quarta-feira, 30 de setembro de 2020

OGV (Old Garnacha Vines) 2016

 


Um enófilo não tem como passar pela vida sem degustar um legítimo Garnacha das terras espanholas. Definitivamente é uma casta de personalidade forte, mas fácil de degustar e extremamente versátil. Porém, ainda assim, algumas pessoas, avessas aos vinhos encorpados e corpulentos, optam por não degustá-la. Apesar de ser original, de ter a tal da expressividade, da personalidade marcante, ela possui algumas individualidades, peculiaridades que variam da região em que foi concebida e claro da proposta, da assinatura do enólogo bem como da filosofia da vinícola. Está entre as mais produzidas do planeta e tem a sua origem na região de Aragão, no norte da Espanha e que faz fronteira com a França, por isso a mesma também é muito popular neste último país, chamada de “Grenache”.

Aragão

A primeira menção ao fruto apareceu em 1513, feita pelo agrônomo espanhol Gabriel Alonso de Herrera, quando a uva ainda era chamada de Aragones. Nos anos seguintes, foi chamada de Canonat, na Itália, e Roussillon, na França. O nome “Garnacha” provavelmente tenha surgido na Itália por sua similaridade com outra uva da região, a Vernaccia di Oristano. Apesar disso, ambas não possuem nenhuma correlação. Posteriormente, nas regiões à beira do Mar Mediterrâneo, encontrou sua melhor forma e ganhou popularidade. Até hoje, é abundante nos estados do norte e nordeste da Espanha, como Rioja, Navarra, Campo de Borja e Catalunha, e na França, em Rhône e Languedoc-Roussillon. Diante dessa rica história preciso, mais e mais, degustar a Garnacha. A propósito degustei o meu primeiro rótulo desta cepa chamado Real Compañia de Vinos Garnacha da safra 2016.

O vinho que degustei e gostei vem claro da Espanha, de uma região nova para mim, a Calatayud, e se chama OGV (Old Garnacha Vines) da safra 2016. Um vinho oriundo de vinhas velhas que confere ao mesmo características diferenciadas, como por exemplo o equilíbrio, a harmonia, um vinho redondo, com a já mencionada personalidade. Falemos então um pouco da DO Calatayud.

Calatayud

A região de Calatayud dá origem aos chamados vinhos de altura. Os vinhedos estão plantados de 500 a 1040 metros de altitude, na parte mais ocidental de Zaragoza, próximo a Madrid.

Calatayud

Predomina o cultivo da Garnacha em vinhas com mais de 50 anos, que hoje ocupam 54% de toda a área de plantio da região. Sem dúvida, é a mais representativa do local. Em segundo lugar, fica a Tempranillo, com 21% da área. Algumas variedades brancas também são cultivadas por lá, como Gewurztraminer, Viura, Malvasia e Chardonnay, mas representam menos de 10% do cultivo. Os solos pedregosos e argilosos favorecem a produção de vinhos bastante intensos, encorpados, com alta graduação alcoólica e forte coloração. Os primeiros habitantes da cidade, os celtíberos, se assentaram a 4 km da atual cidade de Calatayud, num povoado denominado Bílbilis, que foi posteriormente conquistada pelos romanos, transformando-se numa importante cidade. Até hoje, os nascidos em Calatayud são chamados de bilbilitanos. No entanto, Calatayud “aparece no mapa” com a chegada dos árabes em 716, quando foi construído o Castelo de Qual at Ayub, que deu o nome à cidade. No séc. XI, Calatayud transformou-se numa das maiores cidades da Taifa de Zaragoza. Foi reconquistada em 1120 pelo rei Alfonso I “El Batallador”, quando então recebeu o foro. Desde 2006 celebram-se as festas chamadas “Las Alfonsadas“, quando a cidade volta a ter um aspecto medieval, recriando os acontecimentos que sucederam durante o processo da reconquista. A necessidade de repovoamento do território depois de reconquistada fez com que o foro da cidade fosse respeitoso com as minorias. A partir de então, passaram a conviver junto com os cristãos, os judeus e os mouros.

E agora o vinho!

Na taça tem um atraente vermelho rubi muito brilhante e vivo, com reflexos violáceos com lágrimas finas e abundantes que teimavam em se dissipar da parede do copo, mostrando a potência alcoólica.

No nariz a presença da fruta madura é evidente e inebriante, sem parecer enjoativo, com um agradável toque floral, algo que lembre violeta, flores vermelhas, um perfume que estimula a sentir, por um longo período de tempo, os seus aromas.

Na boca é seco, as notas frutadas sentidas no olfativo, se reproduzem na boca, frutas maduras, médio corpo a encorpado, mas macio, fácil de degustar, com taninos presentes, mas sedosos e uma acidez moderada, mas agradável, que entrega um vinho solar, fresco.

Um vinho ainda jovem, apesar dos três anos de safra, ainda teria alguns anos de vida, pelo menos por dois ou até três anos mais de vida e que iria lhe conferir as características mais fiéis dessa especial cepa. Mas mesmo com a “juventude” o vinho, elegante e delicado, estava pronto para ser degustado, vivaz e de expressividade. Os aromas e sabores frutados, lembraram amora e cereja e o final é persistente e delicado, ao mesmo tempo. Um típico filho da região. Um Garnacha para entrar para os anais da minha simples história de enófilo. E o melhor disso tudo é que tenho outra do mesmo rótulo para degustar, mas esse deixarei por mais um tempo hibernando na adega para fazer as devidas e necessárias comparações com esse que degustei. Tem 14% de teor alcoólico, mas muito bem integrados e sem passagem por barricas de carvalho preservando as características da cepa.

Sobre a Bodega Virgen de la Sierra:

Situada no sopé da Sierra de la Virgen, no vale do rio Ribota, esta adega é a mais antiga de DO Calatayud. É o projeto de uma cidade inteira que deixou de fazer vinho nas vinícolas de sua família para fazer um trabalho cooperativo. Com um trabalho de mais de 60 anos, Virgen de la Sierra, hoje mantém a tradição e a sabedoria que herdou de seus ancestrais. Em processo de modernização, integrou já as mais novas tecnologias, e o resultado delas são os vinhos que hoje se produzem e que já foram inúmeras vezes reconhecidos nos últimos anos.

Mais informações acesse:

https://www.bodegavirgendelasierra.com/

Fontes de pesquisa para as histórias da casta Garnacha e da região da Catalunha:

Portal “Divvino Blog”: https://www.divvino.com.br/blog/uva-garnacha/

Portal “Um brasileiro na Espanha”: https://umbrasileironaespanha.wordpress.com/2015/11/22/calatayud-comunidade-de-aragon/

Portal “Grand Cru Blog”: https://blog.grandcru.com.br/regioes-diferentes-novas-espanha-jumilla-almansa-calatayud/#:~:text=Calatayud,de%20Zaragoza%2C%20pr%C3%B3ximo%20a%20Madrid

Degustado em: 2019

 

 

 

 

 

 


 



 


sábado, 26 de setembro de 2020

Contessa Carola Negroamaro 2018

 

Atualmente estou garimpando, buscando castas menos conhecidas no Brasil, aquelas pouco mencionadas e cuja oferta de rótulos é limitada. Até mesmo aquelas raras nos seus países de origem estão valendo! Acredito que é salutar para nós, simples enófilos mortais, diversificar, buscar novas experiências e sensações e sair um pouco daquelas “cartas marcadas”, aquelas óbvias que enchem as gôndolas dos supermercados e das lojas especializadas de opções, como as castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Pinot Noir entre outras medalhonas. Evidente que as referidas castas são imprescindíveis para um bom e digno degustador, não pode faltar na adega, mas, como disse, diversificar, garimpar, não só castas pouco usuais e menos conhecidas, mas novas regiões e novos terriors, também é interessante e também não podemos negligenciar que é um “tapa” para a nossa cultura, afinal, novas castas e regiões suscitará, claro, para quem se interessa, a pessoa pesquisar, conhecer um pouco mais sobre as tais regiões, logo terão a grata oportunidade de ter o mínimo contato com a identidade cultural do país produtor. A casta que degustarei e que versará nesta humilde resenha é extremamente popular em terras italianas, contudo no Brasil ainda não tem um alcance tão grande nas taças da maioria dos brasileiros aficionados pela nobre bebida de Baco e Dionísio. Falo da Negroamaro.

O vinho que degustei e gostei vem da emblemática região de Puglia ou Apúlia, onde a Negroamaro, a casta do rótulo de hoje, é amplamente cultivada, e se chama Contessa Carola, um IGT (Indicação Geográfica Típica) da safra 2018. Antes de falar um pouco, é claro, da história da Negroamaro, convém falar rapidamente do conceito do IGT. Trata-se de uma classificação de qualidade italiana que significa vinho típico da região, um vinho que expressa com fidelidade às características da terra, da região, o que costumamos chamar de terroir. Ah esse será meu segundo rótulo da casta Negroamaro, o primeiro foi o Luccarelli Negroamaro 2014!

Negroamaro

A uva tinta Negroamaro tem acidez moderada e coloração densa. Seu nome é a união de “black”, que em inglês significa “preto” e de “amaro”, que em italiano quer dizer “amargo”. Mas há, em torno do seu nome, algumas divergências e vários conceitos sobre o significado da casta surgem. Apesar de “amaro” significar amargo em italiano, não parece ser esta a tradução correta para a uva em questão. A melhor interpretação nos leva a dois idiomas, Latim e Grego antigo. Do primeiro reconhecemos ‘Negro’ e do segundo vem a termo ‘maru’ que também significa negro: Negro maru = Negro amaro = negro negro ou, numa interpretação moderna, negro intenso. Maru tem a mesma raiz fonética de Merum, um vinho trazido para a Puglia por colonos que ali se estabeleceram antes dos gregos, no século VII AC. Na literatura clássica encontramos algumas referências a ‘mera tarantina’, por autores romanos, o que nos leva a crer que a Negroamaro poderia ser a uva usada no Merum.

Antigamente, a Negroamaro era utilizada para dar cor aos vinhos produzidos no norte da Itália, hoje, essa uva origina vinhos tintos profundos, intensos e de coloração arroxeada. Nativa da Península Salentida, a tinta Negroamaro é amplamente cultivada na região da Puglia, importante área vinícola italiana. A fim de garantir maior complexidade de aroma e paladar aos vinhos, a uva Negroamaro é frequentemente utilizada em blend com as uvas Malvasia, Nera, Montepulciano e Sangiovese.

Salento

Puglia

O clima quente, com médias anuais elevadas, favorece o cultivo da uva Negroamaro, garantindo à fruta excelente grau de maturação. Adaptando-se facilmente à escassez de chuvas – comum em locais de clima mediterrâneo – a Negroamaro pode ser encontrada também em vinhedos dos Estados Unidos e Austrália, em regiões que apresentam condições climáticas similares às da região da Puglia. Produz vinhos de cor escura muito profunda, com taninos que variam de médios a intensos. Medianamente aromática, tem sabores marcantes de frutas negras com notas de canela, cravo e outros temperos secos. A principal região produtora é a planície de Salento, destacando-se a vila de Salice (DOC Salice Salentino) com seus tintos e rosados.

E agora o vinho!

Na taça tem um belo vermelho rubi intenso, com reflexos violáceos com abundância de lágrimas, mas que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz tem uma explosão de aromas frutados, frutas vermelhas maduras, lembrando amoras, cerejas e ameixas pretas e toques florais agradáveis.

Na boca é elegante, equilibrado, harmonioso, de corpo leve para médio, repetem-se as impressões olfativas o quesito frutado, frutas vermelhas em compota, fazendo do vinho saboroso. Um rótulo com alguma personalidade, mas macio, redondo, com uma acidez moderada, que o torna fresco e jovem, com taninos sedosos e polidos e um retrogosto bem interessante, um final frutado e persistente.

Um vinho muito bom, a Negroamaro é simplesmente incrível! E o melhor vem também com o custo, um excelente custo X benefício, com um rótulo que valeu o investimento de R$ 22,90! Sim, isso mesmo que você leu! Um vinho básico sim, mas que valeu cada centavo investido, um vinho que costumamos dizer que entregou muito mais do que valeu. Um vinho de tipicidade, que expressa as características mais fiéis desta belíssima cepa, graças também a curta passagem por tanques de aços inox. Viva a Itália com os seus vinhos emblemáticos de castas e regiões ímpares! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Contri Spumanti S.p.A:

A história da empresa Contri Spumanti SpA está intimamente ligada à do seu fundador: Luciano Contri , nascido em 1938, natural de Cazzano di Tramigna. Aos quinze anos, enquanto Luciano se preparava para iniciar seus estudos de especialização enológica, a família sofreu grandes dificuldades devido a uma grave doença que atingiu seu pai Luigi e o obrigou a ficar dois anos longe de casa. Foi o fundador da empresa da família, com mais de 90 anos, o avô Domenico (apelidado de PACENA na aldeia, hoje uma das marcas da empresa) quem apoiou Luciano nesse período. A sua própria experiência e sabedoria, combinadas com a vontade e o espírito de sacrifício do sobrinho, foram capazes de compensar a ausência de Luigi. Temperado pelo sacrifício diário e seguro dos ensinamentos recebidos, atingiu a maioridade em 1959 e deu à luz a empresa individual Luciano Contri , que em 1980 será transformada em Contri Spumanti SpA , dando início à produção de espumantes e espumantes. Hoje as rédeas da empresa estão nas mãos de Paolo Contri , que dá continuidade à política de seu pai de manter a Contri Spumanti SpA uma empresa de ponta e líder no setor. Tecnologia de ponta e automação de processos garantem a eficiência do ciclo produtivo e a minimização dos custos de produção. Adaptação aos requisitos dos sistemas de qualidade mais conhecidos, desde o planejamento, passando pela produção, até a logística. Renovação constante dos sites de produção, expansão e automação das áreas de logística. Capacidade de responder e se adaptar às necessidades em constante mudança do mercado com novos tipos de produtos, novos formatos e embalagens personalizadas. Tudo isso tem permitido a consolidação da empresa ao longo dos anos e sua constante ascensão no mercado local e nos principais mercados externos. Resultados confirmados pelos inúmeros prémios e galardões obtidos nos mais conceituados concursos internacionais de vinhos. A sede da Contri Spumanti SpA está localizada em Cazzano di Tramigna, onde se encontram os escritórios, a histórica fábrica e o centro de logística. As atividades comerciais e administrativas, o controle de qualidade e a organização da produção são realizados e coordenados pela matriz. A atividade de produção em sentido estrito é abrangida por tipo de produto entre duas fábricas.

Mais informações acesse:

https://www.contrispumanti.com/it

Fontes de pesquisa para a história da casta Negroamaro:

Portal “Mistral”, em: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/negroamaro

Portal “O Boletim do Vinho”, em: http://oboletimdovinho.com.br/2012/12/14/uvas-da-puglia-negroamaro-e-primitivo-i/

 

 






 


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Dory tinto 2015

 

Quando falamos de vinhos portugueses nos lembramos, associamos imediatamente à tradição, a famílias antigas que estão no ramo vitivinícola há séculos. Mas o vinho que degustei e gostei pertence a uma vinícola que começou do zero, sem heranças, sem o prolongamento de gerações ou quaisquer coisas do tipo. Um projeto ousado, moderno que vislumbra novas percepções de propostas de vinhos, de rótulos arrojados, mas, por outro lado, privilegia o terroir, a tipicidade do atlântico da emblemática região de Lisboa. Mas isso é papo para o fim dessa resenha, pois agora eu vou falar de como eu conheci a vinícola. Estava assistindo ao programa que é transmitido pelo canal Globosat, de nome “Um brinde ao vinho”, apresentado pela somellier Cecília Aldaz. Foi uma temporada viajando por Portugal pelas suas mais importantes regiões produtoras de vinho. E um desses episódios aterrissou na região de Lisboa. Algumas vinícolas foram apresentadas e a AdegaMãe, situada em uma região chamada  em Ventosa, Torres Vedras, foi visitada pelo programa de TV. O seu representante contou a história da vinícola, ainda jovem, fundada em 2009, teve a sua primeira safra, há apenas 10 anos, em 2010. Esses detalhes da história desse produtor me chamaram e muito a atenção. Eu decidi: preciso comprar um vinho ou vários vinhos dessa vinícola! E eu achei!

O vinho que degustei e gostei veio, como já disse e com veemência, de uma das minhas regiões lusitanas preferidas, Lisboa, e se chama Dory, um tinto composto pelas castas Touriga Nacional, Syrah, Tinta Roriz e Merlot, da safra 2015. Outro detalhe muito interessante e que é bem peculiar dos vinhos lisboetas: essa interessante mescla de castas autóctones e as famosas e tradicionais castas francesas. Isso traz certa complexidade e caráter aos vinhos lisboetas que, mesmo se tratando de vinhos básicos entregam personalidade que logo falarei também com riqueza de detalhes. Mas antes de entrar nos detalhes organolépticos do belíssimo e surpreendente Dory, falemos um pouco da origem desse nome.

Dóri

Ao entrar na vinícola, que é um exuberante projeto de arquitetura, uma edificação muito bonita e moderna, e foi construída de forma gravitacional e com acessibilidade em todas as áreas (cadeiras de rodas e carrinhos de bebê, portanto, são bem-vindos), com equipamentos e tecnologia de ponta, tem de cara uma embarcação de pesca de bacalhau chamada “Dóri” (pertencente ao bacalhoeiro NTM Creoula, hoje navio escola da Marinha Portuguesa, e outrora pertencente à família Bensaúde) que deu nome aos principais rótulos da vinícola, Dory. 

Dóri

A AdegaMãe tem essa relação com o mar e com a pesca, produzindo, vinificando seus produtos, seus vinhos com o intuito de harmonizar com o bacalhau que é uma iguaria típica e tradicional, em todas as suas propostas, com o povo português.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, quase escuro, com entornos violáceos, diria em tons granada, muito bonitos e brilhantes, reluzente aos olhos. Lágrimas com alguma proeminência, finas e que demoravam um pouco a se dissipar das paredes do copo fazendo lindos desenhos.

No nariz tem uma intensidade aromática maravilhosa que me remete a frutas vermelhas maduras, como cereja, frutos silvestres e toques de especiarias, que lembra pimentão. Sem contar com as notas florais, tais como violetas e leve e discreto amadeirado que, pelo que pude pesquisar a respeito desse rótulo no site do produtor, o mesmo teve uma breve passagem por barricas de carvalho por cerca de 4 meses.

Na boca as notas frutadas reaparecem, um vinho de média estrutura, mas fresco, equilibrado e harmonioso, certamente pelas suas características atlânticas. Um vinho suculento, de bom volume de boca, com taninos gulosos, mas polidos e uma boa acidez que se faz com alguma presença, mas que não é tão evidente assim. Além do toque discreto da madeira.

Um senhor vinho! Um vinho surpreendente que também surpreendeu pelo preço e aqui vale mais uma história. Estava eu no supermercado e avistei o Dory tinto meio que negligenciado na gôndola do supermercado mais baixa que tinha quase próxima ao chão. Como estava atrás de um vinho da AdegaMãe o peguei e, mesmo que um tanto quanto receoso pela safra, em tese já “antiga” para um vinho básico, comprei. Quando fui efetuar o pagamento e fiquei sabendo do valor, pasmem: 10 reais! Não acreditei que um vinho estava tão barato e que entregou muito, mas muito além do que valeu! Um vinho elegante, fino, de presença marcante e que harmoniza com carnes grelhadas, massas e queijos mais leves. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados.

Sobre a AdegaMãe:

A AdegaMãe pertence ao grupo Riberalves, empresa familiar portuguesa, que é a maior produtora de bacalhau do mundo – 30 mil toneladas por ano, o equivalente a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo! É uma homenagem da família à sua matriarca, Manuela AlvesEm 2009, investindo na paixão pelo vinho, a família inaugurou a vinícola, que fica próxima da sede da empresa.  A vinícola fica em Torres Vedras, que faz parte da CVR Lisboa (Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa), antiga Estremadura, zona com grande influência atlântica, devido à proximidade com o oceano, com solos calcários, terroir propício para a produção de vinhos bastante minerais e com acidez marcante. A AdegaMãe tem um projeto lindíssimo e Diogo, juntamente com Anselmo Mendes, enólogo consultor, entrou desde o começo da concepção da adega, no projeto das vinhas, de forma a definir as melhores variedades para a região, tanto que as vinhas velhas que ali estavam foram arrancadas, pois não eram boas o suficiente para os vinhos que pretendiam fazer. Mas é possível ver a vinha mãe da adega exposta como obra de arte, em uma das paredes da vinícola.

A Norte de Lisboa e a um passo da costa oceânica, a AdegaMãe potencia um terroir  fortemente influenciado pelas brisas marítimas predominantes, destacando-se pelos seus vinhos de inspiração atlântica, plenos de carácter, frescos e minerais, premiados a nível nacional e internacional. Referida pela arquitetura exclusiva, e pela forma como se harmoniza com a fantástica paisagem envolvente, a AdegaMãe foi desenhada de raiz para integrar a melhor experiência de visita, assumindo-se como uma referência no enoturismo da Região de Vinhos de Lisboa.

Mais informações acesse:

https://adegamae.pt/



Degustado em: 2019





sábado, 19 de setembro de 2020

Dal Pizzol Cabernet Franc 2016

 

Melhor do que participar de festivais de degustação de vinhos é participar de festivais que valorizam o vinho nacional. O vinho nacional tão taxado, sobrecarregado com o tal Custo Brasil que, vilipendiado pelo poder público, é encarado com vilão, aquela bebida alcoólica que vicia e não como alimento que, cientificamente comprovado, traz benesses à saúde. Mas discussões comportamentais, políticas e econômicas à parte falemos do vinho ou melhor dos vinhos que degustei no já conhecido Festival Vinho na Vila, evento importante no cenário enogastronômico, me proporcionou algumas das melhores degustações de vinhos nacionais corroborando o que eu já estava percebendo há alguns anos: o vinho brasileiro está crescendo em tipicidade, qualidade, sendo valorizado pelo seu DNA, com a sua terra, criando de fato, finalmente, uma identidade própria. Muitos degustei e gostei e o intuito era levar muitos, mas o entrave, o valor (voltei com o inevitável assunto), me impedia de fazer as tão esperadas aquisições. Pois é, um evento que privilegia os rótulos tupiniquins deveria ao menos ter valores mais amigáveis para um ávido público que estava com uma surpreendente audiência. E, quando estava andando de um estande a outro, avistei um que não conhecia, talvez ouvido falar de uma forma bem distante em algumas leituras. Essa vinícola se chamava Dal Pizzol. Claro, atraído pela curiosidade, fui até o local. Não tinha tantas opções de rótulos, mas ainda assim decidi degustar os disponíveis. Me surpreendi de cara com um Dal Pizzol da emblemática casta oriunda de Portugal, a Touriga Nacional. Degustei e achei maravilhoso: encorpado, com alguma complexidade, com notas de frutas vermelhas maduras, mas equilibrado e harmonioso, pois trazia certo frescor. Mas, mais uma vez, o entrave do valor fez com que eu não o levasse. Vi o outro, um Cabernet Franc, casta que pouco degustei em minha vida e não me perguntem o motivo, não sei dizer. O degustei e era maravilhoso também! Que vinho! E este estava com um preço mais competitivo, atrativo. Pois é, degustar vinho no Brasil e tentar abrir mão de muitos rótulos para degustar outros e continuar seguindo com as nossas experiências.

Então, acho que já apresentei o vinho que degustei e gostei que veio da tradicional região da Serra Gaúcha, o Dal Pizzol da casta Cabernet Franc (100%) da safra 2016. E como disse que pouco degustei vinhos com a Cabernet Franc acho mais do que conveniente e para manter a proposta dos meus textos aqui neste diário virtual, que preza pela cultura da informação, falemos um pouco dessa casta.

Cabernet Franc

A Cabernet Franc é ainda um pouco anônima e fica nos bastidores em comparação a rainha das uvas tintas, a Cabernet Sauvignon, que ajudou a criar. Esta é um cruzamento da Cabernet Franc com  a Sauvignon Blanc. A Franc ficou na sombra de sua filha, mas isso não significa que seja pouco importante, apenas, digamos, colocou o seu lugar nos bastidores, deixando a sua criatura brilhar. Mas ainda assim a Cabernet Franc é uma das mais ilustres uvas viníferas do mundo, fazendo parte da badalada tríade que forma o corte clássico de Bordeaux (junto com a Cabernet Sauvignon e Merlot). Inclusive, em alguns lugares da França, é a principal casta cultivada, aparecendo frequentemente como monovarietal (como no Vale do Loire). Quando usada em corte, muitas vezes ela representa a menor proporção, mas é justamente essa pequena parcela que faz toda a diferença, assim como um tempero faz toda a diferença num prato. Inclusive, o tempero não é só metafórico, pois a uva se caracteriza pelo seu toque apimentado, notas de tabaco, além de perfumes de violeta e cassis. Ela confere ao vinho mais frescor, mais finesse, mais elegância, sendo definida por muitos como o lado feminino da Cabernet Sauvignon. Normalmente ela é tão frutada quanto a Cabernet Sauvignon, mas de cor mais pálida e corpo mais leve, menos tânica e mais suave, e com uma nota herbácea mais viva. Vale lembrar que, muitas vezes, se torna a “salvadora” dos tintos de Bordeaux: como ela matura mais cedo e, portanto, é colhida antes da Cabernet Sauvignon, seu papel se torna fundamental quando, nas semanas seguintes, chuvas e granizo podem acabar estragando a safra. Chamada também de Bordó, Bouchet, Cabernet Gris, Breton, Bidure, Achéria (entre outros nomes), ela se dá bem em climas continentais e frios e é plantada em várias regiões vinícolas do planeta. Nem todo mundo sabe, por exemplo, que foi a principal casta do Brasil até a década de 1980, quando o foco se mudou para Merlot (e sucessivamente para Cabernet Sauvignon). Tem boa difusão também na Itália, basta lembrar dos supertoscanos que empregam corte bordalês, mas é, sobretudo no nordeste do país, particularmente no Friuli, onde se torna destaque em belíssimos tintos. Ainda no Velho Mundo, tem um bom desempenho na Hungria, Croácia e Romênia. Já no Novo Mundo, encontramos alguns válidos exemplares no norte dos Estados Unidos (especialmente no estado de Washington), e também no Canadá. Mas em ambos os casos ela é mais utilizada para “Ice Wine”, o famoso vinho de sobremesa local (onde a uva é submissa a um processo de congelamento natural). No Chile, a casta está sendo explorada com bons resultados, e na Argentina, talvez esteja dando êxitos ainda melhores, com alguns Cabernet Francs mais expressivos do que muitos Malbecs.

E agora o vinho, o tão esperado vinho!

Na taça tem um belo vermelho rubi intenso com entornos violáceos, bem brilhantes. Tem lágrimas finas e em média intensidade que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz traz aromas intensos e agradáveis de frutas vermelhas em compota, lembrando amoras e framboesas, talvez morango com um delicado toque floral, como violetas, por exemplo.

Na boca é seco, fresco, leve, como todo bom Cabernet Franc brasileiro, delicado, equilibrado, pois, mesmo leve, tem personalidade e um bom volume de boca, sendo frutado, saboroso, com um final de média persistência com um retrogosto frutado.

Um vinho diria inspirador, capaz não apenas de proporcionar experiências agradáveis no quesito degustação, mas também suscitar discussões culturais, políticas e econômicas que abriu esse humilde texto. Pois é são alguns devaneios mais do que lúcidos, embora fuja um pouco da proposta da discussão das características do vinho, mas quem disse que sou linear, padrão? Mas já que as características foram mencionadas estendo as inspirações também ao vinho propriamente dito: fresco, mas vivaz, com personalidade marcante. Aromas intensos de frutas vermelhas, notas florais, a valorização da cepa, de sua expressividade, das suas mais fiéis características graças a sua passagem por tanques de aço inoxidável por 12 meses. Que possamos valorizar os vinhos nacionais e entregar o nosso produto a quem de direito: aos brasileiros, sem distinção de cor, raça, credo e poder monetário. Apesar de ser um discurso romântico e, para alguns, utópico, precisamos criar uma cultura de degustação no Brasil e não associar o vinho a status social e aristocratas que tem apenas a intenção de distanciar o vinho brasileiro do brasileiro. Tem 13% de teor alcoólico e harmoniza bem com massas, carnes grelhadas e queijos mais gordurosos e estruturados, como o provolone, por exemplo, o que estou fazendo neste momento.


Sobre a Vinícola Dal Pizzol:

Criada em 1974, a Vinícola Monte Lemos, mais conhecida por Dal Pizzol, surgiu a partir de uma proposta diferenciada que privilegia a produção controlada. Comandada pelos irmãos Antônio e Rinaldo Dal Pizzol, a vinícola elabora anualmente 300 mil garrafas (225 mil litros) e tem como enólogo responsável Dirceu Scottá. O controle de qualidade tem início no cultivo da videira e, para isso, mantém parceria com produtores por meio de acompanhamento técnico realizado por dois enólogos e um engenheiro agrônomo da vinícola. A assessoria ocorre durante todo o processo, desde a variedade de uva a ser implantada até a colheita. Cada produtor recebe uma cartilha de procedimentos e práticas para o cultivo da videira. O material dá instruções, inclusive, sobre o limite de produção por área, variedade e sistema de condução da parreira. Essa parceria também contempla uma tabela de benefícios conforme a qualidade e tratos culturais implementados no vinhedo para cada safra. A Dal Pizzol traz consigo uma tradição na vitivinicultura que remonta ao Século XIX (1878), quando os primeiros imigrantes da família chegaram ao Brasil. Sua história expressa um talento natural e cheio de experiências, sabedoria e sensibilidade, que lhe permitiu alcançar a qualidade dos vinhos que elabora, através do amor no cultivo de castas nobres, do trato cuidadoso na arte do vinho e de um atendimento personalizado a todos que se relacionam com a Dal Pizzol. A vinícola faz parte da Rota Cantinas Históricas, distante 11 quilômetros do centro de Bento Gonçalves/RS. O projeto é composto por propriedades rurais que retratam a vida cotidiana dos imigrantes italianos que se instalaram nas encostas de Faria Lemos e lá cultivam a videira e seus costumes há mais de 130 anos. O passeio possibilita vasto contato com moradores locais que adoram partilhar dos seus saberes e fazeres, visita às cantinas com degustação de vinhos, espumantes e sucos de uva. Os vinhos da Dal Pizzol podem ser encontrados no mercado nacional em lojas, delicatessens, hotéis, bares, restaurantes e no próprio varejo da vinícola, localizada no km 5,3 da ERS 431, distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves.

Mais informações acesse:

https://www.dalpizzol.com.br/home

Fonte de pesquisa sobre a Cabernet Franc

Portal “Clube dos Vinhos”, em: https://www.clubedosvinhos.com.br/a-cabernet-franc-ainda-dita-lei/

 






quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Marquês de Casa Concha Carmènére 2011


Já ouviu alguém dizer que o vinho é emblemático, icônico? Emblemático pelo seu terroir e proposta e icônico pela sua história e simbiose com a cultura de onde foi produzido. Esse sim é o vinho arrebatador! Aquele que te deixa nas nuvens! Quem é enófilo entenderá perfeitamente o que estou textualizando aqui e agora. E quando você degusta um vinho com essas características aliado à castas importantes de uma região, de um país. Sempre quis unir essas possibilidades e convenhamos que não é uma tarefa fácil escolher um rótulo assim, escolher um vinho nunca é uma tarefa fácil, sobretudo quando se faz no escuro, sem minimamente saber o que quer para o momento ou criar um vínculo com um estilo, uma proposta de vinho, levando em conta fatores como região, safras, castas, é claro, corpo, entre outros fatores. Eu queria, alguns anos atrás e lembro-me bem disso, mesmo tendo passado alguns anos, degustar um Carménère chileno com potência, robustez, estrutura e complexidade. Antes desse rótulo que logo direi qual é, já havia degustado alguns vinhos dessa casta, com outras propostas, dos mais básicos aos intermediários e as experiências foram gratificantes e até surpreendentes para alguns rótulos, mas eu precisava de um vinho icônico e emblemático e eis que surgiu um, embora o mesmo leve 5% de Cabernet Sauvignon, mas ainda assim tinha a magnânima presença dela, da Carménère.

Então o vinho que degustei e gostei é da gigante Concha Y Toro, do Chile, do Vale do Cachapoal, em uma região, com DO (Denominação de Origem) chamada Peumo, tida como a casa do Carménère, e se chama nada mais nada menos que Marques de Casa Concha, com 95% Carménère e 5% Cabernet Sauvignon, da safra 2011. Antes de falar sobre o vinho, como de costume, falemos sobre a região de Peumo.

Peumo, Vale do Cachapoal

É no Vale del Cachapoal, especialmente na região de Peumo, que a Carménère encontra condições ideais para prosperar e mostrar todo seu potencial. Essa condição ideal para o cultivo da Carménère está relacionada diretamente ao solo de argila profundo – por volta de 1,5 metros – e fértil encontrado na zona de Peumo, bem como à ausência de chuvas até o período da colheita, aos dias ensolarados e à grande amplitude térmica – diferença entre as temperaturas mínimas e máximas de um mesmo dia – que chega a atingir picos de 18oC. A comuna de Peumo, localizada por volta de 100 quilômetros ao sul de Santiago, está inserida na parte norte do Vale del Cachapoal, mais precisamente às margens do rio que leva o mesmo nome. Foi nesse lugar de paisagens bucólicas e de próspera produção agrícola que a Carménère encontrou as condições climáticas e de solo desejadas para se desenvolver plenamente e se tornar uma das uvas emblemáticas do Chile.

Vale do Cachapoal

Tais fatores são primordiais para que a Carménère atinja sua plena maturação, tanto fenológica quanto da própria fruta. De fato, por ser uma uva de maturação muito tardia – mais longa, por exemplo, que a Cabernet Sauvignon – ela necessita de solos que retenham a umidade de forma constante durante todo período de amadurecimento, bem como de dias secos, ensolarados, naturalmente frescos e mais úmidos, oriundos da considerável amplitude térmica, e ao relevo de baixa altitude (170 m) da zona de Peumo. Ou seja, essa uva, devido à maturação longa e tardia, tem nos solos férteis da região a possibilidade de manter as condições ideais para desenvolver seu pleno potencial. Além disso, o relevo do Vale del Cachapoal, principalmente na zona Peumo – onde as cadeias de montanhas se estendem de leste a oeste e o rio Cachapoal corre para o mesmo lado –, possibilita uma orientação de plantio dos vinhedos de norte para sul, propiciando uma insolação constante durante todo o dia, o que contribui, também, de forma decisiva para a maturação gradual e constante da uva. De modo geral, pode-se concluir que as condições da zona de Peumo são desejadas e necessárias para se cultivar quaisquer uvas, porém os resultados obtidos com a Carménère mostram que essa zona é das melhores, senão a melhor para o seu plantio em todo Chile.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi muito escuro e profundo, mas brilhante e muito bonito. As lágrimas, finas e abundantes, já anunciam a potência e complexidade do vinho que teimavam em sumir, desenhando as paredes do copo.

No nariz traz notas intensas e agradáveis de frutas vermelhas maduras, como ameixa, especiarias, aquele típico toque de “carpete” da Carménère, com toquees generosos de tabaco e baunilha.

Na boca é estruturado, intenso, com um bom volume de boca, mas redondo, harmonioso e diria até fácil de degustar, com taninos de textura firme e presente, mas amaciados e uma boa acidez, com um toque amadeirado, mas bem integrado ao conjunto do vinho e um chocolate amargo delicioso, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho. Final frutado e persistente.

O Marques de Casa concha, icônico e emblemático vinho da tradicional Concha Y Toro, realizou meu sonho de degustar um legítimo Carménère, da região onde a cepa se dá bem, tem tipicidade, o terroir se deleitando em minha boca de uma forma intensa e visceral. Um vinho que, como se costuma dizer por aí, é digno de se degustar de joelhos, reverenciando e celebrando o que há de melhor na cultura vitícola chilena. Harmoniza muito bem com carnes corpulentas, massas e pizzas. Tem 14,7% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre o Marques de Casa Concha

Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título “Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques de Casa Concha.

Don Melchior de Santiago Concha y Toro

Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.

Sobre a Concha Y Toro

Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho, isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966, onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990 veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre outras.

Mais informações acesse:



Fonte de pesquisa para a Região de Peumo:


Degustado em: 2016



sábado, 12 de setembro de 2020

Roche Mazet Cabernet Sauvignon 2017


A França sempre foi conhecida pela sua vinicultura, sobretudo em regiões como Bordeaux, por exemplo. Sempre foi considerada pelos seus vinhos austeros, sisudos e caros, muito caros! O valor alto era a certeza, embora essa questão seja subjetiva, de que o vinho tinha qualidade. Pelo menos aqueles com “três dígitos”. Ao longo do tempo, talvez por conta desses absurdos quesitos, tive dificuldade de escolher e degustar os vinhos franceses, afinal não tinha condições de me adequar a preços com três dígitos, a valores altos. E por muito tempo minha expectativa de degustar os franceses ficava cada vez mais distante e isso perdurou por um longo tempo. Mas quando passei a ler um pouco mais sobre vinhos, pesquisando novas ou desconhecidas regiões, aquelas ditas “alternativas” e principalmente diversifiquei meus pontos de compra de vinhos comecei a perceber que há sim vinhos franceses mais acessíveis, monetariamente falando, bem como regiões, embora pouco mencionadas, que pudessem entregar surpreendentes vinhos. Foi mais ou menos assim que descobri a região de Languedoc-Roussillon. E quando degustei o meu primeiro rótulo dessa região, o Le Petit Cochonet da casta Sauvignon Blanc eu não o escolhi por ser necessariamente desta região, embora eu soubesse de onde este vinho tenha vindo. Lembro-me o que me chamou a atenção neste vinho foram alguns comentários elogiosos acerca do mesmo e o consequente valor bem atrativo. Quando o degustei foi como um mundo novo surgindo diante dos meus olhos. É possível degustar vinhos franceses a um preço baixo! E assim o foi também com este rótulo, agora um tinto. Eu precisava degustar outro novo vinho do Languedoc-Roussillon.

O vinho que degustei e gostei, como já não é novidade, vem do Languedoc-Rousillon e se chama Roche Mazet da casta Cabernet Sauvignon (100%), da safra 2017. Trata-se de um IGP (Indication Géographique Protégée que em tradução literal significa: Indicação Geográfica Protegida) e também um “Pays D’Oc”. Mas, antes de falar sobre o vinho, seria interessante falar sobre esses termos: “IGP” e “Pays D’Oc”. O que significam e o que isso influencia no vinho que nós degustamos?

IGP (Indication Géographique Protégée), o antigo “Vin de Pays”

O Vin de Pays significa “Vinho Regional”. Para nós brasileiros seria algo como “vinho do interior” ou “country wine” para os americanos. O Vin de Pays tem uma liberdade maior na hora da produção, ainda que submetidos a rigorosas regras. Esses vinhos não foram produzidas conforme a classificação AOC, que veremos adiante. Nessa categoria, podemos ter vinhos com nome do tipo de uva, como acontece no Brasil, Argentina e Chile. O Vin de Pays pode ter no rótulo “Cabernet Sauvignon”, já um AOC, não. É uma chance de o mercado francês competir melhor com os vinhos do “Novo Mundo”. É importante frisar que nem sempre o Vin de Pays indica qualidade inferior ao AOC. Muitas vezes o Vin de Pays é caro e de qualidade extrema, inclusive, pode ser produzido com o resto da produção de uvas que irão para o AOC. O Vin de Pays, a partir de 2009, foi substituído pelo IGP – Indication Géographique Protégée. O mesmo acontece aqui. Por motivos estratégicos, as vinícolas não usarão o IGP por um bom tempo. Essa mudança será introduzida aos poucos. Mas se você encontrar um IGP saiba que significa o mesmo que Vin de Pays.

“Pays D’Oc” ou simplesmente os vinhos do Languedoc-Roussillon

Com vinhedos cultivados desde o ano 125 a.C., Languedoc-Roussillon é uma das regiões vinícolas mais importantes da França, responsável por ¼ de todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários autores, como a inglesa Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores relações qualidade e preço de toda a França. Boa parte da produção é dedicada aos famosos e saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC (Apelação de Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du Langedoc. Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de fruta e sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional, perfeitos para acompanhar as refeições. Languedoc-Roussillon é uma vasta área vitivinícola, que traz um acentuado toque mediterrâneo e um rico histórico de cultivo de vinhas e produção de vinhos, um ciclo que teve início há mais de 2.000 anos com as colônias gregas e romanas.

Languedoc-Roussillon

Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos, originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet, entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação, outras estão conquistando aos poucos seu espaço perante o mundo do vinho. Com um solo bastante fértil, as uvas tintas encontradas com maior facilidade na região francesa são a Syrah, Grenache, Cinsault, Carignan, Merlot e Cabernet Sauvignon. Entre as variedades brancas, encontram-se Rolle, Clairette, Terret, Boubolenc, Muscat, Maccabéo, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Picpoul, Marsanne e Viognier. A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os exemplares tintos vãos desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos. Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados. A tradição de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de constante evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada produtora, dando origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo. Atualmente o Languedoc vem se tornando tão excitantes para vinhos tintos robustos e frutados a preços convidativos. De trinta anos para cá vinicultores pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade reduziu a primazia dos vinhos populares. No período de 1982 a 1993, sub-regiões como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás com tintos apimentados da Grenache.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, com bordas violáceas e lágrimas finas e em profusão, que teimam em desenhar as paredes do copo.

No nariz traz notas de frutas vermelhas que explodem nas narinas de forma exuberante, como amora, cereja, além de um discreto e agradável toque de baunilha e especiarias, algo como pimentão.

Na boca é sedoso, elegante, de corpo leve para médio, fácil de degustar, mas complexo, ao mesmo tempo, com a presença marcante das frutas vermelhas e especiarias, com o toque da madeira na medida ideal privilegiando as características da cepa. O produtor não informa o tempo de passagem por barrica de carvalho, mas acredito que tenha em torno de 4 a 6 meses de passagem por madeira. Tem taninos domados e acidez correta, na medida e um final frutado e levemente amadeirado.

Um vinho moderno, com uma nova cara, sem virar as costas para a essência dos vinhos franceses. É assim que defino o Roche Mazet Cabernet Sauvignon. Termos como elegância, equilíbrio e harmonia sintetizam esse vinho, aliada a personalidade marcante típica da Cabernet Sauvignon. Maciez, elegância e personalidade, se entrelaçam em uma sinergia maravilhosa que se traduz nesse belíssimo Cabernet Sauvignon. Notas de frutas trazem o frescor e a descontração e a passagem por madeira te convida para viajar em uma grata complexidade deste vinho que expressa o que há de melhor no Languedoc-Roussillon. A propósito o nome “Roche Mazet” é uma homenagem às características e a tipicidade da região: “Roche” é a palavra francesa para “rocha” em referência aos solos calcários argilosos da região de Pays d'Oc. “Mazet” é um abrigo de pedra para agricultores, viticultores e criadores, simbolizando uma pessoa no meio das vinhas. O vinho tem 12,5% de teor alcoólico.


Sobre a Roche Mazet:

Fundada em 1998 dentro da Société des Vins de France, a única ambição da Roche Mazet é comercializar um vinho Pays d'Oc bem feito e acessível. A marca foi lançada em 1998 com uma pequena gama de duas variedades: Cabernet Sauvignon e Sauvignon. A gama cresceu, acrescentando novas castas e diferentes formatos. Hoje, a Roche Mazet oferece 7 variedades de vinhos tranquilos e 3 espumantes.

Sobre a Maison Castel:

O Grupo Castel, que é proprietário da vinícola Roche Mazet, foi fundado no ano de 1949 pela família que sempre teve o objetivo de satisfazer os seus clientes e consumidores, oferecendo qualidade a preços bons. Com entusiasmo, paixão, vontade e pragmatismo, a propriedade desde o início aprecia os valores histórico, geográfico e cultural que estão relacionados ao vinho. Com algumas dezenas de hectares repletos de vinhedos de castas autóctones, como Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, a vinícola sempre escolheu o caminho da aliança entre a tradição e a modernidade. Atualmente o Grupo Castel é um dos mais importantes produtores de vinhos franceses e exporta seus exemplares para diversos países de todo o mundo.

Mais informações acesse:



Fontes de pesquisa sobre a região do Languedoc-Roussillon e IGP (Indication Géographique Protégée):






sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Baía dos Golfinhos branco 2019


Que os vinhos da região de Setúbal já fazem parte da minha simples vida de enófilo e, claro, do meu paladar, eu não tenho mais dúvidas. Eu não degustei muitos vinhos dessa estimada região lusitana, mas os poucos que degustei até o momento, fez com que eu me apaixonasse plenamente por essa região a ponto de ter pelo menos um rótulo da Península de Setúbal em minha humilde adega. E por não ter degustado tantos vinhos dessa região ainda, tenho tido algumas novas experiências muito agradáveis e dessa vez não foi diferente. Hoje será a minha primeira degustação de um vinho branco de Setúbal. Mas não se enganem pois apesar do vinho ser da Península de Setúbal este se mostra com a cara do Brasil, oriundo de regiões tropicais que traz as similaridades dos recursos naturais do Brasil e, claro que essas características refletem decisivamente na proposta do vinho: leve, fresco, despretensioso e muito saboroso e melhor: um custo baixo, um valor muito atrativo.

O vinho que degustei e gostei veio como disse, da Península de Setúbal e se chama Baía dos Golfinhos, da tradicional Casa Ermelinda Freitas, com o tradicional corte das castas Fernão Pires (85%) e Arinto (15%), da jovem safra de 2019. Antes eu havia dito das similaridades da região a qual o vinho foi produzido com a natureza tropical do Brasil. Falarei da Baía dos Golfinhos.

Baía de Golfinhos, Setúbal

A área envolvente à Baía de Setúbal é conhecida pela variedade e qualidade das suas áreas vínicas. A Península de Setúbal é rodeada pelo oceano Atlântico e pelos rios Tejo e Sado. A região, situada a sul de Lisboa, é essencialmente marcada pelo turismo e pelas grandes explorações vitícolas. Desde as grandes explorações dominadas pela casta Castelão até ao Moscatel, um dos vinhos generosos nacionais, esta região sempre teve um lugar cimeiro na história dos vinhos portugueses. A Baía de Setúbal é o centro geográfico de um ecossistema rico e variado. Este é o local onde reside permanentemente uma comunidade de cerca de 30 golfinhos (uma das 3 comunidades permanentes de golfinhos na Europa), mas a baía abraça também, a cidade de Setúbal, a península de Tróia, o Parque Natural da Arrábida e ainda a Reserva Natural do Estuário do Sado. O Parque Natural da Arrábida ocupa uma superfície de 17 mil hectares, dos quais 5 mil hectares pertencem ao Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha, oferecendo assim uma miríade de cenários ideais para os seus momentos de lazer. A Reserva Natural do Estuário do Sado é uma fonte riquíssima de património natural, cultural e o local ideal para atividades de lazer. Entre a observação de aves e golfinhos, não pode perder uma visita aos marcos arqueológicos do neolítico, dos fenícios e dos romanos. As águas calmas da Baía dos Golfinhos e áreas envolventes proporcionam o cenário ideal para todo o tipo de atividades náuticas, que vão desde o mergulho, canoagem, vela, até ao kite surfing. É como essa exuberância natural que o vinho Baía dos Golfinhos foi concebido.

Baía dos Golfinhos, Setúbal

E agora finalmente falemos do vinho!

Na taça tem um lindo amarelo palha com reflexos esverdeados já tendendo para ao dourado, muito brilhante e se observa também que o vinho é gaseificado, com pequenos gases, “bolinhas” que já denuncia o caráter fresco do vinho.

No nariz explode uma explosão de frutas brancas, cítricas, como pêssegos, maracujá, pera, maça verde e que, ao girar a taça, irrompe sem perdão nas narinas. Sem falar das notas florais, flores brancas.

Na boca é fresco, jovem, elegante, com um bom volume de boca, preenche a boca, mostrando personalidade, com uma acidez vivaz e equilibrada e um toque mentolado e adocicado, diria, mas sem ser enjoativo. Sem falar da explosão frutada que é o destaque deste vinho. Com um final de média persistência.

Mais uma vez o terroir fala mais alto em Portugal. Um branco estupendo! Essa é a palavra que define bem o Baía dos Golfinhos. Frutas, notas florais, frescor, jovialidade, características essas que permeiam a estrutura natural de onde veio. Como costumamos dizer, diria de forma eloquente: cultura e tipicidade dentro de uma garrafa. Assim é o Baía de Golfinhos branco. Um vinho que harmoniza muito bem com carnes brancas, comidas de entrada, frios, queijos leves ou, diante de sua nobre simplicidade pode ser degustado sozinho. Um senhor vinho que me surpreendeu positivamente, me arrebatou pelo seu custo X beneficio insuperável. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Ermelinda Freitas:

A empresa, iniciada em 1920 por Deonilde Freitas, continuada por Germana Freitas e mais tarde por Ermelinda Freitas, sempre dedicou especial atenção ao vinho. Pelo desaparecimento precoce do seu marido, Manuel João de Freitas, Ermelinda deu continuidade à empresa com colaboração da sua filha única, Leonor, que embora com formação fora da área vitivinícola, tomou a liderança da empresa reforçando assim a presença feminina na sua gestão. Desde a primeira geração que esta casa aposta na qualidade das vinhas e dos vinhos, que inicialmente eram produzidos e vendidos a granel sem marca própria. Foi com a atual gestão que se deu a grande mudança de se  criar marcas próprias. Assim, em 1997, iniciou-se um novo ciclo com o “Terras do Pó” tinto, primeiro vinho produzido e engarrafado da Casa Ermelinda Freitas. elo trabalho desenvolvido, Leonor Freitas foi agraciada a 10 de Junho de 2009 com a comenda de Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial Classe do Mérito Agrícola Comendador por Sua Excelência o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.

As vinhas

Herdando 60 ha de vinhas de apenas duas castas: Castelão e Fernão Pires, situadas em Fernando Pó na região de Palmela, Leonor Freitas com o seu espírito inovador e diferenciador introduziu uma diversidade de castas como a Trincadeira, Touriga Nacional, Aragonês, Syrah, Alicante Bouschet, entre outras. Sendo a Casa Ermelinda Freitas proprietária neste momento de 440 hectares de vinha, onde 60% são de Castelão, 30% de variedades tintas como Touriga Nacional, Trincadeira, Syrah, Aragonês, Alicante Bouschet, Touriga Franca, Merlot and Petit Verdot, e 10% de uvas brancas como Fernão Pires, Chardonnay, Arinto, Verdelho, Sauvignon Blanc e Moscatel de Setúbal. Dada a localização privilegiada da exploração, nela são produzidos alguns dos melhores vinhos da região.

Mais informações acesse:


Fonte de pesquisa sobre a Baía dos Golfinhos

Site “Baía dos Golfinhos”: http://abaiadosgolfinhos.pt/