Eu não queria incorrer na redundância, mas o Alentejo
definitivamente é a grande e mais emblemática região de Portugal na produção de
vinhos, ou melhor, na produção de grandes vinhos. Um país tão pequeno,
geograficamente falando, mas que nos proporciona, de forma gigantesca e
significativa, terroirs tão particulares e singulares uns dos outros que,
apesar da minha adoração, predileção pelos alentejanos, fica difícil escolher
um favorito. O que dizer do Tejo, de Setúbal, do Douro...?
Eu descobri os rótulos lusitanos por intermédio dos
alentejanos, eles me desvirginaram para os portugueses. Sim! E foi maravilhoso,
com o perdão da infame analogia, de imediato. Foi amor à primeira vista ou a
primeira taça.
Degustar os rótulos do Alentejo é imergir fundo nos vinhos de
marcante personalidade, independente de propostas que podem entregar,
expressivo por natureza e a cada nova experiência eu chego a óbvia e fantástica
conclusão de que há muito a se explorar neste pequeno universo, nesse pequeno
pedaço de chão abençoado por deus Baco.
Em mais uma confraria com meu bom amigo de longa data Paulo Rodrigues, colocamos no nosso currículo enófilo mais um rótulo alentejano e que criamos uma grande expectativa em degustar. Esse rótulo repousava dignamente em seu merecido descanso na adega do confrade Paulo e ele, sempre muito gentil, prometeu que degustaria esse rótulo comigo, quando ele me compartilhou enviando-me o rótulo por foto.
Eu me animei e ele, taxativamente disse: “Eu vou degustar esse
vinho com você!” Eu, sempre respeitando as decisões do meu grande amigo, disse
que sim, que degustaríamos esse vinho juntos, sem sombra de dúvida. E esse
momento finalmente chegou! Em um belo sábado a tarde, de um sol muito agradável
foi o momento propício para desarrolhar esse especial garrafa de um legítimo
alentejano.
E detalhe: é um vinhas velhas! Mais um atrativo para a degustação, para a celebração do Alentejo e da amizade. Então sem mais delongas tenho o prazer de dizer que o vinho que degustei e gostei veio claro, de terras alentejanas, em Portugal, e se chama Ossa Private Selection Vinhas Velhas com um interessante blend das castas: Aragonez, Alfrocheiro, Tinta Caiada e Alicante Bouschet da safra 2019. Mas antes de falar desse vinho que nos arrebatou, falemos do conceito de vinhas velhas e também, é claro, do Alentejo.
As vinhas velhas
Tem-se de destacar que não há uma regra que defina a idade
para o parreiral se tornar "velho". Consensualmente trata-se que a
parreira está “antiga” quando chega aos 25 anos. Para a produção de bons
vinhos, muitos enólogos, no entanto, gostam da idade de 50 anos. Além de ser um
número redondo, a parreira já está com todas as características necessárias
para a produção de um bom vinho de vinhas velhas.
Vinhedos antigos têm grandes histórias atreladas a eles. O mais antigo da Califórnia sobreviveu a duas guerras mundiais, à Lei Seca, à Grande Depressão, ao boom do vinho branco, à mania do White Zinfandel, à Grande Recessão, principalmente porque havia famílias dedicadas a cultivar essas vinhas e porque elas produziam grandes vinhos.
Mas quais são essas características que tanto se busca em uma
vinha velha? Algumas das principais:
1 - Uvas mais concentradas
Com a idade os parreirais tendem a produzir menos uvas, porém
com maiores concentrações fenólicas. Substâncias responsáveis pelos aromas,
sabores, cor e textura nos vinhos.
2 - As raízes estão mais profundas
Com as raízes buscando água e nutrientes de partes mais
profundas do solo, a variação entre as safras é pequena e a vinha fica menos
refém do clima.
3 - Maturação deixa de ser um grande problema
A maturação da uva, principalmente a fenólica, quando não
acontece de uma boa maneira tende a deixar o vinho adstringente e demasiado
vegetal. Produtores destacam que em vinhas velhas a maturação plena da uva é
mais constantemente atingida.
A maturação da uva, principalmente a fenólica, quando não
acontece de uma boa maneira tende a deixar o vinho adstringente e demasiado
vegetal. Produtores destacam que em vinhas velhas a maturação plena da uva é
mais constantemente atingida.
Equilíbrio e constância parecem ser as chaves para as vinhas
velhas e não é à toa que os enólogos procuram vincular a elas a questão do
terroir. Vinhas velhas desenvolvem uma harmonia certa e palpável com seu
entorno (terroir), gerando qualidades especiais na fruta que normalmente
produzem vinhos excepcionais, de grande qualidade e identidade.
Vinhos produzidos a partir de uvas colhidas de “Vinhas Velhas” têm como característica serem vinhos mais ricos e intensos. Quanto mais velha for a videira, mais profundas são as suas raízes. Raízes mais profundas alcançam camadas do solo mais preservadas e têm menor acesso à água. O rendimento da videira é menor e as uvas produzidas, com menos concorrência, têm maior concentração de aroma e sabor.
Em resumo, com o avançar da idade existe uma queda de
produtividade, mas um aumento na qualidade das uvas produzidas. Estas uvas
apresentam uma maior concentração de aromas e sabor, o que origina vinhos
também com estas características. São também considerados vinhos que conseguem
expressar de forma mais evidente o terroir da região. No entanto é preciso
destacar que vinhos de “Vinhas Velhas” não é sinônimo de vinho de qualidade, ou
de qualidade superior. Embora eles possuam potencial para tal, e muitos deles
sejam verdadeiras preciosidades, outros fatores compõem esta equação.
Se a “Vinha Velha” não for bem cuidada, se as uvas plantadas não forem adequadas para aquela região, se o enólogo não fizer um bom trabalho de vinificação, o vinho, mesmo proveniente de uvas de “Vinhas Velhas”, não terá qualidade. Porém para a maioria dos enólogos a expectativa de vida das “Vinhas Velhas” gira em torno dos 80 anos, algumas podendo chegar até os 100 anos, mas chega a um limite em que a produção já não é economicamente viável.
Alentejo
A história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de
Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a
época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo
encontrar provas da civilização fenícia existente à 3.000 anos atrás.
Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.
Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta
terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a
construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas
muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que
foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu
crescimento, um crescimento baseada na agricultura, pecuária, pesca, indústria,
como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com
uma ampla oferta de turismo rural.
Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.
Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas,
principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos
açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos
equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua
diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os
derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos
pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega",
"Moura", "Redondo", "Reguengos" e
"Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC
"Alentejo".
E agora finalmente o vinho!
Na taça goza de um vermelho rubi intenso, mas com lindos e
brilhantes reflexos violáceos, com uma boa concentração de lágrimas finas e
lentas.
No nariz as notas proeminentes de frutas vermelhas maduras
como cereja e groselha, por exemplo, com notas de madeira bem discretas, graças
aos 9 meses de passagem por barricas de carvalho, além da baunilha e
especiarias.
Na boca apresentou um vinho alcoólico no início, mas com um tempo em taça, respirou e se equilibrou, tendo média estrutura, mas muito macio e equilibrado, ao mesmo tempo, com taninos gulosos, porém domados, com uma acidez instigante. Com final curto e frutado.
Um verdadeiro e legítimo exemplar do Alentejo! O Ossa Vinhas Velhas personifica o patrimônio que as terras alentejanas representam para a vitivinicultura mundial. Um rótulo complexo, com boa estrutura, mas elegante e redondo garantido pelo tempo dessas vinhas especiais. A madeira bem integrada, para as frutas darem o seu ar da graça, o protagonismo das castas precisam sobressair. Esse é o conceito que os rótulos oriundos de vinhas velhas tem que entregar: vinhos que expressem o seu terroir, com tipicidade, com personalidade, mas a elegância e a sobriedade que só os velhos podem proporcionar. Vida longa ao Alentejo! Tem 14% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho!
Sobre a Ségur Estates Vineyards:
Ségur Estates Vineyards na Wine Investments SA é uma holding,
criada em 2015, que investe no setor do vinho, com sede em Portugal, É uma
família francesa: os descendentes do Marquês de Ségur, proclamado pelo Rei Luís
XV de França como o “Prince des Vignes” (Príncipe das Vinhas).
Com mais de 250 hectares de vinhas entre o Douro e o
Alentejo, a Ségur Estates mantém um espírito de autêntico respeito pela
identidade local e pelos valores da família, produzindo vinhos elaborados com
dedicação.
Atualmente, o grupo produz mais de 5 milhões de litros e
distribui vinho em 18 países. A abordagem adotada para o setor vitivinícola é uma
presença transversal nos diversos canais, a aposta no desenvolvimento das
nossas marcas e uma abordagem de mercado de acordo com as necessidades de cada
mercado e cliente.
A Herdade do Monte Branco está situada no sopé da Serra
d’Ossa em Redondo (Alentejo), com solos de origem granítica. A adega, na
Herdade do Monte Branco, está dotada das estruturas imprescindíveis à sua
atividade, ao nível da produção, controlo de qualidade, engarrafamento,
armazenagem, estágio de vinhos e defesa do meio ambiente.
A Ségur Estates Vineyards na Wine Investments SA é ainda
proprietária de mais duas adegas familiares de Portugal − Quinta do Sagrado e
Encostas de Estremoz, respectivamente no Douro e Alentejo.
Mais informações acesse:
https://www.facebook.com/segur.estates.redondo.winery/
Referências:
“Vinho, Vida e Viagem: https://vinhovidaviagem.com.br/o-que-significa-vinhas-velhas-afinal/
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhas-velhas-o-que-sao_12645.html
“Vinhos de Portugal”: https://vinhosdeportugal2021.com.br/produtor/segur/
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