Não sou muito afeito a essas comemorações de aniversário, de
desejar parabéns no dia em que nasceu ou coisa que o valha. Depois que angariei
alguns anos mais de vida, isso passou a ser desinteressante. Há quem diga que
esse discurso é sustentado por quem já está ficando velho e, com receios das
marcas do tempo, não faz questão de falar e tão pouco comemorar o aniversário.
Eu confesso com segurança de que as marcas do tempo e a idade
avançada não é um empecilho para a minha vida, o que mais importa é viver com
dignidade e a mínima qualidade de vida, embora relativa, compartilhando o que
há de melhor em você para com os seus à sua volta.
Mas hoje, o rótulo de hoje, tenho de confessar, foi escolhido
motivado pela data de comemoração da rainha das castas tintas: A Cabernet
Sauvignon. Confesso também que sequer sabia dessa data, como disse, não me
prendo a isso, mas hoje, aproveitei o ensejo para degustar um rótulo da
Cabernet Sauvignon.
Não vou ousar dizer que a Cabernet Sauvignon é uma
unanimidade, até porque, como dizia o saudoso e grande dramaturgo Nelson
Rodrigues: “A unanimidade é burra”, mas sem dúvida é uma das mais consumidas e
apreciadas do planeta, sem contar também que é um mar sem fim de hectares
espalhados pelos mais diversos e ricos terroirs, tudo para nosso deleite e
escolha, para qualquer paladar: de entrada, complexo, amadeirado etc.
Então já que é dia da Cabernet Sauvignon, vamos celebrar!
Vamos celebrar, todo dia, a existência de rótulos, de castas como essa, que são
a personificação da celebração! Então fui até a adega com a “árdua” missão de
escolher um rótulo dessa nobre casta. Não foi uma árdua escolha, afinal é a
casta que mais tenho à disposição, não é à toa que ela é a rainha das castas
tintas, ela reina em qualquer adega, de qualquer enófilo, independentemente de
cor, raça, credo ou questões sociais.
O olhar girou, correu e fixou em um vinho em especial que
está na adega há algum tempo. Um australiano, sim, tenho um vinho da terra do
simpático canguru em minha adega. Uau! A quanto tempo não degustava um rótulo
australiano. Tudo veio a calhar, no momento certo! Era hora de degusta-lo! A
rosca foi rompida, os aromas começaram a saltar para fora da garrafa, ganhando
o mundo e invadindo as minhas narinas. Isso já me seduziu de imediato.
O rótulo também, muito bonito e original, trouxe o belo apelo
estético, tudo parecia conspirar a favor. A taça foi inundada da poesia líquida
pela primeira vez, o ritual sendo respeitado, o giro dela, a volatização, os
aromas vieram a que disse: frutas negras, baunilha, trazia a impressão de ser
sedoso, mas marcante. O degustei e que vinho! Mais uma vez os australianos da
casta Cabernet Sauvignon se revelando potentes, delicados e frutados e isso me
agrada!
O vinho que degustei e gostei veio da emblemática South Australia
(Sul da Austrália), e se chama Wakefield Promised Land da casta, claro,
Cabernet Sauvignon, da safra 2017. E sem mais delongas falemos um pouco da
casta, aniversariante do dia, a sua história e um pouquinho da região do Sul da
Austrália, tão importante para aquele país.
A rainha das uvas tintas: Cabernet Sauvignon
Chamada de rainha das uvas, a Cabernet Sauvignon (CS) está em
toda parte. Uva internacional, corruptora, amada e odiada, tornou- se um padrão
mundial presente em praticamente todos os países produtores do planeta: da
Inglaterra à Alemanha e Áustria; do Canadá à China e Japão; do Peru e Venezuela
ao Zimbábue; do Brasil à Turquia, Marrocos, Grécia, Israel e Líbano; da
Moldávia e Hungria à Romênia e Bulgária. Sem falar de França, EUA, Chile,
Austrália, Itália, Portugal, Argentina, Espanha, Uruguai, África do Sul, Nova
Zelândia.
Todos estes países produzem seus CS. Por onde passa, esta
tinta deixa seu indelével toque. Mas como e por que a CS se tornou a mais
importante casta do nosso tempo? Qual sua origem? Qual seu gosto? O que a torna
tão marcante? Quais as melhores regiões produtoras?
Só começou a aparecer com este nome no final do século XVIII.
Alguns historiadores sugerem que ela seria a Biturica, cepa mencionada pelo
romano Plínio o Velho (23-79), em seus trabalhos científicos. O nome foi
inspirado na tribo Bituriges, fundadora de Bordeaux. Existem produtores
italianos que engarrafam hoje seus CS chamando-os de Biturica e reivindicando a
origem desta casta afrancesada. Há especulações também de que esta tinta seria
a Petit Vidure ou Bidure, uma antiga uva de Bordeaux, originada do nome Vin
Dure pela dureza de seu caule.
Independente do nome que possa ter tido no passado, uma coisa
está provada: a origem genética da CS. Em 1997, na Universidade da Califórnia,
em Davis, testes de DNA foram conclusivos ao afirmar que a CS é um cruzamento
da Cabernet Franc com a Sauvignon Blanc. O microscópio demonstrou o que parece
bem lógico, além do nome sugerir sua origem, os aromas de frutas vermelhas da CS
lembram a Cabernet Franc e os de ervas frescas nos remetem facilmente à
Sauvignon Blanc.
A CS é simplesmente a principal casta da principal região
produtora de vinhos do mundo: Bordeaux. Apesar de não ser a casta mais plantada
da região (a Merlot ocupa área maior) e também não ser a maior produtora do
mundo em termos de volume (perde para o Languedoc-Roussillon), os tintos de
Bordeaux são o modelo mais imitado em todo globo. Assim, a CS expandiu-se a
partir dos anos 70 junto com o "padrão Bordeaux".
Em uma lista dos maiores tintos do mundo, possivelmente a
Cabernet será a uva mais presente, seja em misturas ou em monovarietais. Ao
contrário de cepas como Pinot Noir e Nebbiolo - que raramente vingam fora de
suas regiões principais, respectivamente Borgonha e Piemonte -, a CS é de
grande adaptabilidade a diversos climas e terrenos. Todo lugar não frio demais
a recebe bem, gerando ótimos vinhos nos mais diversos terroirs.
No que diz respeito ao solo, a CS cresce em uma grande
diversidade de terrenos ao redor do mundo, com um ponto em comum: precisa de
calor e da drenagem adequada para amadurecer - quanto mais drenagem, mais úmido
e frio o clima. Em Bordeaux, por exemplo, a CS prefere os solos de cascalho,
pois as pedras retêm o calor e proporcionam boa drenagem para escoar a umidade
típica da região. Em sub-regiões de Bordeaux com solos mais argilosos como, por
exemplo, Pomerol, a CS raramente aparece, quem domina ali é a Merlot.
Outras qualidades da Cabernet Sauvignon:
1- Boa capacidade de envelhecer e ganhar complexidade;
2- É amiga do viticultor, já que, além de resistir a muitas pragas, tem bom rendimento. Em geral, pode render uma boa quantidade de uvas por hectare sem grande perda de qualidade;
3- É uma casta que se adapta bem com outras em cortes;
4- Proporciona vinhos de força e longevidade;
5- Adapta-se bem ao amadurecimento em barricas de carvalho;
6- Serve para modernizar o estilo de muitos vinhos de castas autoctonas, as vezes rústicos, e de sabor exótico, que se beneficiam quando misturados a CS, ganhando um toque internacional à mistura, além de proporcionar potência ao produto final.
7- Caráter marcante. É fácil de ser reconhecida em cortes, seus aromas e sabores se destacam, mesmo quando está em proporção pequena;
8- Muitas afinidades, onde quer que vá, em vários países e regiões;
9- Ao mesmo tempo em que é marcante, é também versátil - gera desde tintos de grande cor e corpo, passando tintos leves, rosados, espumantes a até brancos. Sim, é possível. Existe, inclusive, blanc de noirs feito com Cabernet Sauvignon de origem israelense.
Em geral, pode-se dizer que a CS reflete menos o seu solo de
origem do que castas mais sensíveis, como a Pinot Noir. Contudo, os grandes
exemplares CS são inegavelmente verdadeiros vinhos de terroir, refletindo
perfeitamente sua origem.
“Cabernet Day”
No dia 29 de agosto é comemorado o dia da Cabernet Sauvignon,
um dia dedicado especialmente às uvas dessa casta. A data foi estabelecida em
2010 pelo profissional de marketing Rick Bakas, após reunir um grupo de
vinícolas da região de Napa Valley. O objetivo era promover a comemoração nas
mídias sociais.
Desde então, o “feriado oficial” da Cabernet Sauvignon é
comemorado ao redor do mundo, com pessoas bebendo vinho e conversando sobre o
assunto on-line. A hashtag #CabernetDay é muito usada, especialmente no
Twitter, para a divulgar a data e atrair cada vez mais adoradores de um vinho
de qualidade.
Por ter características tão únicas e se adaptar tão bem a
diversos climas e solos, a Cabernet Sauvignon ganhou o título de “rainha das
uvas tintas”. Sua notoriedade e popularidade inspiraram a criação de um dia
especial e dedicado a reconhecer a sua importância no mundo dos vinhos.
South Australia
É dessa região que provêm as uvas para a produção do mítico
Grange. A cidade mais destacada é Adelaide. As macrorregiões vitivinícolas
estão localizadas ao redor dela. As mais importantes são: ao sul, a Ilha
Kangaroo, e, ao sudeste, Limestone Coast. Nos arredores de Adelaide estão
Southern Fleurieu, Currancy Creek, Langhorne Creek, Adelaide Hills, McLaren
Vale, Adelaide Plains, Eden Valley, Barossa Valley, Clare Valley, Coonawarra e
Riverland etc. Todas elas produzem muito bons vinhos, mas deve-se destacar
Barrossa Valley, Eden Valley, Clare Valley e McLaren Vale, como berço de
verdadeiras obras-primas da Austrália.
São dessas quatro regiões os mais disputados vinhos do país.
Além do Grange, ali se encontram Shiraz maravilhosos de Barossa, Clare e Eden
Valleys e McLaren Vale. Neste último, temos - além dos mais prestigiados Shiraz
do país - excepcionais tintos à base da casta Grenache.
E, por último, vale mencionar que a região de Coonawarra
produz muitos Cabernet Sauvignon de respeito. A diversidade de castas é vasta.
Pelas dimensões, os climas variam muito, desde um mais quente e continental em
Riverland, para um pouco menos quente, em Barossa Valley, para o mais frio em
Coonawarra. As regiões costeiras ao redor de Adelaide recebem brisas marítimas,
reduzindo a umidade.
E agora finalmente o vinho!
Na taça nos revela um lindo vermelho rubi intenso, com
entornos violáceos, realçando um brilho envolvente, com uma razoável
proliferação de lágrimas finas e lentas.
No nariz se faz o destaque com uma profusão de aromas de
frutas pretas tais como groselha negra, ameixa e amora, com discretas notas de
madeira, graças aos 8 meses de passagem por barricas de carvalho, baunilha e
tabaco.
Na boca é suculento, intenso, média estrutura, mas macio,
sedoso e equilibrado. As notas de frutas pretas se revelam intensamente como no
aspecto olfativo, juntamente com sutis e agradáveis notas amadeiradas, de
torrefação, chocolate e baunilha. Os taninos estão presentes, mas domados, com
baixa acidez e um final persistente e longo com retrogosto frutado.
Um misto de emoções e celebrações que fragmentadas revelam um
todo singular. O primeiro vinho australiano depois de algum tempo, uma região
especial no Sul da Austrália, o “Cabernet Day”...Um dia especial e não tão
somente por fatos como esses elencados, mas pelo fato de ser mais um dia,
especial, como todos os outros, de degustação. O ato em si de degustar um vinho
é especial, então todo o dia que desarrolhar um sempre será especial e único. E
o Promised Land Cabernet Sauvignon traz a versatilidade tão evidente nos CS
australianos: um vinho delicado, equilibrado, mas de marcante personalidade
como um Cabernet Sauvignon tem de ser no seu âmago, apesar das particularidades
dos terroirs as quais estão inseridos. Um vinho sedoso, persistente no final, a
fruta protagonizando. Enfim um belo vinho em uma jovem tarde de domingo. Tem
13,5% de teor alcoólico.
Por que “Promised Land”? Com a palavra, o produtor:
“Nomeado após um lote
especial de terreno prometido para venda em um aperto de mão com um vizinho.
Com frutas provenientes das principais regiões vinícolas do sul da Austrália,
os estilos que nossos produtores de vinho as embarcações são vivas e acessíveis
com brancos refrescantes e tintos suaves”.
Sobre a Taylors Wines:
Vinhos Taylors é propriedade de uma família vinícola fundada
em 1969 e que está localizada no Clare Valley do Sul da Austrália. Taylors é um
dos membros fundadores da As primeiras famílias de vinho da Austrália.
O primeiro vinho da Taylors foi o Taylors Cabernet Sauvignon
1973, que foi premiado com uma medalha de ouro em todos os australianos vinho
mostre que foi inserido, desde então, a Taylors Wines cresceu e se tornou a
maior holding de Clare Valley. Devido a restrições de marca registrada, a
Taylors Wines é comercializada como Wakefield Wines na maioria dos Hemisfério
Norte.
Os 178 hectares originais do vinhedo foram fundados em 1969
por Bill Taylor e seus filhos Bill e John e ainda hoje é administrada pela
família. O vinhedo original está localizado às margens do rio Wakefield em
Clare Valley, no sul da Austrália.
Os três logotipos dos cavalos marinhos dos vinhos Taylors e
Wakefield foram descobertos no vinhedo. Ao escavar a barragem da vinha, a
família encontrou restos fossilizados de pouco cavalos marinhos, significando
que a área já fez parte de um mar interior. Hoje, os três cavalos-marinhos
representam as três gerações de produtores de vinho Taylors.
Mais informações acesse:
https://www.taylorswines.com.au/
Referências:
“Wikiqube”: https://ao.wikiqube.net/wiki/Taylors_Wines
“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/cabernet-sauvignon-day-conheca-a-celebracao-da-famosa-uva/
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/forca-do-vinho-australiano_4581.html
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