sábado, 22 de abril de 2023

Petit Plaisir Red Blend 2015

 

Lembro-me como se fosse ontem da inacessibilidade dos vinhos sul africanos aqui no Brasil. Isso deve ter pouco mais de 20 anos atrás quando não tinha sequer a quantidade de e-commerces que temos a nossa disposição atualmente.

E com esse leque de opções o nosso mercado de vinhos absorveu, tem absorvido bem os vinhos sul africanos que hoje tem um market share de respeito. O leque de opções não é apenas quantitativo, mas também qualitativo. A gama de propostas está excelente e atualmente você pode, consegue degustar vinhos mais simples aos mais complexos, encontrando-os, às vezes, em apenas um site de venda de vinhos.

E não se engane que as opções se limitam apenas na casta emblemática do país, a Pinotage. Hoje temos uma infinidade de cepas, das brancas até as tintas, mostrando que os terroirs da terra de Mandela podem cultivar cepas das mais variadas concepções.

Ainda carecem, entretanto, de vinícolas menores, com produção baixa e limitada, entrando em nosso mercado apenas as grandes indústrias vinícolas, mas vejo com bons olhos a possibilidade do mercado se expandir nesse sentido.

E hoje a degustação é, mais uma vez, especial, diria singular. Mais um sul africano de grande respeito, de imponência, austeridade, complexidade, personalidade, que inundará a minha humilde taça e já me antecipo nos predicados ao vinho, porque estou nutrindo uma grande expectativa, pois esse vinho está “adormecendo” a pelo menos três anos. Então não preciso dizer que a ansiedade domina os meus pensamentos para com este rótulo.

E o dia tão esperado chegou! O outono deu às caras, a temperatura está agradável e amena, um rótulo de pretensa complexidade pode vir à tona e ser contemplado no mais profundo detalhe e prazer, então, nada mais apropriado tirar esse vinho do seu longo sono, de sua evolução.

O vinho que degustei e gostei veio da emblemática e famosa região sul africana Western Cape e se chama Petit Plaisir composto pelas castas Syrah (64%), Cabernet Sauvignon (21%), Petit Verdot (8%) e Cabernet Franc (7%) da safra 2015.

E como somos enamorados pela história atrelada ao vinho, convém falar um pouco da “Petit Plaisir”. Estabelecido pelos huguenotes franceses em 1693 nas encostas das montanhas Simonsberg entre Paarl e Franschhoek, Plaisir de Merle é uma joia rara. Uma “peça” de destaque da Distell, esta propriedade de 974 hectares em Simondium, Paarl, ganhou aclamação internacional por seus vinhos brancos e tintos.

Cerca de 400 hectares são plantados com variedades de castas nobres como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Shiraz e Malbec. Uma área de apenas cerca de 80 hectares de vinhas nobres foi reservada para a adega Plaisir de Merle.

O enólogo Niel Bester, que ganhou fama na produção de vinhos de estilo clássico mais acessíveis, atribui o sucesso de seus vinhos à capacidade de trabalhar com ótimas frutas provenientes de um terreno único, bem como à valiosa contribuição de sua equipe de viticultores.

A diversidade dos solos, encostas e elevações contribuem para a qualidade das uvas Plaisir de Merle. Solos de granito bem drenados (predominantemente Tukulu e Hutton) com boa retenção de água permitem interferência mínima na irrigação com a maioria dos vinhedos sendo terra seca. As uvas foram selecionadas e colhidas a dedo em vários vinhedos. Eles estão situados entre 250m e 370m acima do nível do mar nas encostas sudeste do Simonsberg. Então depois dessa é só se permitir viajar nas mais nobres experiências sensoriais.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país.

Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país.

Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.

As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país.

Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade.

A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um rubi intenso e escuro, com halos evidentemente atijolados, granada, denotando os 8 anos de garrafa ou a longa passagem por barricas. Tem lágrimas finas e lentas e em profusão que desenham o bojo.

No nariz traz a complexidade e a riqueza incrível de frutas pretas e vermelhas bem maduras, com destaque para cereja, ameixa, framboesa, amora e cereja preta. É amadeirado, mas muito bem integrado ao vinho, com toques de baunilha, torrefação e um distante chocolate. Há notas defumadas, de especiarias, como pimenta, terra molhada e discreto herbáceo.

Na boca, como no aspecto olfativo, traz complexidade, tem personalidade, é gordo, cheio, austero, alcoólico, mas o tempo o tornou macio e elegante e frutado, as notas de frutas vermelhas e pretas maduras em total convergência com as notas amadeiradas, graças aos 16 meses em barricas de carvalho, que traz o chocolate, mais evidente no paladar, café torrado, torrefação e baunilha. Tem taninos generosos, domados, acidez correta e um final persistente.

Um belíssimo blend de Shiraz, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Cabernet Franc amadurecido por 12 a 16 meses em carvalho francês e americano, extremamente aromático e que revestem a boca com notas doces e picantes de uma baunilha e pimenta sutil, com um final sedoso e suave. Um verdadeiro néctar que deveria vir de almofadas para se degustar ajoelhado. Mais uma vez a região de Western Cape não deixa dúvidas de sua grande representatividade mercadológica, de seu terroir, tendo em Paarl, o seu farol. Definitivamente um belíssimo vinho que sem sombra de dúvidas teria ainda alguns anos de evolução pela frente, mesmo com seus oito anos de garrafa. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Plaisir Wine Estate:

Jacob Marais, neto de Charles Marais, construiu a mansão em 1764, onde permanece até hoje como um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo. Com suas empenas ornamentadas e telhado de colmo, a Manor House é um belo exemplo de esplendor e história.

O interior apresenta uma versão elegante e eclética do antigo e do novo, com uma seleção de móveis em Cape, Art Nouveau, Art Deco e estilo retrô. O resultado final é um afastamento consciente da grandeza em direção à sinceridade não afetada com refinamento clássico.

Charles Marais era um dos poucos franceses que tinha experiência em vinificação quando chegou ao Cabo e seu legado vínico vive na tradição vinícola de Plaisir de Merle. A quinta prosperou e em 1705, Claude Marais (que assumiu a gestão da quinta após o falecimento do pai) declarou 8000 vinhas e 6 léguas de vinho.

Charles Marais, um camponês huguenote de Le Plessis Marly, na região de Ile de France, queria uma vida melhor para sua família. Eles foram atormentados pela seca, fome, impostos exorbitantes e consequente pobreza. Esses fatores, juntamente com a perseguição religiosa, levaram-nos a navegar para o Cabo em 1687, onde se estabeleceram no Vale Groot Drakenstein.

Em 1693, o governador do Cabo Simon van der Stel concedeu terras à família Marais. Eles deram o nome de sua cidade natal, Le Plessis Marly. Mais tarde, nas mãos de seu neto, Jacob, a propriedade cresceu e se tornou uma das melhores da região. Foi Jacob quem construiu a mansão em 1764, que continua sendo um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo hoje.

A concessão foi oficialmente assinada em 1º de dezembro de 1693. Infelizmente, Charles Marais faleceu após apenas seis meses na fazenda com uma disputa trivial, supostamente por causa de uma melancia verde, levando à sua morte prematura. A história conta que um Khoikhoi chamado Dikkop (ou Edissa) atirou uma pedra em Charles, causando uma hemorragia fatal.

Charles Marais estava bem equipado para uma vida de pioneiro na agricultura, pois a região de onde ele veio na França costumava abastecer os mercados parisienses com vinho e cereais. Charles era um dos poucos franceses que realmente tinha experiência em vinificação quando chegou ao Cabo. É um equívoco comum pensar que todos os huguenotes eram viticultores (embora tenham trazido uma cultura vinícola antiga e bem estabelecida).

Em 1729, ano em que a mãe de Claude, Catherine Taboureux, e sua esposa Susanne Gardiol faleceram, um inventário da propriedade declarou 20 léguas de vinho no valor de 25 rix-dólares cada, 10 léguas vazias de vinho, um funil e duas prensas antigas - tudo prova de que a família Marais transcendeu suas raízes camponesas para se tornar dignas proprietárias de terras.

A fazenda realmente começou a prosperar em meados do século XVIII sob a administração de Jacob Marais (e sua esposa, Maria Boeiens), neto de Charles Marais. Em 1764, ano em que foi erguido o Solar, as vinhas tinham 35.000 videiras e a adega continha 28 léguas de vinho.

Baldes de pressão, funis, prensas de vinho e “stukvate” enchiam a adega. Havia também uma sala de destilação separada com dois alambiques de aguardente e duas ligas de aguardente. Pieter Marais assumiu as rédeas de seu pai Jacob e, sob sua orientação, a fazenda também floresceu, com os vinhedos se expandindo para 55.000 videiras.

Daniel Hugo foi o próximo proprietário da fazenda depois de se casar com a terceira filha de Pieter, Rachel. Entre 1805 e 1831, a fazenda prosperou sob seus cuidados. Lá temos agora 60.000 videiras, que produziram cerca de 43 léguas de vinho. Durante este período, Daniel possuía duas adegas. O segundo estava em um pedaço de terra no adjacente Rust-en-Vrede.

Os marcos históricos de Plaisir de Merle atuam como marcos ao longo do tempo e como uma homenagem às gerações anteriores. Uma caminhada pela propriedade revela essa longa história em formas de empenas, símbolos e muito mais.

Jacob Marais (neto de Charles Marais) construiu a mansão em 1764, onde permanece até hoje como um dos primeiros e melhores exemplos da arquitetura holandesa do Cabo. No mesmo ano em que foi erguido o solar, a adega de Jacob continha 28 léguas de vinho (eram necessárias cerca de 1.000 videiras para fazer 1 légua de vinho).

Várias consolidações transformaram a propriedade no moderno Plaisir de Merle, que passou por casamento à família Hugo no século XIX. Foi quando foi construída a adega de 1831, e a quinta passou a produzir 43 léguas de vinho.

Depois de vários mandatos curtos, tornou-se propriedade da Stellenbosch Farmers' Winery (agora Distell) em 1964. Três décadas depois, uma nova adega foi encomendada com o briefing aos arquitetos para se inspirarem no patrimônio e no ambiente natural da fazenda. Incorporando madeira, água e aço inoxidável como elementos-chave, o edifício moderno foi concluído em 1993, rodeado por um fosso que resfria e isola o interior do edifício.

A casa senhorial também foi restaurada e serve como pousada e local de eventos para pequenos eventos. O interior apresenta uma versão elegante e eclética do antigo e do novo - uma estética de design que homenageia o longo legado da propriedade e seu espírito progressista e inovador.

O lynhuise ou longhouses foram erguidos por Frans de Wet (proprietário de Rust en Vrede) em 1821, embora a empena tenha a data de 1831. Outro marco histórico da propriedade é o moinho de água, uma réplica do que Jacob Marais construiu para sua esposa Maria em 1730.

A propriedade está repleta de elementos simbólicos que contam a história do artesanato, dificuldades, família e resistência. Na entrada do porão, o friso (ou brasão) criado pelo artista Jan Corewijn em 1993 presta homenagem aos primeiros pioneiros retratando visualmente sua vida e paixão.

O grifo forma uma parte importante do logotipo da Plaisir de Merle e também aparece na forma de bicas estilizadas semelhantes a gárgulas nos cantos dos porões. Meio leão e meio águia, o majestoso Gryphon é o rei dos animais e dos pássaros com a visão da águia e a força e coragem do leão. Reconhecido por seu poder e inteligência, o Grifo é considerado o guardião dos tesouros.

Mais informações acesse:

https://www.plaisir.co.za/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

“Wine ZO”: https://wine.co.za/wine/wine.aspx?WINEID=41878

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 



sexta-feira, 21 de abril de 2023

Ribeira do Corso Reserva Touriga Nacional e Syrah 2012

 

Costumo dizer, até de forma demasiada, de que Portugal, mesmo que tão pequeno, em dimensões territoriais, é significativo e gigante em seus diversificados terroirs, é um universo inexplorado e maravilhoso, ainda há muito a se degustar, muitas regiões a se descobrir e vinhos nas suas mais propostas. Por isso que é impossível alguém, um digno enófilo que seja que não aprecie os vinhos lusitanos.

E por sorte o Brasil é um grande consumidor dos rótulos portugueses, somos ávidos apreciadores dos vinhos lusitanos. Nosso mercado é repleto de rótulos do Alentejo, da Região dos Vinhos Verdes, do Douro, Do Porto, entre outros. Esses são uma das mais representativas, em termos de quantidade, regiões que encontramos sendo ofertados no Brasil.

Mas temos visto, mesmo que timidamente, algumas regiões, pouco badaladas, dando o ar da graça em nossas terras, mesmo que em seu país de origem gozem de extrema tradição. Falo da região do Trás-os-Montes!

Eu descobri, de forma quase que despretensiosa, em um evento de degustação de vinhos, em minha cidade, Niterói. Era 2017 e o evento, que se chamava “Festival de Vinhos do Supermercado Real”, era promovido por uma famosa rede de supermercados, claro, da cidade e que tinham muitos rótulos, variados, de inúmeros países.

Já no final do evento, todos indo embora e os rótulos disponíveis para degustação, estavam escasseando, eu avistei um pequeno e tímido estande, com poucas garrafas e algo me chamou a atenção para ir até lá, talvez pelo fato da simplicidade do estande e das poucas garrafas disponíveis.

E avistei alguns rótulos que estampavam o “Trás-os-Montes”. Eu não conhecia e o demonstrador, muito atencioso, me disse que os vinhos eram da região portuguesa de Trás-os-Montes. Eu não conhecia a região, mas evidente que conhecia os vinhos portugueses. E bastou para ganhar o meu interesse.

Os vinhos eram da Encostas do Trogão e lá tinha a versão “branco”, tinto de entrada e o reserva. Degustei o branco e foi maravilhoso! Degustei os tintos e o reserva me chamou a atenção pela intensidade, personalidade e robustez, mesmo se tratando de um rótulo da safra 2011, tida como uma das mais emblemáticas em todas as regiões portuguesas.

Pena que no evento os vinhos não estavam à venda, pois aquele seria uma das minhas escolhas para aquisição, sem sombra de dúvida. Mas parte do investimento no ingresso para participar do evento seria revertida para compras de vinhos nos supermercados. Então ainda tinha uma expectativa de encontrar o Encostas do Trogão nas gôndolas e não é que no dia da minha ida eu encontrei? A safra de 2011! Então degustei o Encostas do Trogão Reserva 2011. Que vinho excepcional!

Encostas do Trogão Reserva 2011

Então decidi que degustaria um novo rótulo de Trás-os-Montes! Não poderia parar no Encostas do Trogão de maneira nenhuma! Era preciso, claro, garimpar, buscar avidamente, afinal, não são muitos os rótulos dessa região ofertados por aí. E encontrei! E melhor: encontrei um rótulo da safra 2012! Com 11 anos de garrafa! O que podemos esperar? O valor estava atraente, na faixa dos R$80! Não hesitei e comprei!

Mas decidi que não levaria muito tempo para degusta-lo! A ansiedade era maior e depois de algumas pesquisas que fiz sobre o vinho, para buscar referências sobre, eu descobri um vídeo do “Vinhos de Bicicleta”, um famoso influenciador e vendedor de vinhos que falava sobre a região de Trás-os-Montes e usava, adivinhem, um rótulo para ilustrar a região. Exatamente o mesmo que eu havia comprado.

Então sem mais conversas, vamos ao que interessa, vamos às apresentações do vinho: O vinho que degustei e gostei veio da região portuguesa de Trás-os-Montes e se chama Ribeira do Corso Reserva composto pelas castas Touriga Nacional e Syrah da safra 2012. Antes de detalhar as minhas impressões do vinho falemos de Trás-os-Montes.

Trás-os-Montes

Já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se produzia vinho na região de Trás-os-Montes. Situada no nordeste de Portugal, a província de Trás-os-Montes e Alto Douro é um lugar onde a identidade portuguesa, fruto de tradições culturais enraizadas, sobreviveu como em nenhuma outra região do país lusitano. O seu conhecido isolamento, bem como o alto índice de emigração e despovoamento, são características que acompanham a região há muito tempo.

Situada a Norte de Portugal a Região de Trás-os-Montes revela-se por entre montes e pronunciados vales numa grande área de extensão. Esta é uma Região única com características especiais. Em toda a região o cenário muda rapidamente, entre exuberantes vales verdejantes, ou colinas antigas cobertas por uma colcha de retalhos de bosques, ou olivais verde-cinza, extensas vinhas verdes brilhantes, ou amendoeiras floridas e outras árvores de fruto.

Sua capital é a cidade de Vila Real, e, ao longo da história, sofreu diversas modificações em seu território e nas atribuições administrativas. Desde o século XV, passou de Comarca a Província, e suas fronteiras territoriais, cujos limites foram se adequando com a aquisição ou perda de regiões, já não são as mesmas da época de sua fundação. Atualmente, é formada por três sub-regiões: Chaves, Valpaços e o Planalto Mirandês.

Na sub-região de Chaves a vinha é plantada nas encostas de pequenos vales, onde correm os afluentes do rio Tâmega. A sub-região de Valpaços é rica em recursos hídricos e situa-se numa zona de planalto. No Planalto Mirandês é o rio Douro que influencia a viticultura.

Trás-os-Montes

O cultivo da vinha e a produção de vinho na Região de Trás-os-Montes tem origem secular, estando esta intrinsecamente marcada nas suas rochas, uma vez que por toda a região existem vários lagares cavados na rocha de origem Romana e Pré-Romana. A existência de vinhas velhas com castas centenárias marca também de uma forma muito peculiar a qualidade reconhecida dos vinhos desta região.

As paisagens desta província apresentam uma beleza natural e rural exuberante, sendo suas terras ricas em cerais, legumes e frutos como amêndoas e cerejas, além das oliveiras que produzem azeites. Para completar, ainda existe a cultura vitivinícola, que, com as inúmeras vinhas da região, fazem de Trás-os-Montes e Alto Douro um destino turístico perfeito para os amantes da gastronomia e do vinho de alta qualidade. Montes é uma das regiões mais ricas em descobertas arqueológicas. Destacam-se as estações do paleolítico da serra do Brunheiró e Bóbeda, assim como dólmenes e povoados do período neo-eneolítico.

Trás-os-Montes é uma região montanhosa, caracterizada por sua diversidade de relevo e de clima – altitude, temperatura, pluviosidade, solo, etc, variam conforme cada cidade da província. As diferenças são bastante acentuadas. De maneira geral, seu relevo é formado por uma série de elevadas plataformas onduladas atravessadas por vales e bacias profundas, os solos se apresentam como graníticos, mas com presença importante de xisto.

Trás-os-Montes tem clima com influência mediterrânico-continental, com áreas de muito frio nas partes mais altas e outras mais quentes na região do Douro. A natureza privilegiada é fonte de riqueza para a região: os recursos hídricos, com rios importantes, por exemplo, são utilizados para gerar energia elétrica e produzir água mineral.

Essas diferenças climáticas acentuadas permitiram definir três sub-regiões para a produção de vinhos de qualidade com direito a DO Trás-os-Montes. Os critérios tidos em conta foram essencialmente as altitudes, exposição solar, clima e a constituição dos solos, tendo sido a Denominação de Origem (DO Trás-os-Montes) reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1204/2006).

No que se refere aos vinhos com Identificação Geográfica Transmontano, estes podem ser produzidos em toda a Região, sendo que a Indicação Geográfica Transmontano (IG Transmontano), foi reconhecida a partir de 9 de Novembro de 2006 (Portaria n.º 1203/2006).

Outra possibilidade de riqueza retirada da natureza da região são as vinhas dispostas nos vales que circundam o Douro e que originam vinhos excelentes e apreciados no mundo todo. O principal deles: o famoso Vinho do Porto. A vitivinicultura em Trás-os-Montes e Alto Douro tem história e tradição.

Além de ter sido a primeira região regulamentada para produção vinícola do mundo, em 1756, foi reconhecida pela UNESCO, em 2001, como Património da Humanidade por causa da beleza de suas vinhas. Quanto à produção, 50% dos vinhos elaborados nas vinícolas da região são destinadas para o Vinho do Porto, a outra metade se dedica à produção de vinhos que utilizam a denominação de origem controlada (DOC) “Douro”, e que são tão diversos quanto os microclimas e solos da província.

O controle e a defesa da Denominação de Origem e Indicação Geográfica são da responsabilidade da entidade certificadora “Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes” esta tem por objetivo, proteger e garantir a qualidade e genuinidade dos vinhos de qualidade produzidos na região de Trás-os-Montes.

Constituída em 1997 a CVRTM, viria ajudar a impulsionar o desenvolvimento da região, e a levar mais alto, aquém e além-fronteiras, os vinhos Transmontanos. Tendo iniciado a sua atividade com apenas um agente económico, esta entidade conta já com 62 associados, que contribuíram para o renascimento da região e para o incremento de qualidade dos seus vinhos, sendo que a sua atividade resulta num volume anual de litros certificados de aproximadamente 3 milhões.

Tradicionalmente, as vinhas são plantadas de maneiras diferentes em Trás-os-Montes, aproveitando toda a diversidade da região. Essa característica se reflete nos vinhos produzidos, que além do vinho do Porto, pode resultar excelentes vinhos tintos e brancos. As castas brancas dominantes são: Côdega do Larinho, Malvasia Fina, Fernão Pires, Gouveio, Rabigato, Síria e Viosinho, e nas tintas Bastardo, Tinta Roriz, Marufo, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira. Os vinhos brancos são suaves e com aroma floral. Os vinhos tintos são geralmente frutados e levemente adstringentes.

No que se refere à tipicidade dos vinhos da região de Trás-os-Montes, para além da diversidade existente podem ser referidos alguns traços comuns a todos os vinhos, os vinhos brancos apresentam equilíbrio aromático com grande intensidade de aromas frutados e leves florais, na boca revelam uma acidez correta não sendo excessivamente pronunciada.

No caso dos vinhos tintos, são vinhos com uma intensidade corante muito consistente e elevada, aromaticamente muito frutados, na boca relevam-se estruturados, e apesar dos teores alcoólicos normalmente elevados verifica-se uma acidez fixa correta, tornando-se vinhos robustos, mas agradáveis e muito equilibrados.

E agora finalmente o vinho!

Na taça traz um rubi profundo, escuro, com halos granada, já denotando os seus 11 anos de idade, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz revela a sua complexidade com aromas de frutas pretas bem maduras são sentidas, bem como frutas secas, com destaque para ameixa seca e avelãs. Toques vibrantes de rusticidade também são percebidos, tais como couro, tabaco, mentolado, carpete, estrebaria e discretas notas florais.

Na boca é seco apresentando também aquela complexidade, de um vinho equilibrado, que entrega elegância, maciez, mas personalidade, austeridade, afinal o tempo lhe foi gentil. Preenche a boca por ser alcoólico, frutado e um discreto residual de açúcar que lembra mel. Tem taninos marcados, porém domados e redondos, com uma incrível acidez, vívida e salivante, com notas de especiarias picantes, uma leve picância que remete a pimenta preta. Tem um final de média persistência.

O “Barolo Português”! Assim chamou o Rodrigo Ferraz, do “Vinhos de Bicicleta” sobre os tintos de Trás-os-Montes. Se é um exagero de comerciante eu não sei dizer. Mas em seu vídeo, que está disponível nesta resenha, ele faz uma completa e detalhada, sob o aspecto do clima e geologia, correlação das regiões de Barolo, no Piemonte, bem como a de Trás-os-Montes e definitivamente traz uma incrível consistência em sua fala. Consistente é este belíssimo vinho no auge dos seus 11 anos de vida! E que evolução estupenda, ainda vivo, pleno, mas elegante e macio. A complexidade é a tônica deste rótulo. Que venham muitos e muitos trasmontanos para a minha reles e humilde adega. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Ribadouro:

A Cooperativa Ribadouro situa-se no Nordeste de Portugal, na região de Trás-os-Montes, fazendo fronteira com Espanha e produz vinhos tintos, brancos e rosés encorpados. A região vitivinícola Trás-os-Montes situa-se perto do Vale do Douro e da sua Região Demarcada, onde são produzidos os conhecidos “Vinhos do Porto” e centrada na Vila de Miranda do Douro com três sub-regiões: Chaves, Planalto Mirandês e Valpaços.

A região foi inicialmente considerada “Indicação de Proveniência Regulamentada ” (Região IGP), mas em 2006, passou a ser considerada como região “Denominação de Origem Controlada” (DOC). Os nossos vinhos são produzidos na sub-região do Planalto Mirandês a partir das castas locais: Bastardo, Guveito, Malvasia Fina, Mourisco Tinto, Rabo de Ovelha, Tinta Amarela, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Viosinho.

A empresa começou a funcionar a 3 de Fevereiro de 1959. A mensagem principal “para continuar a tradição…” expressa o nosso amor pelo vinho e pelas tradições da região Norte de Portugal.

Produzem quatro rótulos de vinho – Pauliteiros, Mirandum, Lhéngua Mirandesa IGP e Ribeira do Corso D OC. Cada nome de vinho tem sua história e reflete nossas tradições nos nomes e no sabor do vinho.

Mais informações acesse:

http://ribadourowine.blogspot.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/vinhos/regioes/tras-os-montes/doc-tras-os-montes/

“Wine Tourism Portugal”: https://www.winetourismportugal.com/pt/regioes/tras-os-montes/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tras-os-montes-e-alto-douro-um-paraiso-vinicola-em-portugal/

“Instituto da Vinha e do Vinho”: https://www.ivv.gov.pt/np4/76/

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3891

 

 













domingo, 16 de abril de 2023

Granja Amareleja DOC tinto 2020

 

Não é uma grande novidade dizer que os vinhos da gigante e emblemática Alentejo é a minha preferida em Portugal. Não é novidade dizer também que, quando tive os primeiros contatos com os rótulos portugueses, foi com o Alentejo que as cortinas da vitivinicultura lusitana se deu.

O carinho e a predileção não são apenas com a região, com os seus vinhos e tipicidade, com o seu terroir, mas criou-se um vínculo afetivo, até por ter sido os primeiros a inundar as minhas humildes taças.

Evidente que a participação de mercado dos alentejanos no Brasil é grande e a possibilidade de um primeiro contato com esses vinhos é grande, porém, a continuidade das degustações configura-se em predileção, em carinho para com a ensolarada região alentejana.

E o que dizer do caráter de regionalidade? O apelo regional dos seus vinhos é imenso e os produtores parecem fazer questão de evidenciar isso, principalmente pelo fato de ter seus rótulos exportados para todo o mundo. São vinhos locais que ganharam o mundo e não tenha dúvida de que uma condição acarreta na outra.

E o vinho de hoje retrata, além da força da tradição de seu nome, mas também do apelo regional, uma definição clara de um vinho que tem bem definido a essência de sua região, falo da Granja Amareleja.

É tão forte essa relação que o nome do vinho carrega o nome da região. Então sem mais delongas vamos às apresentações do vinho que degustei e gostei veio da sub-região da Granja Amareleja, no Alentejo, em Portugal e se chama Granja Amareleja (GA) DOC com as castas típicas da região Moreto (40%), Aragonez (30%) e Trincadeira (30%) da safra 2020. Para não perder o costume, vamos de histórias do Alentejo e também da sua sub-região, a Granja Amareleja.

Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas.

As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amareleja", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.

Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.

Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses!

A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até a poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

António Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

Granja Amareleja

A Granja-Amareleja é uma das sub-regiões de Denominação de Origem Protegida do Alentejo. Uma região que sempre colheu os frutos das condições naturais ótimas para a produção de vinho e do azeite. Características únicas que conjugam as particularidades dos terrenos ao clima incomparável do Alentejo que foram sendo aproveitados por todos os povos que por aqui passaram e que foram explorando as potencialidades agrícolas da região, com particular destaque para a produção vitivinícola.

Há quem se apaixone pelas paisagens, há quem prefira o calor intenso, mas os romanos, quando passaram pelas imensas planícies alentejanas, perceberam o valor e as potencialidades da região para a produção daquele que é considerado como um néctar dos deuses.

E todo o Alentejo tem a marca indelével do vinho do Império Romano, feito com uvas de videiras podadas em taça, para se defenderem do calor inclemente do verão, e vinificado em grandes talhas de barro de inspiração mediterrânica. Tudo terá começado no século II com a criação de grandes quintas romanas – as famosas villae – que tinham na produção de vinho uma das suas atividades mais rentáveis.

Os inúmeros vestígios arqueológicos da região testemunham que, desde a técnica de produção das talhas até à vinificação, toda a sabedoria ancestral do vinho de talha continua a ser praticada diariamente e transmitida de geração em geração.

O exemplo do que acontecia na época romana, onde o vinho mais venerado era o branco, ainda hoje o vinho de talha branco continua a ser o mais respeitado e apreciado em todas as aldeias e vilas da Margem Esquerda do Guadiana, mantendo bem vivo o gosto romano na região.

A pesagem das talhas com pez ou cera de abelhas, o desengace e esmagamento manual das uvas com o “ripanço”, a filtração do vinho com caules de junça, a proteção da superfície do vinho com bom azeite, são apenas algumas das muitas práticas de adega ancestrais que continuam a ser utilizadas na região e que fascinam qualquer enófilo culto que visita as adegas locais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho intenso, escuro, mas de um reluzente brilho e tonalidades granada e lágrimas finas, em profusão e lentas.

No nariz os aromas, no início, mostraram-se fechados, mas, com o tempo foi se abrindo, mas não revelou tanta intensidade, porém, ainda assim, entregou aromas agradáveis de frutas vermelhas frescas, com destaque para framboesa, morango, cereja e amora. Sentem-se também delicadas notas florais que traz a sensação de frescor, além de especiarias, pimenta, diria, algo de couro, defumado.

Na boca é seco, leve, saboroso, fácil de degustar, redondo, pronto, embora tenha sentido falta da habitual estrutura dos alentejanos. As notas frutadas são percebidas no paladar, como no aspecto olfativo, a madeira também é mais percebida, mas de forma discreta, graças a um pequeno lote do vinho que passou por 8 meses em barricas de carvalho, entregando ainda baunilha. Têm taninos amáveis, ótima acidez que saliva e um final de média persistência.

O Granja Amareleja DOC é um exemplar que homenageia essa sub-região da Denominação de Origem Alentejo, suas pessoas e sua cultura. A casta predominante, a Moreto, uva autóctone da região, quase extinta, que é preservada e enaltecida pela Adega Granja Amareleja, e ao lado da Aragonez e Trincadeira produz um vinho de corpo médio, notas de frutas vermelhas maduras e muito frescor. Um vinho voluptuoso, de personalidade como tem de ser um belo e legítimo alentejano. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Granja Amareleja:

A Cooperativa Agrícola de Granja foi fundada em 1952 com o objetivo de rentabilizar as explorações agrícolas dos seus associados e desenvolver a economia local. No início as suas atividades centravam-se na disponibilização aos sócios de máquinas e equipamentos agrícolas diversos, na ceifa e moagem de cereais, tendo para isso moinho próprio, de que ainda hoje existem as ruínas na vizinhança das instalações, ou azenhas localizadas nas margens do rio.

Instalou, ainda, um lagar de azeite que, desde o início, vem produzindo azeite de excelência. Desde 2001 o processo é feito com equipamento moderno, conservando-se a instalação primitiva. O azeite lá produzido tem sido reconhecido pela sua elevada qualidade e já conquistou uma medalha de prata a nível nacional.

Entretanto surge a preparação de aguardente de figo, sendo uma das quatro instalações existentes no país. Desta instalação existem, ainda, as caldeiras e destiladores, apenas para manter a memória porque hoje este fabrico cessou, bem como a atividade na área dos cereais e parque de máquinas.

Em 1965 a Cooperativa expandiu a sua atividade para a área do vinho, acompanhando o desenvolvimento e instalação da vinha no Alentejo. No primeiro ano, limitou-se a fazer a fermentação dos mostos e a preparação dos vinhos, obtidos na Adega Cooperativa da Amareleja a partir das uvas dos associados.

No fabrico do vinho têm vindo a ser feitos grandes investimentos, resultando em vinhos de grande prestígio, medalhados a nível internacional e classificados com Denominação de Origem Controlada Alentejo.

Também o investimento no lagar de azeite tem originado azeites quase todos classificados como Extra Virgem, obtidos de azeitonas frescas e sem qualquer adição de produtos químicos, numa mistura de variedades, onde se destaca a galega, para a produção de azeites que vão dos menos amargos aos mais intensos.

Mais informações acesse:

https://www.granjaamareleja.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

“Adega Granja Amareleja”: https://www.granjaamareleja.pt/historia/














sábado, 15 de abril de 2023

Sanjo Maestrale Cabernet Sauvignon 2007

 

Eu já contei a minha história, o meu depoimento sobre os vinhos catarinenses e convém contar novamente, mesmo que seja breve, para ilustrar mais um rótulo que irei degustar agora que defino no mínimo como especial.

Sempre encarei os rótulos de santa Catarina como inalcançáveis. Os valores de alguns vinhos estavam distantes das minhas pretensões de compra, sempre estiveram distante do meu reles bolso. Talvez faltassem opções, locais de compras que pudessem me proporcionar um leque de opções e uma alternativa de uma compra mais acessível, justa.

Até que com um “boom” de e-commerces de vinhos, sobretudo os brasileiros, seguindo essa onda de qualidade dos nossos rótulos, tem se descortinado diante de meus olhos e “cliques” um bom número de opções de vinhos de Santa Catarina, somando a isso a fama que a sua principal região, a fria São Joaquim, vem ganhando ultimamente.

Com isso surgiram alguns rótulos que entregam preços simplesmente avassaladores no preço e o exemplo é a Sanjo Cooperativa. Conhecida por ser uma das maiores produtoras de maçãs do Brasil, quiçá da América Latina, a Sanjo, a cerca de 20 anos, vem se aventurando na produção de vinhos, com uma linha vasta e de ótima relação custo X benefício.

E posso falar com segurança e satisfação de que o custo X benefício é evidente, pois já tive a alegria de degustar alguns dos seus rótulos mais vendidos a preços simplesmente atraentes, onde destaco a linha “Núbio”, com o Cabernet Sauvignon e a casta branca mais cultivada da região, a Sauvignon Blanc.

E outro detalhe mágico dos vinhos de altitude, como são conhecidos, é a longevidade. A guarda é um destaque à parte dos vinhos produzidos em Santa Catarina e degustar o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 20102012 foi algo de surpreendente, com vinhos evoluídos, que evoluem maravilhosamente, com vinhos no auge de sua plenitude e a um valor impecável e irresistível.

E hoje a experiência se renovará, mais uma linha especial da Sanjo inundará a minha humilde taça, trazendo a linha “Maestrale”. Então sem mais delongas vamos às apresentações. O vinho que degustei e gostei veio de São Joaquim, Santa Catarina, Brasil e se chama Sanjo Maestrale, um 100% Cabernet Sauvignon da safra 2007. E antes de tecer os merecidos detalhes desse rótulo especial, falemos um pouco da região, São Joaquim.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias.

 Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar os municípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

Indicação Geográfica (IG) da Serra Catarinense

Em 29 de junho de 2021, o INPI concedeu a Indicação Geográfica Santa Catarina para Vinhos de Altitude (serra catarinense) da espécie Indicação de Procedência (IP), para vinho fino, vinho nobre, vinho licoroso, espumante natural, vinho moscatel espumante e brandy. O pedido da IG foi solicitado pela “Vinhos de Altitude – Produtores e Associados”, em 2 de junho de 2020.

A área geográfica da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina abrange 29 municípios que correspondem a 20% da área do estado catarinense: Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira.

Atualmente são aproximadamente 300 hectares de área cultivada, concentradas entre 900 e 1400 metros de altitude, na região vitivinícola de maior altitude e mais fria do Brasil. Do ponto de vista sensorial, os vinhos da IP irão enriquecer ainda mais a paleta de cores e sabores dos vinhos brasileiros.

A paisagem, o solo, o relevo e o clima particular dessas regiões de altitude favorecem a biossíntese dos pigmentos e dos aromas, preservando a acidez e atribuindo estrutura e corpo aos vinhos, permitindo a expressão plena da genética de cada variedade de uva.  Os vinhos da região têm sua qualidade atribuída, também, ao elevado nível tecnológico empregado nos vinhedos e nas vinícolas.  São vinhos com uma excelente expressão de sabor e elevada tipicidade, são vinhos com um sentido de lugar.

Foram aprovadas para produção dos vinhos da IP as variedades finas (Vitis vinifera L.) Aglianico, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Garganega, Gewurztraminer, Grechetto, Malbec, Marselan, Merlot, Montepulciano, Moscato Bianco, Moscato Giallo, Nero d’Avola, Petit Verdot, Pignolo, Pinot Noir, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Ribolla Gialla, Rondinella, Sangiovese, Sauvignon Blanc, Sémillon, Syrah, Touriga Nacional e Vermentino.

Diversos requisitos de produção fazem parte do Caderno de Especificações Técnicas da IP. Dentre eles, destaca-se que 100% das uvas devem ser produzidas na área delimitada, em áreas de altitude. Os sistemas de condução autorizados para os vinhedos são a espaldeira e o Ýpsilon, sendo que a produtividade máxima permitida é de 7000 litros de vinho por hectare/ano.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.

Para a vinificação, as uvas devem atingir níveis de maturação definidos por tipo de vinho, os quais, por sua vez, devem ser elaborados na área delimitada pelos municípios integrantes da IP.

Os vinhos atendem padrões analíticos de qualidade, próprios da IP, e devem ter a qualidade sensorial aprovada em degustação realizada às cegas; normas de rotulagem dos vinhos, facilitando a identificação das garrafas pelo consumidor, incluindo um selo de controle numerado exclusivo da IP; controles sob a gestão do Conselho Regulador que aplica um Plano de Controle para atestar a conformidade dos produtos em relação aos requisitos de produção.


E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um belíssimo vermelho rubi intenso, com algum brilho, o que é incrível com os seus 16 anos de garrafa, mas já tende para halos evoluídos, algo como granada, o famoso atijolado. Traz alguma viscosidade e lágrimas finas e ocasionais e que se dissipa rapidamente.

No nariz aromas complexos e intensos de chão de floresta, de terra molhada, como se esfregasse terra em meu nariz, com notas de frutas negras maduras ainda, arrisco dizer que traz frutas secas também, com toques herbáceos, de especiarias, com destaque a pimenta do reino e pimenta preta, amadeirados, como baunilha, torrefação e discreto chocolate, além de couro e tabaco. Muita complexidade e rusticidade.

Na boca é redondo, macio e elegante, não trazendo mais a impetuosidade, a estrutura de um típico Cabernet Sauvignon barricado por longos 18 meses em barricas de carvalho, com as notas frutadas ainda vívidas no paladar, como no aspecto olfativo e, claro, as notas amadeiradas também protagonizam entregando a baunilha, torrefação, café torrado, as notas especiadas também figuram com a pimenta, o pimentão, com taninos já domados, mas vivos, acidez baixa e um final com média persistência e amadeirado.

Especial, singular, incrível! Adjetivos não faltam ao Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon que, mesmo aos 16 anos de vida, teria muitos anos pela frente e a evoluir fantasticamente. Um corpinho ainda jovial de debutante! Para aqueles que ainda duvidam de que os nossos vinhos não são capazes de ser longevos, de evoluir bem, aí está o exemplo do Sanjo Maestrale Cabernet Sauvignon! Ainda entrega aromas evoluídos, estrutura, complexidade, acidez presente e longa persistência. Não hesitaria em dizer que teria alguns bons anos na adega! Mais uma vez a Sanjo me proporciona degustar mais um belo vinho catarinense, a ótimo valor e de guarda. Que venham outros tantos! Teor alcoólico de 12,8%.


Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.

Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//



Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/comecando-por-cima_8143.html

“O Turismo e a Produção de Vinhos Finos na Região de São Joaquim (SC): Notas Preliminares”: https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/O%20Turismo%20e%20a%20Producao%20de%20Vinhos%20Finos%20na%20Regiao%20de%20Sao%20Joaquim.pdf

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2010/02/21/nubio-2005-um-bom-cabernet-sauvignon-de-sao-joaquim-santa-catarina/

“CafeViagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-altitude-de-santa-catarina-conquistam-indicacao-geografica/#

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/63617903/vinhos-de-altitude-de-santa-catarina-nova-indicacao-geografica-na-regiao-mais-fria-do-brasil