sábado, 27 de fevereiro de 2021

56 Hundred Pinot Grigio 2018

 

Dentre as diversas castas brancas que temos para nosso deleite, simples enófilos de plantão, eu adoro a Pinot Grigio. Tenho a impressão de que ela não é muito bem aceita. Já ouvi alguns dos maiores absurdos e injustiça a respeito dela, tais como: aguada, sem expressão, péssimo no paladar, entre outros tristes comentários. Não é discurso de fã cego, mas não há como não se render aos encantos da Pinot Grigio, sobretudo no clima tropical de quase todo ano de nossa terra brasilis. Ela cai como uma luva!

E cabe aqui, embora seja mais uma dessas histórias enfadonhas de enófilos desocupados, contar como a conheci. Estava em uma dessas confraternizações de trabalho que costumas ser um tanto quanto chatas e cansativas. Então, quando cheguei no restaurante onde iria acontecer a reunião, e resolvi pedir o vinho. Um tanto quanto temoroso quanto aos valores que iria encontrar, virei as páginas do cardápio em busca de um rótulo que fosse atrativo, tanto no valor quanto no que ele poderia oferecer no que tange a qualidade. Me deparei com um que, apesar de conhecer o produtor, Miolo, eu não havia reconhecido o nome da casta: Pinot Grigio? Bem, resolvi pedir ao garçom e um branco viria a calhar naquele dia que fazia um calor insuportável! Aproveitei, mesmo sem conhecer a casta, e pedi ao bom e atencioso garçom que colocasse no balde com gelo para ficar no ponto de degustação.

Quando o vinho chegou eu, em uma mescla de animação e ansiedade, logo que tive a taça enchida pelo amável garçom, degustei e voilá: Que vinho delicioso! Uma explosão de frutas brancas e amarelas com um envolvente toque floral e pensei: Que escolha maravilhosa! Que vinho estupendo, apesar de sua simplicidade! Esse foi o Miolo Reserva Pinot Grigio que em um futuro breve textualizarei as minhas agradáveis impressões. E a partir daí não larguei mais do Pinot Grigio, degustando vários outros, de vários países: Chile, Itália (que logo descobrir ser um “oásis” para essa cepa), entre outras.

E hoje, mesmo com a Pinot Grigio faz parte, de forma contínua, em minha vida enófila, hoje degustarei um Pinot Grigio de uma região que não esperava que fosse encontrar cultivo: África do Sul, da região de Western Cape, uma das mais emblemáticas daquele país.

E o produtor não fica atrás, um dos mais importantes: A Nederburg. Então o vinho que degustei e gostei, como disse vem da magnífica região de Western Cape, a casta, claro, é Pinot Grigio e o vinho se chama 56 Hundred, da safra 2018, a linha mais básica, mas digna de plena atenção, haja vista que degustei, também dessa linha, a 56 Hundred Chenin Blanc 2017 que também é surpreendente! Mas não é tão surpreendente como o Pinot Grigio. Bem já que falei da emblemática Western Cape, vou tecer alguns comentários sobre ela e a sua importância para a vitivinicultura sul africana.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo palha, clarinho, translúcido, brilhante e com discretos reflexos esverdeados e algumas dispersas lágrimas finas e que se dissipa rapidamente.

No nariz uma intensa explosão aromática de frutas brancas e cítricas com o destaque para melão, pera, maçã verde, lima e limão, além de um toque floral excelente.

Na boca as notas frutadas são evidentes como no aspecto olfativo, é leve, jovem, mas com uma personalidade potencializada pela ótima acidez que faz do vinho fresco e refrescante. Um final persistente e com um retrogosto frutado.

Mais um capítulo importante na minha vida, na minha trajetória enófila com uma degustação de novo rótulo da casta Pinot Grigio. Embora o nível de rejeição da mesma seja alto, ela está em alta em meu humilde conceito. E com direito a mais uma grata novidade: meu primeiro Pinot Grigio da África do Sul que, a cada rótulo, a cada degustação tem se revelado o óbvio: um dos principais países de produção e cultivo de vinhos do mundo! Como que um vinho básico, como essa linha da Nederburg, pode cativar tanto? Ser tão bom? Aprendi com um especialista e crítico de vinhos que, para mensurar a qualidade e idoneidade de um produtor, deguste os seus vinhos básicos e a Nederburg se enquadra perfeitamente nessa frase. Um Pinot Grigio alegre, delicado, elegante e que pode substituir perfeitamente aquela cerveja de fim de semana em dias de intenso calor. Que novas experiências com a Pinot Grigio me arrebate sempre, por inteiro! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Nederburg:

A história de Nederburg começou em 1791, quando o imigrante alemão Philippus Wolvaart adquiriu 49 hectares de terra no vale de Paarl. Ele nomeou sua propriedade Nederburgh, em homenagem ao comissário Sebastiaan Cornelis Nederburgh. Mais tarde, o 'h' foi retirado da grafia do nome da fazenda e tornou-se Nederburg como é conhecido hoje. A bela mansão holandesa do Cabo, coberta de palha e empena, que Wolvaart completou em 1800 é hoje um monumento nacional. E sobre a linha “56 Hundred” há uma curiosidade: Essa variedade de vinhos refrescantes, frutados e suave leva o nome ao preço de mil e seiscentos florins que Philippus Wolvaart pagou em 1791 pela fazenda em que deveria nomear Nederburg. Um visionário que reconheceu o potencial vitícola da terra, ele teve a tenacidade de domesticar a propriedade e estabelecer uma fazenda que continua a florescer hoje. Em 1810, vendeu a fazenda para a família Retief, que conservou a propriedade por 70 anos. Em seguida a Nederburg passou por diversos proprietários até ser adquirida, em 1937, por Johann Graue que foi buscar na Alemanha o talentoso enólogo Günter Brözel para comandar a produção. Durante anos, Brözel elevou a reputação da Nederburg a nível mundial. Quem o sucedeu foi o enólogo romeno Razvan Macici, que recebeu inúmeros prêmios ao longo dos anos. Macici aliava a capacidade de criar vinhos exclusivos à habilidade para a elaboração de rótulos acessíveis. A Nederburg é conhecida pela visão vanguardista, sempre valorizando os cuidados no vinhedo e na vinificação para a elaboração de exemplares famosos mundialmente.

Harmonizando com um queijo minas

Mais informações acesse:

https://www.nederburg.com/

Referências de pesquisa:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

 

 





quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Lago Sur Gran Reserva Carménère 2015

 

Pode parecer um iminente risco, e de fato é, escolher vinho no escuro, sem maiores informações e eu tento, ao máximo, evitar tais riscos, mas há casos em que quando você bate o olhar em um rótulo em exposição, parece que você se hipnotiza e que te faz, como em um leviano impulso, um instinto animalesco, levar o vinho sem pensar. Digo que passei por essa situação, mas pergunto: E qual enófilo já não passou por esse momento tão arriscado?

Estava eu em minhas famosas e indefectíveis incursões em supermercados e avistei ao longe, ainda incerto e confuso com o que via, mesmo que em destaque, alguns rótulos que não reconheci, mas que chamava a atenção com valores atraentes e com números e valores dispostos de forma garrafal e, quando me aproximei um pouco mais, um tanto que embebecido pelo que testemunhava, vi alguns gran reservas com preços assustadoramente excelentes. Pensei, antes de sequer leva-los a minha mão: Mas como um gran reserva pode custar tão pouco? Não pode ser verdade! Estava, lembro-me bem, em torno dos R$ 45!

Quando depois de todo êxtase sentido, resolvi ter em minhas mãos os rótulos. Observei atentamente que se tratava de um chileno, da famosa região DO Maule e havia as castas mais emblemáticas produzidas no Chile, tais como Carménère, Cabernet Sauvignon e Merlot. Resolvi arriscar com o óbvio, mas que nunca erra: a famosa Carménère! Há quem diga também que comprar gran reserva a esse preço também é um risco, um verdadeiro tiro no pé. Eu confesso que não conhecia nada do vinho, do produtor, pouco tinha a respeito no rótulo e contra rótulo. Mas o preço me atraía como um imã! Decidi arriscar, mas com algumas controvérsias, mas o levei para minha adega e por lá não ficou muito tempo, porque a ansiedade de degusta-lo era tamanha.

Então foi chegado o tão esperado momento! O desarrolhei e voilá! Que excelente vinho, me arrebatou, me surpreendeu por inteiro. O vinho que degustei e gostei, como disse, veio da região chilena do Maulle e se chama Las Casas de Vaqueria Lago Sur Gran Reserva da casta Carménère da safra 2015. Um vinho que já na cor denunciaria a sua personalidade, o aroma inebriante... Mas não falarei ainda do vinho, mas sim da famosa região do Maule.

Maule DO

A maior e uma das mais antigas regiões vinícolas do Chile, o Maule é um lugar cheio de charme e com clima propício à vitivinicultura. A região se inicia a menos de 300 quilômetros de Santiago, capital do país. Seus microclimas e solos diversos possibilitam a cultura e produção de uma variedade muito grande de vinhos, já que praticamente todas as castas de uvas cultivadas no Chile são encontradas no Vale do Maule. A região tradicionalmente sempre esteve associada à quantidade da produção muito mais do que à sua qualidade. Nos últimos anos, porém, isso tem mudado substancialmente. Castas internacionais e reconhecidas na vitivinicultura mundial vêm suplantando as de baixa qualidade plantadas na região, e, aliada às práticas cada vez mais desenvolvidas no cultivo das frutas e produção dos vinhos por parte dos seus vinicultores, o Maule tem dado vinhos de alta classe ao mercado, especialmente da variedade Carignan.

O Vale do Maule foi uma das primeiras áreas no país andino onde se plantou vinhas – a história da viticultura da região é quase tão antiga quanto a colonização espanhola no novo mundo. É verdade que, de 1550 até 1860, os assentamentos espanhóis no Maule se deram em menor escala que em outros pontos de colonização no Chile, mas sua tradição agricultora fortaleceu o desenvolvimento da região. No século XIX, o governo chileno implantou uma política de imigração que possibilitou a entrada de europeus vindos de países como França, Itália, Inglaterra e Portugal para aumentar seu potencial econômico através da agricultura. Quando os espanhóis chegaram no Maule, no meio do século 16, trouxeram a uva País que dominou as plantações do vale.

Maule DO

Banhado pelo famoso rio que lhe dá nome, o Maule tem clima temperado mediterrâneo, com intensidade alta de sol no verão, com temperaturas máximas entre 19º C e 30º C, e chuva anual concentrada no inverno, quando as temperaturas chegam à mínima de 7º C. Os dias quentes seguidos de noite frias facilitam e prolongam a temporada de cultivo e colheita das uvas, dando-lhes um tempo de amadurecimento total, o que equilibra seus níveis de acidez e doçura. O Rio Maule, que flui do leste para o oeste do Chile, através de um caminho que se inicia nos Andes e termina no Pacífico, ainda propícia à região solos aluvial diversificados, indo desde o granítico até o arenoso. Férteis, esse solos favorecem o cultivo produtivo nos vinhedos da região.

Região com longa e bem sucedida história na cultura e produção de vinhos, Maule tem na vitivinicultura sua atividade econômica principal; alguns dos mais extensos vinhedos do país estão localizados lá, e alguns deles datam de 1830. Cerca de 50% de todo o vinho exportado do Chile é oriundo do Vale de Maule, que sempre foi conhecida por sua produção em larga escala. A uva mais cultivada no Vale do Maule é a Cabernet Sauvignon com 8.888 de hectares plantados. Nos anos 90, essa produção recebeu grandes investimentos que ocasionaram o desenvolvimento técnico em equipamentos e infraestrutura, que em conjunto com mudanças significativas nas formas de manejo dos vinhedos, favoreceu o surgimento de uma produção mais especializada, resultando vinhos de alto padrão de qualidade e elevado valor comercial. O vale ainda oferece muitos atrativos turísticos relacionados ao mundo dos vinhos. Uma rota composta por um conjunto de 15 vinhas em diferentes cidades da região possibilita ao visitante entrar em contato com o processo de produção, além de degustação de vinhos e pratos.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, mas com bordas violáceas com muito brilho, além de uma abundante concentração de lágrimas, finas e que teimavam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz a explosão aromática de frutas vermelhas e negras, onde se percebiam cereja, amora, ameixa e com o aporte da barrica de carvalho trouxe uma complexidade maravilhosa, tais como especiarias, tabaco, chocolate, torrefação.

Na boca é elegante, sofisticado, mas estruturado que lhe confere personalidade, a robustez, mas domado pelos 12 meses de passagem por madeira (cerca de 60% do vinho), com taninos presentes, acidez correta, o toque amadeirado evidente, mas bem integrado ao conjunto do vinho sem mascarar as características da cepa. A baunilha também é presente, bem como o toque do chocolate amargo e um final persistente, longo.

Um vinho maiúsculo, robusto, mas delicado e macio, fácil de degustar, graças as vinhas velhas com mais de 70 anos. Um vinho que, no auge dos seus suspeitos valores baixo que poderia denotar má qualidade para um gran reserva, revelou-se um vinho de excelência, um legítimo Carménère chileno, vigoroso, pleno, como deve ser. Pois é, o risco pode ser iminente em escolher um vinho no escuro, com escassas informações, mas nunca devemos negligenciar o nosso feeling e o que o coração nos diz e esse gritou em plenos pulmões: Que baita vinho! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Donoso:

A Viña Casa Donoso surgiu no mercado num momento em que a indústria do vinho chileno começou a tornar-se mais sofisticada. Foi em 1989 quando um grupo de empresários estrangeiros, cativados pela beleza e as potencialidades do meio ambiente, adquiriu a fazenda “La Oriental”, um histórico “Domaine” no coração mesmo do Vale do Maule, 250 km ao sul de Santiago do Chile, que pertencia à senhora Lucia Donoso Gatica. Uma mulher de especial encanto e empuxe empresarial, ela inspirou o próprio conceito da Vinha Casa Donoso, orientado para a produção tradicional de vinhos tintos e brancos, no melhor estilo francês.

Durante muitos anos a Casa Donoso desenvolve um conjunto de linhas de produção de normas de qualidade muito elevadas, sendo a base para conceber a produção de vinhos da linha Reserva, Gran Reserva, Premium, todos aqueles que já qualificados nos cinco continentes em termos de presença, participação e reconhecimento.

Sobre “Las Casas de Vaqueria”:

Na Fazenda Las Casas de Vaqueria, no Vale do Maule, está a casa mais antiga entre as fazendas da Casa Donoso. Foi construído no século 19, conhecido como a "era colonial" no Chile. Graças à combinação ideal do terroir do Maule, vinhas velhas e o clima perfeito, os enólogos podem oferecer vinhos premium chilenos inspirados na tradição e história do campo chileno.

Mais informações acesse:

http://donosogroup.com/index.html


Referências de pesquisa:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vale-do-maule-fertilidade-e-diversidade-de-uvas-e-vinhos/

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-de-maule

Degustado em: 2017

 




sábado, 20 de fevereiro de 2021

Aurora Reserva Merlot 2017

 

Lembro-me como se fora ontem, na minha época de transição dos vinhos de mesa, aqueles famosos de garrafão para os vinhos finos, os rótulos produzidos com castas vitiviníferas. Sei, insisto demasiadamente em evocar esses momentos em algumas resenhas que figuram neste blog, mas lembro-me, com uma doce nostalgia desse momento que, como todo enófilo brasileiro passou ou pelo menos deveria ter passar. Atire a primeira pedra que nunca passou por esse momento! Mas, diante disso tudo, acredito que os poucos que estão lendo essas linhas devem estar se perguntando: Por que ele está textualizando, contextualizando isso justo agora? Será o rótulo de hoje ter alguma relação? Bem, relação direta não tem, mas a sua casta e a sua nacionalidade me fez lembrar aqueles tempos de outrora, da minha transição!

Lembro-me, com nitidez absurda, como se tivesse passando um filme na retina, do primeiro vinho que degustei nesse período transitório há quase 22 anos atrás: O meu primeiro rótulo foi um Almadén Merlot, não me recordo a safra, afinal, nem tudo eu conseguiria lembrar-me, mas o rótulo sim, e como lembro. Lembro-me das primeiras taças e das rejeições iniciais, um vinho seco, muito seco em relação aos adocicados vinhos de 5 litros, mas insisti, degustei a segunda taça, a terceira taça... Na quarta taça estava regozijando de prazer por degustar aquele vinho, estava mais do que adaptado e mais do que decidido: Eu quero degustar esses vinhos agora! Eles farão parte da minha vida!

E tem sido assim ao longo do tempo, seguindo a minha estrada em busca de novas e maravilhosas experiências sensoriais, de novos rótulos e castas, de novos terroirs. Mas naquela época eu estava conhecendo e a Merlot logo se tornaria a minha casta preferida. Comprei e degustei, avidamente, vinhos com essa nobre cepa. Degustei tantos que não ousaria dizer quais foram os rótulos que degustei, um a um. E já naquela época, mesmo sem saber, já sabia que a Merlot cultivada em nossas terras, em nossos terroirs ganharia reconhecimento em dimensões nacionais e fama internacional. Demoraria sim, mas seria questão de tempo! E a constatação de tudo isso viria acontecer com um rótulo que me arrebatou por inteiro, quando o degustei em 2016, mais de 15 anos depois da minha primeira experiência com essa casta. O vinho é o Aurora Reserva Merlot 2015.

Aurora Reserva Merlot 2015

Esse rótulo chegou a mim graças a uma leitura que fiz de algumas matérias enaltecendo os prêmios internacionais que o Aurora Merlot 2014 ganhou, inclusive um prêmio que conquistou de melhor Merlot no mundo em um ranking com 100 vinhos premiados, sendo o Merlot da Aurora o mais bem posicionado entre os demais Merlots que estavam na lista. Isso me chamou a atenção e eu precisava tê-lo em minha adega. Infelizmente eu não consegui encontrar o da safra 2014, mas avistei o da safra 2015 e pensei: Se de fato o vinho é bom, as safras seguintes também são e não hesitei em leva-lo para casa. Um vinho estupendo! Frutado, fresco, mas de bom corpo. Maravilhoso! Mas é claro que não deveria ficar apenas nesse, eu precisava buscar novas safras e seguir o caminho de novas experiências com o mesmo rótulo.

Então o vinho que degustei e gostei veio do Brasil, a terra do Merlot, da região de Bento Gonçalves e é o Aurora Reserva Merlot da safra 2017. E para corroborar a minha tese do sucesso da Merlot no Brasil e todo o sustentáculo que faz desta cepa tão popular neste país, extraí do “blog Sonoma” um texto muito rico e que revela tais detalhes.

 A Merlot com cara de Brasil

O paranaense Dirceu Vianna Junior, único Master of Wine do Brasil e radicado há muitos anos em Londres, reuniu em 2010 um grupo de 40 profissionais internacionais, entre eles 15 Masters of Wine, para uma degustação às cegas de vinhos com a variedade Merlot produzidos em 11 países diferentes. O resultado foi impressionante: entre os 10 melhores classificados pelos especialistas, oito eram brasileiros. Esse é mais um de tantos reconhecimentos importantes obtidos pelos Merlots produzidos no Brasil por sua alta qualidade. E qual é o segredo de tanto sucesso?

Primeiro tem a questão da adaptação da uva ao lugar, ao tipo de solo, de clima e todas as condições que envolvem o cultivo da uva. Neste quesito o relacionamento da Merlot com o Brasil vai muito bem! Tanto que se diz que ela está se tornando a uva emblemática dos vinhos brasileiros, assim como a Malbec é para a Argentina ou a Carménère para o Chile. Na realidade, este sucesso tem sido conquistado, sobretudo pelos Merlots produzidos especificamente na Serra Gaúcha, a maior e mais tradicional região vinícola do Brasil e onde boa parte dos vinhedos já produz há mais de duas décadas, tempo suficiente para esta adaptação e para que as vinhas gerem uma produtividade adequada para obter uvas da mais alta qualidade. A Serra Gaúcha é conhecida por seus altos índices de chuva, que variam de safra para safra e que, nos anos mais chuvosos, prejudica o pleno amadurecimento de muitas variedades, como a Cabernet Sauvignon. A Merlot tem algumas características que a fazem sofrer menos com esta condição climática. Ela é mais resistente e amadurece mais cedo que a maioria das outras variedades tintas, ficando pronta para a colheita antes dos períodos de maior incidência de chuva, o que favorece o pleno amadurecimento de todos os elementos importantes de um bom vinho, como teor de açúcar, polifenóis e antocianos (os que dão cor ao vinho). Tem também o saber fazer dos produtores, que já acumulam conhecimento e experiência sobre esta relação da uva com a terra, que combinadas com as técnicas adequadas de elaboração, geram vinhos da mais alta qualidade e, o que é melhor, com personalidade brasileira.

Em todas as safras são sempre vinhos muito prazerosos de se beber. O paladar é macio por conta de taninos bem redondos. É típico da Merlot uma boa acidez, que com o bom amadurecimento das uvas fica muito bem equilibrada com álcool moderado, em torno de 12% a 13%. Estas três características juntas permitem beber vinhos jovens e já bem equilibrados, quando mostram aromas de frutas, como cerejas e ameixas, mescladas a especiarias e aos tostados, quando amadurecidos em madeira. Diferentemente do que muitos acreditam, os vinhos brasileiros envelhecem muito bem, sobretudo os Merlots. Este tripé de taninos, acidez e álcool permite que o vinho permaneça muito tempo evoluindo em garrafa, revelando depois de alguns anos vinhos ainda frescos, trocando as frutas frescas por secas e pelas compotas.

E finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi intenso, com bordas violáceas brilhantes, com lágrimas finas e abundantes com desenham as paredes do copo.

No nariz explodem as frutas vermelhas, em compota, lembrando morango, framboesa, groselha e cereja. As notas discretas e agradáveis da madeira e de baunilha se fazem presente, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é seco, tem certa estrutura, com bom volume, mas, por outro lado é muito elegante e sedoso, sendo fácil de degustar, se reproduzem, como no aspecto olfativo, as notas frutadas, frutas vermelhas, com taninos macios e boa acidez que lhe garante a condição de muito frescor, além das discretas notas amadeiradas que faz com que o vinho tenha uma boa persistência e um longo final.

O tempo só confirmou o que nós, simples enófilos de coração, já havia absorvido pela taça e pela alma: que o Merlot brasileiro sempre teve a nossa cara, o DNA original de nossa terra, do saber fazer de abnegados produtores e enólogos que moldaram a Merlot a imagem e semelhança de nossos terroirs, a tipicidade plena e vigorosa para nossa deleite, enchendo a nossa taça e deixando um pouco os nossos dias melhores, com a celebração de se degustar bons Merlots brasileiros. Como mencionado no blog Sonoma, não duvido e compartilho da opinião de que o Merlot brasileiro, em pouco tempo, terá a mesma importância que a Malbec na Argentina e o Carmènére no Chile. É apenas mostrar o nosso Merlot para os brasileiros, indistintamente, sem credo ou questão social para todos os brasileiros democraticamente, com vinhos mais acessíveis, com preços justos a todos os brasileiros. Opções de rótulos têm, só falta vontade política para eles chegarem às mesas de todos os brasileiros. E o Aurora Merlot Reserva é, sem dúvida alguma, um dos melhores de sua categoria neste país, a cada aurora de uma nova safra que chega às gôndolas de supermercado ou lojas especializadas. Um vinho frutado, elegante, redondo, fácil de degustar, mas com a personalidade única e marcante de um autêntico Merlot do Brasil, ufanismos à parte. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:

A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul. Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra fundamental da empresa.

Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para desmitificar as oito décadas da empresa.

No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os 232 rótulos da empresa. Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco. Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta. A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolaaurora.com.br/br


Referências de pesquisa:

Site “Falando em Vinhos”: https://falandoemvinhos.wordpress.com/2017/03/16/o-vinho-aurora-reserva-merlot-e-ouro-no-concurso-vinos-bacchus-na-espanha/#:~:text=O%20vinho%20Aurora%20Reserva%20Merlot%2C%20um%20dos%20100%20vinhos%20mais,edi%C3%A7%C3%A3o%202015%20do%20Vinos%20Bacchus.

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/uvas/o-sucesso-da-merlot-no-brasil/







terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Reserva da Serra Merlot e Cabernet Sauvignon 2005

 

Adoro os vinhos evoluídos! Adoro mesmo sem ter degustado tantos vinhos com essa proposta! O que tem me cativado são as histórias que envolvem esses rótulos, a forma como foram concebidos e o tempo, particularmente o tempo que eles passaram para chegar a condição de vinhos de guarda e os que tornaram evoluídos, com vocação de guarda. Atribui-se aos europeus essa condição. Os melhores vinhos evoluídos são do Velho Mundo, os franceses, os espanhóis, os italianos com seus rótulos emblemáticos e de regiões tradicionais são imbatíveis e intocáveis nesse sentido. Mas não se enganem que esses vinhos velhos, antigos são exclusividade dos europeus. O Brasil e a Argentina, por exemplo, já produzem vinhos com potencial de guarda e estão entregando vinhos excepcionais, ricos em aromas, em complexidade e tudo que faz desses vinhos espetaculares e com peculiaridades dignos de poucos.

E, antes de entender ou pelo menos me aventurar nos conceitos de vinhos evoluídos eu, buscando em meus arquivos de degustações, descobri um vinho que havia degustado, brasileiro, da excepcional Lídio Carraro, com, pasmem, 10 anos de vida! Sim, um vinho brasileiro, do Novo Mundo, com longos 10 anos de vida e, pasmem ainda, pleno, vivo e que aguçou todos os meus sentidos e sensações. Mas degustei, lembro-me com vivacidade, como se fora um vinho, mais um vinho. Talvez isso tenha sido bom, pois o degustei sem estereótipos, sem conceitos pré-determinados, era um vinho, especial, mas um vinho. Por isso disse: Já gostava dos vinhos evoluídos antes de saber o que de fato significava potencial de guarda ou pelo menos ter me enveredado sobre o referido assunto.

Então o vinho que degustei e gostei veio do Brasil, do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, do boutique Lídio Carraro e se chama Reserva da Serra, composto pelo corte das castas Merlot e Cabernet Sauvignon, da safra 2005, com inacreditáveis 10 anos de vida, pois fora degustado em fevereiro de 20015, completando, neste mês de fevereiro de 2021, que estou redigindo esta resenha, 6 anos que o degustei.

5, 10, 15, 20 anos ou mais! O que faz do vinho ser tão longevo? As barricas de carvalho? As cepas selecionadas? O que faz desse vinho tão especial, único e até digno de discussões e polêmicas? Afinal, vinhos como esse, dizem por aí, podem ser relativos, sobretudo da forma como ele foi armazenado após a sua saída da vinícola e também em nossas casas. Então falemos um pouco sobre vinhos de guarda.

Os evoluídos

A delicadeza da cor levemente alaranjada, com tons atijolados, logo é completada por uma mistura de aromas intrigantes – com os quais nem sempre estamos acostumados, como trufas, café, couro, tabaco etc – e, ao se sorver gentilmente o líquido, pode-se sentir aquele tipo de suavidade que somente o tempo traz aos vinhos (no caso, os tintos). Há sensações (cheiros e sabores) que só são proporcionadas por um vinho velho. Esse espectro aromático, que vai dos frutos secos, passando por tons defumados até notas de trufas (e além), por exemplo, só é revelado quando a bebida evolui em garrafa. Eles são chamados de aromas terciários, e só são formados durante a lenta oxidação pela qual o líquido passa com os anos. É isso que os especialistas nomeiam como “buquê” – termo que está intimamente ligado a vinhos envelhecidos. Com o tempo, a oxidação dos ácidos em conjunto com o álcool resulta em novos aldeídos e, especialmente, ésteres, assim como em novas combinações entre eles, o que cria aromas tão diferentes dos puramente frutados encontrados na juventude. Durante o envelhecimento em garrafa, os íons de hidrogênio (mais presentes em vinhos com baixo pH – ou seja, mais ácidos) tendem a catalisar a formação de ésteres dos ácidos e álcoois presentes na bebida. Por outro lado, esses íons também ajudam os ésteres a se dividirem novamente em ácidos e álcoois. E essas duas ações, com o tempo, costumam levar a um estado de equilíbrio entre álcool, ácidos, ésteres e água. Assim, durante a “vida” de um vinho, os aromas mudam de acordo com as diferentes concentrações desses compostos. O mesmo ocorre com as percepções no palato, que se tornam mais redondas e suaves do que as encontradas em um vinho jovem, graças à evolução dos taninos. Acredita-se que, no começo, após macerados, esses polifenóis apresentam peso molecular baixo. Mas, com o tempo, a tendência são eles se polimerizarem, alongando as cadeias de carbono e, com isso, aumentando o peso. Quanto maior o peso molecular, mais macia se sente a bebida – e assim também se formam os sedimentos. Essa crença, no entanto, vem sendo questionada por pesquisadores. Verdade ou não, o certo é que, com o tempo, a combinação entre taninos, ácidos e álcool tende a ficar mais sutil, proporcionando uma sensação mais sedosa na boca.

Como definir potencial de envelhecimento?

Não existe uma receita precisa para determinar o potencial de envelhecimento. Algumas dicas são acompanhar as recomendações do produtor (que muitas vezes são conservadoras face ao real potencial de evolução) e as dicas dos especialistas. Na prática, o ideal seria comprar algumas garrafas do mesmo vinho e safra e abri-lás em intervalos determinados e dessa forma montar nossa própria análise evolutiva. A cada nova prova, determinamos o momento de abrir a próxima garrafa, até possivelmente atingir o estágio máximo de evolução e chegar ao tão desejado auge. A medida que executamos dessa forma, a experiência acumulada nos permite ser mais assertivo nessa análise.

E agora finalmente sobre o vinho!

Na taça já apresentava uma característica típica de um vinho já de guarda, com um vermelho rubi de média intensidade, já com uma cor acastanhada, diria um atijolado, com lágrimas finas e de média intensidade, mas que teimava em se dissipar das bordas da taça.

No nariz eram perceptíveis os toques de frutas secas e em compota como avelã e trufa, por exemplo, um buquê, pois apresenta, além das características de um vinho de guarda, apresenta também características de aromas primários e secundários que, além das referidas frutas secas, apresentava notas de tabaco, café, couro e de especiarias, como pimenta, por exemplo, e um agradável floral, mostrando a vivacidade do vinho.

Na boca um vinho complexo, mas polido e elegante como sugere a sua condição de vinho evoluído com 10 anos de vida: com as mesmas sensações sentidas no olfato, tais como as notas de frutas secas, tabaco, couro, algo de terroso, com taninos macios e redondos, domados pelo tempo, com uma acidez discreta, cortesia também do tempo. Percebe-se um amadeirado, o que deduz passagem por barricas de carvalho, mas não há informação disponível sobre isso no portal do produtor. Final persistente e marcante.

De fato não são vinhos para o dia a dia, afinal o mercado ofertam vinhos rápidos, ligeiros, para imediata degustação, de vinhos mais jovens. O percentual de vinhos evoluídos é baixo em relação aos vinhos velhos. Não quero estimular um embate entre o Velho X Novo, são vinhos com propostas totalmente distintas e que sequer, mesmo que eu quisesse, não poderia ou deveria promover um embate entre ambos. Mas como aqui neste momento a tapete vermelho está estendido para o Reserva da Serra Merlot e Cabernet Sauvignon 2005, não podemos, evidentemente, negligenciar todas as honrarias para esses vinhos mais velhos, onde somente o tempo para deixa-los finos, elegantes, domados, mas com a complexidade única que só o tempo pode proporcionar. O Reserva da Serra tem todos esses predicados: aromas incomuns e fantásticos, paladar delicado, mas de marcante personalidade e um apelo visual que, apesar de denotar um vinho em declínio, apresentou uma porta de entrada para um vinho especial e diferenciado nas suas mais diversas nuances sensoriais. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Lídio Carraro:

 Em 1875 chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes italianos vindos da região do Vêneto e, entre eles, a família Carraro, que se estabeleceu em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. O negócio principal da família sempre foi o cultivo de uvas e tradicionalmente elaborava um pequeno volume de vinhos para o consumo próprio. Na década de 70, Lidio Carraro se destacou como um dos líderes da implantação das vitis viníferas na Serra Gaúcha, sendo um dos pioneiros no cultivo da variedade Merlot. A partir dos anos 90, iniciou uma busca obsessiva por encontrar e desenvolver melhores vinhedos motivados pelo amor pela viticultura e pela vontade de um dia reconhecer nos vinhos todo o trabalho dedicado às videiras. Ainda na década de 90, após seu estágio em uma vinícola no curso de Engenharia de Alimentos, Juliano Carraro ingressa na faculdade de enologia e sua vontade de elaborar vinhos contagia toda a família - inclusive o irmão mais novo, Giovanni Carraro, que anos mais tarde também se forma enólogo e atualmente é o responsável pelos vinhos Puristas da Vinícola.

Em 1998, após vários estudos, Lidio converte sete hectares no Vale dos Vinhedos para uvas da melhor qualidade e inicia a criação de sua adega. Em 2001, ocorre a fundação da Vinícola Lidio Carraro e a família adquire 200 hectares em Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul. A região mais tarde se tornaria um pólo vitícola brasileiro. Os vinhedos no Vale dos Vinhedos iniciam as primeiras produções em 2002 e a safra dá origem aos primeiros vinhos com a marca Lidio Carraro, que chegam ao mercado em 2004. Pouco tempo depois, a vinícola vence uma seleção para representar o vinho brasileiro nas prateleiras do DutyFree de aeroportos internacionais, tornando-se o primeiro produtor brasileiro a fazê-lo. Com esta porta aberta para o mundo, a Lidio Carraro começa a receber pedidos internacionais e dá início às exportações ainda em 2005. Desde então, os reconhecimentos chegam de todas as partes do mundo e a vinícola se torna referência em vinhos do Brasil da mais alta qualidade e com uma identidade própria, chegando a representar o país em alguns dos eventos mais importantes da história das últimas duas décadas.

Mais informações acesse:

https://www.lidiocarraro.com/br

Referências de pesquisa:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-velho-vinho-bom_10208.html

“Vinho, Vida & Viagem”: https://vaocubo.com/2018/12/14/degustacaodecada70/

Degustado em: 2015


sábado, 13 de fevereiro de 2021

Barahonda Tranco Monastrell e Cabernet Sauvignon 2016

Quando nos lembramos da Espanha no que tange a produção de vinhos associamos imediatamente das castas mais populares, sobretudo em terras brasilis, que chega para o Brasil que são a Tempranillo e a Garnacha. São inegavelmente as mais emblemáticas da Espanha pelos predicados já expostos demasiadamente por especialistas e enófilos. Mas diante de alguns garimpos que estou me dando o direito de fazer neste vasto e inexplorado universo dos vinhos tenho feito algumas descobertas mais do que espetaculares acerca de castas, blends e regiões, especialmente da Espanha e um país com o arcabouço histórico na vitivinicultura como este, não podemos nos privar, não podemos negligenciar para a nossa vida alguns vinhos e rótulos pouco ortodoxos que há por aí.

E nessa caminhada contra a zona de conforto eu descobri um vinho com um corte, um assemblage que considerei no mínimo inusitado e, de quebra, veio no “pacote” uma região que eu nunca havia ouvido falar, enfim, um combo de novidades. A princípio, após contato com o produtor e as informações que este me passou, decidi guarda-lo um pouco mais, deixa-lo evoluir, haja vista que a vinícola informou que o vinho tem uma boa vocação de guarda que gira em torno dos 5 à 10 anos! Contudo tocado pela curiosidade, com 5 anos de vida, acredito que no seu auge, decidi desarrolhá-lo, sem pestanejar, sem hesitações, afinal, essas características, essa apresentação não pode deixar por muito tempo esquecido nos cantos escuros da adega.

Então o momento chegou! O estouro da taça soou como música para os meus ouvidos e a ansiedade deu lugar a sede de degusta-lo, de ouvir o líquido deslizar pelo bojo da minha taça e voilá! O vinho que degustei e gostei veio de uma região espanhola, pouco conhecida chamada Yecla, e se chama Barahonda Tranco composto pelas castas Monastrell ou Mouvedre (75%) e a francesa globalizada Cabernet Sauvignon (25%) da safra 2016. E antes de imergir nos conceitos, qual o motivo do nome “Tranco”?

O nome "Tranco" faz referência a um jogo que o fundador da vinícola, adorava na sua infância. Além disso, Tranco é como algumas pessoas em Yecla chamam videiras grandes e antigas, por isso o rótulo trazendo a imagem de uma videira. Então já que, mais uma vez falamos da pouco badalada região de Yecla, falemos, é claro, dela.

Yecla

Localizada no sul da Espanha, próxima da região de Murcia, a área vinícola de Yecla desperta a atenção do mundo por sua produção de vinhos que prezam pela ótima relação entre qualidade e preço. A uva símbolo de seus vinhedos e, consequentemente, de seus vinhos, é a cepa Monastrell, responsável por dar origem a vinhos tintos encorpados e frutados.


Yecla DO

Yecla obteve a denominação de origem em 1975. Vinte anos antes, as adegas já tinham começado a proclamar a qualidade dos seus vinhos, que, tomando um novo rumo, iam deixando para trás os antigos, mais robustos, para oferecer novos e interessantes tintos de garrafa, a maioria dos quais explora o grande potencial da Monastrell. A Denominação de Origem inclui o termo municipal de Yecla, a sudeste da Península, na Região de Murcia. O relevo Yeclaan, com solos rochosos calcários profundos e altamente permeáveis, delineia uma vinha situada a uma altitude entre 400 e 800 metros acima do nível do mar. A região de Yecla possui clima e terroir únicos, característica elogiada pelo famoso crítico americano Robert Parker. Sua formação peculiar denota um alto grau de qualidade para os vinhos, sobretudo para os que traduzem as nuances da uva Monastrell, que atinge sua expressão máxima nesta região espanhola. A extensão média de vinhedos de Yecla é de 6.500 hectares, em zonas privilegiadas pelo clima continental. A região possui verões curtos e marcados por temperaturas elevadas. Já os invernos, de maior duração, caracterizam-se pelas temperaturas amenas.

As estações são contrastantes e propiciam uma amplitude térmica interessante para as vinhas que se adaptam aos diferentes picos de temperaturas de Yecla. Tal característica oferece um caráter extremamente particular às cepas ali cultivadas. O solo de cultivo da área espanhola também pode variar de um extremo a outro. No campo de baixo, um dos dois locais onde ocorre a plantação de uvas, a altitude é muito elevada, além de o solo ser constituído de calcário. Já no campo de cima, a altitude é bem mais baixa e o solo é majoritariamente argiloso. Apesar da uva tinta Monastrell ser a dona do maior prestígio na região de Yecla, outras castas podem ser encontradas nos vinhedos hispânicos, entre as quais, destacam-se as de coloração branca Sauvignon Blanc, Airén, Malvasia, Macabeo, Chardonnay e Moscatel e, no caso das variedades tintas, despontam as uvas Tempranillo, Syrah, Garnacha Tinta, Cabernet Sauvignon e Garnacha Tintorera. 

A região de Barahonda, que dá nome a vinícola, está localizada na Denominação de Origem Yecla, na região do Altiplano, uma zona de transição entre o planalto e o Mediterrâneo cercada por um anel de baixas montanhas e montanhas. A antiga tradição vitivinícola desta região remonta à época dos fenícios, que já cultivavam a vinha nestas terras de solo pobre e clima extremo. Nos últimos anos, o pequeno DO Yecla ganhou rápido reconhecimento pelo caráter peculiar e pela qualidade dos seus vinhos elaborados com a casta nativa Monastrell.

E agora o vinho!

Na taça revela um lindo e brilhante vermelho rubi intenso, escuro, mas com entornos violáceos, com lágrimas finas e abundantes que desenham e teimam em se dissipar das paredes da taça. Uma bebida caudalosa, que “mancha” a taça, já mostrando a sua potência.

No nariz apresenta uma explosão de frutas vermelhas e negras com destaque para a cereja, framboesa, ameixa e amora, com um delicado e agradável toque amadeirado.

Na boca é volumoso, estruturado, o aporte das frutas vermelhas e negras é percebida, como no aspecto olfativo, uma verdadeira compota de frutas, mas é muito equilibrado e até macio, mostrando que está no auge de sua condição. Tem taninos gulosos e presentes, mas contidos, com uma ótima acidez, além do amadeirado graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho que a Cabernet Sauvignon, neste blend, passou. Um final de média persistência com retrogosto frutado.

O tempo certamente poderia conspirar a favor do Barahonda Tranco, mas o auge entregou um vinho robusto, pleno, poderoso, quente e impetuoso. Talvez diria que o tempo não passou de um mero detalhe, não passou de um mero coadjuvante com o protagonismo de um grande vinho de uma região pouco conhecida, mas em franco crescimento em termos de visibilidade, de credibilidade e que entregam, pela impressão que tive, acerca desse rótulo vinhos expressivos, de personalidade marcante. Um vinho equilibrado, redondo, vivo e que inundou de prazer e celebração o meu dia. Produzido com uvas colhidas a mais de 2 mil metros de altitude, esse rótulo conquistou medalha de ouro no Concours Mondial Mundus Vini 2016 e 89 pontos Robert Parker. Tem 14,5% de teor alcoólico que, embora alto e evidente no paladar, está muito bem integrado ao conjunto do vinho. Que vinho!

Esse Barahonda Tranco harmonizou com queijo provolone

Sobre a Bodega Señorio de Barahonda:

A história da Barahonda teve início em 1850, quando Pedro Candela Soriano começou a produzir e a comercializar pequenas quantidades de vinho na região espanhola de Yecla. Em 1925, Antonio Candela García fundou oficialmente uma pequena vinícola, a Bodegas Antonio Candela, a primeira da família Candela. Alguns anos depois, Antonio Candela Poveda assumiu o comando, aumentando a dimensão do projeto. Atualmente, já na quarta geração da família, os dois filhos de Poveda, Alfredo e Antonio, são os responsáveis por gerir os negócios familiares.

Em 1999, eles construíram uma nova vinícola, batizada de Barahonda, nome de um vinhedo que pertence à família Candela há mais de sete gerações. A vinícola Barahonda foi fundada com a filosofia de produzir rótulos de alta qualidade, engarrafados sob a Denominação de Origem Yecla, mas sem perder a essência da origem familiar. Ao longo dos anos, cada pai passava para o filho toda a tradição, conhecimento e a paixão pelo vinho. Focada na elaboração de exemplares expressivos, a Barahonda conquista novos prêmios, reconhecimento e altas pontuações a cada nova safra, dos melhores críticos do mundo do vinho. O logo da Barahonda tem como símbolo uma garrafa de vinho com raízes, para expressar a ligação com a terra e a videira. A vinícola foca na produção de uvas de alta qualidade, para mostrar o potencial e a tipicidade do terroir local.

Mais informações acesse:

https://www.barahonda.com/

Referências de pesquisa:

“Barahonda”: https://www.barahonda.com/do-yecla/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/yecla

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/vinicola-exclusiva-barahonda/

 

 

 

 

 






 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Rio Sol Tempranillo 2017

 

Sabe quando um vinho faz parte da nossa vida, da nossa história enquanto enófilo? Aquele vinho que nos acompanha que nos transforma? Ah só quem degusta vinhos sabe o que estou dizendo. Alguns vinhos, alguns rótulos foram e ainda são muito importantes, por exemplo, na minha transição de vinhos suaves, aqueles doces de garrafão para os vinhos finos, aqueles produzidos com castas vitiviníferas. Está aí um momento de suma importância para qualquer enófilo brasileiro. Atirem a primeira pedra quem não passou por esse momento na história de degustação, de um bom e fiel apreciador da poesia líquida. Posso aqui elencar alguns vinhos e produtores que foram essenciais em minha vida nesse momento: Miolo, Almadén, foram sim, os vinhos brasileiros que me iniciaram há mais de 23 anos atrás. Parece que foi ontem!

Mas não posso esquecer-me de um produtor que praticamente vimos “nascer” para o mundo nas terras brasileiras, que praticamente foi um dos pioneiros, aqueles que desbravaram um terroir que parecia improvável cultivar cepas e fazer vinhos: o Nordeste brasileiro, o semiárido, uma região desértica, praticamente, onde há séculos, bravas gentes sofrem com a escassez de água e que são esquecidos pelo Poder Público. Uma porção de terra que se destaca com uma vegetação plena, que belamente destoa abundantemente: Falo da Rio Sol. Apesar de estar em solo brasileiro, a Rio Sol é uma concepção da Global Wines, um conglomerado português que se instalou no Brasil com uma ideia arrojada e determinada a trazer, a edificar um novo terroir: os vinhos do Velho Chico, os vinhos do Rio São Francisco que irrigam os parreirais e que entregam, para nosso deleite, vinhos frescos, maravilhosos e, ao mesmo tempo, dotados de uma marcante personalidade em todas as suas propostas.

Vinícola Santa Maria

E por falar em personalidade, não posso deixar de falar de um rótulo que degusto há pelo menos desde 2013 e que agora torno a degusta-lo em uma nova safra. O vinho que degustei e gostei veio do Vale do São Francisco e é o Rio Sol da casta Tempranillo, safra 2017. Pois é, caros leitores, não se enganem e saiam da “caixinha”, não é apenas o Tempranillo espanhol que tem feito sucesso por aí: O Rio Sol Tempranillo, bem como outros rótulos de outros produtores, vem dando o ar da sua graça. A propósito o Rio Sol Tempranillo ganhou, vem ostentando alguns prêmios significativos no Brasil e no mundo certificando a sua qualidade, safra após safra, tais como ouro no Concurso Mundial de Bruxelas, em 2016 e o prêmio de melhor Tempranillo do Brasil na oitava edição da Grande Prova de Vinhos do Brasil em 2019. Então, amigos, o vinho é bom, tão bom que já degustei algumas safras ao longo do tempo. O primeiro foi o da safra 2013! Foi arrebatador! Eu ainda engatinhando no universo dos vinhos, aprendendo, foi ótimo.

Rio Sol Tempranillo safra 2013

Depois foi o Rio Sol Tempranillo da safra 2015! Que vinho espetacular! Parece que, a cada safra, o vinho ganha em qualidade e tipicidade. O design do rótulo, sóbrio, também melhorou a olhos vistos, reforçando a força da Rio Sol que, a cada ano, ganhava em participação de mercado.

Rio Sol Tempranillo safra 2015

Então sem mais delongas, falemos um pouco neste novo terroir brasileiro que vem dando muitas alegrias aos degustadores de vinhos neste Brasil: Vale do São Francisco.

O Vale do São Francisco: os vinhos do Velho Chico

A vitivinicultura do semiárido brasileiro é uma excepcionalidade no mundo, uma vez que está localizada entre os paralelos 8º e 9o S e produz, com escalonamento produtivo, uvas o ano todo totalizando duas safras e meia em condições ambientais adversas como alta luminosidade, temperatura média anual de 26oC, pluviosidade aproximada de 500mm, a 330m de altitude, em solo pedregoso.

Cinturão dos vinhos

Seus vinhos possuem público crescente, porque são jovens “vinhos do sol”, peculiares nos aromas e sabores, considerados como fáceis de beber e apresentando boa relação comercial qualidade/preço. Aliado a essas particularidades, diretamente associadas à produção de vinhos finos, o Vale é ainda cenário de diversas belezas naturais, históricas e culturais. Estudos já publicados permitem identificar que a região conta com diversas características que comprovam o seu potencial turístico para o desenvolvimento da atividade, como é o caso da sua história, riquezas ambientais e diversificada cultura regional. Esses fatores estão relacionados à diversidade observada na região. Isso é notado, principalmente, em decorrência da sua extensão. A Bacia do São Francisco é a terceira maior bacia hidrográfica do país e a única que está totalmente inserida no território nacional. Nela estão localizados 506 municípios contando com, aproximadamente, 13 milhões de habitantes, que representa 9,6% da população brasileira.

Bem antes do Vale do São Francisco se consolidar como polo de vitivinicultura, quem já exercia esse papel no Brasil era a região Sul. No século 19, o Rio Grande do Sul, mesmo com as condições climáticas desfavoráveis, passou a ser considerado um polo crescente nesse meio – e até hoje segue inserido no ramo. Mas, a chegada de imigrantes estrangeiros no país trouxe o conhecimento técnico e a noção de mercado, o que fez com que outras regiões brasileiras também mostrassem a sua capacidade produtiva. É na década de 1960 que o Nordeste entra em cena e o Vale do São Francisco inicia a sua trajetória na produção de uvas e vinhos, com a implantação das primeiras videiras. Nos anos de 1963 e 1964, foram instaladas duas estações experimentais, nos municípios de Petrolina, no Sertão de Pernambuco e Juazeiro, na Bahia, onde seriam implantados, respectivamente, o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de Mandacaru.

Vale do São Francisco

Apesar da escassez de chuva, o clima quente e seco do semiárido mostrou-se terreno fértil para a vitivinicultura e, na mesma década, outras cidades do Sertão de Pernambuco passam a fazer parte da cadeia produtiva. O pioneirismo da vitivinicultura no Nordeste é representado pelo Sertão Pernambucano, que iniciou a sua trajetória na vitivinicultura na década de 1960, produzindo vinhos base para vermutes, na cidade de Floresta, uvas de mesa em Belém do São Francisco e em Santa Maria da Boa vista, localidade que na época se chamava Coripós. Entre os anos 80 e 90, a região banhada pelo Rio São Francisco passa a ser conhecida também pela produção de vinhos finos, e em 1984 é produzido o primeiro vinho no Vale do Submédio São Francisco, com a marca Boticelli. O fortalecimento da vitivinicultura no Vale do Submédio São Francisco se deu com a instalação de vinícolas na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista – PE e Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, que passaram a produzir vinhos finos. Ao longo da década de 1990, ganha destaque a vitivinicultura tecnificada e a produção de uvas sem sementes. É também nessa época, que cresce o investimento de grupos empresariais na região. A instalação de uma infraestrutura física, como construção de packing houses, melhoria no sistema rodoviário e portuário, e, sobretudo, a organização dos produtores em associações e cooperativas, desempenharam um importante papel na consolidação das exportações de uvas de mesa do Vale do Submédio São Francisco. A partir dos anos 2000, a produção se fortalece ainda mais com a implantação de outras vinícolas e vitivinícolas e também com as iniciativas públicas. Ações governamentais e de ensino, pesquisa e inovação, a partir do ano 2000, trouxeram novas tecnologias de produção e processamento de uvas e o reconhecimento de atores internacionais. É nessa época que surge a Escola do Vinho do Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

Estruturação de IG (Indicação Geográfica)

A estruturação da Indicação de Procedência Vale do São Francisco para vinhos está vinculada a projeto financiado pelo MCT/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tenológico - CNPq. A ação do projeto, voltada para a estruturação da IG, tem as seguintes instituições de CT&I como executoras: Embrapa Uva e Vinho (coordenação) em parceria com a Embrapa Semiárido, Embrapa Clima Temperado, UCS, UFLA, UFP e IF Sertão. O setor vitivinícola da região é representado pelo “Instituto do Vinho do Vale do São Francisco” (Vinhovasf). O projeto conta, ainda, com outras instituições que participam em diversas pesquisas para apoiar o desenvolvimento tecnológico da vitivinicultura da região do Vale do São Francisco. Os produtos IP Vale do São Francisco incluem os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos, o espumante fino e o moscatel espumante.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos bem brilhantes. Com lágrimas grossas e abundantes.

No nariz predomina os aromas frutados, de frutas vermelhas como cereja e framboesa, uma verdadeira compota de frutas, mas sem ser enjoativo, sendo muito equilibrado.

Na boca é seco, de médio corpo para estruturado, reproduzindo as notas frutadas percebidas no olfativo, com taninos presentes, mas domados e sedosos, com um agradável toque de especiarias, algo herbáceo, diria. Tem persistência no seu final, um retrogosto frutado.

O Rio Sol Tempranillo fez e faz parte da minha história! E, com a safra 2017, a história continua sendo escrita, seguindo o seu curso de maravilhas. Ele continua espetacular! Um vinho versátil, fresco, jovem, descontraído, informal, mas que revela sua personalidade, sua expressividade, dando-lhe certa complexidade. Que venham mais Rio Sol Tempranillo, que venham mais vinhos do Vale do São Francisco e que essas terras continuem férteis e enchendo as nossas taças e abrilhantando as nossas mesas com muita celebração. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Maria:

Localizada no Vale do São Francisco com 120 hectares de área plantada, a Rio Sol produz 1,5 milhão de quilos de uva anualmente. Entre as espécies plantadas estão uvas tintas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tempranillo e Merlot, além das brancas Chenin Blanc, Viognier e Moscatel. Este é o único lugar do mundo que produz, hoje, duas safras de uvas por ano, resultado das características naturais da região e do conhecimento de seus produtores. É no mesmo local onde se situa a indústria da Rio Sol, onde toda a linha de produtos da empresa é produzida e engarrafada, seguindo os mais modernos conceitos de qualidade. A empresa conta com modernos tanques com controle de temperatura e pressão, sala de barricas para estágio dos vinhos em barris de carvalho francês e uma linha de engarrafamento e rotulagem que utiliza tecnologia importada, semelhante a utilizada nas outras vinícolas do grupo na Europa. Anualmente são produzidas, aproximadamente, 2 milhões de garrafas, entre vinhos e espumantes, distribuídos para todo o Brasil. Toda essa produção é acompanhada de perto pela equipe de qualidade da Rio Sol, que atua tendo como foco a melhoria contínua da qualidade e a adequação dos produtos às tendências de mercado, sempre visando a sustentabilidade e a segurança do processo. A Rio Sol possui certificação internacional ISO 9001, que atesta os rigorosos controles de qualidade da produção de uvas e elaboração de vinhos.

Sobre a Global Wines:

O Grupo Global Wines nasceu em 1990 no Dão, com o nome Dão Sul. A sua missão era ser a maior empresa da mais antiga região de vinhos tranquilos de Portugal, o Dão. Quando o objetivo foi atingido, partiram para outros sonhos, outras aventuras, outras regiões e outros países. Ainda são a empresa de vinhos líder do Dão. Mas também são uma empresa de vinhos da Bairrada, do Alentejo, de Portugal e até o Brasil. Tem atualmente 5 Espaços de Enoturismo, 3 dos quais com restaurante, onde procuram conjugar o vinho e a gastronomia, despertando como as melhores sensações, na experiência perfeita. Recebem, diariamente, pessoas de todas as partes do mundo, a quem procuram dar a melhor experiência de vinho e gastronomia. Atualmente estão presentes nos 5 continentes e as suas marcas chegam a mais de 40 países.


Mais informações acessem:

https://www.vinhosriosol.com.br/principal/

https://www.globalwines.pt/#globalwines