Dizem que o mais importante é degustar o vinho! Essa não é
nenhuma novidade, a razão de ser do vinho é degusta-lo! Mas atualmente, com
alguma modesta bagagem, neste universo vasto e logo inexplorado, de que existe
uma espécie de “pré degustação”, um deleite digno aos enófilos, modéstia à
parte, que vislumbra uma leitura dos rótulos, de uma visitação ao portal do
produtor para conhecer o vinho, ter todas as nuances do vinho e se identificar
com cada característica que ele possa te oferecer, das experiências sensoriais
à ficha técnica com a região, teor alcoólico, se passou ou não por barricas de
carvalho, nada, penso eu, deve passar pelo olhar clínico de um dedicado e bom
enófilo.
E pensando nisso eu não posso deixar de falar, não posso
negligenciar sobre os vinhos da região de Setúbal, em Portugal. Bem sei, é
verdade, que os descobri tardiamente, mas, como diz aquele velho dito popular:
antes tarde do que nunca! Uma região emblemática, tradicional e que, a cada
experiência, a cada degustação, me surpreendente de uma maneira quase que
arrebatadora, como se fora um fenômeno da natureza e não deixa de ser.
Hoje, tornou-se ponto determinante de escolha, de decisão de
escolha, optar pela compra quando vem estampado em letras garrafais: “Vinho da
Península de Setúbal”! Claro que não podemos generalizar e, em um momento
demasiadamente emocional, apaixonado, comprar todos os vinhos de Setúbal
achando que seja excepcional, temos que apurar sob todos os aspectos. Mas
Setúbal virou um caso de amor, a emoção não pode se esvair totalmente, temos de
coloca-la como peso na decisão de escolha.
E, para não perder o costume, um vinho que degustei e gostei
veio, é claro, da Península de Setúbal, e é de um tradicional produtor que, com
mais de dois séculos de existência, tem o seu nome gravado nos anais da
vitivinicultura lusitana, a José Maria da Fonseca, e o vinho se chama Monte da
Ribeira, um corte, bem interessante das castas Fernão Pires e Moscato Giallo,
da safra 2018. E, para não perder o fio da meada, vamos de história, afinal,
vinho e cultura, harmonizam maravilhosamente. Falemos de Setúbal.
Península de Setúbal
A história vitivinícola da região da Península de Setúbal
perde-se no tempo. Na região foram plantadas as primeiras vinhas da Península
Ibérica, em cerca de 2.000 a.C., dando início a uma tradição que foi renovada
em 1907, com a demarcação da Região do Moscatel de Setúbal, e que sobrevive até
hoje, sendo a segunda mais antiga região demarcada de Portugal. De Setúbal saem
alguns dos melhores vinhos portugueses, cuja qualidade se firmou a partir de
uma biodiversidade riquíssima. Nenhuma outra região de Portugal tem tantas
diferenças geográficas, com a existência de planícies, serras e encostas, além
dos Rios Sado e Tejo e a proximidade com o Oceano Atlântico. Extensa em
território e com clima mediterrânico – tempo quente e seco no verão e
relativamente frio e chuvoso no inverno –, a Península de Setúbal é uma região
que permite a obtenção de vinhos carismáticos, com personalidade forte e traços
de caráter únicos, com uma singular relação entre qualidade e preço. A presença
de vinhas em terras planas compostas por solos de areia perfeitamente adaptados
à produção de uvas de qualidade, bem como de um relevo mais acentuado, com vinhas
plantadas em solo argilo-calcários, protegidos do Oceano Atlântico pela Serra
da Arrábida, resulta numa produção de vinhos reconhecida nacional e
internacionalmente.
As designações de Denominação de Origem (DO) e Indicação
Geográfica (IG)
As designações de Denominação de Origem (D.O.) e Indicação
Geográfica (I.G) indicam os vinhos de acordo com a sua origem, características
e castas. É esta certificação que garante a qualidade dos vinhos que irá
consumir. Desde o plantio até o engarrafamento, os vinhos da Península de
Setúbal são avaliados e controlados pela CVRPS, chegando à sua mesa com 3
possíveis classificações: D.O. Palmela, D.O. Setúbal e I.G. Península de
Setúbal (Vinho Regional).
Agora o vinho!
Na taça tem um amarelo palha quase ouro talvez destacado pelo
reluzente brilho e uma razoável concentração de finas lágrimas que logo se
dissipavam.
No nariz é uma verdadeira explosão de aromas de frutas
brancas, amarelas e cítricas com destaque para pera, maçã verde, limão, lima,
melão e melancia, além de agradáveis notas florais.
Na boca é seco, fresco, leve, jovial, descomplicado, com um
bom volume de boca, dando-lhe caráter, alguma personalidade, graças também a
sua excelente acidez e citricidade, trazendo também as notas frutadas
percebidas no aspecto olfativo, com um final longo e persistente.
O mapa do vinho, a viagem a cada pedacinho de chão das
regiões por intermédio das taças cheias faz do vinho algo além da degustação, é
cultura, é história, é conhecimento e todos esses incrementos faz criamos uma
espécie de elo, de identificação que nos ajuda a escolher o vinho, que fomenta
as nossas experiências sensoriais nos estimulando, mais e mais, a imergir no
universo lindo e inexplorado do vinho. O Monte da Ribeira, para variar e sem
nenhum tipo de influência de fã, de fanatismo, é um grande vinho dentro de sua
proposta: um vinho básico, fresco, leve, refrescante e que entrega muito, muito
além que vale. E essa foi uma cortesia do meu confrade amigo Paulo que
proporcionou este rótulo para a nossa digna degustação em um encontro mais do
que agradável. Tem 12% de teor alcoólico.
Sobre a José Maria da Fonseca:
Um negócio de família com quase dois séculos de história que, sem nunca repousar sobre as glórias conquistadas, tem sabido modernizar-se. A José Maria da Fonseca exerce a atividade vinícola desde 1834, fruto da paixão partilhada de uma família que tem sabido preservar e projetar a memória e o prestígio do seu fundador. Consciente da responsabilidade der ser, na atualidade o mais antigo produtor de vinho de mesa e de Moscatel de Setúbal em Portugal, a José Maria da Fonseca obedece a uma filosofia de permanente desenvolvimento, o que a leva a investir sempre mais em suportes de investigação e de produção, aliando as mais modernas técnicas ao saber tradicional. Exemplo disso mesmo é a Adega José de Sousa Rosado Fernandes, em Reguengos de Monsaraz, no Alentejo, onde a tradição romana de fermentar em potes de barro se mantém a par da última tecnologia.
Continuando a investir em produtos de referência a nível
internacional, sempre pautados pela qualidade, a José Maria da Fonseca tem
contribuído de forma decisiva para a divulgação e o prestígio dos vinhos
nacionais. Dos quase 650 hectares de vinhas, e de uma adega dotada de
tecnologia de última geração que rivaliza com as melhores do mundo, resultam vinhos
que aliam a experiência acumulada ao longo da sua história com as mais avançadas
técnicas de vinificação. Além de todos estes recursos utilizados na produção
dos seus vinhos, o que mais caracteriza o trabalho na José Maria da Fonseca é
uma enorme paixão pela arte de fazer vinho. É esta paixão, geradora de emoções,
que a José Maria da Fonseca partilha com o consumidor de cada vez que este
prova um dos seus vinhos.
Mais informações acesse:
https://www.jmf.pt/index.php?id=8
Referências de pesquisa:
“Vinhos da Península de Setúbal”: https://vinhosdapeninsuladesetubal.org/
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