer” um Merlot sul africano. Talvez eu
esteja sendo um tanto quanto desinformado, mas nunca pensei encontrar ou sequer
degustar um Merlot da terra de Mandela. A conhecemos pela sua emblemática cepa,
a Pinotage, mas não esperava um varietal de Merlot.
Bem a Merlot sempre apareceu em alguns blends de rótulos sul
africanos que degustei, pelo menos em grande parte, mas nunca reinando
absoluta, então foi o ápice quando recebi, justamente de um clube de vinhos
essencial, um rótulo desses. Digo justamente de um clube de vinhos, devido a
alguns questionamentos quanto ao mesmo e a sua credibilidade.
O rótulo descansou por algum tempo, esperando ser degustado e
com a compra de outro rótulo que encontrei de Merlot sul africano, decidi
degustar o que eu já tinha adegado. E lá vamos nós! Estou pronto para reviver
momentos sublimes com a casta que me “trouxe ao mundo”, enofilamente falando.
O vinho que degustei e gostei veio da tradição região
vinícola sul africana Stellenbosch e se chama Hill & Dale Merlot da safra
2018. E antes de falar do vinho, e estou ansioso para isso, falemos um pouco da
importância de Stellenbosch para a história do vinho na África do Sul.
Stellenbosch
Stellenbosch, a segunda cidade mais antiga da África do Sul,
encontra-se a menos de 45 minutos da Cidade do Cabo. A região é rodeada pelas
majestosas montanhas Stellenbosch, vinhedos e pomares, criando um dos cenários
mais pitorescos da África do Sul. Seu nome e existência se devem ao antigo
governador do Cabo, Simon van der Stel, que estabeleceu um povoado à beira do
rio Eerste em 1679, fazendo dela a segunda cidade mais antiga da África do Sul.
Está situada a cerca de 50 km da Cidade do Cabo, e no ano
2000 contava com cerca de 90 mil residentes com habitação formal, portanto sem
contar estudantes e outras pessoas com habitação informal. A cidade,
historicamente preservada, abriga um dos mais bonitos exemplos do estilo
holandês do Cabo, Georgiano e Vitoriano de arquitetura. Desfrutando de um
ambiente exuberante, as ruas de Stellenbosch são repletas de restaurantes,
bistrôs, cafés e monumentos que transmitem o orgulho do passado histórico
importante da região.
Hoje, é uma linda cidade caracterizada por ruas ladeadas de
carvalhos e casas brancas, muitas das quais de origem Cape Dutch
(cabo-holandesa), e fica entre a suntuosa montanha Simonsberg e a mais modesta
Papegaaiberg (“Montanha do Papagaio”).
Juntamente com Paarl e Franschhoek, Stellenbosch forma a
mundialmente conhecida e renomada região vinícola de Cape Winelands.
Stellenbosch possui a rota de vinho mais antiga do país e é conhecida por
produzir alguns dos melhores vinhos do mundo em fazendas como Spier, Fairview,
Tokara, Delaire Graff, Waterford, Rustenerg e muitas outras.
Os tours na região satisfazem os visitantes com experiências
únicas como visitas às caves originais de armazenamento (onde os primeiros
agricultores do Cabo experimentavam os primeiros vinhos produzidos na região).
Stellenbosch também proporciona outras atrações que agradam todas as idades,
como caminhadas, cavalgadas, pescaria, passeios de balão e de helicóptero, e
colheita de morangos.
Logo que chegaram os primeiros colonos, particularmente os
Huguenotes franceses, teve início a cultura da vinha nos vales férteis em torno
de Stellenbosch, que rapidamente se tornou o centro da indústria vinícola
sul-africana. Até há pouco tempo, a concentração de riqueza trazida por esta
indústria fez com que a área tivesse um elevado coeficiente de Gini, embora
esta situação esteja a mudar.
Stellenbosch possui uma rica história vinícola e é lar de
alguns dos vinhos mais famosos do país. Além disso, a uva Cabernet Sauvignon é
a variedade mais cultivada na região, utilizada muitas vezes ao lado da casta
Merlot.
Situada a apenas 40 quilômetros ao leste da Cidade do Cabo,
Stellenbosch é separada pelas montanhas de Simonsberg e Paarl. Seus vinhedos
cobrem as colinas da região sul-africana que vão desde Helderber, no sul, até
as inclinações mais baixas de Simonsberg, no norte. Este terreno proporciona
uma grande variação nos estilos de vinho produzidos, bem como microclimas
ideais para o cultivo de inúmeras variedades encontradas entre as colinas e os
vales de Stellenbosch.
Os solos da região são compostos predominantemente de arenito
e granito, onde é possível encontrar também um alto teor de argila, responsável
por garantir uma melhor retenção da água. O clima de Stellenbosch é quente e
seco, embora receba uma influência marítima do sul, proveniente de False Bay. A
refrescante brisa que as vinhas recebem à tarde e a incidência solar pela manhã
possibilita que as uvas concentrem melhor seus aromas e sabores, dando origem a
vinhos com características únicas e peculiares.
Em decorrência dessa variação de terroir, Stellenbosch é
dividida em inúmeras áreas produtoras de vinho diferentes, entre elas,
Bonghoek, Papegaaiberg, Devon Valley e Polkadraai Hills. Além disso, a região
sul-africana é o segundo assentamento mais antigo do país, ficando atrás apenas
de Cape Town. As principais variedades cultivadas em Stellenbosch são as uvas
Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Shiraz. Além disso, a fama
da região se deve também por ser o berço da casta Pinotage, resultado de um
cruzamento das uvas Cinsaut e Pinot Noir em 1924.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi brilhante, intenso, escuro,
profundo, com lágrimas grossas, lentas e em profusão que desenham o bojo do
copo.
No nariz explodem em aromas de frutas negras maduras, tais
como ameixas, cerejas pretas, que traz uma gostosa e agradável sensação
adocicada, com a rusticidade do couro, do herbáceo e as notas amadeiradas que
entregam torrefação e o café, graças aos 11 meses em barricas de carvalho que
50% do lote do vinho estagiou.
Na boca é complexo, tem médio corpo, a marcante personalidade
é evidente, mas, por outro lado, o aveludado e a elegância equilibram graças a
característica da Merlot. As frutas pretas também protagonizam, como no aspecto
olfativo, dando ao vinho frescor e vivacidade. As notas amadeiradas têm
destaque, também garantindo o toque de baunilha, de terra molhada. Tem taninos
presentes e acidez média, com um final longo e persistente.
Mesmo a Merlot sendo a minha longa e fiel companheira por
longos anos em minha agradável caminhada no universo dos vinhos, ainda é capaz
de me surpreender, de trazer novidades gratas, positivas para as minhas
sensações, aos meus sentidos. E o Hill & Dale definitivamente me trouxe
todas as características essenciais da Merlot, personalidade e elegância, mas o
frescor, graças as notas frutadas, e a estrutura, garantida pela sua
complexidade, muito típico das terras sul africanas. Um vinho que ficará
guardado para todo sempre em minha lembrança que, espero muito em breve, me
aventurar, quem sabe, em uma nova safra! Belo produtor, belo Merlot. Tem 14% de
teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Hill & Dale:
A história da Hill & Dale Wines remonta a 2001, quando os
primeiros vinhos Hill & Dale foram feitos e introduzidos no mercado em
2003.
É o delicado equilíbrio entre a paixão da equipe e a obtenção
das melhores uvas da emblemática região de Stellenbosch que permitem que seus
vinhos sejam modernos e despretensiosos, mas clássicos e autênticos.
Mais informações acesse:
https://www.hillanddale.co.za/#!/up
Referências:
“Portal South
Africa”: https://www.southafrica.net/br/pt/travel/article/stellenbosch-uma-das-joias-da-regi%C3%A3o-vin%C3%ADcola
“Wikipedia”: em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Stellenbosch
“Safari 365”:
https://www.safari365.com/pt/travel-destinations/south-africa/cape-winelands/stellenbosch