O que te lembra quando se menciona o Uruguai? Claro! A
Tannat! Não há como negligenciar essa perfeita combinação. O que te lembra do
legítimo Tannat uruguaio quando falamos em harmonizar com comida. O famoso e
único churrasco! Aquela carne suculenta, para alguns sagrando, com um belíssimo
Tannat encorpado, transbordando em taninos (A propósito a palavra “Tannat” vem
de taninos) de preferência com uma passagem por barricas de carvalho é a
harmonização certeira e maravilhosa.
Acreditem caros leitores, que não é apenas com aquela cerveja
gelada que o churrasco harmoniza, embora seja popular em nossas terras naquele
dia ensolarado em um domingo reunido com a família e amigos, mas o vinho também
harmoniza, sobretudo os rótulos com a casta Tannat.
E não se enganem de uma coisa: pode parecer conversa de um
enófilo, uma afirmação um tanto quanto movida pela influência do amor pela
nossa poesia líquida, mas o vinho é ainda melhor com o churrasco de domingo do
que aquela cerveja trincando de gelada. Nada contra a cerveja, mas com ela
ficamos excessivamente “cheios” e não conseguimos aproveitar plenamente, já o
vinho, não.
Se permita a experiência de degustar, não apenas um Tannat,
mas as castas encorpadas e taninosas, como a Cabernet Sauvignon, Malbec,
Cabernet Franc, de preferência com passagem por barricas de carvalho que traz a
estrutura, a complexidade necessária para “aguentar” as carnes do seu churrasco.
E hoje, confesso que não estava no roteiro, mas o domingo
nasceu particularmente agradável, o sol reinando brilhante, mas sem aquele
calor incômodo e, com a família reunida, foi decidido que seria dia de
churrasco! Então olhei para a minha adega e vi que havia guardado um Tannat
uruguaio para esse momento. Eu gostaria de experimentá-lo e ver se ele tinha
“pegada” para aguentar as carnes e iguarias de um típico churrasco brasileiro.
Bem o produtor é muito bom, já havia degustado outros rótulos
fantásticos e surpreendentes da Família Traversa, de Montevidéu, e
verdadeiramente me rendido aos encantos de seus rótulos e da bebida represada
nas suas garrafas. E de imediato recomendo o Traversa Chardonnay 2018, o Traversa Merlot 2019 e o grande Traversa Tannat e Merlot Roble 2016.
As carnes tiveram seu contato com o fogo, já estavam quase no
ponto. Esperei! Gostaria de abrir o vinho quando ela estivesse pronta para o
“abate”. Pronto! O vinho, na temperatura correta, aguardava inundar a taça o
que imediatamente aconteceu. O degustei, estava ótimo! Mais uma vez a Família
Traversa não me decepcionou! E o que dizer com a harmonização? Deu certo!
Estava maravilhoso! Que momento sublime, as experiências sensoriais estavam no
auge, era o ápice!
Não vou mais ficar no mistério, como dizia dona Milú, e direi
o vinho que degustei e gostei que veio do Uruguai, da região de Montevidéu, e
se chama Traversa Roble Tannat (100%) da safra 2018. Como que um país tão
pequeno e tão vilipendiado no Cone Sul, infelizmente, é tão representativo na
produção desta nobre cepa, a boa e velha Tannat?
Tannat e Churrasco? Tannat e churrasco!
Quando se fala em vinho sul-americano a imagem que vem à
cabeça é um chileno ou um argentino, respectivamente o primeiro e segundo
maiores exportadores da bebida para o Brasil, com 34,38% e 26,54% do mercado,
em volume. Cabe ao Uruguai, a posição de primo pobre, com a sétima posição, com
apenas 1,70% das prateleiras.
Mas apesar da pequena presença no imaginário do consumidor, o
Brasil é um parceiro importante da indústria vinícola uruguaia. Mesmo assim,
talvez você nunca tenha provado um tinto uruguaio, ou, no mínimo, não é esta
sua primeira opção. Pois saiba que pode estar perdendo um ótimo parceiro para o
churrasco, o tinto feito com Tannat.
Se a Malbec dança tango na Argentina e a Carmenère sobe as cordilheiras do Chile, a Tannat é a representante legítima deste pequeno país de apenas 176 quilômetros quadrados. 32,2% da produção das uvas viníferas são desta variedade francesa, que assim como suas primas latino-americanas encontrou em solo uruguaio sua melhor expressão.
A origem é da região de Madiran, no sudeste da França. Curioso isso, algumas variedades esquálidas no velho mundo acabam mostrando sua musculatura na América do Sul. O responsável pela introdução da variedade no Uruguai foi Don Pascual Harriague, em 1870, e com seu sobrenome a uva foi chamada até a década de 80, quando foi reconhecida como a Tannat francesa. Não se esquecendo também da fazendo do catalão Francisco Vidiella em Colón (Montevidéu), mas foi com Harriague que a casta ganhou projeção em terras uruguaias.
Esse empresário, nascido em 1819, chegou ao Uruguai em 1840
e, após várias atividades pecuárias no país, se estabeleceu na cidade de Salto.
Por volta de 1870, depois de alguns anos fazendo testes com diversas variedades
de uva, ele encontrou as condições para produzir um ótimo vinho tinto com uvas
Tannat. Ele apresentou esses vinhos em 1887, que receberam elogios e prêmios
internacionais nas exposições mundiais de Barcelona e Paris em 1888 e 1889 Hoje
já são quatro gerações de viticultores uruguaios que continuam o legado de
Pascual.
Um tinto da uva Tannat tem como características a
concentração: de cores, sabores, corpo e do tanino (daí nome), aquele elemento
importantíssimo da uva que dá cor e uma sensação de adstringência na boca (pois
tem a capacidade de coagular a saliva) que pode ser muito intensa ou bem
trabalhada.
Esta é a virtude, e o pecado, da Tannat. Muita gente torce,
literalmente, o nariz para a uva, pois tem na memória um vinho muito
adstringente. Mas quando domado, amaciado e bem elaborado, esta característica
marcante da uva ressalta suas qualidades e torna este estilo de vinho uma boa
alternativa para as carnes, como as parrillas,
o corte uruguaio por excelência.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta uma coloração vermelho rubi intenso e
brilhante, com entornos violáceos, com uma razoável concentração de lágrimas
finas e lentas.
No nariz as notas de frutas negras, como ameixa, amora e
cereja negra, com agradáveis e bem integradas notas amadeiradas, graças aos 4
meses de passagem por barricas de carvalho, além da baunilha e especiarias.
Na boca é muito seco, com média estrutura, mas macio, redondo
e fácil de degustar, com as frutas negras protagonizando, como no aspecto
olfativo, além do discreto amadeirado, com toques de baunilha e chocolate. Tem
taninos domados, acidez equilibrada e um final prolongado, persistente.
Depois dessa experiência maravilhosa não há como negar que a
enogastronomia é o que há para os nossos sentidos. Há vinhos que são
inseparáveis de uma boa comida. Um pede o outro, um clama pelo outro. Foi um
elixir para os meus sentidos degustar esse Tannat que, apesar de não ser dos
mais encorpados e com uma breve passagem por barricas de carvalho, se revelou
um vinho que merece ostentar a Tannat e todas as suas mais essenciais características.
Os aromas da madeira muito bem integrados ao vinho, proporcionando as notas
frutadas, com toques de baunilha e chocolate promoveu um lindo casamento com as
carnes de churrasco que desfilaram em meu prato, fazendo valer o clássico
Tannat-Churrasco! Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Família Traversa:
Esta empresa com as suas vastas vinhas e fábricas de
processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa.
Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos
seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e
distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre
supervisionados por um membro da família. Assim somos e ambicionamos qualidade,
e este é o resultado do nosso trabalho. A história desta família é o legado de
bondade e esperança que, como no nosso caso, estamos unidos nas vinhas e há
três gerações.
Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus
pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em
fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu
comprar 5 hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas
de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os
seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho
de continuar o seu sonho.
A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e
desenvolvimento levou e ainda leva a vinícola a ser um exemplo em todo o
Uruguai. Em mais de 240 hectares próprios, além de vinhedos de produtores cujas
safras são controladas diretamente pela empresa, obtendo assim uma grande
harmonia com os vinhos e as próprias uvas. As variedades plantadas são: Tannat,
Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
As uvas são processadas com maquinários e instalações da mais
alta tecnologia. Inicia-se com um rígido controle de produção, colheita no
momento ideal, plantio de leveduras selecionadas, controle de fermentação, aplicação
a frio no processo de elaboração, clarificações e degustação dos vinhos para
definir diferentes categorias de qualidade. Daí passa-se a armazenar em grandes
recipientes de grande tecnologia, como inox, tanques térmicos, ou em barricas de
carvalho americano e francês.
Mais informações acesse:
http://grupotraversa.com.uy/en/
Referências:
“Portal IG – Blog do Vinho Beto Gerosa”: https://vinho.ig.com.br/2009/03/24/tannat-o-tinto-uruguaio-que-combina-com-churrasco.html
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/historia-da-tannat-no-uruguai_12654.html
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